sexta-feira, 19 de junho de 2015

OS MANGUEZAIS: BERÇO DA VIDA MARINHA

   O mangue é típico de áreas pantanosas ou permanentemente alagadas, como aquelas localizadas junto à foz de rios ou lagunas nas reentrâncias da costa litorânea. Em termos fisionômicos, ele é marcado pela existência de associações vegetais - predominantemente de natureza arbórea e arbustiva -, cuja diversidade e composição variam em função de uma série de aspectos, dentre eles, os vinculados às condições climáticas e dos solos em que ele se desenvolve. Os mangues são fundamentais para a fauna marinha. Neles vivem peixes, crustáceos, ostras, caranguejos, entre outros animais. Dos mangues, milhares de pessoas retiram o seu alimento, e os pescadores, a sua sobrevivência.
Manguezal em Macaraípe - PE
  A vegetação de mangue é constituída por arbustos cujas raízes estão acima do nível das águas (raízes aéreas), chamadas pneumatóforos ou raízes respiratórias, com predominância de vegetais halófilos, adaptados ao solo salino e à deficiência de oxigênio. O solo onde ela se desenvolve é rico em nutrientes e matéria orgânica, graças ao grande número de matéria em decomposição, como algas, folhas e restos de animais. As árvores que compõem os manguezais podem chegar a até 20 metros de altura.
  O Brasil possui a maior faixa de manguezal do planeta, com cerca de 20 mil km², que se estende desde o norte (Cabo Orange - Amapá) até o sul do país (Laguna - Santa Catarina). Os manguezais também são encontrados na Oceania, África, Ásia e outros países da América.
Em verde, as áreas de mangue no mundo
  As maiores extensões de manguezais da costa brasileira ocorrem entre a desembocadura do rio Oiapoque, no extremo norte, e o Golfão Maranhense, formando uma barreira entre o mar, os campos alagados e a terra firme. Do sudeste maranhense até o Espírito Santo, os mangues são reduzidos e estão associados a lagunas, baías e estuários.
  Na Baía da Guanabara, no Rio de Janeiro, esse ecossistema apresenta grande extensão, apesar do intenso processo de degradação que sofre. O Complexo Estuarino-Lagunar de Iguape-Cananéia e Paranaguá, situados entre os estados de São Paulo e Paraná, representa uma das reservas de mangues mais importantes do país.
Manguezal em Vigia - PA
  Os manguezais são considerados pelos biólogos verdadeiros "berçários" dos oceanos. Neles, a água do mar mistura-se com a água dos rios, o que proporciona um ambiente rico em matéria orgânica e com temperatura ideal para a reprodução de diversas espécies marinhas. Entre elas estão plânctons, caranguejos e vários tipos de peixe, inclusive algumas espécies de tubarão. Esses seres vivos fazem parte da alimentação de outras centenas de espécies de animais marinhos, que vivem nas águas mais profundas do alto-mar.
  A não preservação dos manguezais pode trazer graves consequências  para a sobrevivência da fauna marinha e comprometer os ecossistemas oceânicos.
Os manguezais são essenciais para a vida marinha
  A exemplo das demais formações vegetais, o mangue tem sido alvo de grande devastação nas últimas décadas pela ação antrópica. Essa interferência do ser humano está vinculada ao processo de exploração de árvores e arbustos existentes nesse domínio para a produção de lenha e carvão, para a criação de camarão em viveiros ou, ainda, para o processo de aterramento, objetivando aproveitar essas áreas economicamente, principalmente pela especulação imobiliária. Essa destruição é considerada pelos ambientalistas um grande desastre ecológico.
  A exploração comercial do manguezal começou na Ásia, se expandindo para os outros países de clima tropical e subtropical e se tornando uma das principais ameaças para esse ecossistema. Na Tailândia, mais da metade da área de mangue foi destruída por causa da superexploração.
Mangues na Tailândia
  No Brasil, a Lei 4.771, de 15 de setembro de 1965, estabelece o manguezal como Área de Preservação Permanente (APP), e a Resolução CONAMA N° 369, de 28 de março de 2006, estabelece que as áreas de mangue não podem sofrer supressão de sua vegetação ou qualquer tipo de intervenção, salvo em casos de utilidade pública. Mesmo assim, o manguezal é o ecossistema mais ameaçado.
  Os piores inimigos dos manguezais brasileiros, além da superexploração dos seus recursos naturais, são a poluição lançadas pelas cidades costeiras e indústrias e os derramamentos de petróleo.
Atualmente, grande parte dos manguezais viraram depósitos de lixo
  Muitas espécies de animais, inclusive tubarões, utilizam áreas de mangue, assim como estuário, para a procriação. Quando tais áreas são destruídas, essas espécies precisam procurar outros lugares para se reproduzir.
  O Porto de Suape foi construído próximo a Recife, no litoral de Pernambuco, e começou a operar em 1992. Para viabilizar a obra, uma grande área de mangue foi destruída, assim como os estuários dos rios daquela região. Isso gerou um enorme impacto no ecossistema marinho e as espécies de tubarão que ali procriavam tiveram de se deslocar para outras áreas.
  A construção do Porto de Suape e sua movimentação são apontadas hoje como as principais causas de ataques de tubarões a surfistas e banhistas nas praias da região. Para evitar os ataques é realizado, atualmente, um trabalho de conscientização das pessoas que utilizam as praias, por meio de placas.
Porto de Suape, entre os municípios de Ipojuca e Cabo de Santo Agostinho - construído em área que antes era ocupada pelo mangue
A carcinicultura ameaça os mangues do Rio Grande do Norte
  A criação de camarão em cativeiro no Rio Grande do Norte está diretamente associado à destruição dos mangues. A carcinicultura ameaça a fonte de sobrevivência e a cultura de milhares de pessoas que habitam tradicionalmente as regiões de mangue, como: pescadores, marisqueiras, índios e pequenos agricultores.
  A atividade no Estado teve início em 1973 com a criação do Projeto Camarão. Inicialmente, a proposta era de produção de espécies nativas, como ocorreu em outros estados do Nordeste nas décadas de 1970 e 1980, mas foi a introdução do camarão da costa do Pacífico (Litopenaeus vannamei), na década de 1990, que fez com que a carcinicultura se tornasse bastante rentável, e é uma das atividades comerciais que mais crescem no Nordeste. Essa região é responsável por cerca de 92% da produção nacional, sendo que os maiores produtores são o Rio Grande do Norte, Ceará, Bahia, Pernambuco, Paraíba e Piauí.
Viveiro de camarão próximo à praia da Redinha, em Natal - RN
  A criação de camarão em cativeiros utiliza bastante produtos químicos, principalmente cloro, calcário, ureia, silicato e superfosfato. A função desses produtos é controlar as propriedades químicas da água e do solo (PH, alcalinidade, material em suspensão e salinidade).
  A carcinicultura no Rio Grande do Norte se desenvolve, principalmente, em sete estuários do litoral potiguar com características distintas: Apodi-Mossoró, Piranhas-Açu, Galinhos-Guamaré, Ceará-Mirim, Potengi, Guaraíras e Cunhaú-Curimataú. Nestes estuários, a expansão da carcinicultura se deu em parte pela substituição das salinas por áreas ocupadas por viveiros para a criação de camarão. Em outros casos, a carcinicultura ocupou antigas e abandonadas áreas que eram ocupadas por salinas. Em parte destas áreas, o manguezal estava em franca recuperação. Quando houve a implantação dos tanques, de camarão, ocorreu a eliminação do manguezal em desenvolvimento.
Criação de camarão em Barra do Cunhaú, Canguaretama - RN
  Os mangues são os preferidos dos carcinicultores porque oferecem baixo custo, água farta e movimento da maré, que reduz os gastos com bombeamento de água para dentro dos tanques. O grande problema dessa atividade é a ocupação de extensas áreas de preservação permanente (APPs).
  A destruição dos mangues para originar áreas produtoras de camarão, preocupam a sociedade e todos os órgãos envolvidos com o meio ambiente no Estado, pela importância desse ecossistema múltiplo, pois viabiliza a reprodução de várias espécies de peixes e crustáceos, atua como um filtro, despoluindo as águas dos rios, exercendo ainda uma função social importante, já que centenas de famílias sobrevivem da pesca do caranguejo nos diversos manguezais do Estado.
Viveiros de camarão em área de mangue, em Natal - RN
Fauna
  A biodiversidade dos manguezais se traduz em significativa fonte de alimentos para as populações humanas. Nesse ecossistema se alimentam e reproduzem mamíferos, aves, peixes, moluscos e crustáceos, entendidos os recursos pesqueiros como indispensáveis à subsistência tradicional das populações das zonas costeiras. Entre essas espécies destacam-se:
  • Aves - bem-te-vi, carcará, colheireiro, garça, guará-vermelho, martim-pescador, socó-dorminhoco, gavião-carijó, gavião-carrapateiro, tucano, entre outros.
Garça (Ardea alba)
  • Mamíferos - mão-pelada, peixe-boi-marinho, sagui, ariranha, entre outros.
  • Répteis - crocodilo, cobra, jacaré-de-papo-amarelo, lagarto, tartaruga, entre outros.
  • Peixes - lambari, garoupa, manjuba, robalo, sardinha, tubarão-cabeça-chata, entre outros.
  • Invertebrados - aranha, berbigão, camarão, caranguejo, aratu, goiamum, chama-maré, craca, lagosta, mariposa, mexilhão, minhoca, mosca, mosquito, siri, entre outros.
Aratu-vermelho (Goniopsis cruentata)
Flora
  Em virtude do solo salino e da deficiência de oxigênio, nos manguezais predominam os vegetais halófilos, em formações de vegetais litorânea ou formações lodosas. As suas longas raízes permitem a sustentação das árvores no solo lodoso.
  Ao contrário de outras floresta, a flora dos manguezais é bastante pobre, com destaque para os mangues.
  As principais espécies de mangue são:
  • Rhizophora mangle (mangue-vermelho) - também conhecido como sapateiro, é uma espécie típica de manguezal. O nome da árvore é assim dado pois, quando sua casca é raspada, apresenta uma coloração avermelhada típica da espécie. A respiração da planta é feita através de rizóforos, que também auxiliam a sua sustentação. Neste tipo de raízes (pneumatóforas), há estruturas especiais (lenticelas), cuja função é a respiração. A espécie reproduz-se através de sementes (propágulos) que germinam ainda presas à planta-mãe, aumentando as chances da espécie se propagar.
Mangue-vermelho (Rhizophora mangle)
  • Laguncularia racemosa (mangue branco) - também conhecido como mangue manso e mangue tinteiro é uma árvore pioneira nativa e típica do manguezal brasileiro, encontrada no interior do mangue e na transição para a floresta de restinga. A árvore chega a 18 metros de altura, seu tronco é áspero e fissurado. As raízes têm geotropismo negativo e portam pneumatóforos, para oxigenar os tecidos no solo alagado. Apresentam lenticelas, que também permitem a troca de gases entre a planta e o meio externo.
Mangue-branco (Laguncularia racemosa)
  • Conocarpus erectus (mangue-de-botão) - também chamado de mangue-de-bola, mangue-de-bolota, mangue-ratinho, genipapinho e mangue-saragoça, é bastante lenhoso, com casca vermelho-escura, cinzenta ou acastanhada, possui folhas verde-amarelas e flores em forma de bola. Ocorrem em áreas de transição, arenosas e bem longe das marés.

Mangue-de-botão (Conacarpus erectus)
  • Avicennia schaueriana (mangue-preto) - fica um pouco mais afastado das marés fortes, suportando uma média de quantidades de sal. As folhas são arredondadas com face inferior esbranquiçadas, e as flores são pequenas com pétalas brancas. Sua casca é lisa castanho-claro, que quando raspada mostra cor amarelada. As raízes são radias que crescem abaixo da superfície. Dessas raízes podem crescer os pneumatóforos retos.
Mangue-preto ou canoé (Avicennia schaueriana)
FONTE: Geografia espaço e vivência: introdução à ciência geográfica, 6º ano / Levon Boligian ... [et al.]. - 4. ed. - São Paulo: Saraiva, 2012.

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