terça-feira, 16 de agosto de 2011

ASPECTOS FÍSICOS E NATURAIS DA ÁFRICA

ÁFRICA: UM CONTINENTE TROPICAL
  A natureza africana, marcada pela variedade de paisagens, fornece inúmeras pistas acerca do passado geológico do planeta.
  Terceiro maior continente do planeta, com 30.309.495 km², a África abriga 55 países e mais 10 territórios pertencentes a países estrangeiros. A área total do continente africano representa 20,3% das terras emersas, sendo a maior parte dela situada na zona tropical.
Mapa do clima da África
  A porção setentrional (norte) do continente é atravessada pelo Trópico de Câncer, abrangendo o sul do Egito, da Líbia, da Argélia e o norte do Saara Ocidental, da Mauritânia e de Mali. Já na porção meridional (sul) africana, os limites da tropicalidade são definidos pela passagem do trópico de Capricórnio, que corta o sul de Moçambique e de Botsuana, o norte da África do Sul e o centro-sul da Namíbia. As linha imaginárias que cortam a África a tornam o único continente do mundo a possuir terras em todos os hemisférios.
Paisagem da África
  Ao norte a África é banhada pelo Mar Mediterrâneo, o que a faz vizinha continental da Europa. A seu leste estão as águas do Oceano Índico e a seu oeste, as do Oceano Atlântico. Em sua porção sul, ocorre o encontro das águas do Índico e do Atlântico.
Cabo da Boa Esperança, na África do Sul - local do encontro dos oceanos Índico com o Atlântico
  A menor distância entre a Europa e a África é encontrada a noroeste, no Estreito de Gibraltar, com cerca de 13 quilômetros. É essa proximidade que torna essa área a mais utilizada pelos imigrantes clandestinos africanos ao buscarem melhor qualidade de vida em terras europeias.
Estreito de Gibraltar - a direita a África e a esquerda à Espanha
  Até 1869, a porção nordeste da África era ligada ao continente asiático pelo Istmo de Suez, uma estreita faixa de terras entre os mares Mediterrâneo e Vermelho. Desde o século XVI os europeus sonhavam com a possibilidade de transpor por mar essa faixa com o intuito de facilitar a ligação da Europa com o continente asiático. A construção do Canal de Suez, financiada por um consórcio franco-britânico e coordenado pelo engenheiro francês Ferdinand de Lésseps, teve início em 1859 e, terminada, facilitou de forma extraordinária a expansão colonial europeia rumo à Ásia.
Canal de Suez
O RELEVO AFRICANO
  O relevo do continente africano possui como característica marcante a regularidade das formas, sendo constituído basicamente de um escudo muito antigo e bastante erodido, datado do Pré-Cambriano, e contornado por extensas bacias sedimentares. Sobre essas estruturas geológicas antigas, predominam os planaltos e, entre eles, há extensas áreas de depressão cobertas por lagos e cortadas por extensos rios, como o Nilo.
Monte Kilimanjaro - com 5.859 metros de altitude, é o ponto culminante do continente africano
  As planícies encontram-se nas proximidades das duas costas, sendo que as localizadas na porção ocidental (atlântica) apresentam maior densidade populacional, como os países do Golfo da Guiné.
Imagem de satélite noturna do continente africano - as partes amarelas representam as cidades
  Durante o período Terciário, há cerca de 35 milhões de anos, ocorreram o encontro das placas tectônicas Africana e Eurasiática e a separação entre a Africana e a Arábica. O primeiro deu origem às cordilheiras alpinas, situadas na Europa. A segunda gerou, do Oriente Médio a Moçambique, uma série de falhas tectônicas que compõem o Rift Valley. O termo inglês rift significa "fenda" e se refere a esse complexo de falhas no qual formou-se uma sequência de lagos de origem tectônica, como o Vitória, o Tanganica, o Niassa, o Rodolfo, o Alberto e o Eduardo.
Rift Valley no Quênia
  Da formação do complexo de falhas originou-se também, entre a África e a Península Arábica, o Mar Vermelho.
  A atuação de ventos nas regiões desérticas da Península Arábica e do nordeste da África ocasionou o desgaste de montanhas ricas em minério de ferro e a deposição  da poeira avermelhada  pelas partículas de ferro, provenientes dessa erosão, nas encostas de ambas as regiões. Essa é a origem do nome "Mar Vermelho".
Entardecer no Mar Vermelho - Egito
  Outras diversas partes do continente africano abrigam montanhas de formação terciária. Essas elevações resultaram igualmente da separação das placas Africana e Arábica.
  Nessa mesma área, formou-se uma sequência de montanhas terciárias, como é o caso do Monte Kilimanjaro, ponto culminante do continente com 5.859 metros de altitude, assim como o Monte Quênia, com 5.188 metros.
Monte Quênia
  Na porção noroeste da África, destaca-se a Cadeia do Atlas. Esse elevado conjunto montanhoso atravessa terras da Argélia, da Tunísia e do Marrocos, países da região conhecida como Magreb, nome de origem árabe que significa "poente".
Cadeia do Atlas no Marrocos
  No extremo sul do continente, há formações do Pré-Cambriano, onde localizam-se os Montes Drakensberg com picos de 3.300 metros de altitudes.
Monte Drakensberg na África do Sul
O CLIMA E A VEGETAÇÃO DA ÁFRICA
  O quadro natural africano, apresenta uma singularidade notável. O norte e o sul do continente se espelham. Como a África é atravessada ao centro pela linha do Equador, as paisagens climatobotânicas sucedem-se numa correspondência linear de norte para sul.
 
PRINCIPAIS DOMÍNIOS CLIMÁTICOS
  Os domínios climáticos se sucedem no continente africano. Nos extremos norte e sul, o clima é mediterrâneo, com verões quentes e secos e invernos amenos e úmidos. Nessas áreas, predominam vegetações mediterrâneas formadas por carvalhos, abetos, oliveiras e videiras. Essas condições climáticas favorecem especialmente o cultivo de oliveiras e videiras. Azeite de oliva de excelente qualidade é produzida na Tunísia e na Argélia. Esta última também produz vinho de projeção internacional, assim como a África do Sul.
Plantação de oliveira na Tunísia
  Ao sul das porções próximas ao Mar Mediterrâneo predomina o clima semiárido, com os mais baixos índices pluviométricos. Nessas áreas, as estepes apresentam vegetações herbáceas e arbóreas, estas últimas rarefeitas.
Estepes no Marrocos
  Em seguida iniciam-se os grandes domínios desérticos, com grande amplitude térmica diária (elevada temperatura durante o dia e extremamente baixa à noite), em virtude da perda de calor pela areia nos desertos quentes. Nessas áreas, as chuvas são escassas, acumulando menos de 300 mm anualmente.
  O Deserto do Saara, atravessado pelo Trópico de Câncer, considerado o maior deserto contínuo do mundo, ocupa vastas porções entre o Atlântico e o Mar Vermelho.
Caravana atravessando o Saara
  Em toda a sua extensão, ele apresenta extensas planícies denominadas regs, nas quais predominam areia e cascalhos. Na área mais ao sul, imensas dunas de areia, denominadas ergs, compõem a paisagem. Em outras porções predominam os hamadas, constituídos de imensos planaltos pedregosos. Na vertente norte, por estreitos vales entre montanhas, denominados wadis, passam rios de curta duração, pois ganham corpo apenas durante as chuvas.
Saara na Líbia
  Na porção meridional da África, cortada pelo Trópico de Capricórnio, figuram, em sequência, os desertos da Namíbia e do Kalahari. Em ambos predominam vastas extensões de vegetação típica do clima semiárido. Os índices pluviométricos são muito pequenos, cerca de 250 mm anuais. Por causa disso, a denominação Kalahari, da língua nativa, tem como significado "a grande sede".
Deserto do Kalahari na Namíbia
  Nas áreas interiores, deixando os domínios da semiaridez ao norte e ao sul, há a predominância do clima tropical, com temperaturas elevadas o ano todo e alternância entre períodos de seca, durante o inverno, e de chuvas no verão. Nessas áreas, 40% da paisagem natural são dominados pelas extensas savanas.
Savana africana
  Nas proximidades do litoral e nas bordas interiores da região, em direção ao Equador, predomina o clima equatorial. Com altas temperaturas (médias térmicas entre 25 ºC e 30 ºC) e grande pluviosidade durante o ano todo, o domínio equatorial africano abrange principalmente o Gabão, o Congo e a República Democrática do Congo. Nessas áreas, as florestas,  resultantes da relação entre clima, solo e hidrografia, dominam a paisagem.
Floresta do Congo
  A bacia do Rio Congo apresenta-se, aí, como uma veia hídrica responsável pela captação e posterior reincorporação da umidade na região, tal como a Bacia Amazônica nos domínios equatoriais brasileiros.
Rio Congo em Brazzaville - República do Congo
O SAHEL
  Na região ao sul do Saara, onde se inicia a chamada África Subsaariana, uma enorme faixa semiárida contorna o continente de oeste para leste. Essa porção de terras, cujo nome é Sahel ("costa do deserto"), deve ser considerada um tipo de transição entre o deserto e as áreas mais úmidas do centro do continente.
Área do Sahel em Senegal
  O Sahel apresenta clima semiárido e vegetação de estepes. Há muito tempo é habitado por povos nômades que o utilizam para a criação de gado. Porém, na atualidade, apesar de inúmeros projetos de recuperação econômica, continua sendo um dos maiores cinturões de fome no mundo.
A pobreza domina a maior parte do Sahel
A HIDROGRAFIA DA ÁFRICA
  Em um continente atravessado por desertos, os rios ganham um significado exemplar. Esse é o caso da África.
  O Rio Nilo disputa com o Amazonas o primeiro lugar em extensão no mundo: 6.695 quilômetros, de acordo com pesquisas recentes. É formado pela confluência do Nilo Branco, que nasce no Lago Vitória, entre Uganda e Ruanda, com o Nilo Azul, que tem sua nascente no Lago Tana, na Etiópia. Esses dois rios encontram-se em Cartum, capital do Sudão, formando um único leito, que continua seu trajeto para o norte, até formar um imenso delta e desaguar no Mediterrâneo.
Rio Nilo
  Historicamente importante, pois em suas margens desenvolveu-se a civilização egípcia, esse rio atravessa cerca de 2 mil quilômetros do Deserto do Saara, sendo suas águas fundamentais para a sobrevivência das populações ribeirinhas.
Rio Nilo cortando a cidade do Cairo - Egito
  Outro rio de grande importância no continente africano é o Congo, o segundo da África em volume de água e em extensão (4.380 quilômetros). Com uma drenagem de 80 mil metros cúbicos por segundo, só perde para o Amazonas em volume de água. Tem sua nascente nas montanhas do Rift Valley, e seu percurso estabelece a fronteira entre a República Democrática do Congo e o Congo, desaguando no Oceano Atlântico, na fronteira entre Congo e Angola.
Rio Congo
  O terceiro maior rio africano é o Níger. Acredita-se que esse nome seja originário da expressão tuaregue gher n'gheren, que significa "rio dos rios". Com 4 mil quilômetros de extensão, drena inúmeros países da porção ocidental africana. Nasce no Maciço de Fouta D'jalon, ao sul do Saara, desaguando num enorme delta na Nigéria.
Rio Níger em Kulikoro - Mali
FONTE: Araújo, Regina. Observatório de geografia: 8° ano: fronteiras e nações / Regina Araújo, Ângela Corrêa da Silva, Raul Borges Guimarães. - São Paulo: Moderna, 2009.

domingo, 14 de agosto de 2011

AMÉRICA CENTRAL

  A América Central ocupa somente 2% do território americano, possuindo uma área de aproximadamente 540.000 km². Ela é formada por uma parte continental e por um conjunto de inúmeras ilhas, que constituem a parte insular.
  A América Central Continental é a porção que está ligada ao continente. É constituída por uma faixa de terras (ístmo) que liga a América do Norte à América do Sul e separa o oceano Atlântico do oceano Pacífico.
  Também denominada de América Central Ístmica, essa estreita faixa de terra é formada por sete países: Guatemala, El Salvador, Honduras, Nicarágua, Costa Rica, Belize e Panamá. Esses países têm em comum a colonização espanhola, exceto Belize, de colonização inglesa.
América Central Continental
  Um arco no oceano Atlântico forma as ilhas da América Central Insular. Muitas delas são de origem vulcânica.
  A América Central Insular foi a parte do continente americano que primeiro teve contato com o europeu, no período das Grandes Navegações, motivo pelo qual a maioria dos países fala a língua espanhola. 
  Os espanhóis foram os primeiros colonizadores. Mais tarde chegaram também ingleses, franceses e holandeses. Algumas dessas ilhas mantêm-se como possessões, isto é, seus territórios pertencem a outros países.
América Central Insular
  A América Central Insular é dividida em três conjuntos de ilhas: as Grandes Antilhas, as Pequenas Antilhas e as Bahamas.
  As Grandes Antilhas são formadas por Cuba, Jamaica, Porto Rico, Haiti e República Dominicana.
  Nas Pequenas Antilhas, estão Barbados, Dominica, Antígua e Barbuda, São Vicente e Granadinas, Granada, Santa Lúcia, São Cristóvão e Névis e Trinidad e Tobago, além de várias possessões.
Paisagem das Bahamas
  No final do século XVII, já havia muitos piratas na região e uma parcela significativa dessas ilhas estava sob a possessão de alguns países europeus que nelas cultivavam produtos tropicais, como a cana-de-açúcar. Para realizar o trabalho do cultivo da cana-de-açúcar, houve a exploração da mão de obra escrava, trazida da África.
  As ilhas caribenhas sempre foram um atrativo para muitos povos. Além de suas belezas naturais e das rotas comerciais, eram constantemente visitadas por navegadores conhecidos como piratas, especializados em deter os barcos espanhóis que delas saíam, pois havia a possibilidade de estarem carregados de ouro e de outras riquezas.
Paisagem de Santa Lúcia
CONHEÇA UM POUCO MAIS SOBRE A AMÉRICA CENTRAL
Povoamento 
  Na América Central, especialmente na Guatemala, Belize e no sul do México, floresceu uma das mais notáveis civilizações indígenas: a civilização maia, cujo adiantamento no campo das ciências e das artes, bem como no âmbito da organização política, social e religiosa, é universalmente reconhecido.
  Os Maias ocupavam a península de Yucatán e uma porção da América Central. Viveram o seu apogeu do século VI ao X. Sua economia baseava-se na agricultura, com destaque para o cultivo do milho, do feijão e da batata-doce. Esse povo apresentou um desenvolvimento cultural muito elevado. Foram construtores de grandes templos, pirâmides e observatórios de astronomia.
Pirâmide maia
Exploração
  O litoral atlântico da América Central começou a ser explorado após a quarta viagem de Cristóvão Colombo (1502), que dele tomou posse em nome da Coroa espanhola. Vasco Núñez de Balboa descobriu o Pacífico em 25 de setembro de 1513. Gaspar de Espinosa, Juan de Castañeda, Fernando Ponce e Gil González Dávila prosseguiram no reconhecimento do litoral. A conquista da região foi alcançada em 1526, por Pedro Alvarado, que pressionou dois monarcas indígenas, tirando-lhes a resistência. Coube a Frei Bartolomeu de las Casas e outros religiosos, a missão de catequizarem os indígenas.
Ruínas de Palenque - sul do México
A AMÉRICA CENTRAL CONTINENTAL
  Logo depois de aportar na América, os espanhóis se lançaram à busca de metais preciosos, principalmente ouro e prata. Eles acreditavam na existência de tesouros escondidos e em que muitas riquezas, glória e fama estariam reservadas aos desbravadores. Esse espírito animou as primeiras expedições de reconhecimento e conquista ainda no início do século XVI.
  No período colonial, a Espanha fundou vários vice-reinos em suas áreas de domínio da América Latina.
Igreja em Santiago de los Caballeros de Guatemala - primeiro núcleo habitacional da América Central
  A rivalidade entre os conquistadores resultou em sangrentos conflitos, enquanto corsários e piratas intranquilizavam constantemente a capitania. Os ingleses estabeleceram-se na costa atlântica, com feitorias para a exploração de pau-campeche, constituindo a colônia de Belize, apesar dos esforços dos espanhóis para recuperar a região.
  Em 1543, numa tentativa de impedir que os desbravadores continuassem a agir por conta própria, o rei da Espanha resolveu tomar para si o controle da região. Para tanto criou a Capitania Geral da Guatemala, que englobava grande parte do istmo. Ele nomeou pessoas de sua confiança para construir cidades e monumentos, implantar a agricultura e organizar a exploração dos metais preciosos.
Vice-Reinos criado pelo governo espanhol na América Latina
  Os espanhóis geralmente se estabeleciam nas regiões já povoadas pelos indígenas e nelas exploravam a mão de obra nativa. Os colonizadores implantaram núcleos esparsos de povoamento no ístmo, nos quais se destacava a agricultura de produtos tropicais, como cana-de-açúcar, banana e cacau. Para o abastecimento das cidades, recorria aos alimentos tradicionalmente cultivados pelos índios (batata-doce e mandioca, principalmente) e à pecuária praticada nas encostas montanhosas voltadas para o oceano Pacífico. As minas de prata das áreas montanhosas próximas a Tegucigalpa, cidade que mais tarde seria a capital de Honduras, fizeram da região o mais importante centro minerador da América Central Continental.
Tegucigalpa - capital de Honduras
  Durante todo o período colonial, os núcleos de povoamento espanhol no istmo permaneceram isolados uns dos outros. Em 1823, com o processo de independência, foi organizada a Federação das Províncias Unidas da América Central, que reuniu os atuais Estados de Guatemala, Nicarágua, El Salvador, Honduras e Costa Rica. No entanto, a Federação se desfez em 1840, e a região se fragmentou em vários países.
Federação das Províncias Unidas da América Central
O Canal do Panamá
  O Panamá teve uma história singular. No período colonial, fazia parte do Vice-Reino de Nova Granada. Tornou-se independente em 1819, mas ainda incorporado à Colômbia. No início do século XX, o governo dos Estados Unidos pediu autorização ao senado colombiano para construir um canal que ligasse os oceanos Atlântico e Pacífico, visando agilizar a navegação entre a costa leste e a costa oeste do país. Como o governo colombiano se recusou a ceder território para o canal, os Estados Unidos patrocinaram o movimento de independência do Panamá em relação à Colômbia. Assim, o Panamá deve sua existência ao interesse dos Estados Unidos em construir o canal, que foi inaugurado em 1914.
Canal do Panamá
Herança colonial e pobreza
  Os países do istmo centro-americano tornaram-se países independentes, mas mantiveram as estruturas econômicas herdadas do tempo da colonização. A agricultura continua a ser a principal atividade econômica. Nas melhores terras agrícolas, localizadas na costa do oceano Pacífico, predominam as fazendas cafeeiras, cujo produto é exportado para os mercados da Europa e da América do Norte. Nas encostas montanhosas, a população indígena e mestiça se  dedica aos cultivos de subsistência tradicionais. A renda obtida com as exportações agrícolas e a terra permanece concentrada nas mãos de poucos fazendeiros e comerciantes ricos.
Produção de café na Guatemala
  A história recente desses países tem sido marcada por guerras civis e golpes de Estado, em geral comandados pelos Exércitos nacionais e patrocinados pelos Estados Unidos. A falta de instituições democráticas sólidas está entre as causas da pobreza na região.
  A Costa Rica, cujas terras e riquezas são mais bem distribuídas e onde não existem Forças Armadas, é o país centro-americano cuja população goza de melhores condições de vida.
Praia na Costa Rica
  Já na Guatemala, um dos mais importantes produtores mundiais de café, parte da população muitas vezes não tem o que comer. Apenas 30% dos habitantes vivem em cidades e cerca de 40% são analfabetos.
Feira nas ruas de Guatemala
  Em Honduras, a situação não é muito diferente. Só que, nesse país, o principal produto de exportação é a banana, cultivada principalmente nas planícies do norte do país. Grandes companhias com sede nos Estados Unidos controlam a produção e a comercialização do produto. Por causa de Honduras, muitos países centro-americanos ganharam o triste apelido de "República das Bananas": vivem das exportações de produtos primários e as empresas estadunidenses exercem grande influência em sua vida política e econômica.
Banana - o principal produto de exportação de Honduras
  Também El Salvador mantém fortes laços de dependência em relação aos Estados Unidos. O país exporta café e algodão para esse país e todos os anos milhares de salvadorenhos emigram para lá em busca de trabalho e melhores condições de vida. O dinheiro que eles mandam para seus parentes em El Salvador é hoje a principal fonte de renda do país.
Campo de algodão em El Salvador - um dos principais produtos de exportação do país
  O Panamá é um dos poucos países do istmo que não vivem da exportação de produtos primários. Praticamente toda a economia panamenha gira em torno do canal, por causa do grande número de navios e do elevado número de trabalhadores envolvidos em sua operação.
Navio atravessando o Canal do Panamá, que é o responsável por grande parte da renda do país
A AMÉRICA CENTRAL INSULAR
  No trecho que banha a América Central, o Oceano Atlântico recebe o nome de Mar do Caribe (ou das Antilhas). Esse mar abrange milhares de ilhas, dispostas em forma de arco. Como o turismo é muito desenvolvido na região, o Caribe é, para muita gente, sinônimo de férias, belas praias e ritmos musicais quentes.
Ilhas Virgens Americanas
  Costuma-se dividir a América Central Insular em três conjuntos de ilhas: as Grandes Antilhas (Cuba, Jamaica, Haiti, República Dominicana e Porto Rico - EUA), as Pequenas Antilhas (milhares de pequenas ilhas entre o Porto Rico e o litoral da Venezuela) e o Arquipélago das Bahamas (entre os Estados Unidos e Cuba).
Pequenas Antilhas
A COLONIZAÇÃO
  Assim como aconteceu no istmo centro-americano, também as ilhas caribenhas mais importantes foram colonizadas pelos espanhóis. Mas eles não conseguiram manter o domínio por muito tempo. No final do século XVII, o Mar do Caribe estava infestado de piratas especializados em atacar barcos espanhóis que levavam riquezas da América para a Espanha. Diversas ilhas, em especial as das Pequenas Antilhas, estavam sob o controle desses piratas.
  Na mesma época, a Inglaterra, a França e a Holanda já tinham tomado grande parte das possessões espanholas no Caribe e implantado nelas o cultivo de produtos tropicais - principalmente cana-de-açúcar - para suprir os mercados europeus. Como não havia população nativa para trabalhar nas plantações, os colonizadores tiveram de trazer escravos negros da África. Por isso existe um grande contingente de população negra e mulata nas ilhas caribenhas.
O negros compõem grande parte da população caribenha
PORTO RICO
  Até hoje, grande parte dessas ilhas permanecem sob o controle de países europeus. Porto Rico configura um caso especial: não é uma colônia nem um país soberano, mas um estado livre, associado aos Estados Unidos. Isso significa que os porto-riquenhos desfrutam de alguns direitos comuns aos cidadãos desse país, o que ajuda a entender o grande número de nascidos na ilha que residem nos Estados Unidos. Mas eles não gozam da totalidade dos direitos de cidadania. Por exemplo: não votam nas eleições para presidente e também não estão representados no Congresso dos Estados Unidos.
San Juan - capital de Porto Rico
ATIVIDADES ECONÔMICAS
  A exportação de produtos agrícolas e minerais movimenta grande parte da economia da região. A cana-de-açúcar, um dos mais importantes itens caribenhos de exportação, ocupa lugar de destaque na pauta de exportações da Jamaica, do Haiti e de certos arquipélagos das Pequenas Antilhas. Também a banana é cultivada em larga escala, principalmente na República Dominicana. A exportação de bauxita, o mineral que serve de matéria-prima para a produção do alumínio, é muito importante para a economia da Jamaica: o Canadá, um dos maiores produtores mundiais de alumínio, utiliza basicamente a bauxita jamaicana como matéria-prima.
Exploração de bauxita - um dos principais produtos de exportação da Jamaica
  Em muitos países e territórios caribenhos, as atividades ligadas ao turismo constituem a principal fonte de renda. Os turistas são, em sua maioria, estadunidenses e europeus, que apreciam a beleza das praias, das águas cristalinas e dos recifes de corais. Para receber os visitantes, há uma sofisticada infraestrutura, com hotéis, estabelecimentos comerciais, estradas e marinas. Nos últimos anos, o fluxo de turistas para a região vem aumentando, envolvendo um número cada vez maior de ilhas caribenhas.
São Cristóvão e Névis
  O Caribe é conhecido mundialmente não somente por seus paraísos tropicais, mas também por abrigar vários "paraísos fiscais", em especial no Arquipélago das Bahamas e nas Ilhas Cayman. O governo desses países cobra impostos muito baixos das empresas que neles se instalam e não exige explicações detalhadas sobre o tipo de atividade que realizam. Em resumo, pode-se movimentar livremente grandes somas de dinheiro, pois não há nenhuma fiscalização. Os bancos, por sua vez, também não querem saber de onde vem ou para onde vai o dinheiro depositado em seus cofres. É por isso que grandes empresas e milionários do mundo inteiro mantêm contas e depósitos bancários na América Central Insular.
Mansão nas Ilhas Cayman
  O turismo e os serviços financeiros fazem das Bahamas e das Ilhas Cayman a região mais rica do Caribe. Os exportadores de minerais, como a Jamaica, ocupam lugar intermediário. A Ilha de Hispaniola, que abriga a República Dominicana e o Haiti, bate todos os recordes de pobreza regional. O caso mais dramático é o do Haiti: no século XVII, suas plantações de cana, movidas pelo trabalho escravo, fizeram fortunas para os franceses que dominavam a região. Hoje, é o país mais miserável da América, e sua capital, uma das cidades mais pobres do mundo. Milhares de haitianos tentam ingressar nos Estados Unidos em busca de uma vida melhor, mas o governo norte-americano mantém vigilância severa nas fronteiras, para impedir a entrada desses imigrantes em seu território. Para complicar a situação do país, no dia 12 de janeiro de 2010, o Haiti foi sacudido por um terremoto de magnitude 7,0 na escala Richter, que destruiu grande parte de sua capital, Porto Príncipe.
Porto Prícipe após o terremoto de 12 de janeiro de 2010.
FONTE: Geografia / Cláudia Magalhães... [et al]. - São Paulo: Editora do Brasil, 2009. - (Coleção Perspectiva).
Araújo, Regina. Observatório de geografia: 8° ano: fronteiras e nações / Regina Araújo, Ângela Corrêa da Silva, Raul Borges Guimarães. - São Paulo: Moderna, 2009. 

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

QUESTÕES SOBRE COMÉRCIO INTERNACIONAL

1) (UNEAL) Observe o mapa abaixo:
A partir das informações contidas no mapa e de conhecimentos sobre o mundo dos anos 1990 e início do século XXI, pode-se afirmar que o mapa trata fundamentalmente:
a) do conflito entre os países ricos e pobres;
b) do estabelecimento de uma nova ordem mundial bipolar;
c) dos principais blocos geopolíticos do hemisfério Norte;
d) da organização mundial ditada pelos blocos geopolíticos e econômicos;
e) da ordem mundial, estabelecida pelos países capitalistas e socialistas.
2) (Ufscar) 
Durante quase trinta anos, desde o final da Segunda Guerra Mundial até 1973, a economia capitalista mundial se desenvolveu a taxas historicamente altas, inéditas para tão longo período.
[Jacob Gorender. Estratégias dos Estados Nacionais diante do processo de Globalização. In: "Estudos Avançados". São Paulo: IEA-USP, Série Internacional, nj. 32, jun/2001. p.2]
Assinale a alternativa que apresenta características do período assinalado no texto:
a) predomínio da ordem multipolar, com a ascensão do Japão e da Alemanha à condição de nações centrais do sistema;
b) forte desenvolvimento tecnológico, com ênfase para a indústria química, naval e exploração de fontes energéticas, como o carvão;
c) predomínio da produção e do trabalho baseados no sistema taylorista-fordista, com produção em massa e separação entre concepção e execução do trabalho;
d) adoção do liberalismo como doutrina econômica, com a introdução da política do bem-estar social nos países europeus e nos Estados Unidos;
e) Divisão Internacional do Trabalho, segundo a qual países periféricos coloniais exportavam matérias-primas, e os países centrais, produtos industriais.
3) (Fuvest -SP)
"O livre-comércio é um bem - como a virtude, a santidade e a retidão - a ser amado, admirado, honrado e firmemente adotado, por si mesmo, ainda que todo o resto do mundo ame restrições e proibições, que, em si mesmas, são males - como o vício e o crime - a serem odiados e detestados sob quaisquer circunstâncias e em todos os tempos."
"The Economist", em 1848. 
Tendo em vista o contexto histórico da época, tal formulação favorecia particularmente os interesses:
a) do comércio internacional, mas não do inglês;
b) da agricultura inglesa e da estrangeira;
c) da indústria inglesa, mas não da estrangeira;
d) da agricultura e da indústria estrangeiras;
e) dos produtores de todos os países.
4) (PUC - SP) Na confluência dos rios Reno e Ruhr na Alemanha há uma das maiores concentrações industriais do mundo em cidades como Colômbia, Dortmund, Essen, com destaque para as indústrias siderúrgicas, mecânicas e químicas. Os principais fatores que explicam essa importante localização industrial são:
a) a imposição dos nazistas no período anterior à Segunda Guerra quando a Alemanha se industrializa;
b) as enormes jazidas de ferro e manganês e a facilidade de escoamento da produção pela hidrovia do Elba até o porto de Hamburgo, associados à existência de mão de obra e de um mercado consumidor;
c) as enormes jazidas de hulha, associadas à facilidade de escoamento da produção até o Mar do Norte via "corredor" polonês, embora a disponibilidade de mão de obra fosse reduzida;
d) as enormes jazidas de hulha e a facilidade de escoamento da produção pela hidrovia do Reno até o porto de Hamburgo, na Holanda, fatores associados à existência de numerosa mão de obra e de mercado consumidor;
e) as enormes jazidas de hulha e a facilidade de escoamento da produção através da hidrovia do Reno até o porto de Roterdã, na Holanda; a esses fatores associam-se a existência de mão de obra e de mercado consumidor.
5) (PUCCamp - SP)  
O Manufacturing Belt no Nordeste americano apresentava, na década de 1950, cerca de 69% da produção industrial dos Estados Unidos, baixando essa participação, três décadas depois, para 48%. Milhões de trabalhadores migraram para o Sul e o Oeste que despontavam como áreas mais dinâmicas. O mesmo Manufacturing Belt, orgulho dos americanos, ganhava uma nova designação pejorativa - o Rust Belt - o "cinturão da ferrugem".
Assinale a alternativa que melhor se relaciona ao texto:
a) a sociedade industrial norte-americana se reestrutura frente às novas exigências do mercado mundial;
b)  a terceirização das atividades econômicas no Leste americano tem promovido o intervencionismo do Estado, para garantir a estabilidade do emprego de milhares de americanos;
c) os investimentos das grandes transnacionais americanas no exterior esvaziaram a produção industrial e aumentaram o desemprego;
d) a redução contínua das taxas de natalidade e o crescente aumento da imigração têm provocado sucessivas crises sociais na classe operária norte-americana;
e) o espaço geoeconômico norte-americano está se reorganizando com o surgimento de novos polos industriais.
1 - d     2 - c      3 - c      4 - e     5 - e


O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO DA AMÉRICA LATINA

  O Brasil, o México e a Argentina são as maiores, mais industrializadas e mais diversificadas economias da América Latina.
  Os três se tornaram países independentes no início do século XIX e, no final dele, iniciaram lentamente seus respectivos processos de industrialização, que se intensificaram somente a partir da década de 1930.
  Com a crise de 1929 e a depressão econômica que se seguiu, os países industrializados passaram a comprar menos mercadorias vendidas pelos países exportadores de produtos minerais e agrícolas. Nessa época, o Brasil, o México e a Argentina tiveram seus níveis de exportação drasticamente reduzidos, o que lhes dificultou importar diversos produtos industrializados. Por outro lado, a queda no ingresso de produtos importados acelerou a industrialização voltada a substituir muitos bens de consumo, principalmente da Europa.
Fábrica de tecelagem em São Paulo no início do século XX
  Algumas das primeiras fábricas pertenciam à aristocracia latifundiária, que tinha acumulado capital com as exportações de produtos agropecuários e passou a investi-los na indústria, no comércio e no sistema financeiro. Os estancieros argentinos (donos de estâncias, grandes propriedades rurais), ganharam muito dinheiro exportando carne e trigo; no Brasil, destacavam-se, principalmente, os fazendeiros de café, conhecidos como barões do café; e, no México, os proprietários das haciendas (fazendas). Todos eram grandes latifundiários, com forte influência econômica e política em seus países.
Avenida Paulista no início do século XX - dominado por luxuosas mansões dos barões do café
  No entanto, esse início efetivo do processo de industrialização não foi acompanhado de políticas sociais e econômicas voltadas à distribuição de renda e maior inserção da população pobre no mercado interno de consumo: parte da aristocracia latifundiária gradativamente se transformou em burguesia industrial e financeira e diversificou suas fontes de lucro, o que explica como muitos latifúndios, mesmo improdutivos, continuavam nas mãos de seus antigos proprietários. A inexistência de uma efetiva reforma agrária, como ocorreu nos países desenvolvidos enquanto se industrializavam, é um dos fatores que explicam a urbanização acelerada e desordenada, a acentuada desigualdade social e a consequente fraqueza do mercado interno dos países de industrialização recente da América Latina.
Região central do Rio de Janeiro no início do século XX
  Outro agente importante no início da industrialização foi o Estado, que passou a investir em indústrias de bens intermediários - mineração e siderurgia, petrolífera e petroquímica etc. - e em infraestrutura - transportes, telecomunicações, energia elétrica etc.
  Na América Latina, os maiores símbolos desse modelo foram as estatais petrolíferas: Pemex (Petróleos Mexicanos, fundada em 1934), Petrobras (1954), PDVSA (Petróleos de Venezuela, 1975) e a argentina YPF (Yacimientos Petrolíferos Fiscales, 1922). Com exceção da YPF, comprada em 1999 pela espanhola Repsol, as outras continuam sob o controle total ou parcial do Estado, e em 2008 eram as maiores empresas nos respectivos países e as primeiras colocadas na América Latina na lista Fortune Global 500.
PDVSA - estatal petrolífera da Venezuela
  Após a Segunda Guerra Mundial, o modelo de industrialização por substituição de importações mostrou suas limitações: carência de maiores volumes de capitais que permitissem dar continuidade ao processo, fragilidade de setores industriais importantes, como a indústria de bens de capital, e defasagem tecnológica. Foi nessa época que teve início a entrada de capital estrangeiro, por meio das multinacionais que estavam se expandindo pelo mundo em busca de novos mercados. As filiais de empresas estrangeiras promoveram a expansão de muitos setores industriais nesses países: automobilístico, químico-farmacêutico, eletroeletrônico, de máquinas e equipamentos e outros, que até então tinham uma produção limitada ou inexistente.
Juscelino Kubitschek inaugura a fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo - SP no dia 18 de novembro de 1959
  Nos setores tradicionais também entraram grandes indústrias multinacionais alimentícias e têxteis, juntando-se às nacionais já existentes e, em muitos casos, incorporando-as. Assim, houve um grande avanço no processo de industrialização do Brasil, México e Argentina, o qual passou a se assentar no tripé de capital estatal, nacional e estrangeiro. A entrada das corporações multinacionais contribuiu para o surgimento de novas empresas nacionais em diversos setores, muitas delas complementares às estrangeiras: por exemplo, a entrada das empresas automobilísticas estimulou o desenvolvimento de muitas indústrias nacionais de autopeças.
Primeira linha de montagem da Volkswagen no Brasil
  Embora apresente menor grau de industrialização, esse modelo vigorou também em outros países latino-americanos, como o Chile, a Colômbia e a Venezuela.
  Com o tempo, a indústria tornou-se um setor muito importante na economia de Brasil, México e Argentina. Os mais importantes complexos industriais estão concentrados nas grandes regiões metropolitanas: no triângulo São Paulo - Rio de Janeiro - Belo Horizonte, no Brasil; no eixo Buenos Aires - Rosário, Argentina; e no eixo Cidade do México - Guadalajara e em Monterrey, no México.
Trecho da rodovia Pan-Americana em Buenos Aires
  O modelo de substituição de importações incentivou a produção interna de muitos bens de consumo, que deixaram de ser comprados no exterior, como roupas, calçados, eletrodomésticos, carros, entre muitos outros. Ao mesmo tempo, requeria a importação de outros bens que não eram produzidos internamente, como máquinas e equipamentos, e exigia a constituição de uma infraestrutura de transportes, energia e comunicações, demandando cada vez mais investimento. Como a poupança interna era limitada, esse modelo de industrialização foi muito dependente de capital estrangeiro e os recursos externos entravam nesses países como investimento produtivo, por meio da instalação de filiais de multinacionais, ou por empréstimos contraídos pelos governos e por empresas privadas nacionais.
A modernização da agricultura promoveu uma grande demanda de máquinas e equipamentos
CRISES FINANCEIRAS E BAIXO CRESCIMENTO ECONÔMICO
  No pós-guerra, o crescimento econômico do Brasil, do México e da Argentina foi bastante elevado, estendendo-se até o início dos anos 1980. O crescimento econômico desses países esteve em grande medida assentado em recursos estrangeiros, que a partir dos anos 1970 passaram a ser disponíveis no mercado financeiro mundial. Nessa época, houve um aumento do crédito porque os bancos dos países desenvolvidos passaram a reciclar os petrodólares, ou seja, a emprestar vultosos recursos depositados pelos países exportadores de petróleo que ganharam muito dinheiro  com a elevação dos preços do barril a partir de 1973. Entre 1974 e 1981, os países da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) acumularam 360 bilhões de dólares com exportações e metade desses recursos foi depositada em bancos dos países desenvolvidos. A grande oferta de dinheiro no mercado financeiro fez as taxas de juros internacionais caírem após 1973, atingindo o ponto mais baixo entre 1975-1977.
Encontro dos representantes dos países membros da OPEP
  A partir desse período, os países em desenvolvimento, especialmente os latino-americanos, endividaram-se pesadamente. O Brasil, segundo o Banco Central, tinha uma dívida de 5,3 bilhões de dólares, em 1970; 12,6 bilhões, em 1973; e 25,9 bilhões em 1976. O problema é que os juros  não foram fixados nesse patamar, as taxas para a amortização futura da dívida eram flutuantes, ou seja, oscilavam em função do mercado internacional. Depois do primeiro aumento das taxas de juros, provocado pela crise do petróleo de 1973, houve uma segunda elevação bem mais forte, com a crise de 1979. No final da década de 1970, em consequência de uma política do governo norte-americano de manutenção de altas taxas de juros para conter a inflação, atrair investimentos e financiar seu déficit orçamentário e comercial, os Estados Unidos converteram-se no principal receptor de dinheiro no mundo. Assim, além de sobrarem poucos recursos para os países em desenvolvimento, ainda houve uma elevação artificial de suas dívidas. Como consequência disto, houve uma explosão do endividamento dos países latino-americanos.
  O primeiro grande sinal da crise foi dado em 1982, quando o México decretou a moratória de sua dívida externa. Daquele momento em diante, aprofundou-se nesses três países a política do "exportar é o que importa", visando a obtenção de moeda forte, sobretudo dólares, para o pagamento dos juros da dívida. No entanto, esse esforço acabou contribuindo para baixar  os preços dos produtos primários, na época majoritários em suas exportações, reduzindo a entrada de receitas em moeda estrangeira.
  Ao mesmo tempo, os governos mantinham uma política de contenção de importações de produtos industrializados. Tal medida provocou o sucateamento dos parques produtivos, dada a dificuldade de comprar máquinas e equipamentos necessários à sua modernização.
Parque Industrial de Cubatão - SP
  A combinação de altas taxas de juros (maior endividamento) com baixos preços de produtos de exportação (menores receitas) só podia resultar, para muitos países, em uma grave crise econômica. A crise da dívida atingiu os países em desenvolvimento  em geral, mas em particular os latino-americanos, os mais endividados. Assim, para esses países, os anos de 1980 ficaram conhecidos como a "década perdida": suas economias sofreram com baixo crescimento e elevada inflação.
Parque Industrial Tecnológico de Guadalajara - México
  Esse modelo econômico provocou forte concentração de renda, sobretudo no Brasil, porque se assentava os baixos salários pagos aos trabalhadores, o que restringiu a expansão do mercado interno e, como consequência, o próprio processo de industrialização. Paradoxalmente, o modelo que visava substituir importações, acabou limitando-o. Os bens de consumo produzidos, notadamente automóveis e produtos eletrônicos, eram voltados apenas para pequena parte da população.
Favelas - o principal fator para a sua proliferação é a concentração de renda
  A década de 1990 foi marcada pela estabilização das economias dos países latino-americanos, paralelamente à implantação de políticas econômicas neoliberais na esteira do processo de globalização. A redução da inflação foi conseguida após a implantação de medidas como o controle dos gastos públicos, a privatização das empresas estatais e a abertura econômica para produtos e capitais, que avançaram em vários países. Essas medidas mudaram a modalidade de endividamento, entretanto, as crises continuaram ocorrendo.
Protestos contra a privatização da Vale do Rio Doce em Campinas - SP (07/09/2007)
  Com os avanços tecnológicos na informática e nas telecomunicações, ampliaram-se as possibilidades de investimentos no mercado mundial. Há diversas modalidades de investimentos de capitais no sistema financeiro globalizado, destacando-se as ações, os títulos da dívida pública e as moedas estrangeiras.
  Além do mercado acionário que cresceu de forma significativa, uma das modalidades de investimento especulativo mais difundida na atual globalização financeira é a compra de títulos da dívida pública. A emissão desses títulos pelos governos é uma forma de os países tomarem dinheiro emprestado. Ao comprá-los, os investidores - em geral bancos ou corretoras que fazem a intermediação entre pessoas e empresas que aplicam no mercado financeiro - emprestam dinheiro ao Estado, que terá de pagar juros pelo empréstimo.
  O problema do capital especulativo é que ele é volátil, ou seja, não cria raízes, transferindo-se rapidamente de um setor, ou mesmo de um país, para outro, e por isso gera poucos empregos. Além disso, tende a fragilizar as economias dos países, em especial dos em desenvolvimento, porque os operadores das empresas financeiras muitas vezes retiram o dinheiro no momento em que elas mais precisam de capital. Essa foi a raiz das crises financeiras de diversos países emergentes ao longo da década de 1990.
FONTE: Sene. Eustáquio de. Geografia geral e do Brasil, volume 2: espaço geográfico e globalização: ensino médio / Eustáquio de Sene, João Carlos Moreira. São Paulo: Scipione, 2010

ADSENSE

Pesquisar este blog