domingo, 20 de abril de 2014

AS LUTAS ANTICOLONIAIS NA ÁSIA

  Para estruturar as colônias europeias no mundo foram necessários mais de quatro séculos, contando a partir do período das feitorias até a segunda metade do século XX.
  Desde antes da Segunda Guerra Mundial, sete países europeus mantinham colônias na Ásia e na África: Inglaterra, França, Holanda, Itália, Bélgica, Espanha e Portugal. Essas antigas colônias vivenciaram profundas transformações no pós-guerra, onde muitas delas iniciaram um processo de independência. De maneira geral, os movimentos de independência ocorreram por várias razões: arruinados após as guerras, os países europeus mal podiam preservar as colônias; em novo estágio, o capitalismo não exigia mais a posse de impérios coloniais; a política de relações internacionais agora proclamava a autodeterminação dos povos; e a eclosão de movimentos de luta pela independência.
  O processo de descolonização asiático contou com o apoio norte-americano e soviético. Isso se deu pelo fato de que naquele momento o mundo vivia o período da História denominado de Guerra Fria. Ambos desejavam expandir suas áreas de influência do capitalismo e do socialismo nos países que iriam emergir com a independência.
  Ao gerar movimentos nacionalistas em favor da libertação, a resistência anticolonial alcançou papel de destaque no processo de independência. Grande parte desses movimentos foi liderada por uma elite ilustrada bilíngue, educada nas metrópoles. Durante o processo de organização dos impérios coloniais, essa elite local havia sido preparada pela metrópole para colaborar e administrar as possessões  coloniais ao lado dos estrangeiros. Com o tempo, composta de advogados, médicos, jornalistas, administradores, etc., e formada nas melhores universidades europeias, essa elite começou a articular em favor da autonomia, desenvolvendo sentimentos anticoloniais e nacionalistas. Nesse contexto, começaram a ser valorizados aspectos das culturas locais em oposição aos imperialistas, como a negritude, o islamismo, o pan-africanismo, o hinduísmo etc. Muitas vezes, os movimentos de libertação foram apoiados pelas grandes potências, que tinham em vista atrair as novas nações para as respectivas áreas de influência.
Colônias europeias na África
  Esses movimentos ocorreram de forma e em momentos diferentes. Alguns aconteceram simultaneamente com a Segunda Guerra Mundial (Índia, Paquistão, Sri Lanka, Filipinas, Indonésia, Vietnã e Laos, por exemplo) e outros se estenderam até meados da década de 1970 (nos países da África Central). A China promoveu a Revolução de Mao Tsé-Tung ou Revolução Socialista, pondo fim à dominação inglesa, alemã e japonesa em seu território. Em 1945, a Coreia deixou de se submeter aos domínios japoneses. Essa ex-colônia japonesa se dividiu em 1948, formando dois países: Coreia do Norte e Coreia do Sul. O Camboja tornou-se independente da França em 1953. A Malásia e Cingapura conseguiram se libertar da colonização inglesa entre os anos de 1957 e 1965, respectivamente.
  Em razão de muitos anos de intensa exploração por parte das metrópoles europeias, as colônias se tornaram independentes, no entanto herdaram muitos problemas de caráter socioeconômico, os quais são percebidos até os dias de hoje.
As antigas colônias da África e da Ásia registram grande número de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza
  As colônias onde hoje se encontra o Oriente Médio se submeteram aos domínios europeus por muito tempo. Países como Líbano e Síria tiveram suas independências oficializadas em 1943 e 1946, respectivamente. O restante dos países que integram o Oriente Médio obteve a independência somente após a Segunda Guerra Mundial. Com exceção do Irã, que teoricamente nunca foi colônia de nenhuma metrópole europeia.
Domínios coloniais no Oriente Médio
A CONFERÊNCIA DE BANDUNG
  Na década de 1950, os movimentos de independência ou nacionalista alcançaram maior força. Em 1955, declarando apoio às lutas anticoloniais, reuniram-se 29 países africanos e asiáticos para discutir as questões do Terceiro Mundo na Conferência de Bandung, na Indonésia. Nesse encontro, buscou-se ainda sugerir uma alternativa à bipolarização capitalistas x socialistas.
  Essa conferência ocorreu entre os dias 18 e 24 de abril de 1955, objetivando mapear o futuro de uma nova força política global (Terceiro Mundo), visando a promoção da cooperação econômica e cultural afro-asiática, como forma de oposição ao que era considerado colonialismo ou neocolonialismo.
  O patrocínio da reunião coube à Indonésia, Índia, Birmânia (atual Mianmar), Ceilão (atual Sri Lanka) e Paquistão, que haviam preparado a conferência em uma reunião anterior em Colombo, Sri Lanka.
Países que participaram da Conferência de Bandung
  A grande preocupação da Conferência de Bandung era criar uma política própria dos países pobres, independentemente dos interesses políticos das superpotências. Na disputa bipolarizada entre elas, esses países deveriam se manter neutros, realizando uma política de não-alinhamento. Consagrou-se a partir daí a expressão países do Terceiro Mundo (embora o termo já fosse utilizado desde 1952), ou seja, aqueles que adotavam uma política de neutralidade em relação aos países do Primeiro Mundo (capitalistas, liderados pelos Estados Unidos) e do Segundo Mundo (socialistas liderados pela União Soviética). Definições como a defesa do desarmamento mundial e a reafirmação da igualdade entre as raças também fizeram parte das resoluções tomadas nessa conferência.
  A única realização concreta dos delegados à conferência foi uma declaração de dez pontos sobre "a promoção da paz e cooperação mundiais", baseada na Carta das Nações Unidas e nos princípios morais do premiê indiano Jawaharlal Nehru, um dos estadistas mais antigos presentes ao encontro.
  1.  Respeito aos direitos fundamentais;
  2. Respeito à soberania e integridade territorial de todas as nações;
  3. Reconhecimento da igualdade de todas as raças e nações, grandes e pequenas;
  4. Não-intervenção e não-ingerência nos assuntos internos de outro país (autodeterminação dos povos);
  5. Respeito pelo direito de cada nação defender-se, individual e coletivamente;
  6. Recusa na participação dos preparativos da defesa coletiva destinada para servir aos interesses particulares das superpotências;
  7. Abstenção de todo ato ou ameaça de agressão, ou do emprego da força, contra a integridade territorial ou a independência política de outro país;
  8. Solução de todos os conflitos internacionais por meios pacíficos (negociações e conciliações arbitradas por tribunais internacionais);
  9. Estímulo aos interesses mútuos de cooperação;
  10. Respeito pela justiça e obrigações internacionais.
Conferência de Bandung, em 1955
  Outros encontros de países terceiro-mundistas foram realizados, incorporando países da América Latina; entretanto, os resultados mostravam-se pouco eficientes no quadro político internacional. No início dos anos 1960, em Belgrado (capital da Sérvia, na época era a capital da Iugoslávia), uma nova conferência reforçou o tom da neutralidade internacional, criando condições para o desenvolvimento do Movimento dos Não-Alinhados. Os resultados concretos da Conferência de Belgrado foram os movimentos de independência que proliferaram na África na década de 1960.
  Na Conferência de Belgrado estiveram presente 24 nações, que apresentavam diferenças políticas e econômicas entre si. Nessa conferência tornaram-se óbvios os conflitos entre os delegados. A Índia foi criticada por ter abandonado o princípio de neutralidade e votado a favor da União Soviética na ONU, em 1956, após a invasão da Hungria por tropas soviéticas.
  Devido a um conflito de fronteira com a China, a Índia buscou o apoio dos países ocidentais, forçando os chineses a se retirarem do território indiano. Também a Iugoslávia buscara um caminho próprio. Tito negociava preferencialmente com os países que não se envolviam no conflito Leste-Oeste. Na época, seus parceiros prediletos eram o Egito e a Índia. Cuba, por sua vez, destacava-se entre os não-alinhados pelo enorme engajamento contra os países ocidentais.
Em azul escuro, os países membros do Movimento dos Não-Alinhados, em azul claro os países observadores.
  O movimento dos países do Terceiro Mundo teve grande impacto também no universo intelectual. Alguns teóricos tentaram conceituar e caracterizar os países terceiro-mundistas, chegando aos seguintes aspectos: economia agrícola; industrialização incipiente; dependência do capital e da tecnologia dos países centrais (Primeiro Mundo); elevado crescimento demográfico, com predomínio das populações rurais; proliferação da pobreza; altas taxas de analfabetismo, subnutrição e mortalidade infantil; pouca tradição democrática.
Para alguns analistas, a subnutrição era uma das características dos países terceiro-mundistas
  Atualmente, o conceito de Terceiro Mundo é bastante questionado, sobretudo porque abrange realidades muito distintas e fortalece a ideia da hierarquia entre os países. Além disso, o fim da bipolarização em razão do desmoronamento da União Soviética, extinguiu o Segundo Mundo.
OS MOVIMENTOS DE LIBERTAÇÃO
  Os impérios coloniais europeus na Ásia foram estabelecidos desde o final do século XIX e basicamente estavam concentrados em três áreas: Índia (colônia inglesa), Indonésia (holandesa) e Indochina (francesa). Consequentemente, foi nessas regiões que ocorreram os maiores movimentos de libertação asiáticos. O primeiro deles se manifestou na Índia, influenciando as demais colônias nesse continente.
Colonialismo na Ásia
  A descolonização se processou de três formas: a pacífica, a violenta e a tardia.
1. Descolonização pacífica
  Resultado de acordos e de negociações entre as colônias e as metrópoles. a independência é concedida pela metrópole em troca da manutenção de vínculos econômicos e/ou políticos que lhe asseguravam uma ascendência sobre a antiga colônia. A colônia tornava-se formalmente independente, mas, na prática, a metrópole inaugurava uma nova forma de dominação. São exemplos desse tipo de descolonização a maior parte das colônias britânicas na Ásia: Índia, Ceilão, Birmânia e Malásia.
Sri Lanka (antigo Ceilão) - um exemplo de descolonização pacífica
2. Descolonização pela violência
  Esse tipo de descolonização ocorreu quando esse processo foi marcado por guerras de independência ou por guerra civil. Na Ásia são exemplos desse tipo de descolonização o Vietnã e as Coreias.
3. Descolonização tardia
  Esse tipo de descolonização ocorreu mais recentemente, principalmente depois da década de 1970. Um exemplo desse tipo de descolonização ocorreu no Timor Leste, que se tornou independente de Portugal.
Timor Leste - exemplo de descolonização tardia
A INDEPENDÊNCIA DA ÍNDIA
  Logo que terminou a Primeira Guerra Mundial, desenvolveu-se na Índia um forte movimento nacionalista contra a Inglaterra. O Partido do Congresso, liderado por Mahatma Gandhi e Jawaharlal Nehru, comandou um movimento que se tornou famoso no mundo inteiro.
  Conduzida por Gandhi no período entreguerras, a luta contra o imperialismo inglês baseava-se na ideia da não-cooperação e não-violência. O objetivo do Movimento de Resistência Pacífica, na qual ficou denominado, era resistir à dominação da Inglaterra, deixando de cooperar com os ingleses e com as instituições coloniais e não reagindo à violência por meio de uma série de práticas - jejum, não-consumo de produtos ingleses, o não pagamento de impostos etc. Como exemplo da desobediência civil, Gandhi jejuava, não cumpria as leis coloniais e fazia marchas pacíficas pela Índia.
Gandhi produzindo a sua própria roupa
  Após muita repressão, lutas e concessões por parte da Inglaterra, a independência foi reconhecida em agosto de 1947. Entretanto, as disputas religiosas entre hindus, siques e muçulmanos dividiram o país, com a criação do Paquistão, de maioria muçulmana, e a Índia, de maioria hindu. Para que a Inglaterra concedesse a independência, os dois países deveriam permanecer integrados aos domínios ingleses por meio da Commonwealth (Comunidade Britânica de Nações). Em 1972, o Paquistão seria subdividido, dando origem ao Bangladesh.
  Embora os custos e as dificuldades com a organização do Estado independente fossem enormes, Gandhi insistia em evitar a divisão do país. Além disso, os conflitos religiosos eram antigos e se radicalizaram ainda mais com as disputas internas. Nesse contexto de radicalização político-religiosa, Gandhi foi assassinado, em 1948, por um fundamentalista hindu.
Descolonização inglesa no Subcontinente Indiano
  Amigo e seguidor de Gandhi, Jawaharlal Nehru foi o primeiro chefe político da Índia independente, governando o país até 1964. Ele procurou desenvolver o Estado de forma independente e dar a ele estabilidade política, alcançando com sucesso. Atuou com destaque no cenário internacional, defendendo a política de neutralidade e a necessidade de construir uma terceira via de desenvolvimento, como alternativa ao socialismo e ao capitalismo. A partir da década de 1960, a Índia se aproximou da União Soviética, buscando proteção política e militar, pois em 1962, a China invadiu a Caxemira, gerando uma situação de guerra.
Nehru e Gandhi em 1942
COLÔNIAS SEGUEM O EXEMPLO DA ÍNDIA
  A independência da Índia contribuiu para que outras colônias inglesas lutassem pela independência. A Birmânia (atual Mianmar) e o Ceilão (que em 1972 passaria a se chamar Sri Lanka) alcançaram a independência em 1948. O processo na Malásia foi mais difícil e demorado, em razão da heterogeneidade religiosa e étnica - pois era habitada por chineses, indianos e malaios -, mas, em 1957 foi instituída a Unidade Malaia.
  Outro processo demorado foi o da autonomia de Hong Kong. Vitoriosos na Primeira Guerra do Ópio, em 1842, os britânicos garantiram, entre outros privilégios, a posse dessa região. Em 1997, ela voltou ao domínio chinês, com o status de Região Administrativa Especial, aumentando o poderio econômico da China, visto que Hong Kong é um dos maiores mercados do mundo, além de possuir um porto com grande movimento. Pelo acordo feito entre China e o Reino Unido, até 2047 Hong Kong deverá manter seu sistema econômico e sua autonomia administrativa.
Visão noturna da cidade de Hong Kong
A DIVISÃO DA COREIA
  Desde o início do século XX, a Coreia foi dominada por outras nações, principalmente por causa da sua localização estratégica no Extremo Oriente, entre a China e o Japão. Ela foi ocupada pelo Japão em 1905 e anexada formalmente a ele em 1910. Em 1945, após o final da Segunda Guerra Mundial, com a derrota japonesa no Oriente, a área foi ocupada pelos Estados Unidos e pela União Soviética.
  Em razão dos interesses soviéticos e norte-americanos na região, em 1948 dividiu-se a Coreia entre as duas superpotências, tendo como limite o paralelo 38. Os Estados Unidos dominaram o sul com o regime capitalista, onde se estabeleceu a Coreia do Sul; os soviéticos influenciaram o norte com o sistema socialista, criando a República Democrática Popular da Coreia do Norte.
Coreia do Norte (vermelho) e Coreia do Sul (verde)
  Em 1950, a Coreia do Norte invadiu a Coreia do Sul, iniciando um conflito que durou até 1953. A Guerra da Coreia colocou em campos opostos os Estados Unidos e a União Soviética, que apoiaram "indiretamente" as tropas do sul e do norte, respectivamente, pondo em risco a política da Guerra Fria e inaugurando um tipo de estratégia que se tornaria comum ao longo das décadas seguintes: o conflito indireto das duas superpotências em um terceiro país.
Ofensivas durante a Guerra da Coreia
INDONÉSIA
  A região era domínio holandês desde o século XVII, tendo recebido o nome de Índias Orientais. No século XV, a Indonésia foi islamizada por indianos. Em 1942, durante a Segunda Guerra Mundial, o Japão invadiu as ilhas que compõem o país, que apoiou os movimentos nacionalistas. Uma frente política nacionalista chegou a proclamar a República, sob o comando de Ahmed Sukarno. A Holanda tentou recuperar sua possessão, mas não alcançou sucesso, reconhecendo a independência da Indonésia em 1949, que se aproximou da política de não-alinhamento, adotando uma política externa de independência no quadro da Guerra Fria, no qual o país foi um dos fundadores do Movimento dos Países Não-Alinhados, sendo o anfitrião dessa reunião, em 1955 na cidade de Bandung. Nesse mesmo ano, as Forças Armadas sufocam uma tentativa de golpe promovido pelo Partido Comunista Indonésio.
Em marrom as ilhas da Indonésia
  Em 1965, um golpe militar comandado pelo general Suharto, de posições pró-ocidentais, derrubou o governo Sukarno, dando início a um regime sangrento que permaneceria até a década de 1990.
INDOCHINA
  A península da Indochina, composta por Vietnã, Camboja e Laos, foi uma colônia francesa até 1954, quando os franceses foram derrotados na batalha de Diem Bien Phu. Também foi ocupado por tropas japonesas durante a Segunda Guerra Mundial.
  Em 1946, um movimento de independência contra a ocupação japonesa, liderado por Ho Chi Minh, libertou o norte do Vietnã, instaurando um governo comunista sediado na cidade de Hanói. A região sul foi devolvida à França, que não conseguiu deter as manifestações nacionalistas. Em 1946, iniciou-se uma guerra civil que terminou somente em 1954.
Península da Indochina
  Nos anos 1950, o conflito alcançou dimensões internacionais, com o apoio dos países que bipolarizavam o cenário internacional (EUA x URSS). Após o término dos conflitos internos, em 1954, o Acordo de Genebra estabeleceu uma saída: a divisão do Vietnã no paralelo 17. Ao sul desse paralelo, formou-se a República do Vietnã do Sul, cuja capital era Saigon e aliada ao bloco Ocidental; e ao norte, formou-se a República Democrática do Vietnã, ou Vietnã do Norte, cuja capital era Hanói, aliada ao bloco Oriental. Com essa divisão do Vietnã, a França também reconheceu a independência de Laos e de Camboja.
  Essa solução não foi suficiente para resolver os problemas da Indochina. A política das superpotências na região era a de não perder posições e não permitir o avanço do inimigo. De acordo com essa estratégia, a oficialização no poder de um comunista no Vietnã do Norte - Ho Chi Minh - representava para os Estados Unidos um grande desequilíbrio.
Vietnã dividido
A GUERRA DO VIETNÃ
  A Guerra do Vietnã começou em 1959, opondo militares do Vietnã do Sul à guerrilha apoiada pelo Vietnã do Norte. Em 1960, procurando reverter suas posições no Extremo Oriente, apesar do desgaste na Guerra da Coreia, os Estados Unidos resolveram apoiar militarmente o Vietnã do Sul, dando início a novos conflitos na região. O então presidente norte-americano Jonh Kennedy não poupou ajuda financeira e militar aos sul-vietnamitas, e seu sucessor, Lyndon Johnson aumentou a escalada militar no Vietnã. No apogeu do conflito, a intervenção norte-americana envolveu cerca de meio milhão de militares. Nessa época surgiu a política dos falcões - em oposição aos pombos - símbolo da paz -, militares que defendiam a ideia de que os Estados Unidos não poderiam permitir que o Vietnã do Sul se tornasse comunista.
Aviões norte-americanos bombardeando o Vietnã do Norte
  A guerra atingiu também o Camboja e o Laos, ocupados pelos norte-americanos e por guerrilhas nacionalistas e de esquerda. A força bélica e tecnológica norte-americana foi superada pela guerrilha vietcongue (resistência comunista do Vietnã do Sul) e do apoio da população do Vietnã do Sul aos guerrilheiros.
  As implicações materiais e sociais da guerra causaram enorme trauma na sociedade norte-americana. As reações internas à guerra surgiram em meados da década de 1960, aumentando os problemas no país.
  Em 1973, os Estados Unidos aceitaram um cessar-fogo, retirando-se dois anos depois da região. A paz foi negociada nesse mesmo ano no Acordo de Paris, mas os conflitos se prolongaram no Laos e no Camboja até 1975, quando os vietcongues tomaram Saigon, capital do Vietnã do Sul, obrigando os norte-americanos a uma retirada desastrosa. No ano seguinte, o país foi unificado e os comunistas assumiram o poder, instituindo um governo pró-soviético. Saigon passou a ser a capital do Vietnã, mas o nome foi mudado para Ho Chi Minh.
Ho Chi Minh - líder do movimento de independência do Vietnã
  No final dessa década, o Vietnã envolveu-se em conflitos no Laos e no Camboja, países aliados da China, sofrendo represália dos chineses e sendo bombardeada por essa potência asiática em 1979, levando o país a sofrer uma grave crise econômica na década de 1980.
TIMOR LESTE
  Timor Leste é um dos mais novos países do mundo. Foi colonizado por Portugal até 1975 e, a partir desse ano, com a retirada de Portugal, foi anexado de forma violenta pela Indonésia. A intransigência da Indonésia chegou ao ponto de proibir a população da ilha de falar o português, além de perseguir, torturar e prender aqueles que defendiam a independência da ilha.
  Inconformada com a situação, a ONU organizou, em 1999, um plebiscito, aceito pela Indonésia, por meio do qual os timorenses teriam a oportunidade de escolher seu futuro, como um povo soberano, ou, se assim quisessem, continuar atrelados ao governo indonésio.
Mapa do Timor Leste
  O resultado foi que 80% da população optou pela independência. Mas os piores dias foram os que se seguiram ao plebiscito. Inconformado com a derrota nas urnas, o governo da Indonésia armou milícias na própria ilha, espalhando o terror entre a população, e muitos timorenses foram assassinados.
  A ONU organizou Forças de Paz e teve papel essencial na expulsão das tropas da Indonésia e na manutenção da ordem e reconstrução do país. Nesse processo, o Brasil enviou soldados ao Timor Leste com o intuito de ajudar na sua reconstrução. Hoje, o Timor Leste é um dos oito países de língua portuguesa no mundo.
  Dois timorenses ganharam o Prêmio Nobel da Paz em 1996: Carlos Ximenes Belo e José Ramos Horta, porque lutaram por uma solução pacífica para o conflito em Timor Leste, ocupado pela Indonésia em 1975 e libertado em 1999. José Ramos Horta foi eleito presidente do Timor Leste no ano de 2007.
Ruas da capital do Timor Leste, Dili, destruída pelos bombardeios indonésios em 1999
FONTE: Moraes, José Geraldo Vinci de, 1960 - História: geral e do Brasil: volume único / José Geraldo Vinci de Moraes. - 2. ed. - São Paulo: Atual, 2005. - (Coleção Ensino Médio Atual)

sexta-feira, 18 de abril de 2014

DESCOBERTO PLANETA SEMELHANTE À TERRA

  Astrônomos anunciaram a descoberta do primeiro exoplaneta (planeta fora do Sistema Solar) com um tamanho comparável ao da Terra e no qual poderá existir em estado líquido. Ele encontra-se na zona habitável de uma outra estrela.
  O planeta, batizado Kepler-186f, orbita a estrela anã Kepler-186 e se localiza na "zona temperada, onde a água pode ser líquida", de acordo com a astrônoma Elisa Quintana, do Instituto de Pesquisa de Inteligência Extraterrestre, da Agência Espacial Norte-americana (Nasa), que integra a equipe internacional que conduziu a investigação. Essa zona é considerada habitável, uma vez que, segundo os cientistas, a vida - que depende da presença de água - tem mais probabilidade de se desenvolver.
  O Kepler-186f encontra-se num sistema estelar situado a 490 ano-luz do Sol, com cinco planetas de tamanho próximo ao da Terra, sendo 1,1 vez o tamanho do nosso planeta. Porém, só o Kepler-186f está na "zona habitável" , já que os outros estão muito próximo da estrela.
  De acordo com cientistas, uma volta completa do Kepler-186f é de 129,9 dias terrestres. Isso significa que lá o ano tem cerca de um terço do nosso.
Simulações entre a Terra e o Kepler-186f
  O sol de Kepler 186-f é uma estrela com cerca de 50% do tamanho da nossa estrela-mãe. O grupo estrelar está localizado a uma distância de 490 anos-luz do nosso sistema solar.
  Além do tamanho parecido com a Terra, o planeta está a uma distância de seu sol que garante a quantidade certa de radiação para manter uma temperatura necessária para a existência de água líquida na superfície terrestre.
  Kepler-186f também não sofre o risco de sofrer uma chamada "trava gravitacional", que é quando o planeta fica sempre com a mesma face virada para a estrela, como acontece com a Lua em relação ao nosso planeta.
Simulação das órbitas da Terra e de Kepler-186f
  Entre os cerca de 1,7 mil exoplanetas já detectados, em 20 anos, duas dezenas estão ao redor da sua estrela na "zona habitável". Muitos desses planetas são maiores do que a Terra, o que torna difícil verificar se são gasosos ou rochosos. Localizado na Constelação do Cisne, o Kepler-186f está na categoria de planetas rochosos como a Terra, Marte e Vênus.
  Em fevereiro, a Nasa anunciou que o telescópio Kepler tinha detectado 715 novos exoplanetas, quatro deles potencialmente habitáveis, mas 2,5 vezes o tamanho da Terra. A maioria desses novos extrassolares foi identificada nos últimos cinco anos.
  O Kepler foi lançado em 2009 para detectar mais de 150 mil estrelas semelhantes ao Sol, localizadas nas constelações do Cisne e da Lira, e encontrar planetas-irmãos da Terra.
  Um desses planetas é o Kepler-22b, que encontra-se cerca de 600 ano-luz de distância e tem cerca de 2,4 vezes o tamanho da Terra, com uma temperatura de cerca de 22ºC.
Simulação entre os tamanhos de Netuno, Kepler-22b e a Terra
  Kepler-22b está 15% mais perto de seu sol do que a Terra em relação à nossa estrela-mãe, e seu ano dura cerca de 290 dias. No entanto, Kepler-22b tem cerca de 25% menos luz, mantendo a temperatura do planeta amena o suficiente para apoiar a existência de água em estado líquido. Porém, os cientistas ainda não sabem se Kepler-22b é um planeta feito de gás, rocha ou líquidos.
Comparação entre Kepler-22b e os planetas mais próximos do Sistema Solar
FONTE: Agência Brasil

domingo, 13 de abril de 2014

O CALDEIRÃO CULTURAL E OS CONFLITOS EXISTENTES NA REGIÃO DA ANTIGA UNIÃO SOVIÉTICA

  A fronteira da Rússia é um caldeirão explosivo. A desintegração da União Soviética provocou uma onde separatista e de disputas que não foram resolvidas até hoje. São um terreno fértil para a guerra de influência entre potências. Transnístria, Nagorno-Karabakh, Ossétia do Sul e Ossétia do Norte, Abkházia, Chechênia, Crimeia, entre outras regiões, engrossam a lista dos conflitos não resolvidos. São os pontos em que o Ocidente teme uma ingerência maior da Rússia.
  A situação atual da Crimeia não apenas evidencia o que muitos  veem como renovadas ambições expansionistas da Rússia de Vladimir Putin. Também desperta preocupação entre os vizinhos do país do Leste Europeu, trazendo à tona conflitos que estavam esquecidos no tempo e que foram originados após a desintegração da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), em 1991.
  Para muitos analistas, o presidente russo, Vladimir Putin, deseja conter a influência dos Estados Unidos e da União Europeia com uma espécie de União da Eurásia. Desde que assumiu o poder, em 2000, Putin deseja voltar a fazer de Moscou uma grande potência global.
Vladimir Putin - presidente da Rússia
O CALDEIRÃO CULTURAL DA CEI (COMUNIDADE DOS ESTADOS INDEPENDENTES)
  Em 8 de dezembro de 1991, os presidentes da Rússia, da Ucrânia e de Belarus assinaram um documento que sinalizava a criação da Comunidade dos Estados Independentes (CEI). A CEI é uma organização supranacional criada para implementar um mercado econômico comum e promover relações amistosas e de cooperação entre os países-membros. Era composta por doze das quinze repúblicas que pertenciam à antiga União Soviética - Rússia, Belarus, Ucrânia, Moldávia, Azerbaijão, Armênia, Geórgia, Turcomenistão, Quirguistão, Cazaquistão, Tadjiquistão e Uzbequistão -, deixando de participar os países Bálticos (Letônia, Estônia e Lituânia), devido serem mais ligados economicamente aos países da Europa Ocidental, principalmente os países nórdicos. Em 2008, após conflito entre a Geórgia e a Rússia motivado por disputas territoriais, a Geórgia abandonou o bloco, e o recente conflito entre Rússia e Ucrânia pela região da Crimeia levará à Ucrânia a desistir desse bloco.
Mapa da CEI
  Existe uma grande diversidade étnico-cultural na população da CEI. No vasto território desse conjunto geoeconômico e político são faladas cerca de 112 línguas, subdivididas em vários dialetos locais.
  O grupo mais numeroso é o eslavo, formando cerca de 75% da população, que compreende russos (a nacionalidade mais numerosa), ucranianos e bielorrussos - também denominados de russos-brancos.
  Os povos não eslavos, habitantes da Ásia Central, representam 25% da população total e compreendem várias culturas. Os mais numerosos são os uzbeques, cazaques, turcomenos, azerbaijanos, quirguizes e iakutes, que pertencem ao grupo dos turco-tártaros. Armênios, fino-úgricos, latinos e outros grupos completam esse mosaico de povos.
Mapa étnico dos países que faziam parte da antiga URSS
  A religião dos povos eslavos é predominantemente cristã ortodoxa e a dos não eslavos é a muçulmana, com exceção dos armênios, que são cristãos. Além desses grupos, há minorias étnicas como os fineses e os lapões, habitantes da tundra do noroeste da Rússia, os koriaços e os samoiedas, da Sibéria, além de muitos outros.
  Após a desagregação da União Soviética e o fim do socialismo real, as ex-repúblicas soviéticas, na condição de Estados independentes, optaram pela economia de mercado ou capitalismo. Assim, abriram as fronteiras ao capital externo e iniciaram um processo de privatização das empresas estatais.
  A transição do socialismo para o capitalismo causou impactos não só na economia, mas, sobretudo, nas condições sociais. A desagregação repentina acabou provocando um empobrecimento generalizado da população em decorrência de o Estado deixar de fornecer vários serviços e produtos à população.
Mendigo nas ruas de Moscou
  Além disso, com o fim da União Soviética e o consequente afrouxamento das relações de controle e dominação de Moscou sobre as ex-repúblicas, vários conflitos territoriais, étnicos ou de nacionalidades até então reprimidos eclodiram.
CONFLITOS TERRITORIAIS E DE NACIONALIDADES
  Quando ocorreu a revolução socialista de 1917, mais de 35 milhões de russos já haviam migrado para o leste, ultrapassando os Montes Urais e chegando à Ásia. A política de expansão territorial russa e de subjugação de povos continuou durante o Estado soviético.
  Durante a existência da União Soviética e do Estado autoritário que se instaurou, a "adesão" das mais de cem etnias existentes nas ex-repúblicas soviéticas foi mantida por meio da força e da repressão. Com a glasnost e a perestroika do governo Gorbatchev, a partir de 1985, a possibilidade de reafirmação da identidade étnica, cultural, histórica e de nacionalidade de muitos povos ganhou espaço e se intensificou. Surgiram muitos movimentos pró-independência de enclaves, ou seja, territórios totalmente circundados por outro território. Vários desses movimentos utilizaram força militar.
Mapa da divisão regional da Rússia
O SEPARATISMO RUSSO NA CRIMEIA
  A Ucrânia vive uma grave crise social e política desde novembro de 2013, quando o governo do então presidente Viktor Yanukovich desistiu de assinar um acordo de livre-comércio e associação política com a União Europeia, alegando que decidiu manter relações comerciais mais próximas com a Rússia, até então, seu principal aliado.
  A oposição e parte da população não aceitaram a decisão, e foram às ruas, realizando protestos violentos que deixaram várias pessoas mortas e que culminou, no dia 22 de fevereiro de 2014, na destituição do presidente pelo Parlamento ucraniano e no agendamento de eleições antecipadas para o dia 25 de maio do corrente ano.
  Assim, houve a criação de um novo governo pró-União Europeia e anti-Rússia, acirrando as tensões separatistas na região da Crimeia.
Mapa da Ucrânia
  A Crimeia, península situada na costa setentrional do Mar Negro, é uma república da Ucrânia, mas com população predominantemente russa - cerca de 66% da população total. Em 1992, essa população de origem russa fez um movimento em prol de sua anexação à Rússia, logo combatido pelo governo ucraniano. 
  Essa região pertenceu à Rússia, no período em que os dois países faziam parte da ex-União Soviética. Em 1954, a Ucrânia anexou a Crimeia ao seu território, na época em que Nikita Krushchev - que era de origem ucraniana - governava a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas). Diferente do restante do território ucraniano, a Crimeia possui uma população majoritariamente russa. Em 1991, com a desintegração da União Soviética e a criação de 15 novos países, a Crimeia passou a ser uma república semi-autônoma da Ucrânia, com fortes laços políticos com o país e com a vizinha Federação Russa.
Mapa da Crimeia
  A Crimeia se tornou foco da atenção da diplomacia internacional nas últimas semanas com uma escalada militar russa e ucraniana na região. As tensões separatistas, de maioria russa, se tornaram mais acirradas com a deposição do presidente ucraniano Viktor Yanukovich, que tinha desistido de assinar um tratado de livre-comércio com a União Europeia, preferindo estreitar relações econômicas com a Rússia. A renúncia de Viktor Yanukovich levou a Rússia a aprovar o envio de tropas para "normalizar" a situação. A medida só piorou as relações entre Ucrânia e Rússia, gerando grande perigo para a região.
  Na Crimeia, o parlamento local foi dominado por um comando pró-Rússia, que nomeou Sergei Axionov como premiê. Esse novo governo, considerado ilegal pela Ucrânia, aprovou sua adesão à Federação Russa e a realização de um referendo sobre o status da região, que ocorreu no dia 16 de março de 2014.
  Com a intensificação das tensões separatistas, o Parlamento russo aprovou o envio de tropas para a região da Crimeia. Essas tropas não tinham identificação, porém, demonstravam claramente que eram russas - por meio de placas registradas nos veículos - e tomaram a Crimeia, dominando bases militares e aeroportos. A Rússia justificou o movimento dizendo se reservar o direito de proteger seus interesses e os de seus cidadãos em caso de violência na Ucrânia e na região da Crimeia.

Grupo pró-Rússia sobre tanque soviético em frente ao Parlamento de Simferopol
  A escalada militar fez com que diversos oficiais do exército ucraniano se juntassem ao governo local pró-russo. Outros abandonaram seus postos. No dia 4 de março, o novo governo da Crimeia anunciou que assumiu o controle da península, dando um ultimato para que os últimos oficiais leais à Ucrânia se rendessem.
  Para muitos russos, a Crimeia e sua "Cidade Heroica" de Sebastopol, da era soviética, sitiada pelos invasores nazistas, têm uma ressonância emocional muito forte, por já ter sido parte do país e ainda ter a maioria de sua população de origem russa. Além disso, a maior parte da frota russa do Mar Negro está na Crimeia. Para a Ucrânia, a perda da Crimeia para a Rússia significaria um duro golpe.

Principais grupos étnicos da Crimeia
  Além da Crimeia, outra região ucraniana vem sofrendo com propostas de separatismo: o Leste da Ucrânia. Assim como ocorreu na Crimeia, os manifestantes pró-Rússia pedem a desintegração de três cidades (Donetsk, Lugansk e Kharkiv) e a anexação à Rússia. Eles exigem um referendo para que a população local vote a favor ou contra a anexação dessas cidades pela Federação Russa. Porém, diferente da Crimeia, que já era uma república autônoma, esse processo pode sofrer um revés, já que essas cidades possuem uma maioria populacional ucraniana e não russa, além de não terem autonomia política dentro do país.
Donetsk - Ucrânia
REGIÕES RUSSAS FORA DO CÁUCASO QUE LUTAM PELA INDEPENDÊNCIA
 1. TARTARISTÃO
  A anexação da Crimeia pela Rússia levou a esperança de regiões russas a se tornarem independentes. Uma delas é o Tartaristão. O Tartaristão, ou terra dos tártaros, é a região mais ao norte do mundo com maioria muçulmana e está localizada na Região Econômica do Volga. Os tártaros ficaram mais conhecidos pelo fato de que muitos dos seus habitantes terem sido deportados em massa da Crimeia por Stálin. A Ucrânia e o Tartaristão possuem um ponto em comum: a morte de milhões de pessoas  de fome devido às decisões políticas do governo da União Soviética. Entre 1921 e 1922, dois milhões de tártaros morreram de fome. Entre 1932 e 1933, uma decisão similar na Ucrânia, levou a morte mais de 7,5 milhões de pessoas.
  O Tartaristão, ao lado da Chechênia, foi a única das 88 regiões autônomas da Rússia que não assinaram um acordo com a recém-criada Federação Russa depois do fim da União Soviética. Acabariam sendo forçados a assinar depois - diferente dos chechenos que nunca assinaram até serem arrasados militarmente. Mais da metade da população do Tartaristão considera-se tártara, e apenas 40% russos. Cerca de 55% da população segue a religião islâmica.
Mapa do Tartaristão
2. KALININGRADO
  Quem olha o mapa da Europa muitas vezes não repara que há um pequeno território entre a Polônia e a Lituânia que não é parte de nenhum destes dois Estados. Trata-se de um território histórico da Prússia, e depois da Alemanha: é o enclave russo de Kaliningrado - nome em homenagem a Mikhail Kalinin, chefe de Estado oficial da União Soviética entre 1919 e 1946.
  O território foi tomado da Alemanha no fim da Segunda Guerra Mundial e a União Soviética decidiu anexá-lo ao seu território dentro da Rússia soviética - e não dentro da Lituânia, que também era parte da União Soviética. O território possui grande importância estratégica, pois com mísseis nucleares de pequeno e médio alcances dá para atingir quase toda a Europa.
  Nos últimos anos, têm-se criado movimentos em prol da autonomia e até da independência. Foi fundado o Partido Republicano Báltico, criado como um "movimento da sociedade civil".
Em marrom a região de Kaliningrado
A MOLDÁVIA E AS DISPUTAS TERRITORIAIS
  Vizinha da Ucrânia, a Moldávia teme ser a próxima vítima do expansionismo russo. Recentemente, o presidente do Parlamento da Transnístria, no leste do país, viajou a Moscou e pediu para que a Duma, o Parlamento russo, autorize a anexação da região, uma pequena faixa de terra e que é habitada por meio milhão de pessoas. O objetivo da Transnístria é receber o mesmo tratamento dispensado à Crimeia.
  Durante a desagregação da União Soviética em 1991, a Transnístria, uma porção do território moldávio localizado na porção leste do país e de maioria russa, exigiu a independência em um confronto armado. Com a mediação da Rússia, o cessar-fogo foi decretado, e os separatistas aceitaram a proposta do governo moldávio de conceder ampla autonomia à região.
  Na prática, a Transnístria se separou da Moldávia e a maioria de sua população fala russo.  As autoridades locais já tinham pedido ao Parlamento russo a anexação da região à Rússia, sendo que um referendo em 2006, respaldou essa ideia. A comunidade internacional não reconhece sua independência, e o território, que mantém um tenso enfrentamento com a Moldávia, é tida como uma região dominada pelo crime organizado e pelo contrabando.
Em rosa a região da Transnístria
  A Transnístria tem moeda, Constituição, hino, bandeira e Parlamento próprios. Assim como na Crimeia, a Rússia possui vários soldados na região. A relação de Moscou com a Moldávia é marcada pelo ponto fraco do pequeno país, a economia, que é semelhante à relação entre Moscou e a Ucrânia.
  No caso da Transnístria, o movimento separatista já estava bem adiantado antes mesmo da crise da Crimeia. O território, além de ser dominado por políticos pró-Rússia, já funciona como um Estado independente da Moldávia, não respondendo às ordens do governo do país desde 1990, quando seus chefes políticos declararam a independência da região sob o pretexto de que a Moldávia buscasse se unir à Romênia.
  Apesar da comunidade internacional não reconhecer a independência da região, os habitantes possuem passaportes locais. Fotografias das suas cidades mostram cenários que parecem viver a época da antiga União Soviética, com estátuas de Vladimir Lênin enfeitando dezenas de praças.
Estátua de Lênin, em Tiraspol, capital da Transnístria
  A Moldávia é o país mais pobre da Europa, e sua economia depende em grande parte da exportação de vinho. A União Europeia deseja integrá-la à Associação Oriental, programa do bloco de aproximação com ex-repúblicas soviéticas ao leste, assim como Belarus, Azerbaijão, Armênia, Geórgia e Ucrânia. Mas, quando o país começou a se aproximar do Ocidente, a Rússia - seu principal parceiro comercial - vetou a importação de vinho moldávio. Esse mesmo tipo de aproximação com a União Europeia motivou os conflitos na Ucrânia e levou à anexação da Crimeia pela Rússia.
Composição étnica da Moldávia
  No sul do país, as autoridades moldávias também enfrentaram conflitos na região da Gaugázia, habitada por cristãos ortodoxos turcos. Em 1996, à semelhança do que ocorreu com a Transnítria, foram afirmados acordos que concederam autonomia a essa minoria étnica. A Gaugázia é formalmente conhecudo como Unidade Territorial Autônoma da Gaugázia.
  O povo gaugaz descende dos turcos seljúcidas que migraram dos Balcãs orientais (atual Bulgária) e se instalaram na região.
Regiões da Moldávia
  OS CONFLITOS NO CÁUCASO
  O Cáucaso corresponde a um sistema montanhoso situado entre os mares Negro e Cáspio, abrangendo o sul do território russo, além da Armênia, da Geórgia e do Azerbaijão. Nessa região, após o fim da União Soviética, eclodiram vários conflitos étnicos e nacionalistas, mas Moscou insiste em se manter presente nos países do Cáucaso. É no Cáucaso que se situam as linhas de defesa das fronteiras meridionais da Rússia. Além disso, Geórgia e Azerbaijão vêm estabelecendo relações econômicas e militares cada vez mais estreitas com os Estados Unidos, o que poderá tirar o Cáucaso da área de influência da Rússia. Assim, os conflitos nessa região não é só de choques de nacionalidades, mas também de caráter geopolítico.
Região do Cáucaso
  Os principais conflitos nessa região são:
1. OSSÉTIA
  Desde o tempo de Stálin como dirigente do Comitê para as Nacionalidades do Partido Comunista da URSS, os ossetianos foram divididos. Uma parte ficou no território russo (a Ossétia do Norte) e outra parte ficou no território da Geórgia (Ossétia do Sul). Em 1990, a Ossétia do Sul declarou independência da Geórgia e propôs se integrar à Ossétia do Norte. O governo da Geórgia, em 1991, iniciou uma ofensiva militar que resultou em mais de 1.500 pessoas mortas. Em 2004 a guerra voltou a ocorrer e em 2007 são reatadas as negociações entre os ossetianos e o governo da Geórgia para que a Ossétia do Sul obtenha a independência. Em 2008, Moscou usou a maioria russa na Ossétia como justificativa para atacar as tropas da Geórgia, que tentavam recuperar o controle da região separatista.
  Na Ossétia do Sul, a maioria a população é de origem persa e cristã e a Ossétia do Norte possui uma população de cristãos e muçulmanos. Os ossetas do sul contam que são discriminados pelos georgianos e, por isso, querem a separação da Geórgia e a unificação com a Ossétia do Norte.
Mapa da Geórgia
2. ABKHÁZIA
  Na Abkházia, os abecazes foram reduzido a uma minoria depois do deslocamento de milhares de georgianos para a região, na época da extinta União Soviética. Separatistas abecazes (que são muçulmanos ortodoxos) lutam contra os georgianos (que são cristãos), desde 1992, pela criação de uma república independentes. Em 1994, declararam-se novamente independentes, mas não obtiveram o reconhecimento internacional.
  Combates voltaram a ocorrer em 1998, 2002 e 2008.
  Atualmente, a Abkházia permanece em grande medida de fato independente da Geórgia e mantém controle sobre grande parte do seu território, embora não seja reconhecida internacionalmente.
Mapa da Abkházia
3. INGUCHÉTIA E DAGUESTÃO
  Habitada por povos muçulmanos, a Inguchétia e o Daguestão são repúblicas autônomas da Rússia. Após a desagregação da União Soviética, passaram a reivindicar independência, o que causou conflitos armados com as tropas russas.
  Quando não são conflitos, ocorrem atentados às autoridades e aos pró-Rússia, como o de 2009, que matou mais de 20 pessoas e deixou cerca de 140 pessoas feridas.
  O Daguestão é a maior república russa do Cáucaso. Possui uma maioria muçulmana e grande importância para os russos, uma vez que abriga campos de petróleo e oleodutos. Também nessa república encontra-se o único porto russo no mar Cáspio, que pode ser usado durante os 365 dias do ano. A região abriga 32 povos diferentes que só se uniram no século XIX para enfrentar o Império Russo, o qual lutaram durante 30 anos.
  A partir de 1999, o Daguestão foi cenário de incursões de rebeldes fundamentalistas muçulmanos da Chechênia. Moscou respondeu com uma vasta ofensiva militar na república.
Localização do Daguestão
  Em 1920, o poder soviético foi estabelecido no território da Inguchétia, e em 1924 criou-se um oblast (distrito), dentro da Inguchétia Autônoma na Rússia Soviética, com a cidade de Vladikavkaz (atual Alania) como seu centro administrativo. Em 1934, a Chechênia e a Inguchétia foram unidas para formar o Oblast Autônomo da Chechênia-Inguchétia, tornando-se república autônoma em 1936. Em 1944, durante a Segunda Guerra Mundial, Stálin acusou os inguchétios de colaborar com o sistema nazista, sendo deportados em grande escala para a Ásia Central.
  Em 1957, os inguchétios voltaram para a sua terra natal e passaram a exigir a devolução de Prigorodni Rayon, um distrito que se estende ao longo do rio Terek, que havia sido transferido para a Alania durante o seu exílio.
Divisão da Federação Russa
  Quando a Chechênia declarou a sua independência da Rússia em novembro de 1991, pouco antes da dissolução da União Soviética, os inguchétios se separaram da Chechênia para formar a sua própria república. Em dezembro de 1992, o Congresso dos Deputados do Povo da Rússia reconheceu a Inguchétia como uma república autônoma na Rússia. A nova entidade continuou a exigir a devolução do distrito nas mãos da Ossétia do Norte, provocando hostilidades entre as regiões vizinhas. Os líderes russos e inguchétios passaram a mediar o conflito.
  A Inguchétia continua a ser uma das mais pobres regiões russas. O conflito na vizinha Chechênia se alastrou para a Inguchétia e a república tem sido desestabilizada por vários crimes, protestos anti-governo, ataques a funcionários e soldados e excessos militares, piorando de forma crítica a situação dos direitos humanos.
Mapa da Inguchétia
4. CHECHÊNIA
  A Chechênia, a mais conhecida região separatista da Rússia, chegou a ser independente logo no início da existência da União Soviética, entre 1917 e 1921, quando caiu sob o domínio soviético. Na fase final da Segunda Guerra Mundial, Stálin acusou os chechenos de colaborarem com os nazistas, e num único dia em 1944, lotou trens de gado e enviou cerca de 60% da população para a Sibéria e a Ásia Central - 20% da população morreu de fome, sede e maus tratos nessa "viagem".
  A Chechênia, região de maioria muçulmana, declarou-se independente em 1991. Em 1994, foi invadido por tropas militares russas, o que deixou um saldo de 80 mil mortos. Apesar do acordo de paz de 1997, os conflitos entre os separatistas e o governo russo prosseguiram. Em 1999, após invasão ao vizinho Daguestão por guerrilheiros chechenos com a finalidade de criar um Estado islâmico, a Chechênia sofreu um ciclo de violência, dessa vez precedida por bombardeios aéreos intensos e culminando em um verdadeiro massacre de civis pelo exército russo. Nessa guerra, mais de 370 mil pessoas foram deslocadas. A população de Grozny, capital da Chechênia, passou de 400.000 (número antes da guerra) para cerca de 30.000 pessoas.
A capital da Chechênia, Grozny, destruída após bombardeios russos em 1999
  Em 2003, um referendo realizado pelo governo checheno pró-Rússia, reafirmou a subordinação a Moscou. Em 2004, rebeldes chechenos invadiram uma escola na cidade de Beslan, na Ossétia do Norte. No confronto com forças russas, 331 pessoas morreram, sendo 186 crianças.
  A vitória na segunda guerra da Chechênia, significou a transformação do presidente russo, Vladimir Putin, em líder inconteste da Rússia.
  Os grupos separatistas perderam sua força original, mas, para o governo de Moscou, principalmente após o episódio da Crimeia, continuam a representar uma série de ameaças, tanto na Chechênia quanto no Daguestão.
Mapa da Chechênia
5. NAGORNO-KARABAKH
  A região de Nagorno-Karabakh é foco de conflito entre a Armênia e o Azerbaijão por sua natureza peculiar. Desde o início do século XX, Armênia e Azerbaijão disputam essa região, encravada no território do Azerbaijão, país de origem muçulmana, mas com 80% da população cristã e de origem armênia.
  Em 1988, aproveitando à abertura política soviética, a Armênia passou a reivindicar o território, iniciando uma guerra entre as duas repúblicas.
  Em 1991, essa região proclamou sua independência, iniciando uma série de conflitos. Em 1992, a Armênia conquistou o enclave e formou o corredor de Latchine, ligando Nagorno-Karabakh a seu território. A continuidade dos combates provocou o colapso econômico dos dois países. Em maio de 1994, é assinado um cessar-fogo.
  As negociações bilaterais sobre o destino da região não avançaram nos anos seguintes. Em 2001, os presidentes armênio e azeri reuniram-se em março na França e em maio desse ano nos Estados Unidos. É discutida a concessão do enclave do status de república autônoma do Azerbaijão, com Constituição e Exército próprios e o direito de vetar leis azeris. A Armênia teria que sair da área contígua, ocupada durante a guerra. Nada foi decidido por causa da forte resistência interna nos dois países. Em 2008, as tropas dos dois países reiniciaram os confrontos, e os conflitos prosseguem sem nenhuma trégua.

Mapa de Nagorno-Karabakh
6. CARACHAI-CIRCÁSSIA E CABÁRDIA-BALCÁRIA
  A Cabárdia-Balcária ou Cabardino-Balcária é uma divisão federal da Federação Russa. Possui cerca de 900 mil habitantes distribuídos em uma área de 12.500 km². Tornou-se uma região autônoma da República Socialista Soviética da Rússia em 1921, passando em 1936 para República Autônoma Socialista Soviética. Em 1997, foi adotada a Constituição da República da Cabárdia-Balcária.
  A Cabárdia-Balcária é uma república multiétnica habitada majoritariamente por povos de língua caucasiana ao norte, na Cabárdia, e por povos de língua altaica do ramo turco ao sul, na Balcária.
Mapa da Cabárdia-Balcária
  Os cabardinos constituem o grupo mais numeroso, com cerca de 55% da população total, seguido dos russos com 25% e os balcares com 12%. Tanto cabardinos como balcares são de tradição muçulmana sunita.
  A República da Carachai-Circássia foi constituída em 1991 pela elevação à condição de República do Oblast de Carachai-Circássia. É uma república multiétnica habitada majoritariamente por cherquesses e abazas, povos de língua caucasiana, ao norte, e por carachaios, povos de língua altaica do ramo turco, ao sul. Os carachaios constituem o grupo mais numeroso, com cerca de 39% da população total, seguidos dos russos com 34% e os cherquesses com 11%. Tanto os carachaios como os cherqueses são de tradição muçulmana sunita.
Mapa da Carachai-Circássia
  Os circassianos ganharam notoriedade recentemente por causa das Olimpíadas de Inverno na cidade de Sochi. Os circassianos e os cabardinos fazem parte do mesmo grupo. Já os balcários e os caraches também possuem ligações históricas, compartilhando língua, religião e processos de deportação em massa de Stálin. Em comum, o fato de só haver cerca de 25% de russos nas duas regiões e o grande desgosto com o passado de dominação russa, leva os nacionalistas a lutarem pela independência dessas duas regiões.
7. CALMÚQUIA
  A Calmúquia é o único território de maioria budista da Europa, localizado na margem oeste do Mar Cáspio. Durante os anos iniciais, os budistas locais até foram relativamente respeitados, já que a União Soviética não queria usar o suposto bom tratamento aos budistas devido às suas intenções de atrair os territórios budistas da Mongólia e do Tibete para a sua área de influência. Mas, devido ao fato de os calmuques serem excessivamente não-russos, irritou Stálin, que resolveu forçar a coletivização da terra.
  Durante a Segunda Guerra Mundial, a capital da Calmúquia, Elista, foi tomada pelos nazistas, que chegaram com armas e propaganda. Milhares de calmuques se uniram aos nazistas contra os soviéticos, que tinham massacrado os calmuques por mais de 10 anos.
  Após a expulsão nazista pelos soviéticos, Stálin acusou toda a população da Calmúquia de ter colaborado com os nazistas e ordenou a deportação de toda a população local para a Sibéria e para a Ásia Central. Somente em 1957, o presidente soviético Nikita Krushchev permitiu a volta dos calmuques, que passaram a ser maioria, sendo hoje composta por 60% da população total da Calmúquia e, por isso, os calmuques lutam pela independência da região.
Mapa da Kalmúquia
8. ADJÁRIA
  A República Autônoma da Adjária, é uma república da Geórgia, localizada no sudoeste do país, fazendo fronteira com o sul da Turquia e banhada pelo Mar Negro. Pertenceu ao Império Otomano e à União Soviética.
  Em 1991, conflitos em torno da autonomia econômica e política, provocou a morte de milhares de pessoas. Em 2004, explodiu a maior crise na região, com ameaças de um confronto armado.
  Por muitos anos, a Rússia manteve sua 12ª Base Militar na região, gerando uma enorme tensão entre a Rússia e a Geórgia. Em 17 de novembro de 2007, a Rússia retornou à base de Batoumi e, atualmente, essa base desempenha uma imensa pressão a favor da Adjária contra a Geórgia.
Mapa da Adjária
9. VALE DO PANKISI
  Vale longo, de 80 quilômetros, considerado pela Rússia e pelos Estados Unidos base de apoio para os combatentes chechenos e da Al-Qaeda.
  Em 2002, ocorreu a rebelião no vale de Pankisi, que foi um conflito entre a Geórgia, os militantes chechenos e a Al-Qaeda. A Geórgia foi obrigada pela Rússia e pelos Estados Unidos a ir contra a Al-Qaeda na Garganta de Pankisi. Para isso, a Geórgia recebeu um apoio significativo do Estados Unidos durante o conflito.
  Atualmente, essa região ainda serve como esconderijo, tanto para combatentes chechenos quanto para integrantes da Al-Qaeda, contribuindo para aumentar as tensões no local.
Vale do Pankisi
 O TEMOR RUSSO NO BÁLTICO
  Estônia, Letônia e Lituânia, as três repúblicas bálticas que pertenceram à União Soviética durante 51 anos, acompanham de perto as tensões envolvendo a Rússia e a Ucrânia.
  Em 2004, os três se uniram à União Europeia e à Otan (aliança militar ocidental), afrontando o presidente russo Vladimir Putin. A presença significativa de uma minoria étnica russa é um tema delicado nos países bálticos, que dependem em grande parte do gás russo.
  Na Estônia, os russos representam cerca de um terço da população, e muitos se queixam de preconceito por parte dos estonianos. Na Letônia, 25% da população fala russo, e seus direitos são um tema espinhoso para o país. Já na Lituânia, apenas 5% da população é russa. O temor de restabelecimento das fronteiras russas deixa os países bálticos em estado de tensão, pois temem que a Federação Russa possa desestabilizar esses três países.
 FONTE: Adas, Melhem. Expedições geográficas. Melhem Adas, Sérgio Adas. - 1. ed. - São Paulo: Moderna, 2011.

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