domingo, 24 de junho de 2018

CONHEÇA UM POUCO SOBRE A COSTA DO MARFIM OU A CÔTE d'IVOIRE

  Localizada na porção oeste do continente africano, na região do Golfo da Guiné, a Costa do Marfim faz limites com Mali e Burkina Faso a norte, Gana a leste, Libéria e Guiné a oeste, e ao sul é banhado pelo Oceano Atlântico.
  O nome da Costa do Marfim foi dado pelos portugueses, sendo uma referência ao grande número de elefantes que existia na região na época colonial.
  A Costa do Marfim é uma das nações mais prósperas do oeste africano. Isso se deve ao desenvolvimento do setor agrícola, principalmente a produção de café e cacau, sendo o país o maior produtor de cacau do mundo. Também se destaca a indústria alimentícia, têxtil, a exploração de petróleo e gás natural e a extração de diamantes.
Mapa do Oeste da África
GEOGRAFIA
  A Costa do Marfim situa-se em plena região tropical, com temperaturas médias em torno dos 30ºC, exceto na estação chuvosa, onde a média é de 25ºC. Há duas estações de chuvas (de maio a agosto e, com menos intensidade, em novembro). No norte do país a paisagem é árida, sendo o clima bastante quente e seco. Nessa região predomina a vegetação de savanas e os planaltos e onde habitam animais de grande porte, como girafas, elefantes, leões, zebras, entre outros. O sul é bastante úmido, com a presença de uma vegetação muito rica e um relevo constituído por planícies. É no sul onde estão os principais cultivos agrícolas com destino à exportação.
  O país conta com vários parques e reservas naturais, sendo que o Parque Nacional de Comoé é o maior deles. Esse parque foi fundado em 1968, depois de existir por longo tempo sob o nome de Reserva de Buna. Foi considerado Patrimônio Mundial pela UNESCO em 1983.
Parque Nacional de Comoé
  O litoral da Costa do Marfim é formado por belíssimas praias. O Monte Richard-Molard, por vezes designado Nimba, é o ponto mais alto do país, com uma altitude de 1.752 metros acima do nível do mar. Esse monte situa-se na fronteira com a Guiné. Na zona circundante do monte encontra-se a Reserva Natural do Monte Nimba, onde o turismo é proibido para manter maior proteção das espécies. A zona é rica em minério de ferro.
Monte Nimba - ponto mais elevado da Costa do Marfim
  O clima da Costa do Marfim é bastante influenciado pelos efeitos da maritimidade. O relevo é dividido em quatro regiões principais: uma planície litorânea ao sul, que ocupa a maior parte do território; a região da costa, com áreas mais acidentadas; o planalto central e a região de Man-Odienne.
  Os principais rios da Costa do Marfim são os rios: Comoé, Bandama e Sassandra. Outros rios que atravessam o território do país, porém, em pequenas partes, são os rios Bia, Sankarani e Volta Negro.
Rio Comoé
  O Lago Kossou é o maior lago da Costa do Marfim. Encontra-se no centro do país, no rio Bandam, e é um lago artificial criado em 1973. Outro lago importante do território marfinense é o Lago Buyo, que também é um lago artificial, que foi formado a partir da construção da Barragem de Buyo, represando as águas do rio Sassandra.
Lago Kossou
HISTÓRIA
  A história da Costa do Marfim antes do primeiro contato com os europeus é quase desconhecida. Porém, segundo investigações arqueológicas, os primeiros assentamentos remontam ao Paleolítico Superior, entre 15.000 e 10.000 a.C. Os primeiros povos que habitaram o território que atualmente compreende a Costa do Marfim foram os Senufo e os Koulangos (ao norte) e os Pigmeus (a partir do deserto do Saara).
Elefantes pastando nas savanas da Costa do Marfim
  Os portugueses foram os primeiros europeus a desembarcar no território marfinense por volta do século XV. Foi nessa época que começaram o comércio de escravos, primeiro com os portugueses e depois com os franceses. Foram os portugueses também que iniciaram o comércio do marfim. O nome "Côte d'Ivoire" remonta o português. O comércio de escravos gerou ódio entre os diferentes grupos étnicos, o que levou a muitas guerras tribais.
  No século XVII estabeleceram-se diferentes estados negros, entre os quais se destacou o dos baules por suas atividades artísticas. No final deste século, os franceses fundaram os entrepostos de Assini e Grand-Bassam e, no século XIX, celebraram uma política de pactos com os chefes locais objetivando estabelecer uma colônia.
Daloa - com uma população de 231.523 habitantes (estimativa 2018) é a quarta cidade mais populosa da Costa do Marfim
  No século XVIII, a região foi invadida por dois grupos de primos: Akan Agni no sudeste e Baoulé no centro. Um grupo tinha como objetivo principal capturar escravos, o outro, a busca pelo ouro.
  Em 1637, há o primeiro contato com os franceses, quando missionários desembarcaram em Assini, perto de Côte-de-Or (atualmente, território de Gana). Em 1887, iniciou-se a penetração para o interior. No dia 10 de março de 1893, Costa do Marfim tornou-se oficialmente uma colônia francesa, tendo como capital Grand Bassam, porém, essa colonização só foi concluída em 1915, quando os franceses consolidaram a sua dominação, exercendo o monopólio sobre a região. Em 1899, Costa do Marfim passou a fazer parte da Federação da África Ocidental Francesa. Em 1900, a capital passa a ser Bingerville e, a partir de 1934, Abidjan. A ocupação militar ocorreu entre 1908 e 1908, enquanto se construía a linha férrea ligando o litoral a Bobo-Dioulasso, atualmente pertencente à Burkina Faso.
Sán Pedro - com uma população de 211.231 habitantes (estimativa 2018) é a quinta cidade mais populosa da Costa do Marfim
  Em 1919, a parte norte da colônia se tornou independente. Abidjan permaneceu sob jurisdição francesa durante a Segunda Guerra Mundial, embora a França estivesse ocupada pelos alemães. Em 1944, foi criado o Sindicato Agrícola Africano, que deu origem ao Partido Democrático da Costa do Marfim (Parti Démocratique de la Côte d'Ivoire).
  Em 1946, após a Segunda Guerra Mundial, as reformas francesas estabeleceram a cidadania francesa para questões africanas, o direito dos africanos se organizarem politicamente e a abolição do trabalho forçado pela lei de 11 de abril de 1946, proposto por Félix Houphouët-Boigny.
  Em 1958 foi proclamada a República da Costa do Marfim como uma república autônoma dentro da Comunidade Francesa, alcançando a independência definitiva em 7 de agosto de 1960, tendo como presente Félix Houphouët-Boigny do Partido Democrático da Costa do Marfim.
Yamoussoukro - com uma população de 208.847 habitantes (estimativa 2018) é a sexta maior cidade da Costa do Marfim
  Os anos 1960 e 1970 foram de forte crescimento econômico, período conhecido como "milagre marfinense". Na década de 1970 a Costa do Marfim tentou intervir, por meio das negociações, a resolução do apartheid na África do Sul.
  A estabilidade política do país foi largamente promovida pelo sistema de partido e pelos bons preços do café e do cacau. Porém, devido aos efeitos da seca e a simultânea queda dos preços do cacau e do café, o país passou a enfrentar uma grave crise econômica.
  A política paternalista de Félix Houphouët-Boigny despertou uma forte oposição no país (protestos estudantis, conspirações militares, etc.). As eleições de 1990, a primeira em que houve uma disputa real pelo poder, foram disputadas por todos os partidos políticos já legalizados, tendo o presidente Félix Houphouët-Boigny sido reeleito para um sétimo mandato. Também em 1990, o papa João Paulo II visitou a Costa do Marfim, onde consagrou, em Yamoussoukro, uma suntuosa basílica, a Basílica de Nossa Senhora da Paz de Youmoussoukro, considerada a maior basílica católica do mundo. Em dezembro de 1993, Félix Houphouët-Boigny morreu, assumindo a presidência o antigo presidente da Assembleia Nacional, Henri Konan Bédié.
Félix Houphouët-Boigny (1905-1993)
  Em 24 de novembro de 1999, um golpe de Estado, comandado pelo general Robert Guéï, destituiu o presidente Konan Bedié, que se refugiou na embaixada da França e depois no Togo. O general Guéï convocou todos os partidos políticos para formarem um governo de transição e prometeu que o retorno à democracia seria rápido. Este foi o primeiro golpe de Estado desde a sua independência, em 1960. Robert Guéï foi assassinado durante um levantamento encabeçado pelo Movimento Patriótico da Costa do Marfim, em 2002. Foi sucedido por Laurent Gbagbo, líder da Frente Popular Marfinense (FPI).
  Instável politicamente, o país passou por inúmeros políticos e golpes militares.
Korhogo - com uma população de 179.676 habitantes (estimativa 2018) é a sétima cidade mais populosa da Costa do Marfim
Guerra Civil da Costa do Marfim (2002-2004)
  Em 2002, depois de uma série de conflitos envolvendo a nacionalidade e a origem das pessoas no país, iniciou-se uma guerra civil. A região norte do país, de maioria muçulmana e de origem imigrante, passou a ser governada pelos rebeldes. Já a região sul, de maioria cristã, onde a população se intitulava representante da verdadeira nação marfinense, ainda era controlada pelo governo.
  O conflito deixou milhares de mortos e centenas de milhares de refugiados. O país passou a ter duas capitais: Abidjan (controlada pelos governistas) e Bouaké (controlada pelos rebeldes). No ano de 2005, após a classificação do país para a Copa do Mundo de 2006, deu-se a primeira iniciativa de paz entre ambos os lados.
  A vitória sobre o Sudão garantiu a primeira participação da Costa do Marfim em uma Copa do Mundo. Emocionados, os jogadores da seleção gravaram um vídeo dentro do vestiário, o qual foi transmitido para o restante do país pela televisão. Nele, o astro do time, Didier Drogba, pede para que sejam convocadas novas eleições e que todos os envolvidos perdoem uns aos outros.
Didier Drogba - no jogo entre Costa do Marfim e Argentina pela Copa do Mundo de 2006
  Em 2007, Drogba foi eleito o melhor jogador africano da temporada. Quando chegou ao seu país, convidou o presidente a acompanhá-lo até Bouaké (capital rebelde) para mostrar a taça à população. O presidente aceitou e, quando chegaram à capital rebelde, foram aplaudidos por toda a população.
  No mesmo ano, Drogba pediu à seleção da Costa do Marfim que fizesse um jogo em Bouaké, algo que não acontecia há anos. Ele foi atendido, e o time goleou a seleção de Madagascar por 5 a 0. No jogo estavam presentes os líderes de ambos os lados do conflito, que passaram a negociar o processo de paz e as eleições, as quais aconteceriam três anos depois.
Man - com uma população de 149.596 habitantes (estimativa 2018) é a oitava cidade mais populosa da Costa do Marfim
  Ao final de 2010, o presidente que havia sido anteriormente eleito, Laurent Gbagbo, recusou-se a entregar o governo para o seu sucessor também eleito, Alassane Ouattara. Com isso, um conflito interno emergiu envolvendo as forças leais a esses dois líderes, resultando em muitas mortes e um elevado prejuízo para a economia, que vinha registrando sucessivos índices de crescimento e democratização social.
  Em março de 2011, as forças rebeldes leais a Ouattara tomaram a capital do país e prenderam Gbagbo, que atualmente responde por crimes internacionais de violação aos direitos humanos. Ouattara assumiu, então, o cargo de presidente em maio desse mesmo ano.
Divo - com uma população de 137.278 habitantes (estimativa 2018) é a nona cidade mais populosa da Costa do Marfim
ECONOMIA
  A economia da Costa do Marfim é baseada no cultivo de produtos tropicais. O país exporta principalmente cacau (maior produtor mundial), óleo de palma (maior exportador do mundo), algodão (terceiro maior produtor mundial), café, borracha, abacaxi, banana, inhame, cana-de-aúcar, entre outros produtos.
  A economia da Costa do Marfim apresentou, desde a sua independência, alguns avanços econômicos em função do seu elevado grau de exportação, notadamente com a produção do cacau.
Gagnoa - com uma população de 132.250 habitantes (estimativa 2018) é a décima cidade mais populosa da Costa do Marfim
  A agricultura é responsável por 30% do Produto Interno Bruto (PIB), no qual emprega cerca de 70% da mão de obra. A indústria basicamente é voltada para o processamento das matérias-primas geradas pelo agronegócio local, correspondendo a 21% das riquezas, com destaque também para a produção de petróleo. O setor de serviços representa 49% do PIB do país.
Produção de cacau na Costa do Marfim
ALGUNS DADOS SOBRE A COSTA DO MARFIM
NOME: República da Costa do Marfim
INDEPENDÊNCIA: da França, em 7 de agosto de 1960
CAPITAIS: Yamoussoukro (Constitucional)
Pôr do sol em Yamoussoukro - capital constitucional da Costa do Marfim
Abidjan (sede do Governo)
Centro Comercial de Abidjan - sede do governo da Costa do Marfim
GENTÍLICO: costa-marfinense, marfinense, ebúrneo e ivoiriense
LÍNGUA OFICIAL: francês
GOVERNO: República Presidencialista
LOCALIZAÇÃO: Oeste da África
ÁREA: 322.463 km² (68º)
POPULAÇÃO (ONU - Estimativa 2018): 24.339.940 habitantes (56°)
DENSIDADE DEMOGRÁFICA: 75,48 hab./km² (97°). Obs: a densidade demográfica, densidade populacional ou população relativa é a medida expressa pela relação entre a população total e a superfície de um determinado território.
CRESCIMENTO POPULACIONAL (ONU - Estimativa 2018): 1,84% (63°). Obs: o crescimento vegetativo, crescimento populacional ou crescimento natural é a diferença entre a taxa de natalidade e a taxa de mortalidade de uma  determinada população.
CIDADES MAIS POPULOSAS (Estimativa 2018):
Abidjan: 3.947.750 habitantes
Abidjan - maior cidade da Costa do Marfim
Abobo: 966.240 habitantes
Abobo - segunda cidade mais populosa da Costa do Marfim
Bouaké: 609.247 habitantes
Bouaké - terceira cidade mais populosa da Costa do Marfim
PIB (FMI - 2017): US$ 31,172 bilhões (95º). Obs: o PIB (Produto Interno Bruto), representa a soma (em valores monetários) de todos os bens e serviços finais produzidos numa determinada região (quer sejam países, estados ou cidades), durante um período determinado (mês, trimestre, ano).
PIB PER CAPITA (FMI 2018): US$ 1.315 (147°). Obs: o PIB per capita ou renda per capita é o Produto Interno Bruto (PIB) de um determinado lugar dividido por sua população. É o valor que cada habitante receberia se toda a renda fosse distribuída igualmente entre toda a população. 
IDH (ONU - 2017): 0,474 (171°). Obs: o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) é uma medida comparativa usada para classificar os países pelo seu grau de desenvolvimento econômico e a qualidade de vida oferecida à população. Este índice é calculado com base em dados econômicos e sociais, variando de 0 (nenhum desenvolvimento humano) a 1 (desenvolvimento humano total). Quanto mais próximo de 1, mais desenvolvido é o país. No cálculo do IDH são computados os seguintes fatores: educação (anos médios de estudos), longevidade (expectativa de vida da população) e PIB per capita. A classificação é feita dividindo os países em quatro grandes grupos: baixo (de 0,0 a 0,500), médio (de 0,501 a 0,800), elevado (de 0,801 a 0,900) e muito elevado (de 0,901 a 1,0).
  Muito alto
  Alto
  Médio
  Baixo
  Sem dados
Mapa do IDH
TAXA DE NATALIDADE (ONU - 2017): 34,69/mil (41º). Obs: a taxa de natalidade é a porcentagem de nascimentos ocorridos em uma população em um determinado período de tempo para cada grupo de mil pessoas, e é classificada do maior para o menor.
TAXA DE MORTALIDADE (CIA World Factbook 2017): 14,84/mil (28º). Obs: a taxa de mortalidade ou coeficiente de mortalidade é um índice demográfico que reflete o número de mortes registradas, em média por mil habitantes, em uma determinada região por um período de tempo e é classificada do maior para o menor.
TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL (CIA World Factbook - 2017): 63,2/mil (199°). Obs: a taxa de mortalidade infantil refere-se ao número de crianças que morrem no primeiro ano de vida entre mil nascidas vivas em um determinado período, e é classificada do menor para o maior.
Mapa da taxa de mortalidade infantil no mundo
TAXA DE FECUNDIDADE (Population Reference Bureal - PRB - 2017): 5,0 filhos/mulher (19º). Obs: a taxa de fecundidade refere-se ao número médio de filhos que a mulher teria do início ao fim do seu período reprodutivo (15 a 49 anos), e é classificada do maior para o menor.
Mapa da taxa de fecundidade no mundo
TAXA DE ALFABETIZAÇÃO (CIA World Factbook - 2017): 56,2% (195). Obs: essa taxa refere-se a todas as pessoas com 15 anos ou mais que sabem ler e escrever.
Mapa da taxa de alfabetização no mundo
TAXA DE URBANIZAÇÃO (CIA World Factbook - 2017): 49,2% (117°). Obs: essa taxa refere-se a porcentagem da população que mora nas cidades em relação à população total.
Mapa da taxa de urbanização no mundo
MOEDA: Franco CFA
RELIGIÃO: crenças tradicionais (37,6%), cristianismo (31,8%, sendo 14,8% de católicos, 9,3% de religiões cristãs independentes e 7,7% seguem outras religiões cristãs), islâmicos (30,1%), sem religião (0,2%), outras religiões (0,3%).
Basílica de Nossa Senhora da Paz de Yamoussoukro - é considerada a maior igreja católica do mundo
DIVISÃO: a Costa do Marfim está dividida em 19 regiões, que, por sua vez, estão subdivididas em departamentos. As regiões são (os números em negritos correspondem às regiões no mapa): 1. Agnéby 2. Bafing 3. Bas-Sassandra 4. Denguelé 5. Dix-Huit Montagnes 6. Fromager 7. Haut-Sassandra 8. Lacs 9. Lagunes 10. Marahoué 11. Moyen-Cavally 12. Moyen-Comoé 13. N'zi-Comoé 14. Savanes 15. Sud-Bandama 16. Sud-Comoé 17. Vallée du Bundama 18.  Worodougou 19. Zanzan.
Mapa com a divisão das regiões da Costa do Marfim
REFERÊNCIA: Furquim Júnior, Laércio
Geografia cidadã, 6º ano: ensino fundamental II / Laércio Furquim Jr.. -- 1. ed. -- São Paulo: Editora AJS, 2015 (Coleção geografia cidadã)

quarta-feira, 20 de junho de 2018

SANTA RITA DO SAPUCAÍ (MG): O VALE DA ELETRÔNICA DO BRASIL

  Santa Rita do Sapucaí é um município da Mesorregião do Sul e Sudoeste de Minas, no estado de Minas Gerais. É conhecida como o "Vale da Eletrônica", devido aos centros educacionais e empresas dessa área situados na cidade. O município está compreendido numa área de 321 km², e possui uma altitude de 821 metros, estando distante 420 quilômetros da capital mineira, Belo Horizonte. Sua área situa-se em uma região onde se alternam montanhas e vales que formam a Bacia do Rio Sapucaí.
  O nome da cidade advém da junção de sua padroeira, Santa Rita de Cássia, santa italiana nascida no século XIV, modelo de virtude e coragem e símbolo de mulher santa-ritense, com o Rio Sapucaí, que corta o município.
  O município possui uma economia dinâmica, calcada principalmente nas atividades agropecuárias e industriais. O café e o leite são os principais produtos agropecuários.
Paisagem da zona rural de Santa Rita do Sapucaí (MG) 
  Todo dia, em média, três novas tecnologias de ponta saem do forno das indústrias da pequena Santa Rita do Sapucaí, no Sul de Minas Gerais, prontas para entrar no mercado mundial. O município possui, segundo estimativas do IBGE 2017, uma população de 42.324 habitantes, e abriga o Vale da Eletrônica, formado por três instituições de ensino e 153 empresas de setores que vão da informática à telecomunicação. O município é comparado ao Vale do Silício, polo tecnológico localizado na Califórnia, Estados Unidos, e que foi criado na mesma época, na década de 1950. Mais de 14,5 mil produtos são fabricados na cidade mineira, que deixou parte da tradição do café e do leite para se enveredar no universo dos fios, placas e softwares. Desde então, Santa Rita criou filhos ilustres, como a urna eletrônica, o chip do passaporte eletrônico e o transmissor de TV digital nacional.
Vista da cidade de Santa Rita do Sapucaí - MG
  A precursora desse processo de inovação foi a santa-ritense Luzia Rennó Moreira, a Sinhá Moreira. Mulher viajada e à frente de seu tempo, ela fundou, no município, em 1959, a Escola Técnica de Eletrônica (ETE), primeira de nível médio da América Latina. Seis anos depois, foi criado o Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), primeiro centro de ensino e pesquisa a oferecer curso superior na área de telecomunicação. Para completar, também se estabeleceu na cidade a FAI, centro de ensino superior em gestão, tecnologia e educação.
Luzia Rennó Moreira (1907-1963) - principal responsável por promover o desenvolvimento tecnológico de Santa Rita do Sapucaí
  A formação de estudantes empreendedores, ligados à área de tecnologia e inovação, foi passo decisivo para impulsionar o polo eletroeletrônico em Santa Rita do Sapucaí. Atualmente, o Vale da Eletrônica emprega em torno de 14,7 mil trabalhadores, muitos formados pelas instituições de ensino do município.
Escola Técnica de Eletrônica Francisco Moreira da Costa (ETE), em Santa Rita do Sapucaí (MG)
Luzia Rennó Moreira
  Luzia Rennó Moreira, ou Sinhá Moreira, nasceu em 17 de setembro de 1907, em Santa Rita do Sapucaí, Minas Gerais. Viveu em uma época na qual as mulheres não despontavam no cenário nacional por suas ideias e inovações.
  De uma família de fazendeiros de café, filha de um dos fundadores do Banco Nacional, o Coronel Francisco Moreira da Costa, e de Dona Maria Rennó Moreira (Mindoca). Dona Sinhá, como era chamada pelos capatazes e ex-escravos, teve formação educacional e cultural com frequentes e longas viagens à Capital Federal. Casou-se em 1929 com o diplomata Antônio Moreira de Abreu, obtendo a oportunidade de conhecer o mundo, fato raro para a época. O casamento não deu certo e Sinhá Moreira voltou ao Brasil.
Casamento de Sinhá Moreira
  Em 1942, retorna definitivamente para Santa Rita do Sapucaí, onde desenvolveu sua vocação de articulação política. Sobrinha do Presidente Delfim Moreira, gostava de participar das reuniões políticas. Filantropia e incentivos à cultura e ao desenvolvimento eram seus objetivos. De suas viagens, trouxe o princípio da eletrônica, do Japão. Seus gestos e iniciativas criaram a base de uma nova ordem social, que, gradativamente, se instalou na cidade, provocando profundas transformações na cultura local.
Visita de Sinhá Moreira à fábrica da IBM em São Paulo
  Sinhá Moreira deu início a transformação que levou uma cidade interiorana, produtora de café e de leite, ao centro de excelência em Eletrônica e Tecnologia da Informação.
  Sinhá Moreira morreu de câncer em 1963, muito antes de se pensar na formação do atual Vale da Eletrônica.
Funeral de Sinhá Moreira, em 1963
REFERÊNCIA: AYER, Flávia. Entenda por que Santa Rita do Sapucaí é uma potência tecnológica em Minas. EM.com..br.

AULAS DO PROFESSOR MARCIANO DANTAS: ENERGIA


domingo, 17 de junho de 2018

O GRUPO FUNDAMENTALISTA ISLÂMICO NACIONALISTA TALIBÃ

  O Talibã é um grupo islâmico radical, que atua no Afeganistão e no Paquistão, cuja origem está no contexto da invasão soviética, em 1979, ao Afeganistão, contra a qual lutavam guerrilheiros patrocinados pelos Estados Unidos. Com a retirada soviética, grupos rivais disputaram a hegemonia, conquistada pelo Talibã em 1998. Antes da invasão estadunidense, em 2001, esse grupo chegou a controlar a maior parte do país, opondo-se fortemente às influências do Ocidente.
  A milícia tem origem nas tribos que vivem na fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão durante o governo dos também rebeldes mujahedins. Apesar de islâmico, esse governo era considerado muito liberal, deixando descontentes os muçulmanos mais extremistas. Assim, a milícia invadiu a capital afegã Cabul e tomou o poder, governando o país de 1996 até a invasão norte-americana, em 2001. Oficialmente é considerado como uma organização terrorista pela Rússia, União Europeia e Estados Unidos.
Principais grupos que controlam o Afeganistão
  Por quase duas décadas, seu líder foi Mahammed Omar, considerado um dos mais influentes jihadistas do mundo. Ele liderou a luta para estabelecer o Talibã como a principal força política e militar no Afeganistão na década de 1990, e depois liderou a insurgência contra as tropas ocidentais no território afegão. Quando morreu, em 2013, foi sucedido por Akhtar Mohammad Mansour. Mansour foi morto em um ataque aéreo norte-americano em maio de 2016. Foi sucedido por Mawlawi Hibatullah Akhundzada, que assumiu em 25 de março de 2016, o controle operacional completo do grupo.
Mohammed Omar (entre 1950 e 1960 - 2013) - um dos principais líderes do Talibã
  Durante a invasão soviética no Afeganistão (1979-1989), o governo dos Estados Unidos, através da chamada Operação Ciclone (nome em código do programa da CIA) armou os mujahidins. Foi uma das mais longas e dispendiosas operações da CIA. Entre 1987 e 1989, os serviços secretos do Paquistão (ISI) e a CIA operavam juntas, armando as milícias que combatiam as tropas soviéticas.
  Depois que os vários grupos de resistência contra a ocupação soviética tomaram Cabul, em 1992, houve um período marcado por lutas internas e guerras civis. Em 1994, o Talibã surgiu como uma alternativa caracterizada pela predominância pachtun e pelo rigor religioso extremo, criando na população expectativas de que acabaria com o constante estado de guerra interna e com os abusos dos senhores da guerra.
Milicianos islâmicos afegãos na província de Kunar, durante da Guerra do Afeganistão, em 1987
  Em novembro de 1994, teve início a ofensiva Talibã e, um mês depois, o Talibã assumiu o controle da região de Spin Boldak, na fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão. Após essa invasão, o Paquistão intensificou a ajuda ao movimento, principalmente por meio de Nasrullah Babar, um integrante da etnia pachtun que era Ministro do Interior. Dentre os motivos para apoiar o Talibã, estava a crença na sua capacidade de restaurar a ordem em estradas afegãs e estabelecer um governo estável que viabilizaria a construção de um gasoduto, além de ter um governo aliado na disputa entre o Paquistão e a Índia.
  Depois de implementar um rigoroso regime islâmico e surpreender o mundo com algumas ações mais extremas, procederam a destruição dos Budas de Bamiyan (Patrimônio da Humanidade), que, depois de sobreviver quase 1.500 anos, foram destruídos com dinamite e disparos de tanques. Em março de 2001, os dois maiores Budas foram demolidos após alguns bombardeios pesados. O governo islâmico do Talibã criticou a UNESCO e as ONGs do exterior pela doação de recursos para reparar essas estátuas quando haveria muitos problemas urgentes no Afeganistão e decretou que as estátuas eram ídolos e, portanto, contrárias ao Alcorão.
Duas esculturas representando Buda, esculpidas na rocha entre os séculos IV e V, e que foram destruídas em março de 2001 pelo grupo Talibã
  A mídia informou que o Talibã deram refúgio a Osama Bin Laden. Após o ataque terrorista às Torres Gêmeas em Nova York, as forças dos Estados Unidos que, como o Afeganistão teria decidido não entregar Osama Bin Laden, o país seria atacado. Assim, derrubou-se o regime Talibã e favoreceu-se, com o apoio de outros países, a instalação do governo liderado por Hamid Karzai.
  A facilidade da derrubada do Talibã contribuiu para que os Estados Unidos invadisse o Iraque, um país designado como parte do chamado "Eixo do Mal", pelo presidente norte-americano George W. Bush. Após a invasão do Iraque a posterior estagnação do sucesso internacional das forças de ocupação no território iraquiano, o Talibã recuperou a força, obteve um certo nível de controle político e aceitação na região fronteiriça entre o Paquistão e o Afeganistão, iniciando uma insurgência contra os Estados Unidos e o governo afegão, constituído após as eleições gerais, passando a utilizar os mesmos métodos da resistência no Iraque, incluindo emboscadas e atentados suicidas contra as tropas ali estacionadas dos países europeus e dos Estados Unidos.
Atentado ao Hotel Intercontinental de Cabul, em 20 de janeiro de 2018, foi reivindicado pelo Talibã
  De acordo com as línguas faladas no Afeganistão (o persa moderno e o afegão), talib significa "estudante", palavra emprestada da língua árabe. Os talibãs pertencem ao movimento islâmico sunita Deobandi, que enfatiza a piedade, a austeridade e as obrigações familiares. Este movimento emergiu em áreas da etnia pashtun.
  Apesar de o regime talibã ter banido o cultivo de papoulas de ópio em fins de 1997, estima-se que sua produção tenha crescido bastante no período em que o regime governou o Afeganistão e, após a queda do regime talibã, esse cultivo aumentou ainda mais, fazendo com que o Afeganistão seja responsável atualmente por cerca de 72% da produção mundial desse produto. A maior parte do ópio produzido no território afegão é vendido na Europa.
Cultivo de papoula no Afeganistão - o país é o maior produtor mundial desse produto
  Durante o período em que o Talibã governou o Afeganistão, as mulheres eram impedidas de trabalharem além da adoção de regras rígidas sobre a educação feminina. Em alguns casos, elas eram impedidas de terem acesso a hospitais públicos para que não fossem tratadas por médicos ou enfermeiros homens. Também não podiam sair de casa sem acompanhantes homens e saíam somente pela porta de trás dos ônibus. As viúvas ou que não possuíam filhos não eram consideradas pessoas pelo Estado e muitas vezes enfrentavam a fome.
  Em face de conflitos com anciões hinduístas, que frequentemente eram confundidos com islâmicos que haviam desrespeitados a ordem de não rasparem a barba, os Talibãs decretaram, em maio de 2001, que os hindus e membros de outras religiões usassem um símbolo amarelo como identificação. Esta ordem foi, posteriormente, modificada em junho daquele ano para obrigar os hindus a usarem uma carteira de identidade especial. O ato de empinar pipas, presentes em alguns rituais do hinduísmo, foi banido por ser considerado perda de tempo. Além disso, foi proibido a conversão de islâmicos a outras religiões (se caso alguém desrespeitasse essa ordem era punido com a morte e o estrangeiro, expulso).
Cabul - capital do Afeganistão
  Em 1996, o saudita Osama Bin Laden mudou-se para o Afeganistão a convite da Aliança do Norte, principal grupo opositor do Talibã no país. Segundo o governo norte-americano, quando o Talibã chegou ao poder, a Al Qaeda (grupo fundamentalista islâmico criado por Osama Bin Laden) aliou-se a eles.
  Em resposta aos atentados às Torres Gêmeas, em 11 de Setembro de 2001, os Estados Unidos e seus aliados invadiram o Afeganistão à procura de Osama Bin Laden, que estaria refugiado no país sob a proteção do regime Talibã. Porém, a missão não alcançou êxito. Essa invasão pôs fim aos seis anos de regime Talibã.
Militares norte-americanos em patrulha no Afeganistão, em 2011
REFERÊNCIA: Lucci, Elian Alabi
Território e sociedade no mundo globalizado, 2: ensino médio / Elian Alabi Lucci, Anselmo Lázaro Branco, Cláudio Mendonça. -- 3. ed. -- São Paulo: Saraiva, 2016.

quinta-feira, 31 de maio de 2018

OS PRINCIPAIS EIXOS DE INTEGRAÇÃO ECONÔMICA DA AMÉRICA DO SUL

  A integração econômica entre os países da América do Sul é uma das prioridades da política externa brasileira desde meados do século XX. Um dos fatores essenciais para que esse processo se consolide é a construção de uma infraestrutura moderna e integrada de energia, transportes e comunicações.
  A Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana, ou simplesmente IIRSA, é um programa conjunto dos 12 países da América do Sul que visa a promover a integração sul-americana de transporte, energia e telecomunicações, mediante ações conjuntas. Pretende-se, assim, estimular a integração política, econômica e sociocultural da América do Sul.
Ponte sobre o rio Tacutu que liga as cidades de Lethem (Guiana) e Bonfim (Roraima)
Os eixos de integração
  A iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (Iirsa), criada em 2000, busca suprir essa deficiência. Criada na Primeira Reunião de Presidentes da América do Sul, realizada em Brasília, a Iirsa tem como meta integrar a infraestrutura de transportes, energia e comunicações entre os doze países signatários: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela. Para tanto, foram estabelecidos dez eixos prioritários de integração viária. Esses eixos são:
  • Eixo Andino - fazem parte Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e Bolívia. Este eixo possui abundantes reservas de gás natural e petróleo. O fluxo intra-regional dos bens e serviços ocorre, principalmente por via marítima, mas também por rodovias. Está previsto para este eixo, a resolução dos obstáculos para otimizar o funcionamento do corredor atual, como o acesso às cidades, portos e capacidade das rodovias, a melhoria das condições de operação nas fronteiras e o desenvolvimento de corredores transandinos leste-oeste. Há também a construção de vários gasodutos.

Rodovia Panamericana, no Equador
  • Eixo Interoceânico de Capricórnio - compreende ao trecho que passa nas cidades de Antofagasta (Chile), Jujuy (Argentina), Assunção (Paraguai) e Porto Alegre (Rio Grande do Sul). Esse trecho possui uma infraestrutura bem consolidada, embora suas barreiras naturais, que incluem os rios Pilcomayo, Paraguai, Paraná e Uruguai, além da Cordilheira dos Andes, precisarão de um maior investimento para acelerar a integração devido suas dificuldades naturais. Trata-se de uma integração energética, incorporação de novas terras para a produção agrícola com destino à exportação e produção de biocombustíveis. O elemento articulador deste eixo é o transporte intermodal, principalmente a interconexão através da Hidrovia Paraná-Paraguai. Há também uma melhoria na malha rodoviária e ferroviária.

Rio Paraguai na cidade de Cáceres (MT)
  • Eixo Interoceânico Central - estabelece conexão do Brasil com a Bolívia, Paraguai, Peru e Chile. A principal obra desse eixo é a Estrada Interoceânica do Sul (também conhecida como Estrada do Pacífico), que liga o Oceano Pacífico ao Oceano Atlântico, e seu principal objetivo é estabelecer uma rede de transportes para a exportação de produtos agrícolas e minerais dos países envolvidos entre os dois oceanos que banham o continente sul-americano.

Estrada do Pacífico, que liga o Brasil ao litoral do Peru, no Oceano Pacífico. Trecho próximo à Rio Branco - AC
  • Eixo do Amazonas - conecta a navegação fluvial amazônica a portos do Peru e do Equador. O Eixo Amazonas foi definido por meio da delimitação de uma região ao longo do sistema multimodal de transportes que liga determinados portos do Pacífico, como Buenaventura na Colômbia, Esmeraldas no Equador e Paita no Peru, com os portos brasileiros de Manaus, Belém e Macapá. Esta área de influência é relativamente dinâmica, já que está relacionada também com a localização física dos projetos que incorporam aos distintos grupos em que o eixo foi dividido. Este eixo tem como destaque o rio Amazonas e seus afluentes e caracteriza-se pela sua vasta extensão, diversidade topográfica e baixa densidade demográfica.
Navios transatlânticos no Porto de Manaus - AM
  • Eixo Sul - vai do sul do Chile (com destaque para as cidades de Talcahuano e Concepción), até o sul da Argentina (com destaque para as cidades de Neuquén e Bahía Blanca). O principal objetivo desse eixo é promover a exploração do turismo e dos recursos energéticos (principalmente o petróleo e o gás natural).

Torres del Paine, na região da Patagônia chilena
  • Eixo Mercosul-Chile - liga São Paulo, Rio de Janeiro, Montevidéu, Buenos Aires, Santiago e termina no porto chileno de Valparaíso. Concentra os mais importantes fluxos comerciais da América do Sul. Nessa área encontram-se as capitais de todos os estados e províncias do Eixo. a infraestrutura é bastante madura e complexa, integrada por uma vasta e bem organizada rede de transportes, instalações energéticas e sistemas de comunicações.
Porto de Valparaíso, no Chile
  • Eixo Peru-Brasil-Bolívia (engloba a Rodovia Interoceânica) - abre uma alternativa para o escoamento da soja e de outros grãos produzidos no Centro-Oeste brasileiro. O principal objetivo é criar um eixo de transportes envolvendo Brasil, Bolívia e Peru, com a conexão portuária peruana no Pacífico, permitindo a expansão do comércio destes países coma a Ásia.
Rodovia Interoceânica, no Peru
  • Eixo Hidrovia Paraguai-Paraná - envolve os cinco países banhados pela bacia do Rio da Prata (Bolívia, Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina). Começa no município de Cáceres, no Mato Grosso, e atravessa 1.300 quilômetros até Nueva Palmira, no Uruguai. Sua área de influência é relativamente dinâmica, já que está relacionada com a localização física dos projetos que estão incorporados aos distintos grupos em que se dividiu o eixo. O principal objetivo desse eixo é promover a integração dos transportes fluviais e incrementar a oferta de energia hidrelétrica.
Rio Paraguai, em Assunção
  • Eixo do Escudo das Guianas - compreende áreas da Venezuela, Guiana, Suriname e o extremo-norte do Brasil. Esta área de influência tem como destaque a ligação rodoviária entre Manaus e a capital da Venezuela, Caracas, e a ligação entre Manaus e Suriname. O principal objetivo desse eixo é aperfeiçoar a rede rodoviária e contribuir para o transporte de produtos, principalmente minerais.
Rodovia que liga Manaus a Margarita, na Venezuela
  • Eixo Andino do Sul - compreende a região de fronteira entre o Chile e a Argentina que é cortada pela Cordilheira dos Andes. O principal objetivo desse eixo é incentivar o desenvolvimento da indústria do turismo e melhorar a rede de transportes por meio de investimentos na infraestrutura da rede de transportes.
Carretera Austral (Ruta CH-7) - localizada no sul do Chile, é considerada uma das mais belas estradas do mundo
  Além dos projetos de integração viária, estão em andamento importantes iniciativas para a integração energética. Uma delas é a expansão do gasoduto Bolívia-Brasil, que deverá atravessar o Rio Grande do Sul e integrar-se à rede de gasodutos da Argentina, já conectada com a do Chile e a da Bolívia. Em grande parte por causa da integração da rede de gasodutos sul-americanos. Argentina e Brasil possuem as maiores frotas de veículos movidos a gás natural no mundo.
Machu Picchu - Peru
REFERÊNCIA: Terra, Lygia
Conexões: estudos de geografia geral e do Brasil / Lygia Terra, Regina Araújo, Raul Borges Guimarães. - 3. ed. - São Paulo: Moderna, 2016.

sexta-feira, 25 de maio de 2018

AS PLANÍCIES CENTRAIS DA AMÉRICA DO NORTE

  Chama-se Planícies Centrais (também chamada de Grandes Planícies) uma faixa larga de pradarias que se estendem a leste das Montanhas Rochosas, nos Estados Unidos e no Canadá, na porção central da América Anglo-Saxônica, indo desde o sul do Canadá até o Golfo do México. Têm origem na deposição de sedimentos em eras geológicas recentes, trazidos por rios ou lagos naturais.
  As Grandes Planícies ocupam a totalidade ou parte dos Estados do Novo México, Texas, Oklahoma, Colorado, Kansas, Nebraska, Wyoming, Montana, Dakota do Sul e Dakota do Norte, nos Estados Unidos,  e das províncias canadenses de Manitoba, Saskatchewan e Alberta, onde são denominadas de pradarias (praieries), formando assim as Pradarias Canadenses.
Mapa das Planícies Centrais
  Historicamente, as Planícies Centrais eram domínio dos bisontes (grandes mamíferos ruminantes) e dos Índios das Planícies (Pikuni, Crows, Sioux, Cheyenne, Arapaho e Comanche, entre outros), que os caçavam. A porção oriental das Planícies Centrais era habitada por tribos semi-sedentárias, que viviam em cabanas de terra.
  Com a chegada de Francisco Vásquez de Coronado, um conquistador espanhol enviado pelo Vice-Rei da Nova Espanha, Antonio de Mendoza, assistiu-se à primeira incursão europeia nas Planícies Centrais na direção oeste-noroeste (territórios que atualmente fazem parte do Texas, Kansas e Nebraska), entre  1540 e 1542. Também neste período, Hernando de Soto, atravessou as Planícies Centrais na direção oeste-noroeste, território que atualmente compreende os estados de Oklahoma e do Texas, percurso denominado atualmente de De Soto Trail. O sonho dos espanhóis era encontrar ouro na região.
Planície Central perto de Kearney, Nebraska
  Nos séculos seguintes, o negócio das peles trouxe milhares de europeus às Planícies Centrais. Caçadores de peles franceses, espanhóis, britânicos, russos e jovens dos Estados Unidos percorreram parte da região em busca desse produto. Com a compra da Luisiana, em 1803, e a subsequente Expedição de Lewis e Clark, em 1804, as Planícies Centrais tornaram-se mais acessíveis. Um centro importante de peles foi instalado em Fort Lisa, à beira do rio Missouri, no Nebraska, tendo estas primeiras implantações aberto a porta para uma vasta expansão para o Oeste, com povoações cobrindo quase todo o território das Grandes Planícies.
Camping on the Prairie - quadro de óleo sobre papel de Paul Kane, de 1846
  A colonização das Planícies Centrais levou à quase extinção do búfalo e à deslocação dos nativos americanos para reservas pela década de 1870. Uma parte importante das Planícies Centrais tornaram-se pradarias, onde se estabeleceram enormes ranchos. Durante a primavera e o outono, o gado era recolhido, sendo os vitelos (bezerros ou novilhos) marcados e o gado posto à venda. A prática desta atividade, em inglês ranching, começou no Texas e gradualmente foi se desenvolvendo cada vez mais para o norte. Desde a década de 1950, as Planícies Centrais tornaram-se áreas de culturas produtivas devido à irrigação extensiva.
  O clima da maior parte das Planícies Centrais é semiárido, o que corresponde a uma elevada amplitude térmica anual e diária, com chuvas ocasionais e temporárias.
Bisão-americano (Bison bison) - animal típico das Planícies Centrais
  O relevo suave da Planície Central, que favorece a utilização de máquinas, e a fertilidade do solo foram fundamentais para o crescimento da agricultura dos Estados Unidos, que é a mais desenvolvida do planeta, com produtividade superior aos demais países desenvolvidos. O país é o maior exportador de grãos do mundo, além de grande produtor de soja, milho, algodão, trigo, batata e laranja, entre outros. Essas características naturais, aliadas à alta tecnologia e aos investimentos, fazem da América Anglo-Saxônica grande líder na produção agrícola mundial.
  A alta mecanização agrícola, a irrigação de extensas áreas áridas, o uso da biotecnologia e o sistema de belts (cinturões agrícolas) caracterizam a agricultura dos Estados Unidos.
Pradaria no estado do Kansas - Estados Unidos
  Os belts são áreas especializadas no cultivo de determinados produtos utilizando o sistema de monocultura. Localizam-se nas proximidades das Grande Planícies e nas proximidades dos Grandes Lagos, na fronteira com o Canadá. Além de abastecer a indústria interna, os produtos desses cinturões compõem parte das exportações estadunidenses.
  Para o plantio nesse sistema, observa-se principalmente o aspecto climático. Assim, no sul do país, que apresenta temperaturas médias mais elevadas, são plantados produtos tropicais, como o algodão e a cana-de-açúcar, enquanto no centro-norte cultiva o trigo, produto típico de climas mais amenos. Além 
Plantação de milho no estado de Nebraska - Estados Unidos
  O Rio Mississipi, atravessa as Planícies Centrais nos Estados Unidos e forma uma densa rede hidrográfica, com seus afluentes vindos dos Montes Apalaches a leste e das Montanhas Rochosas a oeste, tendo como principal afluente o rio Missouri. Esse rio exerce um papel muito importante para a economia regional, circulando milhões de toneladas de mercadorias todos os anos. A Bacia do Mississipi-Missouri oferece condições de navegabilidade em quase toda sua extensão. Boa parte da produção agrícola da região é transportada através de seus rios. A bacia também abastece muitas cidades do país, além de ser utilizada em sistemas de irrigação agrícola.
União dos rios Mississipi e Ohio, no estado de Illinois - Estados Unidos
  As pradarias canadenses são uma região localizada ao sul e sudoeste do Canadá, e compreende a porção canadense das Planícies Centrais, abrangendo áreas nas províncias de Alberta, Saskatchewan e Manitoba. Cobre também partes da Colúmbia Britânica, embora essa província não seja tipicamente incluída na região em um sentido político. Caracteriza-se pelo seu solo sedimentar e pelo seu terreno pouco acidentado.
  Essa região é a principal responsável pela produção agrícola do Canadá, principalmente trigo, aveia, cevada, centeio e milho.
Estrada que passa pelas pradarias de Alberta - Canadá
REFERÊNCIA: Geografia espaço e vivência. 9º ano / Levon Boligian. [et al...]. - 5. ed. -- São Paulo: Saraiva, 2015.

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