quarta-feira, 3 de abril de 2019

SAIBA UM POUCO MAIS SOBRE A COLÔMBIA:ÚNICO PAÍS DA AMÉRICA DO SUL BANHADO POR DOIS OCEANOS

  Situada no noroeste da América do Sul, a Colômbia, cujo nome foi dado em homenagem a Cristóvão Colombo, tem dois terços de seu território coberto por florestas tropicais. O país possui uma posição privilegiada em virtude da ligação tanto com o Oceano Pacífico quanto com o Atlântico, pelo Mar do Caribe. Sua localização representa um importante ponto de passagem no continente.
  Antes da chegada dos espanhóis às Américas, a região onde hoje está a Colômbia era habitada por diferentes tribos indígenas. Em 1810, as jurisdições de Nova Granada expulsaram as autoridades espanholas, exceto em Santa Marta, Riohacha e os atuais Panamá e Equador. O levante de Bogotá, de 20 de julho desse ano, é comemorado como a data de independência da Colômbia. A capital colombiana, a essa época, contava com cerca de 50 mil moradores. Havia uma rivalidade entre os grupos que propugnavam uma federação e aqueles que tentavam centralizar a autoridade.
Mapa da Escócia
HISTÓRIA
  Os achados arqueológicos mais antigos foram encontrados nos abrigos na rocha Chiribiquete. Nesse local foram datadas pinturas rupestres de até 19.510 anos Antes do Presente (A.P.). Em Pubenza, no departamento de Cundinamarca, se encontraram oito ferramentas em um nível estratigráfico datada de 16.400 A.P. No sítio El Jordán, no departamento de Tolima, a presença humana tem sido calculada em 12.900 anos A.P. Nos abrigos da rocha El Abra, localizado na Savana de Bogotá, se encontraram instrumentos líticos em 1967, datados de aproximadamente 10.460 a.C. Outros achados paleoíndios se realizaram também em Cundimarca, Antioquia, Popayán, Yondó e Medelim.
Rocha Chiribiquete, Colômbia
  Os primeiros rastros de culturas de  cabaças e do tubérculo ariá, na região, remontam a 10 mil anos a.C. Desde 7 mil anos antes do presente, se desenvolveram as primeiras sociedades sedentárias agrícolas, segundo achado em Porto Formiga, perto da atual Cartagena das Índias. Diversos povos ameríndios, com níveis de desenvolvimento diferentes, ocupavam o território colombiano, sendo que o mais avançado deles na época da conquista espanhola eram os índios muíscas (chibchas). No ano em que a América foi descoberta por Colombo, em 1492, estima-se que a população indígena somava 850 mil pessoas, distribuídas em diversos grupos, muitos deles hábeis artesãos que deixaram a marca de sua existência moldada em ouro.
  Em San Agustín, próximo à nascente do Rio Magdalena, encontraram-se vestígios de uma das mais fascinantes e menos estudadas civilizações do Hemisfério Ocidental, extinta muitos séculos antes da chegada dos europeus.
  Os povos das regiões planas e litorâneas organizavam-se socialmente como confederações de tribos, levavam uma vida muito simples e foram extintos pelos colonizadores espanhóis. Já nas terras andinas, havia culturas mais desenvolvidas, entre as quais se destaca os chibchas, que ocupavam os pontos mais altos da parte central da Cordilheira Oriental, na parte alta do rio Magdalena. De cultura similar à inca, eram exímios agricultores, cultivando milho, batata e algodão. Não chegaram a formar um império unitário, mais apresentavam muitos traços culturais comuns. Atingiram grande densidade populacional na savana de Bogotá. Seu centro mais importante era Bacatá, próximo à posterior capital colombiana.
Reprodução da vida econômica dos chibchas
  Admite-se que o primeiro contato europeu com as terras que hoje correspondem à Colômbia se deu em 1499, quando os navegantes Américo Vespúcio, Juan de la Cosa e Alonso de Ojeda chegaram ao Lago Maracaibo (hoje pertencente à Venezuela) e daí aportaram na Península de Guajira, no Mar do Caribe, que hoje faz parte do território colombiano. Nesse mesmo ano, Alonso de Ojeda dobrou o Cabo de La Vela, na península de La Guajira. Em 1502, durante sua última viagem ao Novo Mundo, Cristóvão Colombo explorou uma parte da costa do Caribe pertencente ao território dos chibchas.
  As primeiras colonizações europeias permanentes foram na costa caribenha, sendo Darién, o primeiro assentamento europeu em território americano, fundado em 1510 por conquistadores espanhóis. Em 1509, o reconhecimento de toda costa sul-americana do Caribe foi feito por Rodrigo de Bastidas que, em 1525, fundou Santa Marta. Após enfrentarem a resistência dos caraíbas no litoral e dos chibchas no altiplano, em 1533, os colonizadores fundaram Cartagena e em seguida, em 1536, no altiplano andino, Santa Fé de Bogotá.
Castelo de São Filipe, em Cartagena
  A região foi inicialmente parte do Vice-reinado do Peru. Bogotá, que antes da conquista era o principal núcleo dos reinos chibchas, transformou-se, em 1550, na audiência de Santa Fé de Bogotá, dependente do Vice-reino do Peru e centro administrativo de uma região que abrangia Nova Granada, Popayán, Antioquia, Cartagena, Santa Maria, Riohacha, os Llanos de Casanare e San Martín.
  A partir de 1564, os presidentes da audiência de Santa Fé gozaram de poderes semelhantes aos dos vice-reis. As populações autóctones diminuíram enormemente, exterminadas pelos novos senhores das terras e por doenças por eles transmitidas, como a epidemia de varíola de 1587-1589.
  As culturas indígenas se transformaram rapidamente em contato com a civilização. O catolicismo foi imposto e predominou sobre as religiões autóctones. No século XVII, o chibcha, língua indígena que tivera o maior número de falantes, havia caído em desuso nas zonas mais povoadas do país, e a miscigenação ganhou forte impulso. Nas planícies do Chocó e na costa do Caribe, foram introduzidas a mão de obra escrava negra, destinada à extração de ouro e ao trabalho nas plantações de cana-de-açúcar.
  Além da exploração de ouro, prata e pedras preciosas - entre elas, esmeraldas -, introduziu-se a agricultura de algodão e tabaco, destinados à exportação, com a utilização da mão de obra escrava africana.
Barranquilla - com uma população de 1.209.115 habitantes (estimativa 2019) é a quarta maior cidade da Colômbia
  A Igreja Católica, com a atuação de missionários franciscanos, dominicanos e jesuítas, desempenhou um importante papel na catequese e na administração. Em 1620, a Inquisição instalou-se em Cartagena, cidade que logo se tornaria um baluarte do império espanhol.
  A dependência administrativa de Lima encerrou-se com a criação do Vice-reino de Nova Granada, vigente primeiro durante um breve período, de 1717 a 1723, e depois, definitivamente, a partir de 1740. O vice-rei estabelecido em Bogotá, tinha autoridade sobre a Venezuela, o Equador e o Panamá, assim como a Colômbia. A superveniência do novo status político representou o início de uma nova era. Nas décadas seguintes, a Coroa espanhola procurou fortalecer o império mediante maior centralização da administração e desenvolvimento do comércio. A população aumentou e começou a consolidar-se uma nova classe social com crescente poder: a dos criollos, descendentes de espanhóis nascidos na colônia.
Ataque espanhol a Cartagena das Índias, em 1553
  De 1785 a 1810, os criollos de Nova Granada não ofereceram resistência às reformas políticas e econômicas. Assim, no Levante dos Comuneros, em 1781, os socorrenses opuseram-se às reformas, mas em 1809, propuseram medidas favoráveis ao sistema de livre comércio e à abolição da escravatura. As reformas educacionais desempenharam papel de relevo nessa modificação de perspectiva dos granadinos. Como vice-rei, o arcebispo Caballero y Góngora (1782-1788) concentrou-se principalmente na educação, modernizando os curriculum e criando uma escola de minas. Nova Granada permaneceu como vice-reinado da Espanha até a Batalha de Boyacá, em 1819, durante as guerras de independência da América do Sul espanhola, quando junto com a Venezuela, recebeu Simón Bolívar o nome de Estados Unidos da Colômbia.
Batalha de Boyacá
  Os excessos fiscais do governo espanhol provocaram, a partir de 1780, movimentos insurrecionais, que, devido às incertezas quanto ao destino do império após a invasão da Espanha pela França em 1808, se transformaram em verdadeiras rebeliões armadas em 1810.
  Inspirada na Revolução Francesa e no movimento de independência das colônias norte-americanas, a população de Nova Granada se uniu à corrente revolucionária para obter a independência.
  Em 1810, as jurisdições de Nova Granada expulsaram as autoridades espanholas, exceto em Santa Marta, Riohacha e os atuais Panamá e Equador. O Levante de Bogotá, de 20 de julho de 1810, é comemorado como a data de independência da Colômbia. A capital colombiana, a essa época, contava com uma população de cerca de 50 mil habitantes. A rivalidade entre os grupos que propugnavam uma federação e aqueles que tentavam centralizar a autoridade dos novos governos provocou uma série de guerras civis, que facilitou a reconquista, pela Espanha, das Províncias Unidas de Nova Granada, entre 1814 e 1816.
  As execuções e castigos praticados pelos espanhóis favoreceram a unidade dos setores libertários. Um grupo de patriotas, chefiado por Francisco de Paulo Santander, iniciou a luta armada, com apoio de Simón Bolívar. Em 1819 realizou-se o Congresso de Angostura (hoje Ciudad Bolívar, na Venezuela) com delegados de Casanare e algumas províncias venezuelanas, no qual foi proclamada a criação da República da Grã-Colômbia, formada pelo que anteriormente fora o vice-reino de Nova Granada. No mesmo ano, Bolívar invadiu Nova Granada e derrotou os espanhóis na Batalha de Boyacá, em 7 de agosto. Seguiram-se a Batalha de Carabobo (Venezuela), em 1821, e a Batalha de Pichincha (Equador), em 1822, também vencidas por Bolívar.
Mapa da Grã-Colômbia, em 1821
  O Congresso de Cúcuta, em 1821, aprovou uma Constituição na qual se estabelecia uma forma republicana de governo e que elegeu Simón Bolívar como o primeiro presidente. Em 1822, sob a liderança de Bolívar, Nova Granada, Panamá, Venezuela e Equador foram unidos como a República da Grande Colômbia, que fracassaria em 1830. Libertado o território colombiano, Bolívar concentrou sua ação no Peru, deixando Santander como vice-presidente da Grande Colômbia. Em 1826, com a expulsão definitiva dos espanhóis do continente, Bolívar regressou a Bogotá, onde suas ideias centralizadoras se chocaram com o federalismo de Santander. Bolívar tornou-se ditador, mas sucessivos atentados e revoltas, além do descontentamento de grande parte de seus antigos partidários, obrigaram-no a renunciar, em 1830. Em poucos meses, o que havia sido o vice-reino de Nova Granada fragmentou-se em três Estados independentes: Venezuela, Equador e a República de Nova Granada, depois Colômbia, na qual estava incluído o território do Panamá. A história política do país foi, desde então, basicamente um registro de conflitos, muitas vezes violentos, entre elementos liberais e conservadores para determinar a política de governo.
Simón Bolívar (1783-1830)
  Em 1832 foi promulgada, por Francisco de Paula Santander, a Constituição de Nova Granada, garantindo os direitos civis e a separação entre Igreja e Estado, sendo emendada em 1858 para permitir a confederação de nove estados dentro de uma república central, agora conhecida como Confederação Granadina.
  A partir da guerra civil de 1840-1842 e de hostilidades entre os partidos Liberal e Conservador, instituiu-se uma federação em que o governo central teve poderes muito reduzidos. A Constituição de 1858 restaurou um govenro nacional forte. A rejeição da Carta pelos liberais levou à chamada "anarquia organizada".
  Depois da vitória dos liberais na guerra civil, na presidência de Tomás Cipriano de Mosquera y Arboleda (1861-1864), os bens do clero foram confiscados e adotou-se uma Constituição Federal (1863), na qual se estabelecia a união dos Estados soberanos nos Estados Unidos da Colômbia.
  Entre 1880 e 1894, os conservadores prevaleceram e retiveram o poder. Um segmento do Partido Liberal, encabeçado pro Rafael Nuñez, passou a defender uma reforma constitucional e aliou-se aos conservadores. Em 1886, proclamou-se uma nova Constituição, de caráter centralizador, que aboliu a soberania dos Estados e estabeleceu o sistema presidencial na então denominada República da Colômbia. A Carta haveria de manter-se, com modificações, durante todo o século seguinte. O presidente Nuñez devolveu à Igreja Católica os privilégios cuja supressão causara uma guerra civil na década anterior (concordata de 1883). Com sua morte, novas discórdias civis ocorreram entre 1884 e 1895.
Rafael Nuñez (1825-1894)
  Anos depois, o país se debateria na mais sangrenta das guerras civis colombianas: a Guerra dos Mil Dias (1899-1903). Em 1903, após várias interferências dos Estados Unidos, o Panamá constituiu-se como país independente, apropriando-se de parte do território colombiano.
  O mandato do general Rafael Reyes na presidência da república (1904-1909) marcou o princípio de uma lenta recuperação econômica, baseada no café e no petróleo. Em 1914, a Colômbia reconheceu oficialmente a independência do Panamá e recebeu uma indenização no valor de 25 milhões de dólares dos Estados Unidos. O aumento do comércio exterior, com a exportação de café e o início de exploração de jazidas, conduziu a um processo de industrialização e prosperidade que seria interrompido pela crise mundial  de 1929. Os preços do café, do petróleo e da banana, os principais produtos de exportação,  caíram vertiginosamente, o que levou à economia do país ao colapso.
Cartagena das Índias - com uma população de 967.704 habitantes(estimativa 2019) é a quinta maior cidade da Colômbia
  O Partido Conservador, no poder desde o final do século XIX, perdeu em 1930 a presidência da república para o Partido Liberal, que se manteve no governo até 1946. Nas eleições realizadas nesse ano, os liberais se dividiram e lançaram dois candidatos, propiciando a vitória do conservador Mariano Ospina Pérez. Em 1948, a Colômbia firmou uma união econômica com a Venezuela e o Equador. Apesar de vitoriosos na eleição, os conservadores só obteriam o controle do Congresso ao impor, em 1949, o estado de sítio, que durou até 1958.
  A violência estourou novamente em 1948 e passou da área urbana para a rural. Em 9 de abril, o político e advogado colombiano Jorge Eliécer Gaitán, líder dos trabalhadores e popular candidato derrotado às eleições presidenciais, foi assassinado em pleno centro de Bogotá. Este acontecimento, que passou para a história do país com o nome de "bogotazo", foi o mote para a maior rebelião da história da Colômbia, que duraria uma década e que levou a mais de 250 mil mortes, precipitando um governo militar entre 1953 e 1958.
Jorge Eliécer Gaitán (1898-1948)
  Em meio a uma verdadeira guerra civil, o candidato conservador Laureano Gómez ganhou as eleições e tomou posse em 1950. Em 1953, o Partido Conservador propôs uma nova Constituição que previa a imposição de um regime totalitário ao estilo do espanhol Francisco Franco. Os liberais e os conservadores moderados se opuseram a esse projeto, e uma junta militar derrubou o governo. Nomeou-se o general Gustavo Rojas Pinilla como presidente provisório. Em 1954, a Convenção Constitucional o elegeu para mais um período de quatro anos e ele governou por meio de decretos. Embora louvado como paladino da justiça, Rojas Pinilla foi ainda mais arbitrário que seu antecessor. Numa tentativa de restauração do poder civil, liberais e conservadores constituíram uma Frente Nacional, alternando-se no poder, enquanto se expandia uma guerrilha de inspiração castrista.
  Um novo golpe de Estado derrotou Rojas Pinilla em 1957 e um plebiscito incorporou os acordos da Frente Nacional à Constituição, para repartir os cargos de governo e alternar os dois partidos hegemônicos na presidência. Uma democracia semi-representativa foi restaurada e chegou-se a um grau de estabilidade política.
Mudanças territoriais desde a independência da Colômbia
  Nos anos seguintes, a impossibilidade de romper esse esquema de alternância no poder levou muitas lideranças da oposição a aderir aos grupos guerrilheiros, que operavam  no país desde o período conhecido como La Violência (1948-1958) e adquiriram definição ideológica de esquerda nos anos 1960, sob a influência da Revolução Cubana.
  Apesar da coalizão liberal-conservadora, o governo caía em períodos de semiparalisia. No ano de 1958, o presidente Alberto Lleras Camargo instituiu a reforma agrária. Em 1960, a Colômbia passou a fazer parte da ALALC (Associação Latino-Americana de Livre Comércio). Em 1962, assumiu a presidência Guillermo León Valencia. O general Rojas Pinilla foi preso em 1963 sob a acusação de conspirar contra o regime. A crise econômica levou o Congresso a conceder poderes extraordinários a Valencia. A situação continuou a agravar-se no plano político, culminando com a reimplantação do estado de sítio em 1965, após distúrbios estudantis.
Cúcuta - com uma população de 632.583 habitantes (estimativa 2019) é a sexta maior cidade da Colômbia
  Em 1966, começou a gestão de Carlos Lleras Restrepo. A economia recuperou-se com base num planejamento correto e em reformas políticas essenciais. Ao final de seu governo, a economia apresentava um crescimento anual de 6,9%. Na eleição de 1970, Misael Pastrana Borrero sagrou-se vencedor, derrotando o ex-ditador Rojas Pinilla. Na eleição de 1974, a presidência passou para Alfonso López Michelsen, também liberal, cujo governo enfrentou problemas econômicos. Em 1978, os liberais venceram por maioria o Congresso e a presidência com Julio Turbay Ayala, mas mantiveram o acordo com a Frente Nacional. Manifestações de descontentamento popular e a violência dos movimentos guerrilheiros de esquerda aliaram-se contra o Presidente eleito. O agravamento da situação provocou a adoção do estado de emergência.
  Durante a década de 1980, a Colômbia obteve crescimento econômico e um bom desempenho na administração da dívida externa, mas o comércio de drogas dominou cada vez mais os assuntos internos e as relações com os Estados Unidos.
Soledad - com uma população de 557.871 habitantes (estimativa 2019) é a sétima maior cidade da Colômbia
  Em 1982, o candidato conservador Belisario Betancur Cuartas ganhou as eleições presidenciais. Neste mesmo ano foram anistiados os presos políticos da guerrilha de esquerda. A campanha de pacificação nacional do presidente Belisario Betancur foi dificultada pelo poder dos traficantes de tóxicos, o chamado Cartel de Medelim, que em 1970 se implantara no país como poder paralelo. O Ministro da Justiça da Colômbia foi assassinado em 1984 por ter dado início à campanha antidroga. Mesmo assim, o presidente em exercício deu um grande impulso a esta campanha que levou ao desaparecimento do seu ministro; entretanto, durante o ano de 1985, as guerrilhas recuperaram a força e a luta contra o narcotráfico foi perdendo o ímpeto. Nesse mesmo ano, o país foi abalado por duas tragédias: a invasão do Palácio da Justiça por sediciosos, com a morte de mais de 90 pessoas entre sequestradores e sequestrados, e a erupção do Nevado del Ruiz, que levou à morte cerca de 25 mil pessoas.
Exército invade o Ministério da Justiça da Colômbia após a invasão por sequestradores
  Em 1986, ocorreu o fim da Frente Nacional. O Partido Liberal venceu as eleições e o presidente Virgílio Barco Vargas declarou uma gigantesca ofensiva contra os traficantes de cocaína do Cartel de Medelim, após os assassinatos de um ministro do Supremo Tribunal e do principal candidato que concorreria à eleição de 1990, Carlos Galán Sarmiento, em 18 de agosto de 1989.
  Depois de uma campanha em que foram assassinados os três candidatos presidenciais, César Garviria Trujillo, do Partido Liberal, foi eleito presidente em 1990. Garviria apoiou a Assembleia Constitucional, que elaborou uma nova Carta, a qual entrou em vigor em 1991. Seguiu-se um acordo com alguns grupos guerrilheiros (principalmente o M-19) para desmobilização, a fim fazerem parte do projeto político, enquanto vários traficantes de drogas foram presos. Em julho de 1991, foi descoberto um grande campo de petróleo.
Erupção do Nevado del Ruiz, em 1985, que levou à morte mais de 25 mil pessoas
  Uma campanha bombista foi levada a cabo pelos barões da droga em retaliação pelo confisco de propriedades e extradição para os Estados Unidos de membros dos cartéis. O presidente dos Estados Unidos, George Bush, foi um dos aliados antidroga na Colômbia, no ano de 1990.  Vários cabecilhas ligados ao tráfico de estupefacientes renderam-se às autoridades e foram presos. Esta onda de prisões, incluiu o líder da cocaína de Medelim, Pablo Escobar, que conseguiu evadir-se da prisão, em julho de 1992, mas foi morto em um tiroteio quando era caçado por soldados e policiais em 1993. O estado de emergência foi declarado um ano depois com o intuito de controlar a situação.
  Em 1994, Ernesto Samper Pizano, do Partido Liberal, foi eleito presidente. Apesar de alguns êxitos parciais na luta contra o narcotráfico, desta vez buscando desmantelar o Cartel de Cali, Samper foi acusado de ter usado dinheiro fornecido por traficantes no financiamento de sua campanha eleitoral. A acusação não foi adiante por falta de provas, mas fez com que o governo dos Estados Unidos negasse a certificação de país aliado na luta contra as drogas à Colômbia e proibisse a entrada de Samper em território norte-americano. Também não tiveram sucesso suas tentativas de iniciar negociações de paz com os movimentos guerrilheiros, que durante o seu governo intensificaram suas ações e ampliaram o controle sobre regiões do interior.
Soldados colombianos comemoram a morte de Pablo Escobar
  Em junho de 1998, foi eleito presidente o conservador Andrés Pastrana, que fez sua campanha prometendo uma profunda reforma das instituições do Estado. Assim que foi empossado, Pastrana conseguiu que os guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) aceitasse sentar à mesa de negociações para discutir a pacificação do país. Para isso, foi necessário aceitar algumas condições, como reconhecer o controle das Farc sobre vários municípios, o que provocou resistências e protestos no seio das forças armadas regulares. Mesmo assim, Pastrana foi adiante e se deixou fotografar no meio da floresta com o veterano líder das Farc, Manuel Marulanda Vélez, conhecido como "Tirofijo" por sua lendária pontaria.
Vídeo sobre a Colômbia
  Em janeiro de 1999, um terremoto de seis graus na escala Richter sacudiu a região centro-oeste, onde se encontram os departamentos de Quindío e Risaralda. O sismo provocou a morte de cerca de 875 pessoas e deixou mais de 3 mil feridos e 400 mil desabrigados. Além das perdas humanas, o terremoto afetou a principal região produtora de café do país. O presidente Pastrana decretou estado de emergência militar para conter saques e violência nas cidades de Armênia e Pereira.
Cidade de Armênia após o terremoto de 1999
  Em 2002, assumiu a presidência Álvaro Uribe. Depois da reforma constitucional, que permite a reeleição presidencial consecutiva, Uribe apresentou sua candidatura para um segundo mandato. Em dezembro de 2003, o governo endureceu sua posição diante da guerrilha (Estatuto Antiterrorista) e para isso obteve o apoio dos demais governos latino-americanos. Em 2004 houve a prisão de um membro do estado-maior das Farc, iniciando-se um processo de paz com os paramilitares. Em 2005, instaurou-se uma crise política com a Venezuela.
  Juan Manuel Santos foi eleito para o período 2010-2014 e reeleito em 2014. Em 12 de setembro de 2012, anunciou o início de diálogos de paz com as Farc, em La Habana. O Acordo para a Terminação Definitiva do Conflito Armado foi assinado em Bogotá em 24 de novembro de 2016.
  Em 04 de julho de 2018, durante um discurso transmitido pela TV, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, sofreu a tentativa de um ataque após a explosão de dois drones perto do local aonde o mesmo se encontrava. Maduro acusou a extrema-direita da Venezuela e o presidente Juan Manuel Santos de estarem por trás desse suposto ataque, aumentando as tensões diplomáticas entre os dois países.
Ibagué - com uma população de 538.790 habitantes (estimativa 2019) é a oitava maior cidade da Colômbia
GEOGRAFIA
  Situada a noroeste da América do Sul, em zona tropical, apenas um pequeno trecho de seu território localiza-se no Hemisfério Sul. O seu ponto extremo sul tem coordenada 4º13' S e o ponto extremo norte, 12º30' N. A área territorial da Colômbia é de 1.138.914 km² - um pouco menor que o estado do Pará (1.247.954,666) -, e em sua porção oeste encontra-se trecho da Cordilheira dos Andes; por isso, o país integra a chamada América Andina.
  Sua costa é banhada, a oeste, pelo Oceano Pacífico e, a noroeste, pelo Mar do Caribe, o que favorece a comunicação do país com outras regiões do mundo.
Mapa com as regiões naturais da Colômbia
Regiões naturais da Colômbia
  Distinguem-se no território colombiano três regiões naturais: as Planícies Costeiras (que é dividida em Pacífico e Caribe), a Região Andina e os Lhanos.
1. As Planícies Costeiras (La Costa)
  Há que se distinguir duas planícies costeiras: a do Oceano Pacífico e a do Mar do Caribe ou das Antilhas. Nas terras baixas das planícies do Oceano Pacífico o clima é quente e úmido - as precipitações médias anuais são superiores a 2.000 milímetros, com trechos em que elas superam 3.000 milímetros -, enquanto que nas planícies do Mar do Caribe, de clima menos úmido, essa médias situam-se entre 600 e 1.000 milímetros, com alguns trechos entre 1.000 e 1.400 milímetros.
  A costa caribenha colombiana é mais conhecida pelas belas praias; cidades como Barranquila, Cartagena e Santa Marta são estações balneárias e atraem muitos turistas. Devido à sua bela arquitetura colonial, Cartagena também foi considerada patrimônio da humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
  Quanto ao povoamento, a costa caribenha apresenta, em suas áreas urbanas, densidades demográficas predominantemente entre 50 e 100 hab./km² e mais de 100 hab./km². Entretanto, na costa do Pacífico, vão de menos de 1 a 10 hab./km².
Lago Tota - localizado na região natural de La Costa
2. A Região Andina
  Na Colômbia, a Cordilheira dos Andes se divide em três conjuntos de alinhamento: a Cordilheira Ocidental, mais próxima ao Oceano Pacífico, a Cordilheira Central e a Cordilheira Oriental, onde se situa Bogotá, a capital do país, a 2.630 metros acima do nível do mar.
  Entre as cordilheiras Ocidental e Central estende-se o vale por onde corre o Rio Cauca, com 1.250 quilômetros de extensão, afluente do Rio Magdalena (1.550 km), que, por sua vez, corre entre as cordilheiras Central e Oriental. Esses rios são importantes vias de comunicação, pois colocam em contato o altiplano colombiano e as baixas planícies costeiras do Mar do Caribe.
  Na Região Andina encontra-se o ponto mais elevado do país, o Pico Cristóbal Colón, cerca de 5.700 metros de altitude.
Pico Cristóbal Colón - ponto mais elevado da Colômbia
  A Região Andina é a mais populosa e povoada da Colômbia. Aí se situam as cidades de Bogotá, Cali e Medelim, entre outras de grande importância econômica. Essas terras altas foram o berço dos chibchas, povo pré-colombiano destruído em grande proporção com a chegada dos espanhóis em 1538.
  O clima dessa região varia segundo a altitude. Nos vales com altitudes entre 500 e 2.500 metros, o clima é subtropical; entre 2.500 e aproximadamente 3.000 metros, temperado; entre 3.000 e 4.500 metros, frio de alta montanha; e acima dos 4.500 metros, polar, com cumes montanhosos cobertos de neve.
Tundra alpina, localizada na Região Andina
3. Os Lhanos
  Situados a leste da Cordilheira Oriental, os Lhanos ocupam cerca de dois terços do território colombiano. Cobertos pela Savana e pela Floresta Equatorial - a Floresta Amazônica -, correspondem às vastas planícies onde correm grandes rios que nascem na vertente oriental dos Andes.
  Na sua porção norte, o clima é tropical com menor precipitação anual se comparado à porção sul, onde predomina o clima equatorial quente e úmido. É neste último tipo de clima que se localiza a cidade colombiana de Letícia, que faz fronteira com Tabatinga, no Brasil.
Caño Cristales, na região dos Lhanos
  Há também a região insular, formada pelas ilhas do arquipélago de Santo André, Providência e Santa Catarina, no Mar do Caribe, e as ilhas Malpelo e Gorgona, no Oceano Pacífico, apresentando ecossistema de corais e uma alta diversidade de espécies aquáticas.
Ilha da Providência
  Embora a Colômbia se situe quase inteiramente dentro da faixa tropical, o clima é modificado pela altitude e pela ação dos ventos. Temperaturas altas prevalecem nas áreas mais baixas, caracterizadas pela excessiva umidade e densas florestas. A zona subtropical compreende os vales e encostas entre 450 metros e 1.800 metros de altitude. Daí até os 3 mil metros encontra-se a zona temperada.
Mapa climático da Colômbia
  De modo geral, há duas estações anuais: o inverno úmido e o verão seco. Variam, entretanto, amplamente em época e duração, segundo as diversas regiões. A área mais seca é o extremo norte da península de La Guajira, onde a precipitação média é inferior a 250 milímetros. A área de maior índice pluviométrico, e possivelmente de toda a América do Sul, é a faixa litorânea do Pacífico, sobretudo, perto do divisor de água dos rios San Juan e Atrato, onde a precipitação média excede os 10 mil milímetros e não há estação seca.
Clima desértico, na região de Boyacá
  Os rios mais importantes da Colômbia são o Magdalena e seu tributário, o Cauca, que nascem nos altiplanos dos Andes, próximo ao Equador. O rio Magdalena, nasce no sudoeste da Colômbia e, em seu percurso, atravessa o país do sul ao norte, desaguando no Mar das Antilhas, perto de Barranquila. Aproximadamente na metade do seu curso de 1.528 quilômetros, o Magdalena perde-se numa vasta rede de planaltos (ciénagas), lagos e lagoas.
Rio Magdalena, nos Andes colombianos
  O Cauca, parcialmente navegável, apresenta areias auríferas que são exploradas desde 1909. Nasce no Maciço Colombiano e deságua no rio Magdalena. No seu percurso, banha mais de 180 cidades. Em sua bacia hidrográfica desenvolve-se várias atividades econômicas, principalmente agrícola. É no rio Cauca que se situa a barragem Hidroituango, que em maio de 2018 entrou em grave risco de rompimento, fazendo com que mais de 25 mil pessoas se evadissem de suas casas.
Rio Cauca, perto de Puerto Valdívia
  Outros rios presentes no território colombiano são: o Atrato e o  Sinú (que correm para a costa norte e são ambos navegáveis), os rios Truandó e Salaqui (que são de curta dimensão e deságuam no Pacífico) e os rios das Grandes Planícies Ocidentais, que deságuam no Orinoco e no Amazonas, com destaque para os rios Meta, Guaviare, Vaupés e Caquetá.
Rio Atrato - proporcionalmente ao seu tamanho, é o rio mais caudaloso da Colômbia e do mundo
  A floresta tropical recobre as encostas e vales das cordilheiras, grande parte das planícies da costa norte e a porção meridional das Planícies Orientais. Os produtos florestais constituem um potencial econômico inexplorado, sendo numerosas as espécies de palmeiras e orquídeas. Na zona subtropical há grande variedade de frutas e a zona temperada é a região agrícola do país. Acima dos 3 mil metros a vegetação é de pequeno porte, seguida, mais acima, de espécies alpinas.
Tundra alpina, no Páramo de Sumapaz
ECONOMIA
  A Colômbia apresenta uma economia diversificada - produção e exportação de recursos minerais, incluindo carvão mineral e petróleo, além de certo desenvolvimento industrial. O país apresenta elevada concentração de renda, ocasionando uma situação de pobreza para milhões de pessoas, especialmente camponeses indígenas. Esse é um dos motivos que fazem o país apresentar os maiores índices de conflitos internos da América. Mas, nos últimos anos, a Colômbia tem melhorado seus indicadores sociais e diversificado sua economia, ampliando as exportações.
Bucaramanga - com uma população de 531.886 habitantes (estimativa 2019) é a nona maior cidade da Colômbia
  A economia da Colômbia está voltada para o setor primário. Na agricultura,  predominam as culturas tropicais, com destaque para o cultivo de café, atividade em que o país é o segundo maior produtor mundial, atrás do Brasil. O cultivo do café foi responsável pela ocupação das terras do interior do país. Outros cultivos importantes são o da banana e do cacau, além da cana-de-açúcar, do algodão e do milho.
  No contexto econômico da América do Sul, em termos de capacidade produtiva e geração de PIB, a Colômbia fica atrás apenas do Brasil e da Argentina.
Soacha - com uma população de 472.868 habitantes (estimativa 2019) é a décima maior cidade da Colômbia
  No extrativismo mineral destaca-se a extração de petróleo, gás natural e carvão mineral. Na Colômbia são significativas as reservas de petróleo (20% das exportações do país), gás natural, carvão mineral (40% das reservas conhecidas na América Latina), níquel e ouro. Além disso, 95% das esmeraldas que abastecem o mercado mundial saem desse país.
  Embora o setor petroquímico seja importante, as indústrias são majoritariamente de bens de consumo. Destacam-se as indústrias químicas, têxtil, de alimentos, de couro e de máquinas.
El Cerrejón - a maior mina de carvão em operação da América Latina
  Entre altos e baixos, na última década a Colômbia recuperou a capacidade de fazer a economia crescer, apresentando elevação considerável no PIB. Governo e sociedade, aliados em programas de cidadania, segurança e infraestrutura urbana, estimularam o consumo e aqueceram a economia. Cidades como Bogotá, por exemplo, melhoraram consideravelmente as condições de vida da população com medidas que vão do aumento da segurança à urbanização.
  A economia colombiana tem recebido muitos investimentos externos e o país vem procurando diversificar os parceiros de comércio exterior. Empresas brasileiras também vêm fazendo grandes investimentos na Colômbia. Na pauta de exportações figuram principalmente o café, o petróleo, o carvão mineral, o açúcar, esmeraldas, produtos químicos e têxteis.
Porto da cidade de Cartagena das Índias
POPULAÇÃO
  A população da Colômbia é marcada pela miscigenação entre as raças indígenas, negra e branca de origem europeia. Na composição da população predominam os ameríndios (58%), seguidos por descendentes de europeus ibéricos, principalmente espanhóis (20%), eurafricanos (14%), afro-americanos (4%), ameríndios (1%) e outros grupos (3%).
  No país existem mais de 50 grupos indígenas. Segundo estimativas, são mais de 400 mil índios vivendo no território colombiano.
Vários grupos indígenas compõem a população colombiana
CULTURA
  A Colômbia é berço de diversos gêneros musicais, tais como a Cúmbia e o Vallenato. Os diferentes gêneros de música popular da Colômbia são influenciados por elementos espanhóis, ameríndios e africanos, bem como outras correntes da América Latina, que têm feito da música colombiana uma das mais ricas da região. A música colombiana é promovida principalmente pelo apoio de grandes gravadoras, empresas independentes e, em menor medida, pelo governo da Colômbia, através do Ministério da Cultura.
  A culinária colombiana tem forte presença do milho e tubérculos. Uma fruta comum nos pratos do país é o abacate. Os pratos típicos também levam uma grande quantidade de temperos. A mandioca está presente em diversos pratos e a bebida mais comum e marca da culinária da Colômbia é o café.
Vídeo sobre a cultura da Colômbia
OS CONFLITOS INTERNOS, O NARCOTRÁFICO E OS GRUPOS GUERRILHEIROS
  O narcotráfico e os conflitos internos que envolvem grupos guerrilheiros, paramilitares e o exército nacional são graves problemas para o país. Desde a década de 1950, descontentes com os rumos da política colombiana, formaram-se duas organizações autointituladas socialistas de esquerda: Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e Exército de Libertação Nacional (ELN).
  A Colômbia tornou-se um dos maiores produtores mundiais de cocaína, que é exportada ilegalmente em grande quantidade para os Estados Unidos. O governo do país era controlado pelos cartéis de drogas.
  O programa de desarmamento e reintegração de combatentes e paramilitares do governo federal colombiano tem como objetivo fazer com que esses combatentes se entreguem voluntariamente e passem a integrar esse programa de desmobilização. Os Estados Unidos enviaram recursos financeiros e militares à Colômbia. As relações entre esses países estreitaram-se a partir de 2002, com a criação do Plano Colômbia no governo de Álvaro Uribe, cujo objetivo era combater o tráfico de drogas e as Farc.
  O plano resultou na prisão dos principais chefes do narcotráfico e na redução significativa das Farc. No entanto, a produção e o tráfico de drogas permaneceram em plena atividade, o que levou a denúncias de envolvimento do governo Uribe com essa ação criminosa e com a violência dos paramilitares. O Plano Colômbia passou a ser desacreditado pela população nos governos seguintes.
  O maior grupo guerrilheiro são as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
Mapa da Colômbia com as principais áreas de conflitos no país
As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc)
  Quando se formou em 1964, era um grupo de esquerda cujo objetivo era derrubar o governo e a classe dominante para implantar o socialismo no país, mas aos poucos desenvolveram ligações com o narcotráfico e passaram a ter domínio de processos de produção e comercialização da cocaína, controlando importantes regiões do país. Sua ação é extremamente violenta, com ataques armados contra alvos colombianos, atentados a bomba aos escritórios norte-americanos, sequestros e assassinatos.
Bandeira das Farc
  Um dos episódios mais conhecidos na história recente dessa organização foi o sequestro de Ingrid Betancourt, candidata à presidência do país em 2002. Ela ficou em cativeiro na floresta por seis anos e meio, e foi resgatada, juntamente com outros 14 reféns, pelo exército nacional.
Área de atuação das Farc em território colombiano até 2015
  Há algum tempo, as Farc vêm perdendo força e prestígio pela própria resistência da população e também pelo fato de terem perdido seus principais líderes, assassinados e detidos pelo exército do país.
  Mesmo com a implantação de programas especiais promovidos pelos Estados Unidos na América Latina, que reduziu hectares de cultivo de coca, a Colômbia continua sendo a principal produtora mundial de cocaína.
Guerrilheiros das Farc
O Exército de Libertação Nacional (ELN)
  O Exército de Libertação Nacional da Colômbia (ELN) é uma organização guerrilheira de inspiração comunista e de caráter político-militar, criado em Simacota, em 4 de julho de 1964, por Fabio Vasquez Castaño, inspirado pela experiência bem sucedida da Revolução Cubana. É o segundo maior grupo rebelde da Colômbia.
Bandeira da ELN
  Uma parte significativa dos rendimentos do ELN advêm do "imposto da guerra", a que sujeita as companhias petrolíferas, e dos sequestros a troco de resgate. Esse grupo é o principal responsável pela maioria dos sequestros na Colômbia.
  O ELN teve seu o seu apogeu durante a segunda metade da década de 1990, quando contou com cerca de 35 mil guerrilheiros.
Guerrilheiros da ELN
As Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC)
  As Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC) é um grupo paramilitar colombiano. Foi responsável por retaliações contra os grupos rebeldes Farc e ELN.
  As atividades da organização se caracterizaram pela sua barbárie e anticomunismo, sendo responsável por numerosos assassinatos e massacres de civis e sindicalistas.
  A milícia teve suas raízes na década de 1980, quando milícias foram estabelecidas por chefes do tráfico de drogas para combater sequestros rebeldes e extorsão por parte de guerrilheiros comunistas.
Guerrilheiros da AUC
ALGUNS DADOS SOBRE A COLÔMBIA
NOME: República da Colômbia
INDEPENDÊNCIA: da Espanha
Declarada: 20 de julho de 1810
Reconhecida: 7 de agosto de 1819
CAPITAL: Bogotá
Centro Financeiro de Bogotá
GENTÍLICO: colombiano (a)
LÍNGUA OFICIAL: espanhol
GOVERNO: República Presidencialista Unitária
LOCALIZAÇÃO: América do Sul
ÁREA: 1.138.914 km² - incluindo três distritos especiais e as ilhas de San Andrés e Providência, disputadas com a Nicarágua (25º)
POPULAÇÃO (ONU - Estimativa para 2019): 46.077.850 habitantes (30°)
DENSIDADE DEMOGRÁFICA: 40,45 hab./km² (137°). Obs: a densidade demográfica, densidade populacional ou população relativa é a medida expressa pela relação entre a população total e a superfície de um determinado território.
CRESCIMENTO POPULACIONAL (ONU - Estimativa 2019): 1,27% (105°). Obs: o crescimento vegetativo, crescimento populacional ou crescimento natural é a diferença entre a taxa de natalidade e a taxa de mortalidade de uma  determinada população.
CIDADES MAIS POPULOSAS (Estimativa para 2019):
Bogotá: 9.588.045 habitantes
Bogotá - capital e maior cidade da Colômbia
Medellín: 3.183.201 habitantes
Medellín - segunda maior cidade da Colômbia
Cáli: 2.374.381 habitantes
Cáli - terceira maior cidade da Colômbia
PIB (FMI - 2018): US$ 336,940 bilhões (39º). Obs: o PIB (Produto Interno Bruto), representa a soma (em valores monetários) de todos os bens e serviços finais produzidos numa determinada região (quer sejam países, estados ou cidades), durante um período determinado (mês, trimestre, ano).
PIB PER CAPITA (FMI 2018): US$ 6.084 (81°). Obs: o PIB per capita ou renda per capita é o Produto Interno Bruto (PIB) de um determinado lugar dividido por sua população. É o valor que cada habitante receberia se toda a renda fosse distribuída igualmente entre toda a população. 
IDH (ONU - 2018): 0,747 (90°). Obs: o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) é uma medida comparativa usada para classificar os países pelo seu grau de desenvolvimento econômico e a qualidade de vida oferecida à população. Este índice é calculado com base em dados econômicos e sociais, variando de 0 (nenhum desenvolvimento humano) a 1 (desenvolvimento humano total). Quanto mais próximo de 1, mais desenvolvido é o país. No cálculo do IDH são computados os seguintes fatores: educação (anos médios de estudos), longevidade (expectativa de vida da população) e PIB per capita. A classificação é feita dividindo os países em quatro grandes grupos: baixo (de 0,0 a 0,500), médio (de 0,501 a 0,800), elevado (de 0,801 a 0,900) e muito elevado (de 0,901 a 1,0).
  Muito alto
  Alto
  Médio
  Baixo
  Sem dados
Mapa do IDH
EXPECTATIVA DE VIDA (OMS - 2018): 72,92 anos (92º). Obs: a expectativa de vida refere-se ao número médio de anos para ser vivido por um grupo de pessoas nascidas no mesmo ano, se a mortalidade em cada idade se mantém constante no futuro, e é contada da maior para a menor.
TAXA DE NATALIDADE (ONU - 2018): 20,16/mil (97º). Obs: a taxa de natalidade é a porcentagem de nascimentos ocorridos em uma população em um determinado período de tempo para cada grupo de mil pessoas, e é classificada do maior para o menor.
TAXA DE MORTALIDADE (CIA World Factbook 2018): 5,58/mil (159º). Obs: a taxa de mortalidade ou coeficiente de mortalidade é um índice demográfico que reflete o número de mortes registradas, em média por mil habitantes, em uma determinada região por um período de tempo e é classificada do maior para o menor.
TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL (CIA World Factbook - 2018): 15,92/mil (118°). Obs: a taxa de mortalidade infantil refere-se ao número de crianças que morrem no primeiro ano de vida entre mil nascidas vivas em um determinado período, e é classificada do menor para o maior.
Mapa da taxa de mortalidade infantil no mundo
TAXA DE FECUNDIDADE (CIA World Factbook - 2018): 1,98 filhos/mulher (121º). Obs: a taxa de fecundidade refere-se ao número médio de filhos que a mulher teria do início ao fim do seu período reprodutivo (15 a 49 anos), e é classificada do maior para o menor.
Mapa da taxa de fecundidade no mundo
TAXA DE ALFABETIZAÇÃO (CIA World Factbook - 2018): 93,6% (113º). Obs: essa taxa refere-se a todas as pessoas com 15 anos ou mais que sabem ler e escrever.
Mapa da taxa de alfabetização no mundo
TAXA DE URBANIZAÇÃO (CIA World Factbook - 2018): 74,4% (47°). Obs: essa taxa refere-se a porcentagem da população que mora nas cidades em relação à população total.
Mapa da taxa de urbanização no mundo
MOEDA: Peso Colombiano
RELIGIÃO: católicos romanos (83,1%), protestantes (12,9%), sem religião (2,45%), outras religiões (1,55%).
Santuário de Nuestra Señora de Las Lajas, em Ipiales - Colômbia
DIVISÃO: a Colômbia é dividida em 32 departamentos e um distrito capital que é tratado como um departamento (Bogotá serve também como a capital do departamento de Cundinamarca). Os departamentos são divididos em municípios, por sua vez subdivididos em corregimientos. Cada departamento tem um governo local com governador e assembleia eleitos por sufrágio universal para um mandato de quatro anos. Cada município é dirigido por um prefeito e um conselho e cada corregimiento por um corregedor eleito ou líder local. Além da capital, outras dez cidades foram designadas  distritos (municípios com efeito especial), com base em características distintivas especiais. Trata-se de Barranquila, Cartagena, Santa Marta, Cúcuta, Popayán, Bucaramanga, Tunja, Turbo, Buenaventura e Tumaco. Alguns departamentos têm subdivisões administrativas locais, onde as cidades têm uma grande concentração populacional e municípios estão próximos uns dos outros. Os departamentos são: (os nomes entre parênteses são suas respectivas capitais): Amazonas (Letícia); Antioquia (Medelim); Arauca (Arauca); Atlântico (Barranquila); Bolívar (Cartagena); Boyacá (Tunja); Caldas (Manizales); Caquetá (Florencia); Casanare (Yopal); Cauca (Popayán); Cesar (Valledupar); Chocó (Quibdó); Córdoba (Montería); Cundinamarca (Bogotá); Guainía (Puerto Inírida); Guaviare (San José del Guaviare); Huila (Neiva); La Guajira (Riohacha); Magdalena (Santa Marta); Meta (Villavicencio); Nariño (Pasto); Norte de Santander (Cúcuta); Patumayo (Mocoa); Quindío (Armenia); Risaralda (Pereira); San Andrés, Providencia e Santa Catalina (San Andrés); Santander (Bucaramanga); Sucre (Sincelejo); Tolima (Ibagué); Valle del Cauca (Cáli); Vaupés (Mitú); Vichada (Puerto Carreño); Distrito Capital (Bogotá).
Mapa da divisão da Colômbia
REFERÊNCIA: Projeto Apoema geografia 8 / Cláudia Magalhães ... [et al.]. -- 2. ed. -- São Paulo: Editora do Brasil, 2015. -- (Projeto Apoema: v. 8).

segunda-feira, 4 de março de 2019

OS LIMITES E AS FRONTEIRAS DO BRASIL

  A configuração territorial, ou seja, a forma do território de um país, é definida pelos limites que indicam até onde esse território se estende.
  Em geral, esses limites são reconhecidos pelos países por meio de acordos e tratados. Com base nesses acordos, os limites são definidos levando-se em consideração pontos de referência como rios, serras e montanhas e marcos construídos no terreno.
  Nos mapas, com base na definição dos pontos de referência, são traçadas linhas que registram os limites dos territórios representados. Essas linhas não podem ser observadas diretamente no lugar, por isso são chamadas imaginárias. Assim, quando observamos, por exemplo, um rio que separa dois países, não vemos uma linha sobre ele, mas sabemos que suas águas separam o território desses dois países.
Fronteira entre a Alemanha e a República Tcheca
  Limite, porém, não tem o mesmo significado de fronteira. Quando falamos em fronteira, estamos nos referindo a uma faixa de terra que se estende ao longo dos limites de um país. As fronteiras podem ser terrestres, que são aquelas localizadas ao longo dos limites que separam dois países, ou marítimas, que ficam ao longo dos limites que separam o território de um país das águas oceânicas.
Essa linha de metal, no Centro de Negócios Eurode, refere-se à fronteira entre a Alemanha e os Países Baixos (Holanda)
  No mundo, diversas áreas de fronteiras terrestres são habitadas e, na maioria das vezes, se caracterizam por apresentar um intenso intercâmbio econômico (mercadorias), social (pessoas) e, principalmente, cultural.
  Isso ocorre, por exemplo, na faixa de fronteira entre o território do Brasil e do Uruguai, localizada entre os municípios de Santana do Livramento, no estado do Rio Grande do Sul, e Rivera, no Uruguai.
Fronteira entre o Brasil e o Uruguai: à esquerda, a cidade brasileira de Chuí (RS), à direita, a cidade de Chuy, Uruguai
  O Brasil possui limites terrestres e marítimos bastante extensos. O país é o maior da América do Sul, correspondendo a quase 48% do território sul-americano. Banhado a leste pelo Oceano Atlântico, o território brasileiro possui 23.102 km de fronteiras, sendo 15.735 km terrestres e 7.367 km marítimas. Com uma área superior a 8,54 milhões de km², antes mesmo de ser uma nação soberana, o território brasileiro começou a ser delimitado pelos tratados de Madri (1750) e Santo Ildefonso (1777), que estabeleciam a separação das terras espanholas e portuguesas na América. A formação do atual território do Brasil, contudo, remonta ao século XIV, início da chamada Era dos Descobrimentos, quando foi estabelecido o Tratado de Tordesilhas.
As primeiras rotas das Grandes Navegações
Tratados que definiram os limites do Brasil
1. Tratado de Tordesilhas
  O Tratado de Tordesilhas, assinado na povoação castelhana de Tordesilhas, em 7 de junho de 1494, foi um tratado celebrado entre o Reino de Portugal e a Coroa de Castela para dividir as terras "descobertas e por descobri" por ambas as Coroas fora da Europa. Este tratado surgiu na sequência da contestação portuguesa às pretensões da Coroa de Castela, resultantes da viagem de Cristóvão Colombo, que um ano e meio antes chegara ao chamado Novo Mundo, reclamando-o oficialmente para Isabel, a Católica (1474-1504).
  O tratado definia como linha de demarcação o meridiano 370 léguas a oeste da ilha de Santo Antão, no arquipélago de Cabo Verde. Esta linha estava situada a meio caminho entre estas ilhas (então portuguesas) e as ilhas das Caraíbas descobertas por Colombo, no tratado referidas como "Cipango" e "Antilia". Os territórios a leste deste meridiano pertenceriam a Portugal, e os territórios a oeste, a Castela. O tratado foi ratificado por Castela em 2 de julho e por Portugal a 5 de setembro de 1494. Algumas décadas mais tarde, na sequência da chamada "Questão das Molucas", o outro lado da Terra seria dividido, assumindo como linha de demarcação, a leste, o antimeridiano, correspondente ao Meridiano de Tordesilhas, pelo Tratado de Saragoça, a 22 de abril de 1529.
Áreas demarcadas pelo Tratado de Tordesilhas
2. Tratado de Utrecht
  São chamados Tratados ou Paz de Utrecht os acordos que, firmados na cidade de Utrecht, nos Países Baixos (1713-1715), puseram fim à guerra da sucessão espanhola (1701-1714), na qual entraram em conflito interesses de várias potências europeias. O trono da Espanha era pretendido por Filipe d'Anjou, neto do rei francês Luís XIV, e por Carlos, da casa da Áustria. As negociações se abriram em 29 de janeiro de 1712, mas só em abril de 1713 foram assinados os principais acordos, dos quais o último é de 1714.
  Os opositores da disputa eram, de um lado, a França, em apoio a Filipe d'Anjou; do outro, a Grande Aliança, contra Luís XIV e a favor do príncipe Carlos, formada por Grã-Bretanha, República Holandesa, Prússia, Portugal e a Casa de Saboia.
  Por meio desse tratado, em 1713, foi reconhecida a soberania de Portugal sobre as terras da América Portuguesa, compreendidas entre os rios Amazonas e Oiapoque (atual Amapá). Em 1715, acordou-se a restituição dos portugueses da Colônia de Sacramento.
Tratado de Utrecht
3. Tratado de Madri
  O tratado de Madri foi um tratado firmado na capital espanhola entre os reis Dom João V, de Portugal, e Fernando VI, da Espanha, em 13 de janeiro de 1750, para definir os limites entre as respectivas colônias sul-americanas, pondo fim assim às disputas territoriais no continente americano entre os dois países. O objetivo do tratado era substituir o Tratado de Tordesilhas, o qual já não era mais respeitado na prática. Pelo tratado, ambas as partes reconheciam ter violado o Tratado de Tordesilhas na América e concordavam que, a partir de então, os limites deste tratado se sobreporiam aos limites anteriores. As negociações basearam-se no chamado Mapa das Cortes, privilegiando a utilização de rios e montanhas para demarcação dos limites. O diploma consagrou o princípio do direito privado romano do uti possidetis, ita possideatis (quem possui de fato, deve possuir de direito), delineando os contornos aproximados do Brasil de hoje.
Tratado de Madri
4. Tratado de Santo Ildefonso
  O Tratado de Santo Ildefonso foi o acordo assinado em 1 de outubro de 1777 na cidade espanhola de San Ildefonso, na província espanhola de Segóvia, na Comunidade Autônoma de Castela e Leão, com o objetivo de encerrar a disputa entre Portugal e Espanha pela posse da colônia sul-americana do Sacramento, situação que se prolongava desde a Paz de Utrecht e a guerra de 1735-1737. O tratado foi intermediado pela Inglaterra e pela França, que tinham interesses políticos internacionais na pacificação das relações entre Portugal e Espanha.
  Com a assinatura do Tratado, a rainha de Portugal, D. Maria I, e o rei da Espanha, Carlos III, praticamente revalidaram o Tratado de Madri e concederam fundamento jurídico a uma situação de fato: os espanhóis mantiveram a colônia e a região dos Sete Povos das Missões, que depois passou a compor grande parte do estado do Rio Grande do Sul e do Uruguai; em troca, reconheceram a soberania dos portugueses sobre a margem esquerda do rio da Prata, cederam pequenas faixas fronteiriças para compensar as vantagens obtidas no sul e devolveram a ilha de Santa Catarina, ocupada poucos meses antes.
Tratado de Santo Ildefonso
5. Tratado de Badajoz
  O Tratado de Badajoz, também referido como Paz de Badajoz, foi celebrado na cidade espanhola de Badajoz, em 6 de junho de 1801, entre Portugal, por uma parte, e a Espanha e a França coligadas, pela outra.
  Este diploma colocava fim à chamada Guerra das Laranjas, embora tenha sido assinado por Portugal sob coação, já que o país encontrava-se ameaçado pela invasão de tropas francesas estacionadas na fronteira, em Cidade Rodrigo, município da Espanha.
  Pelos seus termos, bastante severos para Portugal, estabelecia-se:

  • Portugal fecharia os portos de todos os seus domínios às embarcações da Grã-Bretanha (art. II);
  • a Espanha restituía a Portugal as fortificações e territórios conquistados de Juromenha, Arronches, Portalegre, Castelo de Vide, Barbacena, Campo Maior e Ouguela, com artilharia, espingardas e munições de guerra (art. III);
  • a Espanha conservava, na qualidade de conquista, a praça-forte, território e população de Olivença, mantendo o rio Guadiana como linde daquele território com Portugal (art. IV);
  • eram indenizados, de imediato, todos os danos e prejuízos causados durante o conflito pelas embarcações da Grã-Bretanha ou pelos súditos de Portugal, assim como dadas as justas satisfações pelas presas feitas ilegalmente pela Espanha antes do conflito, com infrações do território ou debaixo do tiro de canhão das fortalezas dos domínios portugueses (art. V).

Ponte da Ajuda, sobre o rio Guadiana, vista da margem esquerda, no lado espanhol
  Os termos do tratado foram ratificados pelo Príncipe-Regente de Portugal, D. João, no dia 14, e por Carlos IV de Espanha, a 21 do mesmo mês, mas foram rejeitados pelo primeiro cônsul da França, Napoleão Bonaparte. A manutenção das suas tropas em território espanhol, forçou Portugal a aceitar alterações à redação do Tratado. Desse modo, a 29 de setembro de 1801, era assinado um novo diploma, o chamado Tratado de Madri que, se por um lado formulou imposições mais severas a Portugal, por outro, evitou uma nova violação do seu território. Por ele, eram mantidos os termos de Badajoz, mas Portugal, adicionalmente, obrigava-se a pagar à França um montante de 20 milhões de francos.
  Por esse novo diploma, Portugal cedia ainda metade do território do Amapá à França, comprometendo-se a aceitar como fronteira entre o Brasil e a Guiana Francesa, o rio Arawani (Araguari) até a foz. Estas condições adicionais foram estabelecidas e ditadas por Napoleão.
Mapa do Brasil e tratados até 1801
6. Tratado de Petrópolis
  O Tratado de Petrópolis, firmado em 17 de novembro de 1903, formalizou a permuta de territórios entre Brasil e Bolívia - uma faixa de terra entre os rios Madeira, o rio Abunã do Brasil para a Bolívia - e o território do atual estado do Acre da Bolívia para o Brasil. O governo brasileiro também se comprometia a construir a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré para dar trânsito às trocas comerciais bolivianas pelo rio Amazonas, além de o governo brasileiro pagar à Bolívia a quantia de 2 milhões de libras esterlinas (cerca de 2,5 bilhões de reais a preços atuais) para indenizar a Bolivian Syndicate, um consórcio de investidores estadunidenses, pela rescisão do contrato de arrendamento, firmado em 1901 com o governo boliviano. Esse contrato foi motivado pela incapacidade do governo da Bolívia ocupar o atual território do Acre ante à crescente invasão do seu território por brasileiros.
Mapa do Tratado de Petrópolis
Disputas de fronteira
1. Com a Bolívia

  • Ilha de Guajará-Mirim (nome brasileiro) ou Isla Suárez (nome boliviano), uma ilha fluvial no rio Mamoré, que é reivindicada tanto pela Bolívia quanto pelo Brasil. A delimitação deste trecho foi estabelecida pelo Tratado de Ayacucho, de 1867. Em 1º de abril de 1930, a Legação Brasileira em La Paz, reclamou da ocupação indevida da ilha. Em 1937 foi apresentado pelo Ministro das Relações Exteriores da Bolívia, Enrique Finot, um completo estudo da região, alegando a maior proximidade da ilha do lado boliviano. A soberania da ilha ficou indefinida após o Acordo de Roboré, de 1938.
Em amarelo a área em disputa
2. Com o Uruguai

  • Rincão das Artigas - é um território de 237 km², localizado entre o norte do Uruguai e o sul do Brasil, dentro do município de Santana do Livramento, no estado do Rio Grande do Sul. O Uruguai considera que, por um erro de demarcação do limite entre ambos os países em 1856, esse território passou a integrar o território brasileiro em 1861. Desde 1934, o governo uruguaio solicita ao Brasil a revisão da demarcação fronteiriça neste ponto. A partir de 1974, os mapas uruguaios indicam este território como "limite contestado" e consideram que pertence ao Departamento de Artigas.

Mapa do Uruguai com a área contestada pelos uruguaios

  • Ilha Brasileira - é uma pequena ilha fluvial localizada na foz do rio Quaraí, entre os municípios de Barra do Quaraí, no Brasil, Monte Caseros, na Argentina, e Bella Unión, no Uruguai. A ilha tem, aproximadamente, 2 quilômetros de extensão por 0,5 quilômetro de largura. Administrativamente, a ilha pertence ao município brasileiro de Barra do Quaraí (RS). É reclamada há mais de um século pelo Uruguai. Porém, nenhum dos países mostraram interesse ativamente pela ilha.

Em amarelo a Ilha Brasileira, reivindicada pelo Uruguai
REFERÊNCIA: Garcia, Valquíria Pires
Projeto mosaico: geografia: ensino fundamental / Valquíria Pires Garcia, Beluce Bellucci. 1. ed. -- São Paulo: Scipione, 2015.

domingo, 17 de fevereiro de 2019

SLIDES DO PROFESSOR MARCIANO DANTAS: PAÍSES DESENVOLVIDOS X PAÍSES SUBDESENVOLVIDOS


AS CONVENÇÕES CARTOGRÁFICAS

  As convenções cartográficas são uma série de símbolos aceitos internacionalmente e criados pela necessidade de reproduzir um objetivo em um mapa, como, por exemplo, elementos naturais. Sendo assim, são símbolos utilizados para representar e localizar diversos lugares, bem como construções, ouro, prata, cobre, entre outros.
  A representação da realidade num mapa é feita por símbolos denominados convenções cartográficas, que representam rios, florestas, montanhas, cidades, fronteiras entre os países etc. Essa simbologia é reunida em diversos grupos: edificações, hidrografia, vegetação, cultivos agrícolas, relevo, limites administrativos. O azul, por exemplo, geralmente é utilizado para representar a água; o ponto preto, para identificar as sedes dos municípios, e a linha vermelha para representar as estradas.
  As convenções cartográficas envolvem uma série de símbolos, desenhos, cores e códigos utilizados internacionalmente em cartografia para estabelecer uma padronização para a confecção de mapas. Isso serve para que um mapa possa ser lido e compreendido em qualquer lugar do mundo. As convenções envolvem não somente o uso de símbolos, figuras, cores ou linhas, mas também o uso de outros elementos cartográficos como o título do mapa, a escala e a rosa dos ventos.

  • Título - tem a função de apresentar o tema ou a informação principal que será tratada pelo mapa. Geralmente, aparece em destaque, centralizado e no alto do mapa ou então junto da legenda.

O título é fundamental para facilitar a compreensão de um mapa

  • Legenda - geralmente presente ao lado dos mapas, a legenda tem como finalidade principal apresentar o significado das cores e dos símbolos neles utilizados.


Legenda com exemplo de símbolos e cores que podem aparecer em um mapa com seus respectivos significados

  • Orientação - serve para indicar a direção dos pontos cardeais na representação cartográfica. Na maioria das vezes é indicada somente a direção norte, já que esta informação basta para que se possa descobrir os demais pontos cardeais (sul, leste e oeste) e os pontos colaterais (nordeste, sudeste, sudoeste e noroeste).

A Rosa dos Ventos é o símbolo usado para indicar a direção dos pontos cardeais

  • Escala - é utilizada nos mapas para informar a proporcionalidade das distâncias medidas no mapa e as distâncias reais. Caso não seja indicada, fica impossível fazer os cálculos de distâncias entre dois pontos com base somente no mapa. Ela pode ser:

1. Numérica: é a escala que é apresentada na forma de uma fração, sem definição prévia de uma unidade de medida. Ex: 1:1.000.000 ou 1/1.000.000. Essa escala quer dizer que o mapa é 1.000.000 de vezes menor que a realidade, ou seja, se 1 cm for medido no mapa, isso equivalerá a 1.000.000 de centímetros no espaço real.
Escala Gráfica
2. Gráfica: é apresentada utilizando-se uma reta, geralmente graduada em centímetros, com as reais distâncias (em km) indicadas a cada centímetro medido no mapa. No exemplo abaixo, cada centímetro medido no mapa será equivalente a 10 quilômetros na realidade.
Escala Numérica
REFERÊNCIA: CALDINI, Vera; ISOLA, Leda. Atlas geográfico. Saraiva: São Paulo, 2013. p. 78

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

O KEYNESIANISMO E O INTERVENCIONISMO ESTATAL

  A depressão que se seguiu após 1929 pôs em xeque a lógica liberal. Atribuíam-se à competição desenfreada e à superprodução as causas da convulsão. Na década da crise, surgiriam os trabalhos daquele que viria a ser o mais importante economista do século XX: John Maynard Keynes (1883-1946) e sua obra principal, Teoria geral do emprego, do juro e da moeda, escrita em 1936 e que consiste numa organização político-econômica, oposta às concepções liberais, fundamentada na afirmação do Estado como agente indispensável de controle da economia, com o objetivo de conduzir a um sistema de pleno emprego. Tais teorias tiveram uma enorme influência na renovação das teorias clássicas e na reformulação da política de livre-mercado.
John Maynard Keynes - autor da teoria do keynesianismo
  A escola keynesiana se fundamenta no princípio de que o ciclo econômico não é auto-regulado como defendem os neoclássicos, uma vez que é determinado por um suposto "espírito animal" (animal spirit, no original inglês) dos empresários.
  A teoria keynesiana parte do pressuposto de que o mercado não pode nem deve ficar desregrado; faz-se necessária uma forte intervenção do Estado na economia, exatamente o oposto do que preconizava seu antecessor, Adam Smith, cujas ideias nortearam o liberalismo clássico, principal vertente do capitalismo até então. Agora o liberalismo estava em baixa, e eram as ideias de Keynes que iriam se sobrepor. Entre elas, estava a garantia do pleno emprego como forma de manter aquecido o mercado, já que o trabalhador empregado é um consumidor em potencial - e era o Estado que deveria oferecer essa garantia. Outra pregação keynesiana é a forte intervenção do Estado em prol de uma política de redução de juros, a fim de desestimular o investimento no setor financeiro e o redirecionamento para o setor produtivo. O Estado deveria patrocinar vultosos investimentos públicos como forma de manter a economia em pleno funcionamento.
Fila de desempregados nas ruas de Nova York após a Grande Depressão de 1929
  O keynesianismo ascendia à condição de principal corrente do pensamento econômico no momento da maior crise da história do capitalismo. Suas ideias influenciaram os principais governantes da época que buscavam saídas para a crise. A influência mais notável foi no New Deal, o plano de recuperação econômica para a Grande Depressão, do presidente estadunidense  Franklin D. Roosevelt, que governou os Estados Unidos de 1933 a 1945.
  A teoria de Keynes é baseada no princípio de que os consumidores aplicam as proporções de seus gastos de bens e poupança, em função da renda. Quanto maior a renda, maior porcentagem desta é poupada. Assim, se a renda agregada aumenta em função do aumento do emprego, a taxa de poupança aumenta simultaneamente; e como a taxa de acumulação de capital aumenta, a produtividade marginal do capital reduz-se e o investimento é reduzido, já que o lucro é proporcional à produtividade marginal do capital. Então ocorre um excesso de poupança em relação ao investimento, o que faz com que a demanda (procura) efetiva fique abaixo da oferta e, assim, o emprego se reduza para um ponto de equilíbrio em que a poupança e o investimento fiquem iguais. Como esse equilíbrio pode significar a ocorrência de desemprego involuntário em economias avançadas (onde a quantidade de capital acumulado seja grande e sua produtividade pequena), Keynes defendeu a tese de que o Estado deveria intervir na fase recessiva dos ciclos econômicos com sua capacidade de imprimir moeda para aumentar a procura efetiva através de déficits do orçamento do Estado e assim manter o pleno emprego.
Teoria proposta por Keynes
  O ciclo de negócios, segundo Keynes, ocorre porque os empresários têm "impulsos animais" psicológicos que os impedem de investir a poupança dos consumidores, o que gera desemprego e reduz a demanda efetiva novamente e, por sua vez, causa uma crise econômica. A crise, para terminar, deve ter uma intervenção estatal que aumente a demanda efetiva através do aumento dos gastos públicos.
  Keynes, porém, nunca defendeu a estatização da economia, nos moldes em que foi feita na União Soviética. O que ele defendia na década de 1930 e que os novos desenvolvimentistas defendem atualmente é uma participação ativa de um Estado enérgico nos segmentos da economia que, embora necessários para o bom desenvolvimento de um país, não interessam ou não podem ser atendidos pela iniciativa privada.
  Após a Segunda Guerra Mundial, o keynesianismo consolidou-se como modelo econômico e foi hegemônico na Europa e nos Estados Unidos até meados dos anos 1970, quando passou a ser questionado pelos chamados monetaristas, críticos da política de limitação ao investimento financeiro.
Charge ironizando o setor privado na economia com base na teoria keynesiana
REFERÊNCIA: Silva, Edilson Adão Cândido da
Geografia em rede, 1º ano / Edilson Adão Cândido da Silva, Laércio Furquim Júnior. - 2. ed. - São Paulo: FTD, 2016. - (Coleção geografia em rede).

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

GEOPOLÍTICA E ECOLOGIA DOS MARES FECHADOS

  Os mares são corpos de água salgada que possuem ligação com águas oceânicas. Podem ser: continentais, abertos e fechados.
Mares Continentais - são aqueles que possuem ligações estreitas (geralmente através de estreitos) com as águas oceânicas. Ex: Mar Mediterrâneo (suas águas estabelecem ligação com o Oceano Atlântico através do Estreito de Gibraltar) e Mar Vermelho (suas águas estão ligadas ao oceano Índico através do Estreito de Bab-el-Mandeb).
Imagem de satélite do Estreito de Gibraltar
Mares Abertos - a ligação entre os mares abertos e as águas oceânicas ocorre através de grandes aberturas. Ex: mares do Norte (suas águas possuem ligação com o Oceano Atlântico através do Canal da Mancha - Estreito de Dover), Báltico (localizado na região norte do continente europeu, suas águas estão ligadas ao Oceano Atlântico através dos estreitos de Öresund - entre a Dinamarca e a Suécia -, Grand Belt - entre as ilhas dinamarquesas de Zelândia e Fulen -, e Pequeno Belt - entre a Península da Jutlândia e a Ilha Fulen) e o  Mar do Caribe (localizado a leste da América Central e a norte da América do Sul, está conectado com o Oceano Atlântico através das passagens de Anegada e dos Ventos).
Imagem de satélite do Mar do Norte
Mares fechados - embora ganhem o nome de mares, estes corpos de água salgada são, na verdade, imensos lagos, pois não possuem conexão com as águas oceânicas. Os mares fechados são superfícies líquidas que não possuem ligações com um outro mar ou oceano. Por tradição ou por sua dimensão, não são identificados como lagos. Situados no interior dos continentes, são "regulados" por rios que neles deságuam e, em alguns casos, por águas de degelo que descem das vertentes circundantes. Os mares Morto, Cáspio e de Aral são exemplos típicos de mares fechados.
Mapa com alguns dos principais mares da Europa e da Ásia
Mar Morto
  O Mar Morto possui uma superfície de aproximadamente 650 km², um comprimento máximo aproximado de 50 km e uma largura máxima de 18 km. Em 1930, quando o Mar Morto começou a ser monitorado continuamente, sua  superfície era de aproximadamente 1.050 km², com um comprimento máximo de 80 km e uma largura máxima de 18 km.
  Situado entre Israel, a Cisjordânia e a Jordânia, o Mar Morto é famoso por estar localizado na maior depressão continental do mundo e por seu alto índice de salinidade. No último século, perdeu cerca de 300 km² de superfície e seu nível continua baixando, devido ao uso da água dos rios que nele deságuam (especialmente o Jordão) e à elevada evaporação.
Fotografia de satélite mostrando a localização do Mar Morto
  O Mar Morto recebe esse nome devido à grande quantidade de sal nele contida, dez vezes superior à dos demais oceanos, e em suas águas há a escassez de vida, havendo apenas alguns tipos de arqueobactérias e algas. Qualquer peixe que seja transportado pelo Rio Jordão morre imediatamente assim que deságua neste lago de água salgada. A sua água é composta por vários tipos de sais, alguns dos quais só podem ser encontrados nesta região do mundo. Em termos de concentração, e em comparação com a concentração média dos restantes dos oceanos em que o teor de sal, por 100 ml de água não passa de 3 gramas, no Mar Morto essa taxa é de 30 a 35 gramas de sal por 100 ml de água.

Mar Morto visto do espaço com áreas de extração de sal ao sul
  O Mar Morto perdeu 35% da sua superfície entre 1954 e 2014, em grande parte por causa do aumento na captação das águas de seu principal afluente, o Rio Jordão, por parte das autoridades de Israel e Jordânia, única fonte de água doce da região, além da natural evaporação de suas águas.
  Outro fator importante para essa perda, além da captação de água do Rio Jordão, tem sido a extração descontrolada principalmente de potássio por indústrias mineradoras e químicas, como a Israel Chemicals Ltd., Dead Sea Works e Arab Potash Company, que se instalaram nas décadas de 1940 e 1950. Entre 1930 e 1997, o nível das águas do Mar Morto diminuiu 21 metros.
Tanques de evaporação de potássio no Mar Morto, em 1944
  A contínua perda das águas do Mar Morto causa uma redução em sua área e profundidade, relativamente ao nível médio das águas do Mar Mediterrâneo, o que faz com que seja o maior desnível negativo do mundo, em relação ao nível do mar. Entre 1992 e 2014, a média de aumento deste desnível foi quase  1 metro por ano. Em 1992, o desnível era de 407 metros. Em 2004 era de 417 metros e em 2010 era de 423 metros. Em 2014, o desnível aumentou para 427 metros.
Mar Morto
  A chuva na região do Mar Morto não passa dos 100 mm por ano na parte norte e mal atinge os 50 mm na parte sul. A aridez da zona do Mar Morto é devido ao efeito rainshadow (sombra de chuva) das colinas da Judeia. O planalto leste do Mar Morto recebe mais chuva do que o Mar Morto em si.
  Para evitar que o mar desapareça, as partes interessadas - Autoridade Palestina, Israel e Jordânia - assinaram um acordo, em dezembro de 2013, para "salvar" o mar. A ideia é desviar água do mar Vermelho para o mar Morto por um canal de 80 quilômetros.
A alta salinidade do Mar Morto permite a flutuação das pessoas
Mar Cáspio
  O Mar Cáspio localiza-se na Ásia Central e é dividido em três partes. Na parte norte, assenta-se sobre uma depressão absoluta com altitude média de 28 metros negativos. As porções central e sul apresentam profundidades bem maiores. Por conta do menor volume e profundidade, e por estar junto a áreas continentais baixas, a porção norte é a mais vulnerável às variações de nível. É lá que deságua o Rio Volga, o mais importante afluente. Tudo o que acontece ao longo dessa bacia, onde estão as maiores concentrações urbano-industriais da Rússia, repercute sobre o mar.
  Este mar possui uma superfície de 386.400 km², área um pouco maior que a do estado do Mato Grosso do Sul e possui um volume de 78.200 km³, constituindo uma bacia endorreica (área na qual a água não tem saída superficialmente, por rio, até ao mar). O comprimento do Mar Cáspio é de 1.030 km e sua largura varia de 435 km a um mínimo de 196 km, e sua profundidade máxima é de 1.025 metros. Seu nível de superfície é em torno de -26,5 metros abaixo do nível do mar.
Bacia do Mar Cáspio e antigo Mar de Aral
  O Mar Cáspio é limitado a noroeste pela Rússia, a oeste pelo Azerbaijão, a sul pelo Irã, a sudeste pelo Turcomenistão, e a nordeste pelo Cazaquistão. Pode ser dividido em três partes: norte, centro e sul.
  Cerca de 130 rios pequenos e grandes convergem ao Cáspio, quase todos desaguando nos litorais norte ou oeste. O maior deles é o Rio Volga (maior rio europeu em extensão), que corre por uma área de 1.400.000 km² e deságua no norte do Mar Cáspio. Mais de 90% da água doce que o mar recebe é fornecida pelos cinco maiores rios: o Volga com 241 km³, o Kura com 13 km³, o Terek com 8,5 km³, o Ural com 8,1 km³ e o Sulak com 4 km³. Os rios iranianos menores da costa ocidental fornecem o resto, já que não há fluxos permanentes no lado oriental.
Imagem de satélite do Mar Cáspio
  A história registra que o Mar Cáspio é chamado de mar desde a época dos romanos, que o acharam salgado, especialmente na sua parte sul. Sua área hoje constitui um grande trunfo econômico, com enormes reservas de petróleo e gás natural, que só agora estão começando a ser extraídas plenamente. As reservas de petróleo para toda a região do Mar Cáspio são comparáveis às dos Estados Unidos e do Mar do Norte. As reservas de gás natural são ainda maiores, sendo quase dois terços das reservas de hidrocarbonetos. Além disso, grandes quantidades do peixe esturjão vivem nas suas águas, e o caviar produzido a partir de seus ovos é bem valioso.
  Ao longo do século XX, a soberania sobre o Mar Cáspio foi compartilhada entre a União Soviética e o Irã. Com a desintegração da União Soviética, em 1991, o mar passou a banhar, além do litoral do Irã, terras da Rússia, do Cazaquistão, do Turcomenistão e do Azerbaijão. A descoberta de petróleo e gás na área do Cáspio tornou mais complexo o quadro geopolítico.
  Hoje, há interesses conflitantes entre os cinco países no que se refere à definição jurídica a ser aplicada, especialmente em relação à exploração dos recursos da rica plataforma continental.
Mar Cáspio em Turkmenbasy - Turcomenistão
Mar de Aral
  As tensões que cercam o Cáspio pouco significam se comparada à crise que ameaça a própria existência do Mar de Aral. Situado no coração da Ásia Central, o Aral se estende sobre as terras áridas das antigas repúblicas soviéticas do Cazaquistão e do Uzbequistão. O Mar de Aral foi vítima do planejamento ecologicamente irresponsável conduzido por Moscou.
  No período Terciário (68 a 1,8 milhão de anos atrás), provavelmente a depressão onde se encontra o Mar de Aral estava conectada ao Mar Cáspio, ao Mar Negro e a outros lagos próximos de mesma origem geológica e também de formação endorreica. Durante o Pleistoceno (1,8 milhão até 20 mil anos atrás) certamente ocorreu a separação e o isolamento final do Mar de Aral, porém, ele continuou a ser alimentado simultaneamente com as águas dos rios  Amu Darya e Sir Darya, tornando-o um verdadeiro oásis no deserto da Ásia Central. Com o tempo, a água do lago passou a concentrar todo o sal trazido pelos rios, uma vez que a água acumulada continuou o seu ciclo, evaporando por milhares de anos.
Mapa do Mar de Aral em 1853
  As nascentes dos dois rios afluentes do Mar de Aral (Sir Darya e Amu Darya) ficam nas altas montanhas do sistema do Himalaia e distanciam cerca de dois mil quilômetros da foz. Durante toda esta extensão, os rios cortam quatro países (Afeganistão, Tadjiquistão, Turcomenistão e Uzbequistão), sendo uma preciosa fonte de recursos naturais, com grande variedade biológica, em meio ao clima desértico. A indústria pesqueira era a principal atividade econômica da região. No século XX, os dois rios passaram a receber lixo, esgoto e poluentes com o desenvolvimento das comunidades próximas, e foram alvos de sucessivas drenagens pelo governo soviético das repúblicas da Ásia Central. A partir de 1920, o fluxo dos rios diminuiu consideravelmente.
O Mar de Aral visto do espaço, em 1985
  A presença militar russa no Mar de Aral começou em 1847, com a fundação de Raimsk, que logo foi rebatizado de Aralsk, perto da foz do Sir Darya. Logo, a Marinha Imperial Russa começou a implantar os seus navios no mar. Devido à bacia do Mar de Aral não estar ligada a outros corpos de água, os navios tiveram que ser desmontados em Orenburg, no rio Ural, enviados por via terrestre para Aralsk (presumivelmente por uma caravana de camelos), e então remontados. Os dois primeiros navios, montados em 1847, eram as escunas de dois mastros chamado Nikolai e Mikhail. O primeiro foi um navio de guerra, enquanto o último um mercante que servia para o estabelecimento da pesca no lago grande. Em 1848, estes dois navios pesquisaram a parte norte do mar. No mesmo ano, um grande navio de guerra, Constantino, foi também montado. Comandado pelo tenente Alexey Butakov, o Constantino concluiu o levantamento de todo o Mar de Aral em dois anos. Para a navegação, em 1851, dois navios recém-construídos chegaram da Suécia, novamente de caravanas até Orenburg.
Embarcação abandonada perto do antigo Porto de Aral, Cazaquistão
  O governo soviético começou a desviar parte das águas dos rios que alimentavam o Mar de Aral, o Amu Darya (ao sul) e o Sir Darya (ao nordeste) em 1918. Com o fim da Primeira Guerra Mundial havia a necessidade de aumentar a produção de alimentos, tais como arroz, cereais e melões. Havia também planos de se produzir algodão no deserto próximo ao lago. O algodão, sempre valorizado, era chamado de "ouro branco".
  Nos anos 1940, acelerou-se a construção dos canais de irrigação que captavam água dos afluentes do Mar de Aral. O conhecimento rudimentar da técnica de engenharia produziu canais ineficientes, e havia perda de até 75% de toda a água captada em vazamentos e evaporação.
Mar de Aral em 1989 e 2008
  No início, a irrigação das plantações consumia aproximadamente 20 km³ de água a cada ano, em ritmo crescente. Já na década de 1960, a maior parte do abastecimento de água do lago tinha sido desviado e o Mar de Aral começou a perder tamanho. De 1961 a 1970 o lago baixou 20 cm por ano, e essa taxa cresceu até 1990. Em 1987, a redução contínua do nível da água levou ao aparecimento de grandes bancos de areia, causando uma separação em duas massas de água, formando o Aral do Norte (ou Pequeno Aral) e o Aral do Sul (ou Grande Aral).
  A quantidade de água retirada dos rios que abasteciam o Mar de Aral duplicou entre 1960 e 2000, assim como a produção de algodão. No mesmo período, o Uzbequistão tornou-se o terceiro maior exportador de algodão do mundo. Como consequência da redução do volume de água, a salinidade quase quintuplicou e matou a maior parte de sua fauna e flora naturais. A próspera indústria pesqueira faliu, assim como as cidades ao longo das margens. Houve desemprego e dificuldades econômicas.
Animação do estado do Mar de Aral
  As poucas águas do Mar de Aral também ficaram fortemente poluídas, em grande parte como resultado de testes com armamentos e projetos industriais, além do uso maciço de pesticidas e fertilizantes. As pessoas passaram a sofrer com a falta de água doce e os cultivos na região estão sendo destruídos pelo sal depositado sobre a terra. Nos últimos anos, o vento tem soprado sal a partir do solo seco e poluído, causando danos à saúde pública. Há também relatos de alterações climáticas na região, com verões cada vez mais quentes e secos e invernos mais frios. A situação do Mar de Aral e sua região é descrita como a maior catástrofe ambiental da história.
  O Mar de Aral abrigou uma indústria pesqueira considerável que, no seu auge, empregava cerca de 40 mil pessoas e produzia 1/6 de todo o pescado da União Soviética. Ainda é possível encontrar os restos dessa época de farta produção. O leito do lago, sem água, transformou-se num cemitério para as grandes embarcações que operavam na pesca. Além do pescado, a região deixou de produzir 500.000 peles de rato-almiscarado por ano, uma vez que a caça predatória e a escassez de água contribuíram para o desaparecimento do animal dos deltas do Amu Darya e do Sir Darya.
O lago deu lugar ao Aralkum, um deserto de sal e poluentes sólidos
  A superfície do Mar de Aral já reduziu em 60% do seu tamanho e em cerca de 80% do seu volume. Em 1960, o Mar de Aral era o quarto maior lago do mundo, com uma área aproximada de 68.000 km² e um volume de 1.100 km³. Em 1998, caiu para 28.667 km², tornando-se o oitavo maior lago do mundo. Durante o mesmo período, a salinidade do mar aumentou cerca de 10 gr/l para 45 gr/l.
  Há duas vertentes que pretendem explicar o processo de desertificação:
1. Fenômeno Natural - o Mar de Aral estaria morrendo naturalmente devido à fatores climáticos e geológicos (vertente defendida oficialmente pelo governo soviético no início do fenômeno);
2. Fenômeno Antropogênico - o desvio das águas dos rios que desembocam no Mar de Aral estaria causando o problema (vertente consensual defendida atualmente).
Antigo porto, atualmente abandonado
  O futuro do Mar de Aral é incerto. Não se sabe se é possível, viável e necessário recuperá-lo. Há diversas sugestões no sentido de ajudar em sua recuperação, tais como:

  • melhorar a eficiência dos canais de irrigação;
  • instalar estações de dessalinização de água;
  • instruir os agricultores a usar menos as águas dos rios;
  • plantar cultivares de algodão que necessitem de menos água;
  • usar menos produtos químicos nas plantações;
  • reduzir o número de fazendas de algodão próximas ao lago e afluentes;
  • construir barragens para encher o Mar de Aral;
  • desvio de água dos glaciares da Sibéria para repor a água perdida do Aral;
  • redirecionar a água dos rios Volga, Ob e Irtich. Assim se levaria de 20 a 30 anos para restaurar sua antiga dimensão;
  • diluir a água do Aral com a água do oceano e do Mar Cáspio através de bombas e gasodutos.
Momento em que a ilha Vozrozhdeniya, originalmente no centro do Aral, se converte em uma península (fim de 2000 e começo de 2001)
REFERÊNCIA: Baldraia, André
Ser protagonista: geografia, 3º ano: ensino médio / André Baldraia, Fernando dos Santos Sampaio, Ivone Silveira Sucena. Organizadora: Edições SM. Obra coletiva concedida, desenvolvida e produzida por Edições SM editor responsável Flávio Manzatto de Souza. - 3. ed. - São Paulo: Edições SM, 2016. (Coleção ser protagonista)

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