segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

A RIQUEZA DE POTOSÍ - BOLÍVIA

  Patrimônio da Humanidade, Potosí é a capital da província de Tomás Frias e do departamento de Potosí, na Bolívia. Possui uma população de 198.298 habitantes (estimativa 2013), e está localizada a 4.070 metros de altitude, sendo uma das cidades mais altas do mundo. A cidade possui uma cultura bastante peculiar, e sua população possui forte traços indígenas, pele morena e cabelos e olhos escuros, sendo na maioria bem humilde, com baixo nível de escolaridade e baixa renda per capita. É conhecida também pelo seu vasto patrimônio arquitetônico. Como exemplo desse patrimônio, estão a Catedral Gótica, a Casa da Moeda e a Universidade Tomás Frias.
  A Catedral da Villa Imperial de Potosí é uma grande influência barroca e neoclássica colonial basílica. Tem uma fachada de pedra e está localizada na Praça 10 de Novembro (Plaza 10 de Noviembre), no centro da cidade, tendo sido construída entre 1809 e 1839, no local da antiga igreja que desabou em 1807. O principal idealizador dessa catedral foi o Frei Manuel Sanahuya.
Catedral de Potosí
  Num primeiro momento, quem desembarca em Potosí pode decepcionar-se, pois as ruas simples de terra e uma população que vive em condições nem sempre adequadas não remetem os visitantes aos tempos áureos dessa antiga cidade que um dia foi uma das mais ricas do mundo.
  No entanto, Potosí não esqueceu seu passado colonial, responsável pelas toneladas de prata extraída de suas minas locais com moinhos hidráulicos. Localizada aos pés da Cordilheira Oriental, a cidade tem como principal atrativo o Cerro Rico, por onde turistas mais aventureiros realizam arriscados tours por seus corredores subterrâneos, além da Casa Real da Moeda, uma verdadeira volta ao passado boliviano.
  O Cerro Rico é uma montanha dos Andes e famosa pelo período colonial, quando possuía as veias de prata mais importantes do mundo. Possui uma altitude de 4.800 metros.
Cerro Rico
   No interior da montanha, encontra-se a mina Pailaviri, atualmente pertencente ao Estado, e que é dividida em 17 níveis. A temperatura no interior da mina pode variar de 45°C entre o exterior e os níveis mais baixos. Próximo ao nível de ingresso da mina, a 70 metros de altura, localiza-se o "Tio", representação do demônio ou divindade possuidora das minas, a quem se faz oferendas para retirar o metal de seu interior. Pailaviri funciona continuamente desde 1545 e é a mina mais antiga da cidade.
Tio - divindade protetora da mina Pailaviri
  A Igreja de San Lorenzo de Carangas começou a ser construída em 1548, com o nome de San Lorenzo La Anunciación, mas uma forte nevada destruiu parte do templo, que teve que ser reparado dez anos mais tarde. Com a chegada do Vice-rei Toledo, passou a ser denominada de San Lorenzo de Carangas, em homenagem ao culto do povo indígena carangas. Quando se construiu a atual catedral, passou a ser paróquia dos índios.
  No século XVIII, a igreja passou por sua maior remodelação, onde se levantou a cúpula e se fez uma entrada barroca - mestiça de uma vasta riqueza ornamental.
Fachada da entrada da igreja de San Lorenzo de Carangas, em Potosí
HISTÓRIA
  Potosí foi fundada em 1546. Em 1611, já era a maior produtora de prata do mundo e tinha uma população de 150.000 habitantes. Alcançou seu apogeu durante o século XVII, tornando-se a segunda cidade mais populosa da época (perdendo apenas para Paris, na França) e a mais rica do mundo, devido à exploração de prata enviada à Espanha. No entanto, em 1825, a maior parte da prata já havia sido esgotada.
  Em 1825, ao contemplar Potosí pela primeira vez, Simón Bolívar lembrou-se da importância da cidade como "eixo de um vasto mundo". Bolívar referia-se à época em que as minas de prata e as moedas cunhadas ali sustentavam as conquistas do Império Espanhol que ele acabara de derrubar - e antes que se tornasse uma poeirenta cidadezinha provinciana no país que acabou sendo batizado com o seu nome. O Cerro Rico já foi a jazida de prata mais valiosa do mundo. A riqueza provocou surto de crescimento tanto no comércio e na população locais quanto na riqueza da Espanha e na movimentação de suas frotas navais.
Rua de Potosí e ao fundo o Cerro Rico
  No início do século XX, a exploração de estanho se incrementou pela demanda mundial, levando Potosí a ter um novo crescimento econômico.
PERÍODO PRÉ-EUROPEU
  A história inicial da cidade está ligada há várias lendas. Diz-se que as minas de prata foram descobertas casualmente em uma noite de 1545, quando um pastor quíchua (povo indígena que habita áreas do Peru, Bolívia, Argentina e Chile), chamado Diego Huallpa, se perdeu quando regressava com seu rebanho de lhamas. Decidiu, então, acampar no sopé do Cerro Rico, fazendo uma grande fogueira para abrigar-se do frio. Quando acordou pela manhã, notou que entre as brasas brilhavam pedaços de prata, fundidos e derretidos pelo calor do fogo. No dia 1° de abril de 1545, um grupo de espanhóis liderado pelo capitão Juan de Villarroel tomou posse de Cerro Rico, tentando confirmar os relatos do pastor. Imediatamente estabeleceu-se um povoado.
  Há outra versão, em que os incas já conheciam a existência de prata no local, mas quando o imperador inca tentou começar sua exploração, o monte o teria expulsado mediante uma estrondosa explosão, proibindo-lhe de extrair a prata, que estava reservada "para os que viriam depois".
Visão geral de Potosí
  Após a chegada dos espanhóis à América e a dominação do povo Inca, com a descoberta de Potosí e sua riqueza em prata, começou a extração da mesma, utilizando o trabalho escravo indígena.
  Aninhada no altiplano andino, Potosí não era o local mais conveniente para o crescimento urbano. Produtos básicos precisavam ser transportados em caravanas com centenas de lhamas amarrados uns aos outros até a cidade, localizada a cerca de 4 mil metros acima do nível do mar. Em razão das más condições de trabalho, muitos índios acabavam morrendo, por fome ou doenças, como pneumonia, acidentes, soterramentos e quedas de grandes alturas. Frei Domingo de Santo Tomás, padre que viveu à época, escreveu: "Não é prata o que se envia à Espanha, é o suor e sangue dos índios".
  O sangue de lhamas sacrificadas adorna as entradas das 180 minas ativas no Cerro Rico, onde os trabalhadores mascam folhas de coca para suportar física e mentalmente, as jornadas subterrâneas. Tal como seus antepassados, eles continuam a escavar as galerias com picaretas e pás. Avançam cada vez mais fundo graças às explosões de dinamite, em busca de veios de estanho e zinco remotos.
FONTE: Willian Shubert. A montanha que devora homens. National Geographic, São Paulo, n. 116, ago. 2011, p. 116.

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