segunda-feira, 11 de março de 2024

A CRUCIFICAÇÃO E O CIRCO ROMANO

  No mundo Ocidental, as execuções públicas são antigas e os maiores exemplos disso são do tempo do Império Romano, que durou mais de 500 anos. O caso que se tornou mais emblemático foi o de Jesus Cristo. Segundo relato dos Evangelhos, ele foi sentenciado à morte como agitador na província romana da Judeia, após o governador ser pressionado pelos fariseus, que então dirigiam o templo hebreu. Jesus foi condenado por aclamação da multidão, quando Pilatos colocou em votação quem ele deveria libertar, Jesus ou Barrabás, um criminoso comum. Jesus foi açoitado, humilhado, obrigado a carregar a pesada cruz pelas ruas de Jerusalém até o monte Gólgota, sendo insultado de todas as maneiras no percurso. Uns e outros se apiedaram, mas a maioria apoiou com entusiasmo a Via Crucis e depois assistiu à crucificação.

Monte Gólgota, a leste de Jerusalém. Lugar onde, segundo a Bíblia, Jesus foi crucificado

  Os Evangelhos podem ser lidos do ponto de vista religioso, mas também podem ser tomados como fontes históricas. Eles contêm relatos específicos sobre um tipo de execução largamente praticado no Império Romano contra ladrões, assassinos e rebeldes. Na época, prevalecia a ideia de que criminosos deviam ser escravizados ou executados com crueldade diante de todos.

  A morte cruel era tão valorizada no Império Romano que foram construídas arenas, locais reservados ao combate de gladiadores, em geral escravizados por agentes comerciais para lutar no circo romano, espaço de entretenimento a céu aberto. Por vezes, combatentes em condições desiguais eram postos, propositalmente, para lutar uns contra os outros. Quando um gladiador submetia outro, aguardava o veredito do imperador, que decidia pela vida ou pela morte do vencido com base nas manifestações da multidão.

Coliseu de Roma, anfiteatro localizado no centro da capital italiana, foi construído entre 72-80 d.C., era utilizado para combate entre gladiadores e espetáculos públicos

  Nessas arenas, havia também batalhas entre leões e elefantes, que acabavam em muito sangue e mortes. Na maioria das vezes, cobrava-se ingresso dos espectadores, mas havia ocasiões em que a entrada era gratuita. A gratuidade desse tipo de espetáculo levou à consagração da ideia de que o Império Romano promovia uma política de panem et circenses, ou seja, de "pão e circo". Segundo essa ideia, tendo pão e diversão, o povo ficaria quieto e satisfeito.

O destino de um gladiador derrotado era decidido pelo público

  No tempo do imperador Nero, que governou de 54 d.C. a 68 d.C., as primeiras comunidades cristãs de Roma foram perseguidas e executadas. Pedro, fundador da Igreja cristã por designação de Jesus, foi crucificado. A maioria dos cristãos, porém, foi levada ao circo romano, em grupos de vinte e trinta pessoas, para se defrontar com leões e tigres famintos. A crônica da época registra que muitos corriam das feras até serem alcançados e devorados. Outros ficavam quietos, rezando, certos de que morreriam como mártires e teriam uma vida melhor no paraíso celeste. Em resumo: no Império Romano, a crueldade e a morte atroz eram parte de um espetáculo bastante popular.

"A última prece dos mártires cristãos", por Jean-Léon Gérôme (1883)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

JÚNIOR, Jason José Guedes; CÂNDIDO, Maria Regina. Gladiadores e o Império: os poderes nas arenas romanas (séculos I e II). Nearco: revista eletrônica de antiguidade, vol. 1, ano VIII, n. 1, 2015.

GARRAFFONI, Renata Senna. Gladiadores na Roma Antiga. São Paulo: Annablume, FAPESP, 2005.

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