terça-feira, 18 de agosto de 2015

A ECONOMIA DO MEIO-NORTE

  A sub-região do Meio-Norte é uma faixa de transição localizada entre o Sertão seco e a Amazônia de clima equatorial, quente e úmido, e é também conhecida como mata dos cocais devido à presença de palmeiras, como o babaçu e a carnaúba. Abrange grande parte dos estados do Maranhão e do Piauí e apresenta uma população pouco numerosa.
  Latitudinalmente o Meio-Norte pode ser subdividido em setentrional e meridional, e longitudinalmente em leste e centro-oeste, sendo o leste ocupado pelo Piauí ocidental, e o centro-oeste pelo Maranhão.
    As maiores cidades do Meio-Norte são Teresina e Parnaíba, no Piauí, e São Luís, Imperatriz, Balsas e Caxias, no Maranhão, importantes centros comerciais e de serviços, além da produção agrícola, principalmente em Balsas.
A área verde corresponde a sub-região Meio-Norte
  Em razão da diversidade climática, a vegetação muda drasticamente à medida que se aproxima da Floresta Amazônica, passando da vegetação seca e árida da Caatinga para a mata de cocais, até a formação de uma floresta mais fechada. No sul do Piauí e do Maranhão aparece o Cerrado, vegetação rasteira composta de campos, com a presença de pequenas árvores e arbustos com galhos retorcidos.
  A carnaúba é conhecida como a "árvore da providência" pois dela tudo se aproveita. A madeira é muito resistente; o fruto é usado para alimentar o gado; as raízes, para preparar medicamentos; as folhas para tecer cordas, redes, esteiras; a semente para produzir óleo de cozinha; e a cera, para fabricar velas, tintas, graxas e vernizes.
Carnaubeiras no Piauí
  Outra árvore de grande importância para o Meio-Norte é o babaçu. Seus frutos são empregados na confecção de muitos produtos: remédios, creme hidratante, maquiagem, loção para o corpo, óleo industrial ou comestível, mas os principais produtos, feitos com o coco do babaçu, são o carvão e o óleo.
  A maior parte dos trabalhadores que realizam a atividade de colher os cocos, quebrá-los e extrair as sementes são mulheres. O trabalho, realizado manualmente, é muito difícil. As quebradeiras de babaçu passam a tarde inteira sentadas no quintal, quebrando os cocos com um porrete de madeira. Ao final do dia, seu corpo está dolorido e as mãos, calejadas. É com esse trabalho que muitas garantem o sustento da família.
Quebradeiras de coco babaçu
  O Meio-Norte possui terras predominantemente em altitudes baixas (entre 0 e 200 metros); apenas na porção mais ao sul as terras apresentam-se em altitudes mais elevadas (entre 200 e 500 metros), e, em pequenos trechos, em altitudes entre 500 e 800 metros, onde nascem vários rios que formam a rica rede hidrográfica do Meio-Norte.
  Destaca-se nessa sub-região o Rio Parnaíba, com extensão de 1.414 quilômetros. Ele forma a divisa dos estados do Piauí e Maranhão e deságua no Oceano Atlântico. Sua foz, em forma de delta, localiza-se no município de Parnaíba. Próximo à foz do rio Parnaíba, encontra-se o único porto do Piauí, o porto de Luís Correia, no município de mesmo nome, que ainda está em construção.
Obras no porto de Luís Correia
  No seu alto curso e em parte do curso médio é um típico rio de planalto, com várias corredeiras. Nele, foi construída a barragem e a Usina Hidrelétrica de Boa Esperança. O rio é navegável na sua porção de planície, sobretudo entre Teresina, capital do Piauí, e Parnaíba, no litoral.
  A Usina Hidrelétrica Boa Esperança, anteriormente denominada Usina Hidrelétrica Marechal Castelo Branco, está situada na cidade piauiense de Guadalupe, a 380 quilômetros da capital Teresina.
Usina Hidrelétrica Boa Esperança
  Predomina no Meio-Norte o clima tropical com verão úmido e inverno seco. No extremo oeste do Maranhão o clima é equatorial úmido. As médias térmicas anuais situam-se entre 24ºC e 26°C, e a precipitação total anual varia conforme a área considerada, de 1.000 mm a mais de 2.000 mm. Em São Luís, capital do Maranhão, que se localiza em área litorânea, a precipitação é elevada (2.200 mm anuais). Em Teresina, no Piauí, a única capital do Nordeste que não se localiza no litoral, a precipitação é em torno de 1.678 mm anuais.
São Luís (MA) - maior e mais importante cidade do Meio-Norte
  As atividades econômicas predominantes no Meio-Norte são ligadas ao campo. Até aproximadamente 1960, a economia do Meio-Norte assentava-se na criação de gado, cultura do algodão, extração do babaçu, produção de açúcar, plantio e beneficiamento de arroz e extração de cera de carnaúba.
  A partir dos anos 1970, iniciou-se na região um processo de modernização econômica. Investimentos foram realizados na agropecuária, principalmente por fazendeiros vindos da Região Sul, e no extrativismo vegetal e mineral. O Maranhão passou a ser o escoadouro das riquezas minerais da Serra dos Carajás, no estado do Pará. Para isso, foi construída a Estrada de Ferro Carajás, ligando as jazidas minerais ao Porto de Itaqui, no Maranhão. Esse porto foi equipado para exportar minério de ferro e receber navios de grande capacidade de transporte.
Teresina (PI) - segunda maior cidade do Meio-Norte
  A atividade extrativa vegetal é praticada em grande parte dessa região, sobretudo na mata dos cocais, onde são explorados o babaçu e a carnaúba. Embora as técnicas de exploração sejam tradicionais, essa coleta constitui a principal fonte de renda para muitos trabalhadores. Na região da mata dos cocais, também é comum a criação extensiva de gado bovino.   Nas margens dos principais rios do Meio-Norte, onde os solos são mais úmidos, desenvolvem-se grandes plantações de arroz de várzea, principalmente no Maranhão, um dos maiores produtores do país. Nas áreas mais secas são cultivadas lavouras de mandioca, milho e algodão.
Imperatriz (MA) - terceira maior cidade do Meio-Norte
  A soja foi introduzida na região por migrantes do Sul, principalmente gaúchos, que desenvolvem suas lavouras valendo-se de alta tecnologia, com o uso de pivôs de irrigação automáticos, fertilizantes, sementes selecionadas e máquinas modernas.
  A cerca de três décadas, a cultura da soja vem sendo praticada em diversos municípios localizados no Meio-Norte, sobretudo nas áreas de cerrado, como no sul dos estados do Maranhão e do Piauí.
  O avanço da agricultura nesta zona geográfica ocorre sobretudo com a soja, além do arroz, do milho e do algodão. A produção de soja, algodão e milho concentra-se no sul desta sub-região, que faz parte do cerrado nordestino. No Piauí, o estado mais promissor do agronegócio, destacam-se as cidades de Uruçuí, Bom Jesus e Ribeiro Gonçalves. No Maranhão, o desenvolvimento é facilitado pelas excelentes condições de logística da região para exportação.
Cultivo de soja em Balsas, MA
  A produção de culturas altamente tecnificadas e voltadas para o mercado externo no Meio-Norte tornou-se viável com a implantação do chamado Corredor de Exportação Norte, uma extensa área geográfica formada por dezenas de cidades atendidas por um sistema multimodal de transportes, que integra rodovias, ferrovias e hidrovias. O Corredor de Exportação foi criado para permitir o escoamento das safras agrícolas do Meio-Norte e de porções das regiões Norte e Centro-Oeste em direção ao porto de Itaqui, em São Luís, no Maranhão, onde são embarcadas para o exterior.
  O cultivo nessa área é realizado em fazendas altamente mecanizadas, com os melhores índices de produtividade agrícola por hectare do Brasil. Tem ainda como benefício a menor distância em relação ao mercado europeu.
Colheita da soja no Maranhão
  Desde 1992, quando começou a funcionar o Corredor de Exportação Norte, toda a produção agrícola do sul do Maranhão passou a escoar para o Porto de Ponta da Madeira por um longo trecho de estrada de ferro operado pela Vale. 
  Outra atividade econômica bastante relevante nessa sub-região nordestina é a mineração graças à implantação do Projeto Grande Carajás. Esse projeto foi criado na década de 1980 pela Vale do Rio Doce (atual Vale), para a extração e transporte de minérios em terras do Maranhão, Pará e Tocantins. Os principais minérios extraídos são: ouro, estanho, bauxita, manganês, níquel e cobre. 
  O Projeto Grande Carajás foi muito importante para alavancar o desenvolvimento da região, uma vez que a partir dele foram construídas estradas, como a Estrada de Ferro Carajás, o que propiciou a instalação de indústrias, entre outros benefícios.
Porto de Itaqui, em São Luís - MA
  A criação do Complexo Portuário e Industrial de São Luís, que congrega os portos de Itaqui e da Madeira, também tem colaborado para impulsionar o crescimento dessa sub-região nordestina. O porto de Itaqui é fundamental para as exportações agrícolas, e pelo porto da Madeira é embarcado todo o minério de ferro, cobre e manganês extraído na Serra do Carajás, no Pará.
  Espera-se que outro grande impulso à economia do Meio-Norte seja dado com a conclusão da construção da Ferrovia Norte-Sul. Essa ferrovia faz entroncamento com a Estrada de Ferro Carajás, em Açailândia (MA), permitindo acesso ao Porto de Itaqui. De Açailândia, ela segue em direção à Araguaína (TO). Em sua extensão total, a ferrovia ligará o município de Panorama (SP) a Belém (PA), em um percurso total de 3.100 quilômetros.
  No setor secundário, destaca-se o Complexo Industrial e Portuário de São Luís. Em Imperatriz encontra-se grandes indústrias, como a Suzano Celulose.
Porto da Madeira, em São Luís - MA
FONTE: Geografia espaço e vivência: a organização do espaço brasileiro, 7º ano / Levon Boligian ... [et al.]. 4. ed. -- São Paulo: Saraiva, 2012.

sábado, 15 de agosto de 2015

A ILHA SURTSEY: UMA DAS ILHAS MAIS JOVENS DA TERRA

  A ilha Surtsey está localizada na Islândia (norte do oceano Atlântico), e foi formada em poucos meses por causa do derramamento de lava de uma erupção vulcânica ocorrida no início da década de 1960.
  A erupção que originou a ilha Surtsey começou a 130 metros abaixo da superfície do oceano, emergindo no dia 14 de novembro de 1963, o que fez daquela ilha um dos territórios mais jovens do planeta e a ilha mais nova do Oceano Atlântico. A erupção, que começara alguns dias antes da ilha emergir, durou até 5 de julho de 1967, data em que a ilha atingiu a sua máxima extensão, ocupando então uma área de 2,7 km². A partir daí, a erosão marinha e o vento vêm reduzindo paulatinamente o tamanho da ilha que, atualmente, conta com apenas 1,4 km² de área. A nova ilha foi batizada em honra a Surtr, o gigante do fogo da mitologia nórdica.
Mapa de localização da ilha Surtsey
  A ilha foi estudada intensivamente desde os estágios iniciais da erupção, fornecendo um modelo de grande interesse para os estudos de vulcanologia e evolução dos materiais vulcânicos, erosão costeira e ecologia, com destaque para estudos sobre a palagonitização (material rico em ferro) dos tufos vulcânicos e os processos de colonização vegetal de novos territórios insulares.
  A ilha resultou de uma erupção situada ao longo de uma das múltiplas linhas de fratura que formam o sistema vulcânico submarino de Vestmannaeyjar (arquipélago de Vestmann), parte da grande cadeia vulcânica da Dorsal Média do Atlântico.
  O sistema vulcânico de Vestmannaeyjar também produziu em 1973 a erupção Eldfell, na ilha de Heimaey. A erupção que criou Surtsey também deu origem a alguns outros pequenos ilhéus nas imediações, como o Jolnir e outros rochedos, a maior parte dos quais já desapareceu devido à abrasão marinha.
Erupção do Vestmannaeyjar, em 1973
  A erupção que deu origem à ilha de Surtsey, na manhã de 14 de novembro de 1963, liberou uma coluna de gases e cinzas com vários quilômetros de altura, permitindo ser vista  em quase  toda região costeira sul da Islândia. Essa erupção se deu por três crateras separadas ao longo de uma fissura alinhada no sentido nordeste-sudoeste, mas os centros eruptivos acabaram por se fundir numa única erupção de caráter fissural, relativamente linear.
  Ao longo da semana, as explosões eram contínuas e em poucos dias formou-se uma nova ilha, essencialmente composta por escórias vulcânicas. Esta ilha tinha cerca de 500 metros de comprimento e uma altitude máxima de 45 metros acima do nível do mar.
Ilha Surtsey
  Com a continuação da erupção, as emissões foram-se concentrando em torno de um único ponto, levando a construção de uma ilha com uma forma quase circular. No dia 24 de novembro a ilha media cerca de 900 por 600 metros. As violentas explosões causadas pela rápida expansão do vapor sobreaquecido produzido pelo contato da água do mar com a água incandescente levou a ilha a ser constituída essencialmente por escórias de rocha vulcânica, de baixa densidade e com baixo grau de agregação, deixando a estrutura bastante vulnerável à erosão marinha.
  Após o fim da erupção, foi estabelecida uma rede de observação científica, incluindo uma rede de referenciais para determinar a evolução das costas da ilha e a sua possível alteração na forma do relevo.
Erupção que deu origem à ilha Surtsey
  A ilha já perdeu grande parte de sua área por causa da erosão mas, segundo os estudiosos, a ilha provavelmente não desaparecerá no futuro próximo. A parte já erodida consistia  essencialmente em material não consolidado, que era facilmente arrastado pelas ondas e pelos ventos, enquanto que a parte remanescente está recoberta por basalto, muito mais resistente à erosão.
Visão aérea da ilha Surtsey
  Assim, apesar da ilha perder parte da superfície, ela persistirá por muitos séculos. Em 2001, o governo islandês apresentou a candidatura de Surtsey para a inclusão na lista da UNESCO de localidades consideradas como Patrimônio da Humanidade.
Surtsey, 16 dias após o início da erupção
FONTE: Geografia espaço e vivência: o espaço geográfico mundial, 8º ano / Levon Boligian ... [et al.]. -- 4. ed. -- São Paulo: Saraiva, 2012.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

TAIWAN: A "PROVÍNCIA REBELDE" DA CHINA

  Localizado na ilha de Formosa, na Ásia Oriental, Taiwan é um país insular, separado do continente por um estreito de 150 quilômetros de largura, no Oceano Pacífico.
  Também conhecida como China Nacionalista ou Formosa, Taiwan é considerada uma "ilha rebelde" por parte da China continental. Durante a Revolução Chinesa em 1949, quando os comunistas assumiram o poder na China, as lideranças nacionalistas contrárias ao comunismo, invadiram e tomaram a ilha. Até hoje, a China continental não reconhece a independência de Taiwan, que não possui representação na ONU.
  Logo após a Revolução Chinesa, os Estados Unidos deram apoio militar a Taiwan, garantindo sua autonomia. Nas últimas três décadas, a ilha apresentou um crescimento médio do PIB de 8% ao ano e tornou-se um importante parceiro comercial da China.
Mapa de Taiwan
HISTÓRIA
  A ilha de Taiwan era ligada ao continente asiático no Pleistoceno Superior, até que o nível do mar subiu cerca de 10 mil anos atrás. Restos humanos fragmentados na ilha datam de 20 mil a 30 mil anos atrás, bem como artefatos posteriores de uma cultura paleolítica.
  Há mais de 8 mil anos, os primeiros austronésios estabeleceram em Taiwan. As línguas de seus descendentes, que são conhecidos como osaborígenes de Taiwan, atualmente pertencem à família das línguas austronésias, que também inclui as línguas malaio-polinésias, abrangendo uma enorme família linguística, que inclui o tagalog das Filipinas, o malaio da Malásia, o indonésio da Indonésia, o javanês de java, o malgaxe de Madagascar e o Rappa Nui da ilha de Páscoa.
  Os chineses da etnia han começaram a se estabelecer nas ilhas Pescadores no século XIII, mas tribos hostis da ilha e sua falta de recursos comerciais valorizados tornavam o local pouco atraente para os chineses.
Taoyuan - com uma população (estimativa 2015) de 2.085.883 habitantes, é a quinta mais populosa cidade de Taiwan
  A Companhia Holandesas das Índias Orientais tentou estabelecer um posto avançado de negociação nas ilhas Pescadores em 1622, mas foram militarmente derrotados e expulsos pelas autoridades locais.
  Em 1626, os espanhóis desembarcaram e ocuparam o norte da ilha de Taiwan, nos portos de Keelung e Tamsui, objetivando formar uma base para desenvolver o seu comércio na região. O período colonial espanhol durou 16 anos, quando, em 1642, a última fortaleza espanhola caiu sob o domínio holandês. Após a queda da dinastia Ming, Koxinga (Zheng Keshuang), um auto-denominado apoiante dos Ming, chegou à ilha e capturou Fort Zelandia em 1662, expulsando o governo e os militares holandeses da ilha. Koxinga estabeleu o Reino de Tungning (1662-1683), tendo como capital a cidade de Tainan. Ele e seus herdeiros continuaram a lançar ataques à costa sudeste da China continental.
Fort Zelandia
  Em 1683, após a derrota do neto de Koxinga por uma armada liderada pelo almirante Shi Lang, do sul de Fujian, a dinastia Qing anexou formalmente a ilha de Taiwan, colocando-a sob a jurisdição da província de Fujian. O governo imperial Qing tentou reduzir a pirataria na área e emitiu uma série de editais para gerir a imigração e respeitar os direitos de terra indígenas. Imigrantes, sendo a maior parte do sul de Fujian, continuaram a entrar na ilha, promovendo a absorvição de algumas culturas nativas pelos chineses, enquanto outras tribos se retiraram para as montanhas.
  Entre o fim do século XIX e os anos 1930 ocorreram muitas rebeliões contra a ocupação japonesa, que ocorreu durante a Primeira Guerra Sino-Japonesa (1894-1895), algumas das quais resultaram em milhares de mortos. A China continental se dividiu em vários governos regionais menores no período seguinte, após o fim da monarquia em 1912. A ocupação japonesa de Taiwan durou até o final da Segunda Guerra Mundial.
  Após a rendição do Japão, em 15 de agosto de 1945, a ilha de Taiwan retornou ao controle da República da China, cuja formalização se deu mais tarde, pelo Tratado de Paz de São Francisco em 1951.
  Ao longo da primeira metade do século XX, em diversos pontos do território chinês, muitos chineses iniciaram uma longa luta para acabar com o domínio estrangeiro. Na década de 1920, destacaram-se dois grandes grupos nacionalistas. Um deles, liderado pelo general Chiang Kai-shek, pregava a expulsão de todos os estrangeiros do país e contava com o apoio dos ricos proprietários rurais e das tradicionais famílias chinesas.
  O outro grupo nacionalista tinha o comando do líder socialista Mao Tsé-tung, que acreditava que a expulsão dos estrangeiros deveria ser acompanhada de uma mudança na economia, com a implantação do socialismo.
Chiang Kai-shek (1887-1975)
  Apesar de rivais, esses grupos nacionalistas estabeleceram um acordo durante a Segunda Guerra Mundial. Desse modo, puderam lutar juntos pela expulsão dos japoneses, que haviam invadido a Manchúria em 1931. Entretanto, em 1945, no fim da Segunda Guerra, os dois grupos começaram uma guerra civil na China.
  A guerra civil entre os dois grupos nacionalista se espalhou por todo o território chinês. No final de 1948, as tropas lideradas por Mao Tsé-tung conseguiram grandes vitórias, cercando os comandados de Chiang Kai-shek.
  Após muitas negociações, o general Chiang Kai-shek e seus seguidores se refugiaram na ilha de Formosa e declararam a independência daquele território, que passou a se chamar República da China, também conhecida como Taiwan. Apoiada pelos Estados Unidos e pela Inglaterra, a ilha adotou o capitalismo, permitindo a presença de empresas privadas estrangeiras.
Tropas comunistas próximo à Pequim, em 1949
  Uma das primeiras medidas adotadas por Chiang Kai-shek foi promover a reforma agrária, dividindo as terras em pequenas propriedades. A política posta em prática em Taiwan fundamentou-se nos "Três Princípios Básicos do Povo", de Sun Yatsen (líder da revolução que derrubou a Monarquia na China): distribuição equilibrada da riqueza, melhor utilização da terra e melhores condições para o povo.
  Quando a China se declarou socialista, os Estados Unidos não reconheceram a legitimidade da China continental. Passaram a apoiar e reconhecer somente o governo da ilha de Taiwan como representante do povo chinês e pressionaram a ONU para que fizesse o mesmo. Durante muitos anos, a ilha de Taiwan foi protegida por tropas estadunidenses contra uma possível invasão da China socialista. Essa proteção e o apoio externo deram suficiente tranquilidade para a evolução capitalista da ilha de Taiwan.
  Enquanto Taiwan se desenvolvia, a China afastou-se da esfera de influência soviética. Aproveitando a situação, os Estados Unidos iniciaram conversações com os líderes chineses. A intenção era trazer a China continental para a área de influência dos Estados Unidos, o que seria uma enorme perda para os soviéticos. Além disso, a grande população da China poderia se transformar em importante mercado consumidor para as empresas estadunidenses.
Encontro entre o presidente dos Estados Unidos (Richard Nixon) e o presidente da China (Mao Tsé-tung), em fevereiro de 1972, em Pequim - China
  Na sequência dos acontecimentos, em 1971, Taiwan retira-se da ONU e é substituída pela China socialista. Apesar da aproximação dos norte-americanos com os chineses, os Estados Unidos decidiram manter a ajuda financeira e militar a Taiwan para evitar uma possível intervenção militar chinesa.
  As mudanças ocorridas na China, em especial a abertura para o capital externo e a aceitação do conceito de "um país, dois sistemas", segundo o qual o governo socialista chinês aceitava uma economia com relações capitalistas, estimularam Taiwan a iniciar uma lenta aproximação da China.
  Após a morte de Chiang Kai-shek em 1975, o vice-presidente Yen Chia-kan assumiu o comando de Taiwan, mas quem comandava mesmo o governo era  o filho de Chiang Kai-shek, Chiang Ching-kuo, que se tornou presidente em 1978. Chiang Ching-kuo promoveu o crescimento econômico de Taiwan, levando o país a ser um dos mais industrializados e desenvolvidos da Ásia.
  Em dezembro de 1978, o presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter, anunciou que o país deixava de reconhecer a República da China como uma nação independente, transferindo o reconhecimento diplomático para a República Popular da China. Apesar desse episódio, o Congresso norte-americano aprovou a Lei de Relações com Taiwan, confirmando o apoio militar à República da China.
Tainan - com uma população (estimativa 2015) de 1.910.971 habitantes, é a sexta cidade mais populosa de Taiwan
  Após a morte de Chiang Ching-kuo, o seu sucessor Lee Teng-hui,  taiwanês de nascimento e educado no Japão, acelerou as reformas democráticas e promoveu o poder e a reafirmação de uma identidade taiwanesa diferenciada da China.
  A continuação das reformas democráticas em Taiwan levou à legalização dos partidos políticos da oposição. Estas reformas culminaram nas eleições presidenciais de 1996, onde, pela primeira vez, os taiwaneses puderam eleger o seu presidente pelo sufrágio universal, quando Lee Teng-hui foi reeleito presidente.
  Em 2000 ocorreu uma nova eleição presidencial, onde a oposição, liderada por Chen Shui-bian, líder do Partido Progressista Democrático, saiu vitorioso, derrotando pela primeira vez o partido governista Kuomintang.
  A entrada de Taiwan na Organização Mundial do Comércio (OMC), em novembro de 2001, deu-se como território, não como país. Apesar de haver ingressado na OMC, esse país ainda luta pelo seu reconhecimento internacional como Estado-nação.
Hsinchu - com uma população (estimativa 2015) de 437.816 habitantes, é a sétima cidade mais populosa de Taiwan
GEOGRAFIA
  A ilha de Taiwan fica a cerca de 180 quilômetros da costa sudeste da China, sendo separada deste país pelo estreito de Taiwan, possuindo uma área de 35.881 km². Incluindo a ilha dos Pescadores e as demais ilhas do país, sua área total é de 36.179 km². Ao norte da ilha de Taiwan está o mar da China Oriental, a leste o mar das Filipinas, ao sul o estreito de Luzon, e o mar da China Meridional a sudoeste.
  A ilha é caracterizada pelo contraste entre o leste e o oeste. O leste consiste principalmente de montanhas escarpadas que ficam em cinco cordilheiras e que cortam o país de norte a sul. O oeste é suavemente ondulado, onde aparece o planalto Chianan, e é onde reside a maior parte da população. O ponto culminante de Taiwan é a montanha Yu Shan, com 3.952 metros de altitude. Há ainda outros cinco picos com altitudes superiores a 3.500 metros, fazendo de Taiwan a quarta ilha mais alta do mundo.
Yu Shan - ponto culminante de Taiwan
  O Parque Nacional Taroko, localizado no lado oriental e montanhoso da ilha, possui grandes desfiladeiros e erosão causada por um rio que flui rapidamente. Os rios são de pouca dimensão e de torrentes, com imensas cheias e pronunciação de estiagens.
  O clima de Taiwan é o tropical, sendo bastante quente e chuvoso, com duas estações de chuvas. A monção de verão (de abril a setembro) se instala em todo o país; as precipitações são abundantes e provocam inundações. A monção de inverno (de outubro a março) é frio e com pouca chuva no sul e no norte é comum aparecer tufões. Na parte central da ilha, devido as altitudes das montanhas, o clima é mais ameno, tanto no verão quanto no inverno.
Parque Nacional Taroko
ECONOMIA
  Taiwan possui uma economia dinâmica, capitalista, impulsionada pelas exportações com uma diminuição gradual do envolvimento do Estado nos investimentos e no comércio exterior.
  Graças à proteção e o apoio externo no processo que culminou com a separação entre as duas Chinas e a adoção do capitalismo na ilha de Taiwan, ocorreram reformas em diversas áreas. Na parte agrária, criaram-se incentivos à maior produção de alimentos, favorecendo os pequenos proprietários de terras. Na área educacional, o governo passou a conceder bolsas de estudos para capacitação técnica dos estudantes fora do país. A educação foi dirigida para formar cientistas e profissionais capazes de desenvolver e trabalhar com tecnologias novas e cada vez mais revolucionárias.
  Dessa forma, em poucos anos Taiwan transformou-se em uma plataforma de exportação, com um grande crescimento econômico entre 1970 e 1988, com uma taxa de crescimento médio de 8,5% ao ano,  considerado um dos maiores índices de expansão capitalista em todos os tempos, fazendo com que o país entrasse para o "clube" dos Novos Países Industrializados (NIPs).
Produção de chá em Taiwan
  Atualmente muitas indústrias taiwanesas investem também na China socialista. Essa relação foi se aprofundando, e hoje Taiwan já é o maior investidor estrangeiro na China, principalmente no setor de informática - Tecnologia de Informações (TI). A maior fabricante mundial de placas de computador, de origem taiwanesa, já é uma das grandes exportadoras da economia chinesa. Além disso, a maior produtora de laptops do mundo é taiwanesa, e grande parte da produção se concentra na China.
  Mas essas empresas mantiveram suas redes e seus centros de pesquisa em Taiwan. Transferiram para a China apenas a parte da montagem de seus produtos, aproveitando o crescente mercado consumidor chinês.
  Hoje, cerca de 40% das exportações de Taiwan vão para a China. Esse comércio se dá, em grande parte, dentro de uma mesma empresa: a matriz instalada em Taiwan exporta peças e equipamentos modernos para a filial instalada na China, onde são montados. Para dar mais suporte a essa integração crescente, em 2008, o governo de Taiwan adotou medidas importantes, como a implantação de voos diários para a China e a abertura de conversações para estabelecer um Tratado de Livre Comércio.
Fábrica de produtos para computador em Taiwan
  Entre as tecnologias de ponta que Taiwan desenvolve em seu território, destaca-se a optoeletrônica, que fabrica dispositivos eletrônicos que interagem com a luz, como células de energia solar. Outra tecnologia avançadíssima na ilha são os equipamentos de precisão e os painés de LCD. Boa parte dessas tecnologias existentes hoje no mundo foi desenvolvida em Taiwan. Sua liderança também é absoluta na produção de semicondutores.
  Esse estrondoso avanço vem alterando completamente o espaço geográfico de Taiwan. Existem na ilha três importantes portos e dezenas de aeroportos, além de modernas rodovias e ferrovias.
  Todas essas mudanças já podem ser sentidas na melhora da qualidade de vida de Taiwan, constatada pela elevação do IDH do país. Quase a totalidade da riqueza produzida é gerada pela indústria e pelos serviços.
Mapa da economia de Taiwan
  Nas últimas décadas, esse crescimento econômico também trouxe uma série de problemas para o país. Com a expansão da produção, a necessidade de energia é cada vez maior. Dessa forma Taiwan depende quase totalmente da importação de petróleo. Para tentar amenizar esse problema, o governo vem investindo cada vez mais em energias alternativas, como a energia eólica e solar.
  O turismo é uma importante fonte de renda para o país e essa atividade vem crescendo muito a cada ano. A maioria dos turistas são asiáticos, principalmente do Japão. Fora da Ásia, os turistas que visitam o país são principalmente dos Estados Unidos e do Reino Unido.
Keelung - com uma população (estimativa 2015) de 385.757 habitantes, é a oitava cidade mais populosa de Taiwan
POPULAÇÃO
  A população taiwanesa é de pouco mais de 23 milhões de habitantes. O governo da República da China estima que mais de 90% da população seja composta por chineses da etnia han, dos quais a maioria inclui descendentes dos primeiros imigrantes chineses que chegaram a Taiwan a partir do século XVII.
Chiayi - com uma população (estimativa 2015) de 275.504 habitantes, é a nona cidade mais populosa de Taiwan
PRINCIPAIS TRANSNACIONAIS DE TAIWAN
  As principais transnacionais taiwanesas são a Acer e a HTC Corporation. A Acer é a terceira maior fabricante de PCs do planeta. Dentre os produtos oferecidos pela Acer destacam-se os computadores de mesa (desktops), computadores móveis (laptops), servidores, periféricos de armazenamento de dados, displays, entre outros. A HTC Corporation é uma fabricante de smartphones e tablets.
Changhua - com uma população (estimativa 2015) de 238.583 habitantes, é a décima cidade mais populosa de Taiwan
ALGUNS DADOS DE TAIWAN
NOME OFICIAL: República da China
CAPITAL: Taipé
Taipé - com uma população (estimativa para 2015) de 2.685.240 habitantes, é a capital e quarta maior cidade de Taiwan
GENTÍLICO: taiwanês, formosano, formosino, taiuanês
LÍNGUA OFICIAL: mandarim
GOVERNO: República Semipresidencialista
ESTABELECIMENTO:
Império Centralizado Unificado: 221 a.C.Declaração da República: 10 de outubro de 1911
Estabelecida: 1 de janeiro de 1912
Transferência para Taiwan: 7 de dezembro de 1949
LOCALIZAÇÃO: Ásia Oriental
ÁREA: 36.179 km² (134°)
POPULAÇÃO (ONU - Estimativa 2015): 23.237.895 habitantes (49°)
DENSIDADE DEMOGRÁFICA: 642,30 habitantes/km² (9°). Obs: a densidade demográfica, densidade populacional ou população relativa é a medida expressa pela relação entre a população total e a superfície de um determinado território.
CIDADES MAIS POPULOSAS (Estimativas 2015):
Nova Taipé: 3.969.950 habitantes
Nova Taipé - cidade mais populosa de Taiwan
Kaohsiung: 2.813.985 habitantes
Kaohsiung - segunda cidade mais populosa de Taiwan
Taichung: 2.701.113 habitantes
Taichung - terceira cidade mais populosa de Taiwan
PIB (Banco Mundial 2013): US$ 466,054 bilhões (27°). Obs: o PIB (Produto Interno Bruto), representa a soma (em valores monetários) de todos os bens e serviços finais produzidos numa determinada região (quer sejam países, estados ou cidades), durante um período determinado (mês, trimestre, ano).
IDH (ONU 2014): 0,882 (21°). Obs: o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) é uma medida comparativa usada para classificar os países pelo seu grau de desenvolvimento econômico e a qualidade de vida oferecida à população. Este índice é calculado com base em dados econômicos e sociais, variando de 0 (nenhum desenvolvimento humano) a 1 (desenvolvimento humano total). Quanto mais próximo de 1, mais desenvolvido é o país. No cálculo do IDH são computados os seguintes fatores: educação (anos médios de estudos), longevidade (expectativa de vida da população) e PIB per capita. A classificação é feita dividindo os países em quatro grandes grupos: baixo (de 0,0 a 0,500), médio (de 0,501 a 0,800), elevado (de 0,801 a 0,900) e muito elevado (de 0,901 a 1,0).
Mapa do IDH dos países
EXPECTATIVA DE VIDA (ONU 2012): 80,6 anos (31°). Obs: a expectativa de vida ou esperança de vida, expressa a probabilidade de tempo de vida média da população. Reflete as condições sanitárias e de saúde de uma população.
CRESCIMENTO VEGETATIVO (ONU 2005-2010): 0,36% (178°). Obs: o crescimento vegetativo, crescimento populacional ou crescimento natural é a diferença entre a taxa de natalidade e a taxa de mortalidade de uma determinada população.
TAXA DE NATALIDADE (ONU 2005-2010): 6,97/mil (193°). Obs: a taxa de natalidade é a porcentagem de nascimentos ocorridos em uma população em um determinado período de tempo para cada grupo de mil pessoas, e é contada de maior para menor.
TAXA DE MORTALIDADE (CIA World Factbook 2007): 6,48/mil (153°). Obs: a taxa de mortalidade ou coeficiente de mortalidade é um índice demográfico que reflete o número de mortes registradas, em média por mil habitantes, em uma determinada região por um período de tempo e é contada de maior para menor.
TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL (CIA World Factbook 2013): 4,49/mil (23°). Obs: a taxa de mortalidade infantil refere-se ao número de crianças que morrem no primeiro ano de vida entre mil nascidas vivas em um determinado período, e é contada de menor para maior.
TAXA DE FECUNDIDADE (CIA World Factbook 2014): 1,11 filhos/mulher (222°). Obs: a taxa de fecundidade refere-se ao número médio de filhos que a mulher teria do início ao fim do seu período reprodutivo (15 a 49 anos), e é contada de maior para menor.
TAXA DE ALFABETIZAÇÃO (CIA World Factbook 2014): 98,29% (59°). Obs: essa taxa refere-se a todas as pessoas com 15 anos ou mais que sabem ler e escrever.
TAXA DE URBANIZAÇÃO (CIA World Factbook 2005-2010): 73,5% (52°). Obs: essa taxa refere-se a porcentagem da população que mora nas cidades em relação à população total.
PIB PER CAPITA (FMI 2013): US$ 20.930 (37°). Obs: o PIB per capita ou renda per capita é o Produto Interno Bruto (PIB) de um determinado lugar dividido por sua população. É o valor que cada habitante receberia se toda a renda fosse distribuída igualmente entre toda a população.
MOEDA: Novo Dólar Taiwanês
RELIGIÃO: crenças populares chinesas (40,7%), budismo (35,1%), taoísmo (12,5%), cristianismo (6,6%), sem religião e ateus (4,4%), outras religiões (0,7%).
Templo budista Mengjia Longshan, em Taipé
DIVISÃO: a República da China é dividida em duas províncias (Província de Taiwan e Província de Fujian) e pelas municipalidades de Taipé, Kaohsiung, Nova Taipé, Taichung e Tainan. A província de Taiwan é formada pelo Condado de Penghu (Ilha dos Pescadores) e uma série de ilhas periféricas, por doze municípios e três cidades provinciais. Penghu é o único condado da província de Taiwan que não fica na ilha de Taiwan. A província de Fujian é constituída por várias ilhas ao largo do país, pelo Condado de Kinmen e parte do Condado de Lienchiang.
Mapa da divisão administrativa de Taiwan
FONTE: Araújo, Regina
Observatório de geografia / Regina Araújo, Ângela Corrêa da Silva, Raul Borges Guimarães. - 1. ed. - São Paulo: Moderna, 2009.

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

AMÁSIA: O FUTURO SUPERCONTINENTE DA TERRA

  Em 1596, um holandês chamado Abraham Ortelius sugeriu pela primeira vez que os continentes nem sempre estiveram nas posições em que vemos hoje nos mapas-múndi. Na época, esse estudioso criou o primeiro atlas da Idade Moderna, desenhando, à mão, por volta de 139 mapas coloridos.
  Ortelius propôs que as Américas foram afastadas da Europa e da África por terremotos e inundações. Para ele, essa ruptura se revelava ao observar as costas litorâneas dos três continentes num mapa do mundo da época.
Mapa das Américas feito por Ortelius, em 1595
  Muitos anos mais tarde, em 1915, o cientista alemão Alfred Wegener, depois de estudar cuidadosamente a questão, apresentou a chamada Teoria da Deriva Continental. Segundo essa teoria, num passado muito remoto, há cerca de 260 milhões de anos, existiu um supercontinente, a Pangeia ou "terra global", rodeado por um único oceano.
  Para Wegener, a partir de 230 milhões de anos atrás, a Pangeia teria começado a se fraturar e dividido em dois grandes continentes: Laurásia e Gondwana. Entre os dois, havia se formado um mar relativamente raso: o mar de Tethys.
Mapa da Pangeia
  Esse processo teria acontecido porque a crosta terrestre, sendo uma fina camada sólida depositada sobre outra, de consistência plástica, teria deslizado sobre uma espécie de mar pastoso de magma, expelido durante erupções vulcânicas.
  Ao longo de milhões de anos, Laurásia e Gondwana teriam continuado a fraturar-se, dando origem aos atuais continentes. Na Era Cenozoica, as formas dos continentes teriam começado a se assemelhar ainda mais com as formas atuais.
  Se observarmos atentamente um mapa-múndi, veremos que há um "encaixe" quase perfeito entre o litoral leste da América do Sul e o oeste da África. Graças às atuais imagens de satélites e a poderosos instrumentos de medição. Esses dois continentes continuam se afastando cerca de dois centímetros por ano. Outras evidências que reforçam a Teoria da Deriva Continental são as semelhanças entre os tipos de rochas, a fauna e a flora da América e da África.
Mapas que mostram evidências dos supercontinentes
  Apesar das evidências que embasaram sua teoria, Wegener não convenceu o mundo científico da sua época, porque não conseguiu responder adequadamente à principal questão que os críticos lhe faziam: que forças seriam capazes de mover os imensos blocos continentais?
  Além da Pangeia, outros supostos supercontinentes da Terra são:
1. Vaalbara
  Foi o primeiro supercontinente teorizado da Terra. Esse supercontinente existiu entre 3 e 4 bilhões de anos atrás. Ele começou a se formar possivelmente há 3,6 bilhões de anos e a se separar por volta de 2,8 bilhões de anos atrás. Vaalbara consistia do leste do Cráton Kaapvaal e do Cráton Pilbara, a noroeste da Austrália Ocidental. Ainda é incerto quando ele começou a se dividir. Evidências geocronológicas e paleomagnéticas mostram que os dois crátons tiveram uma separação rotacional latitudinal de 30º no período de 2,78 bilhões de anos e 2,77 bilhões de anos atrás.
Área do possível supercontinente Vaalbara
2. Kenorland
  Provavelmente foi formado durante a Era Arqueozoica, por volta de 2,7 bilhões de anos devido ao aparecimento dos volumes de terra neo-arqueozoicas e a formação de uma nova plataforma continental.
Possível supercontinente Kenorland
3. Colúmbia
  Também conhecido como Nuna e, mais recentemente Hudsonland ou Hudsonia, existiu entre 1,8 e 1,5 bilhão de anos atrás, na Era Paleoproterozoico. Consistiu os continentes anteriores da Laurentia, Báltico, Ucrânia, Amazônia, Austrália e, possivelmente, Sibéria, Norte da China e Kalahari. A existência de Colúmbia é baseada em dados de paleomagnética.
Supercontinente Colúmbia
4. Rodínia
  Esse supercontinente formou-se há aproximadamente 1 bilhão de anos e abrangia a maior parte da porção continental da Terra. Acredita-se que quebrou-se em oito continentes há cerca de 750 milhões de anos atrás. Durante a época que existiu este supercontinente, a Terra ficou toda congelada (hipótese da Terra bola de neve), com temperaturas muito baixas e com seu oceano tendo uma capa de gelo com uma profundidade média de 1 quilômetro. Antes do congelamento desse supercontinente, formou-se um grande deserto sem vida vegetal e animal.
Supercontinente Rodínia
5. Panótia
  Existiu entre 600  e 540 milhões de anos atrás. Este supercontinente quebrou-se em vários pedaços, originando a Laurentia ( o que hoje é a América do Norte), Báltica (norte da Europa) e a Sibéria, além de um outro grande pedaço que se tornaria mais tarde a China, Índia, África, América do Sul e Antártica.
Supercontinente Panótia
6. Laurásia
  O supercontinente Laurásia incluía os continentes que atualmente constituem o Hemisfério Norte: América do Norte, Europa, Ásia (sem a Índia) e Groenlândia. Surgiu logo após a divisão da Pangeia, entre 225-200 milhões de anos atrás.
7. Gondwana
  O supercontinente Gondwana incluía a maior parte das terras que hoje constituem o Hemisfério Sul, sendo formado pela África, América do Sul, Antártica, Índia e Austrália, e corresponde a parte sul da Pangeia.
A divisão da Pangeia deu origem a dois supercontinetes: Laurásia (ao norte) e Gondwana (ao sul)
8. Amásia
   Daqui a entre 50 milhões de 200 milhões de anos, a superfície da Terra será dominada por um novo supercontinente, a exemplo do que ocorreu no passado  com os antigos Nuna, Rodínia e Pangeia. Desta vez, o movimento das placas tectônicas deverá unir as Américas com a Ásia, fazendo surgir a Amásia, de acordo com estudos publicados pela revista "Nature".
  Segundo os pesquisadores, ao contrário das teorias tradicionais, que preveem que o novo supercontinente se formará ou próximo de onde a Pangeia estava (introversão), fechando o Atlântico como num movimento de sanfona; ou do lado oposto do globo em que o supercontinente de 300 milhões de anos atrás se localizava (extroversão), no meio de onde hoje é o Oceano Pacífico.
Vídeo com animação da Terra no período entre 600 milhões de anos até os dias atuais
  Dados paleomagnéticos apontam que na verdade os novos supercontinentes se formam em ângulos de 90 graus com relação ao anterior (ortoversão). Assim, a Amásia se uniria em torno do anel de subdução deixado pelo seu predecessor - hoje conhecido como Anel de Fogo do Pacífico pela concentração de vulcões nas áreas de encontro das placas tectônicas nas bordas do oceano.
Animação da Pangeia
  O novo supercontinente se chamará Amásia devido à fusão entre a Ásia e a América e pelo fechamento do Oceano Glacial Ártico e o Mar do Caribe.
  O pesquisador norte-americano Ross Mitchell, um geólogo da Universidade de Yale, acredita que a América ficará situada sobre uma área de extrema atividade sísmica e vulcânica, o Anel de Fogo, e que sua topografia irá se alterar completamente devido à atração do Polo Norte, o que ocasionará o desaparecimento do Mar do Caribe e o Oceano Glacial Ártico.
Simulação da Pangeia
FONTE: Silva, Ângela Corrêa da
Geografia: contextos e redes / Ângela Corrêa da Silva, Nelson Bacic Olic, Ruy Lozano. - 1. ed. - São Paulo: Moderna, 2013. 

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