O Muro de Berlim, oficialmente Muro de Proteção Antifascista, foi uma barreira física construída pela Alemanha Oriental durante a Guerra Fria, que circundava toda Berlim Ocidental. Era parte da fronteira interna alemã. Além de dividir a cidade de Berlim ao meio, o muro simbolizava o mundo em dois blocos ou partes: República Federal da Alemanha (RFA), também conhecida como Alemanha Ocidental, capitalista e aliada dos Estados Unidos; e a República Democrática Alemã (RDA), também conhecida como Alemanha Oriental, socialista e aliada da antiga União Soviética.
O Muro de Berlim foi construído na madrugada de 13 de agosto de 1961, com uma extensão de 66,5 quilômetros de gradeamento metálico, 302 torres de observação, 127 redes metálicas eletrificadas com alarme e 255 pistas de corrida para ferozes cães de guarda. Era patrulhado por militares da Alemanha Oriental, que tinha como objetivo evitar a fuga de alemães orientais para o lado ocidental da Alemanha. Esse muro simbolizava a chamada "cortina de ferro", que separava a Europa Ocidental da Europa Oriental ou Leste Europeu.
Mapa do traçado do Muro de Berlim |
Origem do Muro de Berlim
A construção do Muro de Berlim está ligada diretamente à Guerra Fria. Após a Segunda Guerra Mundial, o que restou da Alemanha nazista a oeste da linha Oder-Neisse, de acordo com o Acordo de Potsdam, foi dividido em quatro zonas de ocupação, cada um controlado por uma das quatro potências aliadas vencedoras da guerra: Estados Unidos, Reino Unido, França e União Soviética. A capital, Berlim, que era a sede do Conselho de Controle Aliado, foi igualmente dividida em quatro setores, apesar da cidade estar situada no interior da zona soviética.
Zonas de ocupação aliadas em Berlim |
Em dois anos, ocorreram divisões entre os soviéticos e as outras potências de ocupação, incluindo a recusa dos soviéticos aos planos de reconstrução de uma Alemanha pós-guerra autossuficiente e de uma contabilidade detalhada das instalações industriais e infraestrutura já removidas pelos soviéticos. Reino Unido, França, Estados Unidos e os países do Benelux (Bélgica, Holanda e Luxemburgo) se reuniram para mais tarde transformar as zonas não-soviéticas do país em zonas de reconstrução e aprovar a ampliação do Plano Marshall para a reconstrução da Europa e da Alemanha.
Em 1945, Joseph Stalin, líder soviético, construiu um cinturão protetor da União Soviética nas nações controladas em sua fronteira ocidental, criando, assim, o Bloco do Leste socialista, que até então incluía a Polônia, Hungria e a então Tchecoslováquia. Stalin revelou aos líderes alemães socialistas que tinha como principal objetivo enfraquecer a posição britânica em sua zona de ocupação, e que em breve os Estados Unidos iriam se retirar de Berlim, unificando a cidade sob o controle socialista dentro da órbita soviética. A grande tarefa do Partido Comunista na zona soviética alemã era abafar as ordens soviéticas através do aparelho administrativo e fingir para as outras zonas de ocupação que se tratavam de iniciativas próprias.
Em 1948, após desentendimentos sobre a reconstrução de Berlim e uma nova moeda alemã, Stalin instituiu o Bloqueio de Berlim, um cerco "pacífico que impedia a chegada de suprimentos à Berlim Ocidental. Os Estados Unidos e seus aliados fizeram uma "ponte aérea", fornecendo alimentos e outros suprimentos à Berlim Ocidental. Em 1949, Stalin acabou com o bloqueio, permitindo a retomada dos embarques do Ocidente para Berlim.
No dia 23 de maio de 1949, os aliados capitalistas criaram a República Federal Alemã (Alemanha Ocidental), impedindo que Stalin se apoderasse de todo o território alemão. Em resposta, no dia 7 de outubro desse mesmo ano, a União Soviética decretou a criação da República Democrática Alemã (Alemanha Oriental.
Berlinenses assistindo a aterrisagem de um C-54 no Aeroporto de Tempelhof, em 1948, durante o Bloqueio de Berlim |
A construção do Muro de Berlim
Os planos da construção do muro era um segredo do governo da Alemanha Oriental. Os governos ocidentais receberam informações sobre os planos socialistas de bloquear as fronteiras de Berlim Ocidental, incluindo a interrupção de todas as linhas de transporte público.
Depois de uma conferência realizada com os membros do Pacto de Varsóvia (aliança militar formada pelos países socialistas do Leste Europeu e a União Soviética), anunciou-se que os membros dessa aliança deveriam inibir atos de perturbação na fronteira de Berlim Ocidental e propuseram a implementação de uma guarda de controle efetivo. No dia 11 de agosto de 1961, a Volkskammer (órgão legislativo da República Democrática Alemã) autorizou o Conselho de Ministros a tomar as medidas necessárias. O conselho decidiu no dia 12 de agosto usar as forças armadas para ocupar a fronteira e instalar gradeamentos fronteiriços.
Na madrugada de 13 de agosto de 1961, as forças armadas bloquearam as conexões de trânsito a Berlim Ocidental. Eram apoiadas por forças soviéticas, preparadas para a luta, nos pontos fronteiriços dos setores ocidentais.
Imagens aéreas filmadas pela CIA (Agência Central de Inteligência dos EUA) em 1961 |
Após sua total construção, o muro tinha cerca de 155 quilômetros de comprimento, cruzava 24 quilômetros de rios e 30 quilômetros de bosques. Interrompeu o trajeto de oito linhas de trens urbanos, quatro de metrô e cortou 193 ruas e avenidas.
Estava defendido por grades com alarmes, cercas elétricas e arames farpados, pontilhado por mais de 300 torres de observação, patrulhadas por cães de guarda e soldados bem armados. Eles tinham ordem de atirar para matar qualquer pessoa que tentasse atravessá-lo.
Construção do Muro, em 20 de novembro de 1961 |
Algumas construções de Berlim sofreram diretamente as consequências do muro, como a Igreja da Reconciliação, edificada em 1894, que ficou restrita aos moradores do lado comunista.
Outro lugar dilacerado foi o Cemitério Sophien, que passou a ser acessível somente aos berlinenses orientais. Sua área foi cortada e vários corpos não foram retirados adequadamente.
Porém, uma rua se tornou símbolo desta divisão: a "Bernauer Strasse" (rua Bernauer). Com 1,4 km de extensão, o Muro ocupou quase toda sua área e os edifícios contíguos tiveram suas janelas emparedadas. Ali houve a primeira vítima mortal que tentou escapar de Berlim Oriental, no dia 22 de agosto de 1961, quando uma moradora saltou do terceiro andar e veio a falecer com a queda.
Estima-se que 118 pessoas tenham morrido arriscando cruzar o Muro. Outras 112 foram alvejadas ou despencaram das alturas, mas sobreviveram e foram presas juntas com cerca de 70 mil pessoas acusadas de traição por tentar fugir da Alemanha Oriental. No entanto, mais de 5 mil pessoas conseguiram superar todas essas barreiras e alcançar a Alemanha Ocidental.
Localização do muro em frente ao Portão de Brandemburgo, em 1961 |
Queda do Muro de Berlim
Em 1963, o presidente americano John Kennedy, em visita à Berlim, fez um discurso memorável solidarizando-se com Berlim Ocidental, declarando-se que era um berlinense. Porém, as duas Alemanhas só reatariam os laços diplomáticos dez anos depois, ao mesmo tempo que a União Soviética e os Estados Unidos tentavam diminuir a tensão da Guerra Fria.
Tanto a União Soviética quanto seus aliados comunistas passavam por uma crise econômica e política. Por isso, usavam estratégias de abertura para oxigenar seus regimes.
Na década de 1980, com o objetivo de criar uma área junto ao muro (que ficou conhecida como zona da morte), o governo da Alemanha Oriental optou por sua demolição, em 1985.
Grafites no Muro de Berlim, em 1986 |
Em 1987, o presidente americano Ronald Reagan desafiou o presidente da União Soviética, Mikhail Gorbachev, a derrubar o muro. Enquanto isso, Gorbachev preparava a abertura paulatina da União Soviética ao mundo.
Na mesma época, ocorreram várias manifestações por mais liberdade em ambos os lados da fronteira alemã. Numa declaração transmitida pelas televisões, os políticos da Alemanha Oriental anunciaram a abertura da fronteira.
No próprio bloco da Europa Oriental, vários países realizavam tímidas reformas. Em 1989, o governo da Hungria abriu suas fronteiras, permitindo a entrada em massa de alemães orientais na Alemanha Ocidental.
O Muro de Berlim começou a ser derrubado na noite de 9 de novembro de 1989 depois de 28 anos de existência. O evento é conhecido como a queda do muro. O impulso decisivo para a queda do muro foi um mal-entendido entre o governo da República Democrática Alemã. Na tarde do dia 9 de novembro houve uma conferência de imprensa, transmitida ao vivo na televisão da Alemanha Oriental. Günter Schabowski, membro e porta-voz da Comissão Política do Partido Socialista Unificado da Alemanha, anunciou uma decisão do conselho dos ministros de abolir imediatamente e completamente as restrições de viagens ao Oeste. Esta decisão deveria ser publicada só no dia seguinte, para anteriormente informar todas as agências governamentais.
Pouco depois deste anúncio houve notícias sobre a abertura do Muro no rádio e na televisão ocidental. Milhares de pessoas marcharam aos postos fronteiriços e pediram a abertura da fronteira. Nesta altura, nem as unidades militares, nem as unidades de controle de passaportes haviam sido instruídas.
Alemães em pé em cima do muro, em 1989, que começaria a ser destruído no dia seguinte |
Por causa da força da multidão e com os guardas da fronteira sem saber o que fazer, a fronteira abriu-se no posto de Bomholmer Strasse, às 23 horas do dia 9 de novembro de 1989, mais tarde em outras partes do centro de Berlim e na fronteira ocidental. Muitas pessoas viram a abertura da fronteira na televisão e pouco depois marcharam à fronteira. Como muitas pessoas já dormiam quando a fronteira se abriu, na manhã do dia 10 de novembro havia grandes multidões de pessoas querendo passar pela fronteira.
Os cidadãos da RDA foram recebidos com grande euforia em Berlim Ocidental. Muitas boates perto do Muro espontaneamente serviram cerveja gratuita, houve uma grande celebração na Rua Kurfürstendamm, e pessoas que nunca se tinham visto antes cumprimentavam-se. Cidadãos de Berlim Ocidental subiram ao muro e passaram para as Portas de Brandemburgo, que até então não eram acessíveis aos ocidentais. O Bundestag (Parlamento da República Federal da Alemanha), interrompeu as discussões sobre o orçamento, e os deputados espontaneamente cantaram o Hino Nacional da Alemanha.
Guindaste removendo partes do muro, em 21 de dezembro de 1989 |
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
MONIZ BANDEIRA, L. 2001. A reunificação da Alemanha: do ideal socialista ao Socialismo Real. São Paulo: Global.
Um comentário:
Muito bom o conteúdo.
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