sábado, 14 de junho de 2014

A REGIÃO DO ÁRTICO

  As terras polares setentrionais ou região Ártica são aquelas situadas ao norte do círculo polar Ártico (66°33' de latitude norte). Como ocorre na Antártica, os ecossistemas dessa região são extremamente frágeis.
  Na região Ártica se encontra o oceano Glacial Ártico e o Polo Norte. Durante o inverno a área toda é coberta pelo gelo e a temperatura atinge geralmente 60° negativos. Durante o verão a tundra é a vegetação principal, mas nas áreas mais aquecidas aparecem os salgueiros e as bétulas. Os países que possuem terras nessa região têm disputado intensamente os recursos, principalmente os minerais.
Paisagem do Ártico
ASPECTOS NATURAIS
  No Ártico, assim como na Antártica, aparecem muitas banquisas. As banquisas constituem grandes blocos de gelo formados pelo congelamento da superfície da água do mar. São capas de gelo que funcionam como isolante térmico das águas mais profundas. Estas, sem contato com a fria atmosfera polar (por estarem isoladas pela cobertura de gelo), permanecem líquidas. Sob as banquisas do oceano Glacial Ártico podem navegar submarinos que emergem, cavando buracos no gelo. Quando elas não são muito espessas, podem ser atravessadas por navios especiais, conhecidos como "quebra gelo".
  A maior parte da banquisa ártica gira permanentemente no oceano Ártico. Antigamente, os navios presos nas banquisas eram frequentemente esmagados. Desde 1958, submarinos nucleares atravessam o oceano Ártico a norte da Groenlândia por baixo da banquisa.
  Sobre as águas extremamente frias e salgadas dos polos, as banquisas se expandem no inverno e se retraem no verão. Por estarem em constante movimento, elas costumam se fragmentar e se chocar, soltando, por vezes, placas que acabam se perdendo e derretendo nas águas de mares mais quentes.
Banquisas
  O oceano Glacial Ártico abriga um conjunto de enormes banquisas, sobre as quais se localiza o Polo Norte geográfico do planeta. O tamanho das banquisas tem diminuído nas últimas décadas, possivelmente em decorrência dos impactos ambientais das atividades humanas.
  O Polo Norte é o lugar onde o eixo imaginário do planeta corta a superfície, e se localiza no oceano Glacial Ártico, onde o mar está coberto por uma camada de gelo. Aí se distinguem os quatros polos: o magnético, o geográfico, o geomagnético e o histórico.
  O Polo Norte magnético está está situado a cerca de 1.600 km do Polo Norte geográfico (também chamado de Polo Norte verdadeiro), perto da Ilha de Bathurst, na parte setentrional do Canadá, no território de Nunavut. Magneticamente falando, ele não é um polo norte e sim um polo sul, pois o norte da bússola e o norte dos mapas não são idênticos.
Globo terrestre mostrando o Polo Norte magnético e o Polo Norte geográfico
  O campo magnético terrestre assemelha-se a um dipolo magnético com seus polos próximos aos polos geográficos da Terra. Uma linha imaginária traçada entre os polos Sul e Norte magnéticos apresenta uma inclinação de aproximadamente 11,3° relativa ao eixo de rotação da Terra. A teoria do dínamo é a mais aceita para explicar a origem do campo. Um campo magnético, genericamente, se estende infinitamente e vai se tornando mais fraco com o aumento da distância da sua fonte. Como o efeito do campo magnético terrestre se estende por várias dezenas de milhares de quilômetros, no espaço ele é chamado de magnetosfera da Terra.
  O Polo Norte histórico compreende a área dominada pelo Círculo Polar Ártico, que vai desde o Canadá até o norte da Eurásia.
Região do Polo Norte histórico
  Na região do Ártico também aparecem os inlândsis ou manto de gelo, que, ao contrário das banquisas, constituem grandes plataformas de gelo sobre a terra. São formados pelo congelamento da água doce proveniente das precipitações atmosféricas, e não da água salgada do mar, ou seja, são o acúmulo de camadas de neve e gelo em uma superfície continental. Movendo-se do interior do continente para o litoral, um pouco a cada ano, constituem os maiores reservatórios de água doce do planeta. Quando suas bordas se despedaçam, caindo no mar, formam-se os icebergs.
  O possível derretimento dos inlândsis vem preocupando, principalmente, ambientalistas e governantes do mundo todo, pois certamente esse fenômeno aumentaria o número de icebergs à deriva e causaria a elevação do nível dos oceanos, podendo inundar várias regiões costeiras.
  Os atuais mantos  polares de gelo são relativamente jovens em termos geológicos. O manto de gelo da Groenlândia desenvolveu-se muito rapidamente com a ocorrência da primeira glaciação continental, permitindo que fósseis de plantas que então cresciam no que hoje é a Groenlândia, fossem melhor preservados do que os da Antártica.
Inlândsis na Groenlândia
  Os icebergs são enormes blocos de gelo que se desprende das geleiras existentes nas calotas polares, originárias da era glacial ocorrida há mais de cinco mil anos. São constituídos primordialmente de água doce, porém podem trazer em seu interior outros corpos (animais, fósseis ou não). São conhecidos por representar grande perigo às embarcações que percorrem as rotas mais próximas dos polos. Após deslizar até o oceano, depois de se desprenderem dos inlândisis, passam a vagar de acordo com a dinâmica das correntes marítimas, com a maior parte do seu corpo submersa. Os icebergs podem percorrer centenas de quilômetros até que seu derretimento os consuma totalmente, à medida que se aproximam das latitudes mais baixas, onde a temperatura é mais elevada.
  Os icebergs são muito importantes para a natureza, pois, à medida que alimentam as correntes oceânicas frias e profundas da Terra, participam da transferência de água dos polos para os oceanos do globo, amenizando, assim, as temperaturas dos mares mais quentes das baixas latitudes.
Iceberg na Groenlândia
  Permafrost ou pergelissolo é o tipo de solo encontrado no Ártico. É o solo congelado cuja temperatura permanece inferior a 0°C durante dois ou mais anos. Esse tipo de solo não é exclusivo das regiões polares, pois ocorre com relativa frequência em áreas de climas frios, especialmente nas terras do Hemisfério Norte ou em elevadas altitudes montanhosas. No Hemisfério Sul, sua ocorrência é bem menor, localizando-se no extremo sul da América do Sul (Patagônia) e em algumas áreas das bordas do continente antártico.
  O permafrost é constituído por terra, gelo e rochas permanentemente congelados. Esta camada é recoberta por uma camada de gelo e neve que, se no inverno chega a atingir 300 metros de profundidade em alguns locais, ao se derreter no verão, reduz-se para 0,5 a 2 metros, tornando a superfície do solo pantanosa, uma vez que as águas não são absorvidas pelo solo congelado.
Zona do permafrost no Ártico
  Praticamente, toda a vida animal e vegetal não aquática existente nas zonas polares concentra-se sobre o permafrost, que se fertiliza durante os curtos verões, quando o gelo derrete, irrigando a terra. Isso o torna temporariamente produtivo para musgos e liquens, que compõem a Tundra, vegetação típica das regiões de permafrost.
  Uma grande reserva de metano, gás estufa 30 vezes mais potente que o dióxido de carbono está se abrindo, podendo haver uma mudança mais drástica no clima do planeta, principalmente das regiões polares.
Solo de permafrost no norte do Canadá
  É comum também na região do Ártico a ocorrência da Aurora Boreal, fenômeno óptico composto de um brilho observado nos céus noturnos, em decorrência do impacto de partículas de vento solar e poeira espacial encontrada na via láctea com a alta da atmosfera da Terra, canalizadas pelo campo magnético terrestre. Na Antártica esse fenômeno é denominado de Aurora Austral.
  O fenômeno não é exclusivo do planeta Terra, sendo também observável em outros planetas do sistema solar como Júpiter, Saturno, Marte e Vênus.
  É possível ver esse fenômeno na Noruega, Suécia, Finlândia, Islândia, Canadá, Escócia, Rússia, Ilhas Faroé, entre outras localidades.
Aurora Boreal no Alasca
  Durante o verão nas regiões polares ocorre o fenômeno denominado de sol da meia-noite. É um fenômeno natural que acontece entre os meses de verão em locais ao norte do Círculo Polar Ártico e ao sul do Círculo Polar Antártico, quando o sol permanece visível durante as 24 horas do dia. O número de dias por ano com potencial de sol da meia-noite varia de acordo com a latitude.
  O fenômeno oposto ao sol da meia-noite é a noite polar, que ocorre durante o inverno, quando o sol permanece abaixo do horizonte durante o dia todo, variando também de acordo com a latitude.
Sol da meia-noite em Nordkapp - Noruega
  A região ártica abriga uma significativa biodiversidade, composta por seres marinhos, terrestres e muitas aves migratórias que lá pousam, sobretudo nos períodos de verão, para se reproduzir.
  A fauna do Ártico é composta principalmente por: urso-polar, raposa-do-ártico, boi-almiscarado, foca, elefante-marinho, rena, baleia, lobo-do-ártico, lebre-ártica, narval (baleia dentada de tamanho médio), entre outros.
Ursos-polares
  A vegetação do Ártico é composta de plantas como arbusto anão, gramíneas, ervas, musgos e líquens, que crescem relativamente perto do solo, formando a tundra.
  A tundra é uma vegetação que atinge até um metro de altura e se revela plenamente adaptada  às rudes condições do clima subpolar, em que a temperatura média do mês mais quente não chega a atingir 10°C.
  Durante três a cinco meses do ano, a tundra reveste de verde a monótona paisagem das regiões próximas ao Círculo Polar Ártico. No entanto, com a chegada da longa estação de inverno, ela perde suas partes aéreas, mantendo vivas apenas as partes que ficam sob a terra. Isso significa que a tundra tem um ciclo de vegetativo curto, restrito ao breve verão, quando ela rapidamente cresce, floresce e frutifica.
Vegetação de tundra na Sibéria - Rússia
POPULAÇÃO DO ÁRTICO
  No Ártico, as condições naturais desafiam a sobrevivência humana e, por isso, o homem precisou encontrar meios que possibilitem sua permanência na região, uma vez que o desenvolvimento natural da agricultura é inviável e as condições climáticas contribuem negativamente para a fixação humana.
  Uma das maneiras encontradas para viver em circunstâncias tão adversas foi a vida em comunidades, onde o auxílio mútuo foi primordial para a permanência na região. Tudo que se obtinha para o sustento era compartilhado entre o grupo. Além disso, seus membros desenvolveram vestimentas específicas para se proteger do frio intenso. São roupas feitas de peles de animais, como a foca, o urso-polar e a rena. As moradias também são construídas de modo a proteger seus habitantes contra os ventos gelados.
Iglu - moradia típica dos habitantes do Ártico
  Diversos povos compõem a população do Ártico, cada um com uma denominação distinta.
  Os inuites, também conhecidos como esquimós, constituem um dos principais povos do Ártico. Eles ocupam a região entre o estreito de Bering e a Groenlândia, e constituem uma população com cerca de 120 mil pessoas.
  Antes da colonização, eles ocupavam uma vasta área ao longo do North Shore, na Virgínia - EUA -, na região de Saguenay e em Schefferville - ambos localizados na província canadense de Quebec.
  No século XV, os inuites estabeleceram os primeiros contatos com os baleeiros franceses e pescadores de bacalhau. Eles rapidamente desenvolveram relações com os europeus baseado no comércio de peles, levando esse povo a abandonar as inúmeras práticas tradicionais para se ocuparem da caça de pele de animais.
  A tradição oral dos inuites preserva muitos detalhes do impacto da chegada dos europeus. Esta tradição conta que os inuítes e os franceses fecharam um acordo para permitir que os últimos ocupassem certas áreas em troca de farinha, para proteger os inuites contra fomes periódicas. Esse período ficou conhecido como "era pré-farinha". Nessa época, eles comercializavam suas peles por banha de porco, chá, manteiga, roupas e armas. Os clérigos se estabeleceram próximos aos postos de comércio para promover a aculturação e cristianização dos autóctones. Em 1632, os jesuítas abriram a primeira missão entre os inuites.
Inuites do Canadá
  Outro povo bastante numeroso no Ártico são os lapões. Esse povo abriga a região da Lapônia, localizada no norte da Noruega, Suécia, Finlândia e na península de Kola, na Rússia. É um dos maiores grupos indígenas da Europa, totalizando cerca de 70 mil pessoas.
  Os lapões falam um grupo de dez línguas distintas denominadas genericamente de sami ou lapão, pertencentes à família das línguas fino-úgricas (mistura de finlandês e húngaro).
  As atividades tradicionais dos lapões são a caça, a pesca e a criação de renas, apesar de essas atividades serem desenvolvidas apenas pelos lapões que ainda vivem do nomadismo.
  Assim como na cultura inuite, o modo de vida tradicional na cultura lapã está, em parte, desaparecendo. Embora a criação extensiva de renas ainda aconteça, o povo lapão vive de maneira sedentária em povoados.
Lapões da Suécia
  Há também o grupo dos samoiedos, do qual também fazem parte os lapões, que vivem ao longo da extensa planície siberiana. Fazem parte da família urálica (finlandês e húngaro), e é um grupo linguístico e não étnico ou cultural.
  Os samoiedos dividem-se em: Povos Samoiedos do Norte (nenets, enets e nganasan) e Povos Samoiedos do Sul (selkup, kamasins, mator e koibal).
Samoiedos nenets da Sibéria - Rússia
  Em meados do século XX, a região polar ártica passou a ser explorada de maneira mais intensa, em razão da descoberta de suas riquezas minerais e energéticas.
  A introdução das atividades econômicas voltadas para o comércio em grande escala trouxe significativas transformações no espaço geográfico da região ártica, afetando diretamente o modo de vida das populações nativas.
  A maneira como grande parte dos inuits vive atualmente no Ártico não se assemelha ao modo de vida dos seus antepassados, que eram nômades e cuja manutenção da vida era garantida pela caça, sobretudo de mamíferos, no verão.
Comunidade inuite de Resolut, em Nunavut - Canadá
A ECONOMIA DO ÁRTICO
  O estabelecimento de atividades econômicas no Ártico, utilizando os recursos marítimos e terrestres oferecidos pelo meio ambiente polar, acontece desde a fixação dos primeiros povos na região. Há milhares de anos se explora as potencialidades econômicas  regionais, porém de maneira não predatória.
  Da pesca e da caça dos animais árticos, principalmente focas, os povos da região adquiriam carne para alimentar-se, peles para vestir-se e ossos para fabricar instrumentos. Além disso, houve a utilização variada de madeiras, conchas, pedras e gelo para a construção de habitações e equipamentos, bem como a presença de animais domesticados, como cães ou renas, para transportar pessoas e cargas.
Esquimós caçando focas
  Nos dias atuais, embora a caça e a pesca comercial de determinadas espécies de mamíferos marinhos estejam proibidas, parte dos povos nativos podem continuar capturando esses animais, apenas para sua subsistência. Por extraírem apenas aquilo de que necessitam, eles causam pouco impacto nas espécies da região.
  Atualmente a economia do Ártico está bastante transformada e, a partir de meados do século XX, a antiga economia tradicional dos povos nativos passou a conviver cada vez mais com atividades econômicas modernas. Desenvolvidas por grandes empresas, elas acabam por impulsionar a expansão urbana, as infraestruturas e, ainda, a vinda de imigrantes para a região. Em muitos casos, verifica-se a transformação das economias nativas, que, sob influência externa, estão hoje fortemente integradas com os circuitos comerciais da globalização e familiarizadas aos hábitos culturais de outros povos.
Plataforma de petróleo da Rússia no oceano Glacial Ártico
  Uma dessas novas atividades está sendo a exploração petrolífera. A Rússia já iniciou a exploração de poços de petróleo na região ártica da Sibéria. Outros países como Noruega, Finlândia, Dinamarca, Suécia e Canadá também já estão desenvolvendo pesquisas sobre o petróleo na região, contribuindo para aumentar a poluição na região.
  Outra atividade recente que vem sendo desenvolvida é a travessia de grandes cargueiros pelo oceano Glacial Ártico. Recentemente, a China realizou a primeira travessia de um cargueiro comercial pelo Ártico, objetivando entregar mais rápido as suas mercadorias pelo mundo. A Noruega já realiza o transporte de minério de ferro para a China pelo oceano Glacial Ártico.
  A abertura do Ártico reduzirá as distâncias percorridas pelos produtos do comércio mundial, porém, contribuirá também para aumentar os danos com o meio ambiente.
Navio norueguês utilizado no transporte de minério de ferro pelo oceano Glacial Ártico
FONTE: Torrezabi, Neiva Camargo. Vontade de saber geografia, 9° ano / Neiva Camargo Torrezani. - 1. ed. - São Paulo: FTD, 2012.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

NAVEGAÇÃO OCEÂNICA

  A navegação oceânica, também chamada de marítima, constitui, em termos quantitativos, o principal modo de transporte intercontinental de cargas. As cargas subdividem-se em três categorias: líquidos (petróleo e derivados), que representam mais de 40% do total; secos (como carvão, minérios, produtos florestais e agrícolas) e produtos finais (máquinas, equipamentos de transporte, alimentos, manufaturados em geral).
Petroleiro próximo a uma plataforma de petróleo na Baía da Guanabara, no Rio de Janeiro
  O transporte marítimo ganhou forte impulso no século XIX, com os navios a vapor. A construção do Canal de Suez, inaugurado em 1869, possibilitou a ligação entre os mares Mediterrâneo e Vermelho, reduzindo as distâncias e o custo dos trajetos entre a Europa e a região do Oceano Índico. Mais tarde, o canal tornou-se a principal rota de petroleiros entre a área produtora do Golfo Pérsico e os mercados consumidores europeus.
  O Canal de Suez liga o porto egípcio de Said, no Mar Mediterrâneo, a Suez, no Mar Vermelho. Com extensão de 195 quilômetros, permite que embarcações naveguem da Europa à Ásia sem terem que contornar a África pelo Cabo da Boa Esperança. Antes da sua construção, as mercadorias tinham que ser transportadas por terra entre o Mar Mediterrâneo e o Mar Vermelho.
  O canal não possui eclusas, pois todo o trajeto está ao nível do mar, contrariamente ao Canal do Panamá. O canal permite a passagem de navios de 22 metros de calado.
  Aproximadamente 15 mil navios por ano atravessam o canal, representando 14% do transporte mundial de mercadorias. Uma travessia demora de 11 a 16 horas.
Navios atravessando o Canal de Suez, no Egito
  No entanto, para que os navios petroleiros chegassem ao Canal de Suez, é preciso transpor dois estreitos estratégicos: o de Bab el Mandeb e o de Ormuz.
  O Estreito de Bab el Mandeb interliga o Mar Vermelho e o Oceano Índico, numa estreita passagem de 50 quilômetros que, caso fosse fechada, causaria enormes prejuízos, pois forçaria as embarcações a contornar o continente africano pelo Cabo da Boa Esperança.
  Em árabe Bab el Mandeb significa "Portão das Lágrimas" e separa a Ásia (Iêmen) da África (Djibouti). O seu nome deriva dos perigos que rondam a sua navegação ou, de acordo com uma lenda árabe, da quantidade de pessoas afogadas pelo sismo que teria separado o continente asiático do africano. Possui uma grande importância estratégica e comercial, sendo uma das rotas marítimas mais navegadas do mundo.
  Provavelmente, o Estreito de Bab el Mandeb tenha sido testemunha das primeiras emigrações do continente africano, entre 85 mil e 75 mil anos. Nesse período os oceanos possuíam um nível muito mais baixo e os estreitos eram menos largos ou mais secos.
Mapa do Estreito de Bab el Mandreb
  O Estreito de Ormuz, serve como porta de saída para o Oceano Índico de 88% do petróleo exportado do Golfo Pérsico. É um pedaço de oceano relativamente estreito entre o Golfo de Omã ao sudeste e o Golfo Pérsico ao sudoeste. Na sua costa norte está o Irã e na costa sul os Emirados Árabes Unidos e um enclave de Omã.
  Próximo da costa norte situam-se algumas ilhas, que incluem Kish, Queixome, Abu Musa e as Tunbs Maior e Menor. Essas ilhas possuem uma enorme posição estratégica, funcionando como plataformas de controle do tráfego marítimo, além de ser uma importante rota de escoamento de petróleo oriundo dos países produtores da região.
Mapa do Estreito de Ormuz
  A construção do Canal do Panamá, completada em 1914, interligou os oceanos Pacífico e Atlântico por meio do istmo centro-americano. No início, o canal funcionou como rota entre as costas leste e oeste dos Estados Unidos. Depois, tornou-se a principal via de circulação entre o leste dos Estados Unidos e a Europa Ocidental, de um lado, e os países a Bacia do Pacífico, do outro.
  O Canal do Panamá é um canal marítimo com 81 quilômetros de extensão. É considerado como um ponto importante para o comércio internacional devido a grande diminuição do percurso feito pelos navios.
  Esse canal possui dois grupos de eclusas no lado do Pacífico (Pedro Miguel e Miraflores) e um no lado do Atlântico (Gatúm).
  Atualmente, o Canal do Panamá é responsável por cerca de 5% do comércio mundial, e por ano passam cerca de 15 mil navios. As principais trajetórias saem do litoral leste norte-americano com destino, principalmente, à costa oeste da América do Sul. Há também um fluxo da Europa para a costa oeste dos Estados Unidos e do Canadá.
Canal do Panamá
  Todo este tráfego converge para um ponto estratégico, o Estreito de Malaca, localizado entre a Indonésia e a Malásia. Com uma extensão de 800 quilômetros e variando de 50 a 300 quilômetros de largura, é o maior estreito utilizado pela navegação internacional. Por ali passam cerca de 50 mil navios por ano, o que representa 30% do comércio mundial e 80% do Japão.
  O Estreito de Malaca é a principal passagem marítima entre os oceanos Índico e Pacífico e encontra-se entre a Península Malaia e a ilha de Sumatra, na Indonésia.
  Esse estreito é uma das mais antigas e importantes vias marítimas do mundo. Nas proximidades de Cingapura o estreito se restringe a uma largura mínima de 2,5 km, o que torna a navegação mais difícil devido ao intenso tráfego. Em suas águas ocorrem numerosos episódios de pirataria. Outro problema para a navegação é a intensa fumaça, provocada pelas queimadas na ilha de Sumatra, que reduz a visibilidade por até 200 metros e provoca a diminuição da velocidade do tráfego marítimo.
Navios circulando no Estreito de Málaca
  Embora as redes de oleodutos sejam uma alternativa para o transporte de petróleo, como ocorre entre a região do Mar Cáspio e a Europa Central, a opção por navio ainda é mais barata. A construção de cargueiros cada vez maiores é uma tendência para manter baixos os custos de fretes, mas algumas classes de superpetroleiros e supergraneleiros, por causa do seu calado, não podem passar pelos canais transoceânicos ou mesmo por certos estreitos do Sudeste Asiático. Assim, as rotas pelo Cabo da Boa Esperança, no sul da África, e pelo Estreito de Magalhães, no sul da América, foram revalorizadas. Ao mesmo tempo, velhos portos foram ampliados, com a modernização dos seus equipamentos, e surgiram inúmeros novos terminais especializados.
  O Cabo da Boa Esperança, ou primitivamente conhecido como Cabo das Tormentas, localiza-se ao sul da Cidade do Cabo e a oeste da Baía Falsa, na província do Cabo Oriental, na África do Sul. É considerado um dos grandes cabos dos oceanos meridionais, e teve especial significado para os marinheiros durante vários séculos.
  É uma importante rota dos navios que saem da América do Sul e se destinam ao Extremo Oriente e a Austrália.
Cabo da Boa Esperança
  O Estreito de Magalhães é uma passagem navegável de aproximadamente 600 km, localizado no sul da América do Sul. Situa-se entre a Terra do Fogo e o Cabo Horn a sul. Este estreito é a maior e mais importante passagem natural entre os oceanos Atlântico e Pacífico. O estreito é conhecido também pela dificuldade de navegação, devido ao clima hostil e à sua pequena largura. Antes da criação do Canal do Panamá, o Estreito de Magalhães era a única passagem de travessia do Atlântico para o Pacífico.
Mapa do Estreito de Magalhães
  A localização dos maiores portos oceânicos reflete a distribuição dos principais fluxos do comércio mundial e a situação geográfica dos polos econômicos globais.
PORTOS MAIS MOVIMENTADOS DO MUNDO
1. Porto de Xangai - China
  O Porto de Xangai, na China, está localizado mas redondezas da cidade chinesa de Xangai e é o porto mais ativo do mundo em toneladas transportadas. O porto pode ser caracterizado como marítimo ou fluvial, devido ao fato de tanto o Mar da China Oriental e a Baía de Hangzhou quanto os rios Yang-tsé e Huangpu serem usados para o atracamento dos navios. Compreende um porto de águas profundas e um porto fluvial. Por esse porto entra a maioria dos produtos importados pela China e, naturalmente, saem toneladas de material que a China exporta para quase todos os países do mundo.
Porto de Xangai, na China
2. Porto de Ningbo-Zhoushan - China
  Formada como uma iniciativa de colaboração entre o porto de Ningbo e Zhoushan no ano de 2006, o porto de Ningbo-Zhoushan é o segundo maior porto do mundo. Apoiando três rios - o Yang-tsé, o Yong e o Qaintang - o porto deverá ter um grande impulso com a construção de um grande terminal - o Dapukuo Jintang -, composto por cinco leitos e que deverá está em pleno vapor até o final de 2014.
Porto de Ningbo-Zhoushan, na China
3. Porto de Cingapura - Cingapura
  O Porto de Cingapura, que já foi considerado o maior do mundo, caiu algumas posições e agora está em terceiro lugar. Do ponto de vista da economia do país, esse porto desempenha um papel muito importante para Cingapura, pois atende ao mercado de re-exportação em uma escala gigantesca. Está conectado a mais de 600 portos em mais de uma centena de países. Abrange todas as instalações e terminais que mantêm o fluxo comercial marítimo do país. Esse porto é responsável por metade do suprimento anual de óleo cru para navegação.
Porto de Cingapura
4. Porto de Roterdã - Países Baixos (Holanda)
  O Porto de Roterdã, na Holanda, junto à foz do Rio Reno, concentra grande parte do comércio das áreas mais industrializadas da União Europeia e movimenta cerca de 300 milhões de toneladas de carga ao ano.
  O Porto de Roterdã é o maior porto marítimo da Europa. Localizado na cidade de Roterdã, na Holanda do Sul - Países Baixos. De 1962 até 2004 foi o maior porto do mundo.
  Todos os anos, cerca de 300 milhões de toneladas de mercadorias são transportadas por este porto. Seu calado permite que os navios carreguem até 350 mil toneladas. Existe um grande ponto para importação de frutas cítricas na Europa e vários pontos de distribuição de mercadorias asiáticas, mas, a maior área de concentração do porto está reservada à indústria, principalmente a química e a petroquímica.
Porto de Roterdã
5. Porto de Tianjin - China
  Situado no Rio Haihe, o Porto de Tianjin é o quinto maior porto do mundo e o terceiro maior da China. Atualmente, está conectado a mais de 400 portos em cerca de 200 países. Todos os anos, cerca de 300 milhões de toneladas de mercadorias são transportadas por esse porto. É o principal ponto para o transporte de produtos do norte da China.
Porto de Tianjin
6. Porto de Guangzhou - China
  Maior porto do sul da China, o porto de Guangzhou goza de conectividade com mais de 300 portos em quase 100 países. Constitui a principal base para o cinturão industrial das regiões de Guangxi, Yunnan, Hunan e Jiangxi. O porto de Huangpu também faz parte do porto de Guangzhou. Esse porto serve como importante centro econômico e de transporte para o delta do Rio das Pérolas.

Porto de Guangzhou
7. Porto de Qingdao - China
  O Porto de Qingdao localiza-se na península de Shandong, leste da China. Foi construído em 1892 e se divide atualmente em três partes: zona antiga, atraque para navios petroleiros e zona nova de Qianwan. Possui 15 terminais e 73 atracadouros. É um porto de negócios de contêineres, carvão, óleo pesado, minerais ferrosos e cereais, estando conectado a mais de 450 portos de mais de 130 países e regiões, sendo um importante elo de transporte marítimo e comércio internacional na costa ocidental do Pacífico.
Porto de Qingdao
8. Porto de Qinhuangdao - China
  Operando há três décadas e localizado no Mar Bohai, é o porto mais importante para o transporte de carvão da China, sendo também o maior porto de embarque de carvão do mundo, responsável por quase 50% do transporte carbonífero do país entre o norte e o sul.
Porto de Qinhuangdao
9. Hong Kong - China
  O Porto de Hong Kong é um porto natural, situado no Mar da China Meridional e tem sido fundamental na promoção econômica da cidade. Serve de elo entre dois tipos de transporte: o marítimo, que envolve grandes embarcações do Pacífico, e o fluvial, que compreende as embarcações menores. É também o único porto de águas profundas totalmente modernizado.
Porto de Hong Kong
10. Porto de Busan - Coreia do Sul
  O porto de Busan é o maior porto da Coreia do Sul. Situado no rio Naktong, forma uma grande rota comercial entre o Oceano Pacífico e os países da Eurásia. Está prevista a construção de um novo porto, que deve ser confluído em 2015.
Porto de Busan
PRINCIPAIS PORTOS DO BRASIL


1. Porto de Santos
  O porto de Santos, localizado entre os municípios de Santos e Guarujá - SP, é o principal porto do Brasil. O Complexo Portuário de Santos responde por mais de um quarto da movimentação da balança comercial brasileira e inclui na pauta de suas principais cargas produtos como açúcar, soja, cargas conteinerizadas, café, milho, trigo, sal, polpa de fruta, suco de laranja, papel, automóveis, álcool e outros granéis líquidos. É o porto mais movimentado do Brasil e da América Latina.
Porto de Santos
2. Complexo Portuário do Espírito Santo
  O Complexo Portuário do Espírito Santo é um dos mais importantes do Brasil. É responsável por cerca de 9% do valor exportado e por 5% do valor importado pelo país. No total, movimenta cerca de 45% do PIB do Espírito Santo. Sua estrutura permite a movimentação de diversos tipos de carga. É composto pelos seguintes portos:
  • Porto de Vitória
   Localizado na capital capixaba e administrado pela Companhia Docas do Espírito Santo (Codesa), movimenta contêineres e carga geral por meio dos terminais Cais de Vitória, Companhia Portuária de Vila Velha (CPVV), terminal de Vila Velha (TVV), Capuaba, Peiú, Paul/Codesa e Flexibrás.
Porto de Vitória
  • Porto de Tubarão
  Localizado no município de Tubarão - ES -, esse porto é administrado pela Vale e é o maior exportador de minério e pelotas de ferro do mundo. O minério de ferro vem, em grande parte, do Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais, escoado por meio da Estrada de Ferro Vitória-Minas. Permite o acesso de graneleiros de grande porte. Além do minério de ferro, movimenta diversas outras cargas, como grãos e combustíveis.
Porto de Tubarão
  • Porto de Praia Mole
  Localizado no município de Vitória - ES -, é constituído pelo Terminal de Produtos Siderúrgicos (TPS), operado pelo consórcio ArcelorMittal Tubarão, Usiminas e Gerdau Açominas, é responsável por 50% das exportações brasileiras de produtos siderúrgicos e pelo Terminal de Carvão, operado pela Vale, que é responsável pela importação de carvão que atende a essas usinas siderúrgicas.
Terminal Portuário de Praia Mole
  • Porto de Ubu
  Localizado no município de Anchieta, no sul do Espírito Santo, é um terminal operado pela Samarco Mineração. Foi construído para escoar a produção de pelotas de minério de ferro e também movimenta cargas diversas para consumo da empresa e de terceiros.
Porto de Ubu
  •  Portocel
  Também chamado de Porto de Barra do Riacho, está localizado no município de Aracruz, no norte do Espírito Santo. Atende as unidades da Fibria, Veracel, Bahia Sul/Suzano e Cenibra. É o maior porto brasileiro especializado no embarque de celulose, sendo considerado um dos mais eficientes do mundo. Com três berços em operação e capacidade anual para 7,5 milhões de toneladas, responde por 70% das exportações de celulose do Brasil.
Portocel
  • Terminal Vila Velha (TVV)
  Localizado no município capixaba de Vila Velha, é o único especializado em contêineres no Espírito Santo, sendo operado pela Vale, por meio da Log-In Internacional e Logística. É uma excelente alternativa para operações de importação e exportação de contêineres e carga geral, destacando-se como um dos mais produtivos terminais brasileiros nesse segmento.
Complexo Portuário de Vila Velha
  • Companhia Portuária de Vila Velha (CPVV)
  Localizado no município de Vila Velha, é controlado e operado pelo Grupo Coimex, atendendo as operações de offshore de exploração e exportação de petróleo no Espírito Santo. Tem registrado significativo volume de atracações e de serviços prestados às grandes corporações petrolíferas.
Companhia Portuária de Vila Velha (CPVV)
3. Porto de Paranaguá
  O Porto de Paranaguá, localizado no município paranaense é o porto que mais exporta produtos agrícolas no Brasil, com destaque para a soja em grãos e farelo de soja, sendo também o maior porto graneleiro da América Latina. Exporta e importa grãos, fertilizantes, contêineres, líquidos, automóveis, madeira, papel, sal, açúcar, entre outros. A maioria dos navios oriundos de outros países são provenientes dos Estados Unidos, China, Japão e Coreia do Sul.
Porto de Paranaguá
4. Porto do Rio Grande
  O Porto do Rio Grande está localizado na margem direita do canal do norte, que liga a Lagoa dos Patos ao Oceano Atlântico, no município gaúcho de Rio Grande. A barra do porto é mantida graças a dois molhes construídos na boca do canal de acesso. Movimenta cerca de 150 milhões de toneladas por ano, equivalente a 3% de toda movimentação nacional.
Porto do Rio Grande
5. Porto do Rio de Janeiro
  Localizado na cidade do Rio de Janeiro, capital carioca, esse porto atende os estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia, sudoeste de Goiás, entre outros. É um dos mais movimentados do país quanto ao valor de mercadorias e tonelagem. Os principais produtos escoados são minério de ferro, manganês, carvão mineral, trigo, gás natural e petróleo. É administrado pela Companhia Docas do Rio de Janeiro (CDRJ).
Porto do Rio de Janeiro
6. Porto de Itajaí
  O Porto de Itajaí, localizado na cidade catarinense de Itajaí, é o segundo maior do país em movimentação de contêineres, atuando como porto de exportação e escoando quase toda a produção de Santa Catarina. Os principais produtos exportados são madeira, pisos cerâmicos, máquinas, açúcar, papel e fumo, e os principais produtos importados são trigo, produtos químicos, motores, têxteis, papel e pisos cerâmicos.
Porto de Itajaí
 7. Porto de Pecém - CE
  O Terminal Portuário de Pecém está localizado no município de São Gonçalo do Amarante - CE -, e opera sob a modalidade  de Terminal de Uso Privativo Misto. É administrado pela Companhia de Integração Portuária do Ceará (CearáPortos). Localizado em uma área estratégica para a movimentação de cargas para a Europa e a América do Norte, foi projetado no modelo offshore (permite a atracação de navios a certa distância da costa). O porto conta com um Terminal de Insumos e Produtos Siderúrgicos e Carga Geral (PÍER 1), um Terminal de Petróleo/Derivados e Granéis Líquidos (PÍER 2), ponte de acesso de 2.142 metros de extensão, pátio de armazenagem de carga e pier (passarela sobre água) de rebocadores.
  Atualmente, o Porto de Pecém é um dos líderes de movimentação de frutas e calçados, o terceiro em produtos siderúrgicos e o segundo no transporte de algodão. A maioria das frutas exportadas saem do Estado ou do vizinho Rio Grande do Norte, como melão, melancia, mamão, manga, banana e castanha de caju, cujo destino principal são Holanda, Grã-Bretanha, Estados Unidos e Alemanha.
Porto de Pecém
7. Porto de Suape
  Localizado entre os municípios de Ipojuca e Cabo de Santo Agostinho - PE -, o Porto de Suape é um dos que mais cresce no Brasil. Seu projeto foi baseado na integração porto-indústria, espelhado em modelo de países como França e Japão. Sua área de influência abrange todo o estado de Pernambuco, Alagoas e Paraíba.
  Atualmente, o porto já movimenta mais de 5 milhões de toneladas de carga por ano, destacando-se os granéis líquidos (derivados de petróleo, produtos químicos, álcool combustível, óleos vegetais, alimentos, entre outros).
Porto de Suape
  Numa época de crescente globalização econômica, a situação das economias nacionais em relação aos mares é crucial. Uma das notáveis vantagens comparativas dos países asiáticos de industrialização recente consiste no fato de estarem localizados em rotas oceânicas destacadas. Já o continente africano, em virtude do traçado de suas fronteiras políticas, apresenta a desvantagem de concentrar países sem saídas marítimas. Nesses países, conectados a portos estrangeiros por ferrovias arcaicas ou rodovias precárias, os custos totais de transporte chegam a representar 40% do valor das exportações.
Mapa das principais rotas comerciais da atualidade
FONTE:Terra, Lygia. Conexões: estudos de geografia geral / Lygia Terra, Regina Araújo, Raul Borges Guimarães. - 1. ed. - São Paulo: Moderna, 2009.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

UMA CAATINGA MENOS ÁRIDA

  Iniciativas como o armazenamento de água têm mudado a imagem do Semiárido nordestino.
  Caminhar pela região do Semiárido brasileiro no período de chuva é se deparar com uma realidade muito diferente daquela consagrada pelo imaginário da seca e da pobreza. Nessa época do ano, conhecida entre os sertanejos como inverno e que compreende os meses de novembro a abril, a Caatinga - que em tupi significa "mata branca" - se reveste de tons verdes.
  Na região do Araripe, no Sertão de Pernambuco, bem como em todo o Sertão nordestino, algumas das tecnologias que visam melhorar o convívio com o clima do Semiárido do Nordeste brasileiro, como as cisternas, reservatórios subterrâneos que captam e armazenam a água da chuva, já estão presentes na vida de muitos agricultores e têm conseguido garantir um inverno mais longo e farto.
Mapa da região do Araripe
  Na comunidade de Vidéu Velho, no município de Ouricuri, que está distante 620 quilômetros de Recife, a família de dona Maria Viana tem colhido os frutos que a água pode oferecer. Beneficiada pelo Programa Um Milhão de Cisternas, criada pela organização não governamental ASA (Articulação no Semiárido Brasileiro) ela não apenas lutou pela construção da cisterna calçadão - que consiste em um calçadão de cimento de 200 m², de onde a água escorre para uma cisterna de 52 mil litros, como trabalhou na construção dela.
  Além da cisterna a família recebeu uma espécie de "bolsa cisterna", que inclui sementes de hortaliças, mudas de árvores frutíferas, um lote com dez galinhas poedeiras e um galo, além de um casal de suíno ou caprino. Recebeu também um kit para irrigação por microaspersão e cursos de capacitação para o uso racional da água, para a produção agroecológica e para a irrigação.
Dona Maria Viana e sua cisterna calçadão
  Iniciativas de convivência com o Semiárido procuram prolongar os benefícios da chuva por meio de tecnologias simples de armazenamento de água, numa tentativa de desacelerar o processo de evaporação.
  Outro problema que contribui para o problema do armazenamento da água é a composição do subsolo. Cerca de 70% da área do Semiárido é formada por rochas cristalinas rasas, que dificultam a formação de rios perenes e tornam a água salinizada, imprópria para o consumo humano.
  Dentro desse contexto de chuvas irregulares, déficit hídrico por conta da rápida evaporação e solo com alto índice de infiltração, o segredo para melhorar a vida do sertanejo passa, obrigatoriamente, por um mecanismo eficiente de armazenamento da água que cai do céu, a cisterna. E esse mecanismo tem mudado a paisagem do Sertão e a vida do sertanejo. No Sertão, sempre dissemos que o problema não é a seca, mas a cerca.
Mapa do semiárido nordestino
  O Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC) é uma das ações do Programa de Formação e Mobilização Social para a convivência com o Semiárido da ASA. Ele vem desencadeando um movimento de articulação e de convivência sustentável como o ecossistema do Semiárido, através do fortalecimento da sociedade civil, da mobilização, do envolvimento e capacitação das famílias, por meio de uma proposta de educação processual.
  O objetivo do P1MC é beneficiar  cerca de cinco milhões de pessoas em toda a região semiárida com água potável para beber e cozinhar, através das cisternas de placas. Juntas, elas formam uma infraestrutura descentralizada de abastecimento com capacidade para acumular mais de 16 bilhões de litros de água.
  O programa é destinado às famílias com renda de até meio salário mínimo por membro da família, incluídas no Cadastro Único do governo federal e que contenham o Número de Identificação Social (NIS). É preciso também o beneficiado residir na zona rural e não ter acesso ao sistema público de abastecimento de água.
Residências beneficiadas com o P1MC
  Abaixo temos algumas tecnologias que estão mudando a vida de muitos sertanejos nordestinos.
Cisterna
  A cisterna é uma tecnologia popular para a capacitação da água da chuva, onde a água que escorre do telhado da casa é captada pelas calhas e cai direto na cisterna, onde é armazenada. Com capacidade para 16 mil litros de água, a cisterna supre a necessidade de consumo de uma família de cinco pessoas por um período de oito meses de estiagem.
  Dessa forma, o sistema de armazenamento por cisterna representa uma solução de acesso à água para a população rural de baixa renda do Semiárido brasileiro. Além da melhoria na qualidade da água consumida, a cisterna reduz o aparecimento de doenças em adultos e crianças.
Cisterna
Cisterna-calçadão
  A cisterna-calçadão capta a água da chuva por meio de um calçadão de cimento de 200 m², construído sobre o solo. Com essa área do calçadão, 300 mm de chuva são suficientes para encher a cisterna, que tem capacidade para 52 mil litros. Por meio de canos, a chuva que cai no calçadão escoa para a cisterna, construída na parte mais baixa do terreno e próxima à área de produção.
  O calçadão também é usado para secagem de alguns grãos como feijão e milho, raspa de mandioca, entre outros. A água captada é utilizada para irrigar quintais produtivos, plantar fruteiras, hortaliças e plantas medicinais, além da criação de animais.
Cisterna-calçadão
Cisterna-enxurrada
  Há também a cisterna-enxurrada, que tem capacidade para acumular 52 mil litros e é construída dentro da terra, ficando somente a cobertura de forma cônica acima da superfície. O terreno é utilizado como área de captação. Quando chove, a água escorre pela terra e antes de cair para a cisterna passa por duas ou três pequenas caixas, uma seguida da outra, que são os decantadores. Os canos instalados auxiliam o percurso da água que escoa para dentro do reservatório. Com a função de filtrar a areia e outros detritos que possam seguir junto com a água, os decantadores retêm esses resíduos para impedir o acúmulo no fundo da cisterna.
  A retirada da água da cisterna-enxurrada é feita por meio de uma bomba de repuxo manual. A água estocada serve para a criação de pequenos animais, cultivo de hortaliças e plantas medicinais e frutíferas.
Cisterna-enxurrada
Barreiro trincheira
  Outra tecnologia utilizada pelo sertanejo para a convivência com a seca é o barreiro trincheira, que são tanques longos, estreitos e fundos escavados no solo. Partindo do conhecimento que as famílias têm da região, o barreiro trincheira é construído em um terreno plano e próximo ao terreno da área de produção. Com capacidade para armazenar, no mínimo, 500 mil litros de água, o barreiro trincheira tem a vantagem de ser estreito, o que diminui a ação do vento e do sol sobre a água. Isso faz com que a evaporação seja menor e a água permaneça armazenada por mais tempo durante o período de estiagem.
  A tecnologia armazena água da chuva para a dessedentação animal e para a produção de verduras e frutas que servirão à alimentação da família, garantindo a soberania e a segurança alimentar. O excedente do que é produzido pode ser comercializado, garantindo a geração de renda para as famílias.
Barreiro trincheira
Barragem subterrânea
  A barragem subterrânea é outra tecnologia de sobrevivência do semiárido. É construída em áreas de baixios, córregos e riachos que se formam no inverno. Sua construção é feita escavando-se uma vala até a camada impermeável do solo, a rocha. Essa vala é forrada por uma lona de plástico e depois fechada novamente. Desta forma cria-se uma barreira que "segura" a água da chuva que escorre por baixo da terra, deixando a área encharcada.
  Para garantir água no período mais seco do ano são construídos poços há uma distância aproximada de cinco metros da área do barramento. O poço serve para retirar a água armazenada na barragem que pode ser utilizada para pequenas irrigações, possibilitando a produção durante o ano inteiro. No inverno é possível plantar culturas que necessitam de mais água, como arroz e alguns tipos de capim. Dependendo do tipo de cultura implantada pode-se ter mais de uma colheita por ano. A barragem subterrânea pode também ser de cimento.
Construção de uma barragem subterrânea de lona
Tanque de pedra
  Outra técnica que está sendo muito utilizada pelo sertanejo é o tanque de pedra. Os tanques de pedra são reservatórios feitos com as rochas típicas da paisagem do semiárido, que retêm a água da chuva e ajudam a matar a sede de muitos agricultores. São fendas largas, barrocas ou buracos naturais, normalmente de granito, construídas em áreas de serra ou onde existem lajedos, que funcionam como área de captação da água da chuva. As formações rochosas que afloram na superfície terrestre de muitos municípios nordestinos garantem água limpa para muitos agricultores. Quando cheios, os tanques de pedra podem armazenar mais de 100 mil litros de água, dependendo do tamanho do mesmo.
Tanque de laje de pedra
Barraginhas
  As barraginhas têm entre dois e três metros de profundidade, com diâmetros que variam de 12 a 30 metros. É construída no formato de uma concha ou semicírculo. O reservatório armazena água da chuva por um maior período. A recomendação é que sejam sucessivas. Assim, quando uma sangrar a água pode abastecer a seguinte. A umidade no entorno também é favorável ao plantio de milho, feijão, maxixe, melão, pepino e outras frutas, verduras e legumes.
  A tecnologia dá condições para um manejo agroecológico das unidades produtivas familiares e mobiliza as famílias para uma ação coletiva. Também melhora a qualidade do solo por acumular matéria orgânica e mantém o microclima ao redor da barraginha mais agradável.
Barraginha
Bomba d'água popular
  A bomba d'água popular aproveita os poços tubulares desativados para extrair água subterrânea por meio de um equipamento manual, que contém uma roda volante. Quando girada, essa roda puxa grandes volumes de água, com pouco esforço físico. Pode ser instalada em poços de até 80 metros de profundidade. Nos poços de 40 metros, chega a puxar até mil litros de água em um período de uma hora.
  É uma tecnologia de uso comunitário, de baixo custo e fácil manuseio. Se bem cuidada, pode durar até 50 anos. A água da bomba tem vários usos: produzir alimentos, dar de beber aos animais e usar nos afazeres domésticos. Geralmente, cada bomba beneficia cerca de 10 famílias.
Bomba d'água popular
Bioágua
  Diferente das tecnologias de captação de água, o bioágua favorece as famílias com o objetivo de reaproveitar a água de uso doméstico para a produção de alimentos, através da irrigação por gotejamento.
  O processo da bioágua é simples: a água cinza (toda a água utilizada na residência) é coletada na residência, passa por uma caixa de gordura - que é um primeiro filtro bem simples e que retém as gorduras contidas na água, principalmente da cozinha e do chuveiro. Logo após a água entra num filtro biológico caseiro, que é feito de duas camadas de material orgânico, húmus de minhoca e serragem de madeira, e três camadas de material inorgânico, que é areia lavada, brita de pedras e seixos. O filtro deve ser coberto para proteger do sol e da chuva.
Bioágua
Barragem sucessiva de contenção de sedimentos
  A barragem sucessiva de contenção de sedimentos é uma estrutura construída com pedras soltas, cuidadosamente arrumadas e em formato de arco romano deitado, realizada na rede de drenagem da microbacia hidrográfica, em pequenos tributários ou riachos afluentes de um rio de maior ordem hidrográfica.
  Essa barragem tem por finalidades: promover o assoreamento ou sedimentação gradativa dos leitos erodidos e rochosos dos pequenos cursos; reduzir o assoreamento dos reservatórios e rios; promover o ressurgimento da biodiversidade da caatinga; disponibilizar água para múltiplos usos;  favorecer a disponibilidade diversificada de alimentos no fundo do vale; dentre outros inúmeros benefícios.
  Com o acúmulo dos sedimentos trazidos pelas águas dos rios ou riachos, cria-se um pequeno lençol freático dentro da barragem e uma pequena fonte por trás da mesma, ou seja, a água vai ficar retida juntamente com a areia e aos poucos vai sendo liberada.
  Esse tipo de construção além de ser uma das mais baratas é também muito fácil de se fazer.
Barragem de contenção de sedimentos feito por Dean Carvalho, de Carnaúba dos Dantas - RN, mais conhecido por "Aventureiro da Caatinga"
Fonte: RIBEIRO, E. W. Seca e Determinismo: a gênese do discurso do Semiárido nordestino. Anuário do Instituto de Geociências - UFJR, Rio de Janeiro, v. 22, 1991.

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