quinta-feira, 19 de maio de 2022

O TRANSUMANISMO

   Muitos filmes e livros de ficção científica apresentam um mundo em que as máquinas se voltam contra os seres humanos. Essa situação não é criada apenas por cineastas e escritores, mas também pensada por estudiosos que temem que algo muito ruim possa acontecer devido a inovação tecnológica.

  Transumanismo ou visão transumanista é um movimento filosófico intelectual que visa transformar a condição humana com o uso de tecnologias emergentes, alcançando as máximas potencialidades em termos de evolução humana, deixando em segundo plano a evolução biológica, alcançando o patamar de pós-humano.

  Pensadores transumanistas estudam os potenciais benefícios e perigos de tecnologias emergentes, bem como a ética do uso de tais tecnologias. Influenciada pelos trabalhos seminais da ficção científica, a visão transumanista de uma humanidade futura transformada tem atraído muitos adeptos, críticos e detratores de uma ampla gama de perspectivas, incluindo filosofias e religiões.


  Os transumanistas dividem-se entre os "grinders", que desenvolvem implantes cibernéticos para aprimorar suas capacidades, e os "biólogos" que fazem experimentos genéticos em laboratórios caseiros.

Símbolo do transumanismo

  O filósofo sueco Nick Bostrom afirma que quando fabricamos máquinas superinteligentes, corremos perigo.  Pois essa inteligência pode levar as máquinas a não dependerem mais de nós, podendo, inclusive, nos atacar. Imaginemos um mundo em que as máquinas mais inteligentes que os seres humanos não nos obedecessem mais. Essas máquinas incontroláveis são, para Bostrom, perigosas, e podem levar até mesmo à extinção da humanidade.

  Para ele, as máquinas não devem ser dotadas de desejos. Nenhuma máquina deve ter emoções que os humanos têm, e, por isso, não serão perigosas por odiarem ou quererem se vingar de nós. O problema é que as máquinas, cada vez mais complexas e inteligentes, não serão mais controladas pelos humanos. Imaginemos uma máquina construída para limpar as ruas da cidade de forma muito rápida. Pode ser que essa máquina detecte uma pessoa varrendo a calçada e a ataque, por vê-la como concorrente, como alguém que está fazendo um trabalho que é seu. Todos os esforços para a criação de máquinas que ajudem os seres humanos podem prejudicar os próprios seres humanos se as pesquisas sobre o controle dessas máquinas não obtiverem os resultados desejados.

Nick Bostrom

  No entanto, há filósofos que não veem o desenvolvimento das máquinas como Bostrom. Ao contrário, muitos deles fazem uma aposta na fusão entre máquinas e seres humanos. Esses pensadores são chamados de transumanistas. Para eles, a humanidade pode ser melhorada, aperfeiçoada e mesmo modificada a partir do uso da tecnologia. Já temos alguns exemplos destas melhorias - como o caso do atleta Markus Rhem.

  O inventor e escritor Raymond Kurzweil é um dos entusiastas do transumanismo. Para ele, teremos máquinas cada vez mais inteligentes e com certeza elas ultrapassarão a inteligência humana. Mas isso não é uma má notícia. Afinal, essas máquinas poderão nos auxiliar.  Uma pessoa com Alzheimer, com Parkinson ou outras doenças que afetam o sistema neurológico, poderá, por exemplo, ter uma máquina muito pequena colocada no seu cérebro e recuperar os movimentos e a memória perdidos.

  Kurzweil chega a afirmar que as máquinas vão poder escrever roteiros de filmes, séries e novelas. Embora o autor seja otimista quanto ao futuro, essa afirmação toca em uma questão preocupante, que existe desde o século XVIII: o desemprego por inovação tecnológica.

Raymond Kurzweil

  Se as máquinas começarem a fazer boa parte dos trabalhos humanos, haverá uma massa de desempregados no mundo; o desemprego é, segundo alguns pensadores, o maior fantasma do nosso século. Além disso, a proposta dos transumistas poderia agravar um sério problema contemporâneo: a desigualdade social. Hoje, a maioria das pessoas não têm acesso aos serviços de saúde pagos. Se as melhorias na saúde dependerem das posses das pessoas, apenas as camadas mais ricas da sociedade poderão curar-se de uma doença ou melhorar o corpo. Os mais ricos poderão ser os mais fortes, os mais inteligentes e os mais saudáveis, o que agravará as diferenças entre eles e os mais pobres.

RoboCop é um dos ciborgues mais famosos da ficção

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

VILAÇA, M. M.; DIAS, M.C. Transumanismo e o futuro (pós-humano). Physis: Revista de Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, 2014.

CYSNE, R. Exclusão Digital: Desafios para a consolidação da cidadania. Rio de Janeiro: Rommel Cysne, 2007.

PERELMUTER, G. Futuro presente: o mundo movido à tecnologia. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2020.

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