terça-feira, 23 de agosto de 2011

SOLO

  O solo é um importante  recurso natural, apresentando várias possibilidades de exploração econômica, o que torna sua preservação muito importante para  a manutenção do seu equilíbrio sociambiental. Em áreas de exploração mineral ou agrícola, é importante reduzir as agressões ambientais causadas por essas atividades.
  O solo é a base para o desenvolvimento das plantas e de diversos animais, incluindo a espécie humana. É nele que:
  • as plantas fixam suas raízes e obtém a água, o ar e os nutrientes utilizados no processo da fotossíntese;
  • a água é armazenada originando as nascentes que formam os rios e lagos e abastecem as cidades;
  • fazemos o alicerce das casas, dos prédios e de outras obras que construímos.
  A erosão dos solos compromete a produção agrícola, causa assoreamento nos rios, represas e zonas portuárias. A retirada de vegetação e ocupação dos solos por moradias em encostas íngremes provoca os escorregamentos frequentemente noticiados pela imprensa, que causam muitas mortes e danos materiais.
Erosão do solo - um dos principais problemas decorrente do mau uso do solo
  A ação humana no ambiente por meio de práticas agrícolas e formas de ocupação urbana sem planejamento ou preocupação com a conservação dos solos, acelera muito a degradação e compromete a sustentabilidade ambiental, social e econômica.
A FORMAÇÃO DO SOLO
  Os diferentes conceitos de solo estão relacionados às atividades humanas que nele se desenvolve e às ciências  que o estudam. Para a mineração, solo é um detrito que deve ser separado dos minerais explorados e depois removido; para algumas ciências, como a ecologia, é um sistema vivo composto por partículas minerais e orgânicas que possibilita o desenvolvimento de diversos ecossistemas. A geografia, em particular a pedologia (ciência que estuda a formação, desenvolvimento e composição dos solos), considera solo a parte natural e integrada à paisagem que dá suporte às plantas que nele se desenvolvem; para a edafologia (ciência que estuda  os solos, relacionando-os com as possibilidades de aproveitamento agrícola) define solo como um meio natural no qual o homem cultiva plantas, interessando-se pelas características ligadas à produção agrícola.
  O solo é formado, num processo contínuo, pela desagregação e decomposição das rochas. Quando expostas à atmosfera, as rochas sofrem a ação direta do calor do Sol e da água da chuva, entre outros fatores, que modificam seus aspectos físicos e a composição química dos minerais que as compõem. Em outras palavras, sofrem a ação do intemperismo físico e químico. Em regiões tropicais e úmidas, são necessários, em média, 100 anos para a formação de apenas dois centímetros de solo. Em áreas de clima frio e seco, esse período é ainda maior.
  O solo que resulta do intemperismo químico e físico das rochas e da adição de matéria orgânica em sua superfície se organiza em camadas com características diferentes que são denominadas horizontes. Os horizontes são identificados por letras e vão se diferenciando cada vez mais da rocha mãe à medida que aumenta sua distância em relação a ela. Ao processo que origina os solos e seus horizontes dá-se o nome de pedogênese.
  Os horizontes O, A e B são os mais importantes para a agricultura dada a sua fertilidade: quanto maior a disponibilidade equilibrada de certos elementos químicos, como o potássio, o nitrogênio, o sódio, o ferro e o magnésio, maior é sua fertilidade e o seu potencial de produtividade agrícola. Esses horizontes também são importantes para o ecossistema, por causa da densidade e variedade de vida em seu interior.
  O processo de formação dos solos, assim como a erosão, são modeladores do relevo. Ao longo do tempo geológico e em condições propícias, as rochas que sofreram intemperismo vão se transformando em solo e a sua porosidade (porcentagem de espaços vazios em relação ao volume do material sólido) permite a penetração de ar e água, criando condições favoráveis para o desenvolvimento de organismos vegetais e animais, bem como de microorganismos. Esses organismos passam a agir intensamente, acelerando a ação do intemperismo e fornecendo a matéria orgânica que participa da composição do solo, aumentando cada vez mais sua fertilidade.
  O solo é constituído de: 
Partículas minerais: apresentam composição e tamanhos diferentes, dependendo da rocha que lhe deu origem. Quanto ao tamanho, as partículas podem ser classificadas em frações: argila, silte, areia fina, areia grossa e cascalho (variando do menor ao maior tamanho).
Cascalho
Matéria orgânica: formada por restos vegetais e animais não decompostos e pelo produto desses restos depois de decompostos por microorganismos. O produto resultante dessa decomposição é o húmus.
Húmus
Água: fica retida por tempo determinado nos poros do solo. Sua reposição é feita, principalmente, pela chuva ou pela irrigação. A água do solo contém sais minerais, oxigênio e gás carbônico, constituindo um importante veículo para fornecer nutrientes aos vegetais.
Muita água no solo prejudica a colheita
Ar: ocupa os poros do solo não preenchidos pela água. É essencial para as plantas, que, por meio das raízes, absorvem oxigênio; além disso, em abundância, favorece a produção de húmus.
FATORES DE FORMAÇÃO DOS SOLOS
  O material de origem, o clima, o relevo, os organismo e a ação do tempo são os fatores determinantes para a origem e a evolução dos solos.
Material de origem: sob as mesmas condições climáticas, cada tipo de rocha dá origem a um tipo de solo diferente, dependendo de sua constituição mineralógica. Assim, os solos podem se desenvolver de materiais derivados de rochas ígneas ou metamórficas claras, como os granitos e os quartzitos, de rochas ígneas escuras, como o basalto, de materiais derivados de sedimentos consolidados, como os arenitos e as rochas calcárias, e de sedimentos não consolidados, como as dunas de areia e cinzas vulcânicas. Os materiais derivados do arenito, podem originar solos arenosos; se o arenito for pobre em calcário, o solo será quimicamente pobre.
Solo de terra roxa - origina-se a partir do derramamento de lavas vulcânicas
Clima: a temperatura e a umidade regulam a velocidade, a intensidade, o tipo de intemperismo das rochas, a distribuição e o deslocamento de materiais ao longo do perfil. Quanto mais quente e úmido for o clima, mais rápida e intensa será a decomposição das rochas, pois o aumento da temperatura e da umidade aceleram a velocidade das reações químicas.
Em áreas de clima semiárido predomina o intemperismo físico
Relevo: com suas diferentes formas, proporciona desigual distribuição de água da chuva, de luz e calor, além de favorecer ou não os processos de erosão. A chuva, a princípio, é igual em uma área relativamente pequena, mas as diferenças da topografia facilitam  o acúmulo de água em áreas mais baixas e côncavas. As vertentes mais expostas à insolação tornam-se mais quentes e secas que outras faces menos iluminadas, que, no Hemisfério Sul, voltam-se predominantemente para a direção sul.
Relevo - outro fator essencial na formação do solo
Organismos: compreendem os microorganismos (bactérias, algas e fungos), os vegetais e animais. Agem na decomposição dos restos vegetais e animais e na conservação do solo. 
Tempo: período de exposição da superfície terrestre às condições da atmosfera. Solos jovens são normalmente mais rasos que solos mais velhos.
Solos jovens - geralmente estão próximos à superfície
CONSERVAÇÃO DOS SOLOS
  A perda anual de milhares de solos agricultáveis, sobretudo em consequência da erosão, é um dos mais graves problemas ambientais e o que abrange as maiores extensões terrestres. A principal causa da erosão, notadamente em países de clima tropical, é a retirada total da vegetação (muitas vezes feita por meio de queimadas) para implantação das culturas agrícolas e das pastagens.
Desmatamento e queimadas - um dos principais causadores da erosão
  Caso predomine a erosão hídrica, quanto maior a velocidade de escoamento e o volume de água, maior a capacidade de transportar material em suspensão; quanto menor a velocidade, mais intensa a sedimentação e menor a intensidade da erosão. Por sua vez, a velocidade e o volume do escoamento dependem da declividade do relevo, da quantidade e intensidade de chuva, da densidade da cobertura vegetal e do tipo de solo, fatores que podem facilitar ou dificultar a infiltração. Em uma floresta essa velocidade é baixa, pois a água encontra muitos obstáculos (como raízes, troncos e folhas) e fica maior tempo em contato com o solo, o que favorece a infiltração. Em uma área desmatada, a velocidade de escoamento superficial é alta e a água transporta muito material em suspensão, o que intensifica a erosão e diminui a quantidade de água que se infiltra no solo.
O desmatamento gera problemas não só no campo, mas também nas cidades
  Toda atividade agrícola provoca a degradação dos solos, mas a intensidade varia, dependendo do tipo de cultura e das técnicas utilizadas (uso de agroquímicos, espaçamento entre fileiras, cobertura do solo, prática de queimadas, entre outras).
  Algumas práticas possibilitam a quebra da velocidade  de escoamento das águas das chuvas e consequentemente diminuem a erosão. São elas:
Terraceamento: consiste em fazer cortes nas superfícies íngremes para formar degraus - terraços.Esse procedimento possibilita a expansão de áreas agrícolas em regiões montanhosas e populosas, por isso é muito comum em países asiáticos como a China, Japão, Tailândia e Filipinas.
Sistema de terraceamento na Indonésia
CURVAS DE NÍVEL: prática que consiste em arar o solo e depois semeá-lo seguindo cotas altimétricas do relevo (curvas de nível ou isoípas), o que por si só já reduz a velocidade de escoamento superficial da água da chuva. Para reduzi-la ainda mais, é comum a construção de obstáculos no terreno, espécies de lombadas, com terras retiradas dos próprios sulcos resultantes da aração. Com esse método simples, a perda de solo agricultável é sensivelmente reduzida.
Cultivo em curvas de nível
ASSOCIAÇÃO DE CULTURAS: em cultivos que deixam boa parte do solo exposto à erosão (como algodão e café), é comum plantar, entre uma fileira e outra, espécies leguminosas, como o feijão, que recobrem bem o terreno. Além de evitar a erosão, essa prática favorece o equilíbrio orgânico do solo.
Associação de culturas - uma prática de evitar o desgaste do solo
CULTIVO DE ÁRVORES: em regiões onde os ventos são fortes e a erosão eólica é intensa, pode-se cultivar árvores em linha para formar uma barreira que quebre sua velocidade e, consequentemente, reduza a capacidade erosiva.
Os quebra-ventos, uma forma de reduzir a erosão eólica
  Alguns cuidados podem manter ou até mesmo melhorar a fertilidade do solo, o que contribui para a sua conservação. É importante adequar as culturas aos tipos de solo, respeitando seu limite de possibilidade de uso; adubar o solo, tanto para corrigir uma deficiência como para repor o que a cultura lhe retira, e revezar culturas, já que cada uma delas tem exigências diferentes em relação aos nutrientes do solo.
Adubação - uma das formas de cuidar do solo
VOÇOROCAS
  As chuvas fortes também podem originar sulcos no terreno. Se não forem controlados, podem se aprofundar a cada nova chuva e, com o escoamento que ocorre no subsolo, resultar em sulcos de enormes dimensões, chamados voçorocas (ou boçorocas). Em alguns lugares as voçorocas chegam a atingir dezenas de metros de largura e profundidade, além de centenas de metros de comprimento, impossibilitando o uso do solo tanto para atividades agrícolas como urbanas.
Voçoroca em Avaré - SP

  Para impedir a formação das voçorocas, a primeira ação deve ser o desvio do fluxo de água. Se a topografia do relevo não permitir esse desvio, deve-se controlar a velocidade e o volume da água que escorre sobre o sulco. Isso pode ser feito com o plantio de grama (se a declividade das paredes do sulco não for muito acentuada) ou com a construção de taludes - degraus responsáveis pela diminuição da velocidade de escoamento da água.
  Outra solução bastante utilizada e difundida é a construção de uma barragem e o consequente represamento da água que escoa tanto pela superfície quanto pelo subsolo. Esse represamento faz com que a voçoroca fique submersa e receba sedimentos trazidos pela água, que com o tempo a estabilizam.
Fazer o plantio de árvores é uma das soluções para conter as voçorocas
MOVIMENTOS DE MASSA
  Em encostas que apresentam declividade acentuada, os movimentos de massa são fenômenos naturais, ou seja, fazem parte da dinâmica externa da crosta terrestre e são agentes que participam da modelagem do relevo ao longo do tempo.
  Os movimentos de massa devem ser analisados considerando-se basicamente dois fatores: a natureza do material movimentado (solo, detritos ou rocha) e a velocidade do movimento. Nos extremos, podem ocorrer quedas ou rolamentos de grandes blocos de rocha montanha abaixo ou escoamento lento de solo em vertentes de baixa declividade, mas os movimentos mais frequentes e que causam mais impactos sociais e ambientais são os escorregamentos de solo em encostas.
Construções em encostas - um dos grandes problemas das áreas urbanas
  No Brasil, onde existem muitas regiões serranas sujeitas a elevados índices pluviométricos, os escorregamentos de solos nas encostas são muito frequentes, principalmente no verão, quando as chuvas são abundantes e tornam o solo mais saturado e pesado. Esse fenômeno faz parte da dinâmica da natureza e acontece independente da intervenção humana.
Deslizamento de terra em Petrópolis- RJ
  Há, entretanto, um grande número de movimentos de massa provocados pela ação antrópica. Geralmente estão associados ao desmatamento e ao peso acumulado sobre o solo, como pedreiras e depósitos de lixo.
CONSERVAÇÃO DOS SOLOS EM FLORESTA
  Em uma floresta, as árvores servem de anteparo para as gotas de chuva que escorrem pelos seus troncos, infiltrando-se no subsolo. Além de diminuir a velocidade de escoamento superficial, as árvores evitam o impacto direto da chuva no solo. A retirada da cobertura vegetal prejudica o solo, expondo-o aos fatores de intemperismo e erosão, cujas consequências são graves, como:
  • aumento do processo erosivo e empobrecimento do solo;
  • assoreamento de rios e lagos, resultante do aumento no volume de sedimentos, o que provoca desequilíbrio nos ecossistemas aquáticos, enchentes e, muitas vezes, prejudica a navegação;
  • extinção de nascentes: o rebaixamento do lençol freático, resultante da menor infiltração da água das chuvas no subsolo, pode provocar problemas de abastecimento de água nas cidades e na agricultura;
  • possível diminuição nos índices pluviométricos e da evapotranspiração;
  • elevação das temperaturas locais e regionais, como consequência da maior radiação de calor para a atmosfera por causa do solo exposto;
  • agravamento dos processos de desertificação e arenização graças à combinação dos fenômenos como diminuição de chuvas, elevação das temperaturas, empobrecimento dos solos e acentuada diminuição da biodiversidade;
  • redução ou fim das atividades extrativas vegetais e a inviabilização do turismo ecológico;
  • proliferação de pragas e doenças pelos desequilíbrios nas cadeias alimentares.
Preservar as florestas é a melhor forma de conter a erosão do solo
FONTE: SENE, Eustáquio de. Geografia geral e do Brasil, volume 1: espaço geográfico e globalização: ensino médio/ Eustáquio de Sene, João Carlos Moreira. - São Paulo: Scipione, 2010.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

BRASIL: POTÊNCIA AGROPECUÁRIA

A PRODUÇÃO DE MATÉRIAS-PRIMAS NO BRASIL
  O Brasil é um dos maiores produtores agrícolas mundiais no setor de alimentos e no de matérias-primas. Possui uma agricultura moderna e integrada às cadeias de produção, com institutos de pesquisas científicas e tecnológicas, indústrias de máquinas, infraestrutura de armazenagem.
  A indústria demanda da agricultura matérias-primas voltadas à produção de alimentos (óleos vegetais, alimentos processados, bebidas), de energia (álcool combustível, biodiesel, carvão vegetal), de papel e celulose, de móveis, têxtil, farmacêutica e de cosméticos. No Brasil, destaca-se a produção de três matérias-primas de grande importância para a indústria: o algodão, a madeira e a borracha.
O ALGODÃO
  Durante a Revolução Industrial inglesa, a indústria têxtil impulsionou o plantio de algodão em várias partes do globo. A cotonicultura (cultivo do algodão) em larga escala iniciou-se no Brasil no século XIX, tendo no Nordeste e em São paulo as principais regiões produtoras.
  Com a política de substituição de lavouras durante a crise do café nos anos 1930, o algodão tornou-se uma importante alternativa, e sua produção passou a se concentrar em São Paulo e no Paraná, que se destacaram na produção algodoeira até o final dos anos 1980, com o plantio em pequenas e médias propriedades. A abertura comercial do Brasil nos anos de 1990 e a concorrência em condições desvantajosas com o algodão importado, contribuíram para uma redução da produção algodoeira. Até meados dos anos 1980, o Brasil era um importante exportador de algodão. Em 1993, passou a importar cerca de 60% de suas necessidades.
  No final da década de 1990, o país retomou a produção em grande escala. Isso ocorreu basicamente por três motivos: o aumento da cotação do produto no mercado internacional, a aplicação de tecnologia no campo e os incentivos governamentais para o setor (financiamento, pesquisas etc).
  A produção passou a ser feita em enormes fazendas com o uso de tecnologia moderna, destacando-se Mato Grosso e Bahia. Atualmente, o Brasil é o quinto maior produtor mundial de algodão, sendo que 88% de sua produção está concentrada no Centro-Oeste e na Bahia.
Mecanização do campo - um dos fatores que contribuiu para o aumento da produtividade
A MADEIRA E A BORRACHA
  O Brasil é o quarto maior produtor mundial de madeira, sobretudo de pínus e de eucalipto. As políticas de incentivos fiscais para empreendimentos florestais se iniciaram no período militar pós-1964. A produção madeireira divide-se em dois segmentos: o de papel e celulose, e o de produtos de madeira  sólida (serrados, laminados, chapas de madeira etc.). Na produção de madeira para papel e celulose destacam-se São Paulo, Bahia, Paraná e Santa Catarina. Na produção de carvão vegetal, painéis de madeiras, laminados etc., destacam-se Paraná, Santa Catarina, São Paulo e Rio Grande do Sul.
Silvicultura do eucalipto - responsável por grande parte da produção de papel e celulose no país
  A produção de borracha na Amazônia chegou a ser um dos principais itens de exportação brasileira no início do século XX. Mas o plantio na Malásia e a invenção da borracha sintética levaram ao fim o curto ciclo da borracha no Brasil, que teve seu auge entre 1880 e 1910.
  Atualmente, grande parte da produção de borracha vem de São Paulo, Bahia e Mato Grosso, que detêm mais de 80% da área cultivada com seringueiras no país.
Grande parte da produção de borracha no Brasil vem de áreas reflorestadas
A PRODUÇÃO DE ALIMENTOS
  O Brasil é um dos maiores exportadores mundiais de alimentos, detentor de uma produção moderna e integrada às cadeias agroindustriais. Além disso, o país conta com grandes empresas ligadas à transformação de produtos agrícolas. Após a modernização da agricultura houve uma concentração territorial da produção, ou seja, alguns estados passaram a produzir certos gêneros agrícolas para todo o país. Antes, o mais comum era uma produção descentralizada, em que os produtores atendiam aos mercados locais. Entre os produtos voltados ao mercado interno, destacavam-se o arroz, o feijão e o leite de vaca.
Produção de arroz - quase toda voltada para o mercado interno
  A produção de arroz concentra-se no Rio Grande do Sul, que, sozinho, produz 57% do total nacional. Também se destacam Santa Catarina, Mato Grosso e Maranhão.
  O feijão tem sua produção um pouco mais desconcentrada, destacando-se Paraná, Minas Gerais e Bahia.
Feijão - sua produção se destina essencialmente a atender ao mercado interno
  O leite foi um dos produtos que tiveram uma das mais importantes transformações em relação ao consumo nacional. As bacias leiteiras locais eram responsáveis pelo abastecimento regional. Com o leite longa vida, as empresas passaram a fornecer o produto para o mercado nacional. Hoje, o Brasil é o oitavo maior produtor mundial de leite de vaca. Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná e Goiás respondem por cerca de 60% da produção nacional.
O melhoramento genético e alimentar foram os principais responsáveis pelo aumento na produção de leite do país
  Alguns produtos voltados à exportação também são consumidos em larga escala no mercado interno. É o caso da carne bovina, do café, da carne de aves, da laranja e da soja.
  A atividade frigorífica no Brasil teve início no começo do século XX, no estado de São Paulo. Com a construção de rodovias nos anos 1950, que permitiram a interligação das regiões e a ocupação do Centro-Oeste, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul passaram a ter rebanhos e frigoríficos mais significativos. Hoje, Mato Grosso, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Goiás possuem mais de 50% do rebanho bovino nacional, um dos maiores do mundo.
O grande rebanho bovino brasileiro faz do país um dos maiores produtores mundiais de carne
  A produção de aves também é concentrada, sendo Paraná, São Paulo e Santa Catarina responsáveis por mais de 50% do total nacional. Em geral, o avicultor produz de acordo com as normas impostas pela agroindústria processadora.
Avicultura - uma das atividades que mais cresceram nas últimas décadas
  O café foi o principal produto de exportação brasileiro até a década de 1970. Trata-se de um dos produtos mais importantes no desenvolvimento do país, responsável pela concentração industrial no Sudeste. Minas Gerais e Espírito Santo respondem por quase 70% da produção nacional, mas é o norte do Paraná a maior região de industrialização do produto.
Café - um dos principais responsáveis pela industrialização do Brasil
  A produção de laranja está dividida em dois setores: a indústria de sucos e a produção da fruta para mesa. O Brasil é o maior exportador mundial de suco de laranja. Os mercados europeu e norte-americano são seus principais compradores. A produção se concentra no estado de São Paulo, que, sozinho, é responsável por 71% da produção nacional.
A produção de laranja faz do Brasil o maior exportador de suco do mundo
  No início da produção de soja, no Rio Grande do Sul, acreditava-se que não seria possível seu cultivo ao norte do Trópico de Capricórnio, pois se tratava de uma cultura típica de regiões temperadas. Devido às pesquisas de novas espécies, hoje há condições técnicas de produzir soja em qualquer parte do território nacional. A cultura de soja é uma atividade que tem acompanhado a expansão da fronteira agrícola, sendo hoje uma das responsáveis pela ocupação de áreas no Centro-Oeste, na Amazônia Legal e no Nordeste. Os principais produtores são Mato Grosso, Paraná, Rio Grande do Sul e Goiás, que, juntos, representam mais de 70% da produção nacional.
Cultivo de soja - principal responsável pelo avanço das fronteiras agrícolas
AS MUDANÇAS NO ABASTECIMENTO E NO CONSUMO
  Nas últimas décadas houve uma mudança no padrão de consumo alimentar do brasileiro, que passou a consumir mais produtos industrializados. Isso permitiu às indústrias expandir sua produção de alimentos processados, como hambúrgueres, queijos e sucos.
  Até o fim dos anos 1980, o abastecimento alimentar ainda era feito pelos pequenos armazéns de bairros e pelas feiras livres. Hoje, a maior parte desse abastecimento no Brasil é feita pelas redes de supermercados, sobretudo nas grandes cidades. As feiras livres ainda são importantes, mas com características diferenciadas no país, podendo ser uma atividade especializada, em alguns casos, ou, em outros, uma atividade que persiste por razões de sobrevivência.
Feiras livres - apesar do avanço tecnológico, esse tipo de comércio ainda sobrevive nas cidades
  Os cinturões verdes, áreas de produção de hortaliças, legumes e frutas voltadas ao abastecimento das grandes cidades, ainda se fazem presentes. São cultivados nessas áreas produtos que não suportam viajar longas distâncias.
Cinturões verdes - localizadas ao redor das grandes cidades
SEGURANÇA E SOBERANIA ALIMENTAR
  Segurança alimentar refere-se ao direito de todos ao acesso a alimentos de qualidade que sejam produzidos de forma sustentável econômica e socialmente. A fome, a má alimentação, a subnutrição e os preços abusivos são alguns fatores que indicam a falta de segurança alimentar.
  O conceito de soberania alimentar está associado à possibilidade de uma nação de definir a própria política agrícola e alimentar e produzir aquilo que é necessário para a alimentação de sua população.
Pirâmide alimentar - guia para ter uma alimentação saudável
O PROBLEMA DA FOME
  Fome é a situação de carência, por um período prolongado, de alimentos capazes de fornecer a energia e os alimentos nutritivos necessários para a vida e a saúde do organismo. Segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação), o mínimo diário para a manutenção de uma pessoa com vida e saúde varia de 2.200 a 3.000 calorias.
  A fome sempre foi uma questão social que mobilizou populações em busca de transformações da sociedade. Trata-se de uma das principais bandeiras de revoluções sociais, como a Francesa, a Russa e a Chinesa. Atualmente, o mundo produz uma quantidade muito maior de alimentos do que seria necessário para a alimentação saudável de toda a população planetária. No entanto, há uma grande concentração dessa produção, que é feita objetivando lucros. Assim, as populações de baixo poder aquisitivo continuam sem acesso a alimentos.
Revolução Agrícola - responsável pelo aumento da produção de alimentos
A PRODUÇÃO DE BIOCOMBUSTÍVEIS
  Biocombustíveis são materiais biológicos que têm a capacidade de gerar energia. Qualquer vegetal ou animal tem um potencial bioenergético. No entanto, apenas alguns deles podem ser explorados economicamente. Os principais produtos biocombustíveis são o biodiesel e o etanol.
O BIODIESEL E O ETANOL
O biodiesel é extraído  de diversas fontes, como mamona, dendê, girassol, babaçu, amendoim, soja e cana-de-açúcar, entre outros. Também pode ser extraído de gorduras animais. Atualmente, o biodiesel é utilizado para substituir o óleo diesel em motores de veículos e máquinas.
Mamona - recentemente tem sido muito aproveitada para a produção de biodiesel
  A escolha da matéria-prima da qual será produzido o biodiesel deve levar em conta, além de fatores econômicos, fatores ambientais e sociais. Vegetais como o babaçu e o dendê são promissores, pois a sua extração tem favorecido populações de baixa renda do país por meio de programas de desenvolvimento regional, além de contribuir para a preservação ambiental.
Babaçu - a sua utilização como biodiesel ajuda no fator econômico, social e ambiental
  O etanol (álcool etílico) é o biocombustível mais utilizado na substituição dos combustíveis fósseis. Apresenta várias vantagens em relação à gasolina: além de ser proveniente de recursos naturais renováveis, a emissão de poluentes e gases do efeito estufa são menores.
  O etanol é produzido a partir de diversas matérias-primas: milho, nos Estados Unidos, beterraba e trigo na Europa, eucalípto, em alguns países da CEI (Comunidade dos Estados Independentes) e cana-de-açúcar no Brasil. Entre esses, o que oferece melhor eficiência ambiental é o etanol à base de cana-de-açúcar.
Destilaria Cruz Alta em Olímpia - SP
  Muitos debates têm sido travados sobre as consequências nocivas do uso em larga escala do etanol em substituição aos combustíveis à base de petróleo. Embora os benefícios ambientais sejam incontestáveis (energia limpa e renovável), várias outras consequências negativas são apontadas. As principais críticas se referem à destruição de áreas florestais e ao aumento do preço dos alimentos no mundo.
DEVASTAÇÃO DE MATAS NATIVAS
  A produção canavieira pode levar à devastação de matas nativas de duas formas: direta e indireta. De forma direta, o aumento da produção de cana-de-açúcar pode levar à ocupação de novas áreas, com a expansão da fronteira agrícola. De forma indireta, a produção canavieira pode substituir regiões de pastagens e lavouras, empurrando-as para áreas de vegetação nativa.
No litoral do Nordeste a cana-de-açúcar foi a grande responsável pela destruição da Mata Atlântica
O IMPACTO NA PRODUÇÃO DE ALIMENTOS
  Os dois maiores produtores de etanol do mundo são os Estados Unidos, com o milho, e o Brasil, com a cana-de-açúcar.
  A produção de etanol à base de milho tem relação direta com a alta dos preços dos cereais em geral, sobretudo o próprio milho, a soja e o feijão. Os preços da carne, de ovos, leite e derivados também aumentam por causa da alta do preço da ração à base de soja e milho. Em vários países subdesenvolvidos que dependem do milho para a alimentação, os preços elevados geram graves problemas sociais, uma vez que sua população não tem acesso a esse alimento. No Brasil, apesar de tais efeitos serem quase nulos, há uma grande preocupação com a segurança e a soberania alimentar do país no que diz respeito à ampliação de áreas utilizadas na produção de etanol.
Milho - matéria-prima para a produção de etanol nos Estados Unidos
A INDÚSTRIA DE EQUIPAMENTOS AGRÍCOLAS
  Na  agropecuária moderna, as máquinas e os equipamentos agrícolas desempenham um papel fundamental. Eles são os responsáveis diretos pelos ganhos de produtividade, além de movimentarem um importante setor industrial voltado para tal segmento.
  Esse setor industrial é especializado na fabricação de máquinas e equipamentos que operam diretamente no preparo da terra, no plantio e na colheita, a exemplo de tratores, colheitadeiras, pulverizadores, retroescavadeiras, cultivadores motorizados etc. Além disso, máquinas e equipamentos modernos são fundamentais nas atividades pecuárias (resfriadores de leite, ordenhadeiras mecânicas, climatizadoras de aviários etc.).
Colheitadeiras - mais rapidez e menos mão de obra no campo
  Um bom exemplo da moderna tecnologia nacional, são os implementos, equipamentos que, acoplados a um trator, auxiliam no plantio, na colheita e na pulverização. A produção de máquinas voltadas para as agroindústrias também é um importante segmento do agronegócio.
Implementos agrícolas - mais agilidade e maior produção
  Ao tratar da produção de máquinas e equipamentos, percebe-se um predomínio das multinacionais entre as principais indústrias do setor. O Brasil reúne todas as condições essenciais para ser altamente competitivo nesse setor: tecnologia, matéria-prima, mão de obra, experiência acumulada, mercado interno potencial etc. O país dispõe de um parque industrial com mais de trezentas empresas independentes, inclusive as quatro maiores na lista mundial de tratores e colheitadeiras.
Syngenta - uma das grande produtoras de tratores e equipamentos agrícolas
  A produção de máquinas e equipamentos agropecuários no país se caracteriza pela especialização regional. Essas indústrias concentram-se no interior de São Paulo, nas regiões de Piracicaba e Ribeirão Preto, e no Rio Grande do Sul, nos municípios de Santa Rosa e Montenegro. Elas atuam nos mercados interno e externo.
  Há uma relação direta entre o aumento da produção e da produtividade agrícola com o aumento do uso de máquinas e equipamentos no campo.
New Holland - outra gigante na fabricação de tratores e implementos agrícolas
  Outro aspecto importante em relação às máquinas agrícolas são os financiamentos para a compra. Como são equipamentos muito caros, normalmente o agricultor precisa de algum tipo de financiamento, seja por meio de um programa de governo, seja por meio de financiamento das próprias indústrias ou de bancos comerciais.
  Atualmente, há também uma preocupação com a produção de máquinas menores, voltadas à agricultura familiar, o que permitiria um aumento da mecanização nas pequenas propriedades.
Trator da Massey Ferguson
FONTE: Geografia, 1° ano: ensino médio / organizadores: Fernando dos Santos Sampaio, Ivone Silveira Sucena - 1. ed. - São Paulo: Edições SM, 2010. - (Coleção ser protagonista).

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