quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

A HIDRELÉTRICA DE TRÊS GARGANTAS

  Planos de crescimento econômico acelerado com base no dogma de que toda energia de hidrelétrica é, por definição, limpa; projetos de barragens atravessando regiões consideradas patrimônio da humanidade, inundando rios onde há raras espécies de peixes ameaçadas de extinção; e um partido no poder que considera as críticas ambientais a seu programa econômico uma conspiração - se não um crime de lesa-pátria - para sabotar metas da economia. [...] A represa de Três Gargantas bateu nada menos que dez recordes mundiais - em tamanho de reservatório, consumo de cimento, volume de terraplenagem e produção de eletricidade, entre outros. Ao mesmo tempo, removeu mais de um milhão de chineses. Transpondo arrozais de vales férteis para encostas áridas, desmatou montanhas sem resolver o problema dos camponeses desterrados, e assoreou rios, que por sua vez comprometem, com sua carga crescente de sedimentos, a alimentação das turbinas. Cinquenta mil pessoas foram envenenadas em Fengdu no começo do ano de 2007 por um afluente do Rio Yang Tsé.
Mapa de Três Gargantas
  Três Gargantas seria um portentoso troféu da vitalidade chinesa, vitrine de um programa para construir mais 12 usinas gigantescas no Yang Tsé, se não fosse um depósito de problemas como poluição das águas, voçorocas e outros desgastes geológicos, capitulados como "perigos ocultos" num documento oficial. Um deles é que o peso do reservatório precipite terremotos.
HISTÓRIA
  Originalmente essa usina foi concebida por Sun Yat-sen em "O Desenvolvimento Internacional da China", em 1919. Ele afirmou que uma empresa capaz de gerar 30 milhões de cavalos-vapor (22 GW) era possível à jusante das Três Gargantas (região ao longo do rio Yang Tsé). Em 1932, o governo nacionalista, liderado por Chiang Kai-shek, começou o trabalho preliminar em relação aos planos nas Três Gargantas.
Sun Yat-sen - primeiro idealizador da usina de Três Gargantas
  Em 1944, os Estados Unidos examinaram a área e elaborou uma proposta de represa para o "Projeto do Rio Yang Tsé". Cerca de 54 engenheiros chineses foram para os Estados Unidos para treinamento. Os planos originais citados para a barragem consistiam em empregar um método único para movimentar os navios; os navios se moveriam em bloqueios localizados nas extremidades superiores e inferiores da barragem e, em seguida, guindastes com cabos moveriam os navios de um bloqueio para o próximo. No caso das embarcações de menor porte, grupos de embarcações seriam levantados em conjunto para obter eficiência. Alguma exploração, pesquisa, estudo econômico e trabalho de design foram feitos, mas o governo, em meio à Guerra Civil Chinesa, interrompeu os trabalhos em 1947.
   A construção da usina de Três Gargantas foi iniciada em 3 de dezembro de 1992, e esteve envolta em polêmica pelo seu imenso impacto ambiental.
Eclusas da barragem
  No final de 2004, quatro turbinas entraram em funcionamento. Em 2009, com 26 turbinas instaladas, a capacidade concebida da barragem passou a ser de 18.200 megawatts, ultrapassando Itaipu, até então, a maior usina hidrelétrica em potência instalada no mundo. Entretanto, o rio Paraná, onde Itaipu está instalada, em função de sua hidrologia favorável face à do rio Yang Tsé, garantiu que Itaipu continuasse a ser a maior usina hidrelétrica do mundo em energia gerada.
  Diversas empresas brasileiras de consultoria participaram do projeto, graças à vasta experiência do Brasil na construção de grandes usinas, como a de Itaipu e a de Tucuruí.
  Segundo o cronograma de construção, em novembro de 2006, foi efetuada a segunda represa provisória. O reservatório começou a encher em 2005, quando a eclusa começou a operar e o primeiro grupo de geradores entrou parcialmente em funcionamento.
  Ao ser concluída, a obra das Três Gargantas passou a ter como função a prevenção de enchentes, a geração de energia, além de facilitar o transporte fluvial.
Obras de construção de Três Gargantas
PROBLEMAS GERADOS PELA USINA DE TRÊS GARGANTAS
  O projeto da hidrelétrica de Três Gargantas vem se revelando um enorme fracasso social e ambiental, com a inundação de diversas comunidades e o deslocamento de pelo menos 1,4 milhão de pessoas. O projeto original visava controlar e aproveitar o mais poderoso rio da China, o Yang Tsé, e ser uma mostra de controle sobre os recursos naturais, inclusive como símbolo de grandeza do Partido Comunista.
  Mas, desde a conclusão da barragem em 2006, vários acontecimentos naturais vêm acontecendo no país, como secas, terremotos, dentre outros. O projeto da barragem também se tornou um escoadouro financeiro, exigindo um contínuo controle de danos de centenas de bilhões de yuans (a moeda chinesa).
  Em 2006, perto de Chongqing, foram registrados os mais baixos níveis de água em 130 anos e a cada ano, a seca vem comprometendo o manancial do rio. As secas afetam a produção de eletricidade e, consequentemente, o fornecimento de água potável para dezenas de milhões de pessoas e para os animais, além de comprometer as lavouras de arroz, principal produto do país e toda a Ásia.
Foto aérea da barragem de Três Gargantas
   Antes da construção da represa, o derretimento da neve que origina o Yang Tsé provocava grandes enchentes anuais nos trechos superiores do rio. Agora, as enchentes não são tão abundantes e mesmo se há água no trecho superior do rio, a barragem corta o fluxo de água para as camadas inferiores.
  O projeto da barragem foi defendido pelo PCCh (Partido Comunista Chinês) como sendo capaz de garantir as necessidades principais da região, como a geração de energia, o transporte fluvial, o controle de cheias e a irrigação agrícola.
  Desastres geológicos são comuns ao longo das encostas da barragem, como deslizamento de terra, provocando cada vez mais o assoreamento do rio.
Geleiras das nascentes do rio Yang Tsé
OS NÚMEROS DE TRÊS GARGANTAS
  • 60 mil trabalhadores
  • 17 anos de construção
  • Extensão: 660 km ao longo do Yang Tsé
  • Superfície de água: 1.084 km²
Total ou parcialmente inundados
150 cidades, 1.550 vilas, 1.500 fábricas, 632 km² de terra, 24,5 mil hectares de plantações, 824 km de estradas, 1.200 escavações arqueológicas.
Cidade de Fendu - uma das cidades afetadas com a construção de Três Gargantas
FONTE: Araújo, Regina. Observatório de geografia / Regina Araújo, Ângela Corrêa da Silva, Raul Borges Guimarães. - 1. ed. - São Paulo: Moderna, 2009.

2 comentários:

Unknown disse...

Adorei a explicação, muito boa mesmo, me ajudou bastante

Unknown disse...

Adorei a explicação, muito boa mesmo, me ajudou bastante

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