domingo, 23 de março de 2014

SUÉCIA: O PAÍS DOS VIKINGS


  Localizada na península da Escandinávia, a Suécia é o país nórdico com o maior número de habitantes. A maior parte de sua população localiza-se no sul do país, onde se concentra a maior parte das indústrias e da agricultura. No norte, de clima mais rigoroso, predomina a exploração florestal, com um número menor de pessoas.
  A Suécia chegou a ser um dos Estados mais poderosos da Europa no século XVIII. É uma democracia parlamentar e tem sido um país neutro, não participando nem da Primeira Guerra nem da Segunda Guerra Mundial. Desempenha papel importante na política mundial, como negociadora em disputas internacionais.
  Foi o país que teve o modelo mais radical de Estado do bem-estar social, sendo considerada uma via intermediária entre o socialismo e o capitalismo.
  Seus grandes bosques são a base da indústria papeleira e madeireira, responsável por mais de 20% de suas exportações. Mesmo com o desemprego elevado, seus habitantes têm um dos níveis de vida mais elevados da Europa, pois ainda possuem um amplo sistema de proteção social e serviços públicos.
Representação dos vikings
HISTÓRIA DA SUÉCIA
  A Suécia tem uma das histórias mais extensas e interessantes da Europa. A sua história se remonta a 14.000 anos atrás. Descobertas arqueológicas comprovam que a área hoje compreendida pela Suécia já era povoada durante a Idade da Pedra, quando o gelo resultante da última glaciação recuou. Aparentemente, os primeiros habitantes eram povos caçadores e coletores que viviam da pesca no Mar Báltico. Algumas evidências apontam que o sul da Suécia era densamente povoado durante a Idade do Bronze, pois aí foram encontradas ruínas de grandes comunidades comerciais.
  No ano 12.000 a.C., estabeleceram-se os primeiros momentos desta região que são conhecidos, com a chegada dos caçadores durante o Paleolítico Superior. Nos anos subsequentes, a resolução de muitas tribos desta região foi crescendo, levando ao desenvolvimento de muitos núcleos de populações, que contribuíram para a construção de megalíticos, como as famosas Pedras de Ale. Durante a Idade do Bronze, a Suécia foi um grande exportador de bronze para a Europa.
Ales Stenar ou Pedras de Ale, na Suécia
  Durante o auge do Império Romano, a região da Suécia foi ameaçada de invasão pelos romanos, mas as emboscadas dos suecos e o clima dificultaram a invasão romana.
  No século II d.C., a agricultura e a pecuária foram as principais atividades econômicas desenvolvidas na Suécia, principalmente no sul, onde o clima era mais propício para essas atividades.
  No século VIII, os suecos passaram a ser conhecidos como os vikings da Europa do Norte, um povo feroz que estendia seu império da península da Escandinava até a direção dos países do Báltico, Rússia e do Mar Negro. Durante os séculos IX e X, a cultura viking prosperou na Suécia, principalmente por meio do comércio.
Cidades vikings da Escandinávia
  No século XIV, os três estados escandinavos (Noruega, Suécia e Dinamarca) se uniram sob um único monarca. Essa união ficou conhecida como União de Kalmar, que começou com uma união pessoal, quando o rei Valdemar IV da Dinamarca, resolveu casar sua filha Margarida com o rei Haquino VI da Noruega. Essa união dos três estados escandinavos ocorreu em 1397, com a morte de Haquino e a vitória da Noruega e da Dinamarca sobre a Suécia, ficando esses três reinos sob a hegemonia dinamarquesa, tendo como soberana a rainha Margarida I.
União de Kalmar
  Em 1523, após longas lutas pela independência, a Suécia separou-se da União de Kalmar e elegeu como soberano Gustavo I, líder da luta antidinamarquesa, deixando essa união sendo composta apenas por Noruega e Dinamarca. Em 1814, a Noruega separou-se da Dinamarca e passou a pertencer à coroa sueca até 1905, quando declarou sua independência.
  No século XVI, nasce o conhecido Império Sueco, transformando o país numa potência europeia. Era um país pobre, escassamente povoado, mas mesmo assim conseguiu ter um grande crescimento econômico e militar. Esse império surgiu após a assinatura do Tratado de Roskilde, em 26 de fevereiro de 1658, quando a Suécia derrotou as tropas do rei Frederico III da Dinamarca e Noruega.
O Império Sueco após a assinatura do Tratado de Roskilde, em 1658
  Suécia
  Condado de Kexholm
  Ingria Sueca
  Estônia Sueca
  Livônia
  Domínios alemães
  Scania, Gotland, Bohuslän
  Tromdheim
  Härjedalen
  No século XVII a Suécia tornou-se uma das principais potências europeias devido a participação na Guerra dos Trinta Anos, iniciada pelo Rei Gustavo Adolfo II. A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), foi uma série de guerras que diversas nações europeias travaram entre si, especialmente na Alemanha, por causa de rivalidades religiosas, dinásticas, territoriais e comerciais.
   As rivalidades entre católicos e protestantes e assuntos constitucionais germânicos foram gradualmente transformados numa luta europeia. A Suécia e a França buscavam diminuir a força da dinastia dos Habsburgos, que governavam a Áustria. As hostilidades entre os países causaram sérios problemas econômicos e populacionais na Europa Central. Essa guerra chegou ao fim após a assinatura de alguns tratados, no ano de 1648, que ficou conhecido como Paz de Vestfália.
Mapa da Europa em 1648, após o Tratado de Vestfália
  No século XVIII, a posição de potência europeia sueca começou a desmoronar após a derrota na Grande Guerra do Norte. Essa guerra foi travada entre uma coligação composta pelo Império Russo, Reino da Dinamarca e Noruega e a Saxônia-Polônia, de um lado, e o Império Sueco, do outro. A guerra começou após um ataque coordenado pela coligação anti-sueca em 1700 e teve fim em 1721 com a assinatura dos Tratados de Nystad e de Estocolmo. Essa guerra provocou o fim do Império Sueco, com a separação, em 1809, da parte oriental da Suécia e a criação da Finlândia, como um grão-ducado russo.
  No século XIX, a Suécia renunciou de suas províncias do norte da Alemanha a favor do país em troca de parte da Noruega por meio do Tratado de Kiel. De acordo com esse tratado, o reino dinamarquês, que foi um dos grandes perdedores nas Guerras Napoleônicas, cedeu o Reino da Noruega para a Suécia em troca dos territórios suecos na Pomerânia. A soberania sobre a Pomerânia passou para a Prússia, e a Noruega declarou-se independente. Esse tratado não incluiu as possessões ex-norueguesas da Groenlândia, da Islândia e da Ilhas Faroe, que permaneceram sob o controle dinamarquês.
Divisão do antigo reino da Dinamarca pelo Tratado de Kiel
  Na época contemporânea, a paz proporcionou um grande desenvolvimento econômico no país. No século XIX, surgiu vários movimentos sociais e sindicais na Suécia, processo este ligado ao desenvolvimento industrial e a proliferação de fábricas.
  Durante a Primeira e Segunda Guerras Mundiais, a Suécia manteve-se neutra, bem como durante a Guerra Fria, não participando de alianças militares. Essa neutralidade beneficiou o país, principalmente por causa da procura por aço, rolamentos, fósforo e pasta de papel. A prosperidade pós-guerra possibilitou a implementação de políticas de proteção social na Suécia moderna.
  A Suécia continua a ser um país não-alinhado militarmente, apesar de participar de alguns exercícios militares conjuntos com a Otan e alguns outros países, além de cooperar com países europeus na área de tecnologia de defesa.
  Mais recentemente, participou de operações militares no Afeganistão e em operações de paz em Kosovo, Bósnia-Herzegovina e no Chipre.
  Em 13 de novembro de 1993, após um referendo aprovado por 52% da população, a Suécia aderiu à União Europeia, ingressando nesse bloco econômico no dia 1º de janeiro de 1995.
Países que ingressaram na União Europeia em 1995
GEOGRAFIA DA SUÉCIA
  Geograficamente, a Suécia está tradicionalmente dividida em três regiões: Norrland, Svealand e Götaland.
  A região de Norrland localiza-se no centro-norte da Suécia. É  uma área de montanhas e florestas que cobre cerca de 59% do território sueco. Essa região está localizada na metade norte da Suécia, fazendo divisa ao sul com a região histórica de Svealand, a oeste e a noroeste com a Noruega e no nordeste com a Finlândia.
  Com exceção das áreas costeiras, Norrland é pouco povoada, abrigando apenas 12% da população da Suécia. Norrland é conhecida por sua natureza: grandes florestas, rios, e áreas intactas, sendo a principal reserva de recursos vegetais do país. A maioria da população vive em áreas rurais e pequenas vilas.
Paisagem de Norrland
  A região de Svealand encontra-se no centro-sul da Suécia. É uma extensa zona plana na parte oriental e de terras altas no setor ocidental, é arenosa e contém mais de 90 mil lagos. A paisagem é bastante diversificada, com a presença de florestas de faias e carvalhos no sul e áreas quase desprovidas de árvores no norte da região. Durante o verão há uma sinfonia de cores na paisagem, com brejos, liquens e musgos. Nas áreas selvagens aves migratórias disputam o espaço com alces, veados e renas.
Paisagem de Svealand
  A região de Götaland está localizada no sul da Suécia. É composta por florestas profundas e suas áreas costeiras são relativamente planas, consistindo de arquipélagos e praias arenosas. As duas maiores ilhas da Suécia (Gotland e Öland) estão incluídas nessa região, bem como os dois maiores lagos do país (Värnern e Vätern).
Paisagem de Götaland
  Apesar de sua latitude setentrional, grande parte da Suécia possui um clima temperado, influenciado principalmente pela corrente do Golfo. Nas montanhas do norte da Suécia predomina um clima sub-ártico. Ao norte, área do Círculo Polar Ártico, o clima predominante é o polar, caracterizado por temperaturas baixíssimas durante o inverno e temperaturas que não ultrapassam os 10°C no verão. Durante o verão nessa parte do país ocorre o chamado "sol da meia-noite", onde o Sol não se põe no horizonte durante grande parte do verão. Já durante o inverno ocorre o contrário, onde o Sol não aparece em grande parte dessa estação.
Fenômeno do sol da meia-noite em Kiruna, Suécia
  A leste da Suécia, estendem-se o mar Báltico e o golfo de Bótnia, aumentando a linha de costa do país e contribuindo para amenizar o clima. No oeste surge a cadeia montanhosa dos Alpes Escandinavos, barreira natural entre a Noruega e a Suécia. No país existe muitos lagos, muitos deles, principalmente no oeste, são na forma de fiordes. Os fiordes são entradas de mar entre as montanhas. O ponto culminante do país é a montanha Kebnekaise, com 2.117 metros acima do nível do mar.
Monte Kebnekaise - ponto culminante da Suécia
ECONOMIA
  A economia da Suécia é uma das que mais se destacam na Europa. Após um período de recessão, aumento do desemprego e altas taxas de inflação no início da década de 1990, a Suécia retomou o seu crescimento por meio de ajustes fiscais e dinamização da economia. Atualmente, o país ocupa a terceira posição no ranking de competitividade do Fórum Econômico Mundial.
  A economia sueca é mista, orientada para a exportação com um sistema de distribuição moderno, excelente comunicação interna e externa e uma força de trabalho bastante qualificada. O principal setor econômico do país é o de serviços, principalmente de telecomunicações e tecnologias da informação. Os seus principais recursos naturais de exportação são a hidreletricidade, a madeira e o minério de ferro. As indústrias de telecomunicações, automobilísticas e farmacêuticas são de grande importância para a economia do país. Devido grande parte de suas terras serem impróprias para a agricultura, esse setor representa apenas 2% do PIB.
Arranha-céu na cidade de Malmö - símbolo de modernidade do país
  Em termos de estrutura, a economia sueca é caracterizada por uma grande indústria transformadora intensiva em conhecimento e orientada para a exportação. O país é sede de importantes empresas transnacionais. Dentre as transnacionais suecas destacam-se: Atlas Copco (produtora de compressores e equipamentos de mineração e da indústria de automóveis), H & M (loja de roupas e cosméticos), Ericsson (equipamentos de telefonia fixa e móvel), Electrolux (eletrodomésticos), Scania (caminhões, ônibus e motores diesel), Volvo (ônibus e caminhões) e SAAB (aeroespacial e defesa militar).
Sede da Ericsson em Estocolmo - Suécia
  O Fórum Econômico Mundial classificou a Suécia em 2013-2014 como a 6ª economia mais competitiva do mundo no Índice de Competitividade Global. Os principais parceiros comerciais da Suécia são: Alemanha, Estados Unidos, Noruega, Reino Unido, Dinamarca e Finlândia.
  A Suécia dispõe hoje de um extensivo programa de bem-estar social. Os serviços públicos como saúde e educação estão entre os mais elogiados do planeta. A sociedade sueca é a mais igualitária do mundo. Consequência disso é o fato do país a ter um dos IDHs mais elevados do planeta.
A população da Suécia desfruta uma das melhores qualidade de vida do planeta
DESAFIOS DA SUÉCIA
  Embora ocupe uma situação privilegiada no cenário internacional, a Suécia tem alguns obstáculos a enfrentar para continuar em crescimento e manter o bem-estar de sua população.
  A população da Suécia está em processo contínuo e profundo de envelhecimento. Os gastos com saúde e previdência, que já são altos, tende cada vez a aumentar. Uma elevação das taxas de impostos, opção teórica para solucionar o problema, é considerada inoportuna, pois a Suécia já possui uma das maiores cargas tributárias do mundo.
Assim como em várias partes do mundo, o envelhecimento da população está trazendo sérios problemas para a Suécia
  Apesar das reformas na década de 1990, a política fiscal sueca ainda não é considerada ideal. O governo tem ampla participação na economia e os serviços públicos exigirão mais recursos para os idosos no futuro. Contenção de gastos, privatizações, aumento da produtividade e da eficiência governamental são algumas das possibilidades para a superação deste problema. Mas a Suécia é um país que empenha em manter o bem-estar social e a proteção dos trabalhadores que foi historicamente conquistada.
  Para isso, o governo busca constante diálogo com a população para que todos os setores saiam ganhando e o conjunto social continue sendo prioridade e exemplo para os demais países que pensam em construir uma nação autossuficiente.
  Com o envelhecimento da população, o mercado de trabalho sueco enfrenta problemas por falta de oferta de mão de obra. Para tentar resolver esse problema, o governo sueco vem dando apoio e incentivo aos estudantes imigrantes para manter a estabilidade social e a garantia de crescimento.
Em algumas cidades da Suécia, as crianças suecas já são minoria em relação às crianças imigrantes
ALGUNS DADOS DA SUÉCIA
NOME: Reino da Suécia
CAPITAL: Estocolmo

Gamla stan - a cidade velha de Estocolmo
LÍNGUA OFICIAL: sueco
GOVERNO: Monarquia Constitucional
FORMAÇÃO:

Consolidação: Pré-história
GENTÍLICO: sueco
LOCALIZAÇÃO: Península Escandinava - Europa Setentrional
ÁREA: 450.295 km² (55º)
POPULAÇÃO (ONU - Estimativa 2013): 9.045.389 habitantes (86º)
DENSIDADE DEMOGRÁFICA: 20,08 hab./km² (164º)
MAIORES CIDADES (Estimativa 2013): 
Estocolmo: 1.423.213 habitantes

Estocolmo - capital e maior cidade da Suécia
Gotemburgo: 564.921 habitantes
Gotemburgo - segunda maior cidade da Suécia
Malmö: 304.322 habitantes
Malmö - terceira maior cidade da Suécia
ÍNDICE DE COMPETITIVIDADE GLOBAL (Fórum Econômico Mundial2013-2014): 5,42 (6º)
PIB (FMI - 2013):
 U$ 520,256 bilhões (21º)
IDH (ONU - 2012): 0,916 (7º)
EXPECTATIVA DE VIDA (ONU - 2005/2010): 80,88 anos (8º)
CRESCIMENTO VEGETATIVO (ONU - 2005-2010): 0,45% ao ano (168º)
MORTALIDADE INFANTIL (
CIA World Factbook - 2012): 2,56/mil (4º)
TAXA DE URBANIZAÇÃO (CIA World Factbook - 2011): 85% (25º)
TAXA DE ALFABETIZAÇÃO (Pnud - 2009/2010): 99% (19º)
PIB PER CAPITA (FMI - 2011): U$ 56.956 (8º)
MOEDA: Coroa Sueca

RELIGIÃO: até 1 de janeiro de 2000 a Igreja foi parte do Estado da Suécia e até essa data todos os suecos eram considerados membros da Igreja Luterana. Em 2012, cerca de 84,5% dos suecos pertenciam a Igreja Luterana da Suécia, 2,5% de católicos, 1% de cristãos evangélicos pentecostais, e 12% praticavam outras religiões.

Catedral de Uppsala
DIVISÃO: a Suécia está dividida em três grandes regiões históricas: a Götland ao sul, a Svealand na parte central, e a Norrland, ao norte. Cada uma dessas três partes é subdividida em regiões menores chamadas landskap - províncias históricas. As landskap não têm mais significado administrativo, sendo apenas um termo histórico. Atualmente, os län - províncias administrativas modernas, também chamadas de condados - são os equivalentes ao landskap e com significado administrativo aproximado dos antigos landskap. A letra corresponde ao condado no mapa. Blekinge (K), Dalarna (W), Estocolmo (AB), Götland (I), Gäyleborg (X), Halland (N), Jämtland (Z), Jönköping (F), Kalmar (H), Kronoberg (G), Norrbotten (BD), Skäne (M), Södermanland (D), Uppsala (C), Värmland (S), Västerbotten (AC), Västernorrland (Y), Västmanland (U), Västra Götaland (O), Örebo (T) e Östergötland (E).
Condados da Suécia
FONTE: Sampaio, Fernando dos Santos. Para viver juntos: geografia, 9º ano: ensino fundamental / Fernando dos Santos Sampaio, Marlon Clóvis de Medeiros. - 3. ed. - São Paulo: Edições SM, 2012. - (Para viver juntos).

domingo, 16 de março de 2014

A INTERIORIZAÇÃO DO CRESCIMENTO POPULACIONAL NO BRASIL

  O Brasil teve sua geografia alterada na última década no sentido de aprofundar o processo de interiorização. Isso se reflete na expansão das cadeias produtivas de carne, grãos e algodão em direção ao Centro-Oeste e ao Norte. Isso tudo é fruto das políticas desenvolvidas pelo governo brasileiro há décadas.
  Diversas políticas de interiorização do crescimento desde a década de 1940, atraíam populações para a região central do país, num movimento conhecido como Marcha para o Oeste.
  A Marcha para o Oeste foi um projeto dirigido pelo governo Getúlio Vargas no período do Estado Novo, para ocupar e desenvolver o interior do Brasil, principalmente o Centro-Oeste, onde havia muitas terras desocupadas. O objetivo era produzir matérias-primas e gêneros alimentícios a baixo custo para subsidiar a implantação da industrialização no Sudeste, além de diminuir os desequilíbrios existentes entre as diversas regiões do país.
Cartaz da década de 1930 incentivando a população brasileira a se mudar para a recém-inaugurada capital de Goiás, Goiânia
  A ocupação do Centro-Oeste visava também promover uma etapa preliminar à ocupação da Amazônia.
  Os principais objetivos da Marcha para o Oeste eram: criar uma política demográfica de incentivo à migração, criação de colônias agrícolas, construção de estradas, realizar a reforma agrária e incentivar à produção agropecuária de sustentação. Em Goiás foi instalada a primeira colônia agrícola do país, em 1941, na cidade de Ceres, a Colônia Agrícola Nacional de Goiás (CANG).
  Esse projeto se intensificou anos mais tarde, com a construção de Brasília e sua inauguração, em 1960, durante o governo de Juscelino Kubitschek, transformando-se na nova capital do Brasil.
Inauguração de Brasília, em 21 de abril de 1960
  A infraestrutura rodoviária construída para viabilizar a transferência do poder para a nova capital integrou amplas regiões do país. Novas vias de circulação possibilitaram maior mobilidade da população, como a construção das rodovias que interligaram Rio De Janeiro e São Paulo a Brasília e a Rodovia Brasília (concluída em 1974).
  A modernização da agricultura na Região Sul, a partir da década de 1970, liberou um excedente de mão de obra que migrou para o Centro-Oeste e para o Norte, fazendo avançar a fronteira agrícola. Tal processo de colonização teve o incentivo governamental e de empresas interessadas em atrair contingentes populacionais para seus empreendimentos, formando as frentes pioneiras, caracterizadas pela presença de capital na produção.
  As frentes pioneiras era o deslocamento de várias pessoas para a ocupação de determinado espaço nacional. A princípio, um grupo de pessoas iniciavam a ocupação, vivendo primeiramente da agricultura e depois da mineração. Isso atraía pessoas de vários locais do Brasil, transformando em pouco tempo terras ociosas em produtivas e povoadas.
Frentes pioneiras no Brasil
  A expansão do povoamento se fez em direção a novos espaços de fronteira econômica, dinamizados pela utilização de formas capitalistas de organização da produção.
  A implementação do Plano de Integração Nacional (PIN) na década de 1970 e a consequente construção de diversas rodovias, como a Cuiabá-Santarém (1973), a Manaus-Boa Vista (1976) e a Transamazônica (1972), abriram as  portas para os deslocamentos de nordestinos e sulistas para a Região Norte. O PIN foi criado durante o governo militar do General Médici por meio do Decreto-Lei Nº 1.106, de 16 de julho de 1970, objetivando utilizar a mão de obra nordestina, que sofria com as secas de 1969 e 1970, e preencher os vazios demográficos da Amazônia, com os lemas "Integrar para não entregar" e "Uma terra sem homens para homens sem terra".
Construção da Transamazônica
  Para incentivar a ocupação regional foram criados centros de colonização - as agrovilas - em meio a floresta. Essas agrovilas eram pequenas comunidades localizadas nas margens da Transamazônica.
  No papel, cada agrovila teria até 64 famílias, escola, igreja ecumênica, posto médico e pequeno comércio. Umas poucas agrovilas prosperaram e se tornaram cidades, como o caso  de Rurópolis e Pacajá, no Pará, atualmente com mais de 40 mil habitantes cada. Porém, a maior parte dessas agrovilas não prosperaram devido a falta de investimentos, por parte do governo, para que os agricultores pudessem desenvolver suas atividades. Sem tecnologia para produzir, a maior parte dos colonos abandonaram as terras, buscando outros espaços ou até mesmo voltando para sua terra natal.
Pacajá - PA
  Com a participação de empresas transnacionais, incentivos fiscais e investimentos do governo federal, nas décadas de 1970 e 1980, foram implantados no norte do país projetos de mineração, que atraíram muitos garimpeiros para a região. Um exemplo desses projeto foi o Projeto Grande Carajás.
  O Projeto Grande Carajás (PGC), é um projeto de exploração mineral, iniciado em 1980, na mais rica área de minério do planeta, pela Vale - antiga Companhia Vale do Rio Doce (CVRD). Estende-se por 900 mil km², numa área que corresponde a um décimo do território brasileiro, sendo cortada pelos rios Xingu, Tocantins e Araguaia e englobando terras do sudeste do Pará, norte do Tocantins e sudoeste do Maranhão. É a maior área de minério de alto teor de ferro do mundo. Além do minério de ferro são explorados nessa área manganês, cobre, níquel, ouro, bauxita e cassiterita. O Japão é o maior parceiro do Brasil, garantindo em Carajás o suprimento de matéria-prima ao parque industrial japonês. A China também é outro importante parceiro do Brasil na exportação dos produtos de Carajás.
Exploração mineral na Serra do Carajás - PA
  Algumas consequências desses projetos foram os problemas socioambientais decorrentes dessa ocupação. O desmatamento, realizado na maior parte das vezes por madeireiros, de maneira ilegal, empobrece os solos da região, tornando-os muitas vezes inadequados para a agricultura e impedindo a população nativa de obter o seu sustento com o extrativismo.
O desmatamento e a ampliação das áreas de pecuária são um dos principais problemas da Amazônia
  A violência na região também é um problema. Muitos migrantes instalaram-se como posseiros ou grileiros, causando diversos problemas com as populações nativas e indígenas e, ainda, com os defensores desses povos, como padres e missionários.
  Os posseiros são lavradores que juntamente com a família ocupam pequenas áreas de terras devolutas ou improdutivas, ou seja, que não estão sendo utilizadas e que pertencem ao governo. Eles têm a posse da terra, mas não têm um documento oficial que prove que eles são os donos ou proprietários da terra. Já os grileiros são, geralmente, grandes empresas ou fazendeiros que se utilizam da força e da violência para se apropriar de terras devolutas ou terras trabalhadas por posseiros. Contratam jagunços para "limpar" o terreno, expulsam índios e posseiros e conseguem a documentação falsa da terra, transformando a propriedade em objeto de especulação imobiliária ou instrumento de negócios.
Posseiros são pequenos agricultores que ocupam um pedaço de terra sem o título de propriedade
  Um exemplo do conflito entre posseiros, grileiros, nativos e de missionários que defendem os povos da floresta aconteceu com o assassinato da Irmã Dorothy Stang, que foi assassinada com seis tiros no município de Anapu, no estado do Pará.
  Irmã Dorothy estava presente na Amazônia desde a década de 1970 junto aos trabalhadores rurais da região do Xingu, e sua atividade pastoral e missionária buscava a geração de emprego e renda com projetos de reflorestamento em áreas degradadas, focando-se, também, na minimização dos conflitos fundiários na região.
  Defensora de uma reforma agrária justa e consequente, Irmã Dorothy mantinha intensa agenda de diálogo com as lideranças camponesas, políticas e religiosas, na busca de soluções duradouras para os conflitos relacionados à posse e à exploração da terra na Amazônia.
Irmã Dorothy Stang - uma grande defensora dos povos da floresta

FONTE: Terra, Lygia. Conexões: estudos de geografia do Brasil / Lygia Terra, Regina Araújo, Raul Borges Guimarães. - 1. ed. São Paulo: Moderna, 2009.

quarta-feira, 12 de março de 2014

O MOVIMENTO OPERÁRIO E OS SOCIALISTAS

  Hoje em dia, em muitos países do mundo, os trabalhadores têm alguns direitos básicos, como limitação de sua jornada de trabalho, descanso semanal remunerado, férias anuais, assistência médica, aposentadoria, entre outros. Isso não existia no século XIX, quando os trabalhadores assalariados começaram a existir em grande número. Os direitos dos trabalhadores foram conquistados ao longo de décadas, depois de muitas greves, manifestações e confrontos com a polícia.
  Essa luta por condições mais justas de trabalho e de vida é chamada de movimento operário e surgiu na Europa no século XIX. Em um primeiro momento, reivindicou apenas melhores salários e condições de trabalho. Com o tempo, alguns trabalhadores passaram a acreditar que isso não bastava. Era necessário criar um mundo socialista, onde não existiria mais a exploração dos trabalhadores pelos patrões.
Símbolo do socialismo: o martelo significa o proletariado industrial e a foice o campesinato
A ORIGEM DO MOVIMENTO OPERÁRIO
  Movimento operário é um termo que refere-se à organização coletiva de trabalhadores para a defesa de seus próprios interesses, através da implementação de leis específicas para reger as relações de trabalho.
  Inicialmente surgiu como uma reação às consequências da Revolução Industrial, partindo dos artesãos que se viram privados de seus meios originais de trabalho. Revoltados, grupos de artesãos atacavam as fábricas, quebrando as máquinas. Desse mesmo tipo também foi a reação dos operários jogados na miséria pelas primeiras crises de desemprego. Depois de algum tempo, os operários foram percebendo que o problema não estava nas fábricas, nem nas máquinas em si, mas na forma como a burguesia havia organizado os meios de produção.
  No início do século XIX, os operários trabalhavam até vinte horas diárias, sem descanso semanal, inclusive aos sábados e domingos e não tinham direito a férias nem seguro que os sustentasse em caso de doença ou acidente de trabalho. Assim, os movimento dos trabalhadores se fez sentir por meio de demonstrações em massa, como motins e petições. Nesse mesmo século, começou a surgir os sindicatos como uma nova facção no cenário político.
Os artesãos foram os primeiros a se revoltarem com a Revolução Industrial
  As condições de trabalho eram terríveis. Na Inglaterra, a maior parte dos operários trabalhavam em fábricas de tecidos, onde as máquinas a vapor elevavam a temperatura ambiente a 50ºC. Isso ressecava os fios e, para evitar sua quebra, os donos das fábricas mandavam instalar chuveiros de água fria, que molhavam também os trabalhadores, provocando muitas doenças provocadas pelo choque térmico. Acidentes de trabalho eram comuns; muitos operários tinham braços ou pernas esmagados ou mesmo decepados pelas pesadas, instáveis e perigosas máquinas da época.
Fábrica de tecelagem no século XVIII
  Nas minas de carvão e ferro a situação era pior. Os mineiros trabalhavam sem nenhuma proteção em túneis e galerias pouco ventilados. Nas minas onde não havia máquinas a vapor eram os próprios trabalhadores que empurravam até a superfície os carrinhos cheios de minérios.
  Nas poucas horas que passavam em casa, os trabalhadores aproveitavam para simplesmente dormir. Suas casas tinham em geral apenas um cômodo, que funcionava como quarto e cozinha. Os banheiros eram coletivos e ficavam fora das casas. As vilas operárias ficavam próximas às fábricas, em locais onde as chaminés lançavam uma fumaça preta que impregnava as paredes, roupas e as pessoas.
  A base da mentalidade dos burgueses da época era a exploração máxima da classe trabalhadora - o proletariado - de maneira que pudessem garantir e manter a classe operária dependente. Os trabalhadores, submetidos a essa nova ordem, muito sofreram em busca de melhorias de vida que nunca chegavam, devido ao salário extremamente baixo. Acabavam realizando seus serviços pela própria subsistência, trabalhado até o limite das forças, as vezes também, eram tidos como negligentes e insubordinados pelos seus empregadores.
Trabalhadores em uma fábrica nos anos de 1800
  Os trabalhadores utilizavam os meios de produção que lhes pertenciam e geravam excedentes que, da mesma forma, nunca iriam lhes pertencer, com a única finalidade de produzir o lucro para os burgueses. Esses patrões os utilizariam para continuar a financiar a industrialização, enriquecendo frente ao contínuo empobrecimento dos proletários.
  Infelizmente, em pleno século XXI, as más condições pelo qual viveu o trabalhador no início da Revolução Industrial, ainda é uma realidade para a maioria dos trabalhadores, que recebem baixos salários, e o que é pior, com o processo de globalização, os trabalhadores que não possuem qualificação profissional (que são a maioria, principalmente nos países subdesenvolvidos), são forçados a sofrer a exploração, e muitas vezes, ainda são obrigados a trabalharem em condições subumanas ou até mesmo a realizarem o trabalho escravo.
Em pleno século XXI, o trabalho escravo ainda é uma realidade para muitos trabalhadores
O TRABALHO INFANTIL
  Entre os trabalhadores europeus do século XIX, havia muitas crianças. Para os patrões era vantajoso empregar crianças: elas costumavam ser mais submissas do que os adultos, recebiam salários ainda mais baixos e podiam se movimentar por espaços estreitos. Muitas vezes as crianças se arrastavam por debaixo das máquinas para recolher os restos de lã que caíam dela. Os retalhos eram recolhidos e retornavam à máquina para que não houvesse desperdício de matéria-prima, correndo o risco de serem esmagadas.
  Antes da Revolução Industrial, as famílias europeias viviam nas áreas rurais. Nessa época, as crianças começavam a trabalhar muito pequenas, auxiliando os pais nas tarefas do campo. No entanto, elas não realizavam trabalhos repetitivos e exaustivos, pois praticavam diferentes tarefas, que variavam desde semear até a fabricação de calçados. O convívio entre pais e filhos era bem intenso, pois o trabalho não ocupava o dia inteiro das pessoas e sobravam tempo para reuniões e festas entre famílias.
Durante o Feudalismo era comum o trabalho de crianças
  A vida nas cidades alterou completamente esse panorama das relações de trabalho familiares. Ao passar o dia nas fábricas, os pais perderam o convívio com seus filhos. As crianças, além de perderem o contato com a natureza e se depararem com um cenário urbano que se diferenciava na paisagem natural das zonas rurais, também foram atingidas pelas transformações nas relações de trabalho.
  A mudança do campo para a cidade contribuiu para a utilização do trabalho infantil nas indústrias. Inicialmente, só as crianças abandonadas em orfanatos eram entregues aos patrões para trabalharem nas fábricas. Com o passar do tempo, as crianças que tinham famílias começaram a trilhar o mesmo caminho, trabalhando por longas e exaustivas horas, perdendo toda a sua infância.
  Elas começavam a trabalhar aos seis anos de idade de maneira exaustiva. A carga horária era equivalente a uma jornada de 14 horas por dia, começando às 5 da manhã e encerrando às 7 horas da noite, e seu salário correspondia a quinta parte de um salário de uma pessoa adulta. As condições de trabalho eram precárias e as crianças estavam expostas a acidentes fatais e a diversas doenças.
Crianças trabalhando em uma fábrica de tecidos no século XIX
  Muitas vezes as crianças ficavam cansadas, sonolentas e não conseguiam manter a velocidade exigida pelas máquinas. Quando isso ocorria, em geral apanhavam para trabalhar mais rápido ou tinham a cabeça mergulhada na água fria para ficarem acordadas. Também eram punidas quando chegavam atrasadas ao trabalho ou quando conversavam com outras crianças, sendo até acorrentadas e enviadas à prisão.
  O trabalho infantil, em geral, é proibido por lei. Especificamente, as formas mais nocivas ou cruéis de trabalho infantil não apenas são proibidas, mas também constituem crime.
  A exploração do trabalho infantil é comum em países subdesenvolvidos e nos países emergentes, como o Brasil. Na maioria das vezes isto ocorre devido à necessidade de ajudar financeiramente a família. Muitas destas famílias são geralmente de pessoas pobres que possuem muitos filhos. É comum nas grandes cidades brasileiras a presença de menores em cruzamento de vias de grande tráfego, vendendo bens de pequeno valor monetário e até mesmo na zona rural, trabalhando nas carvoarias ou na roça.
Crianças trabalhando em carvoarias do Centro-Oeste
REVOLTA DOS OPERÁRIOS
  Revoltado com essa situação, os trabalhadores começaram a organizar lutas em prol de melhores condições de trabalho. A primeira luta de caráter político, empreendida pelos operários ingleses, foi a conquista do direito de voto. Nessa luta, o movimento operário contou inicialmente com o apoio da burguesia, uma vez que esta classe não podia enviar seus deputados para a câmara dos Comuns, que estava nas mãos dos latifundiários. A revolução de 1830 na França, acabou dando um grande impulso a esse movimento. Em 1832, o Parlamento promulgou um reforma do sistema eleitoral, beneficiando a burguesia e negando qualquer benefício aos operários.
  Em 1836, desencadeou-se uma crise industrial e comercial que lançou à rua milhares de operários. Organizou-se então, a Associação dos Operários para a luta pelo Sufrágio Universal. O Sufrágio foi o fim do voto censitário para todos os homens (nessa época, as mulheres ainda não podiam votar). No ano seguinte essa associação elaborou uma extensa petição (Carta do Povo) para ser enviada ao Parlamento. Por meio dessa petição, surgiu o movimento denominado cartismo. Reivindicava-se o Sufrágio Universal, a igualdade dos distritos eleitorais, a supressão do censo exigido dos candidatos do Parlamento, o voto secreto, eleições anuais e salário para os membros do Parlamento.
Motim cartista em Londres
  De 1838 em diante, o movimento cartista espalhou-se  por toda a Inglaterra, ganhando a adesão maciça dos trabalhadores e ampliando a pauta de reivindicações nitidamente operárias: limitação da jornada de trabalho, abolição da Lei dos Pobres e fim das casas operárias.
OS DESTRUIDORES DE MÁQUINAS
  Desde o início do processo de industrialização houve revoltas individuais que não levaram a consequências imediatas. Apesar de sua revolta, para ter o que comer os operários eram obrigados a aceitar as condições  de trabalho oferecidas pelos donos das fábricas. Ainda por cima, desde o fim do século XV os cidadãos ingleses estavam sujeitos a duras leis contra a recusa ao trabalho. Segundo essas leis, aqueles que não tinham licença do Estado para mendigar eram definidos como vagabundos. Eram açoitados, tinham metade da orelha cortada - para serem facilmente identificados - e podiam ser até mesmo condenados à morte, como traidores do Estado.
A insalubridade marcava a vida dos trabalhadores no século XVIII
  Diante dessas péssimas condições de vida, os operários não demoraram a se revoltar. A primeira forma de revolta coletiva aconteceu na Inglaterra no início do século XIX. Essa revolta começou na noite de 12 de abril de 1811, quando cerca de 350 homens, mulheres e crianças atacaram a fábrica de tecidos  de William Cartwrigth, próxima ao povoado de Arnold, no condado de Nottingham. Os revoltosos destruíram os teares e incendiaram as instalações. Dezenas de teares foram destruídos naquela noite em outros povoados das redondezas. Nos dias subsequentes, os condados vizinhos de Derby, Leicester e York também foram atacados, e a agitação se expandiu pela Inglaterra por dois anos.
Desenho de dois homens destruindo uma máquina de tear em 1812
  Esses destruidores de máquinas eram chamados de ludistas ou luditas, em referência a Ned Ludd, ou King Ludd, o suposto líder do movimento. O ludismo foi um movimento que ia contra a mecanização do trabalho proporcionado pelo advento da Revolução Industrial. Adaptado aos dias de hoje, o termo ludita (do inglês luddite) identifica toda pessoa que se opõe à industrialização intensa ou a novas tecnologias, geralmente vinculadas ao movimento operário anarcoprimitivista. Alguns autores acreditam que Ludd realmente existiu, mas ele pode ter sido apenas uma invenção dos operários para confundir a polícia. Vários ludistas que foram enforcados na década de 1810 se diziam o próprio Ned Ludd. O ludismo ou movimento ludista foi desarticulado com a mobilização de 10 mil soldados ingleses e desapareceu depois do enforcamento de seu último condenado, em 1816.
Gravura de 1812 que mostra o líder dos ludistas
  Além de organizar grupos para destruir máquinas à noite, os ludistas enviavam cartas ameaçadoras aos proprietários de máquinas.
ANARQUISMO E COMUNISMO
  Nem ludistas nem cartistas foram capazes de encontrar soluções para os problemas enfrentados pelos operários. Não era possível combater os patrões apenas quebrando suas máquinas. Também era muito difícil alcançar melhores condições de trabalho solicitando-as ao governo, pois muitos industriais faziam parte dele.
  Em meio a essas revoltas, surgiram novas formas de organização dos operários: os chamados movimentos socialistas. Eles defendiam a ideia de que para melhorar as condições de trabalho dos operários era necessário mudar a sociedade como um todo.
  Os dois principais movimentos socialistas surgidos no século XIX foram o anarquismo e o comunismo.
Símbolo do anarquismo
  Os anarquistas acreditavam que melhorar as condições de vida dos operários só seria possível com a extinção do Estado e de todas as formas de poder. Para os anarquistas, somente uma sociedade organizada sem autoridade, sem escola, sem polícia e sem quaisquer outras instituições estatais poderia acabar com a exploração dos seres humanos.
  Os comunistas, por sua vez, acreditavam que a situação de exploração só teria fim quando os operários assumissem o controle do Estado e organizassem um governo capaz de criar outros valores sociais.
A foice, o martelo e a estrela vermelha são os símbolos do comunismo
  Com os objetivos semelhantes, mas métodos diferentes, anarquistas e comunistas lideravam o movimento operário e suas várias correntes ao longo do século XIX. Diversos intelectuais se juntaram a esses movimentos, como o russo Mikhail Bakunin (1814-1876), o francês Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865), os alemães Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895), entre outros. Karl Marx e Friedrich Engels publicaram manifestos sobre a condição dos trabalhadores e estudos de economia nos quais defendiam uma proposta de sociedade comunista.
  Pierre-Joseph Proudhon é considerado um dos mais influentes teóricos e escritores do anarquismo, sendo também o primeiro a se autoproclamar anarquista. Seu primeiro e maior trabalho foi O que é a Propriedade? Pesquisa sobre o Princípio do Direito e do Governo, publicado em 1840.
  Proudhon favoreceu a associação dos trabalhadores ou cooperativas, bem como o propriedade coletiva dos trabalhadores da cidade e do campo em relação aos meios de produção, em contraposição à nacionalização da terra e dos espaços de trabalho. Ele considerava que a revolução social poderia ser alcançada através de formas pacíficas.
Pierre-Joseph Proudhon
  Karl Marx foi o responsável pela análise econômica e histórica mais detalhada da evolução das relações econômicas entre as classes sociais, razão pela qual é considerado o pai do "socialismo científico". Marx procurou demonstrar a dinâmica econômica que levou a sociedade, partindo do comunismo primitivo, até a concentração cada vez mais acentuada do capital e o aparecimento da classe operária. Esta, ao mesmo tempo, seria filha do capitalismo e a fonte de sua futura ruína, explicando a evolução da sociedade em termos puramente econômicos, referindo à acumulação do capital através da mais-valia, ou seja, a diferença entre o valor final da mercadoria produzida e a soma do valor dos meios de produção e do valor do trabalho, que seria a base do lucro no sistema capitalista.
Karl Marx
  Principal colaborador de Karl Marx, Friedrich Engels desempenhou papel de destaque na elaboração da teoria comunista, a partir do materialismo histórico e dialético. Era o filho mais velho de um rico industrial de Barmen, na Alemanha.
  Na juventude, ficou impressionado com a miséria em que viviam os trabalhadores das fábricas de sua família. Indignado, desenvolveu um detalhado estudo sobre a situação da classe operária na Inglaterra. Em 1842, com 22 anos de idade, Engels foi enviado por seus pais para Manchester, Inglaterra, para trabalhar numa fábrica de sua família que fazia linhas de costura.
  Quando ainda era estudante, Engels aderiu as ideias de esquerda, aproximando-se de Karl Marx. Assumiu por alguns anos a direção de uma das fábricas de seu pai em Manchester e suas observações nesse período formam a base de uma de suas principais obras: A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra, publicada em 1845.
  Muitos de seus trabalhos posteriores são produzidos em colaboração com Marx, sendo o mais famoso deles o que foi intitulado Manifesto Comunista, lançado em 1848.
Friedrich Engels
Cardoso, Oldimar. Leituras da história, 8º ano / Oldimar Cardoso. 1. ed. -- São Paulo: Escala Educacional, 2012. (Leituras da história).

domingo, 9 de março de 2014

A CRISE NA CRIMEIA

  A Crimeia é uma república autônoma da Ucrânia e está localizada em uma península do Mar Negro. Essa região pertenceu à Rússia, no período em que os dois países faziam parte da ex-União Soviética. Em 1954, a Ucrânia anexou a Crimeia ao seu território, na época em que Nikita Krushchev - que era de origem ucraniana - governava a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas). Diferente do restante do território ucraniano, a Crimeia possui uma população majoritariamente russa. Em 1991, com a desintegração da União Soviética e a criação de 15 novos países, a Crimeia passou a ser uma república semi-autônoma da Ucrânia, com fortes laços políticos com o país e com a vizinha Federação Russa.
Foto de satélite da península da Crimeia e do Mar de Azov
  A Crimeia possui seu próprio corpo legislativo e o poder executivo é detido por um Conselho de Ministros, governado por um presidente que serve de acordo com a aprovação do presidente da Ucrânia. Já os tribunais, fazem parte do sistema judicial da Ucrânia e não possuem autoridade autônoma.
GEOGRAFIA DA CRIMEIA
  A Crimeia possui uma área de 26.081 km², um pouco menor que o estado de Alagoas. Sua população em 2013 estava estimada em 2.143.321 habitantes. Faz fronteira com a região do Kherson a norte, com o Mar Negro ao sul e a oeste e com o Mar de Azov a leste. Conecta-se coma a Ucrânia pelo istmo de Perekop. No extremo oriental encontra-se a península de Kerch, de frente para a península de Taman, em terras russas. Entre as penínsulas de Kerch e Taman encontra-se o estreito de Kerch, que liga o Mar Negro ao Mar de Azov. A capital da Crimeia é Simferopol.
Simferopol - capital da Crimeia
  A costa da Crimeia é repleta de baías e portos. Na costa sudeste existe uma cadeia de montanhas conhecida como Cordilheira da Crimeia. Essas montanhas são acompanhadas por uma segunda cadeia paralela. A cadeia principal dessas montanhas ergue-se abruptamente do fundo do Mar Negro, alcançando uma altitude de 600 a 750 metros, começando no sudoeste da península, denominada de Cabo Fiolente.
Cordilheira da Crimeia
ECONOMIA DA CRIMEIA
  Durante os anos de poder soviético, as vilas e as dachas - fazendas, casas de campo ou mansão - da costa da Crimeia eram privilégio dos políticos fiéis ao regime socialista. Também encontram-se vinhedos e pomares nessa região. Outras atividades econômicas importantes são a pesca, a mineração e a produção de diversos óleos. Inúmeros edifícios da família imperial russa também embelezam a região, bem como pitorescos castelos gregos e medievais.
  Durante vários séculos a Ucrânia foi chamada de "celeiro agrícola da Rússia", devido ter sido a grande produtora de grãos que serviam para alimentar o vasto império czarista. Ainda hoje, a Ucrânia é um dos maiores produtores mundiais de milho e trigo, graças ao seu solo escuro e rico em matéria orgânica, o tchernoziom. Grande parte dos produtos agrícolas exportados pela Ucrânia passa pelos portos da Crimeia.
Baía de Laspi, no Mar Negro - Crimeia
  O turismo é outra importante fonte de renda, porém, o clima semiárido obriga a Crimeia a ser dependente da Ucrânia, tanto na questão da água como na alimentação.
  O quadro de energia na Crimeia e também na Ucrânia é bastante complicado. A maior parte da eletricidade da região vem da Ucrânia, e a Europa importa da Rússia cerca de 25% do gás natural. Além disso, o gás que a Rússia envia para a Europa passa por gasodutos que cortam a Ucrânia, que recebe ajuda russa por esse transporte. Uma guerra na região afetaria diretamente a economia europeia.
Gasodutos russos
ANTECEDENTES POLÍTICOS NA CRIMEIA
  De 1853 a 1856, a Guerra da Crimeia agitou a área, quando a França, Inglaterra e o Império Otomano lutaram contra os russos pelo controle da Crimeia e do Mar Negro. A Rússia acabou perdendo e cedeu sua reivindicação para a península, porém, antes de ceder a região da Crimeia, os russos devastaram as cidades e aldeias da região.
  Apesar de sua devastação, a Guerra da Crimeia foi notável por vários avanços: Florence Nightingale e cirurgiões russos introduziram métodos modernos de enfermagem e campos de batalha, os russos aboliram o sistema medieval de servidão e o uso da fotografia e do telégrafo deu a guerra um elenco distintamente moderno.
Florence Nightingale (1820-1910) - enfermeira britânica
  A entrada de povos tártaros no século XIII foi primordial para a introdução da religião islâmica na região. Esse povo era conhecido como mercadores de escravos que invadiram terras no extremo norte, na atual Polônia.
  Durante a Segunda Guerra Mundial, os tártaros da Crimeia foram deportados para servir como trabalhadores braçais na Rússia em condições desumanas, resultando na morte de milhares de tártaros.
  Após a desintegração da União Soviética, os tártaros começaram a retornar à Crimeia e hoje representa cerca de 12% da população da região. Numa eventual anexação da Crimeia por parte da Rússia, os tártaros poderão sofrer retaliações, pois a sua grande maioria é contrária a anexação.
Principais grupos étnicos da Crimeia
  A Crimeia proclamou sua independência em 5 de maio de 1992, mas concordou em permanecer parte integrante da Ucrânia como uma República autônoma. A cidade de Sebastopol está situada dentro da República, mas tem um status municipal especial na Ucrânia.
ATUAL CRISE POLÍTICA NA CRIMEIA
  A Crimeia se tornou foco da atenção da diplomacia internacional nas últimas semanas com uma escalada militar russa e ucraniana na região. As tensões separatistas, de maioria russa, se tornaram mais acirradas com a deposição do presidente ucraniano Viktor Yanukovich, que tinha desistido de assinar um tratado de livre-comércio com a União Europeia, preferindo estreitar relações econômicas com a Rússia. A renúncia de Viktor Yanukovich levou a Rússia a aprovar o envio de tropas para "normalizar" a situação. A medida só piorou as relações entre Ucrânia e Rússia, gerando grande perigo para a região.
Soldados russos no aeroporto de Simferopol
  Na Crimeia, de maioria russa, o parlamento local foi dominado por um comando pró-Rússia, que nomeou Sergei Axionov como premiê. Esse novo governo, considerado ilegal pela Ucrânia, aprovou sua adesão à Federação Russa e a realização de um referendo sobre o status da região, que ocorrerá no dia 16 de março de 2014.
  Com a intensificação das tensões separatistas, o Parlamento russo aprovou o envio de tropas para a região da Crimeia. Essas tropas não tinham identificação, porém, demonstravam claramente que eram russas - por meio de placas registradas nos veículos - e tomaram a Crimeia, dominando bases militares e aeroportos. A Rússia justificou o movimento dizendo se reservar o direito de proteger seus interesses e os de seus cidadãos em caso de violência na Ucrânia e na região da Crimeia.
Grupo pró-Rússia sobre tanque soviético em frente ao Parlamento de Simferopol
  A escalada militar fez com que diversos oficiais do exército ucraniano se juntassem ao governo local pró-russo. Outros abandonaram seus postos. No dia 4 de março, o novo governo da Crimeia anunciou que assumiu o controle da península, dando um ultimato para que os últimos oficiais leais à Ucrânia se rendessem.
  Para muitos russos, a Crimeia e sua "Cidade Heroica" de Sebastopol, da era soviética, sitiada pelos invasores nazistas, têm uma ressonância emocional muito forte, por já ter sido parte do país e ainda ter a maioria de sua população de origem russa. Além disso, a maior parte da frota russa do Mar Negro está na Crimeia. Para a Ucrânia, a perda da Crimeia para a Rússia significaria um duro golpe.
  Crimeia (incluindo Sebastopol)
  Restante da Ucrânia
  O novo governo ucraniano, pró-União Europeia, criticou os movimentos separatistas e classificou a aprovação de intervenção militar russa como uma declaração de guerra, convocando todas as suas reservas militares para reagir a um possível ataque russo. O país pediu apoio do Conselho de Segurança da ONU para conter a crise na península e defender sua integridade territorial.
  Os Estados Unidos e outros países ocidentais exigem o recuo das tropas russas na Crimeia, ameaçando a Rússia com sanções, como a suspensão de transações comerciais com o país e o cancelamento do acordo de cooperação militar com Moscou.
  Outros países do ocidente também pressionam a Rússia por uma saída diplomática. A escalada da tensão provocou uma ruptura entre as grandes potências, inclusive ameaçando a Rússia de deixar de fazer parte do G-8.
  O temor mundial é que qualquer ação militar ocidental direta provocaria uma guerra entre as superpotências nucleares. Relativamente pequena e com arsenal reduzido, as forças da Ucrânia poderiam agir, mas correriam o risco de incitar uma invasão russa muito mais ampla que poderia leva à dominação do país.
Manifestantes que apoiam a intervenção russa estendem a bandeira do país no centro de Simferopol
  A Rússia pode cortar o fornecimento de gás para a Europa, cujos gasodutos passam pela Ucrânia, e poderia provocar um ataque cibernético que poderiam ser usadas contra a Ucrânia ou o Ocidente.
FONTE: Agência de Notícias Reuters

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