sexta-feira, 22 de agosto de 2014

O RIO CONGO, A REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DO CONGO E A REPÚBLICA DO CONGO

  O rio Congo, também conhecido como rio Zaire, é o segundo maior rio da África (sendo superado apenas pelo rio Nilo) e o sétimo maior do mundo, com uma extensão total de 4.700 km, sendo o primeiro da África e o segundo do mundo em volume de água.
  O rio Congo separa a área onde está situada a República Democrática do Congo, a cidade de Kinshasa, da capital da República do Congo, a cidade de Brazzaville. A população da área urbana centralizada por Kinshasa está representada por mais de 10 milhões de habitantes, já a de Brazzaville possui cerca de 1,5 milhão de habitantes. As duas capitais nacionais estão localizadas em um aglomerado urbano úmido, que reúne em sua área conurbada, duas capitais de países diferentes: a da República Democrática do Congo (RDC) e da República do Congo.
Rio Congo
  Kinshasa, a capital da República Democrática do Congo, está situada em uma das margens do Rio Congo. Na margem oposta, encontra-se Brazzaville, capital da República do Congo. Os dois países, assim como o rio, herdaram seu nome de um antigo reino africano que cobria vastos territórios da África centro-oriental. Apesar de pertencerem hoje a países diferentes, Kinshasa e Brazzaville formam uma mancha urbanizada contígua, separadas pelas águas do Rio Congo, o segundo maior da África.
Em primeiro plano a cidade de Brazzaville e ao fundo a cidade de Kinshasa
REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DO CONGO (RDC)
  A República Democrática do Contigo (antigo Zaire), por vezes designada RDC, RD Congo ou Congo-Kinshasa, é o terceiro maior país africano, e apresenta um quadro natural dos mais ricos do mundo. Cerca de 47% das florestas africanas (mais de 1 milhão de quilômetros quadrados) estendem-se por seu território e abrigam grande diversidade de fauna e flora. Nesse país há madeiras de lei como ébano, mogno, carvalho-africano e cedro-vermelho, de alto valor no mercado internacional.
Mapa da República Democrática do Congo
História da RDC
  A região que hoje compreende a República Democrática do Congo foi ocupada na Antiguidade por povos bantos da África Oriental e povos vindos da região do rio Nilo, que ali fundaram os reinos de Luba, Baluba e do Congo, além de outros reinos menores.
  A presença europeia na região teve início no século XV, com a chegada dos primeiros aventureiros portugueses. Porém, a colonização da margem esquerda do rio só teve início em 1878, quando o explorador britânico Henry Morton Stanley, que estava a serviço do rei belga Leopoldo II, fundou uma rede de entrepostos comerciais. Durante a Conferência de Berlim, realizada entre 19 de novembro de 1884 e 26 de fevereiro de 1885, o continente africano foi partilhado entre as potências europeias, e a região passou a ser uma possessão pessoal do rei Leopoldo II, sendo então denominada Estado Livre do Congo. Em 1908, ela se transformou em uma colônia da Bélgica, o Congo Belga, cuja capital era Léopoldville, em homenagem ao rei.
Mapa do Congo Belga
  O Movimento Nacionalista do Congo (MNC) teve início nos anos 1950 sob a liderança de Patrice Lumumba. Em 30 de junho de 1960, Congo tornou-se independente com o nome de República do Congo, também denominada de Congo Léopoldville para ser distinguida de Congo-Brazzaville, ex-colônia francesa localizada na outra margem do rio. Em 1964, foi acrescentado o adjetivo Democrática, onde também passou a ser conhecida como RDC.
  Com a independência, Lumumba foi eleito primeiro-ministro, tendo Joseph Kasavubu como presidente. A maioria dos colonos europeus deixou o país. em julho de 1960, eclodiu uma rebelião contra Lumumba, liderado por Moise Tshombe, que recebia o apoio da Bélgica, dos Estados Unidos e da França. Com essa rebelião, Kasavubu afastou Lumumba, que fora eleito de forma democrática, do cargo de primeiro-ministro por meio de um golpe de Estado. Lumumba alegou que o ato foi incostitucional e deu-se início a uma grave crise no país. Com o apoio dos Estados Unidos, da  França e da Bélgica, Lumumba é sequestrado e assassinado em janeiro de 1961.
Patrice Lumumba (1925-1961)
  Tropas de diversos países foram enviadas pela ONU para restabelecer a ordem, o que ocorreu em 1963, com a fuga de Tshombe. Em junho de 1964 as tropas da ONU retiraram-se do país.
  A Guerra Fria teve papel preponderante na política interna da RDC, principalmente na década de 1960, quando o país foi vitimado pelo conflito. No seu interior houve confrontos entre forças internacionais dos blocos capitalista e socialista.
  Em 1965, Che Guevara veio ao país, onde lutava na linha de frente pela restauração do governo democrático derrubado pelas forças imperiais. Disfarçado e com cerca de 120 guerrilheiros cubanos ele combateu nas selvas úmidas africanas. As forças que apoiavam a volta de um governo democrático e anti-imperialista eram formadas por guerrilheiros de vários países, como os rebeldes de Ruanda. Após diversos combates, Tshombe regressou e assumiu a presidência do país com o apoio da Bélgica e dos Estados Unidos, fazendo com que o país se alinhasse ao bloco capitalista. Em 1965, ele foi derrubado num golpe liderado pelo polêmico futuro ditador Mobuto Joseph Desiré (Mobuto Sese Seko).
Moise Tshombe (1919-1969)
  Mobutu estabeleceu uma ditadura personalista, tornando o país um estratégico aliado das potências capitalistas na África. No início dos anos 1970 lançou sua política de "africanização", proibindo nomes ocidentais e cristãos. Em 1971, o ditador rebatizou o país, que passou a se chamar República do Zaire, e a capital recebeu o nome de Kinshasa. Ele próprio passou a se chamar Mobutu Sese Seko Koko Ngbendu wa za Banga, que significa "o todo-poderoso guerreiro que, por sua resistência e inabalável vontade de vencer, vai de conquista em conquista deixando fogo à sua passagem". A corrupção tornou-se algo comum e Mobutu designou este fato como o "mal do Zaire".
Mobutu Sese Seko (1930-1997)
  Líderes rivais de Mobutu Sese Seko, se uniram em 1988 para organizar a oposição, mas foram presos e alguns exilados. Pressões internacionais levaram Mobutu a adotar o pluripartidarismo em 1990. Em outubro de 1991, o líder oposicionista Etienne Tshisekedi foi nomeado como primeiro-ministro, mas recusou-se a prestar juramento a Mobutu e é substituído. Após os Estados Unidos porem em dúvida a legitimidade do governo e a Alemanha cortar a ajuda financeira, Mobutu cancelou as eleições e, no ano seguinte, Tshisekedi é reconduzido ao cargo.
  Em 1993, o Alto Conselho da República, criado pela conferência nacional, ordenou o desligamento de Mobutu dos negócios do Estado e convocou uma greve geral no país. Uma rebelião deixou mais de mil mortos no país e Mobutu responsabilizou Tshisekedi por este ato.
Etienne Tshisekedi
  Em 1994, mais de 1 milhão de ruandeses (em sua maioria hutus) foragidos do genocídio em seu país, ingressaram no leste do Zaire. A chegada dos refugiados desestabilizou a região, habitada há mais de 200 anos pelos tutsis bniamulenges, inimigos históricos dos hutus. Sentindo-se negligenciados por Mobutu, que permitiu a presença dos hutus na região, os tutsis iniciaram uma rebelião em outubro de 1996, liderados por Lautent-Desiré Kabila. O movimento contou com o apoio decisivo da Uganda e do regime tutsi de Ruanda, ganhando rapidamente a adesão da população, insatisfeita com a pobreza e a corrupção no governo. 
  Nos meses seguintes aumentaram os choques entre a guerrilha, batizada de Aliança das Forças Democráticas pela Libertação do Congo-Zaire (AFDL) e o Exército, que enfrentou uma deserção em massa. A escalada da violência coincidiu com a ausência de Mobutu, que viajou para a Europa em agosto para submeter-se a tratamento médico para câncer na próstata. Apesar de muito doente, retornou ao território em dezembro com o objetivo de deter a rebelião.
Soldados do Exército da RDC e da ONU patrulham as ruas das cidades do país
  Em 1997, a guerra civil alastrou-se pelo território. Após a conquista de várias cidades e a tomada da capital Kinshasa pelos rebeldes, Kabila assumiu a presidência do país em 17 de maio de 1997. Ao chegar ao poder, Kabila teve como um dos seus primeiros atos mudar o nome do país, que voltou a se chamar República Democrática do Congo. A guerra, porém, prosseguiria nos dez anos seguintes, deixando mais de 4 milhões de mortos.
  Em 2007, foi lançado o programa nacional de desarmamento, desmobilização e reinserção, que contou com o apoio da Missão de Observação das Nações Unidas no Congo. A maior parte das milícias foi desmobilizada, apesar das resistências de alguns grupos mais radicais.
  No dia 16 de janeiro de 2001, Kabila foi morto por um guarda-costas, assumindo o poder o seu filho Joseph Kabila.
Joseph Kabila
Geografia da RDC
  Servido pelo Rio Congo e seus afluentes, o país conta com vias navegáveis, seu principal meio de transporte. Rico também em reservas minerais, o subsolo congolês tem imensos depósitos de diamantes, ouro, cobre e cobalto.
  O rio Congo nasce na Zâmbia e entra no país pela parte sul, percorrendo no sentido norte com o nome de Lualaba, formando uma das maiores bacias hidrográficas do mundo, a Bacia do Congo, recebendo água do sistema Luapula-Luvua, vindos da região norte da Zâmbia, onde localiza-se sua real nascente no rio Chambeshi, além de outras águas oriundas do lago Tanganica pelo rio Lukuga a leste. Contornando a enorme planície congolesa para oeste e novamente para sul e sudoeste, fazendo fronteira com a República do Congo, o rio Congo recebe águas dos seus outros grandes afluentes, como os rios Ubangi e Cassai, desaguando no oceano Atlântico, na fronteira com Angola.
Rio Congo
  A leste dessa imensa planície florestal selvagem, erguem-se os maciços e montanhas, formando vales e desfiladeiros provenientes do tectonismo do Rift Valley Ocidental, no qual se originaram os Grandes Lagos Africanos. O ponto mais elevado da RDC é o monte Stanley, localizado na divisa com Uganda, cuja altitude é de 5.109 metros, sendo também a terceira mais elevada da África.
  O clima predominante na RDC é o equatorial, quente e úmido, com elevada pluviosidade, cujas chuvas caem o ano todo. Nos planaltos e montanhas a leste, predomina o clima tropical de altitude e o subtropical, cujas temperaturas são mais amenas.
Monte Stanley - ponto culminante da RDC
Demografia da RDC
  Com aproximadamente 75 milhões de habitantes, a RDC abriga cerca de 300 tribos de etnias diferentes. Entre os povos, os pigmeus são os habitantes mais antigos, seguido dos bantos, que ocupam dois terços do território congolês, dos nilóticos, pouco numerosos, e dos hamitas. A maioria da população da RDC é rural, com apenas 34% dos habitantes residindo nas cidades.
Mapa étnico da RDC
Economia da RDC
  A economia nacional sofre as consequências dos conflitos armados no país: redução dos investimentos estrangeiros, destruição de infraestrutura, inflação, entre outros aspectos.
  A mineração é a principal atividade da República Democrática do Congo, responsável por grande volume de exportações do país. Porém, sua maior riqueza está no potencial hidrelétrico da Bacia do Congo, que, se explorado, pode abastecer grande parte do continente africano.
Garimpeiros na RDC
  As terras congolesas são aproveitáveis; porém, apenas 6% delas são cultivadas, em razão da falta de estradas que alcancem as regiões mais afastadas. Os principais produtos agrícolas do país são: café, óleo de palma, palmito, chá, cacau, cana-de-açúcar, algodão e borracha. A agricultura de subsistência inclui o cultivo de milho, mandioca, banana, arroz e batata-doce.
  O parque industrial do país está se desenvolvendo e conta principalmente com a produção de cimento e refino de petróleo, além de ter unidades têxteis e alimentícias.
Propriedade rural na RDC
  A beleza das paisagens são as grandes atrações turísticas congolesas. Os parques nacionais de Virunga, Upemba e Garamba, os três mais importantes do país, abrigam milhares de elefantes, antílopes, búfalos, leões zebras e girafas. Esses parques guardam ainda exemplares de muitas espécies que correm o risco de extinção, como os gorilas-das-montanhas e o antílope-negro.
Paisagem da RDC
  A principal mudança recente no plano econômico da RDC foi o aumento da presença chinesa. Em troca da reconstrução de parte das infraestruturas viária e urbana devastadas pela guerra, as empresas chinesas assumiram o controle sobre grande parte das enormes jazidas de cobalto, cobre e ouro. Essa gigantesca operação financeira está transformando a paisagem urbana de Kinshasa, que recebe filiais de vários conglomerados chinês em seus novos arranha-céus.
Modernos edifícios fazem parte da paisagem de Kinshasa
ALGUNS DADOS DA REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DO CONGO
NOME: República Democrática do Congo
CAPITAL: Kinshasa
Bairro de La Gombe, em Kinshasa - capital da RDC
GENTÍLICO: congolês, congolense e conguês
LÍNGUA OFICIAL: francês, porém, há diversas línguas nacionais, como o lingala, quicongo, kituba, sualí e tshiluba.
GOVERNO: República Semipresidencialista
INDEPENDÊNCIA: da Bélgica, em 30 de junho de 1960
LOCALIZAÇÃO: África Central
ÁREA: 2.344.858 km² (11º)
POPULAÇÃO (ONU - Estimativa 2013): 75.507.308
habitantes (19°)
DENSIDADE DEMOGRÁFICA: 32,2 hab./km² (148°)
MAIORES CIDADES (Estimativa 2013):

Kinshasa: 10.624.897 habitantes

Kinshasa - capital e maior cidade da RDC
Lubumbashi: 1.598.256 habitantes
Lubumbashi - segunda maior cidade da RDC
Mbuji-Mayi: 1.040.365 habitantes
Mbuji-Mayi - terceira maior cidade da RDC
PIB (FMI - 2013): U$ 17,689 bilhões (108°)
IDH (ONU - 2012): 0,338 (186°)
EXPECTATIVA DE VIDA (ONU - 2012): 47,42 anos (190°)
CRESCIMENTO VEGETATIVO (ONU - 2005/2010): 3,22% ao ano (9°)
TAXA DE FECUNDIDADE (CIA World Factbook - 2013): 4,95 (20°)
MORTALIDADE INFANTIL (CIA World Factbook - 2012): 115,81/mil (190°). Obs: essa mortalidade é contada de menor para o maior.
TAXA DE ALFABETIZAÇÃO (CIA World Factbook - 2011): 67,2%
TAXA DE URBANIZAÇÃO (Pnud - 2009/2010): 34% (150°)
PIB PER CAPITA (CIA World Factbook - 2013): U$ 397 (180°)
MOEDA: Franco Congolês
RELIGIÃO: cristianismo (95,2%, sendo 49,7% de católicos, 20,8% de cristãos independentes, 19% de protestantes e 5,7% de outras religiões cristãs), outras religiões (4,3%) e sem religião (0,5%).
DIVISÃO: até 2005, a República Democrática do Congo dividia-se em 11 províncias: 1. Bandundu 2. Baixo Congo 3. Equateur 4. Kasai Ocidental 5. Kasai Oriental 6. Katanga 7. Kinshasa 8. Maniema 9. Nord Kivu 10. Orientale 11. Sud Kivu.
Antiga divisão da RDC
  A Constituição de 2005, que entrou em vigor em fevereiro de 2006, dividiu a República Democrática do Congo em 25 províncias e uma cidade independente (Kinshasa), com estatuto de província: 1. Kinshasa 2. Congo Central 3. Kwango 4. Kwilu 5. Mai N'dombe 6. Kasai 7. Lulua 8. Kasai Oriental 9. Lomami 10. Sankuru 11. Maniema 12. Sud Kivu 13. Nord Kivu 14. Ituri 15. Uele Superior 16. Tshopo 17. Bas Uele 18. Nord Ubangi 19. Mongala 20. Sud Ubangi 21. Equateur 22. Tshuapa 23. Tanganyica 24. Haut Lomami 25. Lualaba 26. Haut Katanga.
Nova divisão da RDC
REPÚBLICA DO CONGO
  A República do Congo, que por vezes é chamado de Congo-Brazzaville, é um país da África Central cortado pela linha do Equador. Banhado pelo oceano Atlântico a sudoeste, faz fronteira com o Gabão a oeste, Camarões a noroeste, com a República Centro-Africana a norte, com o enclave de Cabinda (Angola) a sudoeste e com a República Democrática do Congo a leste e sul.
Mapa da República do Congo
História
  A República do Congo tornou-se independente da França em 1960, e logo passou a sofrer com a instabilidade política. Seu primeiro presidente foi o padre Fulbert Youlou, que foi forçado a deixar o poder em 1963, quando um grupo de esquerda promoveu um golpe de Estado, no qual assumiu o poder Alphonse Massamba Delbat que, em 1964, fundou um partido de índole marxista-leninista, adotando uma economia planificada de base socialista. A adoção de um Plano Quinquenal promoveu a expansão da agricultura e da indústria no país.
  Em 1968, ocorreu a tensão entre governo e militares, onde o Exército promove um golpe de Estado, liderado pelo major Marien Ngouabi. Em 1969, o presidente Ngouabi anuncia a nova República Popular durante a solenidade de fundação do Partido Congolês dos Trabalhadores (PCT), presidido por ele e dirigido por um comitê central composto de 30 membros.
Marien Ngouabi (1938-1977)
  Em janeiro de 1970, o país passa a se chamar República Popular do Congo, adotando como símbolos nacionais A Internacional, uma bandeira vermelha, a foice e o machado emblemático dos países socialistas. O ex-Congo francês consolida seu regime ligado ao marxismo-leninismo, tornando-se o primeiro país comunista da África. Neste mesmo ano, o exército esmaga uma tentativa de golpe contra o presidente, liderada pelo ex-tenente paraquedista Pierre Xitonga, e executa todos os conspiradores, com exceção do ex-ministro da Defesa, Augustin Poignet, que conseguiu fugir. Aproveitando-se desta situação, Delbat persegue e tortura todos os suspeitos de serem contrários ao seu governo.
Fulbert Youlou (1917-1972) primeiro presidente da República do Congo
  O Partido Congolês do Trabalho (PTC) permanece como sendo o único legal e, em 1977, o presidente foi assassinado, assumindo o poder uma junta militar.  Em 1979, assume a presidência o coronel Sassou Nguesso, que exerce poderes ditatoriais até 1989, quando o colapso no sistema socialista do Leste Europeu o leva a anunciar reformas políticas e a transição para a economia de mercado. O governo mantém uma política internacional de neutralidade, relacionando-se tanto com o capitalismo como com o socialismo.
  Em 1990, o PTC abandona o marxismo-leninismo. No ano seguinte, tropas cubanas estacionadas no país desde 1977, deixam o Congo. Em 1992 é aprovada a nova Constituição, onde está previsto um sistema político multipartidário.
  Em 1993 milícias promovem ataques contra tropas do governo, cujo presidente é Pascal Lissouba. A situação persiste até 1995, com greves e motins no país. Em 1997, com o apoio de Angola (até então em guerra civil), Sassiv Nguesso dá um golpe de Estado. Em 1998 e 1999 tropas do novo governo e aliados enfrentam rebeldes orientados pelo antigo governo. Em 1999 é assinado um cessar-fogo, pondo fim à guerra civil.
  Atualmente, o país vem enfrentando uma grave doença, uma febre desconhecida que já matou várias pessoas. Esses casos ocorreram na região onde o ebola foi descoberto em 1976. Os sintomas são muito parecidos com o ebola: febre, vômito, diarreia e hemorragia.
A nova doença já afetou diversos países africanos
Geografia
  Localizado no centro-oeste da África Subsaariana, com uma pequena porção de costa no oceano Atlântico e cortado pela linha do Equador, a República do Congo possui um clima quente e úmido. Cerca de 55% do seu território é coberto por florestas tropicais.
  O sudoeste do país é uma planície costeira drenada principalmente pelo rio Kouilou-Niari. O interior consiste de um planalto central entre as duas bacias hidrográficas, a norte e a sul. Seguindo para o interior, o relevo torna-se mais elevado e acidentado, onde surgem planaltos, montanhas e vales férteis. O norte do país é uma vasta planície irrigada pelos rios Sangha, Likouala e Congo. Grande parte dessa região encontra-se coberta por florestas e por pântanos. O ponto culminante do país é o Monte Nabeba, com 1.020 metros.
Floresta do Congo
Economia
  A economia da República do Congo depende basicamente da agricultura de subsistência, do artesanato e da extração de madeira, petróleo e gás natural. As indústrias extrativas exploram algumas quantidades de zinco, chumbo e ouro. Os cultivos mais importantes são mandioca, cana-de-açúcar, banana, milho, amendoim, abacate, óleo de palma, inhame, ananás, cacau e café.
  No início da década de 1980, a rápida escalada dos preços do petróleo possibilitou ao governo financiar projetos de desenvolvimento em larga escala, o que levou o país a ter um crescimento econômico médio de 5% ao ano. Porém, a queda do preço do petróleo e os conflitos existentes no país, fez com que o país acumulasse déficit na sua balança comercial. Com a elevação dos preços do petróleo e o fim dos conflitos, o país passou a crescer economicamente.
Moradias de pigmeus, na República do Congo
ALGUNS DADOS DA REPÚBLICA DO CONGO
NOME: República do Congo
CAPITAL: Brazzaville

Torre Nabemba, em Brazzaville - capital da República do Congo
GENTÍLICO: congolês, conguês e congolense
LÍNGUA OFICIAL: francês
GOVERNO: República Presidencialista
INDEPENDÊNCIA: da França, em 15 de agosto de 1960
LOCALIZAÇÃO: África Central
ÁREA: 342.000 km² (64º)
POPULAÇÃO (ONU - Estimativa 2013):
3.905.010 habitantes (126°)
DENSIDADE DEMOGRÁFICA: 11,41 hab./km² (184°)
MAIORES CIDADES (Estimativa 2013):

Brazzaville: 1.520.087 habitantes
Brazzaville - capital e maior cidade da República do Congo
Pointe-Noire: 980.006 habitantes
Pointe-Noire - segunda maior cidade da República do Congo
Dolisie: 208.562 habitantes
Dolisie - segunda maior cidade da República do Congo
PIB (FMI - 2013): U$ 13,743 bilhões (119°)
IDH (ONU - 2012): 0,564 (140°)
EXPECTATIVA DE VIDA (ONU - 2012): 56,02 anos (166°)
CRESCIMENTO VEGETATIVO (ONU - 2005/2010): 2,11% ao ano (45°)
TAXA DE FECUNDIDADE (CIA World Factbook - 2013): 5,49 (11°) 
MORTALIDADE INFANTIL (CIA World Factbook - 2012): 72,43/mil (159°). Obs: essa mortalidade é contada de menor para o maior.
TAXA DE ALFABETIZAÇÃO (CIA World Factbook - 2011): 84,7%
TAXA DE URBANIZAÇÃO (Pnud - 2009/2010): 61% (87°)
PIB PER CAPITA (CIA World Factbook - 2013): U$ 3.295 (118°)
MOEDA: Franco CFA
RELIGIÃO: católicos (41,9%), crenças tradicionais (33,8%), protestantes (22,9%), outras religiões (1,4%).
DIVISÃO: a República do Congo divide-se em 12 departamentos: Bouenza, Brazzaville, Cuvette, Cuvette Oeste, Kouilou, Lekoumou, Likouala, Niari, Plateaux, Pointe-Noire, Pool e Sangha. Os departamentos estão subdivididos em distritos e comunas.
Regiões administrativas da República do Congo
FONTE: Araújo, Regina. Observatório de geografia / Regina Araújo, Ângela Corrêa da Silva, Raul Borges Guimarães. - 1. ed. - São Paulo: Moderna, 2009.

domingo, 17 de agosto de 2014

A MULHER NO MERCADO DE TRABALHO

  São diversas as desigualdades existentes na sociedade brasileira. Uma das mais evidentes refere-se às relações de gênero, menos relacionada à questão econômica e mais ao ponto de vista cultural e social, constituindo, a partir daí, as representações sociais sobre a participação da mulher dentro de espaços variados, seja na família, na escola, igreja, nos movimentos sociais, ou na sociedade como um todo.
  Nas últimas décadas, um dos fatos mais marcantes tem sido a inserção, cada vez maior, da mulher no mercado de trabalho, onde este fato está relacionado a uma combinação de fatores culturais, econômicos e sociais. Em razão do avanço e crescimento da industrialização no Brasil e no mundo, ocorreram a transformação da estrutura produtiva, o contínuo processo de urbanização e a redução das taxas de fecundidade nas famílias, contribuindo para a participação cada vez maior das mulheres no campo do trabalho.
  Cerca de 80% das mulheres que estão no mercado de trabalho são professoras, cabeleireiras, manicures, funcionárias públicas ou trabalham em serviços de saúde e/ou comércio. Porém, o contingente das mulheres trabalhadoras mais importante está concentrada no serviço doméstico remunerado; em geral, são mulheres negras, com baixo nível de escolaridade e com os menores rendimentos. Também é significativo o número de empregadas domésticas que tenham idade mais avançada.
Geralmente, as empregadas domésticas possuem baixa qualificação
  O trabalho não remunerado da mulher, especialmente o realizado no âmbito familiar, não é contabilizado pelos sistemas estatísticos e, por isso, não possui valorização social - nem mesmo pelas próprias mulheres - embora contribuam significativamente com a renda familiar e venha crescendo bastante.
  Em 2009, aproximadamente, 35,5% das mulheres estavam empregadas com carteira de trabalho assinada, percentual inferior ao observado na distribuição masculina, que era de 43,9%. As mulheres autônomas correspondiam a 30,9% e os homens a 40%. Já o percentual de mulheres empregadoras era de 3,6%, pouco mais da metade do percentual verificado na população masculina, 7,0%.
  Já na pesquisa realizada entre 2011 e 2012, a participação das mulheres ocupadas formalmente, cresceu 3,2% - crescimento de 1,5% em relação ao aumento da participação dos homens no período (1,7%). Além disso, a participação feminina na variação de pessoal ocupado assalariado, de um ano para outro, foi pela primeira vez superior à presença masculina. Enquanto os homens somaram 41,5%, as mulheres somaram 58,5%.
O número de professoras do ensino básico é três vezes maior que o de professores no Brasil
  Enquanto 61,2% das trabalhadoras tinham 11 anos ou mais de estudo, ou seja, pelo menos o Ensino Médio completo, para os homens este percentual era de 53,2%. A parcela de mulheres ocupadas com nível superior completo era de 19,6%, também superior ao dos homens, 14,2%. Por outro lado, nos grupos de menor escolaridade, a participação dos homens era superior a das mulheres.
  O rendimento de trabalho das mulheres, estimado em R$ 1.097,93, continua inferior ao dos homens, R$ 1.518,31. Em 2009, comparando a média anual de rendimentos dos homens e das mulheres, verificou-se que as mulheres ganham em torno de 72,3% do rendimento recebido pelos homens. Em 2003, esse percentual era de 70,8%.
  Em 2012 o salário médio dos homens ficou em R$ 2.126,67, enquanto que o das mulheres ficou em R$ 1.697,30. Apesar de receber bem menos que os homens, o salário médio delas teve um aumento de 2,4%, contra 2% deles.
  Considerando um grupo mais homogêneo, com a mesma escolaridade e do mesmo grupamento de atividade, a diferença entre os rendimentos persiste. Tanto para as pessoas que possuíam 11 anos ou mais de estudo quanto para as que tinham curso superior completo, os rendimentos da população masculina eram superiores aos da feminina.
O comércio emprega mais pessoas do sexo feminino do que masculino
  A lucratividade das empresas tem relação com a presença feminina. Pesquisas recentes de diversas partes do mundo, comprovam a influência positiva das mulheres no ambiente corporativo.
  Estudos da Catalyst, fundação que se dedica a investigar sobre a experiência feminina nos negócios, mostram que organizações com mulheres em altos cargos de gestão são mais lucrativas.
  Já a pesquisa Women in the Economy, da McKinsey, revelou que se as mulheres não participassem da força de trabalho, o PIB atual dos Estados Unidos seria 25% menor. No Brasil, nos últimos 40 anos, a participação delas na economia foi de 28,8% para 43,6%. Em função disso, o número de filhos diminuiu de 5,8 para 1,9.
  A influência feminina nas organizações e as diferenças relacionadas a emprego, educação e família ganharam relevância e têm sido muito discutidas no mercado.
  No setor público, as mulheres já vêm ocupando a maioria dos postos de trabalho, com 58,9% das vagas ocupadas por mulheres e 41,1% dos homens.
O serviço público é o que mais tem atraído mulheres
FONTE: Antunes, Celso Avelino. Geografia e participação: 7° ano / Celso Avelino Antunes, Maria do Carmo Pereira e Maria Inês Vieira. - 2. ed. - São Paulo: IBEP, 2012.

OS FENÔMENOS CLIMÁTICOS EL NIÑO E LA NIÑA

  Os fenômenos El Niño e La Niña são alterações significativas na distribuição da temperatura da superfície da água do Oceano Pacífico, com profundos efeitos no clima. Estes eventos modificam um sistema de flutuação das temperaturas desse oceano chamado de Oscilação Sul.
EL NIÑO
  O fenômeno El Niño (O Menino, em espanhol) e suas consequências são um exemplo do inter-relacionamento entre hidrosfera e atmosfera. O fenômeno El Niño refere-se ao Menino Jesus, pois pescadores sul-americanos percebiam que esse aquecimento ocorria perto do Natal.
  O El Niño é caracterizado pelo aquecimento das águas do oceano Pacífico na região do Equador, nas proximidades da costa oeste da América do Sul. Isso altera o comportamento dos ventos em grandes extensões da atmosfera.
  O El Niño foi originalmente reconhecido por pescadores da costa oeste da América do Sul, observando baixas capturas e a ocorrência de temperaturas mais altas que o normal no mar, normalmente no fim do ano. Durante um ano "normal", ou seja, sem a existência do fenômeno El Niño, os ventos alísios sopram no sentido oeste através do oceano Pacífico tropical, originando um excesso de água no Pacífico ocidental, de tal modo que a superfície do mar é cerca de meio metro mais alta nas costas da Indonésia e no Equador. Isto provoca a ressurgência de águas profundas, mais frias e carregadas de nutrientes na costa ocidental da América do Sul, que alimentam o ecossistema marinho, promovendo imensas populações de peixes. Esses peixes, por sua vez, servem de sustento aos pássaros marinhos abundantes, cujas fezes depositadas em terra, o guano, servem de matéria-prima para a indústria de fertilizantes.
Comparação entre o período sem El Niño (em cima) com a ocorrência de El Niño (embaixo)
  Quando acontece um El Niño, os ventos sopram com menos força em todo o centro do oceano Pacífico, resultando numa diminuição da ressurgência de águas profundas e na acumulação de água mais quente que o normal na costa oeste da América do Sul e, consequentemente, na diminuição da produtividade primária e das populações de peixes. São consequências do El Niño:
  • secas no Nordeste brasileiro, no centro da África, na Indonésia e no norte da Austrália;
  • aumento das chuvas no sudeste da América do Sul, na Califórnia e no sudeste dos Estados Unidos;
  • uma série de tempestades tropicais no oceano Pacífico;
  • alteração da vida marinha em praticamente toda a costa oeste do continente americano.
  Outra consequência do El Niño é a alteração do clima em todo o Pacífico equatorial: as massas de ar quentes e úmidas acompanham a água mais quente, provocando chuvas excepcionais na costa oeste da América do Sul e secas na Indonésia e na Austrália. Durante um ano com El Niño, o inverno é mais quente que a média nos estados centrais do Estados Unidos, enquanto que nos do sul há mais chuva; por outro lado, os estados do noroeste do Pacífico (Oregon, Washington, Colúmbia Britânica) têm um inverno mais seco, Os verões são excepcionalmente quentes na Europa e as secas no Nordeste brasileiro, no centro da África são mais intensas.
Consequência meteorológicas do El Niño
  Acreditava-se que o fenômeno ocorresse em intervalos de sete anos, entretanto, dados mais recentes mostram que ele não possui uma periodicidade regular: entre 1990 e 1994, ocorreu todos os anos. Em 1997 e 1998, voltou a se manifestar de forma bastante intensa, como já havia ocorrido em 1982 e 1983.
  O El Niño traz problemas para os pescadores peruanos, tendo em vista que o aquecimento das águas do Pacífico reflete na diminuição da piscosidade oriunda da corrente fria de Humboldt, que influencia diretamente a costa do Peru e do Chile.
Efeitos do El Niño
  No Brasil, a variação no volume de chuvas depende de cada região e na intensidade do fenômeno. A temperatura aumenta na maioria das regiões.
  • Regiões Norte e Nordeste: diminuição de chuvas causando secas no Sertão Nordestino e incêndios florestais na Amazônia;
  • Região Sudeste: aumento da temperatura média;
  • Região Sul: aumento da temperatura média e da precipitação, principalmente na primavera e no período entre maio e julho.
  No entanto, se a sociedade for informada com antecedência sobre a ocorrência do fenômeno - o que é possível com o uso de modernos equipamentos de meteorologia -, poderá tomar certas precauções para amenizar seus efeitos. No campo, por exemplo, os agricultores podem antecipar ou adiar períodos de plantio e de colheita ou mesmo substituir os tipos de vegetais que costumam cultivar.
  Neste ano (2014), a Agência Meteorológica do Japão alertou que o padrão do El Niño emergiu, e prevê que os efeitos do fenômeno serão sentidos em setembro.
Às vezes as secas que acontecem no Nordeste do Brasil é consequência do El Niño
LA NIÑA
  O La Niña é o fenômeno oposto ao El Niño: enquanto que este é devido ao aumento da temperatura do Oceano Pacífico, o La Niña ocorre devido à diminuição da temperatura ocasionada pelo aumento da força dos ventos alísios. Ao aumentar a intensidade dos ventos alísios, o fenômeno de ressurgência (afloramento das águas profundas do oceano - mais frias e com mais nutrientes) das águas do Pacífico tende a se intensificar e ocorre a diminuição da temperatura da superfície oceânica. A corrente atmosférica tende a empurrar as águas mais quentes com maior força, fazendo com que ela se acumule mais a oeste do que ocorreria normalmente. O fenômeno La Niña (A Menina, em espanhol), ocorre na mesma região em que o El Niño se manifesta.
Consequências meteorológicas do La Niña
  Os impactos do La Niña ainda não foram determinados com exatidão, mas sabe-se que esse fenômeno também altera o comportamento dos ventos e as condições climáticas em algumas regiões da Terra. Contudo, segundo o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Inpe, o La Niña não causa grandes perturbações como o El Niño.
  Em geral, o La Niña começa a se desenvolver em um certo ano, atinge sua intensidade máxima no final daquele ano, vindo a desaparecer em meados do ano seguinte. No entanto, esse fenômeno pode durar até dois anos.
  Entre os meses de dezembro e fevereiro, o La Niña provoca as seguintes consequências:
  • aumento das chuvas e enchentes na região Nordeste do Brasil, principalmente no setor norte, correspondente aos estados do Piauí, Maranhão, Ceará e Rio Grande do Norte;
  • temperaturas abaixo do normal para o verão na região Sudeste do Brasil;
  • aumento do frio na costa oeste dos Estados Unidos;
  • aumento das chuvas na costa leste da Ásia;
  • aumento do frio no Japão.
  Entre os meses de junho e agosto, o La Niña provoca as seguintes consequências:
  • inverno árido nas regiões Sul e Sudeste do Brasil;
  • aumento do frio na costa oeste da América do Sul;
  • frio e chuvas na região do Caribe;
  • aumento da temperatura no leste da Austrália;
  • aumento da temperatura e de chuvas no leste da Ásia.
Efeitos do La Niña
FONTE:  Lucci, Elian Alabi. Geografia: homem & espaço, 6º ano / Elian Alabi Lucci, Anselmo Lázaro Branco. - 22 ed. - São Paulo: Saraiva, 2010.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

O MOVIMENTO SOCIALISTA E A DITADURA MILITAR NO CHILE

  Em 1970, Salvador Allende, da Unidade Popular (UP), composta por socialistas e comunistas, substituiu o governo de Eduardo Frei, do Partido Democrata Cristão, que se caracterizou por um reformismo limitado. Sua vitória foi o resultado de um longo período de lutas populares no Chile, de uma elaborada política do grupo conservador chileno em decorrência da fraqueza do governo de Frei.
  Allende obteve a vitória com 36,2% dos votos, contra 34,9% de Jorge Alessandri, o candidato da direita, e 27,8% do terceiro candidato, Radomiro Tomic, cuja plataforma era similar à de Allende, que propunha transformar o Chile em um regime socialista, mas pela chamada "via chilena ao socialismo", naquilo que foi qualificado de "empanadas e vinho tinto" - por meios pacíficos, democráticos, assegurada a liberdade de imprensa e respeitada a Constituição - foi oficialmente bem vista por parte dos aderentes da Democracia Cristã, que também se envolviam  em processos reformistas como a reforma agrária. O apoio inicial refletido em uma parcela de 49% dos votos na eleição municipal de 1971, se perdeu paulatinamente com a deterioração da situação econômica.
Salvador Allende (1908-1973) comemorando a vitória nas eleições de 1970
  Como a Constituição chilena previa a necessidade de "maioria dupla" (no voto popular e no Congresso), difíceis negociações foram feitas para a aprovação de Allende no Parlamento. Após o brutal assassinato do Comandante-em-Chefe das Forças Armadas chilenas, o general constitucionalista René Schneider, perpetrado por elementos ligados à Patria y Libertad, Allende teve seu nome confirmado pelo Congresso chileno.
  O Partido da Democracia Cristã do Chile era uma grande confederação interclassista, com sua base popular autêntica no proletariado da grande, pequena e média indústria moderna, na pequena e média propriedade rural e na burguesia da classe média urbana. A Unidade Popular representava o proletariado, formado pelos operários menos favorecidos, o proletariado agrícola, e a baixa classe média urbana. A Democracia Cristã, aliada a Unidade Popular controlava o Poder Executivo. A vitória socialista desencadeou uma mobilização social, com invasão de terras e ocupação de fábricas, pressionando o governo a avançar além de seus propósitos originais.
Trabalhadores chilenos apoiadores das propostas de Allende
  Em resposta, ocorreu a rearticulação das forças conservadoras, o que provocou sabotagens e instabilidade. A violência, provocada primeiramente por grupos extremistas de ambos os lados, como o MIR (Movimento de Esquerda Revolucionário) ou os seus opositores direitistas do grupo terrorista neofacista Patria y Libertad - apoiado pela CIA (Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos) e por elementos do exército e da marinha chilena - provocou um clima de confrontamento, que foi expandindo a todos os âmbitos da sociedade, chegando até as pessoas comuns. Dois grandes blocos se formaram: a Unidade Popular (UP) e a Confederación de la Democracia (CODE), que obtiveram, respectivamente, 43,3% e 55% dos votos na eleição para o Parlamento, deixando Allende sem maioria no Congresso.
  Ao mesmo tempo, os Estados Unidos, sob o governo de Richard Nixon, sentiram-se desafiados, uma vez que ocorreu a nacionalização de diversas empresas norte-americanas que atuavam no Chile, especialmente mineradoras. Os norte-americanos responderam custeando campanhas que desencadearam a desestabilização do governo de Allende, fortalecendo o desejo golpista da cúpula militar chilena.
Militantes do Patria y Libertad
  Os grupos de ultradireita, agrupados no Partido Nacional e nos movimentos Patria y Libertad e Poder Feminino, tentaram por todos os meios derrubar o governo, frequentemente com respaldo financeiro e material da CIA, que também conspirava para destituir o governo da UP - contrário aos interesses dos EUA - numa época em que o mundo vivia o período da Guerra Fria. Todas as tentativas democráticas para derrubar o governo Allende fracassaram, graças ao apoio que este recebia da população.
  No dia 2 de junho de 1973, o Congresso Nacional se recusou a autorizar o estado de sítio no país. A tentativa de decretar estado de sítio objetivava controlar o terrorismo de direita e de esquerda que assolava o país, além do aumento da violência e o temor de uma guerra civil.
  Este estado de confrontamento, incitado pela Patria y Libertad, cujo primeiro ato terrorista foi perpetrado em parceria com oficiais da marinha chilena e se chamou "La noche de las mangueras largas" (A noite das longas mangueiras) ocorreu no mesmo horário em que foi assassinado o ajudante de ordens de Allende, o Capitão-de-Mar-e-Guerra Arturo Araya. Essa operação consistia em cortar todas as mangueiras de abastecimento dos principais postos de gasolina de Santiago.
Trabalhadores protestam em uma fábrica chilena em junho de 1973
  Em 21 de agosto de 1973, o general legalista e constitucionalista Carlos Prats viu-se forçado a renunciar ao posto de Comandante em Chefe, pressionado por manifestações das esposas de generais. Em seu lugar assumiu Augusto Pinochet.
  No dia 22 de agosto, a câmara aprovava o "Acordo da Câmara de Deputados sobre o grave quebramento da ordem constitucional e legal da República", causada pela negativa do exército em promulgar integralmente a reforma constitucional das três áreas da economia, aprovada pelo Congresso.
  No dia 29, Prats teve que enfrentar um dos momentos mais tensos, quando o coronel Roberto Souper levanta o Regimento Blindado n° 2 e se dirige ao Palácio de La Moneda. Prats, dirigindo as guarnições de Santiago, consegue deter essa tentativa de golpe conhecida como Tanquezaço, enquanto os instigadores se refugiam e pedem asilo na embaixada do Equador, deixando um saldo de vinte mortos, principalmente civis.
General Carlos Prats (1915-1974)
  Allende reconhece a crise em seu governo e decide convocar um plebiscito para evitar um golpe de Estado. As facções mais radicais do governo da Unidade Popular repudiam a sua decisão. Allende conta com o apoio apenas do Movimento de Ação Popular Unitária, do Partido Radical e do Partido Comunista, que compartilham a "via pacífica". Diante dessa situação, Allende convocou seu ministro da Defesa, Orlando Letelier, para convencer o Partido Socialista a permanecer como seu aliado, fato este que conseguiu na noite de 10 de setembro de 1973.
  No dia 11 de setembro de 1973, as 7 horas da manhã forças armadas chilenas, sob o comando do general Augusto Pinochet, bombardearam a sede do governo, o palácio presidencial de La Moneda, em Santiago, numa ação que levou Allende a resistir até a morte.
Tropas do exército chileno bombardeando o palácio La Moneda, em 1973
  Após derrubar o governo democrático de Allende, os membros da Junta de Governo começaram um processo de estabelecimento de seu sistema de governo. De acordo com o Decreto Lei Nº 1, de 11 de setembro de 1973, Augusto Pinochet assumia a presidência da Junta de Governo, em sua qualidade de comandante em chefe do ramo mais antigo das Forças Armadas. Este cargo, que originalmente seria rotativo, finalmente se tornou permanente. Em 27 de junho de 1974, Pinochet assume como "Chefe Supremo da Nação", em virtude do Decreto Lei Nº 527, cargo que seria substituído pelo de Presidente da República, em 17 de dezembro de 1974, pelo Decreto Lei Nº 806.
  Ao assumir o governo, Pinochet estabeleceu uma das ditaduras mais violentas da América Latina: mais de 60 mil pessoas foram mortas ou desapareceram no Chile nos anos 1970, e 200 mil abandonaram o país por motivos políticos. Na década de 1980, as pressões populares e internacionais sobre a ditadura chilena avolumaram-se e, em 1987 e 1988, diante da distensão nas relações internacionais e do esgotamento político interno, as pressões pela redemocratização tornaram-se irrefreáveis.
Augusto Pinochet (1915-2006)
  Diante de tal situação, milhares de pessoas começaram a sofrer a repressão exercida pelo novo governo. A maioria dos líderes do governo da Unidade Popular e outros líderes da esquerda foram presos e transferidos a centros de reclusão. Cuatro Álamos, Villa Grimaldi, o Estádio Chile e o Estádio Nacional de Santiago foram utilizados como campos de detenção e tortura, assim como a Oficina Salitrera Chacabuco, a Ilha Dawson na Patagônia, o porto de Pisagua, o Buque Esmeralda e outros locais ao longo do país.
  No começo de 1974 foi criada oficialmente a DINA (Direção de Inteligência Nacional) pelo decreto lei Nº 521. Esta direção ficou a cargo do tenente coronel de engenheiros Manuel Contreras. A DINA tinha faculdades para deter e confinar pessoas em seus centros operativos durante os estados de exceção. Como estes estados duraram quase toda a ditadura, a DINA teve estas faculdades durante toda a sua existência.
  Esta organização teve a tarefa de enfrentar os inimigos do regime. Treinados na Escuela de las Américas, os agentes da DINA iniciaram uma campanha de repressão, focalizado principalmente nos integrantes do GAP (Grupo de Amigos Pessoais de Allende, sua guarda pessoal), do MIR (Movimento de Esquerda Revolucionário), do Partido Socialista do Chile e do Partido Comunista do Chile.
Manuel Contreras - ex-dirigente da DINA
  A Dina empregou o sequestro, a tortura e o assassinato. Tinha também agentes internacionais, sendo o mais destacado o norte-americano Michael Townley, que foi acusado de assassinar Carlos Prats em Buenos Aires, e Orlando Letelier. Seu outro dispositivo internacional era a Operação Condor, de cooperação entre os diversos organismos de contra - insurgência das ditaduras latino-americanas, com o objetivo de conter qualquer elemento de esquerda política.
  Em 1980, Augusto Pinochet promulgou uma Constituição que legalizava o seu governo ditatorial. Mas em consequência disso as pressões feitas por grupos organizados contra o governo aumentaram significativamente. A movimentação popular conquistou a realização de um plebiscito popular em 1987, que resultou na proibição  da permanência de Pinochet no governo do país.
Militares torturando os opositores do regime militar no Chile
  A partir dos anos 1990, buscou-se no Chile uma transição pacífica para a democracia por meio de eleições presidenciais. O vitorioso foi Patrício Aylwin Azocar, candidato pela frente oposicionista Acordo pela Democracia, denominada Concertación. Seu sucessor foi Eduardo Frei (1994), seguido, em 2000, pelo também governista Ricardo Lagos.
  Desde 1993, processado pela justiça após o fim da ditadura militar, com condenações anteriores que chegaram a sete anos de prisão domiciliar, Manuel Contreras, o temido chefe da DINA, foi condenado à prisão perpétua em junho de 2008, como mandante do assassinato do general Prats e sua esposa em Buenos Aires, em 1974. Pinochet, contudo, continuou na chefia do exército, deixando o cargo somente em 1998, quando assumiu uma cadeira de senador vitalício no Parlamento chileno. Segundo a Constituição em vigor, elaborada durante o seu governo, todo presidente chileno que ficasse no poder por mais de seis anos teria o direito a uma vaga no Senado até o fim da vida, sem necessidade de disputar eleições.
Chilenos apoiadores de Salvador Allende em 1971
  Em 1 de setembro de 2009, a justiça chilena expediu ordem de prisão a 120 militares e ex-agentes do serviço secreto chileno, por atentados contra os direitos humanos acontecidos no governo Pinochet, entre eles, Contreras, que já estava preso, referente a casos de assassinatos e desaparecimentos de cidadãos chilenos e estrangeiros durante a Operação Condor.
  Na economia, o país assumiu as receitas neoliberais desde a época da ditadura de Pinochet, crescendo num ritmo bastante rápido, e continuou na mesma situação com os governos que o sucederam. Os avanços econômicos e a estabilidade financeira fizeram do Chile um dos países considerados bem-sucedidos no processo de economia capitalista globalizada, típica dos anos 1990 em diante.
  Paralelamente a esse sucesso, continuavam pendente a responsabilização criminal pelas mortes, torturas e atos de repressão da época da ditadura militar, exigida por vários setores nacionais e organismos internacionais de direitos humanos. Em 1998, em visita à Inglaterra para tratamento médico, Pinochet foi preso em resposta à Justiça espanhola, que o julgava por torturas causadas a cidadãos espanhóis.
Pinochet desfilando em carro aberto em 11 de setembro de 1982
  O caso arrastou-se durante 15 meses e somente no início de 2000 Pinochet retornou a seu país, sob forte ameaça de julgamento pelos crimes cometidos durante o seu governo. Em julho de 2002, a Suprema Corte de Justiça chilena decidiu encerrar definitivamente o processo contra Augusto Pinochet (que estava com 86 anos), considerando-o em estado de "demência". Dias depois, ele renunciou ao cargo de senador vitalício, abandonando a vida política. Em 2004 vieram a público as contas multimilionárias que o ex-ditador possuía em bancos estrangeiros, criadas com recursos obtidos de governos aliados a sua ditadura, como o norte-americano, e de outras transações financeiras ilegais. Pinochet morreu em 2006, no mesmo ano em que a Concertación elegeu o quarto presidente chileno, a socialista Michelle Bachelet. Em 2010, a Concertación não conseguiu vencer as eleições presidenciais, sucedendo Bachelet o opositor Sebastián Piñera.
Funeral de Augusto Pinochet em dezembro de 2006
FONTE: Vicentino, Cláudio. História geral e do Brasil / Cláudio Vicentino, Giapaolo Dorigo - 2. ed. - São Paulo: Scipione, 2013.

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