terça-feira, 17 de setembro de 2013

A QUESTÃO DA CAXEMIRA

  A civilização hindu é uma das mais antigas do mundo e sua história remonta a mais de 5 mil anos.
  Grande produtora de especiarias nos séculos XV e XVI, a região que hoje compreende o Subcontinente Indiano ou Ásia Meridional, despertava o interesse dos europeus da época. No início do século XVI, comerciantes de Portugal tomaram alguns portos da costa oeste da Índia. Franceses, holandeses e ingleses lutaram contra os portugueses e, depois, entre si para controlar as rotas de comércio.
  Na segunda metade do século XVIII, o imperialismo britânico tomou posse do Estado e buscou integrar a maioria hindu com os muçulmanos, grupo minoritário que já havia se fixado na Índia a partir do século XII.
Impérios coloniais
  No século XIX, ocorreram rebeliões de caráter anticolonialista, mas a Índia só se libertou do domínio britânico em 1947. Com a independência, o território foi dividido em dois para abrigar os interesses de muçulmanos e hinduístas. Os muçulmanos fundaram o Paquistão e os hinduístas permaneceram na Índia. Na época, houve uma grande migração de pessoas de um lado para outro.
  O Estado paquistanês se originou da província de Punjab, situada a oeste da Índia. Com a formação dos dois novos Estados, teve início uma guerra pela posse de uma região localizada ao norte do território: a Caxemira. Com o fim do conflito, em 1948, houve uma divisão das terras: cerca de um terço da região ficou para o Paquistão e o restante para a Índia.
  A Caxemira e uma região do norte do subcontinente indiano, hoje dividida entre a Índia e o Paquistão. Uma parte foi anexada pela China.
  O termo "Caxemira" (significa "terra sem água" ou "terra desidratada" - Ká = água e Shimeera = secar) descrevia historicamente o vale ao sul da parte mais ocidental do Himalaia. Politicamente, o termo "Caxemira" descreve uma área muito maior, que inclui as regiões de Jammu, Caxemira e Ladakh. O nome Caxemira tornou-se sinônimo de tecido de alta qualidade, devido à lã de caxemira produzida a partir das cabras nativas.
Região da Caxemira
DISPUTAS PELO TERRITÓRIO
   A fronteira entre Índia e Paquistão e a linha que limita os territórios dos dois países, estabelecida quando da independência dos dois Estados a partir do Raj Britânico, em 1947. As relações entre os dois estados são muito tensas e a passagem na fronteira de pessoas e bens é estritamente limitada. A principal fonte desta discórdia relaciona-se com a questão da Caxemira: nesta região não há consenso sobre o traçado de fronteira.
  Na Caxemira o traçado da fronteira está por definir. A Índia reclama soberania sobre as províncias de Caxemira Livre e Áreas do Norte, atualmente sob controle paquistanês.  O Paquistão considera-se soberano sobre a zona do Glaciar de Siachen, controlado pela Índia desde o conflito de Siachen, em 1984. A região não tem nenhuma fronteira no sentido internacional, mas apenas uma linha de cessar-fogo, a Line of Control, limite das posições militares quando do fim da Primeira Guerra Indo-Paquistanesa, em 1949. Esta linha de controle está materializada na quase totalidade do seu traçado por uma fileira dupla de arame farpado rodeado por campos minados.
Mapa da fronteira em disputa
RESTO DA FRONTEIRA
  O resto da fronteira, denominada International Border, está fortemente demarcado. Só existe um ponto de passagem terrestre entre os dois países, em Wagah, no caminho entre Amritsar, na Índia, e Lahore, no Paquistão. Neste ponto, exibem-se todos os dias os guardas fronteiriços dos dois países, num ritual que atrai multidões e no qual procedem movimentações coordenadas antes de fechar os portões.
Exibição dos soldados indianos e paquistaneses na Fronteira de Wagah
  Em 1962, a República Popular da China conquistou um trecho de Jammu e Caxemira (Aksai Chin); no ano seguinte, o Paquistão cede aos chineses uma faixa dos Territórios do Norte. Um novo conflito, em 1965, não trouxe modificações territoriais.
  Em 1971, uma guerra entre as duas nações resultou na separação da porção oriental do Paquistão e na formação de um novo país: Bangladesh.
  Nos anos 1980, guerrilheiros separatistas passam a atuar na Caxemira indiana, provocando a morte de mais de 25 mil pessoas. A Índia acusou o governo paquistanês de apoiar os guerrilheiros - favoráveis à unificação com o Paquistão - intensificando a repressão.
  No entanto, o controle da Caxemira continua a ser um problema que coloca em risco a segurança nessa região. As divergências são territoriais e, sobretudo, religiosas. Embora oficialmente a Caxemira pertença à Índia, sua população é majoritariamente islâmica, preferindo fazer parte do Paquistão.
  Quase todo o reduto islâmico da Índia se encontra na Caxemira: cerca de 130 milhões de pessoas. Se dependesse de seus habitantes, a província já seria do Paquistão desde a sua independência da Índia, em 1947.
Territórios disputados na Caxemira
  A região é drenada por vários rios, com destaque para o Indo. Essa característica física explica a vocação agrícola dos caxemirianos, que fazem cultivo de subsistência às margens desses rios. A atividade agrícola ocupa 80% da população da província.
  Economicamente fraca, a Caxemira é compensada por sua importante posição estratégica, o que é motivo de cobiça por parte de vários países. Além de protegida pela Cordilheira do Himalaia, a Caxemira abriga a nascente de quatro dos cinco rios do Paquistão, o que justifica o interesse paquistanês pelo controle da província indiana.
Rio Beas, visto de Van Vihar, Manali, Índia
  Como a maioria da população vive no campo, há poucas zonas urbanas na região. Destacam-se as cidades de Srinagar e Muzafarabad.
  A Caxemira ainda é lembrada como uma das regiões do mundo que mais apresentam conflitos religiosos. São comuns atos de violência entre grupos hindus e muçulmanos no norte da Índia.
  Embora a Índia e o Paquistão apresentem graves problemas sociais e econômicos, seus governantes investem mais em segurança do que em saúde e educação.
  A Índia acusa o Paquistão de enviar dinheiro e armas para os separatistas caxemirianos. O Paquistão, por sua vez, rebate a denúncia afirmando que o exército indiano reprime com violência a população da Caxemira.
Paisagem da Caxemira
FONTE: Perspectiva geografia, 9 / Cláudia Magalhães ... [et al.]. - 2. ed. - São Paulo: Editora do Brasil, 2012. - (Coleção perspectiva)

domingo, 15 de setembro de 2013

A REVOLUÇÃO MEXICANA

  A Revolução Mexicana foi um conflito armado que teve lugar no México, iniciado em 20 de novembro de 1910. Historicamente, costuma ser descrita como o acontecimento político e social mais importante do século XX no México.
CAMPONESES E LATIFUNDIÁRIOS
  Em 1910, o México era um país principalmente agrário. Os mexicanos viviam sob a ditadura de Porfírio Díaz, um general que governava o país havia mais de três décadas. Com o apoio das elites, ele  se mantinha no cargo por causa de eleições presidenciais repletas de irregularidades, que sempre lhe garantiam vitória.
  José de la Cruz Porfírio Díaz Mori (1830-1915), era um militar e político mexicano. Participou da Revolução de Ayutla, que levou os liberais ao poder em 1854, e da guerra contra o imperador Maximiliano I (1864-1867). Governou o México de 1876 a 1880 e de 1884 a 1911.
  Durante o seu longo mandato, Díaz implementou um processo de concentração de terras nas mãos de poucos proprietários, os hacendados. Essas terras foram tomadas de camponeses e indígenas sob a justificativa de que eles não possuíam os documentos de propriedade. Em seguida, foram cedidas ou vendidas a grandes latifundiários mexicanos ou a empresas estrangeiras. No início do século XX, cerca de 840 fazendeiros eram donos de quase todo o território mexicano.
Porfírio Díaz (1830-1915)
  Camponeses e indígenas que se revoltaram contra esse roubo foram perseguidos pela polícia e pela Igreja católica. Expulsos de suas terras, eles se viram obrigados a trabalhar nas propriedades dos hacendados ou das empresas estrangeiras. Em 1910, das 15 milhões de pessoas que viviam no México, cerca de 12 milhões dependiam dos grandes fazendeiros para sobreviver, trabalhando como peões nas fazendas e recebendo salários muito baixos. Alguns eram funcionários de empresas estrangeiras e trabalhavam principalmente nas minas, criações de gado ou plantações de algodão.
A situação de miséria revoltou os camponeses e indígenas mexicanos
 AGITAÇÕES POLÍTICAS NO MÉXICO
  A história política do México foi bastante conturbada durante o século XIX e início do século XX. Ex-colônia espanhola, o país conquistou sua independência em 1821. A partir de então, o poder passou para as mãos de grupos políticos conservadores. Em 1848, o país perdeu cerca de 40% do seu território para os Estados Unidos, enfraquecendo o prestígio desses governos. A perda de grande parte do território mexicano para os Estados Unidos se deu durante a Guerra Mexicano-Americana.
  A Guerra Mexicano-Americana foi o primeiro grande conflito impulsionado pela ideia de Destino Manifesto, a crença de que a América (Estados Unidos) tinha um direito dado por Deus, o destino de expandir as fronteiras do país de "costa a costa", e foi uma guerra entre os Estados Unidos e o México ocorrida entre 1846 e 1848 e que teve enormes consequências para o futuro das nações envolvidas. Como resultado, os Estados Unidos ampliaram o seu território em cerca de um quarto, enquanto o México perdeu aproximadamente metade do seu território. Na época, a guerra foi objeto de grande controvérsia moral dentro dos Estados Unidos.
Territórios perdidos pelo México para os Estados Unidos
  Em 1854, a Revolução de Ayutla instalou no México o primeiro governo liberal, que eliminou alguns privilégios dos militares e dos membros da Igreja Católica e autorizou a venda das terras da Igreja e das comunidades indígenas. Em 1857, o governo liberal concluiu uma nova Constituição.
  Descontentes com as mudanças, os conservadores entraram em guerra civil contra os liberais. Em 1859, os liberais radicalizaram ainda mais seu governo, transferindo para o Estado mexicano todos os bens que pertenciam à Igreja. Também se recusaram a pagar as dívidas assumidas pelos governos anteriores com as nações europeias.
  Por se recusar a pagar suas dívidas, o México foi invadido por tropas espanholas, inglesas e francesas, que destituíram o governo liberal. O poder foi devolvido aos conservadores, que convidaram o nobre austríaco Ferdinand Maximilian a assumir o trono do Império mexicano.
Maximiliano I - Imperador do México
  Maximiliano I (como era chamado pelos conservadores) ou Austríaco (como era chamado pelos liberais) governou o México de 1864 a 1867, quando os liberais retomaram o poder e fuzilaram o imperador.
  A violenta disputa entre conservadores e liberais foi amenizada com o primeiro governo do general Porfírio Díaz (1876-1880), que se reelegeu em 1884 e se manteve na presidência até 1911. Díaz conseguiu apaziguar os ânimos dos grupos rivais, criando um Estado forte que intermediava as divergências políticas internas. Ao mesmo tempo, estimulou a entrada de empresas estrangeiras no México.
Porfírio Díaz com sua esposa Carmen Romero Rubio
ANTECEDENTES ECONÔMICOS E SOCIAIS
  Durante o tempo colonial muitas localidades puderam conservar algumas propriedades comunais, designadas de forma genérica de éjidos. A Lei do Lerdo de 1856 - que tinha como objetivo reativar a economia e sanear as finanças do Estado -, declarou abandonadas as propriedades corporativas, particularmente as da Igreja e das comunidades indígenas. Entre 1889 e 1890, o governo de Díaz dispôs que as terras comunais tornar-se-iam emparceláveis. Os novos proprietários, desacostumados à propriedade privada, foram enganados por particulares ou funcionários. Como resultado, muitos indígenas viram-se desapossados de suas terras, tendo que empregar-se mas fazendas próximas. Outra série de leis de demarcação dos anos 1863, 1883 e 1894, segundo as quais uma parcela de propriedades rurais sem o seu respectivo título poderia considerar-se como terreno baldio, propiciou àqueles que tinham os recursos necessários apossarem-se de grandes porções de terra.
Hacienda no México
  Em 1910, menos de 1% das famílias do México possuíam ou controlavam cerca de 85% das terras cultiváveis. As localidades rurais, que abrigavam 51% da população, contavam apenas com pequenas porções de terra e a maior parte da população dependia das fazendas vizinhas. Além disso, as leis e a situação nacional favoreciam os fazendeiros, pois eles eram os únicos com acesso a créditos e a projetos de irrigação. Por seu lado, as pequenas povoações e os agricultores independentes viam-se obrigados a pagar impostos altíssimos. Essa situação afetou a economia agrícola, pois as fazendas tinham porções por cultivar e eram menos produtivas que as propriedades menores.
  Outra das repercussões da demarcação de terras e do fracionamento das terras comunais indígenas foi que alguns deles rebelaram-se contra o governo. Os conflitos, que tiveram lugar nos finais do século XIX e início do século XX, foram protagonizados por grupos indígenas, como maias, tsotsis, coras, huicholes e rarámuris, entre outros. Os conflitos mais duradouros foram os ocorridos em Yucatán, Quintana Roo e Sonora. Perante tais grupos adotou-se uma política de deportação, sendo Yucatán e Quintana Roo os principais destinos. No norte, o governo Díaz adotou contra os iaquis uma política de repressão violenta e deportação para o sul do país. O momento culminante contra este grupo teve lugar em 1908, momento no qual entre um quarto e metade da sua população havia sido enviada para as plantações de sisal em Yucatán. Mais tarde, estes grupos étnicos colaborariam com as forças revolucionárias.
Índios Yaquis em 1910
  No início do século XX começou a exploração petrolífera no México, ainda que as concessões tenham sido entregues a companhias estrangeiras, como a Standard Oil e a Royal Dutch Shell. Este processo levou o país a uma transformação industrial. Os investidores estrangeiros, protegidos pelo governo, investiram em indústrias e na exploração de matérias-primas, dando impulso à mineração e modernizando a indústria têxtil, permitindo, também, o desenvolvimento do sistema ferroviário.
  No entanto, em 1907 desencadeou-se uma forte crise internacional nos Estados Unidos e na Europa, o que levou a uma diminuição das exportações, o encarecimento das importações e a suspensão do crédito aos industriais. Esta situação criou muito desemprego, além de diminuir os rendimentos da população.
Valle de México - pintura de Velasco em 1885
  Uma seca que ocorreu em 1908 e 1909, afetou a produção agrícola, obrigando o país a importar milho, afetando grande parte da população mexicana, visto que o milho fazia parte da dieta de mais de 85% dos mexicanos. A consequente diminuição da atividade econômica do país reduziu drasticamente as receitas do governo. Tentou-se resolver este problema diminuindo os salários da burocracia e aumentando os impostos e a base fiscal, o que afetou os membros da classe média, tanto urbana como rural, assim como os membros da classe alta que não estavam ligados aos "científicos" - grupo seleto de intelectuais, profissionais e homens de negócios que compartilhavam a crença no positivismo e darwinismo social e que influíam na política do país.
Augusto Comte - um dos idealizadores do positivismo
ANTECEDENTES SOCIAIS
A Greve de Cananea - 1° de julho de 1906 
  Durante o governo de Díaz existiam numerosos latifúndios e 80% da população mexicana dependia do salário rural. Além disso, as tiendas de raya consistiam numa prática comum nestes lugares, onde se pagavam os salários dos trabalhadores em mercadoria. Mediante este sistema, conseguia-se que os trabalhadores alcançassem tal valor de crédito, que ficavam endividados por toda a vida. Este sistema, juntamente com práticas que eram cotidianas, como a contratação por logro ou a adjudicação de uma dívida inexistente, era conhecido como "enganche" - sistema que envolvia elementos coercivos, extra-econômicos e extralegais.
Porfírio Díaz em 1861
  As leis da nação eram raramente aplicadas nas fazendas, onde os trabalhadores eram vistos como escravos ou objetos de propriedade. Além disso, atuava no campo o chamado Cuerpo de Rurales, um grupo policial encarregado de "manter a paz", geralmente recorrendo a métodos brutais. Outra prática deste grupo era a leva, ou recrutamento obrigatório.
  Nas cidades, a partir de 1906, começaram a surgir numerosos movimentos operários, originando grandes greves como as de Cananea e Rio Blanco, que seriam reprimidos pelo governo mediante a força militar.
  A greve de Cananea teve lugar na povoação mineira mexicana de Cananea, Estado de Sonora, em junho de 1906. Nesse ano, a Cananea Consolidated Copper Company, com sede em Nogales, tinha cerca de 5.360 trabalhadores mexicanos nas suas minas de cobre de Cananea, recebendo três pesos e meio por dia, enquanto so 2.200 trabalhadores estadunidenses recebiam 5 pesos pelo mesmo trabalho. As condições em que os trabalhadores mexicanos viviam eram deploráveis. Durante as celebrações do Cinco de Mayo, os empregados mexicanos tornaram públicas as suas queixas ao passo que a autoridade local impôs a lei marcial para evitar a ocorrência de mais conflitos.
Loja da companhia em Cananea
  Em 1° de junho, a maioria dos mineiros mexicanos entraram em greve. Liderados por Juan José Rios, Manuel Macario Diéguez e Esteban Baca Calderón, exigiam a remoção de um encarregado chamado Luis, o pagamento de cinco pesos por oito horas de trabalho, quotas de emprego assegurando 75% dos empregos para mexicanos e 25% para estrangeiros, a colocação de homens responsáveis e respeitosos para a operação das jaulas e que todos os trabalhadores mexicanos fossem elegíveis para promoções, segundo as suas habilidades.
  Os executivos da companhia rejeitaram todas as petições e os trabalhadores decidiram marchar e mobilizar pessoas de outras cidades e municípios. A população apoiou os trabalhadores e a multidão atingiu 3.000 pessoas. Enquanto desfilavam em frente da serração da companhia, os empregados estadunidenses encarregados daquele departamento, os irmãos Metcalf, lançaram água sobre eles e depois dispararam alguns tiros, matando três pessoas. A multidão enraivecida, deteve os irmãos e linchou-os, tocando fogo neles. Quando se aproximaram do edifício governamental do presidente municipal foram recebidos por um destacamento americano de 275 homens liderado por Rangers do Arizona. Outros trabalhadores foram mortos enquanto os líderes grevistas foram colocados na prisão. O jornal norte-americano New York Times, em 3 de junho de 1906, reportou uma matéria em que no dia 1° de junho os grevistas destruíram uma serração e mataram dois irmãos que defendiam a mina. Eram relatadas onze baixas entre os "amotinados" mexicanos.
Grevistas de Cananea confrontam destacamento americano que protegia a loja da companhia
  Respondendo a um apelo telegráfico do coronel William Cornell Greene da Greene Consolited Copper Company, um destacamento de 275 voluntários de Bisbee, Douglas e Naco, Arizona, comandados pelo capitão Thomas H. Rynning dos Rangers do Arizona, entrou no México, contrariando as ordens de Joseph Henry Kibbey, governador do Território do Arizona, e a convite de Rafael Izabal, o governador de Sonora, reforçaram os Rurales de Sonora sob o comando do coronel Emílio Kosterlitsky. Tropas mexicanas encontravam-se a caminho da cidade. Quatro elementos do 5° Regimento de Cavalaria dos Estados Unidos que haviam partido de Fort Huachuca foram detidos em Naco, Arizona, na fronteira México-Estados Unidos por ordem do presidente norte-americano Howard Taft.
Empregados armados em frente à sede da companhia
A QUEDA DE PORFÍRIO
  Desde o princípio do século XX, começou a questionar-se o positivismo, ideologia que mantinha o grupo no poder, o que levou ao descrédito do darwinismo social perpetrado pelos grupos de poder contra a população. Esse fato levou a maioria da população mestiça a reclamar e exigir uma maior participação na tomada de decisões, além de que o grupo dos "científicos" deixou de ser visto como um contingente superior ou como o único capaz de dirigir o governo.
  Em 1910, Porfírio Díaz estava às vésperas de completar 80 anos de idade. Ainda assim, decidiu mais uma vez sair candidato à Presidência. Dessa vez, no entanto, encontrou um adversário que lhe ameaçava o poder: Francisco Madero.
  Francisco Madero (1873-1913), era engenheiro agrônomo formado na França e na Bélgica. Filho de um hacendado, liderou um movimento que culminou na queda de Porfírio Díaz. Governou o México de 1911 a 1913, quando foi fuzilado por um antigo aliado de Díaz.
Francisco Madero
  Durante a campanha, Madero defendeu uma série de reformas para o país, como mudanças na política eleitoral e melhoria nas condições de vida de camponeses e índios. Percebendo a força de seu adversário, Porfírio Díaz mandou prender Madero e se reelegeu mais uma vez presidente da República.
  Madero conseguiu deixar a prisão e exilou-se nos Estados Unidos, onde escreveu um manifesto conhecido como Plano de San Luis Potosí. Escrito em outubro de 1910, esse manifesto convocou os mexicanos para uma revolta armada visando derrubar Porfírio Díaz. Os principais aliados de Francisco Madero eram ricos comerciantes ou hacendados, que desejavam apenas o fim das reeleições de Porfírio Díaz e o sufrágio universal.
Túmulo de Porfírio Díaz no Cemitério do Montparnasse, em Paris - França
  Além desse apoio, Madero também contou com grupos de camponeses e indígenas. Liderados por Pancho Villa, ao norte, e Emiliano Zapata, ao sul, esses grupos reivindicavam uma reforma agrária que lhes garantisse a posse da terra.
  Apesar de não conquistar o poder em todo o país, os grupos de camponeses e indígenas governaram diversas regiões do México durante os dez anos da revolução. Nessas regiões retiraram o poder dos hacendados e da Igreja Católica, realizaram a reforma agrária e construíram vários hospitais e escolas.
  José Doroteo Arango ou
Pancho Villa, como era mais conhecido (1887-1923), aos 17 anos, depois de tentar matar um hacendado para vingar sua família, tornou-se líder de um bando que assaltava trens e fazendas. Em 1910, aderiu à Revolução com seu grupo. Visto com desconfiança pelos revolucionários liberais, foi condenado a fuzilamento e à prisão em 1912, mas conseguiu escapar. Morreu em uma emboscada planejada com o apoio do presidente Álvaro Obregón.
Pancho Villa, em 1918
  Emiliano Zapata Salazar (1879-1919) apoiou Francisco Madero contra Porfírio Díaz, mas se opôs ao governo quando Madero se demonstrou pouco radical. Aliou-se depois às tropas de Venustiano Carranza e Pancho Villa para combater as de Victoriano Huerta. Foi assassinado por um general interessado na recompensa oferecida por Carranza. Inspira o atual movimento zapatista, concentrado no estado mexicano de Chiapas.
Emiliano Zapata
O GOVERNO MADERO
  Ao longo de 1910, irromperam várias revoltas em diferentes regiões do território mexicano. O governo reagiu, mas a população formou guerrilhas que impediam o avanço das tropas federais. Anarquistas também entraram na luta e ocuparam diversas cidades no norte do México.
  A permanência de Porfírio Díaz na Presidência tornou-se insustentável. Em maio de 1911, o ditador renunciou ao poder e embarcou para o exílio na França.
  As renúncias, tanto do presidente como do vice-presidente deram lugar à presidência, ao então secretário de Relações Exteriores, Francisco León de la Barra.
  De la Barra formou um gabinete plural, no qual se incluíam porfiristas, maderistas e independentes, o que ocasionou uma grave crise política, aumentada pela atitude tomada por Madero relativa aos grupos revolucionários, a qual causou fraturas severas.
Francisco León de la Barra (1863-1939)
  De la Barra, convocou eleições presidenciais. A população escolheu Francisco Madero para ocupar a Presidência do México.
A tomada de Ciudad Juárez
  Ciudad Juárez era defendida pelo general Juan Navarro e pelo coronel de infantaria Manuel Tamborell, os quais estavam encarregados das tropas e da guarnição, respectivamente. Os revolucionários, liderados por Pascual Orozco e Pancho Villa, desobedecendo às ordens de Madero, atacaram a guarnição de Ciudad Juárez nos dias 8 e 9 de maio de 1911, conseguindo penetrar nas suas trincheiras. Madero tentou, sem sucesso, deter a investida, porém, mais rebeldes uniram-se paulativamente à transgressão, pelo que finalmente decidiu dar ordem ao resto dos seus homens para prosseguirem o assalto.
  As tropas revolucionárias tomaram a praça no dia 10 de maio, obrigando o general Navarro a assinar a carta de rendição. Então, Madero, de acordo com o Plano de San Luis, foi nomeado presidente provisório e constituiu o seu Conselho de Estado, no qual incluía, entre outros, Venustiano Carranza, o seu irmão Gustavo e José Maria Pino Suárez.
Revolucionários entrando em Ciudad Juárez
  Em 17 de maio, assinou-se um armistício de cinco dias aplicável a toda a República mexicana. No final deste armistício, firmou-se um tratado de paz na referida cidade, o qual pôs fim à revolução madeirista.
  O novo presidente assumiu o poder em novembro de 1911, mas logo despertou a desconfiança de seus eleitores ao nomear cinco ministros ligados ao ex-ditador Porfírio Díaz. Além disso, ao contrário do que esperavam camponeses e indígenas, Madero não promoveu a reforma agrária prometida durante a campanha.
Francisco Madero e líderes revolucionários em 24 de abril de 1911
  Com isso, os zapatistas, como eram conhecidos os seguidores de Emiliano Zapata, continuaram a insurgir no país. Em novembro de 1911 divulgaram o Plano de Ayala, um manifesto exigindo que o governo fizesse, de fato, a reforma agrária e atendesse às reivindicações dos camponeses e das comunidades indígenas mexicanas.
  Militares, também insatisfeitos com o governo de Madero, promoveram alguns levantes que acabaram controlados pelas tropas federais. Entretanto, em fevereiro de 1913, o general Victoriano Huerta, seguidor de Porfírio Díaz, teve melhor êxito: contando com o apoio do governo dos Estados Unidos, liderou um golpe de Estado. O presidente foi fuzilado e Huerta assumiu a Presidência do país.
Victoriano Huerta (1856-1916)
GUERRA CIVIL
  A queda do governo de Francisco Madero deu início a uma guerra civil no México. O governador de um dos Estados mexicanos, Venustiano Carranza (1859-1920), antigo aliado de Madero, formou o chamado Exército Constitucionalista e conclamou a população a pegar em armas para derrubar Victoriano Huerta. Pancho Villa aderiu ao movimento e levou consigo 10 mil soldados.; Zapata também aderiu à luta contra Huerta, liderando as tropas no centro-sul do país.
  Em 1914, o governo dos Estados Unidos enviou soldados para combater o governo Huerta, que estava estabelecendo relações com outras potências, como a Alemanha e a Inglaterra. O governo estadunidense via isso como uma atitude de rebeldia.
  Diante de tantos adversários, Huerta perdeu gradativamente o poder até que, em agosto de 1914, as tropas federais foram definitivamente derrotadas, e Huerta partiu para o exílio.
Forças de Emiliano Zapata, em 1914
CARRANZA NO PODER
  Ao assumir a Presidência em 1914, Carranza procurou assegurar a estabilidade política do país. Ao mesmo tempo que tentava restringir a influência dos militares na vida pública, precisava atender às reivindicações das camadas populares.
  Logo Carranza passou a enfrentar a oposição de antigos aliados, como Pancho Villa e Emiliano Zapata, que discordavam do modo como o presidente pretendia fazer a reforma agrária. Isso deflagrou uma nova guerra, que se estendeu até 1917. O conflito tinha, de um lado, os exércitos populares de Villa e de Zapata, e de outro, as tropas federais, comandadas pelos generais Álvaro Obregón e Plutarco Elias Calles.
Venustiano Carranza (1859-1920)
  Em 1915, o governo Carranza se aliou aos sindicatos operários para derrotar Pancho Villa, o que ocorreu em abril daquele mesmo ano. Enfraquecido, Villa ainda manteve atividades de guerrilha até 1920, quando finalmente se rendeu, recebendo em troca uma fazenda e o direito de manter uma escolta armada.
  Vitorioso na luta contra Pancho Villa, o governo Carranza dissolveu os batalhões formados pelos operários e se recusou a assumir os compromissos firmados com os sindicatos. Os sindicalistas responderam com uma greve duramente reprimida que terminou com a prisão de todos os seus líderes.
Por volta de 1915, Pancho Villa e Emiliano Zapata posam para um foto ao lado de outros revolucionários.
  Emiliano Zapata, por sua vez, foi assassinado em 1919. Até hoje seus objetivos são lembrados pela população mexicana, por meio do movimento denominado de zapatismo.
  O Movimento Zapatista é um movimento surgido em 1994, no estado de Chiapas, que conta com o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), liderado pelo subcomandante Marcos, cujo principal é a ampliação dos direitos indígenas e pela valorização de sua cultura no México, além da realização de uma ampla reforma agrária no país.
Subcomandante Marcos (de boné) ao lado do comandante Tacho, em Chiapas
A CONSTITUIÇÃO DE 1917
  Apesar das divergências com os dois principais líderes populares da Revolução Mexicana, o governo de Carranza elaborou em 1917 uma Constituição que trazia grandes avanços políticos e sociais para a época. A Constituição mexicana proibiu que estrangeiros, indústrias e igrejas tivessem posse de terras. Instituiu ainda o ensino obrigatório gratuito e estabeleceu que a exploração dos recursos naturais do país (principalmente o petróleo) ficaria sob a responsabilidade do Estado.
Emiliano Zapata após ter sido assassinado
  A Constituição mexicana de 1917 também limitou o poder da Igreja Católica: proibiu a realização de cultos públicos fora das igrejas, proibiu que os jornais religiosos tratassem de assuntos políticos, negou aos padres e bispos o direito de votar e de fundar e dirigir escolas.
  O México foi o primeiro país a incluir em sua Constituição antigas reivindicações dos operários. A Constituição de 1917 estabeleceu jornada máxima de oito horas de trabalho diárias, fez restrições ao trabalho feminino e infantil, criou o salário mínimo e reconheceu o direito de greve dos trabalhadores.
Carranza ao centro, em 22 de janeiro de 1916
O FIM DA REVOLUÇÃO
  O mandato de Carranza deveria terminar em 1920, quando estavam previstas novas eleições presidenciais. O general Álvaro Obregón desejava ser lançado como o candidato oficial do governo, mas o presidente decidiu apoiar outra pessoa. Rejeitado, o general articulou um golpe para destituir Carranza da Presidência.
  Aliados de Obregón assassinaram Carranza em maio de 1920. Posteriormente, Obregón venceu as eleições e assumiu a Presidência para um mandato de quatro anos. Durante o seu governo, estimulou a criação de sindicatos e centrais operárias, que lhe deram apoio político.
Álvaro Obregón (1880-1928)
  Sucedeu Álvaro Obregón o general Plutarco Elías Calles, que governou de 1924 a 1928. Calle fundou em 1929 o Partido Nacional Revolucionário, que em 1946 passou a se chamar Partido Revolucionário Institucional (PRI). O PRI se manteve na Presidência da República por mais de setenta anos.
Plutarco Elías Calles (1877-1945)
FONTE: Cardoso, Oldimar. Leituras da história, 8º ano / Oldimar Cardoso. -- 1. ed. -- São Paulo: Escala Educacional, 2012. -- (Leituras da história)

domingo, 8 de setembro de 2013

A QUESTÃO SOCIAL NO CAMPO

  Os problemas no campo brasileiro se arrastam há centenas de anos. A distribuição desigual de terras desencadeia uma série de conflitos no meio rural. Essa questão teve início durante a década de 1530, com a criação das capitanias hereditárias e o sistema de sesmaria, no qual a Coroa portuguesa distribuía terrenos para quem tivesse condições para produzir, desde que fosse pago um sexto da produção para a Coroa.
  Com isso, poucas pessoas adquiriram grandes extensões de terra, estabelecendo diversos latifúndios no país. Algumas famílias concentraram grandes propriedades rurais, e os camponeses passaram a trabalhar como empregados para os detentores de terra. Contudo, a violência no campo se intensificou com a independência do Brasil, em 1822, quando a demarcação de imóveis rurais ocorreu através da lei do mais forte, provocando vários assassinatos.
Divisão do Brasil em Capitanias Hereditárias
  Outro artifício muito utilizado e que desencadeia uma série de conflitos é a grilagem. Esse método é destinado à falsificação de documentos de posse da terra, em que grandes fazendeiros compram em cartórios, o título de uma propriedade rural, geralmente, propriedades que pertencem à União e que são invadidas por pequenos agricultores (posseiros), deixando guardados na gaveta por muitos anos (o período em que os grilos e as traças já têm consumido parte do documento), para depois apresentá-lo como se fossem verdadeiros e ganhar o direito de assumir definitivamente a propriedade. Posteriormente, o imóvel é vendido por meio desse documento falso, ocasionando a expulsão do "proprietário".
A grilagem de terras é um dos fatores que contribuem para os conflitos no campo
  Além desses fatores que beneficiam os grandes detentores de terra, outro problema é a atual organização da produção agrícola. A mecanização e a utilização massiva de tecnologia no campo têm forçado os pequenos produtores a venderem suas propriedades e trabalharem como empregados ou migrarem para as cidades, visto que muitos deles não conseguem mecanizar sua produção, resultando no baixo rendimento, colocando-os em desvantagem no mercado.
  Um dos principais pontos de discussão sobre o setor agropecuário no Brasil é a questão da propriedade da terra. Considerado um problema social, político e econômico que o país enfrenta na atualidade, repercute diretamente na oferta de emprego, remuneração e qualidade de vida da população trabalhadora no campo.
A mecanização aumenta a produtividade no campo, porém, diminui a mão de obra
  A estrutura fundiária é a forma como se distribuem as propriedades rurais, e no Brasil, essa estrutura mostra um dos "retratos" mais marcantes do elevado nível de desigualdade social e econômica do país, pois caracteriza-se pelos extremos: de um lado, poucos proprietários com muita terra, de outro, muitos proprietários com pouca terra.
  A atual estrutura fundiária brasileira é bastante problemática do ponto de vista social. Os pequenos agricultores dispõem de propriedades muito pequenas, o que por vezes funciona como um obstáculo à expansão da agricultura familiar no espaço que ocupam, e eleva o número de trabalhadores sem terra no Brasil, provocando a existência de grandes propriedades improdutivas gerando inúmeros conflitos em várias regiões do país.
Sem condições de desenvolver a terra, muitos agricultores migram do campo para as cidades, num movimento denominado êxodo rural
  Esses conflitos são gerados pelas ocupações dessas propriedades por trabalhadores sem terra, que visam, principalmente, pressionar o governo a tomar medidas que resultem na aceleração do programa de reforma agrária, desenvolvido, historicamente, de forma muito lenta em nosso país.
  Diante desse cenário de concentração fundiária, vários movimentos sociais foram criados com o intuito de reverter esse quadro. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), por exemplo, reivindica a realização da reforma agrária, ocupando latifúndios como forma de pressionar o governo. No entanto, essas ocupações nem sempre são solucionadas de forma pacífica, desencadeando conflitos no campo.
MST - mais importante grupo de trabalhadores rurais no país
  Outros problemas no campo são a utilização de mão de obra infantil e a exploração do trabalhador. Apesar da abolição da escravatura ter ocorrido em 1888, o Brasil ainda registra denúncias de trabalho escravo. Proprietários de algumas fazendas contratam funcionários, que são obrigados a custear a viagem, alimentação, estadia, entre outros. Assim, o trabalhador, antes mesmo de iniciar as atividades, já está endividado, sendo obrigado a trabalhar para quitar todo o "investimento" do patrão.
Apesar de estarmos em pleno século XXI, ainda são registrados casos de trabalho escravo no Brasil
  Para tentar mudar esse quadro, é necessário que políticas públicas sejam desenvolvidas para solucionar esses problemas, de forma a reduzir a desigualdade no campo, fiscalizar as condições de trabalho, além de oferecer subsídios para os pequenos proprietários rurais.
Melhorar as condições de vida dos pequenos produtores rurais seria uma forma de aumentar a qualidade de vida no campo
FONTE: Antunes, Celso Avelino. Geografia e participação: 6° ano / Celso Avelino Antunes, Maria do Carmo Pereira e Maria Inês Vieira. - 2. ed. - São Paulo: IBEP, 2012.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

O ARQUIPÉLAGO DE FERNANDO DE NORONHA

  O arquipélago de Fernando de Noronha pertence ao estado de Pernambuco, é formado por 21 ilhas e ilhotas, e ocupa uma área de 26 km², estando situado no oceano Atlântico Sul-Equatorial, a leste do Rio Grande do Norte, distando cerca de 345 km da costa. As coordenadas geográficas da ilha são: 03°50'S e 32°25'W. Os processos de formação desse arquipélago estão associados à teoria da deriva continental, onde a instabilidade da crosta terrestre possibilitou o extravasamento do magma através de uma fratura, que ao longo do tempo geológico, por ascensão vertical, originou o arquipélago. A montanha que deu origem ao arquipélago está alinhada aos montes vulcânicos submarinos que compõem a Cadeia de Fernando de Noronha, orientada no sentido leste-oeste.
  Fernando de Noronha constitui um Distrito Estadual de Pernambuco desde 1988, quando deixou de ser um território federal, cuja sigla era FN, e a capital era Vila dos Remédios. É gerida por um administrador-geral designado pelo governo do estado.
Vila dos Remédios, em Fernando de Noronha
  Após uma campanha liderada pelo ambientalista gaúcho José Truda Palazzo Jr., em 1988, a maior parte do arquipélago foi declarada Parque Nacional, com cerca de 8 km², para a proteção de espécies endêmicas lá existentes e da área de concentração dos golfinhos rotadores (Stenella longirostris), que se reúnem diariamente na Baía dos Golfinhos - o lugar de observação mais regular da espécie em todo o planeta. O parque nacional é administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Baía dos Golfinhos, em Fernando de Noronha
  Todo o arquipélago está sobre um monte submarino cônico, com cerca de 60 km de diâmetro, tendo sua base apoiada no assoalho oceânico a quatro mil metros de profundidade. Ao longo do tempo geológico, as rochas sofreram intemperismo e formaram uma plataforma de erosão com cerca de 3 a 4 quilômetros de largura e até 100 metros de profundidade.
  A principal ilha do arquipélago, denominada Fernando de Noronha, possui cerca de 16,4 km², representando 91% da área emersa do arquipélago. O relevo do arquipélago apresenta planícies, planaltos e altos topográficos íngremes, como o Morro do Pico, com 323 metros.
Morro do Pico
OCUPAÇÃO HUMANA NO ARQUIPÉLAGO
  Em 1503, o navegador Américo Vespúcio oficialmente relatou a descoberta do arquipélago, quando um dos navios da expedição, comandada por Gonçalo Coelho, naufragou após bater nos recifes. Os náufragos habitaram a ilha principal por dois anos, até ser resgatados. Esse episódio também foi o primeiro naufrágio da história do Brasil. No ano de 1504, o fidalgo português Fernão de Noronha recebeu da coroa portuguesa o arquipélago como uma Capitania Hereditária, apesar do mesmo nunca ter visitado o local, a quem se deve o nome do arquipélago e da ilha principal.
Morro Dois Irmãos, na Baía do Sancho
  Após a descoberta, ocorreram sucessivas tentativas de ocupação por holandeses, em 1612 e 1635-1654, e franceses, em 1736, que logo foram expulsos pelos portugueses. Em 1736, os portugueses retomaram o controle da ilha e, no ano seguinte, iniciou-se sua colonização. A vila e a Igreja de Nossa Senhora dos Remédios foram as primeiras edificações construídas pelos portugueses nesse período. Também foram construídas dez fortificações para proteção do arquipélago. Nas décadas que se seguiram, a ilha também foi utilizada como colônia correcional.
Igreja de Nossa Senhora dos Remédios - uma das primeiras construções de Fernando de Noronha
  O arquipélago foi visitado por vários naturalistas e pesquisadores. Entre esses, Charles Darwin, que, no ano de 1832, a bordo do navio Beagle, fez uma descrição do arquipélago e posteriormente divulgou suas observações sobre a geologia, petrografia (estudo descritivo e sistemático das rochas), natureza vulcânica, fauna e flora da ilha principal. Outra importante  expedição foi realizada em 1873, pelo navio HMS Challenger, que realizou coletas no arquipélago.
Praia Sancho
  Em 1888, foi criado o Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha, reintegrando o arquipélago ao Estado de Pernambuco, que se tornou Distrito Estadual. Em 2002, o arquipélago foi tombado pela UNESCO, como Sítio do Patrimônio Mundial Natural.
O CLIMA DAS ILHAS
  Devido à privilegiada localização do arquipélago, o clima reinante é o tropical oceânico, onde as brisas marinhas atenuam o calor excessivo. A temperatura média anual é de 27ºC e pouco varia entre o dia e a noite. Em Fernando de Noronha existem apenas duas estações definidas: uma seca, de agosto a fevereiro, e uma úmida, de março a julho. No período úmido ocorre o aparecimento de vários córregos temporários, que desaparecem após o período de chuvas. A ilha não possui nascentes, mas a Lagoa da Viração (lagoa de água doce), localizada na região entre a Praia do Leão e a Ponta da Sapata, nunca seca.
Ponta da Sapata
  No mês de agosto, ventos sopram forte na ilha, e em setembro a vegetação da ilha fica seca, devido à escassez de chuvas. O mês de outubro apresenta os menores níveis de precipitação. A temperatura média do mar pouco varia ao longo do ano e fica em torno de 24ºC. A distância do continente, associada à ausência de rios, possibilita que a visibilidade da água chegue a 50 metros de profundidade.
Visão parcial do arquipélago
VEGETAÇÃO TERRESTRE
  A vegetação do arquipélago se assemelha à vegetação do agreste do sertão nordestino, devido à predominância de arbustos espinhosos, cactos, vegetação rasteira e árvores que perdem as folhas durante o período seco. Entre as espécies vegetais, as gameleiras (Ficus noronhae), que são endêmicas da ilha, destacam-se pelo tamanho imponente e pela beleza. Também aparecem outras espécies como a burra-leiteira (Sapium sceleratum) em uma pequena área com vegetação de mangue, localizada na Baía do Sueste.
Gameleiras no arquipélago de Fernando de Noronha
  Durante o processo de ocupação da ilha, grande parte da vegetação original foi destruída ou substituída. Assim, várias espécies vegetais foram introduzidas para alimentação humana ou de rebanhos. Encontram-se árvores frutíferas como mangas, cajás, carambolas, mamão e fruta-do-conde. Mesmo com a introdução de espécies, a diversidade de vegetais na ilha é pequena, quando comparada às áreas costeiras.
  Um problema que preocupa os ambientalistas é a elevada taxa de expansão da leucena, uma espécie de forrageira que foi introduzida na ilha para a alimentação de rebanhos. Atualmente,  essa vegetação ocupa quase 80% da ilha de Fernando de Noronha. Essa espécie arbórea possui copa densa, que limita a passagem de luz, impedindo o crescimento de outras espécies vegetais.
Visão aérea de Fernando de Noronha
A FAUNA MARINHA
  Para muitas espécies com baixa capacidade de dispersão, a imensa e profunda massa de água oceânica, que separa o arquipélago de Fernando de Noronha do continente americano, é uma barreira geográfica quase intransponível. Por isso, ao longo do tempo geológico, a evolução propiciou o aparecimento de espécies endêmicas.
1. OS CRUSTÁCEOS
  Compondo a fauna do arquipélago, existem algumas espécies de camarões, lagostas e caranguejos. Os camarões e lagostas são frequentemente encontrados escondidos em tocas e são mais ativos durante o período noturno. Já nas rochas da zona do entremarés encontram-se frequentemente o aratu ou aratu-vermelho (Grapsus grapsus). Porém, nas partes mais centrais da ilha, o caranguejo-amarelo ou carango (Gecarcinus lagostoma) pode ser encontrado em baixa densidade. Sua ocorrência no Brasil está restrita às ilhas oceânicas de Trindade, Fernando de Noronha e Atol das Rocas.
Caranguejo-amarelo ou carango (Gecarcinus lagostoma)
2. PEIXES
  Pesquisas recentes mostram curiosas interações entre os peixes do arquipélago. Um exemplo é a guarajuba (Coranx bartholomaei), que segue a arraia-prego (Dasyatis americana) e aproveita, quando a arraia movimenta o sedimento, para se alimentar de moluscos e caranguejos e capturar eventuais invertebrados e peixes que sejam descobertos por ela. O mesmo ocorre com o peixe-papagaio (Sparisoma amplum), frequentemente seguido pelos budiões-de-noronha (Thalassoma noronhanum), que se aproveitam das sobras de alimento. Já o tubarão cabeça-de-cesto (Carcharhinus perezi) tem os parasitas removidos de seu corpo pelo pequenino góbios-neon (Elacatinus randalli). Esse peixe é um especialista na área de limpeza e também presta seus serviços a outras espécies, como o catuá (Cephalopholis fulva) e a assustadora, porém pacífica, moreia-verde (Gymnothoraz funebris).
Moreia-verde
  O ótimo estado de conservação da parte marinha das ilhas, que estão protegidas da pesca predatória, proporciona a descoberta e o entendimento das interações entre os organismos. Essas informações são fundamentais para a implementação de novas medidas de conservação no ambiente marinho, que ainda hoje são pouco conhecidas.
Peixe-papagaio
3. AS TARTARUGAS-MARINHAS
  Entre as cinco espécies de tartarugas marinhas que ocorrem em águas brasileiras, apenas a tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata) e a tartaruga-verde, ou aruanã (Chelonia mydas) estão presentes no arquipélago de Fernando de Noronha. A tartaruga-de-pente, que se alimenta de esponjas, foi intensamente caçada no Brasil devido ao seu casco, que era usada na fabricação de pentes, armações de óculos e fivelas. Já a tartaruga-verde, que se alimenta prioritariamente de algas, era caçada devido a sua carne, comumente utilizada na alimentação de muitas comunidades tradicionais costeiras.
Tartaruga-verde
  A tartaruga-de-pente usa o arquipélago apenas para alimentação. A tartaruga-verde utiliza as praias da ilha para desova durante o período que vai de janeiro a junho. Durante a noite, a fêmea dessa espécie sobe à praia e escava um buraco, onde são depositados, em média, 120 ovos. Depois, o ninho é cuidadosamente fechado e a tartaruga volta ao mar. Cada fêmea pode repetir esse processo cerca de 4 vezes por temporada reprodutiva. O tempo de incubação dos ovos é de aproximadamente 55 dias. Após nascerem, os filhotes cavam até a superfície e, durante a noite, vão em direção ao mar, onde passarão o resto de suas vidas.
Tartaruga-de-pente
  Um fato curioso é a relação entre a tartaruga-verde e algumas espécies de peixes, como o sargentinho (Abudefduf saxatilis) e o cirurgião (Acanthurus chirurgus e A. coereleus), que se alimentam de algas presas ao casco das tartarugas. Assim, há um benefício para as tartarugas, pois as algas prejudicam sua movimentação, e para os peixes, têm uma fonte alternativa de alimento.
Peixe-cirurgião
4. AS AVES MARINHAS
  Várias espécies marinhas são encontradas em Fernando de Noronha, onde obtêm alimento e se reproduzem. Algumas espécies são migratórias e usam a ilha para alimentar-se e descansar durante sua jornada. Um exemplo é o pequenino maçarico vira-pedra (Arernaria interpress), que é frequentemente encontrado nas praias, próximo ao mar, alimentando-se de pequenos crustáceos, moluscos e insetos. Também existem aves que nidificam a ilha, como o mumbebo-de-patas-vermelhas (Sula-sula) e o mumbebo marrom (Sula leucogaster). A fragata ou catraia (Fregata magnificens), também encontrada em toda a costa brasileira, encanta pela grande envergadura de suas asas, que chegam a medir 2 metros, o que lhe possibilita planar por longos períodos e percorrer grandes distâncias. Essa ave se aproveita do seu tamanho e frequentemente é avistada batendo nos mumbebos, para roubar seu alimento.
Mumbebo marrom
  O arquipélago de Fernando de Noronha possui grande importância para a avifauna, pois é área de reprodução, nidificação e alimentação, além de ser ponto de parada para aves migratórias.
5. GOLFINHOS ROTADORES
  No arquipélago de Fernando de Noronha também são encontrados golfinhos rotadores (Stenella longirostris), que foram chamados dessa forma devido aos saltos executados, girando sobre seu próprio eixo. Esses golfinhos podem ser facilmente avistados durante o dia na Baía dos Golfinhos e na Enseada do Carreiro de Pedra.
Golfinho rotador
  Outra relação curiosa ocorre entre os golfinhos e doze espécies de peixes, que se alimentam das fezes e dos vômitos dos golfinhos. A principal espécie de peixe associada a esse comportamento é a purfa (Melichthys niger) e os golfinhos rotadores são importante fonte de alimento para aquela espécie.
Purfas
  Outros mamíferos marinhos, como o golfinho pintado (Stenella attenuata) e a baleia jubarte (Megaptera novaeangliae) também são esporadicamente encontrados nas águas do arquipélago.
Golfinho pintado
FONTE: Geografia: ensino fundamental e ensino médio: o mar no espaço geográfico brasileiro / coordenação Carlos Frederico Simões Serafim, organização Paulo de Tarso Chaves. - Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2005. 304 p. (Coleção explorando o ensino, v. 8)

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