quarta-feira, 12 de março de 2014

O MOVIMENTO OPERÁRIO E OS SOCIALISTAS

  Hoje em dia, em muitos países do mundo, os trabalhadores têm alguns direitos básicos, como limitação de sua jornada de trabalho, descanso semanal remunerado, férias anuais, assistência médica, aposentadoria, entre outros. Isso não existia no século XIX, quando os trabalhadores assalariados começaram a existir em grande número. Os direitos dos trabalhadores foram conquistados ao longo de décadas, depois de muitas greves, manifestações e confrontos com a polícia.
  Essa luta por condições mais justas de trabalho e de vida é chamada de movimento operário e surgiu na Europa no século XIX. Em um primeiro momento, reivindicou apenas melhores salários e condições de trabalho. Com o tempo, alguns trabalhadores passaram a acreditar que isso não bastava. Era necessário criar um mundo socialista, onde não existiria mais a exploração dos trabalhadores pelos patrões.
Símbolo do socialismo: o martelo significa o proletariado industrial e a foice o campesinato
A ORIGEM DO MOVIMENTO OPERÁRIO
  Movimento operário é um termo que refere-se à organização coletiva de trabalhadores para a defesa de seus próprios interesses, através da implementação de leis específicas para reger as relações de trabalho.
  Inicialmente surgiu como uma reação às consequências da Revolução Industrial, partindo dos artesãos que se viram privados de seus meios originais de trabalho. Revoltados, grupos de artesãos atacavam as fábricas, quebrando as máquinas. Desse mesmo tipo também foi a reação dos operários jogados na miséria pelas primeiras crises de desemprego. Depois de algum tempo, os operários foram percebendo que o problema não estava nas fábricas, nem nas máquinas em si, mas na forma como a burguesia havia organizado os meios de produção.
  No início do século XIX, os operários trabalhavam até vinte horas diárias, sem descanso semanal, inclusive aos sábados e domingos e não tinham direito a férias nem seguro que os sustentasse em caso de doença ou acidente de trabalho. Assim, os movimento dos trabalhadores se fez sentir por meio de demonstrações em massa, como motins e petições. Nesse mesmo século, começou a surgir os sindicatos como uma nova facção no cenário político.
Os artesãos foram os primeiros a se revoltarem com a Revolução Industrial
  As condições de trabalho eram terríveis. Na Inglaterra, a maior parte dos operários trabalhavam em fábricas de tecidos, onde as máquinas a vapor elevavam a temperatura ambiente a 50ºC. Isso ressecava os fios e, para evitar sua quebra, os donos das fábricas mandavam instalar chuveiros de água fria, que molhavam também os trabalhadores, provocando muitas doenças provocadas pelo choque térmico. Acidentes de trabalho eram comuns; muitos operários tinham braços ou pernas esmagados ou mesmo decepados pelas pesadas, instáveis e perigosas máquinas da época.
Fábrica de tecelagem no século XVIII
  Nas minas de carvão e ferro a situação era pior. Os mineiros trabalhavam sem nenhuma proteção em túneis e galerias pouco ventilados. Nas minas onde não havia máquinas a vapor eram os próprios trabalhadores que empurravam até a superfície os carrinhos cheios de minérios.
  Nas poucas horas que passavam em casa, os trabalhadores aproveitavam para simplesmente dormir. Suas casas tinham em geral apenas um cômodo, que funcionava como quarto e cozinha. Os banheiros eram coletivos e ficavam fora das casas. As vilas operárias ficavam próximas às fábricas, em locais onde as chaminés lançavam uma fumaça preta que impregnava as paredes, roupas e as pessoas.
  A base da mentalidade dos burgueses da época era a exploração máxima da classe trabalhadora - o proletariado - de maneira que pudessem garantir e manter a classe operária dependente. Os trabalhadores, submetidos a essa nova ordem, muito sofreram em busca de melhorias de vida que nunca chegavam, devido ao salário extremamente baixo. Acabavam realizando seus serviços pela própria subsistência, trabalhado até o limite das forças, as vezes também, eram tidos como negligentes e insubordinados pelos seus empregadores.
Trabalhadores em uma fábrica nos anos de 1800
  Os trabalhadores utilizavam os meios de produção que lhes pertenciam e geravam excedentes que, da mesma forma, nunca iriam lhes pertencer, com a única finalidade de produzir o lucro para os burgueses. Esses patrões os utilizariam para continuar a financiar a industrialização, enriquecendo frente ao contínuo empobrecimento dos proletários.
  Infelizmente, em pleno século XXI, as más condições pelo qual viveu o trabalhador no início da Revolução Industrial, ainda é uma realidade para a maioria dos trabalhadores, que recebem baixos salários, e o que é pior, com o processo de globalização, os trabalhadores que não possuem qualificação profissional (que são a maioria, principalmente nos países subdesenvolvidos), são forçados a sofrer a exploração, e muitas vezes, ainda são obrigados a trabalharem em condições subumanas ou até mesmo a realizarem o trabalho escravo.
Em pleno século XXI, o trabalho escravo ainda é uma realidade para muitos trabalhadores
O TRABALHO INFANTIL
  Entre os trabalhadores europeus do século XIX, havia muitas crianças. Para os patrões era vantajoso empregar crianças: elas costumavam ser mais submissas do que os adultos, recebiam salários ainda mais baixos e podiam se movimentar por espaços estreitos. Muitas vezes as crianças se arrastavam por debaixo das máquinas para recolher os restos de lã que caíam dela. Os retalhos eram recolhidos e retornavam à máquina para que não houvesse desperdício de matéria-prima, correndo o risco de serem esmagadas.
  Antes da Revolução Industrial, as famílias europeias viviam nas áreas rurais. Nessa época, as crianças começavam a trabalhar muito pequenas, auxiliando os pais nas tarefas do campo. No entanto, elas não realizavam trabalhos repetitivos e exaustivos, pois praticavam diferentes tarefas, que variavam desde semear até a fabricação de calçados. O convívio entre pais e filhos era bem intenso, pois o trabalho não ocupava o dia inteiro das pessoas e sobravam tempo para reuniões e festas entre famílias.
Durante o Feudalismo era comum o trabalho de crianças
  A vida nas cidades alterou completamente esse panorama das relações de trabalho familiares. Ao passar o dia nas fábricas, os pais perderam o convívio com seus filhos. As crianças, além de perderem o contato com a natureza e se depararem com um cenário urbano que se diferenciava na paisagem natural das zonas rurais, também foram atingidas pelas transformações nas relações de trabalho.
  A mudança do campo para a cidade contribuiu para a utilização do trabalho infantil nas indústrias. Inicialmente, só as crianças abandonadas em orfanatos eram entregues aos patrões para trabalharem nas fábricas. Com o passar do tempo, as crianças que tinham famílias começaram a trilhar o mesmo caminho, trabalhando por longas e exaustivas horas, perdendo toda a sua infância.
  Elas começavam a trabalhar aos seis anos de idade de maneira exaustiva. A carga horária era equivalente a uma jornada de 14 horas por dia, começando às 5 da manhã e encerrando às 7 horas da noite, e seu salário correspondia a quinta parte de um salário de uma pessoa adulta. As condições de trabalho eram precárias e as crianças estavam expostas a acidentes fatais e a diversas doenças.
Crianças trabalhando em uma fábrica de tecidos no século XIX
  Muitas vezes as crianças ficavam cansadas, sonolentas e não conseguiam manter a velocidade exigida pelas máquinas. Quando isso ocorria, em geral apanhavam para trabalhar mais rápido ou tinham a cabeça mergulhada na água fria para ficarem acordadas. Também eram punidas quando chegavam atrasadas ao trabalho ou quando conversavam com outras crianças, sendo até acorrentadas e enviadas à prisão.
  O trabalho infantil, em geral, é proibido por lei. Especificamente, as formas mais nocivas ou cruéis de trabalho infantil não apenas são proibidas, mas também constituem crime.
  A exploração do trabalho infantil é comum em países subdesenvolvidos e nos países emergentes, como o Brasil. Na maioria das vezes isto ocorre devido à necessidade de ajudar financeiramente a família. Muitas destas famílias são geralmente de pessoas pobres que possuem muitos filhos. É comum nas grandes cidades brasileiras a presença de menores em cruzamento de vias de grande tráfego, vendendo bens de pequeno valor monetário e até mesmo na zona rural, trabalhando nas carvoarias ou na roça.
Crianças trabalhando em carvoarias do Centro-Oeste
REVOLTA DOS OPERÁRIOS
  Revoltado com essa situação, os trabalhadores começaram a organizar lutas em prol de melhores condições de trabalho. A primeira luta de caráter político, empreendida pelos operários ingleses, foi a conquista do direito de voto. Nessa luta, o movimento operário contou inicialmente com o apoio da burguesia, uma vez que esta classe não podia enviar seus deputados para a câmara dos Comuns, que estava nas mãos dos latifundiários. A revolução de 1830 na França, acabou dando um grande impulso a esse movimento. Em 1832, o Parlamento promulgou um reforma do sistema eleitoral, beneficiando a burguesia e negando qualquer benefício aos operários.
  Em 1836, desencadeou-se uma crise industrial e comercial que lançou à rua milhares de operários. Organizou-se então, a Associação dos Operários para a luta pelo Sufrágio Universal. O Sufrágio foi o fim do voto censitário para todos os homens (nessa época, as mulheres ainda não podiam votar). No ano seguinte essa associação elaborou uma extensa petição (Carta do Povo) para ser enviada ao Parlamento. Por meio dessa petição, surgiu o movimento denominado cartismo. Reivindicava-se o Sufrágio Universal, a igualdade dos distritos eleitorais, a supressão do censo exigido dos candidatos do Parlamento, o voto secreto, eleições anuais e salário para os membros do Parlamento.
Motim cartista em Londres
  De 1838 em diante, o movimento cartista espalhou-se  por toda a Inglaterra, ganhando a adesão maciça dos trabalhadores e ampliando a pauta de reivindicações nitidamente operárias: limitação da jornada de trabalho, abolição da Lei dos Pobres e fim das casas operárias.
OS DESTRUIDORES DE MÁQUINAS
  Desde o início do processo de industrialização houve revoltas individuais que não levaram a consequências imediatas. Apesar de sua revolta, para ter o que comer os operários eram obrigados a aceitar as condições  de trabalho oferecidas pelos donos das fábricas. Ainda por cima, desde o fim do século XV os cidadãos ingleses estavam sujeitos a duras leis contra a recusa ao trabalho. Segundo essas leis, aqueles que não tinham licença do Estado para mendigar eram definidos como vagabundos. Eram açoitados, tinham metade da orelha cortada - para serem facilmente identificados - e podiam ser até mesmo condenados à morte, como traidores do Estado.
A insalubridade marcava a vida dos trabalhadores no século XVIII
  Diante dessas péssimas condições de vida, os operários não demoraram a se revoltar. A primeira forma de revolta coletiva aconteceu na Inglaterra no início do século XIX. Essa revolta começou na noite de 12 de abril de 1811, quando cerca de 350 homens, mulheres e crianças atacaram a fábrica de tecidos  de William Cartwrigth, próxima ao povoado de Arnold, no condado de Nottingham. Os revoltosos destruíram os teares e incendiaram as instalações. Dezenas de teares foram destruídos naquela noite em outros povoados das redondezas. Nos dias subsequentes, os condados vizinhos de Derby, Leicester e York também foram atacados, e a agitação se expandiu pela Inglaterra por dois anos.
Desenho de dois homens destruindo uma máquina de tear em 1812
  Esses destruidores de máquinas eram chamados de ludistas ou luditas, em referência a Ned Ludd, ou King Ludd, o suposto líder do movimento. O ludismo foi um movimento que ia contra a mecanização do trabalho proporcionado pelo advento da Revolução Industrial. Adaptado aos dias de hoje, o termo ludita (do inglês luddite) identifica toda pessoa que se opõe à industrialização intensa ou a novas tecnologias, geralmente vinculadas ao movimento operário anarcoprimitivista. Alguns autores acreditam que Ludd realmente existiu, mas ele pode ter sido apenas uma invenção dos operários para confundir a polícia. Vários ludistas que foram enforcados na década de 1810 se diziam o próprio Ned Ludd. O ludismo ou movimento ludista foi desarticulado com a mobilização de 10 mil soldados ingleses e desapareceu depois do enforcamento de seu último condenado, em 1816.
Gravura de 1812 que mostra o líder dos ludistas
  Além de organizar grupos para destruir máquinas à noite, os ludistas enviavam cartas ameaçadoras aos proprietários de máquinas.
ANARQUISMO E COMUNISMO
  Nem ludistas nem cartistas foram capazes de encontrar soluções para os problemas enfrentados pelos operários. Não era possível combater os patrões apenas quebrando suas máquinas. Também era muito difícil alcançar melhores condições de trabalho solicitando-as ao governo, pois muitos industriais faziam parte dele.
  Em meio a essas revoltas, surgiram novas formas de organização dos operários: os chamados movimentos socialistas. Eles defendiam a ideia de que para melhorar as condições de trabalho dos operários era necessário mudar a sociedade como um todo.
  Os dois principais movimentos socialistas surgidos no século XIX foram o anarquismo e o comunismo.
Símbolo do anarquismo
  Os anarquistas acreditavam que melhorar as condições de vida dos operários só seria possível com a extinção do Estado e de todas as formas de poder. Para os anarquistas, somente uma sociedade organizada sem autoridade, sem escola, sem polícia e sem quaisquer outras instituições estatais poderia acabar com a exploração dos seres humanos.
  Os comunistas, por sua vez, acreditavam que a situação de exploração só teria fim quando os operários assumissem o controle do Estado e organizassem um governo capaz de criar outros valores sociais.
A foice, o martelo e a estrela vermelha são os símbolos do comunismo
  Com os objetivos semelhantes, mas métodos diferentes, anarquistas e comunistas lideravam o movimento operário e suas várias correntes ao longo do século XIX. Diversos intelectuais se juntaram a esses movimentos, como o russo Mikhail Bakunin (1814-1876), o francês Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865), os alemães Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895), entre outros. Karl Marx e Friedrich Engels publicaram manifestos sobre a condição dos trabalhadores e estudos de economia nos quais defendiam uma proposta de sociedade comunista.
  Pierre-Joseph Proudhon é considerado um dos mais influentes teóricos e escritores do anarquismo, sendo também o primeiro a se autoproclamar anarquista. Seu primeiro e maior trabalho foi O que é a Propriedade? Pesquisa sobre o Princípio do Direito e do Governo, publicado em 1840.
  Proudhon favoreceu a associação dos trabalhadores ou cooperativas, bem como o propriedade coletiva dos trabalhadores da cidade e do campo em relação aos meios de produção, em contraposição à nacionalização da terra e dos espaços de trabalho. Ele considerava que a revolução social poderia ser alcançada através de formas pacíficas.
Pierre-Joseph Proudhon
  Karl Marx foi o responsável pela análise econômica e histórica mais detalhada da evolução das relações econômicas entre as classes sociais, razão pela qual é considerado o pai do "socialismo científico". Marx procurou demonstrar a dinâmica econômica que levou a sociedade, partindo do comunismo primitivo, até a concentração cada vez mais acentuada do capital e o aparecimento da classe operária. Esta, ao mesmo tempo, seria filha do capitalismo e a fonte de sua futura ruína, explicando a evolução da sociedade em termos puramente econômicos, referindo à acumulação do capital através da mais-valia, ou seja, a diferença entre o valor final da mercadoria produzida e a soma do valor dos meios de produção e do valor do trabalho, que seria a base do lucro no sistema capitalista.
Karl Marx
  Principal colaborador de Karl Marx, Friedrich Engels desempenhou papel de destaque na elaboração da teoria comunista, a partir do materialismo histórico e dialético. Era o filho mais velho de um rico industrial de Barmen, na Alemanha.
  Na juventude, ficou impressionado com a miséria em que viviam os trabalhadores das fábricas de sua família. Indignado, desenvolveu um detalhado estudo sobre a situação da classe operária na Inglaterra. Em 1842, com 22 anos de idade, Engels foi enviado por seus pais para Manchester, Inglaterra, para trabalhar numa fábrica de sua família que fazia linhas de costura.
  Quando ainda era estudante, Engels aderiu as ideias de esquerda, aproximando-se de Karl Marx. Assumiu por alguns anos a direção de uma das fábricas de seu pai em Manchester e suas observações nesse período formam a base de uma de suas principais obras: A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra, publicada em 1845.
  Muitos de seus trabalhos posteriores são produzidos em colaboração com Marx, sendo o mais famoso deles o que foi intitulado Manifesto Comunista, lançado em 1848.
Friedrich Engels
Cardoso, Oldimar. Leituras da história, 8º ano / Oldimar Cardoso. 1. ed. -- São Paulo: Escala Educacional, 2012. (Leituras da história).

3 comentários:

Leonardo Barbosa disse...

Muito Bom o conteúdo, simplesmente gostei e sera de grande ajuda para meus estudos ;]

Anônimo disse...

MT top esse resumo ,recomendo...����

Deise do Nascimento disse...

Muito bom!

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