terça-feira, 14 de abril de 2015

OS MANANCIAIS E A EXPANSÃO DAS CIDADES

  Os mananciais são as nascentes abastecedoras naturais de água doce, que se originam de lençóis subterrâneos e de cursos d'água superficiais, como córregos, rios, lagos, represas e lençóis freáticos. As áreas de mananciais devem ser protegidas por meio da conservação da sua paisagem vegetal e da proibição de construções, que podem poluir a água e comprometer sua qualidade. Esse fato exige mais gastos com o tratamento de água para que ela possa ser distribuída para a população.
    A ocupação desordenada das margens dos rios (construção de moradias irregulares, prédios, avenidas) contribui para o acúmulo de lixo, o despejo de esgoto - muitas vezes sem tratamento -, o aterramento de parte do rio, a alteração do seu leito e a canalização das suas águas.
Nascente do rio Tietê, em Salesópolis - SP
  Com os baixos salários, o custo alto dos aluguéis em regiões mais centrais das grandes cidades e a falta de políticas habitacionais adequadas, as pessoas mais pobres são forçadas a ocupar e construir moradias em locais mais distantes do centro, nas periferias. Muitas vezes, nesses locais estão as áreas de mananciais. Na Grande São Paulo, mais de 1,6 milhão de pessoas moram em áreas de mananciais.   Como consequência, podem ocorrer a erosão e o assoreamento do rio, enchentes e poluição. Com isso, a disponibilidade de água de boa qualidade fica cada vez mais reduzida, exigindo investimentos cada vez maiores para o seu tratamento.
Rio Paraíba do Sul, em Barra Mansa - RJ
  Para cumprir sua função, um manancial precisa de cuidados especiais, garantidos nas chamadas leis estaduais de proteção a mananciais. Nessas regras, o ponto principal é evitar a poluição das águas. A expansão das grandes cidades provocou a poluição e, muitas vezes, a morte de rios, além da desconfiguração natural dos mesmos por meio de canalização. Um desses exemplos é o rio Tietê, que corta a cidade de São Paulo e boa parte do interior paulista.
  O rio Tietê sempre foi um rio de meandros e para a construção das avenidas marginais na cidade de São Paulo, foi preciso mudar o seu curso natural e realizar a sua canalização. Com a impermeabilização do solo, grande parte da precipitação que cai na capital paulista corre imediatamente para as galerias pluviais e dali para os córregos que as conduz para o Tietê, que não consegue absorver toda essa água e acaba transbordando, provocando alagamentos e trazendo prejuízos e transtornos para a população que mora próximo ao rio.
Rio Tietê, em São Paulo - SP
  A partir da década de 1970, a cidade de São Paulo começou a se expandir em direção à represa de Guarapiranga, situada na Região Metropolitana de São Paulo, com milhares de ocupações clandestinas que despejam esgoto no manancial sem nenhum tratamento.
  A represa de Guarapiranga, responsável pelo abastecimento de mais de 4 milhões de pessoas, é o manancial mais ameaçado da Região Metropolitana de São Paulo. Poluída pelo esgoto de loteamentos irregulares e favelas, a represa sofreu com a explosão demográfica, provocando a elevação nos custos para o tratamento e, consequentemente, no preço da água destinada ao consumidor.
  Na década de 1980, a presença de algas foi registrada nas águas, que indicam a grande quantidade de material orgânico na represa. O excesso de poluição tem aumentado a quantidade de plantas aquáticas, cujo impacto incide na qualidade da água e no assoreamento da represa.
Represa Guarapiranga, em São Paulo - SP
  Outro reservatório que vem sofrendo com a poluição decorrente do crescimento desordenado da Grande São Paulo é a represa Billings, um dos maiores e mais importantes reservatórios de água da Região Metropolitana de São Paulo.
  A represa foi idealizada nas décadas de 1930 e 1940 pelo engenheiro Billings, um dos empregados da extinta concessionária de energia elétrica Light. Inicialmente, a represa tinha o objetivo de armazenar água para gerar energia elétrica para a usina hidrelétrica Henry Borden, em Cubatão.
  Em função do elevado crescimento populacional e industrial da Grande São Paulo ter ocorrido sem planejamento, principalmente ao longo das décadas de 1950 e 1970, a represa Billings possui trechos poluídos com esgotos domésticos, industriais e metais pesados.
Represa Billings, cruzando a Rodovia dos Imigrantes, em São Bernardo do Campo - SP
  O rio das Velhas está localizado no estado de Minas Gerais e corta grande parte da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Boa parte do seu volume de água é captado na Estação de Tratamento de Água de Bela Fama. Recebe uma grande quantidade de esgoto através de afluentes como o Ribeirão das Arrudas e o Ribeirão da Onça, que atravessam a cidade de Belo Horizonte. A degradação ambiental faz com que o rio das Velhas se apresente em seu trecho mais conhecido como um rio de águas avermelhadas (em grande parte devido à presença de minério de ferro no solo da região), barrentas, extremamente poluído e assoreado. Praticamente não há vida nas águas do rio ao longo desse trecho.
Rio das Velhas, em Santa Luzia - MG
  A represa de Várzea das Flores é um importante reservatório de abastecimento de água para os municípios de Betim, Contagem e Belo Horizonte. Essa represa recebe esgoto de casas de seu entorno. O local, devido à sua beleza natural, é utilizado pela população como área de lazer para pesca e banhos. Ao mesmo tempo, pessoas de melhor poder aquisitivo, têm adquirido as áreas no entorno para residências e atividades voltadas ao lazer, provocando o parcelamento de áreas - antigamente constituída por grandes fazendas - e, consequentemente, a execução de obras que provocam desmatamento e movimento de terra.
Represa Várzea das Flores, entre os municípios de Betim e Contagem - MG
  O rio Piracicaba é o maior afluente em volume de água do rio Tietê. É também um dos mais importantes rios paulistas e responsável pelo abastecimento da Região Metropolitana de Campinas e parte da Grande São Paulo.
  O rio Piracicaba foi utilizado como rota fluvial de acesso ao Mato Grosso e Paraná no século XVIII, provocando a fundação de cidades, como Piracicaba. Ao longo dos séculos XIX e XX, foi utilizado como rota de navegação de pequenos vapores e fonte de abastecimento de engenhos e fazendas de café e cana-de-açúcar.
  Por volta de 1960, o governo paulista decidiu reforçar o abastecimento de água da Região Metropolitana de São Paulo, construindo diversas represas nas nascentes da bacia hidrográfica do Piracicaba, formando assim, o Sistema Cantareira, maior responsável pelo abastecimento de água de São Paulo, que capta e desvia água dos formadores do rio, reduzindo o nível da água e de seus afluentes.
Reservatório Paiva Castro, do Sistema Cantareira, em Mairiporã - SP
  Por volta de 1980, a industrialização e metropolização da Região Metropolitana de Campinas provocou uma crescente contaminação das águas do rio Piracicaba, fazendo com que esse rio se tornasse um dos mais contaminados do Brasil. A água desse rio e de seus afluentes fica poluída depois de passar na área de grandes cidades, como Campinas, Limeira e Piracicaba, provocando racionamento e rodízios de água nas cidades no qual ele corta.
Rio Piracicaba, em Piracicaba - SP
  Apesar de ser conhecida como a "Veneza brasileira", Recife sofre com o problema da falta de água. Como a capital pernambucana não tem rios permanentes capazes de fornecer água para seus habitantes, a cidade retira esse precioso líquido dos lençóis subterrâneos. O problema é que boa parte dessas reservas está comprometida. Primeiro, pela grande quantidade de esgoto não coletado, que se infiltra no solo e polui os lençóis freáticos. Segundo, a superexploração contribui para baixar o nível dos reservatórios, deixando a água com muito sal e prejudicando o consumo.
  Recife é cortado por vários rios, com destaque para os rios Capibaribe e Beberibe. O rio Capibaribe divide a área central de Recife, e encontra-se bastante degradado pelo assoreamento e pela poluição devido a dejetos de matadouros, lixões e esgotos urbanos e industriais. O rio Beberibe é a divisa natural entre as cidades de Olinda e Recife, e como grande parte dos seus afluentes na Grande Recife cortam zonas de extrema pobreza, desagua trazendo grandes quantidades de poluição.
Confluência entre os rios Beberibe e Capibaribe, em Recife -PE
FONTE: Lucci, Elian Alabi. Geografia: homem & espaço, 6° ano / Elian Alabi Lucci, Anselmo Lázaro Branco. - 22. ed. - São Paulo: Saraiva, 2010.

2 comentários:

EDantas disse...

É uma triste e deprimente realidade, mas o ser humano é, o responsável pela morte dos Sagrados rios, que o Ser Divino nos presenteou.


Enilda

Unknown disse...

Com a expansão populacional e, o descontrole do esgoto e lixo, onde o saneamento é
inexistente, as grandes represas e reservatórios de água doce, na Grande São Paulo, sofrem com o descaso das autoridades responsáveis e, da falta de educação das pessoas. A realidade das nossas reservas e mananciais é cruel.

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