quarta-feira, 20 de julho de 2011

A ÁFRICA AUSTRAL E OS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA: ANGOLA E MOÇAMBIQUE

  A África Austral é a parte do continente mais ao sul. Como as outras regiões africanas, esta também se destaca pela presença de grandes reservas minerais, muito importantes para a economia mundial.
  A África do Sul, país mais industrializado da região, é rica em cromo, ouro ou platina, sendo um dos maiores exportadores mundiais desses minérios.
Trabalhadores exploram minérios em uma mina da África do Sul
  Essas riquezas também são fundamentais para a economia de outros países da região, como o Zimbábue, e por isso, esses países despertam forte interesse de grandes grupos econômicos internacionais.
  As características atuais dos espaços geográficos da África Austral resultam das mudanças políticas e econômicas ocorridas nesses territórios.
  As antigas colônias portuguesas de Angola e Moçambique são exemplos dessas bruscas alterações.
  Desde o final da Segunda Guerra Mundial, uma grande parte da população angolana desejava a independência em relação à Portugal. Esse sentimento de liberdade era fortalecido pelo fato de que a maioria das colônias africanas estavam conseguindo autonomia nas décadas de 1950 e 1960. No caso de Angola, o governo português não aceitava a independência do país e combatia ferozmente à guerrilha.
Combatentes angolanos
  O governo português defendia os interesses de ricos proprietários de terras, que exportavam alimentos para a Europa, e de poderosas empresas mineradoras, que extraíam diamantes, quartzo, manganês, ferro, cobre e zinco, produtos vitais para a indústria dos países ricos.
  Angola é o segundo maior produtor de petróelo e exportador de diamantes da África Subsaariana.
Diamante - uma das riquezas minerais de Angola
  Após anos de luta, em 1975 os angolanos conseguem sua independência. Mas internamente a situação era tensa, pois o governo optou pelo socialismo, e isso significava a desapropriação de todas as reservas naturais, que estavam nas mãos de estrangeiros naquela época. Elas passariam ao controle do governo angolano. Nesse período vivia-se a Guerra Fria; os países capitalistas não aceitaram essa situação e passaram, a apoiar a Unita, grupo armado de oposição ao governo socialista de Angola.
Angolanos comemoram a independência de Angola em 1975
  A partir de 1989 sucederam-se em Angola acordos de paz entre a Unita e o governo, sempre seguidos do recomeço das hostilidades. Em junho de 1989, na República Democrática do Congo, a Unita e o governo estabeleceram uma nova trégua: a paz durou apenas dois meses.
Membros da Unita
  Em 1993 o Conselho de Segurança da ONU embargou as transferências de armas e petróleo para a Unita. Então, tanto o governo como a Unita concordaram em parar com novas aquisições de armas, mas a Unita quebrou o acordo. Em dezembro de 1998, Angola retornou ao estado de guerra aberta, que só terminou em 2002, com a morte de Jonas Savimbi, líder da Unita.
  Com a morte do líder histórico da Unita, o movimento iniciou negociações com o governo de Angola para deposição das armas, deixando de ser um movimento armado e assumindo-se como mera força política.
Jonas Savimbi - principal líder da Unita
  Durante os anos de conflito, os grupos rivais usavam minas terrestres para evitar o avanço dos oponentes. As minas terrestres são artefatos de alta destruição escondidos no solo que explodem quando são tocados, podendo aleijar ou matar.
Angolano vítima de minas terrestres
  Em algumas regiões, minas colocadas entre 1977 e 2002 explodem ainda hoje onde brincam crianças e jovens, geralmente quando estão jogando bola, correndo, empinando pipas etc.
  O número de jovens mutilados em Angola é um dos maiores do mundo e a pior tragédia nacional. Faltam tratamentos, próteses e ajuda para vítimas. Existem esforços para desativarem as minas, mas a falta de um mapeamento de sua localização pode fazer com que o processo de desarme desses artefatos demore por um bom tempo.
Homem caçando minas terrestres em Angola
  Com o aumento dos preços internacionais do petróleo, as valiosas reservas de Angola - concentradas no litoral norte - atraíram o interesse das grandes companhias petrolíferas e um impressionante volume de investimentos estrangeiros.
  Como Angola é um país extremamente pobre, exporta quase 90% do que produz. Isso ocorre em função da pouca industrialização e do baixo consumo de energia per capita. Para tentar desenvolver a economia do país, o governo está investindo na construção de uma infraestrutura capaz de atrair grandes empresas.
Orla marítima noturna  de Luanda
  Em Angola existem poucas estradas de rodagem e uma pequena malha ferroviária; por isso, as obras mais importantes visam fortalecer o sistema energético e de transportes do país. É nessa área que vem crescendo a parceria comercial entre Brasil e Angola nos últimos anos, inclusive com a participação brasileira em grandes obras, como hidrelétricas e rodovias.
Hidrelétrica de Capanda, construída pela empresa brasileira Odebrecht
  O caso de Moçambique guarda muitas semelhanças com Angola. Rica em minérios, também optou pelo socialismo na década de 1970. Recentemente, o governo moçambicano realizou uma série de reformas que permitiram a chegada de capital transnacional ao país para dinamizar ainda mais a economia.
  O território moçambicano tem rios caudalosos que permitiram a construção de enormes hidrelétricas. Elas hoje são fundamentais, pois representam uma parte considerável da renda do país, que exporta energia para os países vizinhos.
Usina hidrelétrica de Cabora Bassa em Moçambique
  Além disso, Moçambique tem terras férteis que recebem chuvas ao longo de todo o ano, permitindo diversificar a produção de alimentos.
  Mesmo assim, a pobreza ainda é muito grande no país: quase 50% dos habitantes vivem em situação de miséria absoluta.
  Da mesma forma que em outros lugares, as desigualdades se refletem nas diferenças entre a cidade e o campo. Em Maputo, capital do país, a pobreza extrema atinge 15% da população, enquanto na província de Zambézia, no centro norte, o índice chega a mais de 65% da população. Com o fim da colonização, muitas terras estavam desastadas pelo uso intensivo no sistema plantation e não havia recursos para retomar uma produção crescente. A região estagnou, deixando sua população em estado de pobreza.
Assim como na maioria dos países africanos, a miséria atinge grande parte da população moçambicana
VEJA ALGUNS DADOS DESSES PAÍSES
ANGOLA
NOME OFICIAL: República de Angola
INDEPENDÊNCIA: 11 de novembro de 1975 (de Portugal)
LOCALIZAÇÃO: costa ocidental da África Austral
CAPITAL: Luanda
Pôr-do-sol em Luanda
ÁREA: 1.246.700 km² (22º)
POPULAÇÃO (ONU - 2011): 12.531.357 habitantes (69º)
DENSIDADE DEMOGRÁFICA (ONU): 10,05 hab./km² (187º)
CIDADES MAIS POPULOSAS (2006)
Luanda: 2.776.125 habitantes
Luanda - capital e maior cidade de Angola
Huambo: 226.177 habitantes
 
Huambo - segunda maior cidade de Angola
Lobito: 207.957 habitantes
 
Lobito - terceira maior cidade de Angola
LÍNGUA: português (oficial), línguas regionais (umbundo, quimbundo, quicongo, ovimbundo, dentre outras) 
IDH (ONU - 2010): 0,403 (146º)
PIB (FMI - 2010): U$ 85,315 bilhões (62º)
EXPECTATIVA DE VIDA (ONU - 2005/2010): 42,7 anos (190º)
MORTALIDADE INFANTIL (ONU - 2005/2010): 131,9 / mil (192º)
TAXA DE URBANIZAÇÃO (CIA WORLD FACTBOOK - 2008): 57% (100º)
TAXA DE ALFABETIZAÇÃO (PNUD - 2007/2008): 67,4% (142º)
MOEDA: Kwanza
RELIGIÃO: cristianismo (70,1%); religiões tribais (29,9%) 
DIVISÃO: Angola tem a sua divisão administrativa composta por 18 províncias. A divisão administrativa do território mais pequena é o bairro na cidade, enquanto que nos meios rurais é a povoação.
1. Bengo 2. Benguela 3. Bié 4. Cabinda 5. Kuando-Kubango 6. Kwanza-Norte 7. Kwanza-Sul 8. Cunene 9. Huambo 10. Huíla 11. Luanda 12. Lunda-Norte 13. Lunda-Sul 14. Malanje 15. Moxico 16. Namibe 17. Uíge 18. Zaire
MOÇAMBIQUE
NOME OFICIAL: República de Moçambique
INDEPENDÊNCIA: 25 de junho de 1975 (de Portugal)
LOCALIZAÇÃO: costa oriental da África Austral
CAPITAL: Maputo
Rua de Maputo
ÁREA: 801.590 km² (34º)
POPULAÇÃO (ONU - 2011): 22.948.858 habitantes (49º)
DENSIDADE DEMOGRÁFICA (ONU): 28,62 hab./km² (158º)
CIDADES MAIS POPULOSAS (2007)
Maputo: 1.178.116 habitantes
Maputo - capital e maior cidade de Moçambique
Matola: 671.556 habitantes
Matola - segunda maior cidade de Moçambique
Beira: 431.583 habitantes
Beira - terceira maior cidade de Moçambique
LÍNGUA: português (oficial); línguas regionais (ronga, changã, muchope)
IDH (ONU - 2010): 0,284 (165º)
PIB (FMI - 2010): U$ 9,893 bilhões (122º)
EXPECTATIVA DE VIDA (ONU - 2005/2010): 42,1 anos (194º)
MORTALIDADE INFANTIL (ONU - 2005/2010): 95,9 / mil (177º)
TAXA DE URBANIZAÇÃO (CIA WORLD FACTBOOK - 2008): 37% (144º)
TAXA DE ALFABETIZAÇÃO (PNUD - 2007/2008): 38,7% (169º) 
MOEDA: Metical 
RELIGIÃO: religiões tribais (47,8%); cristianismo (38,9% - católicos: 31,4%, outros cristãos: 7,5%); islamismo (13%); outros (0,3%) 
DIVISÃO: Moçambique está dividido em 11 províncias:
1. Niassa 2. Cabo Delgado 3. Nampula 4. Zambézia 5. Tete 6. Manica 7.  Sofala 8. Gaza 9. Inhambane 10. Maputo 11. Cidade de Maputo
FONTE: Tamdjian, James Onnig. Estudos de geografia: o espaço do mundo II, 9° ano / James Onnig Tamdjian, Ivan Lazzari Mendes. -- 1. ed. -- São Paulo: FTD, 2008 (Coleção estudos de geografia).

terça-feira, 19 de julho de 2011

JAPÃO: DO NASCIMENTO DA POTÊNCIA À CRISE

  O Japão é, atualmente, a terceira maior economia do planeta. No entanto, durante a Segunda Guerra Mundial, esse país foi arrasado, e em menos de três décadas, o país emergiu dos destroços da guerra para o segundo posto da hierarquia econômica mundial, sendo superado apenas pelos Estados Unidos e mais recentemente pela China.
Imagem de Hiroshima após o bombardeio em 06/08/1945
  O Japão permaneceu isolado do mundo exterior do século XVII ao século XIX, período em que foi governado pelo clã Tokugawa. Em 1639, sob o xogunato Iyemitsu, o país iniciou um período de reclusão chamado sakoku, palavra que significa 'país fechado'. A partir de então, os estrangeiros foram proibidos de entrar no país e os japoneses, de sair. Houve apenas uma exceção: as trocas comerciais feitas com os holandeses, que mantinham um entreposto comercial na cidade de Nagasáqui. Por isso, quando os norte-americanos aportaram no Japão em 1853, pondo fim ao isolamento do país e ao domínio dos Tokugawa, encontraram um país ainda feudal e defasado economicamente em relação ao mundo ocidental.
Tokugawa Yoshinobu - décimo quinto e último xogum Tokugawa
  Tentando realizar seu projeto político de controle dos oceanos, os norte-americanos forçaram a abertura do Japão através do Tratado de Kanagawa, assinado em 1854. Essa abertura acelerou a desintegração do sistema feudal japonês e, em 1868, encerrou-se o domínio do clã Tokugawa.
  Esse ano marcou o fim do xogunato e a restauração do império, com a ascensão do imperador Mitsuhito. Esse novo reinado, conhecido como Era Meiji, palavra que significa "governo ilustrado", estendeu-se até 1912 e foi marcado por políticas modernizantes do Estado japonês: investimentos na criação de infraestrutura (ferrovias, portos, minas etc.) e de fábricas; maciços investimentos em educação, agora universalizada e voltada à qualificação de mão de obra; abertura à tecnologia e aos produtos estrangeiros. A Constituição de 1889 estabeleceu o imperador como chefe "sagrado e inviolável" do Estado e estabeleceu também a Dieta (Parlamento). O xintoísmo havia sido declarado religião oficial em 1882.
Imperador Mitsuhito - conhecido como Meiji
  Os zaibatsus (zai significa 'riqueza' e batsu, 'grupo'), organizações originadas de antigos e poderosos clãs, como a Mitsubishi, a Mitsui, a Sumitomo e a Yasuda, passaram a dominar cada vez mais a economia do Japão. Atuando em praticamente todos os setores industriais, além do comércio e das finanças, foram incorporando indústrias menores, incluindo as fábricas construídas pelo Estado, e se transformaram em grandes conglomerados.
Mitsubishi - exemplo de um zaibatsu
  Como resultado dessa política modernizante, o Japão viveu um vertiginoso processo de modernização. No entanto, o país enfrentava problemas estruturais graves: escassez crônica de matérias-primas e de energia e limitação do mercado interno. Na tentativa de superar esses problemas, o império japonês aventurou-se em busca de territórios na Ásia e no Pacífico. Para atingir seu objetivo, investiu maciçamente em seu fortalecimento militar. A rígida disciplina xintoísta (aspecto cultural), aliada à capacidade industrial (aspecto econômico), facilitou esse fortalecimento.
Símbolos do xintoísmo
  A expansão iniciou-se com a vitória na Guerra Sino-Japonesa (1894-1895), que garantiu a ocupação de Taiwan. Em 1910 foi a vez da Coreia ser anexada. Com a vitória na guerra contra a Rússia (1904-1905), os japoneses tomaram as Ilhas Sacalinas, então território russo. Mais tarde, em 1931, ocupariam a Manchúria, parte do território chinês, onde implantaram, em 1934, Manchukuo, um Estado fantoche sob o governo títere do último imperador chinês Pu Yi, que tinha perdido o trono em 1912 como resultado da proclamação da república por Sun Yat-sen.
Expansão japonesa no final do século XIX e início do século XX
  Com o objetivo de conquistar novos territórios, em 1937 o Japão iniciou uma confrontação total com a China, que se estenderia até a Segunda Guerra Mundial. Essa conflagração mundial marcou sua fase de maior expansão territorial. Tal política expansionista, resultaria na quase total destruição do Japão, que saiu derrotado da guerra.
Expansão japonesa em 1940
  O ataque-surpresa à base naval de Pearl Harbor (Havaí), em 1941, deixou claro que os japoneses superestimaram seu poderio militar: precipitaram a entrada dos norte-americanos na guerra e acabaram derrotados por eles.
Ataque japonês à base naval de Pearl Harbor em 7 de dezembro de 1941. Esse episódio marca a entrada definitiva dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial.
  Com o lançamento, pelos Estados Unidos, das bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasáqui, em 6 e 9 de agosto de 1945, respectivamente, o Japão não teve outra alternativa a não ser render-se. A assinatura da rendição - em setembro de 1945 no porta-aviões Missouri, atracado na baía de Tóquio - foi o principal símbolo da superioridade tecnológica e militar norte-americana e, ao mesmo tempo, o prenúncio do papel reservado ao Japão durante a Guerra Fria: fiel aliado político e aguerrido adversário econômico dos Estados Unidos.
Nagasáqui após o lançamento da bomba atômica em 9 de agosto de 1945
RECONSTRUÇÃO INDUSTRIAL APÓS A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
  Durante a ocupação que se estendeu até 1952, quando entrou em vigor o Tratado de São Francisco, tratado de paz assinado em 1951, o Japão foi governado pelo Conselho Supremo das Potências Aliadas, presidido pelo general norte-americano Douglas MacArthur. Nesse período, profundas reformas foram impostas ao país com o objetivo de modernizá-lo do ponto de vista político, econômico e cultural, encerrando de vez o feudalismo e o militarismo.
  Em 1947 foi aprovada uma lei antitruste - a Lei da Proibição dos Monopólios -, o que levou os zaibatsus à dissolução. Com isso, os norte-americanos pretendiam enfraquecer o poder dos grandes grupos e estimular a concorrência na economia japonesa.
  A Constituição, redigida e imposta pelos ocupantes em 1947, proibia a intervenção externa do exército japonês, que foi transformado em força de autodefesa. A Constituição também garantiu a liberdade de culto e estabeleceu uma separação entre Estado e religião: o xintoísmo deixou de ser a religião oficial. O ensino público passou a ser laico. A independência política e a soberania foram restabelecidas em 1952, mas o país teve seu "braço militar amputado", e o imperador Hiroito, que permaneceu no poder de 1926 a 1989 (período denominado Era Showa, "paz brilhante", em japonês), teve de renunciar a ser considerado como uma divindade, passando a colaborar ativamente com as reformas.
Imperador Hiroito (1901-1989)
  A recuperação econômica japonesa foi avassaladora e, na década de 1960, o país já tinha conquistado o terceiro lugar na economia mundial, atingindo o segundo na década de 1980.
  Dentre os fatores que contribuíram para essa rápida recuperação econômica foram: as intervenções modernizadoras norte-americanas; acumulação de capital pelas empresas ao fornecerem equipamento bélico às guerras da Coreia (1950-1953) e do Vietnã (1960-1975); a grande disponibilidade de mão de obra barata, disciplinada e relativamente qualificada; os maciços investimentos estatais em educação e, junto à iniciativa privada, em pesquisas e desenvolvimento tecnológico; e a reconstrução da infraestrutura e dos conglomerados (os antigos zaibatsus) em bases mais modernas, produtivas e competitivas.
Robotização - um marco da moderna economia japonesa
  No pós-guerra, em substituição aos zaibatsus, que tinham, como qualquer conglomerado tradicional, uma "cabeça", uma holding que controlava todas as empresas do grupo, as companhias japonesas reorganizaram-se formando os keiretsus. Essa palavra, que significa "união sem cabeça", é perfeita para definir as redes de empresas integradas que dominam a economia japonesa atual. Em geral, essa rede é informal, não há uma holding  como havia nos zaibatsus, as empresas são independentes, embora muitas vezes possam haver trocas de participações acionárias minoritárias entre elas. Um keiretsu geralmente se articula em torno de algum grande banco que dá suporte financeiro às empresas da rede, as quais atuam de forma integrada para atingir seus objetivos. Atualmente, os grandes grupos japoneses - como a Mitsubishi, Mitsui e a Sumitomo - se organizaram como keiretsu.
Escavadeira da Sumitomo - exemplo de keiretsu
  Durante muito tempo a principal vantagem apresentada pelo Japão sobre os concorrentes europeus e norte-americanos foi a mão de obra barata. Com isso, a competitividade no pós-guerra esteve em grande parte assentada na superexploração da força de trabalho. Com o passar do tempo, os salários foram aumentando como um reflexo da elevação de produtividade resultante dos avanços tecnológicos incorporados ao processo de produção. Na década de 1990, os trabalhadores japoneses alcançaram salários bastante elevados, entre os mais altos do mundo, o que suscitou um gigantesco mercado interno e lhes garantiu também um dos mais altos padrões de vida do planeta. A estagnação econômica verificada desde meados dos anos 1990, provocou um aumento do desemprego e, consequentemente, uma queda no valor dos salários.
Com a decadência da economia japonesa aumenta o número de mendigos no país
DISTRIBUIÇÃO DAS INDÚSTRIAS
  As primeiras indústrias foram implantadas no Japão a partir de 1880, quando teve início o processo de industrialização. Inicialmente predominaram as fábricas de produtos têxteis, como a seda e o algodão. Contudo, por conta das necessidades militares, o Estado e a iniciativa privada passaram a investir, desde o começo do século XX, em indústrias de base, como as siderúrgicas, metalúrgicas, químicas e mecânicas. Em 1901, foram construídas as primeiras metalúrgicas pelo governo de Iawata, nas proximidades das minas de carvão da Ilha de Kyushu. As indústrias de bens de consumo, nunca deixaram de se expandir. Com os avanços tecnológicos, fibras sintéticas passaram a ser produzidas no país e novos setores foram se desenvolvendo, como o eletroeletrônico e o automobilístico.
Setor automobilístico - o forte da economia japonesa
  Apesar de todo esse progresso industrial, o Japão é muito dependente de matérias-primas e fontes de energia importadas. O país possui poucas jazidas de minérios, e as reservas de combustíveis fósseis há muito são insuficientes para atender às necessidades de sua indústria. Mesmo o potencial hidráulico, relativamente grande por causa do relevo montanhoso, logo se mostrou insuficiente diante do crescente aumento do consumo de energia, o que demandou maiores importações de combustíveis fósseis.
Minério de ferro - a maior parte desse produto utilizado pelas indústrias japonesas são importados, inclusive do Brasil
  A fim de dispor de saldos comerciais para compensar as despesas com importações e as limitações do mercado interno, o país passou a exportar volumes cada vez maiores de produtos industrializados. Gradativamente, o Japão foi-se convertendo num grande importador de produtos primários e num grande exportador de produtos industrializados.
  O parque industrial japonês situa-se próximo aos grandes portos, nas estreitas planícies litorâneas, onde, historicamente, a população se concentrou em função da possibilidade de praticar a agricultura do arroz, a mais importante do país. Com a industrialização, parcelas cada vez mais significativas da população foram se concentrando em torno dessas cidades portuárias. Assim, as maiores aglomerações urbano-industriais encontram-se nas planícies da franja litorânea do Pacífico.
Mapa do Japão com as principais cidades do país
  No sudeste da ilha de Honshu se localiza a segunda aglomeração urbano-industrial do mundo. Encontra-se particularmente no eixo Tóquio-Osaka o trecho mais importante da megalópole japonesa. Extremamente diversificado, esse cinturão industrial concentra cerca de 85% da produção do país, e as regiões de Tóquio e Osaka, sozinhas, são responsáveis por cerca da metade desse total. As sedes administrativas das grandes corporações, assim como suas respectivas fábricas, são muito mais concentradas espacialmente no Japão do que nos Estados Unidos e na Alemanha.
  A maior parte da megalópole localiza-se na ilha de Honshu, estendendo-se, porém, pelo norte da ilha de Kyushu. Forma-se, desse modo, um corredor de 1000 km que reúne as principais cidades do país e as áreas de maiores densidades demográficas.
Mapa da densidade demográfica do Japão
  O Japão é o maior fabricante mundial de vários produtos industrializados, sediando algumas das maiores corporações transnacionais do planeta, como a Toyota, Mitsubishi, Honda, Hitachi, Sony, Matsushita, dentre outras.
Honda - exemplo de transnacional japonesa
  O Japão é, com os Estados Unidos e a União Europeia, o líder em novas tecnologias na atual revolução informacional. Há no país diversos centros de pesquisas e inúmeras indústrias de alta tecnologia, concentradas sobretudo em seus dois principais tecnopolos: Tsukuba e Kansai.
  A Cidade da Ciência de Tsukuba, localizada 60 km a nordeste de Tóquio e a 40 km a noroeste do aeroporto internacional de Narita, é o principal tecnopolo japonês e um dos mais importantes do mundo. Sua implantação, a cargo do governo, começou na década de 1960; ao longo dos anos de 1970 e 1980, ali se instalaram diversos centros de pesquisas governamentais. Desde meados de 1980, como resultado da consolidação desse tecnopolo, muitas empresas privadas também ali se instalaram.
Cidade da Ciência de Tsukuba - mais importante tecnopolo japonês
  O tecnopolo Kansai abrange os municípios de Kyoto, Osaka e Nara, a segunda região mais industrializada do Japão. Sua implantação começou no início dos anos 1980, mas, diferentemente de Tsukuba, que é um empreendimento eminentemente estatal, predominam em Kansai as empresas privadas, como a Toyota, a Fujitsu, a NEC e a Mitsubishi, dentre outras.
Osaka - importante centro industrial do Japão
  Um dos mais importantes setores de alta tecnologia em que o Japão é líder mundial, e que pressupõe o domínio da microeletrônica e da mecânica, é a robótica. O país é líder no desenvolvimento e na aplicação da robótica ao processo produtivo, embora, como resultado da crise que atingiu sua economia na década de 1990, venha perdendo terreno desde 1998. A utilização de robôs no processo produtivo, sobretudo na indústria automobilística, o setor mais robotizado da economia japonesa, foi um dos principais fatores que colaboraram para o grande aumento da produtividade e, consequentemente, da competitividade do seu parque industrial.
Robotização - exemplo de modernidade na economia japonesa
  O grande sucesso econômico do Japão foi uma eficiente combinação de livre mercado com planejamento estatal. O todo-poderoso Ministério da Indústria e do Comércio Internacional (MITI), criado em 1951, teve papel importante na elaboração de diretrizes macroeconômicas de longo prazo. Em 2001, após passar por um processo de reorganização, teve seu nome mudado para Ministério da Economia, Comércio e Indústria (METI). Funcionando em sintonia com os grandes grupos econômicos, o Estado japonês, após a Segunda Guerra Mundial, deu sustentação e apoio à aguerrida luta para a conquista de mercados no exterior.
  No início dos anos 1990, a economia japonesa perdeu fôlego. A crise japonesa é, de certa forma, consequência do sucesso dos anos anteriores. O grande acúmulo de riquezas no país levou os agentes econômicos a uma crescente especulação com ações, provocando uma enorme alta na Bolsa de Valores de Tóquio. Ao mesmo tempo, os bancos japoneses, que chegaram a ocupar oito das dez primeiras posições entre os maiores do mundo em 1990, fizeram grandes empréstimos sem critério, principalmente para o ramo imobiliário, o que gerou grande especulação nesse setor. Os preços dos imóveis no Japão, que já estavam entre os mais altos do mundo, subiram exageradamente, atingindo valores estratosféricos.
Prédio da Bolsa de Valores de Tóquio
  Essa bolha especulativa - financeira e imobiliária - estourou no início dos anos 1990. Os preços das ações e dos imóveis despencaram, fazendo a crise se propagar pela economia real, ao provocar o fechamento de empresas e o aumento do desemprego. Os bancos, não tendo como receber dos devedores, deixaram de fazer novos empréstimos. Muitas empresas (industriais e comerciais) e instituições financeiras (bancos, corretoras de valores etc.) foram á falência, levando o país à estagnação econômica.
  Agravando esse quadro, a população, receosa com a crise, passou a poupar mais, reduzindo os níveis de consumo. Esse fato, além de aumentar a historicamente alta taxa de poupança interna, tem dificultado a retomada do crescimento econômico.
ALGUNS DADOS DO JAPÃO
NOME OFICIAL: Japão 
FUNDAÇÃO NACIONAL: 660 a.C
LOCALIZAÇÃO: Oceano Pacífico, a leste do mar do Japão, da República Popular da China, da Coreia do Norte, da Coreia do Sul e da Rússia, se estendendo do mar de Okhotsk, no norte, ao mar da China Oriental e Taiwan, ao sul.
CAPITAL: Tóquio
Centro de Tóquio
ÁREA: 377.873 km² (62º)
POPULAÇÃO (ONU - 2011): 126.475.664 habitantes (10º)
DENSIDADE DEMOGRÁFICA (ONU): 334,70 hab./km² (18°)
CIDADES MAIS POPULOSAS:
Tóquio: 12.890.000 habitantes (2009); Região Metropolina: 37.000.000 de habitantes
Tóquio - maior cidade do Japão e uma das maiores do mundo
Yokohoma: 3.679.133 habitantes (2009)
Yokohoma - segunda maior cidade do Japão
Osaka: 2.868.776 habitantes (2009)
Osaka - terceira maior cidade do Japão
LÍNGUA: japonês
IDH (ONU - 2010): 0,884 (11º)
PIB (FMI - 2010):  U$ 5,458 trilhões (3°)
EXPECTATIVA DE VIDA (ONU - 2005/2010): 82,6 anos (1º)
MORTALIDADE INFANTIL (ONU - 2005/2010): 3,2/mil (3º)
TAXA DE URBANIZAÇÃO (CIA WORLD FACTBOOK - 2008): 66% (72º)
MOEDA: Iene
RELIGIÃO: xintoísmo (51,3%), budismo (38,3%), cristianismo (1,2%), outras (9,2%)
DIVISÃO: o Japão está dividido em 8 regiões, administrativamente em 47 províncias ou prefeituras.
FONTE: Moreira, João Carlos. Geografia: volume único / João Carlos Moreira; Eustáquio de Sene. - São Paulo: Scipione, 2005.

ADSENSE

Pesquisar este blog