Duzentos filmes por mês e mais de 250 milhões de dólares por ano. Esses são os números que fizeram com que Nollywood, a indústria cinematográfica da Nigéria, se destacasse como a segunda maior indústria do cinema mundial em número de filmes produzidos por ano (só perdendo para Bollywood, a indústria cinematográfica da Índia, sediada na cidade de Mumbai), à frente até mesmo da poderosa Hollywood e a terceira em rendimentos.
O cinema da Nigéria tem crescido nos últimos anos e, embora seja um mercado extremamente informal, teve uma grande explosão de produção nos últimos anos que tem chamado a atenção mundial por suas características únicas. Todas as produções são realizadas em vídeo.
Produção de cinema na Nigéria |
O mercado da Nigéria é exclusivamente de homevídeo (com 90% da produção sem distribuição oficial, legalizada), pois praticamente não existem mais salas de cinema no país. Com este panorama, não é possível apontar com alguma precisão o tamanho desta indústria.
Com temas de interesse da população, como divulgação religiosa, tradições e dilemas do cotidiano da África moderna, o cinema nigeriano atrai pessoas em todo o país e também em outras partes do continente.
Os custos não ultrapassam os 40 mil dólares por produção. Os filmes são feitos com câmeras de vídeo digital, e a representação é feita de maneira quase caseira, em salas com cerca de 20 cadeiras, uma televisão e um aparelho de DVD.
Filme nigeriano |
Sem salas de cinema, a Nigéria conta com cerca de 15 mil videoclubes e locadoras, e em quase todo tipo de comércio pode-se encontrar filmes para vender ou alugar. Estima-se que cada filme venda cerca de 25 mil cópias. No entanto, não é possível saber o número de locações de cada cópia e quantas pessoas assistem a cópia por cada locação. Os preços das cópias e das locações são compatíveis com os preços do mercado pirata, na tentativa de poder competir de igual para igual, mas mesmo assim a pirataria também é um problema grave na Nigéria, país onde a grande maioria da população é de baixa renda.
Nascida na década de 1960, Nollywood enfrentou dificuldades no início, devido aos altos custos das produções. Ainda na década de 1980, a abertura televisiva no país garantiu as primeiras concessões e logo cada estado possuía sua emissora. A limitação de conteúdos estrangeiros na televisão fez com que os produtores de Lagos, capital nigeriana, passassem a produzir peças de teatro televisionadas. Mas a consagração se deu em meados da década de 1990, quando Kenneth Nnebue utilizou cassetes de filmes importados para produzir seu próprio filme e distribuir entre sua rede de contatos. O sucesso do filme resultou em diversas novas produções caseiras que invadiu toda a Nigéria.
O sucesso desta indústria reside principalmente na temática dos filmes ter um apelo direto com o público local, por tratar de preocupações, conflitos e realidades que frequentam o noticiário e o imaginário da população nigeriana. Os temas mais frequentes são AIDS, corrupção, prostituição, religião e ocultismo.
A produção é realizada em diferentes línguas, assim como acontece em Bollywood. Na Nigéria, cerca de 40% da produção é em inglês, 35% em iorubá, 17,5% em hauçá e os 7,5% restantes em outras línguas e dialetos locais. Nollywood também começa a conquistar espaço em outros países da África, com seus atores fazendo sucesso na região entre Gana e Zâmbia, e vai aos poucos ganhando prestígio internacional.
A repercussão da produção nacional de vídeo na Nigéria tem chamado também a atenção do governo local e, nos últimos anos, surgiram ações como a criação da Comissão de Filmes Nigeriana, uma escola de cinema e a criação de um stúdio, o Tinapa Film Studio, que foi construído pelo governo nigeriano em parceria com a companhia privada norte-americana Dream Entertainment. O governo também estuda a criação de um fundo de U$ 40 milhões para a produção de filmes.
A inserção do cinema na Nigéria é atrelada com o fim do sistema colonial imposto pelos britânicos. Após a independência do país, o governo nigeriano utilizou a rede de televisão e fomentou a produção de filmes que convergissem com as políticas e ideologias desse novo governo, como uma ferramenta de propaganda. Nas décadas de 1960 e 1970, a produção de filmes nigeriana para a televisão apresentou aspectos que visavam uma espécie de descolonização na mente. Para o novo governo, os filmes televisivos acabavam servindo como um link de relações públicas. Com o boom do petróleo, na década de 1970, a economia do país começou a se firmar, possibilitando o financiamento e investimento estatal para o setor cinematográfico.
REFERÊNCIA: Silva, Ângela Corrêa da
Geografia: contextos e redes / Ângela Corrêa da Silva, Nelson Bacic Olic, Ruy Lozano. - 2.ed. - São Paulo: Moderna, 2016.
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