sábado, 14 de junho de 2014

A REGIÃO DO ÁRTICO

  As terras polares setentrionais ou região Ártica são aquelas situadas ao norte do círculo polar Ártico (66°33' de latitude norte). Como ocorre na Antártica, os ecossistemas dessa região são extremamente frágeis.
  Na região Ártica se encontra o oceano Glacial Ártico e o Polo Norte. Durante o inverno a área toda é coberta pelo gelo e a temperatura atinge geralmente 60° negativos. Durante o verão a tundra é a vegetação principal, mas nas áreas mais aquecidas aparecem os salgueiros e as bétulas. Os países que possuem terras nessa região têm disputado intensamente os recursos, principalmente os minerais.
Paisagem do Ártico
ASPECTOS NATURAIS
  No Ártico, assim como na Antártica, aparecem muitas banquisas. As banquisas constituem grandes blocos de gelo formados pelo congelamento da superfície da água do mar. São capas de gelo que funcionam como isolante térmico das águas mais profundas. Estas, sem contato com a fria atmosfera polar (por estarem isoladas pela cobertura de gelo), permanecem líquidas. Sob as banquisas do oceano Glacial Ártico podem navegar submarinos que emergem, cavando buracos no gelo. Quando elas não são muito espessas, podem ser atravessadas por navios especiais, conhecidos como "quebra gelo".
  A maior parte da banquisa ártica gira permanentemente no oceano Ártico. Antigamente, os navios presos nas banquisas eram frequentemente esmagados. Desde 1958, submarinos nucleares atravessam o oceano Ártico a norte da Groenlândia por baixo da banquisa.
  Sobre as águas extremamente frias e salgadas dos polos, as banquisas se expandem no inverno e se retraem no verão. Por estarem em constante movimento, elas costumam se fragmentar e se chocar, soltando, por vezes, placas que acabam se perdendo e derretendo nas águas de mares mais quentes.
Banquisas
  O oceano Glacial Ártico abriga um conjunto de enormes banquisas, sobre as quais se localiza o Polo Norte geográfico do planeta. O tamanho das banquisas tem diminuído nas últimas décadas, possivelmente em decorrência dos impactos ambientais das atividades humanas.
  O Polo Norte é o lugar onde o eixo imaginário do planeta corta a superfície, e se localiza no oceano Glacial Ártico, onde o mar está coberto por uma camada de gelo. Aí se distinguem os quatros polos: o magnético, o geográfico, o geomagnético e o histórico.
  O Polo Norte magnético está está situado a cerca de 1.600 km do Polo Norte geográfico (também chamado de Polo Norte verdadeiro), perto da Ilha de Bathurst, na parte setentrional do Canadá, no território de Nunavut. Magneticamente falando, ele não é um polo norte e sim um polo sul, pois o norte da bússola e o norte dos mapas não são idênticos.
Globo terrestre mostrando o Polo Norte magnético e o Polo Norte geográfico
  O campo magnético terrestre assemelha-se a um dipolo magnético com seus polos próximos aos polos geográficos da Terra. Uma linha imaginária traçada entre os polos Sul e Norte magnéticos apresenta uma inclinação de aproximadamente 11,3° relativa ao eixo de rotação da Terra. A teoria do dínamo é a mais aceita para explicar a origem do campo. Um campo magnético, genericamente, se estende infinitamente e vai se tornando mais fraco com o aumento da distância da sua fonte. Como o efeito do campo magnético terrestre se estende por várias dezenas de milhares de quilômetros, no espaço ele é chamado de magnetosfera da Terra.
  O Polo Norte histórico compreende a área dominada pelo Círculo Polar Ártico, que vai desde o Canadá até o norte da Eurásia.
Região do Polo Norte histórico
  Na região do Ártico também aparecem os inlândsis ou manto de gelo, que, ao contrário das banquisas, constituem grandes plataformas de gelo sobre a terra. São formados pelo congelamento da água doce proveniente das precipitações atmosféricas, e não da água salgada do mar, ou seja, são o acúmulo de camadas de neve e gelo em uma superfície continental. Movendo-se do interior do continente para o litoral, um pouco a cada ano, constituem os maiores reservatórios de água doce do planeta. Quando suas bordas se despedaçam, caindo no mar, formam-se os icebergs.
  O possível derretimento dos inlândsis vem preocupando, principalmente, ambientalistas e governantes do mundo todo, pois certamente esse fenômeno aumentaria o número de icebergs à deriva e causaria a elevação do nível dos oceanos, podendo inundar várias regiões costeiras.
  Os atuais mantos  polares de gelo são relativamente jovens em termos geológicos. O manto de gelo da Groenlândia desenvolveu-se muito rapidamente com a ocorrência da primeira glaciação continental, permitindo que fósseis de plantas que então cresciam no que hoje é a Groenlândia, fossem melhor preservados do que os da Antártica.
Inlândsis na Groenlândia
  Os icebergs são enormes blocos de gelo que se desprende das geleiras existentes nas calotas polares, originárias da era glacial ocorrida há mais de cinco mil anos. São constituídos primordialmente de água doce, porém podem trazer em seu interior outros corpos (animais, fósseis ou não). São conhecidos por representar grande perigo às embarcações que percorrem as rotas mais próximas dos polos. Após deslizar até o oceano, depois de se desprenderem dos inlândisis, passam a vagar de acordo com a dinâmica das correntes marítimas, com a maior parte do seu corpo submersa. Os icebergs podem percorrer centenas de quilômetros até que seu derretimento os consuma totalmente, à medida que se aproximam das latitudes mais baixas, onde a temperatura é mais elevada.
  Os icebergs são muito importantes para a natureza, pois, à medida que alimentam as correntes oceânicas frias e profundas da Terra, participam da transferência de água dos polos para os oceanos do globo, amenizando, assim, as temperaturas dos mares mais quentes das baixas latitudes.
Iceberg na Groenlândia
  Permafrost ou pergelissolo é o tipo de solo encontrado no Ártico. É o solo congelado cuja temperatura permanece inferior a 0°C durante dois ou mais anos. Esse tipo de solo não é exclusivo das regiões polares, pois ocorre com relativa frequência em áreas de climas frios, especialmente nas terras do Hemisfério Norte ou em elevadas altitudes montanhosas. No Hemisfério Sul, sua ocorrência é bem menor, localizando-se no extremo sul da América do Sul (Patagônia) e em algumas áreas das bordas do continente antártico.
  O permafrost é constituído por terra, gelo e rochas permanentemente congelados. Esta camada é recoberta por uma camada de gelo e neve que, se no inverno chega a atingir 300 metros de profundidade em alguns locais, ao se derreter no verão, reduz-se para 0,5 a 2 metros, tornando a superfície do solo pantanosa, uma vez que as águas não são absorvidas pelo solo congelado.
Zona do permafrost no Ártico
  Praticamente, toda a vida animal e vegetal não aquática existente nas zonas polares concentra-se sobre o permafrost, que se fertiliza durante os curtos verões, quando o gelo derrete, irrigando a terra. Isso o torna temporariamente produtivo para musgos e liquens, que compõem a Tundra, vegetação típica das regiões de permafrost.
  Uma grande reserva de metano, gás estufa 30 vezes mais potente que o dióxido de carbono está se abrindo, podendo haver uma mudança mais drástica no clima do planeta, principalmente das regiões polares.
Solo de permafrost no norte do Canadá
  É comum também na região do Ártico a ocorrência da Aurora Boreal, fenômeno óptico composto de um brilho observado nos céus noturnos, em decorrência do impacto de partículas de vento solar e poeira espacial encontrada na via láctea com a alta da atmosfera da Terra, canalizadas pelo campo magnético terrestre. Na Antártica esse fenômeno é denominado de Aurora Austral.
  O fenômeno não é exclusivo do planeta Terra, sendo também observável em outros planetas do sistema solar como Júpiter, Saturno, Marte e Vênus.
  É possível ver esse fenômeno na Noruega, Suécia, Finlândia, Islândia, Canadá, Escócia, Rússia, Ilhas Faroé, entre outras localidades.
Aurora Boreal no Alasca
  Durante o verão nas regiões polares ocorre o fenômeno denominado de sol da meia-noite. É um fenômeno natural que acontece entre os meses de verão em locais ao norte do Círculo Polar Ártico e ao sul do Círculo Polar Antártico, quando o sol permanece visível durante as 24 horas do dia. O número de dias por ano com potencial de sol da meia-noite varia de acordo com a latitude.
  O fenômeno oposto ao sol da meia-noite é a noite polar, que ocorre durante o inverno, quando o sol permanece abaixo do horizonte durante o dia todo, variando também de acordo com a latitude.
Sol da meia-noite em Nordkapp - Noruega
  A região ártica abriga uma significativa biodiversidade, composta por seres marinhos, terrestres e muitas aves migratórias que lá pousam, sobretudo nos períodos de verão, para se reproduzir.
  A fauna do Ártico é composta principalmente por: urso-polar, raposa-do-ártico, boi-almiscarado, foca, elefante-marinho, rena, baleia, lobo-do-ártico, lebre-ártica, narval (baleia dentada de tamanho médio), entre outros.
Ursos-polares
  A vegetação do Ártico é composta de plantas como arbusto anão, gramíneas, ervas, musgos e líquens, que crescem relativamente perto do solo, formando a tundra.
  A tundra é uma vegetação que atinge até um metro de altura e se revela plenamente adaptada  às rudes condições do clima subpolar, em que a temperatura média do mês mais quente não chega a atingir 10°C.
  Durante três a cinco meses do ano, a tundra reveste de verde a monótona paisagem das regiões próximas ao Círculo Polar Ártico. No entanto, com a chegada da longa estação de inverno, ela perde suas partes aéreas, mantendo vivas apenas as partes que ficam sob a terra. Isso significa que a tundra tem um ciclo de vegetativo curto, restrito ao breve verão, quando ela rapidamente cresce, floresce e frutifica.
Vegetação de tundra na Sibéria - Rússia
POPULAÇÃO DO ÁRTICO
  No Ártico, as condições naturais desafiam a sobrevivência humana e, por isso, o homem precisou encontrar meios que possibilitem sua permanência na região, uma vez que o desenvolvimento natural da agricultura é inviável e as condições climáticas contribuem negativamente para a fixação humana.
  Uma das maneiras encontradas para viver em circunstâncias tão adversas foi a vida em comunidades, onde o auxílio mútuo foi primordial para a permanência na região. Tudo que se obtinha para o sustento era compartilhado entre o grupo. Além disso, seus membros desenvolveram vestimentas específicas para se proteger do frio intenso. São roupas feitas de peles de animais, como a foca, o urso-polar e a rena. As moradias também são construídas de modo a proteger seus habitantes contra os ventos gelados.
Iglu - moradia típica dos habitantes do Ártico
  Diversos povos compõem a população do Ártico, cada um com uma denominação distinta.
  Os inuites, também conhecidos como esquimós, constituem um dos principais povos do Ártico. Eles ocupam a região entre o estreito de Bering e a Groenlândia, e constituem uma população com cerca de 120 mil pessoas.
  Antes da colonização, eles ocupavam uma vasta área ao longo do North Shore, na Virgínia - EUA -, na região de Saguenay e em Schefferville - ambos localizados na província canadense de Quebec.
  No século XV, os inuites estabeleceram os primeiros contatos com os baleeiros franceses e pescadores de bacalhau. Eles rapidamente desenvolveram relações com os europeus baseado no comércio de peles, levando esse povo a abandonar as inúmeras práticas tradicionais para se ocuparem da caça de pele de animais.
  A tradição oral dos inuites preserva muitos detalhes do impacto da chegada dos europeus. Esta tradição conta que os inuítes e os franceses fecharam um acordo para permitir que os últimos ocupassem certas áreas em troca de farinha, para proteger os inuites contra fomes periódicas. Esse período ficou conhecido como "era pré-farinha". Nessa época, eles comercializavam suas peles por banha de porco, chá, manteiga, roupas e armas. Os clérigos se estabeleceram próximos aos postos de comércio para promover a aculturação e cristianização dos autóctones. Em 1632, os jesuítas abriram a primeira missão entre os inuites.
Inuites do Canadá
  Outro povo bastante numeroso no Ártico são os lapões. Esse povo abriga a região da Lapônia, localizada no norte da Noruega, Suécia, Finlândia e na península de Kola, na Rússia. É um dos maiores grupos indígenas da Europa, totalizando cerca de 70 mil pessoas.
  Os lapões falam um grupo de dez línguas distintas denominadas genericamente de sami ou lapão, pertencentes à família das línguas fino-úgricas (mistura de finlandês e húngaro).
  As atividades tradicionais dos lapões são a caça, a pesca e a criação de renas, apesar de essas atividades serem desenvolvidas apenas pelos lapões que ainda vivem do nomadismo.
  Assim como na cultura inuite, o modo de vida tradicional na cultura lapã está, em parte, desaparecendo. Embora a criação extensiva de renas ainda aconteça, o povo lapão vive de maneira sedentária em povoados.
Lapões da Suécia
  Há também o grupo dos samoiedos, do qual também fazem parte os lapões, que vivem ao longo da extensa planície siberiana. Fazem parte da família urálica (finlandês e húngaro), e é um grupo linguístico e não étnico ou cultural.
  Os samoiedos dividem-se em: Povos Samoiedos do Norte (nenets, enets e nganasan) e Povos Samoiedos do Sul (selkup, kamasins, mator e koibal).
Samoiedos nenets da Sibéria - Rússia
  Em meados do século XX, a região polar ártica passou a ser explorada de maneira mais intensa, em razão da descoberta de suas riquezas minerais e energéticas.
  A introdução das atividades econômicas voltadas para o comércio em grande escala trouxe significativas transformações no espaço geográfico da região ártica, afetando diretamente o modo de vida das populações nativas.
  A maneira como grande parte dos inuits vive atualmente no Ártico não se assemelha ao modo de vida dos seus antepassados, que eram nômades e cuja manutenção da vida era garantida pela caça, sobretudo de mamíferos, no verão.
Comunidade inuite de Resolut, em Nunavut - Canadá
A ECONOMIA DO ÁRTICO
  O estabelecimento de atividades econômicas no Ártico, utilizando os recursos marítimos e terrestres oferecidos pelo meio ambiente polar, acontece desde a fixação dos primeiros povos na região. Há milhares de anos se explora as potencialidades econômicas  regionais, porém de maneira não predatória.
  Da pesca e da caça dos animais árticos, principalmente focas, os povos da região adquiriam carne para alimentar-se, peles para vestir-se e ossos para fabricar instrumentos. Além disso, houve a utilização variada de madeiras, conchas, pedras e gelo para a construção de habitações e equipamentos, bem como a presença de animais domesticados, como cães ou renas, para transportar pessoas e cargas.
Esquimós caçando focas
  Nos dias atuais, embora a caça e a pesca comercial de determinadas espécies de mamíferos marinhos estejam proibidas, parte dos povos nativos podem continuar capturando esses animais, apenas para sua subsistência. Por extraírem apenas aquilo de que necessitam, eles causam pouco impacto nas espécies da região.
  Atualmente a economia do Ártico está bastante transformada e, a partir de meados do século XX, a antiga economia tradicional dos povos nativos passou a conviver cada vez mais com atividades econômicas modernas. Desenvolvidas por grandes empresas, elas acabam por impulsionar a expansão urbana, as infraestruturas e, ainda, a vinda de imigrantes para a região. Em muitos casos, verifica-se a transformação das economias nativas, que, sob influência externa, estão hoje fortemente integradas com os circuitos comerciais da globalização e familiarizadas aos hábitos culturais de outros povos.
Plataforma de petróleo da Rússia no oceano Glacial Ártico
  Uma dessas novas atividades está sendo a exploração petrolífera. A Rússia já iniciou a exploração de poços de petróleo na região ártica da Sibéria. Outros países como Noruega, Finlândia, Dinamarca, Suécia e Canadá também já estão desenvolvendo pesquisas sobre o petróleo na região, contribuindo para aumentar a poluição na região.
  Outra atividade recente que vem sendo desenvolvida é a travessia de grandes cargueiros pelo oceano Glacial Ártico. Recentemente, a China realizou a primeira travessia de um cargueiro comercial pelo Ártico, objetivando entregar mais rápido as suas mercadorias pelo mundo. A Noruega já realiza o transporte de minério de ferro para a China pelo oceano Glacial Ártico.
  A abertura do Ártico reduzirá as distâncias percorridas pelos produtos do comércio mundial, porém, contribuirá também para aumentar os danos com o meio ambiente.
Navio norueguês utilizado no transporte de minério de ferro pelo oceano Glacial Ártico
FONTE: Torrezabi, Neiva Camargo. Vontade de saber geografia, 9° ano / Neiva Camargo Torrezani. - 1. ed. - São Paulo: FTD, 2012.

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