O totalitarismo é um sistema político caracterizado pelo domínio absoluto de uma pessoa ou partido político sobre uma nação. Dentro do totalitarismo, a pessoa ou partido político no poder controla todos os aspectos da vida pública e da vida privada por meio de um governo abertamente autoritário.
O totalitarismo também é marcado pela forte presença de um militarismo na sociedade e é acompanhado por ações do regime com o objetivo de promover sua ideologia por meio de um sistema de doutrinação da população. Os regimes totalitários utilizam-se do terror como arma política para conter e perseguir seus opositores políticos, e a propaganda é usada de maneira consistente para que a população seja convencida das medidas extremas tomadas por esses regimes.
O totalitarismo foi um sistema político que esteve no auge durante as décadas de 1920 e 1930. Seu surgimento aconteceu após a Primeira Guerra Mundial e é considerado pelos historiadores como um reflexo causado por toda a destruição causada por esse conflito. Assim, o autoritarismo começou a ganhar força como solução política para as crises que o mundo enfrentava no pós-guerra, conseguindo adeptos mundo afora.
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Charge mostrando como funciona o totalitarismo. No regime totalitário é preciso controlar as mentes da população pela força e pela propaganda |
O termo "totalitarismo" surgiu durante a década de 1920 para referir-se ao fascismo italiano. Esse sistema político surgiu com o próprio fascismo italiano, regime que alcançou o poder na Itália em 1922, quando Benito Mussolini tornou-se primeiro-ministro do país. Ao longo da década de 1920, a tendência política mundial pendia para o autoritarismo, e o totalitarismo ganhou considerável força após a ascensão do nazismo ao poder na Alemanha.
As características básicas do totalitarismo são:
- Culto ao líder - os três regimes possuíam um forte culto ao líder, e sua imagem era espalhada em todos os locais possíveis;
- Unipartidarismo - todos os regimes totalitaristas suprimiam a existência dos partidos, e somente o partido do governo tinha a permissão de funcionar;
- Doutrinação - a população dos regimes totalitários era alvo de intensa doutrinação, que se iniciava com o ensino infantil. Essa doutrinação visava propagar a ideologia do governo;
- Centralização do poder - o poder político no totalitarismo é centralizado no líder e/ou partido;
- Uso do terror - o terror era uma arma dos regimes totalitários para amedrontar seus opositores e perseguir grupos enxergados como "inimigos do Estado";
- Censura - a censura era uma prática comum a jornais e à população em geral. Regimes totalitários não aceitavam críticas e não aturavam a existência de uma oposição;
- Militarização - exaltação do exército e militarização da sociedade;
- Criação de inimigos internos e/ou externos - esse mecanismo era utilizado como distração ou justificativa para explicar as ações e o autoritarismo do regime;
- Nacionalismo exacerbado - o nacionalismo no totalitarismo assumia um viés extremista que pregava a exclusão e perseguição de outros povos ou etnias.
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Líderes frequentemente acusados de governar regimes totalitários (da esquerda para a direita e de cima para baixo): Joseph Stalin (ex-secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética), Adolf Hitler (ex-Führer da Alemanha Nacional Socialista), Mao Tsé-tung (ex-presidente do Partido Comunista da China), Benito Mussolini (ex-Duce da Itália) e Kim Il-sung (eterno presidente da Coreia do Norte)
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Democracia liberal em xeque
A ascensão de regimes autoritários na Europa, entre eles o fascista e o nazista, foi um legado da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), caracterizada por uma disputa de nacionalismos rivais pela hegemonia continental, além de expressar a competição entre os países europeus por colônias na Ásia e na África. Aos poucos, alastrou-se por outros continentes, sobretudo com a entrada dos Estados Unidos no conflito, em 1917, a favor da França e do Reino Unido. A participação estadunidense foi crucial para o armistício, que, na prática, foi a derrota alemã.
Porém, o fato decisivo para a ascensão de ditaduras na Europa Ocidental foi o que ocorreu no Império Russo, que entrou na guerra ao lado de franceses e britânicos, pois era inimigo da Turquia, aliada dos alemães. O Império Russo não era uma democracia liberal, mas um regime absolutista, chefiado pelo czar, que governava um império de várias nacionalidades eslavas, situado em uma região convencionalmente chamada de Eurásia.
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Divisão da União Soviética |
O império czarista era pouco industrializado, dominado por uma aristocracia agrária e mal tinha uma classe operária. No entanto, foi ali que irrompeu a primeira revolução socialista no mundo. O flagelo da guerra levou à queda do czar Nicolau II, que abdicou em 1917, abrindo caminho para uma democracia liberal. Formou-se, então, um governo provisório, mas este não durou muito. O Partido Bolchevique - comunista -, liderado por Vladimir Lênin, aproveitou-se da instabilidade política para tomar o poder. Apoiou-se nos sovietes - conselhos ou associações operárias - e, em parte, nos camponeses e nos soldados, que não aguentavam mais lutar em uma guerra que não era deles.
Ainda em 1917, os bolcheviques conquistaram o poder na Rússia. Tiveram que enfrentar uma guerra civil contra os defensores do czarismo, que durou até 1923, mas venceram. As classes dirigentes da Europa Ocidental ficaram horrorizadas com a emergência de um regime que ameaçava o capitalismo, sobretudo com a possibilidade de uma revolução que se pretendia permanente e internacional, em nome da classe operária mundial.
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Soldados e civis se manifestando durante a Revolução Russa de 1917 |
O temor da burguesia europeia diante do bolchevismo foi essencial para a ascensão de movimentos anticomunistas de caráter autoritário. Partidos comunistas surgiram em vários países, mas na Itália e na Alemanha apareceram com força. Na Itália, não tentaram uma revolução, mas disputaram eleições com bom desempenho em várias regiões. Na Alemanha houve tentativas de golpes revolucionários, como em Munique e Berlim. Ao fracassar nessas tentativas, passaram a disputar eleições, também com desempenho cada vez melhor.
Foi nesse contexto que se organizaram movimentos nacionalistas contra o internacionalismo soviético. Esses movimentos, embora condenassem as desigualdades do capitalismo, defendiam os interesses da burguesia contra uma eventual revolução comunista. Assim, em 1919, surgiu na Itália o movimento fascista, liderado por Benito Mussolini (1883-1945), ex-socialista, grande orador e com programa anticomunista. Sua força derivava de milícias uniformizadas - os camisas-negras -, que atacavam os comunistas em toda parte.
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Bolchevique (1920), por Boris Kustodiev |
Na Alemanha, organizou-se o Partido Nacional-Socialista, ou nazista, liderado por Adolf Hitler (1889-1945). Esse partido dizia-se revolucionário e socialista, mas defendia um socialismo nacional, ao contrário do soviético, considerado inimigo. Hitler chegou ao poder como primeiro-ministro, em 1933, com o suporte das classes dominantes da Alemanha. No ano seguinte, já havia acumulado todos os poderes do país e passou a comandar a destruição da democracia alemã.
A revolução soviética, de um lado, e as revoluções fascista e nazista, de outro, puseram em xeque a legitimidade da democracia liberal que prevalecia na Europa desde a segunda metade do século XIX. Mesmo nos países em que a democracia liberal se manteve, como a França e o Reino Unido, surgiram movimentos inspirados no fascismo e no nazismo.
O anticomunismo das burguesias urbanas ou rurais da Europa Ocidental e o medo que tinham de perder seus privilégios abriram caminho para o questionamento do regime democrático representativo. Essa ideia alastrou-se por Espanha, Portugal, Escandinávia, Europa Oriental e América Latina.
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Durante o auge do totalitarismo (décadas de 1920 e 1930), uma série de regimes democráticos ruiu para o autoritarismo |
FACISMO: NACIONALISMO AUTORITÁRIO A participação da Itália na Primeira Guerra Mundial ao lado da França e do Reino Unido ficou conhecida como "vitória mutilada". Isso porque, apesar de integrar a coligação vitoriosa, não foi atendida em suas reivindicações territoriais. Além disso, o país conheceu uma inflação sem precedentes que empobreceu não apenas a classe trabalhadora, mas também a classe média urbana e os pequenos proprietários rurais. O contraste entre o norte industrial e o sul agrícola também provocava forte desequilíbrio econômico do país.
Movimento fascista
A instabilidade socioeconômica impulsionou a radicalização política, que colocou os partidos liberal-democratas em segundo plano. No campo da esquerda, o Partido Socialista Italiano, com forte base operária, alcançou 32% dos votos nas eleições parlamentares. A ascensão dos socialistas favoreceu greves por melhores salários e condições de trabalho, paralisando a indústria em 1920. Além disso, armazéns e lojas foram saqueados pela multidão. Foi nesse contexto que a ala à esquerda do Partido Socialista fundou, em 1921, o Partido Comunista Italiano. Discordando da direção socialista, os dirigentes adotaram um programa revolucionário, estimulado pela vitória da revolução bolchevique.
O crescimento político de comunistas e socialistas levou as classes burguesa e agrária a apoiarem alternativas políticas para manter a ordem capitalista. Assim, essas classes apoiaram o fascismo, que fortaleceu suas bases com operários desempregados e membros da classe média empobrecida. a milícia fascista cresceu recrutando militares de baixa patente ou reformados, jovens pequeno-burgueses e criminosos comuns. No início de 1921, os esquadrões fascistas destruíram centenas de seções socialistas e sindicatos ligados a partidos de esquerda.
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Logotipo do Partido Nacional Fascista |
Mas Mussolini percebeu que, para ampliar suas bases sociais, era preciso adotar uma linha mais legalista. Estabeleceu, então, uma trégua com o Partido Socialista e a Confederação Geral do Trabalho e conteve a violência dos seus esquadrões. Fundou o Partido Fascista Italiano, que alcançou 200 mil filiados. As lideranças liberais viam os fascistas com bons olhos naqueles "anos vermelhos", assim chamados em razão da ascensão dos partidos de esquerda. O objetivo dos liberais era usar o fascismo para derrubar os comunistas e os socialistas, e depois controlá-lo. Nas eleições de 1921, o desempenho dos fascistas cresceu a ponto de elegerem 35 deputados. Os socialistas perderam trinta, mas os comunistas elegeram quinze deputados. A esquerda continuava forte, embora dividida entre as opções revolucionária ou democrática, e isso favoreceu o fascismo.
Em 1922, membros do Partido Fascista reunidos em Nápoles decidiram fazer uma manifestação em Roma, partindo de várias cidades, para pressionar pela participação fascista no governo liberal. Precedia da ocupação de prédios públicos e estações ferroviárias, a Marcha sobre Roma ocorreu em 28 de outubro de 1922 e não encontrou resistência, sendo um enorme sucesso. O rei escolheu Mussolini como primeiro-ministro em 30 de outubro. Iniciou-se, assim, a escalada do fascismo no Estado italiano.
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Marcha sobre Roma - movimento que levou o fascismo ao poder na Itália |
O fascismo no poder
Entre 1922 e 1925, o fascismo conviveu com as instituições liberais do país, mas reativou sua milícia para intimidar a oposição. Governos locais de orientação socialista foram dissolvidos e a imprensa foi censurada. A polícia colaborava com os militantes nos ataques aos comunistas.
Em 1924, o líder socialista Giacomo Matteotti (1885-1924) foi sequestrado e morto pelos camisas-negras depois de proferir um discurso, no parlamento, contra a violência dos fascistas nas eleições parlamentares daquele ano, nos quais os fascistas obtiveram 65% dos votos.
Mussolini recusou a responsabilidade pelo crime, mas os deputados antifascistas abandonaram o parlamento, exigindo a volta da legalidade. Pediram a intervenção do rei, que apelou para a "concórdia nacional". O resultado foi o aniquilamento das oposições e o estabelecimento da ditadura, prisão, exílio e morte de lideranças de esquerda. Em outubro de 1925, o sindicalismo livre foi liquidado, abolindo-se o direito de greve. A primeira grande medida do fascismo foi o chamado corporativismo na administração das relações trabalhistas.
Ainda em 1925, o Estado declarou a ilegalidade de todos os partidos políticos, exceto o fascista. Mesmo este foi subordinado ao Estado, criando-se um Conselho Fascista como elo entre o partido e Mussolini. Na prática, o partido foi estatizado e passou a controlar o Estado. A democracia liberal entrou em colapso e, apesar de a monarquia ter sido mantida, o rei era uma figura decorativa.
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Giacomo Matteotti - político socialista italiano, em foto da década de 1920 |
Em 1929, o Estado convocou um plebiscito para que a população avaliasse o governo. Mussolini obteve cerca de 98% dos votos, tornando-se o duce (derivado de dux, termo utilizado na Roma antiga e que significa "chefe") - chefe do partido, do Estado e da nação. As democracias ocidentais viram com bons olhos a ascensão de Mussolini, sobretudo graças à ofensiva anticomunista. Os jornais britânicos e franceses o apresentavam apenas como um personagem extravagante, embora não considerassem que tal regime pudesse servir de modelo para outros países. A avaliação feita pelos jornais internacionais ajudou a naturalizar um comportamento autoritário que ameaçava a ordem democrática, dando forças ao regime. O tempo mostraria que estavam enganados em naturalizá-lo.
O mito da romanidade foi levado ao extremo, instituindo-se uma autêntica glorificação do Império Romano, como uma alusão ao tempo em que um império poderoso, com sede no mesmo local da então capital italiana, Roma, governava o mundo ocidental. A sociedade foi fascistizada, a começar pela juventude, organizada em classes de idade: os figli della lupa ("filhos da loba", crianças), os balilla (adolescentes) e os avanguardisti (jovens). O lema imposto à juventude era simples: "Crer, obedecer, combater".
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Crianças que faziam parte dos figli della lupa ("filhos da loba") |
A universidade livre também foi devorada pelo regime, o que deu origem aos Grupos Universitários Fascistas. Os professores foram obrigados a jurar fidelidade ao fascismo, sob pena de demissão. Manifestações públicas multiplicaram-se em louvor ao fascismo e ao duce. O fascismo tornou-se consenso na sociedade italiana, e as oposições foram eliminadas pelo terror.
A política econômica do fascismo facilitou a adesão de vários grupos sociais. A política fiscal protecionista estimulou a indústria de bens de consumo e o mercado interno a ponto de a Itália ter sofrido menos com a crise mundial de 1929 do que outros países. Mesmo assim, o desemprego saltou de 300 mil para 1,23 milhão em 1929. Em 1935, voltou a baixar para 765 mil, devido à intervenção do Estado, com sua forte política de obras públicas, sobretudo rodovias, conjugada à redução dos salários.
A criação do Instituto para a Reconstrução Industrial, em 1933, deu forte impulso aos setores siderúrgico, mecânico e de construção naval, ampliando o número de empregos. Ele foi criado com fundos estatais, que chegaram a concentrar 22% do capital das empresas. No campo, o regime promoveu a Batalha do Trigo, programa destinado a tornar o país autossuficiente na produção de cereais e fixar os agricultores no campo. Mussolini também instituiu tarifas protecionistas para deter a importação de alimentos e favoreceu as pequenas propriedades e os sistemas de parceria. Foi a chamada política da ruralização.
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Benito Mussolini (1883-1945) |