quinta-feira, 29 de novembro de 2018

A INTERIORIZAÇÃO NA CHINA

  A via chinesa de desenvolvimento tem sua expressão geográfica, produzida, entre outros fatores, por políticas territoriais empregadas a partir da política de Reforma e Abertura, mas também influenciada pela história da formação territorial deste país: a visão do desenvolvimento já se vislumbra na China Litorânea, e tenta-se, agora, promovê-lo no interior do território.
  O território chinês pode ser dividido em três grandes unidades econômicas regionais: a China Marítima, a China Agrícola e a China Periférica.
  A China Marítima é a principal região econômica e demográfica do país, com intensa urbanização e grande concentração populacional, também nas áreas rurais. Os han (etnia majoritária da China) originaram-se na porção sul dessa região.
Cidade de Hohhot, localizada na região autônoma da Mongólia Interior - China
  A configuração político-territorial da China divide o poder da seguinte maneira: abaixo do governo central, as 22 províncias, as cinco regiões autônomas, gozando de uma autonomia maior que as demais unidades, e as municipalidades, quatro no total, estando diretamente vinculadas ao governo central e tendo um status semelhante ao das províncias. Subordinadas a estas unidades principais, seguem as prefeituras, incluindo aí as prefeituras autônomas, estas ocupadas por minorias étnicas, tendo assim um tratamento diferencial. Em seguida, vêm os departamentos e os distritos, seguidos na escala mais local pelos cantões, e por fim, os vilarejos, como menor unidade.
Mapa da divisão administrativa da China
  Na porção norte, encontra-se a Manchúria, com significativas reservas minerais de carvão e petróleo e, por isso, com grande parte de sua economia girando em torno da indústria pesada.
  A importância da China Marítima começou a ser assegurada a partir do século XIX, quando potências europeias obtiveram concessões coloniais na região e privilegiaram importantes cidades costeiras, como Cantão e Xangai. O poderio econômico e demográfico dessa região foi acentuado com a posterior ocupação japonesa, na década de 1930, e a implantação do regime comunista em 1949.
Cidade de Changchun, na província de Jilin, Manchúria - China
Todavia a instalação das ZEEs (Zonas Econômicas Especiais) pelo governo chinês em áreas litorâneas a partir de 1984, além de aumentar os desequilíbrios entre a China Marítima e as demais regiões do país, colocou em descompasso os ritmos de crescimento intrarregionais: o sul, onde se localizam Cantão e Hong Kong, é a área que mais cresce, deixando para trás Pequim e a estagnada Manchúria. A forte expansão dessa sub-região meridional é determinada pela presença de Hong Kong, hoje a ponte entre a China e os investidores internacionais, e pelo intercâmbio com Taiwan.
Pequim - capital da China
  A abertura econômica conduzida pelo regime restabeleceu os laços históricos entre o litoral meridional do país e a importante diáspora presente em vários países do Sudeste Asiático, que contam com uma expressiva comunidade chinesa. Essas famílias e seus descendentes geraram novos circuitos de negócios e dinamizaram a vida econômica desses países.
Chongqing, um dos quatro municípios da República Popular da China
  Um pouco a oeste da China Marítima localiza-se a China Agrícola, uma unidade regional economicamente diferente, que continua mantendo sua tradição agrária e comporta-se, cada vez mais, como reservatório de mão de obra não qualificada e barata para os centros urbanos do litoral. Como o desenvolvimento econômico tem sido muito mais acelerado nas províncias costeiras do que nas regiões interiores, desde o início deste século cerca de 200 milhões de trabalhadores rurais e seus dependentes deslocaram-se das áreas rurais para as urbanas em busca de trabalho, resultando num dos principais fluxos migratórios intrarregionais da história mundial.
Produção agrícola na China
  A população rural dessa região habita especialmente nos vales dos rios Hoang-Ho, ao norte, e Yang-Tsé, ao sul, onde se encontram os grandes cinturões agrícolas superpovoados do país, em que os cultivos mais importantes são, respectivamente, o de milho, trigo e arroz. Como a China possui a maior população do mundo, evidentemente a demanda por alimentos é muito alta. Nesse sentido, o governo atua de modo a aliar a manutenção de técnicas agrícolas tradicionais às novas técnicas de plantio com ampla mecanização em algumas áreas, uso de sementes selecionadas e engenharia genética para aumentar a produção e suprir a pressão da demanda por alimentos. Mesmo assim, o país continua sendo um dos maiores importadores de grãos do mundo, sendo o Brasil um dos seus principais fornecedores.
Produção de arroz em Longsheng - Guangxi
  A terceira grande unidade regional do país é a que pode chamar de China Periférica, situada ainda mais para o oeste, que, embora corresponda a mais de 65% do território, concentra apenas 10% da população total. Nessa China, três áreas merecem destaque: o Tibete ou Xizang (no sudoeste), o Xinjiang-Uigur, antigo Turquestão Chinês (no nordeste) e a Mongólia Interior ou Nei Menggu (no norte, fazendo fronteira com a Mongólia).
Mudanjiang - Mongólia Interior - China
  O Tibete foi ocupado pelos chineses nos anos 1950 e desde aquela época conta com movimentos de resistência ao domínio de Pequim. Uma considerável proporção dos habitantes do antigo Turquestão Chinês e da Mongólia Interior, áreas estrategicamente importantes para a China, não é de origem han. Na busca de uma ocupação étnica homogênea e dominante do território, o governo chinês tem estimulado migrações han para áreas interiores.
Lhasa - capital do Tibete
  Diante da grande ocupação e das diferenças entre a China Marítima e a China Periférica, em 2006 as autoridades chinesas decidiram-se pela interiorização do desenvolvimento chinês, ou seja, reduzir significativamente as diferenças entre o litoral urbano das ZEEs e o interior. Para isso, investiram pesadamente na construção de infraestrutura nas províncias centrais e estimularam a implementação de empresas nas cidades dessas áreas.
Lanzhou - capital da província de Gansu
  As indústrias têm sido atraídas pela mão de obra um pouco mais barata, benefícios fiscais e novos mercados consumidores que se consolidam. Os resultados já se fazem sentir. Transnacionais e empresas chinesas se fixaram nessas cidades, que vêm crescendo aceleradamente nos últimos anos, com índices superiores aos dos centros urbanos litorâneos.
Ürümqi - capital da região autônoma de Xinjiang
REFERÊNCIA: Silva, Ângela Corrêa da
Geografia: contextos e redes / Ângela Corrêa da Silva, Nelson Bacic Olic, Ruy Lozano. - 2. ed. - São Paulo: Moderna, 2016. p. 176-178. 

2 comentários:

Anônimo disse...

Obrigada, professor! Muito explicativo

João Marcelo Torres disse...

Muito bom , material de suma importancia para fugir das simplificações sobre China

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