sexta-feira, 8 de maio de 2015

OS HEBREUS

  Os antigos hebreus foram um povo semítico da região do Levante, localizado no Oriente Médio, que falavam uma língua semítica da família Cananeia, à qual se referiam pelo nome de "língua de Canaã". Esse povo, apagado pela grandeza de estados muito maiores, tecnologicamente avançados e mais importantes politicamente, foi responsável pela composição de alguns livros que compõem a Bíblia, obra considerada sagrada por religiões ocidentais e orientais.
  Originalmente nômades, os hebreus viveram por muito tempo perto da cidade de Ur, na Mesopotâmia, até emigrarem e se sedentarizarem, por volta de 2000 a.C., na região da Palestina. De acordo com a Bíblia, Abraão teria sido incumbido pelo Senhor de levar seu povo para Canaã (habitada pelos cananeus), a Terra Prometida (atual região da Palestina). Abraão casou-se com Sara e teve como filho Isaac. Por sua vez, Isaac teve como filhos Esaú e Jacó, este também chamado de Israel, nome do qual deriva a denominação israelita.
Mapa da região de Canaã
ORIGEM
  O nome "hebreus" vem do hebraico "Ivrim", que significa "descendentes de Héber". No capítulo 10 do livro do Gênesis a partir do versículo 21, diz que Noé gerou a Sem; este gerou Arfaxad, que gerou Salé, que gerou Héber; este gerou a Faleg, que gerou Reu, que gerou Sarug, que gerou Nacor, que gerou Taré, que então gerou a Abrão (que significa "pai exaltado", mais tarde tendo seu nome mudado para Abraão, que significa "pai de muitas nações"), sendo este considerado o patriarca do povo de Israel.
  As origens do povo hebreu estão relatadas no Gênesis, um dos livros do Antigo Testamento. Segundo esse livro, os antepassados dos hebreus migraram para Canaã, vindos do norte da Mesopotâmia, mais precisamente da cidade de Ur.
  O capítulo 12 do livro do Gênesis relata o diálogo entre Javé, deus dos hebreus e Abraão, um dos patriarcas  desse povo. Disse Javé: "Sai da tua terra, e da tua parentela, e da casa de teu pai, e vem para a terra que te mostrarei. E eu te farei pai de um grande povo, e te abençoarei; tornarei célebre o teu nome, e tu serás bendito".
Escavações arqueológicas da cidade de Ur, em Tell el-Mukayyar - Iraque
  Os antepassados dos hebreus pertenciam a clãs pastoris seminômades, compostos pelo patriarca, seus filhos, mulheres e servos, que, por vontade de seu deus, dirigiram-se para Canaã, a Terra Prometida, liderados pelos patriarcas, chefes dessas extensas famílias.
  Durante muito tempo, os historiadores acreditaram que os patriarcas eram personagens lendários. Mas, no século XX, descobertas arqueológicas confirmaram, pelo menos em parte, a veracidade das tradições patriarcais. Essas tradições e os costumes patriarcais dos hebreus apresentam semelhanças com as instituições jurídicas e sociais do Oriente Médio.
A partida de Abraão, por József Molnár
  A Terra Prometida dos hebreus era um pequeno território próximo do Mar Mediterrâneo e das cadeias montanhosas do Líbano. Essa terra pouco fértil, cortada pelo rio Jordão, com manancial suficiente para irrigações, tornou a vida dessa população difícil. Inicialmente, a principal atividade econômica dos hebreus era a criação de gado. Depois, a agricultura ocupou, de forma gradativa, o lugar do pastoreio.
 Essa região atraía os povos nômades do Oriente Médio, pois era uma região fértil para a agricultura, graças ao elevado volume de chuvas, aos rios e as fontes de água, além de ser um ponto de convergência das rotas de caravaneiros de comércio que iam do Egito para o Oriente Médio. Quando os antepassados dos hebreus dirigiram-se para Canaã, encontraram ali diversos povos em processo de sedentarização. A maior parte era de semitas, como os hebreus, embora pertencessem a grupos diferentes e vindo em épocas distintas. Apesar dessa variedade, havia uma unidade religiosa, pois, ao menos no início, todos praticavam a religião Cananeia, fortemente naturalista e agrária. Dos povos semitas, originaram dois povos distintos: os hebreus e os árabes.
Mapa mostrando a trajetória de Abraão
RELIGIÃO DOS HEBREUS
  A religião dos patriarcas hebreus caracterizava-se pelo culto do "Deus Pai". O "Deus Pai" era primitivamente o deus do antepassado imediato que os filhos reconheciam. Era o deus de um povo nômade, sem santuário, ligado a um grupo de homens que acompanhava e protegia esse povo. Quando chegaram a Canaã, os patriarcas depararam-se com o culto que os habitantes mais antigos da região dedicavam ao deus El, o pai dos deuses e dos homens, criador e governante do Universo.
  Com o tempo, essa divindade passou a ser vista pelo povo hebreu como o deus no qual eles acreditavam. Nascia, assim, uma religião que mesclava diversos costumes e pregava a crença num único deus criador. Os patriarcas sacrificavam animais, erguiam altares e untavam pedras com óleo em homenagem a seu deus. Não existiam sacerdotes. Os animais sacrificados, depois de servidos à divindade, eram deglutidos pelo patriarca e seus familiares.
Os hebreus viviam principalmente do pastoreio e da agricultura
  Apesar da pouca importância política e econômica do povo hebreu, seu papel na história da sociedade ocidental é determinante: entre os hebreus desenvolveram-se aspectos religiosos que influenciaram para sempre a cultura ocidental.
  O processo evolutivo da religião entre os hebreus é bem diferente dos outros povos que habitavam o Crescente Fértil (vários deuses, antropozoomorfismo, magia, astrologia, oferendas, etc.). Partindo da monolatria (crença em vários deuses, mas adoração e culto a apenas um deles), a sociedade hebraica construiu uma religião monoteísta, para qual só existe um Deus criador, sendo os outros meras falsificações. Foi a partir do século VIII a.C. que ela se consolidou, com a colaboração dos profetas.   Essa religião monoteísta tinha as seguintes características: crença na existência de apenas um Deus, criador do homem e da natureza (Javé); salvacionismo ou messianismo, já que seus seguidores esperam o salvador do povo, o Messias (para os cristãos, Cristo; os judeus ainda o esperam); e conteúdo ético, ou seja, um conjunto de normas e condutas ditadas por Deus às quais os seguidores devem observar (justiça, bondade, caridade, etc.).
  Esse processo de instituição da religião monoteísta contribuiu profundamente para a formação das três principais religiões monoteístas: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo.   A maioria das informações que temos sobre o povo hebreu provém da Torá, conhecida também como Pentateuco. Trata-se dos cinco primeiros livros do Velho Testamento, atribuídos a Moisés: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.
Torá - livro sagrado dos judeus
CONFLITOS POLÍTICOS
  A formação do Estado na sociedade hebraica foi bem diferente do que ocorrera até então. Se o Egito teve um grande Estado centralizado e a Mesopotâmia inúmeras cidades-Estados, entre os hebreus vigoravam cidades independentes e autônomas, sem grande força política, embora tenham experimentado, durante curto período, a centralização do poder, com a Monarquia Hebraica. A situação política era de indefinição, em uma região cheia de conflitos.   Por volta de 1800 a.C., as tribos hebraicas, vitimadas pela fome em razão de uma grande seca, migraram para o Egito, onde foram escravizadas. Só voltaram a ser livres quando Moisés, de acordo com a tradição, liderou a retirada do povo hebreu do Egito (Êxodo) em direção à Palestina, por volta de 1300 a.C. Durante essa travessia, ele teria recebido os Dez Mandamentos, no monte Sinai, diretamente de Deus.
Monte Horebe, no Sinai - Egito - local onde Moisés recebeu as Tábuas com os Dez Mandamentos
  Os relatos bíblicos falam que a família de Jacó, um dos patriarcas, teria partido da terra colonizada por Abraão até o Egito. Lá, encontrando-se com seu familiar José, filho de Jacó que teria sido vendido pelos irmãos a caravaneiros e que teria ascendido a uma posição de importância dentro do governo do faraó, teriam se instalado por aproximadamente quatrocentos anos.
  Os hebreus se multiplicaram e tornaram-se numerosos e poderosos no Egito. Alguns anos após a morte de José, o faraó, que não conhecia sua história e vendo que os filhos de Israel eram muitos e com medo de que, em caso de guerra eles se aliassem aos inimigos do Egito, transformou os hebreus em escravos, obrigando-os a construir cidades e armazéns para os egípcios. Ordenou também que todos os meninos  nascidos de origem hebraica fossem jogados no Nilo.
  Uma das hebreias conseguiu esconder o seu filho por três meses, e vendo que não era mais capaz de manter oculta a criança, lacrou um cesto com betume. Feito isso, colocou dentro o bebê, e o deixou boiar no Nilo. Descendo o rio, o cesto acabou sendo encontrado pela filha do faraó e sua comitiva que a preparava par o banho. A princesa adotou o menino e deu para ele o nome de Moisés.
Moisés é encontrado pela filha do Faraó no rio Nilo
  Já adulto, Moisés viu um hebreu ser espancado por um egípcio, e compadecendo-se matou o egípcio. Sabendo do ocorrido, o Faraó ordenou a morte de Moisés, que fugiu e após receber um chamado divino, retornou ao Egito para libertar o seu povo das mãos do Faraó.
  Ao se encontrar com o Faraó, Moisés e seu irmão Aarão tentaram convencê-lo a libertar os hebreus da escravidão, porém, devido ao grande número de hebreus que serviam de força de trabalho no Egito, o Faraó recusou a proposta, provocando mais castigos a esse povo.
  Então Deus enviou dez pragas aos egípcios (1ª: águas em forma de sangue; 2ª: rãs; 3ª: piolhos; 4ª: moscas; 5ª: doenças nos animais; 6ª: sarna que se transformava em úlceras; 7ª: saraiva com fogo; 8ª: gafanhotos; 9ª: escuridão e 10ª: morte dos primogênitos). As nove pragas não convenceram o Faraó, mas a última (a morte dos primogênitos) atingiu toda a casa do Faraó, golpeando os egípcios e fazendo com que o faraó deixasse os hebreus partirem do Egito.
Quadro "A Sétima Praga", de John Martin
  Moisés conduziu o povo de Israel até o limite de Canaã, a Terra Prometida a Abraão. No início da jornada, encurralados pelo Faraó, que se arrependera de tê-los deixado partir, ocorre um dos fatos mais conhecidos da Bíblia: a divisão das águas do Mar Vermelho, para que o povo, por terra seca, fugisse dos egípcios, que tentando o mesmo, se afogaram.
  Logo no início da jornada, no Monte Horebe, na península do Sinai, Moisés recebeu as Tábuas dos Dez Mandamentos do Deus de Abraão, escritos pelo "dedo de Deus". As tábuas eram guardadas na Arca da Aliança. Depois, o Código de Leis é ampliado para cerca de 600 leis.
Travessia do Mar Vermelho, de Domenico Ghirlandaio
  Durante quarenta anos (aproximadamente 1250 a.C. - 1210 a.C.), Moisés conduz o povo de Israel na peregrinação pelo deserto, morrendo aos 120 anos, após contemplar a terra de Canaã do alto do Monte Nebo, na planície de Moabe. Josué, o ajudante de Moisés, sucedeu-lhe como líder, chefiando a conquista de territórios na Transjordânia e em Canaã.
Monte Nebo - local onde Moisés avistou a Terra Prometida
AS DOZE TRIBOS DE ISRAEL
  As Doze Tribos é o nome dado às unidades tribais patriarcais do antigo povo de Israel e que, de acordo com a tradição judaica, teriam se originado dos doze filhos de Jacó, neto de Abraão. As doze tribos teriam o nome de dez filhos de Jacó. As outras duas tribos restantes receberam os nomes dos filhos de José, abençoados por Jacó como seus próprios filhos.
  Apesar desta suposta irmandade, as tribos não teriam sido sempre aliadas, principalmente na divisão do reino após a morte do rei Salomão. Com a extinção do Reino de Israel ao norte, as dez tribos desapareceriam exiladas por Sancheriv, rei Assírio. As outras tribos restantes constituiriam o que hoje chamamos de judeus.
Mapa das Doze Tribos de Israel
A CENTRALIZAÇÃO DO PODER
  A forma de organização política e social dos hebreus baseava-se nas tribos, lideradas pelos juízes ou patriarcas. Escolhido por essa comunidade, o patriarca era ao mesmo tempo chefe religioso (deveria mantê-la unida na crença de um deus) e militar (deveria ser um bom guerreiro). Talvez o juiz mais famoso desse período tenha sido Sansão, conhecido por sua força. No entanto, no retorno do Egito, as inúmeras lutas contra os cananeus e filisteus, devido ao objetivo de se fixarem novamente na Palestina, impuseram a necessidade de um poder unificado, cuja concretização se deu com a criação da Monarquia Hebraica.   O primeiro rei hebreu, Saul, iniciou a luta contra o povo filisteu, sendo substituído em seguida por um jovem guerreiro, Davi, que o derrotou finalmente (segundo a Bíblia, ele matou o "gigante" filisteu Golias). Durante seu reinado, conquistou-se toda a Palestina, e a capital foi estabelecida em Jerusalém. Davi, além de unificar as tribos da Palestina, submeteu a região a um poder centralizado.
Saul atacando Davi, de Guercino
  O apogeu da Monarquia Hebraica ocorreu com Salomão, filho e sucessor de Davi. Durante seu reinado, a sociedade hebraica alcançou certo desenvolvimento econômico. A relativa centralização do poder do regime monárquico implicou a organização de uma burocracia e a sedimentação das diferenças sociais com a definição de uma aristocracia e de uma pequena elite proprietária. Para sustentar a estrutura desse Estado, o luxo da corte, as guerras, etc., foi preciso aumentar os impostos e a exploração da mão de obra livre de camponeses e de escravos, o que gerou muita insatisfação. Com a morte de Salomão, essa insatisfação se traduziu em inúmeras revoltas sociais.
Ruínas da antiga Jericó
A FRAGMENTAÇÃO DA SOCIEDADE
  Com a morte de Salomão, seu filho Roboão assume o poder, não conseguindo manter o Estado unificado, ocorrendo o cisma das tribos hebraicas. As tribos do norte não o aceitaram como rei e criaram o Reino de Israel, aclamando Jeroboão como rei e fazendo de Samaria a capital. Roboão criou o Reino de Judá, com a capital em Jerusalém.
  Roboão teve que enfrentar diversos ataques a sua soberania durante o seu reinado. O reino de Judá também teve de enfrentar os saques efetuados por Israel no período do reinado de Ahaziah. Mais tarde, o rei Ezequias (727-698 a.C.) formou uma coalizão anti-assíria, o que lhe rendeu sucessivas derrotas para o rei Senaqueribe, fazendo com que os reis de Judá se submetessem a ele como fiéis vassalos. Assim, o reino de Judá foi completamente coberto pela supremacia de reinos vizinhos, mais poderosos e em franca expansão.
Reino de Israel e Reino de Judá
  Jeroboão reativou antigos templos em Dan e Bethel, garantindo a independência em relação ao templo de Jerusalém. O filho de Jeroboão é assassinado após conflitos palacianos, e Omri ascende ao poder, fundando a dinastia Omrida, fortemente reconhecida pelos documentos arqueológicos como uma dinastia poderosa. Omri estabeleceu como capital Samaria e fez alianças com o rei Tiro, casando-se com sua filha Jezebel.
  De acordo com os autores bíblicos, Omri foi um monarca cruel, porém, seu filho Ahab, foi considerado um dos maiores reis hebreus, graças a sua política de sancionar tanto o culto à Javé, quanto o culto à Baal.
  A dinastia Jehu (843-816 a.C.) assume o poder após o assassinato do filho de Ahab, Jehorão. Durante esse período, o reino de Israel encontrava-se em decadência, sob o controle do reino aramaico de Damasco.
Representação medieval de Batsheba e Salomão
  Em 722 a.C., o reino de Israel foi conquistado pelos assírios. As revoltas e a divisão do reino facilitaram sua conquista pelos babilônios liderados por Nabucodonosor (586 a.C.), que destruiu o Templo de Salomão e transformou os hebreus em escravos, fato este conhecido como Cativeiro da Babilônia).
  O Cativeiro da Babilônia acabou em 539 a.C., quando Ciro II, rei da Pérsia, conquistou a Babilônia, e os hebreus reconquistaram a independência. Com o retorno dos hebreus à Palestina, o Templo de Salomão foi reconstruído, passando agora a ser denominado também de Templo de Jerusalém.
Destruição do Templo de Salomão, por Francesco Hayez
  Os hebreus tiveram ainda de enfrentar os macedônios, por volta do ano 300 a.C., e os romanos, em 70 a.C. Houve duas revoltas contra o domínio romano: a primeira, iniciada em 66 d.C., terminou com a destruição de Jerusalém e do seu segundo templo pelo general romano Tito em 70 d.C. A segunda, em 135, terminando com a vitória do imperador romano Adriano.
  Esmagados pela força do Império Romano, os hebreus foram expulsos da Palestina e se dispersaram pelo mundo, num episódio conhecido como "Diáspora". Apesar de viverem em várias partes do mundo, os judeus sempre conservaram sua religião e sua identidade, fazendo com que eles se tornassem uma das minorias mais perseguidas do mundo.
Muro das Lamentações - foi o que sobrou do antigo Templo de Jerusalém, destruído pelos romanos
OS JUÍZES
  Segundo a tradição bíblica, o período posterior à ocupação de Canaã foi dominado pelo governo de indivíduos conhecidos como Juízes.  A principal fonte histórica para esse período é o livro bíblico "Juízes", onde se conhece a história de certos líderes militares (Débora, Gideão, Otoniel, Sansão, entre outros), cujos atos são relembrados de forma heroica pelos hebreus. O livro também apresenta uma versão divergente da conquista de Canaã.
  O livro dos Juízes relata fatos situados entre 1200 e 1020 a.C., descrevendo a continuação da conquista da Terra Prometida e a vida das tribos até o início da monarquia. As tribos são governadas por chefes que têm um cargo vitalício (juízes menores); nos momentos de grande dificuldade surgem chefes carismáticos (juízes maiores), que unem e lideram as tribos na luta contra os inimigos.
  O mais importante em Juízes é a chave de leitura da história, que vale, não só para o livro, mas para toda a história de Israel. Para levar à frente um projeto social, é preciso manter a memória ativa ou consciência histórica, adquirida através da resistência e da luta. A geração que luta mantém viva essa consciência. A nova geração, porém, quebra essa memória e ameaça fazer o projeto voltar atrás. O resultado é um conflito na história, entre a fidelidade a Javé e seu projeto, e o culto aos ídolos, que corrompe a sociedade.
Principais Juízes
  No período dos Juízes, os hebreus passaram por diferentes ciclos de instabilidade política e econômica, além de diversos períodos de conturbação religiosa, submissão a outros povos e posterior libertação. Normalmente, os Juízes hebreus eram vistos e avaliados de acordo com sua determinação religiosa, sendo que os períodos de estabilidade e até mesmo de prosperidade, eram relacionados com a "fé fortalecida" deste líderes, e os períodos de dificuldade se relacionavam com a queda espiritual ou "fracasso da fé".
  Um dos mais conhecidos juízes foi Sansão, que distinguia-se por ser portador de uma força sobre-humana que, segundo a Bíblia, era-lhe fornecida pelo Espírito Santo de Javé enquanto se mantivesse obediente ao Javé dos Exércitos. Subjugava facilmente seus inimigos e produzia feitos inalcançáveis por homens comuns, como rasgar um leão novo ao meio, enfrentar um exército inteiro e matar uma multidão de filisteus.
Sansão lutando com um leão
  De acordo com o texto bíblico, Sansão apaixonou-se por Dalila, uma mulher do povo filisteu, a qual o traiu, entregando-o aos chefes de sua nação, depois de saber que a sua força estava nos seus cabelos. Após ser cegado pelos filisteus, Sansão passou à condição de escravo.
  Sansão morreu sacrificando-se para se vingar dos seus inimigos, após ter clamado a Deus pela restituição de sua força para um último e definitivo ato.
  O último juiz do povo hebreu foi Samuel, e o primeiro dos profetas registrados na história do seu povo.
Sansão e Dalila, de Anthony van Dyck
REIS HEBREUS
  A Era dos Reis é a terceira e última das fases da presença do povo hebraico na região da Palestina. O primeiro rei hebreu foi Saul (1010 a.C.), que liderou a guerra contra os filisteus, porém, morreu sem conseguir vencê-los. Foi sucedido por Davi (1006 a 966 a.C.), que conseguiu derrotar os filisteus e estabeleceu o domínio sobre a Palestina, fundando o Estado Hebreu, cuja capital passou a ser Jerusalém, iniciando, também, uma fase marcada pelo expansionismo militar e pela prosperidade. A Era dos Reis estão escritos no Primeiro e Segundo Livro dos Reis.
  Terminada a Era dos Juízes e instalado o primeiro rei hebreu, persistia a ameaça da invasão pelos filisteus, que lutavam pelo completo controle da Palestina. A monarquia foi instituída para que os hebreus pudessem centralizar o poder político nas mãos de uma só pessoa, tendo mais força para enfrentar os adversários.
Davi e Saul, de Ernst Josephson
  Saul, não teve sucesso em enfrentar os inimigos e suicidou-se ao lado de seu escudeiro durante uma batalha, ao ver que não conseguiria derrotar seus adversários.
  O sucessor de Saul foi Davi, que mostrou eficiência nos combates militares ao vencer os inimigos (com destaque para a vitória sobre o gigante filisteu Golias), fortalecendo e estabilizando a civilização hebraica, e conseguindo expandir seus domínios. Foi em seu reinado que Jerusalém se tornou a capital do reino. Davi foi quem escreveu a maior parte dos Salmos.
Davi vence Golias, por Ticiano Vecellio
  Após a morte de Davi, sucedeu-lhe no trono Salomão (966 a 926 a.C.). Sábio e pacífico, ficou famoso pelo poder e pela riqueza. Desenvolveu o comércio na região, influenciando o reinado sem recorrer a guerra. No entanto, a fartura e a riqueza que marcaram o seu reinado, exigiam o constante aumento de impostos, que empobreciam mais e mais o povo hebreu, criando um clima de insatisfação nesse povo.
Salomão e as duas mães
OS PATRIARCAS
  A primeira referência aos hebreus ocorre por volta de 1200 a.C., no reinado do Faraó Menenptah. Nessa época, algum povo conhecido como "ismaelitas" já habitavam a região da Palestina, no Oriente Próximo. As tradições hebraicas mais antigas sobre suas origens, como o Gênesis da Bíblia, falam de alguns patriarcas (Abraão, Isaac, Jacó) que teriam iniciado a linhagem dos hebreus.
  Abraão provavelmente indica a forma de organização socioeconômica desses primeiros povos: pastores seminômades organizados em pequenos grupos. Abraão é também, de acordo com especialistas, epônimo para uma tribo pastora atestada na Palestina central no século XIII.
  Acompanhado de sua mulher Sara e de seu sobrinho Ló, Abraão é tido como responsável pela primeira ocupação hebraica de Canaã. Seus antepassados apenas abandonariam essa terra, seguindo para o Egito, após uma seca intensa. 
  Os patriarcas hebreus são lembrados como responsáveis pelos primeiros pactos com Deus.
Pintura de Abraão com seu filho Isaac, quando Javé pôs Abraão à prova para sacrificar seu filho
OS PRIMEIROS LIVROS HEBRAICOS
PENTATEUCO
  O Pentateuco é uma palavra derivada do grego e significa "cinco livros". Essa palavra é usada para indicar os cinco primeiros livros da Bíblia: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Os judeus chamam esta parte da Bíblia com o nome de Torá, que significa Lei.
  Nesses cinco livros encontramos histórias e leis que foram postas por escrito durante seis séculos, reformulando, adaptando e atualizando tradições antigas e criando novas. Tanto as histórias como as leis giram em torno de um centro: o ato libertador de Deus no êxodo, que é o ato fundante do povo de Israel.
  As histórias aí contidas, na sua maioria, nasceram no meio do povo e, primeiramente, eram histórias de famílias, de clãs e de tribos que procuravam transmitir oralmente, de geração em geração, ensinamentos e fatos. Mais tarde essas histórias foram reunidas, modificadas e interpretadas para que todo o povo de Israel pudesse se espelhar nelas e para que elas expressassem a fé em Javé, o Deus que liberta.
Pentateuco - os cinco primeiros livros da Bíblia (Torá, para os judeus)
  As leis pertencem a várias épocas e são diretivas para o povo nas diversas etapas da sua história. Todas elas, porém, procuram, em circunstâncias diferentes, conduzir a uma prática que reflita o ideal proposto pelas normas básicas do projeto de Deus: a libertação do povo e a formação de uma sociedade onde haja liberdade e vida para todos. Essas leis não são perenes e intocáveis, mas expressam um momento determinado da vida, com os conflitos que existiam dentro do povo de Deus. Elas servem como exemplo e modelo para que aprendamos a discernir as situações e a criar uma legislação que responda às necessidades do povo, conforme o projeto de Deus.
Deus criando os animais, afresco de Vittskövle Church
1. Gênesis
  Gênesis significa "nascimento", "origem". O livro do Gênesis distingue duas partes:
Origem do mundo e da humanidade (Gn 1-11) - os dois primeiros capítulos narram a criação do mundo e do homem por Deus. São duas composições que procuram mostrar o lugar e a importância do homem e da mulher dentro do projeto de Deus: eles são o ponto mais alto (Gn 1,1 a 2,4a) e o centro de toda a criação (Gn 2,4b-25). Feitos à imagem e semelhança de Deus, possuem o dom da criatividade, da palavra e da liberdade. Os capítulos 3-11 mostram a história dos homens dominada pelo mal e, ao mesmo tempo, amparada pela graça. Não se submetendo a Deus, o homem rompe a relação consigo mesmo, com o irmão, com a natureza e com a comunidade, reduzindo a história ao caos (dilúvio) e a sociedade a uma confusão (Babel).
Torre de Babel, por Pieter Brueghel
Origem do povo de Deus (Gn 12-50) - nesta parte encontramos a história dos patriarcas, as raízes do povo que, dentro do mundo, será o portador da aliança entre Deus e a humanidade. O início da história do povo de Deus é marcado por um ato de fé no Deus que promete uma terra e uma descendência. A promessa de Deus cria uma aspiração que vai pouco a pouco se realizando em meio a dificuldades e conflitos. A missão de Israel é anunciar e testemunhar o caminho que leva a humanidade a descobrir e viver o projeto de Deus: ter Deus como único Senhor, conviver com as pessoas na fraternidade, e repartir as coisas criadas, que Deus deu a todos.
  Os capítulos 37-50 apresentam a história de José, preparando já o relato do livro do Êxodo, onde se apresenta a mais grandiosa ação de Deus entre os homens: a libertação de um povo da escravidão.
  Dois temas ajudam a melhor compreender o livro do Gênesis:
  • O bem e o mal - tudo o que Deus cria é bom (Gn 1 e 2); o mal entra no mundo através da autossuficiência do homem (Gn 3), e se desenvolve e cresce até afogar o mundo, salvando-se apenas uma família (Gn 4-11). Com Abraão inicia-se uma etapa em que o bem vai superando o mal, e através do próprio mal, Deus realiza o bem, que é a vida (Gn 12-50).
Dilúvio, gravura de Gustave Doré
  • A fraternidade - através de um fratricídio, a fraternidade é rompida (Gn 4,1-6), desvirtuando o projeto de Deus para os homens, abrindo as portas para a vingança sem fim (Gn 4,17-24), a dominação (Gn 6,1-4), a desconfiança (Gn 12,10-20; cf. 20,1-18), a falta de hospitalidade (Gn 19,1-29), a concorrência desleal (Gn 25,29-34) que gera o medo do irmão (Gn 32,4-22), a exploração e a escravidão (Gn 31,1-42; 37,12-36). Para essa humanidade ferida, Deus repropõe a restauração da fraternidade através de uma comunidade que será bênção para todos os povos (Gn 12,1-3). Assim, o homem deixará de ser egoísta (Gn 13,1-18), aprenderá a perdoar (Gn 18,16-33; 33,1-11) e a deixar suas próprias seguranças (Gn 22,1-19) para viver de novo a fraternidade (Gn 45,1-15). Só assim, os oprimidos poderão lutar contra a exploração e opressão, formando uma sociedade justa, na qual haja liberdade e vida para todos.
A Criação de Adão, de Michelangelo
2. Êxodo
  O livro do Êxodo narra a saída dos hebreus do Egito, onde eram escravos. O acontecimento se deu por volta do ano 1250 a.C.
  O sentido do livro do Êxodo se fundamenta na ideia que se tem de Deus, tanto no Antigo como no Novo Testamento, com a mensagem central a revelação do nome do Deus verdadeiro: JAVÉ.
  Embora de origem discutida, o nome no Êxodo está intimamente ligado à libertação do povo hebreu. Javé é o único Deus que ouve o clamor do povo oprimido e o liberta, para estabelecer com ele uma aliança e lhe dar leis que transformem as relações entre as pessoas. Daí surge uma comunidade em que são asseguradas vida, liberdade e dignidade. Essa aliança é afirmada em duas formas:
  • Princípios de vida (Decálogo) - que orientam o povo para um ideal de sociedade.
  • Leis (Código da Aliança) - que têm por finalidade conduzir o povo a uma prática desse ideal nos vários contextos históricos.
  Desse modo, o homem só é capaz de nomear o verdadeiro Deus quando considera de fato como o libertador de qualquer forma de escravidão, e quando o mesmo homem se põe a serviço da libertação em todos os níveis da própria vida. Somente Javé é digno de adoração. Qualquer outro deus é ídolo, e deve ser rejeitado.
  A pergunta fundamental do Êxodo é: "Qual é o verdadeiro Deus?" A resposta que aí encontramos é a mesma que reaparece em toda a Bíblia, e principalmente na pregação.
O Êxodo, segundo John Bright
3. Levítico
  Levítico provém do nome Levi, a tribo de Israel que foi escolhida para exercer a função sacerdotal no meio do seu povo.
  Embora situado logo após o êxodo e atribuído a Moisés, o livro do Levítico foi escrito depois do exílio na Babilônia. Concorreram para a sua formação textos elaborados pelos sacerdotes através dos tempos: um ritual para os sacrifícios, um ritual para a consagração dos sacramentos e critérios para distinguir o que é puro e o que é impuro.
  Por trás da repetição monótona das leis, podemos descobrir o ideal proposto ao povo que, no passado, Javé havia libertado da escravidão do Egito e que, no presente, Javé libertou do exílio na Babilônia: cultuar o Deus libertador que vive no meio do povo, reconhecer seus dons através dos sacrifícios, servi-lo através dos sacerdotes e voltar sempre à comunhão com ele através do perdão. Acima de tudo está a exigência de ser coerente na aliança: ser santo como o próprio Javé é santo. Essa santidade não consiste apenas em oferecer um culto minucioso, mas em viver a justiça e o amor de Javé nas relações concretas. É dessa concepção de santidade encarnada que temos o mandamento fundamental de toda a vida: "Ame o seu próximo como a si mesmo" (Lv 19,18).
Levita hebreu
4. Números
  O livro dos Números tem esse nome devido a um grande recenseamento do povo hebreu no deserto. Para os hebreus, a saída do Egito foi uma lenta e penosa caminhada em busca de uma terra. Neste livro a caminhada se transforma em uma majestosa marcha organizada de todo um povo, como uma procissão ou um exército.
  As tribos de Israel estão todos presentes, formando os esquadrões de Deus, cada uma com o seu estandarte e avançando em rigorosa formação. No centro de tudo vai a Arca da Aliança. Isso mostra que o livro não pretende narrar fatos históricos, mas quer nos transmitir mensagens. Assim, como os antepassados saíram da escravidão do Egito para chegar à terra de Canaã, do mesmo modo todo o povo de Deus é peregrino e caminha para o seu Reino. A organização mostra que dentro do povo de Deus as funções devem ser repartidas, mas com um único objetivo: realizar o projeto de Deus. E a Arca da Aliança no centro indica que, nessa caminhada, Deus está sempre no meio do seu povo.
Moisés tira água da rochas, de Nicolas Poussin
  O livro mostra também que dentro dessa organização existem fortes conflitos (Nm 16), e que seus chefes estão sujeitos a fraquezas e desânimos, por mais importante que eles sejam na comunidade.
  Em Nm 22 a 24 temos a história de Balaão e sua jumenta. Essa história mostra como um adivinho estrangeiro se torna um verdadeiro profeta de Deus. Com essa narração o livro quer mostrar que dentro da caminhada do povo de Deus para a Terra Prometido deve haver sempre um lugar para o profeta.
  O deserto foi o tempo da grande disciplina e pedagogia para o povo de Deus. Não basta estar livre: é preciso aprender a viver a liberdade e conquistá-la continuamente para não voltar a ser escravo outra vez. No deserto Israel teve que superar muitas tentações: acomodação, desânimo, vontade de voltar para trás, desconfiança de Javé e dos líderes, imprudência etc. Foi no confronto com essas situações que ele descobriu o que significa ser livre para construir uma sociedade justa e fraterna, alicerçada na liberdade e voltada para a vida. Sob essa perspectiva, o livro dos Números nos ensina que qualquer transformação profunda exige um longo período de educação e amadurecimento.
Os hebreus deixando o Egito, de David Roberts
5. Deuteronômio
  A palavra Deuteronômio significa segunda Lei. Trata-se de uma representação e adaptação da Lei em vista da vida de Israel na Terra Prometida. Este livro nasceu muito tempo depois do discurso de Moisés antes da entrada em Canaã e passou por um longo período de formação.
  A ideia central de todo o livro é que Israel viverá feliz e próspero na Terra se for fiel à aliança com Deus; se for infiel, terá a desgraça e acabará perdendo a Terra. O livro não se contenta com ideias gerais. Após relembrar o Decálogo (Dt 5,1-22), ele mostra que o comportamento fundamental do homem para com Deus é o amor com todo o ser (Dt 6,4-9). A seguir apresenta uma longa catequese, explicando o que significa viver esse amor em todas as circunstâncias da vida pessoal, social, política e religiosa. Essa catequese é apresentada sobretudo através das leis do Deuteronômio (capítulos 12-26), onde se procura ensinar ao homem como viver em sua relação com Deus, com as autoridades, com o outro homem, e até mesmo com os seres da natureza. De acordo com o livro do Deuteronômio, o importante é perceber o que o conjunto procura transmitir: um projeto de sociedade nova, baseado na fraternidade entre os homens e na partilha de tudo o que Deus concedeu a todos.
A fraternidade é dos exemplos que deve ser seguido segundo a lei do Deuteronômio
FONTE: Moraes, José Geraldo Vinci de, 1960. História: geral e do Brasil: volume único / José Geraldo Vinci de Moraes. - 2. ed. - São Paulo: Atual, 2005. - (Coleção Ensino Médio Atual).

sexta-feira, 1 de maio de 2015

O IDJ (ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO JUVENIL)

  Lançado pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) em março de 2004, o Relatório de Desenvolvimento Juvenil revela a situação social e econômica dos jovens brasileiros na faixa de 15 a 24 anos, com foco em três áreas centrais: educação (condições para o conhecimento), renda, estudo e trabalho (condições para um nível de vida digno) e saúde (condições para uma vida longa e saudável).
  As três áreas foram mapeadas com base nos seguintes indicadores: taxa de analfabetismo entre os jovens; escolarização adequada; qualidade de ensino; taxa de mortalidade por causas internas e renda familiar per capita dos jovens. Esses cinco indicadores são combinados para estruturar índices parciais relativos às áreas de educação, saúde e renda, além do Índice de Desenvolvimento Juvenil (IDJ) - que representa um indicador geral da qualidade de vida e do grau de vulnerabilidade da população jovem.
  O IDJ foi criado segundo critérios semelhantes aos adotados no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). O estudo verifica o impacto de diversos fatores - tais como gênero, cor/raça, rural/urbano - para compor um extenso painel dos variados avanços e limitações no desenvolvimento humano da juventude.
O IDJ avalia a qualidade de vida dos jovens
  O IDJ revela ainda que a polarização na distribuição de renda, característica do Brasil, dá origem a distintas e desiguais formas de acesso à saúde, educação, etc. O estudo conclui que a diferenciação e dificuldade do acesso a esses serviços pode repercutir negativamente na vida dos jovens na medida que segmentos da população jovem se veem em desvantagem quanto às possibilidades de inserção no mercado de trabalho e de inserção social.
  As principais conclusões dos relatórios da Unesco realizados nos últimos anos sobre o Brasil foram as seguintes:
  • A profunda desigualdade na distribuição de renda no país tem gerado formas muito diferenciadas de acesso dos jovens aos serviços sociais básicos, reforçando a vulnerabilidade especialmente entre os brancos e os pobres e os afrodescendentes e entre os residentes nas regiões Norte e Nordeste. Essa desigualdade começou a se formar bem antes do país se tornar independente, com a vinda forçada de negros africanos para trabalharem nos latifúndios existentes no Brasil, aprofundando-se com a abolição da escravatura, onde a mão de obra negra foi substituída pela mão de obra imigrante, deixando grande parte desse povo desempregado ou se sujeitando a viver no mundo do subemprego.
Gráfico mostrando a distribuição de renda no Brasil de acordo com a raça
  • As limitadas condições de acesso a uma educação de qualidade e ao mercado de trabalho ampliam os contingentes de jovens sem atividade definida. Esse fato se dá principalmente pela falta de investimento em setores essenciais, como saúde, educação, segurança, entre outros. O Brasil é um dos países onde o cidadão paga os maiores impostos, que deveriam ser investidos nos serviços essenciais. Porém, grande parte desses impostos são desviados para outros fins, deixando grande parte da população sem os serviços básicos que ele necessita.
A falte de investimentos em setores essenciais contribuem para os elevados índices de desemprego entre os jovens
  • Embora o país tenha registrado significativos avanços na redução do analfabetismo entre os jovens de 15 a 24 anos, em quase 75% das Unidades da Federação (UFs) a média de anos de estudo não chega a 8 (e em algumas unidades não atingem 5 anos). Esse fato se dá principalmente pelo sucateamento do ensino público no país, aliado ao fato de que grande parte da população precisa trabalhar para poder sobreviver. Essa diferença é refletida principalmente nas universidades, onde há um minoria de jovens negros em relação a população de cor branca.
Gráfico mostrando a diferença de estudos entre a população
  • Em decorrência da universalização do ensino fundamental, vem aumentando significativamente a demanda por vagas no ensino médio e no ensino superior. Porém, a qualidade do acesso ao conhecimento é bastante precária: dados do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB) apontam déficits significativos nas competências em leitura, matemática e ciência dos jovens de 15 anos. Um dos fatores que contribuem para esses déficits é a elevada evasão escolar existente entre os jovens.
A evasão escolar contribui para o baixo rendimento dos jovens no ensino
  • Ao contrário do que ocorre com a população em geral, a mortalidade juvenil vem crescendo historicamente, sendo sua principal causa a violência. Nas últimas décadas, o crime e a violência aumentaram de forma drástica no Brasil, particularmente nas grandes áreas urbanas. Um dos principais fatores que contribuem para o aumento dessa violência é o elevado consumo de entorpecentes e a formação de quadrilhas entre os jovens.
O consumo de drogas é o principal responsável pela violência entre os jovens
FONTE: Boligian, Levon. Geografia espaço e vivência, vol. 3 / Levon Boligian, Andressa Turcatel Alves Boligian. - 2. ed. - São Paulo: Saraiva, 2013

quarta-feira, 29 de abril de 2015

O PROGRAMA CBERS: SATÉLITE SINO-BRASILEIRO DE RECURSOS TERRESTRES

  CBERS (sigla para China-Brazil Earth-Resources Satellite, em português Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres), é a denominação da cooperação tecnológica entre China e Brasil, para a produção de uma série de satélites de observação da Terra, que ficaram conhecidos internacionalmente por esta sigla.
  O Programa CBERS nasceu de uma parceria inédita entre Brasil e China no setor técnico-científico espacial. Com isto, o Brasil ingressou no seleto grupo de países detentores da tecnologia de geração de dados primários de sensoriamento remoto.
  Um dos frutos dessa cooperação foi a obtenção de uma poderosa ferramenta para monitorar seu imenso território com satélites próprios de sensoriamento remoto, buscando consolidar uma importante autonomia neste segmento.
  A família de satélites de sensoriamento remoto CBERS trouxe significativos avanços científicos ao Brasil. Suas imagens são usadas em importantes campos, como o controle do desmatamento e queimadas na Amazônia Legal, o monitoramento de recursos hídricos, áreas agrícolas, crescimento urbano, ocupação do solo, em educação e em inúmeras outras aplicações.
Imagem de Brasília fornecida pelo CBERS
  O programa CBERS contemplou num primeiro momento apenas dois satélites de sensoriamento remoto, o CBERS-1 e o CBERS-2. O sucesso do lançamento pelo foguete chinês Longa Marcha 4B e o perfeito funcionamento  dos CBERS-1 e CBERS-2 produziram efeitos imediatos. Ambos os governos decidiram expandir o acordo e incluir outros três satélites da mesma categoria, os CBERS-2B e os CBERS-3 e 4, como uma segunda etapa da parceria Sino-Brasileira.
  O Longa Marcha 4B, também conhecido como Chang Zheng 4B, CZ-4B e LM-4B é um foguete de três estágios, usado principalmente para colocar satélites em órbita terrestre baixa e órbita heliossíncrona (que viaja do Polo Norte ao Polo Sul e vice-versa). O primeiro lançamento desse modelo, ocorreu em 10 de maio de 1999, levando o satélite meteorológico FY-1C, que mais tarde foi usado no míssil antissatélite chinês.
CBERS-3
  O Programa CBERS é fundamental para grandes projetos estratégicos, como o PRODES (Programa de Despoluição das Bacias Hidrográficas), de avaliação do desflorestamento na Amazônia, o DETER (Detecção do Desmatamento em Tempo Real), o Canasat (programa de monitoramento de áreas canavieiras), entre outros.
  Criado pela Agência Nacional de Águas (ANA) em março de 2001, o PRODES, também conhecido como "programa de compra de esgoto tratado", consiste na concessão de estímulo financeiro pela União, na forma de pagamento pelo esgoto tratado, a Prestadores de Serviços de Saneamento (PSS) que investirem na implantação e operação de Estações de Tratamento de Esgotos (ETE), desde que cumpridas as condições previstas em contrato.
Mapa sobre a situação das águas feitas pelo CBERS
  O DETER é um levantamento rápido de alertas de evidências de alterações da cobertura florestal na Amazônia, feito pelo INPE desde 2004, com dados do sensor MODIS do satélite Terra. O DETER foi desenvolvido como um sistema de alerta para dar suporte à fiscalização e controle de desmatamento e da degradação florestal ilegais pelo Ibama. As alterações da cobertura florestal que o DETER mapeia são o corte raso da floresta, a degradação florestal preparativa para o desmatamento (brocagem) e cicatrizes de incêndios florestais. Os mapas do DETER podem também incluir áreas com atividades de exploração madeireira.
Imagem de satélite de área desmatada no estado de Rondônia em 2009
  Desenvolvido pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) com o apoio da UNICA (União das Indústrias de Cana-de-açúcar), o Canasat é um sistema de monitoramento remoto, via satélite, das áreas de produção de cana-de-açúcar na região Centro-Sul do Brasil.
  O mapeamento é realizado anualmente, tendo como base as áreas disponíveis para colheita, delimitadas pelo Projeto Canasat-Área, e imagens obtidas pelos satélites Landsat, CBERS e Resourcesat-I.
  Utilizando técnicas de sensoriamento remoto e geoprocessamento, o Canasat começou em 2003 a mapear a área cultivada e fornecer informações sobre a distribuição espacial da cultura de cana-de-açúcar em São Paulo. A partir de 2005, o mapeamento passou a abranger também Paraná, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Mapeamento por meio de satélite do cultivo de cana-de-açúcar no estado de São Paulo, em 2008-2009
HISTÓRIA DO CBERS
  Na década de 1980, países emergentes como Brasil e China, estavam dependentes das imagens fornecidas por satélites de outras nações. Nessa época, uma das prioridades do governo chinês era o desenvolvimento da área espacial. Já no Brasil, o programa de satélites da Missão Espacial Completa Brasileira avançava com o projeto SCD-1 (Satélite de Coleta de Dados-1). Enquanto o Brasil já possuía familiaridade com a alta tecnologia e um parque industrial mais moderno, a China possuía experiência tanto na construção de satélites, quanto na construção de foguetes lançadores.
  A assinatura da parceria sino-brasileira ocorreu no dia 6 de julho de 1988, por meio de um acordo de parceria envolvendo o INPE, vinculado ao MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação) pelo lado brasileiro, e o CAST (China Academy of Space Technology), vinculada à CASC (China Aerospace Science and Technology Corporation) pelo lado chinês, para o desenvolvimento de um programa de construção de dois satélites avançados de sensoriamento remoto.
Lançamento do CBERS-4, em 7 de dezembro de 2014
OS SATÉLITES
  Os satélites  de primeira geração (CBERS-1 e 2 e 2B), lançados entre 1999 e 2007, tinham a forma de um paralelepípedo de 1,8 x 2,0 x 2,2 m com um painel solar de 6,3 m de comprimento, fixado em uma das suas faces. Uma fonte de alimentação de 1.100 Watts armazenados em duas baterias de níquel-cádmio de 30 A-h (Ampere-hora), possuindo uma massa de 1.450 kg, estabilizados nos três eixos por 16 pequenos motores de 1 Newton e mais 2 motores de 20 Newtons, movidos a hidrazina, com vida útil estimada desses satélites de dois anos.
Cidade de Taiyuan, China, onde se localiza o Centro de Lançamento de Foguetes da China
CBERS-1
  O CBERS-1 foi o primeiro satélite desenvolvido dentro do acordo de cooperação entre a China e o Brasil. Foi lançado pelo foguete chinês Longa Marcha 4B, do Centro de Lançamento de Taiyuan, em 14 de outubro de 1999. Apresenta uma órbita heliossíncrona com uma altitude de 778 km, fazendo cerca de 14 revoluções por dia e conseguindo obter a cobertura completa da Terra em 26 dias.
  Este satélite foi projetado e lançado com o objetivo de gerar imagens da superfície da Terra, usando equipamentos de sensoriamento remoto. Essas imagens podem ser usadas nas mais variadas aplicações, como: agricultura, meio ambiente, recursos hidrológicos e oceânicos, geologia, entre outros.
Imagem do CBERS-1
CBERS-2 e CBRES-2B
  O CBERS-2 é tecnicamente idêntico ao CBERS-1. Sua órbita também é heliossíncrona, o que propicia ao CBERS-2 efetuar a cobertura de todo o planeta. Esse satélite foi lançado no dia 21 de outubro de 2003, do Centro de Lançamento de Taiyuan, na China. Ele deixou de funcionar em 15 de janeiro de 2009. O CBERS-2 totalizou 27 mil órbitas completas.
  O CBERS-2B foi tecnicamente construído como modelo de provas para o CBERS-2. Foi aproveitado como solução intermediária enquanto o CBERS-3 não era lançado.
Esquema de órbita do CBERS-2

SATÉLITES DE SEGUNDA GERAÇÃO
  Os satélites de segunda geração (CBERS-3 e 4), mantém a forma de um paralelepípedo de 1,8 x 2,0 x 2,2 m com um painel solar de 6,3 m de comprimento, fixado em uma das suas faces. Possuem uma fonte de alimentação mais potente, de 2.300 Watts e massa de 1.980 kg. São estabilizados nos três eixos por motores movidos a hidrazina. A vida útil estimada para esses satélites é de três anos.
CBERS-3
  O CBERS-3 estava previsto para entrar em órbita no final de 2013, visando dar continuidade à missão CBERS depois do encerramento das atividades do CBERS-2B, ampliando a participação brasileira no projeto para 50%. Entretanto, na fase final do lançamento, ocorrido em 9 de dezembro de 2013, a partir da base de lançamentos de Taiyuan, ocorreu uma falha no último estágio do foguete cuja propulsão foi interrompida 11 segundos antes do previsto, impedindo o satélite de atingir a órbita pretendida, causando a sua reentrada na atmosfera.
Montagem do satélite CBERS-3
CBERS-4
  O CBERS-4 foi lançado no dia 7 de dezembro de 2014 por um foguete Longa Marcha 4B a partir da base espacial de Taiyuan.
  Inicialmente, o CBERS-4 só seria lançado em 2015. O satélite tem o mesmo formato e mecanismo do CBERS-3, com modernização da tecnologia das câmeras de observação da Terra. Esse satélite tem capacidade de 15 minutos de gravação por dia e viaja a uma velocidade de 4,2 km/segundo, dando 14 voltas no planeta.
  As câmeras do CBERS-4 enviam mensagens de área que variam de 120 km a 860 km de extensão. As imagens possibilitam o mapeamento de áreas agrícolas, geológicas e monitoramento de áreas de desmatamento de quase 90% do território da América do Sul e também da China, além de disponibilizar o material gratuitamente para alguns países da África, por meio de parcerias governamentais.
Imagem do litoral norte do Rio de Janeiro feito pelo CBERS-4
APLICAÇÕES
  A família de satélites de sensoriamento remoto CBERS trouxe significativos avanços científicos ao Brasil. Suas imagens são usadas desde o controle do desmatamento e queimadas na Amazônia Legal, até o monitoramento dos recursos hídricos, áreas agrícolas, crescimento urbano e ocupação do solo. Além de ser fundamental para grandes projetos nacionais estratégicos, como o SIVAM (Sistema de Vigilância da Amazônia) e a ocupação do espaço definitivo em diversos programas ambientais.
Mapa sobre o desmatamento da Amazônia em 2014
COLETA DE DADOS
  Os satélites CBERS carregam à bordo repetidores para o Sistema Brasileiro de Coleta de Dados Ambientais (SBCDA). Esse sistema conta com mais de 800 Plataformas de Coleta de Dados (PCDs) instaladas no território brasileiro, atuando em diversas aplicações, como o monitoramento das bacias hidrográficas, previsão do tempo e estudos climáticos, estudos sobre correntes oceânicas, marés, química da atmosfera, planejamento agrícola, etc.
Imagens feitas pelo CBERS-4 sobre o desmatamento em Rio Branco - AC
FONTE: Antunes, Celso Avelino. Geografia e participação: 9º ano / Celso Avelino Antunes, Maria do Carmo Pereira e Maria Inês Vieira. 2. ed. - São Paulo: IBEP, 2012.

domingo, 26 de abril de 2015

REPRESENTAÇÃO DO ÍNDICE GINI E AS DESIGUALDADES SOCIAIS

  No século XX, o matemático italiano Conrado Gini criou um indicador para medir a desigualdade na distribuição de renda. Esse indicador, chamado Índice Gini ou Coeficiente de Gini, varia de 0 até 1, sendo que 0 significa igualdade ou que todos possuem a mesma renda. A nota 1 significa desigualdade absoluta, ou seja, uma única pessoa de um país concentraria a totalidade da renda. O Índice Gini pode ser também utilizado para mensurar a desigualdade de riqueza. Esse uso requer que ninguém tenha uma riqueza líquida negativa.
  O Coeficiente de Gini é, sobretudo, usado para medir a desigualdade de renda ou rendimento, e amplamente utilizado em diversos campos de estudo, como a sociologia, economia, ciências da saúde, ecologia, engenharia e agricultura.
  No quesito educação, o Índice Gini estima a desigualdade nesta área de uma determinada população. É utilizado para distinguir com clareza tendências em desenvolvimento social através da escolaridade ao longo tempo.
Desigualdade de renda no mundo medida pelo Coeficiente de Gini de acordo com dados do Banco Mundial (2014)
A DESIGUALDADE SOCIAL
  A desigualdade social refere-se a processos relacionais na sociedade que têm o efeito de limitar ou prejudicar o status de um determinado grupo, classe ou círculo social.
  A desigualdade social e a pobreza são problemas sociais que afetam a maioria dos países na atualidade. A pobreza existe em todos os países, pobres ou ricos, mas a desigualdade social é um fenômeno que ocorre principalmente em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento.
  Um dos fatores que mais contribuem para a grande desigualdade nos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento é o seu processo de formação histórica, quando os colonizadores se preocuparam apenas em explorar as nossas riquezas, além de distribuir grandes lotes de terras a pessoas influentes da Metrópole.
  Nas últimas décadas, o Brasil vem passando por um grande crescimento econômico, graças à modernização dos meios de produção e as políticas econômicas adotadas pelo governo brasileiro. Porém, junto com esse desenvolvimento econômico, cresceu também no país a miséria, as disparidades sociais - educação, renda, saúde, etc. - o aumento da concentração de renda, o desemprego, o crescimento de áreas com moradias precárias (favelas), entre outros.
Favela ao lado de apartamentos luxuosos em Belo Horizonte - MG
  As desigualdades sociais, em grande parte, são geradas pelo jogo do mercado e do capital, bem como pelo sistema político, que intervém de diversas maneiras, às vezes mais, às vezes menos, para regular, regulamentar e corrigir o funcionamento dos mercados em que se formam as remunerações materiais e simbólicas. O combate à desigualdade deixou de ser responsabilidade nacional e sofre a regulação de instituições multilaterais, como o Banco Mundial.
  Várias teorias apareceram no século XIX criticando as explicações sobre desigualdade, entre elas, a de Karl Marx, que desenvolveu uma teoria sobre a noção de liberdade e igualdade do pensamento liberal. Essa liberdade baseava-se no direito livre de comprar e vender, onde o homem conseguiria uma certa independência financeira.
  Karl Marx criticava o liberalismo porque era só expresso os interesses de uma pequena parte da sociedade e não da maioria, como deveria ser. Segundo Marx, a sociedade é um conjunto de atividades dos homens, ou ações humanas, e essas ações tornam a sociedade possível. Assim, para ele, as desigualdades sociais são fruto das relações sociais, políticas, culturais e econômicas.
Karl Marx (1818-1883)
A DESIGUALDADE DE GÊNERO
  Um dos fatores centrais na construção das desigualdades tem sido a discriminação de gêneros. A discriminação sexual é estruturada nas distinções sociais e culturais entre homens e mulheres que convertem as diferenças sexuais biológicas em hierarquias de poder, status e renda. Também pode ser definido como a divisão de tarefas, postos de trabalho e profissões com base no feminino e masculino. Essa prática, que era comum na sociedade, começou a ser questionada apenas recentemente.
  A consequência dessa desigualdade é que, em geral, as mulheres ganham bem menos que os homens, às vezes fazendo o mesmo trabalho, com o mesmo grau de ensino e os mesmos horários. A sociedade salarial não é uma sociedade de igualdade, há uma grande diferença entre o rendimento gerado pelo homem em comparação à mulher e até mesmo o acesso aos bens sociais, como acesso à saúde, à educação, à cultura, entre outros.
  A ênfase na desigualdade de gênero nasce do aprofundamento da divisão  em papéis atribuídos a homens e mulheres, particularmente nas esferas econômica, política e educacional.
Em geral, o salário médio das mulheres é bem inferior ao salário dos homens
DESIGUALDADE RACIAL
  A desigualdade racial é o resultado de distinções sociais hierárquicas entre grupos étnicos dentro de uma sociedade, sendo, na maioria das vezes, estabelecida com base em características como a cor da pele e outras características físicas ou origem e cultura de um indivíduo. O tratamento desigual e de oportunidades entre os grupos raciais é geralmente resultado de alguns grupos étnicos, considerados superior a outros. Esta desigualdade pode se manifestar por meio de práticas de contratação discriminatórias em locais de trabalho.
  Práticas discriminatórias resultam de estereótipos, que é quando as pessoas fazem suposições sobre as tendências e características de determinados grupos sociais, muitas vezes incluindo grupos étnicos enraizados em suposições sobre a biologia, capacidades cognitivas, ou mesmo falhas morais inerentes.
  Por causa da desigualdade racial, geralmente os negros possuem empregos menos qualificados e recebem salários bem inferiores aos brancos, além de terem menos anos de estudos.
Na grande maioria das vezes, os negros têm empregos de baixa remuneração ou subemprego
DESIGUALDADE DE CASTAS
  O sistema de castas é o resultado de distinções hierárquicas entre grupos étnicos dentro de uma sociedade, muitas vezes estabelecida com base em características como a cor da pele e outras características físicas ou origem e cultura de um indivíduo. O tratamento desigual e de oportunidades entre os grupos raciais é, geralmente, o resultado de alguns grupos étnicos, considerados superior a outros.
 Esta desigualdade pode se manifestar por meio de práticas de contratação discriminatórias em locais de trabalho, em alguns casos, os empregadores têm demonstrado preferir a contratação de funcionários em potencial com base na percepção étnica dado o nome de um candidato - mesmo que todos tenham currículos apresentando qualificações idênticas.
  Essa prática é bastante comum em países do Sul da Ásia, especificamente na Índia, onde prevalece a religião hindu e o sistema de castas, apesar de já ter sido abolido pela Constituição, ainda é muito forte no país.
Esquema do sistema de castas na Índia
DIMINUIÇÃO DAS DESIGUALDADES NO BRASIL
  O Brasil está se tornando um país menos desigual graças ao avanço da economia nas últimas décadas. No conjunto dos países desenvolvidos e das principais economias emergentes, o Brasil foi o país que mais reduziu a diferença entre ricos e pobres nas duas últimas décadas. Entre 1995 e 2013, o Coeficiente de Gini brasileiro caiu de 0,605 para 0,498. Na comparação dos extremos da população nacional, em 1995, a renda média dos 10% mais ricos era 83 vezes a dos 10% mais pobres. Essa relação passou para menos de 50 vezes em 2013, segundo dados do Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios).
  Além do crescimento da economia, outro fator que contribuiu para essa melhoria foi os programas sociais adotados pelo governo brasileiro, como o Bolsa Família, Bolsa Escola, entre outros.
Gráfico sobre o Índice Gini do Brasil
  A Região Nordeste, de acordo como o levantamento do Pnad, foi a que apresentou o maior nível de desigualdade na distribuição do rendimento do trabalho (0,523). No Piauí, foi registrado o pior resultado do país: 0,566.
  Em 2012, o Pnad mediu um Índice Gini de 0,496, apresentando um aumento do rendimento e certa estabilidade do Índice Gini. Em 2013, os 10% mais pobres receberam, em média, R$ 235,00 por mês, valor 3,5% superior ao registrado em 2012. Por outro lado, os 10% mais ricos concentraram 41,2% do total do rendimento de trabalho - eles ganharam, em média, R$ 6.930,00, valor 6,4% maior do que em 2012. De maneira geral, a renda média dos trabalhadores brasileiros subiu 5,7% de um ano para o outro, chegando a R$ 1.681,00 por mês.
Mapa sobre o Índice Gini do Brasil
FONTE: Sampaio, Fernando dos Santos. Para viver juntos: geografia 8º ano / Fernando dos Santos Sampaio, Marlon Clóvis de Medeiros, Vágner Augusto da Silva. - 3. ed. - São Paulo: Edições SM, 2012. - (Para viver juntos).

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