sexta-feira, 1 de julho de 2011

CONHEÇA CARNAÚBA DOS DANTAS

ASPECTOS GEOGRÁFICOS
  O município de Carnaúba dos Dantas está situado na microrregião do Seridó Oriental e na mesorregião Central Potiguar, no estado do Rio Grande do Norte. Possui uma área de 245,649 km² e uma população de 7.429 habitantes, de acordo com o censo de 2010 realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A densidade demográfica é de 30,24 hab./km². Encontra-se à 306 metros acima do nível do mar. As principais vias de acesso ao município, via Rio Grande do Norte, são a BR-226 (Natal/Currais Novos), BR-427 (Currais Novos/Trevo Rajada) e RN-288 (Trecho Rajada/Divisa com a Paraíba).
BR-427 próximo à ponte sobre o rio Carnaúba, tendo ao fundo a Serra da Rajada
  Carnaúba dos Dantas está distante cerca de 219 km de Natal, e seus limites são: Norte: Frei Martinho - PB e Acari - RN; Sul: Parelhas - RN e Nova Palmeira - PB; Leste: Picuí, Frei Martinho e Nova Palmeira (todos na Paraíba); e Oeste: Acari e Jardim do Seridó (RN).
Localização do município de Carnaúba dos Dantas no mapa do Rio Grande do Norte
  O topônimo refere-se à presença de carnaubeiras (Copernicia prunifera) no decurso do vale do rio Carnaúba desde a época da colonização pecuarista, sobretudo na região próxima à antiga fazenda Carnaúba, de propriedade de Caetano Dantas Corrêa (o 2°), que ficava situada a oeste da atual cidade. Associa-se o complemento Dantas numa clara homenagem a Caetano Dantas Correia (o 1°), patriarca da família e povoador das terras que hoje compõem o município.
Carnaubeiras - árvore que deu origem ao nome do município
SITUAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA
  O município foi criado oficialmente pela Lei Estadual N° 1.028, de 11 de Dezembro de 1953, tendo lugar sua instalação no dia 30 de janeiro de 1954.
  O território municipal é composto de uma sede, onde encontra-se a cidade e dois povoados: Ermo e Rajada.
Vista aérea do Povoado Ermo
  A cidade é dividida em quatro bairros, em função da localização da Travessa Tonheca Dantas: Centro, São José, Dom José Adelino Dantas e Santa Rita de Cássia.
Praça São José, no Centro de Carnaúba dos Dantas tendo ao fundo a Igreja Matriz de São José
ASPECTOS NATURAIS
  Carnaúba dos Dantas está encravado no âmago do Polígono das Secas, sofrendo as consequências das mudanças climáticas periódicas durante todo o ano. O clima predominante é o semiárido, em geral, com baixo índice pluviométrico. O relevo é bastante modesto, não apresentando grandes elevações, tampouco depressões. As serras mais conhecidas são a da Rajada, do Forte, do Piauí, Nova, do Marimbondo, da Caiçarinha, do Gavião e da Coruja, sendo esta a 7ª maior elevação do estado do Rio Grande do Norte, com uma altitude de 714 metros.
Serra do Forte
  As formações vegetais enquadram-se na Caatinga Hiperxerófila e Caatinga Subdesértica do Seridó, sendo comuns, especialmente na zona rural, espécimes de pereiro, faveleiro, macambira, mandacaru, xique-xique, jurema, angico, marmeleiro, mufumbo, catingueira, imburana dentre outras.
Vegetação Caatinga Subdesértica do Seridó
  Assim como a maioria dos municípios do sertão nordestino, o município de Carnaúba dos Dantas dispõe de rios e riachos intermitentes, dos quais o principal curso d'água é o rio Carnaúba. Com extensão aproximada de 50 km, nasce na Serra do Abreu (divisa entre os municípios de Carnaúba dos Dantas e Nova Palmeira - PB), e deságua no rio Acauã, sendo seus principais afluentes os riachos Olho d'Água, do Bojo, do Marimbondo, dos Currais, dos Tanques, o Riacho Fundo e o Riacho da Garganta.
Rio Carnaúba durante o período chuvoso
  Há ainda o rio da Cobra, que tem sua nascente na Serra Nova no sítio Lajedo e percorre mais de 20 quilômetros, correndo em direção ao município de Parelhas.
Vista panorâmica do Vale do Rio da Cobra
  O principal reservatório de armazenamento d'água é o açude Monte Alegre, situado no sítio do mesmo nome, cuja capacidade de acumulação é de 2,1 milhões de m³.
Açude Monte Alegre
FORMAÇÃO SÓCIO-POLÍTICA
  A existência de sítios arqueológicos em diversos pontos do município de Carnaúba dos Dantas indica que o seu território foi povoado há milhares de anos atrás. Pesquisas feitas com ossadas encontradas na Pedra do Alexandre, nas proximidades do povoado Ermo, indicam que grupos de caçadores-coletores já estavam na região há aproximadamente 9 mil anos atrás.
Pedra do Alexandre
  Esses grupos deixaram pinturas rupestres espalhadas em alguns abrigos situados sob o rio Carnaúba e seus afluentes, bem como alguns testemunhos de cultura material em alguns desses pontos. Outros grupos, posteriormente, deixaram incisões feitas em matacões e rochedos, localizados nos cursos d'água.
Inscrições rupestres localizadas no Sítio Xique-Xique
  As terras que hoje pertencem ao município de Carnaúba dos Dantas, foi requerida à Capitania da Paraíba entre as décadas de 10 e 20 do século XVIII por Luís Quaresma Dourado, onde essa sesmaria localizava-se no riacho Olho d'Água Grande (hoje riacho Olho d'Água), onde passou a criar seus gados. Posteriormente passou a administração dessas terras para Brás Ferreira Maciel - cuja permanência no riacho pode ser atestada pela memória toponímica: o Olho d'Água do Brás e a fazenda Brás, situados no riacho do Bojo, nas nascentes do riacho Olho d'Água.
Riacho Olho d'Água
  Quatro sítios faziam parte da Data de Terra do Riacho do Olho d'Água Grande: Riacho Fundo, Ermo, Carnaúba e Rajada. Esses sítios foram vendidos a Caetano Dantas Correia na segunda metade do século XVIII e que fizeram parte do seu patrimônio territorial. Caetano Dantas morava na sua fazenda Picos de Cima, nas margens do rio Acauã e situou quatro filhos com fazendas de criar gado ao longo do vale do rio Carnaúba, à medida que estes iam contraindo casamento.
Povoado Rajada
  Essas fazendas tiveram uma importância excepcional para o povoamento genealógico do rio Carnaúba pelos descendentes da família Dantas. As fazendas são:
1. Fazenda Carnaúba - localizada nas margens do rio Carnaúba entre as serras do Piauí e Marimbondo, foi edificada na segunda metade do século XVIII por Caetano Dantas Corrêa (o 2º), que casou com Luzia Maria do Espírito Santo e, após a morte desta, com Maria Pais do Nascimento.
Sítio Carnaúba de Baixo próximo do local onde ficava a Fazenda Carnaúba
2. Fazenda Xique-Xique - localizada nas margens do rio Carnaúba, foi edificada por Simplício Francisco Dantas no fim da segunda metade do século XVIII, o qual se casou três vezes: com Manuela Dornelles de Bittencourt, Ana Francisca de Medeiros e Rita Maria da Conceição.
Visão de parte do sítio Xique-Xique tendo ao fundo o Monte do Galo e o Bairro Dom José Adelino Dantas
3. Fazenda Cachoeira da Cruz - localizada nas margens do Riacho Fundo, foi edificada na segunda metade do século XVIII por Silvestre José Dantas, que contraiu matrimônio com Margarida Maria de Jesus.
 
Riacho Fundo - próximo do local onde funcionou a Fazenda Cachoeira da Cruz
4. Fazenda Ermo - localizada nas margens do rio Carnaúba, foi levantada na primeira década do século XIX por Alexandre José Dantas, que casou-se com Joana Francisca de São José.
 
Rio Carnaúba no povoado Ermo, nas terras onde funcionou a Fazenda Ermo
  Cada uma dessas fazendas foi sendo subdividida em pequenos sítios, ao passo que os filhos dos patriarcas iam casando e constituindo suas famílias. Um exemplo dessa fragmentação foi o surgimento do sítio Carnaúba de Cima, a partir da década de 1860, nas margens do rio Carnaúba. Esse sítio corresponde atualmente ao território urbano de Carnaúba dos Dantas. Ele fazia parte das terras de José Dantas Corrêa, filho de Caetano Dantas Corrêa (o 2º) e Luzia Maria do Espírito Santo.
 
Vista aérea da cidade de Carnaúba dos Dantas - erigida no local onde funcionou o sítio Carnaúba de Cima
  Dois filhos de José Dantas Corrêa e de Maria Rosa da Conceição constituíram família na década de 1860 e levantaram suas casas no território que hoje é ocupado pela cidade de Carnaúba dos Dantas: Antônio Dantas de Maria ou Rothéa, como era mais conhecido, e de Maria José de Jesus. A casa de Antônio Dantas Rothéa ficava onde hoje é a residência do ex-prefeito Valdemar Cândido, na rua José Matias. A casa de Maria José ficava aproximadamente no quarteirão da rua José Victor vizinho à atual Igreja de São José, próximo a um umbuzeiro, onde hoje fica o prédio da Telemar.

Centro Histórico na década de 1950. Foi nessa rua que começou o povoamento da zona urbana de Carnaúba dos Dantas.
  Sendo devoto de São José, Antônio Dantas recuperou um antigo desejo de criadores de gado do rio Carnaúba de erigir um templo dedicado àquele que é considerado o "santo protetor das chuvas".
  Em 1897, Antônio Dantas, junto com outras personalidades influentes da localidade, realizou a primeira feira do sítio, que durou até o início de 1898, sendo restabelecida em 1903, por Antônio Azevedo. No mesmo ano, ele doou com a esposa, Hermínia Maria da Conceição, uma faixa de terras ao patriarca São José, além de 100 mil réis em dinheiro e tijolos, tudo isto para a edificação de um templo religioso dedicado àquele santo.

Igreja de São José na década de 1950
  Antônio Dantas faleceu em 1898 e não pôde ver a edificação do santuário, mas o mesmo foi construído com o auxílio da população do sítio Carnaúba de Cima, tendo à frente o Coronel Quincó da Rajada e João Cândido de Medeiros. A capela foi benta no dia 19 de março de 1900, ocasião que fez o pequeno sítio passar ao status de povoação.
Vista panorâmica de Carnaúba dos Dantas
  Essa povoação foi elevada à condição de vila em 1938. O Decreto Estadual N° 603, de 31 de outubro de 1938, assinado pelo Interventor Rafael Fernandes, criou o Distrito de Carnaúba, com sede administrativa e judiciária na vila do mesmo nome, vinculado ao vizinho município de Acari. A vila foi elevada à condição administrativa de cidade com o título de Carnaúba dos Dantas em 11 de dezembro de 1953, por meio da Lei Estadual Nº 1.028, que também criou o município homônimo.
Povoação Carnaúba na década de 1920
ECONOMIA  
  A principal atividade econômica de Carnaúba dos Dantas é a produção de cerâmica vermelha, onde o município é um dos maiores produtores de telhas do estado do Rio Grande do Norte. As telhas produzidas em Carnaúba dos Dantas abastecem cidades do Rio Grande do Norte e de alguns estados nordestinos, principalmente Paraíba, Pernambuco e Alagoas.
Produção de telha em uma cerâmica no município de Carnaúba dos Dantas.
  A agricultura, que já foi a principal atividade econômica do município, hoje  representa uma atividade secundária para o município. A produção depende, em sua maior parte do regime de chuvas, onde é cultivado milho, feijão, melancia, jerimum e melão no sistema de subsistência.
  Nas áreas irrigadas e nas vazantes dos açudes, são cultivadas, além do milho e do feijão, a batata-doce, a mandioca e outros produtos como o tomate. Há também o cultivo de hortaliças, cuja produção é comercializada nas feiras do município e em municípios vizinhos.
Cultivo de milho em uma propriedade no município de Carnaúba dos Dantas
    Outra atividade bastante desenvolvida no município é a pecuária. Essa atividade foi a principal responsável pelo início do povoamento de Carnaúba dos Dantas. Destacam-se os rebanhos bovinos, caprinos, suínos, ovinos e a criação de frangos.
Monumento Alto do Vaqueiro - homenagem àqueles que ajudaram a povoar o município de Carnaúba dos Dantas.
  O comércio é bastante desenvolvido, com alguns supermercados de porte médio, além de vários mercadinhos. Há ainda várias lojas de eletrodomésticos, de calçados, roupas e produtos para presentes. Graças ao crescimento econômico do município, a atividade comercial tem contribuído bastante para a geração de emprego e renda.
Comércio popular no Bairro Dom José Adelino Dantas
  Nos últimos anos, o turismo tem contribuído bastante para o desenvolvimento econômico do município, graças às suas belezas naturais e materiais que Carnaúba dos Dantas possui. 
  O principais pontos turísticos do município são:
1. MONTE DO GALO
  Tido como o maior santuário religioso do Seridó paraibano e potiguar, o Monte do Galo foi inaugurado em 25 de outubro de 1928, com celebração de missa pelo padre Bianor Emílio Aranha, da Paróquia de Acari, que abençoou o seu cruzeiro. Tem como patrona Nossa Senhora das Vitórias e sua subida é feita através de uma via-sacra, inaugurada em 1957.
Topo do Monte do Galo
  A denominação desse lugar deriva de lendas muito antigas, que remontam ao início da colonização do vale do rio Carnaúba, as quais falam de um galo cantando em cima do Serrote Grande (como era então chamado o atual Monte do Galo), à época em que não existiam moradores por perto.
Uma multidão de pessoas se aglomeram ao lado do Cruzeiro, no topo do Monte do Galo na década de 1970.
  O cantar causou espanto nos vaqueiros da fazenda Baixa Verde, de propriedade do major Antônio Dantas Corrêa, a mais próxima do serrote. Outras lendas referem-se ao mesmo cantar do galo, porém, sendo ouvido pelos matutos e tropeiros que passavam pela região em épocas imemoriais.
  Pedro Alberto Dantas, um dos idealizadores do movimento de ereção do Cruzeiro do Monte do Galo, doou a imagem de Nossa Senhora das Vitórias em 1928, a qual se tornou padroeira do santuário e origem das constantes romarias e peregrinações. O Monte do Galo possui uma altura média de 155 metros.
Momento da inauguração do Cruzeiro do Monte do Galo, no dia 25 de outubro de 1928.
  As 14 estações da Via Sacra, dispostas nas escadarias do Monte do Galo, foram idealizadas por Dom José Adelino Dantas, na intenção de homenagear as principais famílias de Carnaúba dos Dantas e o patriarca e fundador da cidade, Caetano Dantas Correia.
Monumento do Galo em cima do Monte
  Em cima do Monte do Galo foi construída uma capela, que foi dedicada à padroeira do monte, Nossa Senhora das Vitórias.
Capela de Nossa Senhora das Vitórias, localizada no topo do Monte do Galo
  Nossa Senhora das Vitórias era a protetora especial de Pedro Alberto Dantas, vez que o mesmo foi curado por sua intercessão quando estava acometido de beribéri. Nessa época (início do século XX), Pedro Alberto Dantas trabalhava na extração de látex nos seringais da Amazônia.
Monumento em homenagem à Pedro Alberto Dantas
  A festa em homenagem à Nossa Senhora das Vitórias ocorre entre os dias 15 e 25 de outubro, período em que os carnaubenses ausentes, além de milhares de romeiros, visitam a cidade para prestarem homenagem à santa padroeira deste magnífico santuário.
Imagem de Nossa Senhora das Vitórias - padroeira do Monte do Galo
2. SERRA DA RAJADA
  Localizada no acesso principal da cidade, possui uma estrutura rochosa monolítica e abriga várias fontes de água em seu sopé. Guarda estórias lendárias, como a de um carneiro dourado que salta do cume da Serra da Rajada para a Serra do Marimbondo, e ainda a estória de um tesouro encrustado dentro da Serra.
Serra da Rajada sendo coberta por uma camada de névoa
3. PEDRA DO DINHEIRO
  Localizada na entrada da cidade, próximo ao Santuário de Santa Rita de Cássia, destaca-se tanto por sua forma e beleza como pela quantidade de lendas que tem gerado na imaginação popular. Diz a lenda que os antigos moradores da região viam à noite um carneiro de ouro encantado em cima da Pedra e que, ao redor dela, existem várias "botijas" enterradas. Nas décadas de 1960, 70 e 80, nos arredores da Pedra, houve uma grande exploração em busca de minérios.
Pedra do Dinheiro
4. PEDRA DE GAMBÃO
  Localizada no centro da cidade, o atrativo natural leva o nome do seu antigo morador, o senhor Hermes de Azevêdo Dantas (1933-1989), mais conhecido como Gambão. A grandeza do monolito se exterioriza na medida em que se reveste de uma singularidade tal, por estar localizado na área urbana. A beleza da rocha granítica também se dá por ser um ponto de onde pode observar parte da cidade, servindo de mirante para os que ali sobem.
Pedra de Gambão
  Anteriormente a pedra era conhecida como Serrote de Mamede, numa alusão ao também morador do local nos anos de 1950, Mamede de Azevêdo Dantas (1875-1956), coincidentemente, avô de Gambão.
5. CENTRO HISTÓRICO
  Localizado no largo das ruas José Matias, José Vítor, Simplício Dantas e Coronel Quincó, o espaço que rodeia a Igreja Matriz e a Praça São José e o Mercado Público, constitui o Centro Histórico de Carnaúba dos Dantas, vez que foi aí que se deu o surgimento do espaço urbano.
Galeria Descendência - localizada na "Casa dos Alberto" ao lado da Igreja Matriz de São José
  Conhecida como Rua da Igreja, suas edificações mostram uma miscelânea de vários estilos, do Clássico ao Neo-Gótico. Uma característica peculiar do Centro Histórico é que a maioria de suas casas são germinadas, ou seja, possuem paredes comuns com as demais, o que denota as relações de cumplicidade entre os vizinhos da antiga Carnaúba.
Centro Paroquial - localizado no Centro Histórico
6. HORTO FLORESTAL
  Foi construído na década de 1950, através da influência da escritora e poetisa Donatilla Dantas, com o nome de Bosque Presidente Café Filho, em homenagem ao então Presidente da República. Durante muito tempo, foi ponto de entrega de mudas de plantas nativas para cidades vizinhas e a comunidade local. Esse atrativo natural até alguns anos atrás funcionava como posto do IBAMA, recebendo recursos do Governo Federal. Atualmente encontra-se sob a administração da Prefeitura Municipal e serve como área de lazer.
Crianças participando de atividade recreativa no Horto Florestal
7. FUNDÕES
  Caracterizado pelas formações rochosas em relevo de altos e baixos ou planaltos e marcados por cachoeiras e cânions, é um dos mais belos espetáculos naturais do município. Nesse local podemos encontrar a Cachoeira dos Fundões.
Cachoeira dos Fundões
  Esta magnífica cachoeira é constituída por uma sequência de saltos (cinco no total), além de belíssimas "piscinas naturais", um bonito painel em um dos seus paredões onde estão incisas bonitas gravuras rupestres no estilo Itaquatiara.
Figuras rupestres localizadas nos Fundões
  A mesma está situada no médio Riacho do Bojo e fica a aproximadamente 6 quilômetros do centro da cidade de Carnaúba dos Dantas.
Cânion localizado nos Fundões
  No alto do Riacho do Bojo, vários cânions embelezam a paisagem, onde no período chuvoso se formam pequenas cachoeiras além de uma grande quantidade de paredões rochosos e de piscinas naturais.
Cânyons nos Fundões
8. CASTELO DI BIVAR
  De propriedade particular de José Ronilson Dantas, foi construído por volta de 1984 próximo ao rio Carnaúba, em uma colina às margens da RN-288. Trata-se da construção inacabada de um castelo erguido em pedras, com muros e muretas e cinco torres de formas arredondadas em estilo medieval. O proprietário pretende transformar o castelo em um templo espiritual de meditação.
Visão aérea do Castelo Di Bivar
  A origem do nome Bivar deve-se ao fato de o proprietário ter sido atraído pelo estilo medieval, após ter assistido ao filme "El Cid", que relata a vida de uma família nobre espanhola que residia em um castelo de nome "Bivar".
Castelo Di Bivar
9. IGREJA MATRIZ DE SÃO JOSÉ
  A história da Igreja Matriz dedicada à São José começa com a bênção de uma capela em honra a esse orago em 19 de março de 1900, através dos esforços de Antônio Dantas de Maria, João Cândido de Medeiros, o Coronel Quincó e o povo do sítio Carnaúba. A devoção a São José surgira de uma promessa feita por José Martins de Medeiros (pai do Coronel Quincó) nos anos 70 do século XIX, quando os sertões do Seridó foram acometidos de uma grande seca e morrinha de gados.
Missa na Igreja de São José em 1974
  José Martins prometera a são José que construiria uma capela em sua homenagem caso a seca e a mortandade, que tinham atingido os campos de sua fazenda, a Ramada, parasse, o que logo aconteceu. Ele, no entanto, não conseguiu em vida cumprir a promessa feita, apenas edificou uma casa, conhecida como Casa de São José, no território da Carnaúba de Cima, a qual caiu com uma tempestade em 1881.
Altar Mor da Igreja de São José
  Na citada casa, provavelmente se realizavam os cultos religiosos do sítio. Antônio Dantas de Maria (1845-1898) retomou a ideia e doou, junto com sua esposa, terra, tijolos, telhas e dinheiro para construir a capela, porém, morreu antes de vê-la em pé. Em 1909, o crescimento populacional do Povoado Carnaúba e redondezas obrigou a demolição do templo, sendo construída a atual igreja, aproveitando uma parte lateral da capela. A pedra fundamental foi benta em 1910 e a Igreja somente foi inaugurada oficialmente em 27 de abril de 1912, sem a torre. Esta, iniciada em 1913, foi benta em 1915. Em 1948 foi feito o acréscimo da sacristia e de capelas laterais.
Igreja de São José na década de 1940, onde vemos a construção dos fundos da Igreja
  Inicialmente pertencendo à Paróquia de Nossa Senhora da Guia, de Acari,a Paróquia de São José foi criada em 1996, desmembrada da anterior.
10. SANTUÁRIO DE SANTA RITA DE CÁSSIA
  Situado no sítio Marimbondo, sua história está associada à morte da senhora Joana Faustino da Silva, conhecida como Joana Turuba. Moradora da povoação de Carnaúba e acometida de bexiga braba (varíola) no ano de 1935, foi retirada da povoação de Carnaúba para o sopé da Serra do Marimbondo pelas autoridades locais, por medo do contágio. Ali, abraçada a um quadro de sua santa de devoção, Santa Rita de Cássia, morreu pelos efeitos da bexiga. Foi sepultada no mesmo local, em cova rasa, pois o terreno era pedregoso, colocando-se uma cruz para indicar o local da sepultura.
Santuário de Santa Rita de Cássia
  Tempos depois, as pessoas que transitavam pelas redondezas começaram a sentir forte cheiro de rosas e, desesperadas em suas situações de vida, começaram a rogar preces à alma de  Joana, as quais foram atendidas. Uma dessas pessoas, dona Josefa de Pedro Leandro, em agradecimento por uma graça alcançada, organizou a cova e deu início às romarias, colocando um quadro de Santa Rita de Cássia num nicho da sepultura. O movimento cresceu e em maio de 1987, através de doações de pessoas e devotos, foi iniciada a construção da capela, cujas paredes de alvenaria foram feitas em 1996.
Procissão rumo ao Santuário de Santa Rita de Cássia no ano 2000
11. MUSEU HISTÓRICO DE NOSSA SENHORA DAS VITÓRIAS
Artigos deixados pelos romeiros no Museu
  Construído em 06 de janeiro de 1974 por Antônio Felinto Dantas, na época tesoureiro do Monte do Galo, com peças doadas pela comunidade e por pessoas de outras regiões. As peças são objetos pessoais, oratórios, moedas, cerâmicas antigas, móveis, dentre outros. No ano de 1998, foi feita uma ampliação nas suas dependências.
Momento da inauguração do Museu Nossa Senhora das Vitórias em 1974. Nesta foto podemos observar, dentre outros, o Bispo Dom José Adelino Dantas e o maestro e compositor Felinto Lúcio Dantas.
12. MONUMENTO HISTÓRICO À CAETANO DANTAS CORREIA
  Localizado na Praça de Eventos, foi inaugurado em 19 de julho de 1957, em homenagem à Caetano Dantas Correia, patriarca e fundador da cidade. O monumento foi projetado por Ostélio Dantas, seus brasões foram fabricados em bronze, na região Sudeste.
Inauguração do Monumento à Caetano Dantas Correia em 1957
As inscrições, redigidas por Dom José Adelino Dantas, são as seguintes: "Ao Coronel de Milícias Caetano Dantas Correia, tronco dos Dantas do Seridó, que irmanados aos Azevêdos, povoaram estas terras e fundaram esta cidade. O povo de Carnaúba, ufano de tão inolvidáveis ascendentes, perpetua neste monumento o testemunho de sua homenagem e de seu culto".
Praça Caetano Dantas na década de 1970
13. GRUPO ESCOLAR CAETANO DANTAS
  Considerado pela poetisa Donatilla Dantas como a primeira casa de cultura oficial dos carnaubenses, começou a ser construído aproximadamente em meados de 1927, no governo de Juvenal Lamartine de Faria, já funcionando em 1928 com turmas regulares.
Crianças se preparando para receber a Primeira Eucaristia em frente ao Grupo Escolar Caetano Dantas, no ano de 1934, onde o mesmo ainda não havia sido inaugurado.
  Somente foi inaugurado em 1935, no governo do Interventor Mário Câmara e a conclusão de suas obras se deu com o auxílio da população local. Os primeiros professores foram o senhor Abílio César de Oliveira e a senhora Olímpia Dantas. A senhora Clívia Marinho Lopes, logo após a inauguração oficial, foi investida no cargo de diretora. No grupo escolar estudaram muitas gerações de carnaubenses.
Inauguração do Grupo Escolar Caetano Dantas no ano de 1934
  Durante muito tempo o prédio serviu de centro social da então Povoação e depois Vila de Carnaúba, onde eram realizadas reuniões, dramas, eleições, festas, bailes e outros eventos socioculturais. O prédio passou por quatro reformas e sua arquitetura é eclética, tendo a predominância de elementos Neoclássico.
Bailado realizado por alunas do Grupo Escolar Caetano Dantas no ano de 1939
  Hoje pertence à Rede Estadual de Ensino, com o nome de Escola Estadual Caetano Dantas. A arquitetura do prédio foi classificada pelo Projeto Inventário de uma herança ameaçada (UFRN) como sendo pertencente ao Ecletismo bolo-de-noiva.
Escola Estadual Caetano Dantas na atualidade
14. BIBLIOTECA PÚBLICA DONATILLA DANTAS
  Foi fundada em 21 de dezembro de 1947, através do esforço da escritora e poetisa Donatilla Dantas, a qual, mesmo distante, tinha preocupações com sua terra. Sua inauguração foi realizada no salão nobre do Grupo Escolar Caetano Dantas. Somente nos anos de 1950, passou a funcionar em prédio próprio.
Parte do Acervo da Biblioteca
  A biblioteca já abrigou um dos maiores acervos bibliográficos do Rio Grande do Norte, estando, hoje, em número reduzido. Conta com um rico acervo de autores brasileiros e mesmo internacionais, livros didáticos e paradidáticos, infanto-juvenis e uma edição original de Histórias sem Data, de Machado de Assis. Está vinculada à Fundação Cultural e Educativa Donatilla Dantas e é presidida pela senhora Maria Desidéria de Medeiros. Trata-se de um edifício pertencente ao Ecletismo, com predominância do Neoclássico.
Donatilla Dantas ladeada por sua prima Glorinha Dantas e sua sobrinha Maria Desidéria de Medeiros na década de 1950.
15. SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS
  Nove mil anos atrás. Essa é a data mais antiga, sustentada pelas pesquisas arqueológicas, para a presença de grupos humanos de caçadores-coletores na região, especificamente na Pedra do Alexandre, próxima ao Povoado Ermo.
Pedra do Alexandre ao fundo
  Esses grupos humanos tinham como uma de suas práticas culturais, o sepultamento em locais altos, na meia encosta das serras, onde, posteriormente, seus descendentes deixariam pintadas cenas do seu cotidiano em cores vivas e em traços entendíveis aos nossos olhos.
Sítio Xique-Xique I
  O patrimônio arqueológico de Carnaúba dos Dantas, que denuncia o cotidiano de homens e mulheres há milhares de anos atrás, está localizado em vários pontos do território municipal, geralmente nas proximidades dos vales cortados por rios e riachos: trata-se de sítios rupestres, líticos e cerâmicos que nos revelam alguns vestígios deixados pelos grupos humanos mais antigos da região, bem antes da chegada dos europeus nas terras do Novo Mundo.
Sítio Xique-Xique IV
  Existem entre 60 e 80 sítios arqueológicos rupestres em Carnaúba dos Dantas, situados nos vales do rio Carnaúba e riachos do Olho d'Água, do Bojo, do Cardão, dos Currais, das Pinturas, do Pote, do Marimbondo, do Balanço e de outros menores, além do Lajêdo e Areias da Cobra.
Furnas dos Cablocos - Sítio Lajêdo
  Nesses sítios não estão registrados apenas indícios de uma sociedade. Diversas culturas se mostram inscritas nas faces dos lajedos à beira dos cursos d'água e mesmo nas furnas e cavidades nas encostas das serras; as representações ali contidas nos fazem perceber desde cenas do cotidiano até os signos mais complexos de seu sistema de comunicação, pintados nas cores vermelha, amarela, branca e preta ou mesmo gravados na face dura da rocha. Os restos de lascamento e objetos polidos que afloram nos diversos terraços fluviais ao longo do rio Carnaúba e mesmo nos estratos dos sítios arqueológicos já escavados, tornam evidente a capacidade inventiva desses grupos de caçadores-coletores de manipularem os recursos naturais, através da tecnologia, transformando-os em artefatos.
Caverna no riacho Olho d'Água
  Foram encontrados ainda, artefatos feitos de barro transmutado na cerâmica em vários sítios, denunciando uma fase posterior - à transformação da pedra - de utilização e manejo da natureza. Os próprios ossos dessas pessoas se mostram para o presente como vestígios direto da prática de inumar os mortos em locais que tiveram suas paredes coloridas pelo pigmento fabricado a partir do óxido de ferro.
Casa Santa - Riacho do Bojo
VEJA MAIS FOTOS DE CARNAÚBA DOS DANTAS
Bairro Dom José Adelino Dantas
Zona urbana
Povoado Ermo
Capela São Francisco - povoado Ermo
Povoado Ermo
Vista panorâmica da cidade

Monte do Galo
Castelo Di Bivar
Sítios Arqueológicos
Açude Monte Alegre
Vale do Rio Carnaúba
Rio Carnaúba
Adicionar legenda
Paisagens Naturais
Paixão de Cristo
Fonte: MACEDO, Helder Alexandre Medeiros de. Apontamento geo-históricos sobre Carnaúba dos Dantas, 2010 (Digitado).

sexta-feira, 17 de junho de 2011

FMI REDUZ PROJEÇÃO DO PIB BRASILEIRO

FMI REDUZ PROJEÇÃO DO PIB BRASILEIRO, MAS VÊ 'AVANÇO ROBUSTO' NA AL
  Entre os maiores países emergentes, o Brasil foi o que registrou a maior revisão nas estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI) ao longo do segundo trimestre deste ano, com revisão na estimativa de crescimento de 4,5% para 4,1% em 2011 e de 4,1% para 3,6% em 2012. Segundo o economista-chefe e diretor do Departamento de Pesquisa do FMI, Olivier Blanchard, a revisão se deve ao fato de que alguns indicadores recentes de atividade vieram mais fracos do que o esperado em abril, quando foi divulgado o World Economic Outlook, em Washington.
  Em entrevista exclusiva à Agência Estado, em São Paulo, Blanchard acrescentou que a nova estimativa para o crescimento da economia brasileira também prevê que a política monetária terá que ser um pouco mais apertada. 'Isso vai resultar num crescimento mais fraco, e é uma das principais razões para a revisão', afirmou. Sobre a inflação no País, o economista-chefe do FMI não mostrou grande preocupação e previu que o IPCA irá retornar ao centro da meta, de 4,5%, em 2012. 'Poderia ser um problema, mas o Banco Central está bem ciente disso.'
  Questionado sobre alertas recentes feitos por economistas de mercado, como Nouriel Roubini, a respeito da possibilidade de um 'hard landing' da economia chinesa, Blanchard disse que sempre há alertas desse tipo sobre a China que acabam não se confirmando. 'É claro que pode ocorrer, e poderia ocorrer no futuro, mas não achamos que isso vá acontecer porque as autoridades chinesas já pisaram no freio muito fortemente', afirmou.
  Blanchard reconheceu que existe a possibilidade de os preços dos imóveis estarem muito elevados em alguns lugares da China, mas avalia que, mesmo que eles caiam muito, não haverá efeitos semelhantes à crise dos EUA. 'As pessoas não têm hipotecas na China. Alguns bancos poderão ter problemas, mas o Estado provavelmente irá ajudá-los a se capitalizarem. Portanto, estamos bastante otimistas com a China', garantiu o economista. Para este ano, Blanchard prevê expansão de 9,6% da economia chinesa, seguida de 9,5% em 2012.
AMÉRICA LATINA
  A revisão do relatório prevê um avanço 'robusto' do crescimento da América Latina e Caribe, que deve superar 4,6% em 2011 e 4,1% no próximo ano, e alerta para o risco de superaquecimento na região. 'A expansão tem sido mais forte na América do Sul, onde os preços altos de commodities e as boas condições de financiamento externo estão alimentando a demanda doméstica', afirma o relatório, divulgado hoje (17/06/2011), em São Paulo. 'O hiato do produto fechou na maior parte da região e começam a aparecer sinais de sobreaquecimento: a inflação está subindo, déficits de transações correntes estão aumentando e o crédito e preços de ativos estão crescendo rapidamente', diz o documento do FMI.
  No caso dos mercados emergentes, a aceleração da demanda, com maior consumo de alimentos e combustíveis, está pressionando os índices de preços para cima. As altas de preços, alerta o Fundo, estão aumentando o desafio de governos para conter a inflação e proteger os cidadãos mais pobres.
O FMI afirma que a inflação mundial acelerou de 3,5% no fim de 2010 para 4% entre janeiro e março deste ano, superando em 0,25 ponto porcentual o índice projetado em abril. Segundo o documento, isso se deve ao aumento acima do esperado nos preços das commodities, mas o FMI observa que o núcleo da inflação continua baixo nos EUA e Japão, e subiu apenas moderadamente na zona do euro.
ESTADOS UNIDOS
  O FMI está mais otimista em relação às perspectivas para as contas públicas dos Estados Unidos, apesar de ter reduzido a estimativa de crescimento do país para 2,5% em 2011, abaixo dos 2,8% estimados em abril. O Monitor Fiscal indica que o déficit nominal da maior economia do mundo deve alcançar 9,9% do PIB, ante a projeção anterior de 10,8%. De acordo com o FMI, as receitas oficiais estão mais fortes do que o esperado, enquanto as despesas ficaram menores do que fora projetado.
  Neste contexto, o FMI acredita que os EUA conseguirão atingir os objetivos fiscais de 2012 com esforços mais suaves na gestão das contas públicas. Contudo, o Fundo ressalva que, para assegurar uma trajetória fiscal sustentável, é urgente' obter um apoio político abrangente para implementar um conjunto balanceado de medidas específicas a fim de dar base a 'um plano de ajuste crível de médio prazo', com o apoio do Congresso, que tenha, entre seus objetivos, uma meta para o tamanho da dívida pública.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

AGROBUSINESS

  O campo vem se modernizando bastante nas últimas décadas. Tanto que alguns autores falam num "novo rural" brasileiro. Um dos destaques deste "novo rural", são os agrobusiness, os agronegócios ou, como preferem alguns, a agroindústria.
  O termo agrobusiness, designa toda uma cadeia de produção interligada de bens que dependem uns dos outros: desde produtos agrícolas (uva, soja, fumo, algodão, café, cana-de-açúcar, pecuária etc.), máquinas e equipamentos agrícolas industrializados (óleos, cigarros, tecidos, vinho, café solúvel etc.).
  Como se percebe, não se trata de um setor apenas rural, e muito menos agrário, mas de um complexo que envolve atividades urbanas e rurais interligadas. Uma subordinação do campo à cidade ou, uma modernização do campo. A atividade básica do agrobusiness é a agropecuária, mas uma agropecuária modernizada, com elevada produtividade da terra, fruto da aplicação de uma tecnologia avançada (correção de solos, aprimoramento em laboratórios de raças de animais ou de cultivos) e de forte investimento de capitais.
Produtor realizando o processo de calagem em Goiás
  O grande destaque do agrobusiness brasileiro tem sido a soja, um produto que antes era importado e hoje representa mais de 10% das exportações rurais brasileira. O Brasil virou o maior exportador mundial de soja, desbancando os Estados Unidos.
Plantação de soja no oeste da Bahia
  A viabilidade da soja no Brasil, especialmente na região do cerrado (Mato Grosso, Goiás, Mato Grosso do Sul, oeste da Bahia, parte de Minas Gerais, sul do Piauí e Maranhão), foi resultado de décadas de pesquisas para a correção dos solos tidos como pobres, para o aprimoramento da planta e das técnicas de produção. A soja está ligada a toda uma cadeia que vai da grande produção de máquinas, tratores e instrumentos agrícolas até as indústrias do farelo e do óleo de soja.
 Grãos de soja
  Outro setor da agroindústria que se expandiu e continua a crescer é o da fabricação de vinhos, especialmente no Rio Grande do Sul (região serrana ao redor de Bento Gonçalves e região fronteiriça com o Uruguai) e no Vale do São Francisco, entre Pernambuco e Bahia. Outros setores importantes do agronegócio brasileiro são a produção de carnes e derivados (salsichas, patês, salames, produtos de couro, de ossos ou de chifres etc.), de álcool combustível, de algodão e tecidos e de café e derivados.
 Cultivo de uva em Juazeiro - BA
  O Brasil tem excelentes condições, que nenhum outro país tem na mesma proporção, de expandir seu agrobusiness, como: enorme disponibilidade de terras agricultáveis ainda não aprovietadas; a incrível disponibilidade de água, elemento básico na agropecuária - que é a atividade econômica que mais utiliza água; possui uma tecnologia apropriada - o país desenvolveu e continua a desenvolver inúmeras tecnologias inovadoras nesse campo, desde o álcool como combustível até a correção dos solos do cerrado, passando pelo biodiesel, pela criação por meio da engenharia genética de novas espécies de plantas ou de aves (como o chester) etc.
Criação de chester em Santa Catarina
Fonte: VESSENTINI, José William. Geografia: o mundo em transformação. 1ª edição. Editora Ática: São Paulo, 2009.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

CRESCIMENTO POPULACIONAL OU DEMOGRÁFICO

  Segundo a ONU, do início dos anos 1970 até 2009, o crescimento da população mundial caiu para 1,2% ao ano, o número de mulheres em idade reprodutiva que utilizam algum método anticoncepcional aumentou de 10% para 62% e o número médio de filhos por mulher (taxa de fecundidade) caiu de 6 para 2,6. Ainda assim, esse rítmo continua elevado e, caso se mantenha, a população do planeta saltará de 6,8 bilhões em 2009, para 9 bilhões em 2050.
  Os países pobres e emergentes abrigavam 5,6 bilhões de pessoas em 2009 e, em 2050, deverão ter 7,9 bilhões. Já nos países desenvolvidos o crescimento nesse mesmo período será bem menor, com a população absoluta aumentando de 1,23 para 1,28 bilhão de pessoas e, caso não se considerasse o ingresso de imigrantes, haveria redução para 1,5 bilhão.
Mapa da taxa de fecundidade dos países
  À medida que a população mundial aumentou 2,5 bilhões em 1950 para 6,7 bilhões em 2008, a proporção dos que vivem nos países pobres e emergentes da África, Ásia e América Latina aumentou de 68% para mais de 80%. Na China e na Índia, respectivamente com mais de 1,3 e 1,2 bilhão de habitantes em 2009, vivem aproximadamente 37% da população mundial. Já a proporção das pessoas que vivem nos países desenvolvidos diminuirá de 18% em 2009 para 14% em 2050 por causa da redução do seu ritmo de crescimento vegetativo. Em contrapartida, a população africana, que representava 9% da população mundial em 1950, deverá representar 21% em 2050.
Mapa da projeção de crescimento populacional
  O crescimento demográfico de uma determinada área, está ligada a dois fatores: ao crescimento natural e à taxa de migração.
  O primeiro, também denominado crescimento vegetativo, corresponde à diferença entre nascimentos (natalidade) e óbitos (mortalidade) verificada numa população; o segundo é a diferença entre a entrada e a saída de pessoas da área considerada.  Tendo como referência essas duas taxas, o crescimento populacional poderá ser positivo ou negativo.
  Desde a antiguidade, o crescimento populacional é tema de reflexão para muitos estudiosos que se preocupam com o equilíbrio entre a organização da sociedade, a dinâmica demográfica e a exploração dos recursos naturais.
  Na Grécia Antiga, Platão e Aristóteles advertiram que não seria possível aumentar as áreas de cultivo na mesma velocidade do crescimento populacional, o que tenderia a aumentar os níveis de pobreza e a escassez de alimentos ao longo das sucessivas gerações.
Platão
  Somente a partir do século XVIII, com o desenvolvimento do capitalismo, o crescimento populacional passou a ser estudado como um fato positivo, uma vez que, quanto mais pessoas houvesse, mais consumidores também haveria. Nessa época, foi publicada a primeira teoria demográfica de grande repercussão, formulada pelo economista inglês Thomas Robert Malthus (1766-1834).
TEORIA MALTHUSIANA
Thomas Robert Malthus - criador da Teoria Malthusiana
  Em 1798, Malthus publicou seu Ensaio sobre a população, no qual desenvolveu uma teoria demográfica que se apoiava basicamente em dois postulados:
1º - Se não ocorrerem guerras, epidemias, desastres naturais etc., a população tenderia a duplicar a cada 25 anos. Cresceria, portanto, em progressão geométrica (2, 4, 8, 16, 32...) e constituiria um fator variável, que aumentaria sem parar.
2° - O crescimento da produção de alimentos ocorreria apenas em progressão aritmética (2, 4, 6, 8, 10...) e possuiria certo limite de produção, por depender de um fator fixo: a própria extensão territorial dos continentes.
  Ao considerar esses dois postulados, Malthus concluiu que o ritmo de crescimento populacional seria mais acelerado que o da produção de alimentos. Previu também que um dia as possibilidades de aumento da área cultivada estariam esgotadas, pois todos os continentes estariam plenamente ocupados pela agropecuária e, no entanto, a população mundial ainda continuaria crescendo. A consequência disso, seria a falta de alimentos para abastecer as necessidades de consumo do planeta, ou seja, a fome.
  Para evitar esse flagelo, Malthus, que além de economista era pastor da Igreja Anglicana, na época contrária aos métodos anticoncepcionais, propunha que as pessoas só tivessem filhos se possuíssem terras cultiváveis para poder alimentá-las.
Para Malthus, a fome está relacionada ao crescimento populacional
  Hoje, verifica-se que suas previsões não se concretizaram: a população do planeta não duplicou a cada 25 anos, e a produção de alimentos aumentou graças ao desenvolvimento tecnológico. Mesmo que se considere uma área fixa de cultivo, a quantidade produzida aumentou, uma vez que a produtividade  também vem crescendo ao longo das décadas.
Modernização do campo - um dos fatores que contrapôs a teoria de Malthus
  Essa teoria, quando foi elaborada, parecia muito consistente. Os erros de previsão estão ligados principalmente às limitações da época para a coleta de dados, já que Malthus tirou suas conclusões partindo da observação do comportamento demográfico em uma determinada região, com população predominantemente rural, e as considerou válidas para todo o planeta no transcorrer da História. Não previu os efeitos decorrentes da urbanização na evolução demográfica e do progresso tecnológico aplicado à agricultura.
Urbanização - foi outro fator que Malthus não levou em conta na sua teoria
  Desde que Malthus apresentou sua teoria, são comuns os discursos que relacionam de forma simplista a ocorrência da fome no planeta ao crescimento populacional. Mais da metade da população mundial passa fome, ou está subnutrida, mas isso é resultado da má distribuição da renda e não da carência na produção de alimentos.
TEORIA NEOMALTHUSIANA
  Em 1945, com o término da Segunda Guerra Mundial, foi realizada a Conferência de São Francisco (realizada nessa cidade, que fica nos Estados Unidos), na qual foi criada a ONU (Organização das Nações Unidas). Na ocasião, foram discutidas estratégias de desenvolvimento, para evitar a eclosão de um novo conflito militar em escala mundial. Havia apenas um ponto de consenso entre os participantes: a paz depende da harmonia entre os povos e, portanto, da diminuição das desigualdades econômicas no planeta. Assim sendo, como explicar e, mais difícil ainda, enfrentar a questão da miséria nos países pobres, na época, chamados de subdesenvolvidos?
Conferência de São Francisco - realizada em abril de 1945 nos Estados Unidos
  Esses países buscaram identificar a raiz de seus problemas na colonização de exploração realizada em seus territórios e na desigualdade das relações comerciais que caracterizaram o colonialismo e o imperialismo. Por isso, passaram a propor amplas reformas nas relações econômicas, em escala planetária, que diminuiriam as vantagens comerciais, o fluxo de capitais e a evasão de divisas dos então chamados países subdesenvolvidos em direção aos desenvolvidos.
Pobreza - afeta grande parte dos países subdesenvolvidos
  Nesse contexto histórico, foi formulada a teoria demográfica neomalthusiana, uma tentativa de explicar a ocorrência da fome e do atraso em muitos países. Essa teoria era defendida por setores da população e dos governos dos países desenvolvidos - e por alguns setores dos países em desenvolvimento - com o intuito de esquivarem das questões socioeconômicas centrais.
  Segundo essa teoria, uma numerosa população jovem, resultante das elevadas taxas de natalidade e que eram verificadas em quase todos os países pobres, necessitaria de grandes investimentos sociais em educação e saúde. Com isso, sobrariam menos recursos para serem investidos nos setores agrícolas e industrial, o que impediria o pleno desenvolvimento das atividades econômicas e, consequentemente, da melhoria das condições de vida da população. Ainda segundo os neomalthusianos, quanto maior o número de habitantes de um país, menor a renda per capita e a disponibilidade de capital a ser distribuído pelos agentes econômicos.
Pobreza - para os neomalthusianos é uma das consequências do acelerado crescimento populacional
  Verifica-se que essa teoria, embora com postulados diferentes daqueles utilizados por Malthus, chega à mesma conclusão: o crescimento populacional é o responsável pela ocorrência da pobreza. Seus defensores passaram a propor programas de controle de natalidade nos países pobres e emergentes mediante a disseminação de métodos anticoncepcionais. Era uma tentativa de enfrentar problemas socioeconômicos com programas de controle da natalidade e de acobertar os efeitos danosos dos baixos salários e das péssimas condições de vida - serviços de educação e saúde precários - que vigoram naqueles países, com base apenas em uma argumentação demográfica. Além do mais, afirmar que naquela época, os chamados países subdesenvolvidos desperdiçavam em investimentos sociais um dinheiro que deveria ser destinado ao setor produtivo é uma conclusão bastante simplista.
Política do Filho Único na China - uma proposta inspirada na teoria neomalthusiana
TEORIA REFORMISTA OU MARXISTA
  Na mesma Conferência de São Francisco, representantes dos países então chamados subdesenvolvidos elaboraram a teoria reformista, que chega a uma conclusão inversa à das duas outras teorias demográficas já mencionadas.
  Uma população jovem numerosa, em virtude de elevadas taxas de natalidade, não é causa, mas consequência do subdesenvolvimento. Em países desenvolvidos, com elevado padrão de vida da população, o controle da natalidade foram passados espontaneamente de uma geração a outra ou, à medida que foram se alterando os modos de vida e os projetos pessoais dos membros das famílias, as quais, em geral, passaram a ter menos filhos ao longo do século XX. Uma população jovem numerosa, só se tornou empecilho ao desenvolvimento das atividades econômicas nos países subdesenvolvidos porque não foram realizados investimentos sociais, principalmente em educação e saúde. Mais pessoas com acesso à educação e com renda significa um maior mercado consumidor, o que estimula o desenvolvimento econômico.
Karl Marx - suas ideias inspiraram os defensores da teoria reformista
  A falta de investimentos em educação gerou um imenso contingente de mão de obra sem qualificação, que continuamente ingressa no mercado de trabalho, além de muitos que não conseguem uma vaga e sobrevivem do subemprego. Tal realidade tende a rebaixar o nível médio da produtividade por trabalhador, assim como os salários dos que estão empregados, e a empobrecer enormes parcelas da população desses países. É necessário o enfrentamento, em primeiro lugar, das questões sociais e econômicas para que a dinâmica demográfica entre em equilíbrio.
Subemprego - uma das consequências da falta de investimentos em educação
  Para os defensores da corrente reformista, a tendência de controle espontâneo da natalidade é facilmente verificável ao se comparar a taxa de natalidade entre as famílias pobres e as de maior poder aquisitivo. À medida que as famílias melhoram suas condições de vida - educação, assistência médica, acesso à informação etc. - permitindo uma diversificação dos projetos pessoais de seus membros, elas tendem a ter menos filhos.
Para os reformistas, a elevada taxa de natalidade é decorrente da falta de investimentos em  educação
  Quando o cotidiano familiar transcorre em condições de extrema pobreza e as pessoas não têm consciência das determinações econômicas e sociais às quais estão submetidas, vivendo de subempregos, em submoradias e subalimentadas, como esperar que elas tenham acesso à informação e assistência de saúde para poderem planejar o número de filhos que desejam?
Subdesenvolvimento - para os reformistas é uma consequência da exploração dos países desenvolvidos nos países subdesenvolvidos
  Enfim, a teoria reformista é a mais realista dentre as três, por analisar os problemas econômicos, sociais e demográficos de forma sensata, partindo de situações concretas do dia a dia das pessoas.
TEORIA ECOMALTHUSIANA
  Essa teoria é uma corrente gerada a partir da teoria neomalthusiana que relata os prejuízos nos recursos naturais a partir do grande crescimento populacional. De acordo com os seguidores dessa teoria, o rápido crescimento populacional provoca a remoção de recursos naturais de seu devido lugar, trazendo em curto e em longo prazo, grandes problemas ambientais.
Desmatamento e queimadas - dois graves problemas ambientais que destroem os recursos naturais do planeta
  A maior biodiversidade do planeta está concentrada na zona intertropical, local onde se concentra os países mais pobres. Dessa forma, o desmatamento ocorrido pelo crescimento dessas localidades devasta de forma irreversível os recursos naturais. Existem regiões onde o ecossistema é frágil, o que evidencia a necessidade de cuidados especiais em tais localidades. Porém, o crescimento demográfico desses locais pressiona fortemente o sistema natural.
Florestas - locais de maior biodiversidade do planeta
  O controle populacional é a forma de preservação apresentada por seguidores dessa teoria. É importante evidenciar que não se deve responsabilizar a pobreza pela degradação ambiental e sim a falta de planejamento e estrutura para alojar as pessoas. Deve-se buscar formas de viver sem devastar o meio ambiente e encontrar outras de conscientizar a população sobre a sua importância e os danos provocados pela devastação da mesma.
Fonte: SENE, Eustáquio de. Geografia geral e do Brasil, volume 3: espaço geográfico e globalização: ensino médio/Eustáquio de Sene, João Carlos Moreira. - São Paulo: Scipione, 2010.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

A ESTRUTURA FUNDIÁRIA DO BRASIL E OS CONFLITOS NO CAMPO

  Denomina-se estrutura fundiária a forma como as propriedades agrárias de uma área ou país estão organizadas, isto é, tamanho e distribuição social.
  Um dos grandes problemas agrários do Brasil é a sua estrutura fundiária, na qual existe uma grande concentração da propriedade. A maior parte das terras ocupadas e os melhores solos encontram-se nas mãos de pequeno número de proprietários - os latifundiários -, muitas vezes com enorme áreas ociosas, não utilizadas para a agropecuária, apenas à espera de valorização, ao passo que um imenso número de pequenos proprietários possui áreas ínfimas - os chamados minifúndios -, insuficientes para garantir-lhes, e as suas famílias, um nível de vida decente e com boa alimentação.
Área de fronteira agrícola
  Essa concentração da propriedade fundiária tem aumentado muito ao longo dos anos, principalmente a partir de 1970, quando começou a ocorrer uma expansão das "fronteiras agrícolas" (faixa de terras cultivadas ou aproveitadas pela pecuária) do país em direção à Amazônia, com a ocupação de terras devolutas (espaços desocupados do ponto de vista jurídico, isto é, sem título de propriedade. Essas terras nem sempre são desabitadas ou vagas, pois é comum haver nelas posseiros ou até indígenas) para a derrubada da mata e o estabelecimento da lavoura e da pecuária.
Pequena propriedade rural
  Em boa parte, essa ocupação da terra é apenas formal, com a empresa (às vezes, uma multinacional) conseguindo o título de propriedade da área e deixando-a ociosa à espera de valorização. Mas essa expansão das áreas ocupadas pela agropecuária acabou agravando ainda mais o problema da estrutura fundiária, já que o tamanho médio das propriedades que ocupam a maior parte das novas terras é enorme, constituindo novos latifúndios.
Colheita de soja em uma empresa agrícola
  Esse agravamento também prejudica a produção de alimentos, porque as grandes propriedades se voltam mais para os gêneros agrícolas de exportação, enquanto as pequenas e médias propriedades produzem, geralmente, para abastecer o mercado interno. A concentração ainda maior da estrutura fundiária explica a queda da produção de alguns gêneros alimentícios básicos e o crescimento de produtos agrícolas de exportação.
A QUESTÃO DA REFORMA AGRÁRIA
  Desde os anos 1950, discute-se no Brasil a reforma agrária, que consiste em uma redistribuição das propriedades do meio rural, em uma melhor distribuição da terra. De forma genérica, a reforma agrária é uma mudança na estrutura fundiária do país efetuada pelo Estado, que desapropria grandes fazendeiros com propriedades improdutivas e distribui lotes de terras a famílias camponesas. Uma melhor distribuição social da propriedade rural é algo fundamental para o desenvolvimento econômico e social de uma nação.
  A atual situação fundiária do Brasil, com grandes propriedades improdutivas, milhares de camponeses sem-terra e grande pobreza no campo, além dos conflitos pela terra, comuns no Brasil, é desastrosa para a maioria da população e para a imagem do Brasil no exterior. Além disso, é comum existirem períodos de falta de gêneros agrícolas para a alimentação e os preços de certos produtos agropecuários tornarem-se proibitivos para amplas parcelas da população.
  Ao mesmo tempo, existem enormes extensões de terras férteis que têm dono e não são utilizadas produtivamente. O desperdício e a subutilização convivem lado a lado com a miséria dos pequenos agricultores e dos trabalhadores agrícolas.
  A reforma agrária, em síntese, deve visar resolver o problema dos camponeses sem-terra e da pobreza no campo, assim como o abastecimento alimentar para a maioria da população. Ela deve promover a justiça social. Mas não pode consistir somente na desapropriação de certas áreas para redistribuição, pois, sem outras condições complementares - crédito bancário facilitado, preços mínimos para certos produtos agrícolas, garantia de transporte, incentivos à modernização das técnicas etc. -, corre-se o risco de fracasso total.
  Em muitos exemplos de distribuição de lotes de terras a famílias camponesas, especialmente na Amazônia, após alguns anos, o pequeno proprietário vendeu sua terra para grandes empresas ou fazendeiros, partindo em busca de novas terras, ainda mais longe, ou trabalhando como assalariado. Isso porque não dispôs das condições citadas. Sem crédito bancário, sem sementes, sem compradores com preços razoáveis e até sem transporte, somando a isso tudo o fato de que, na Amazônia os solos são pobres e podem se esgotar em poucos anos, o pequeno proprietário tem de vender sua terra para sustentar a família. Assim, uma reforma agrária deve ter em conta todos esses aspectos, pois não se trata apenas de redistribuição da terra rural, mas também de uma reforma da política agrícola.
   Apesar de ser intensamente discutida e de terem sido criados órgãos governamentais que deveriam implementá-la, a reforma agrária nunca foi amplamente executada de forma parcial. Uma evidência da falta de uma ampla reforma agrária encontra-se na persistência da enorme concentração na propriedade fundiária. Desde meados dos anos 1990, o Governo Federal vem tentando expandir a reforma agrária no país. Mas as dificuldades para isso são enormes. Uma delas é que existem fortes interesses contrários dos grandes proprietários rurais. Esses proprietários formam lobbies ou grupos de pressão para convencer os políticos e abortam as tentativas de mudanças na legislação que procuram facilitar a desapropriação de terras.
  Também existem dificuldades jurídicas: em muitos casos, os proprietários ganham na justiça indenizações milionárias ou até bilionárias, várias vezes acima do preço de mercado dos imóveis, como pagamento de suas terras desapropriadas. Isso ocorre por causa da corrupção ou dos interesses comuns entre os proprietários e determinados funcionários do Incra encarregados de avaliar o imóvel, que exageram o seu valor na medida em que, por vezes, negociam uma comissão para isso, e eventualmente alguns juízes, que, por diversos motivos, dão sentenças favoráveis a essas indenizações abusivas.
  Mas talvez o grande impedimento para uma ampla e generalizada reforma agrária no Brasil seja o custo de manter os assentados. Uma reforma agrária bem-feita não consiste apenas em desapropriar terras improdutivas e distribuí-las para os trabalhadores rurais. Se fosse apenas isso, seria bem menos complicado: consistiria tão somente em detectar as terras improdutivas, desapropriá-las e distribuí-las entre os camponeses sem-terra, pessoas que têm uma vocação para o trato com a terra e alguma experiência nessa atividade. Esta distribuição também não é algo fácil, pois existe um grande número de oportunistas que se misturam aos verdadeiros camponeses, de pessoas que não têm o menor interesse em trabalhar a terra, mas apenas pretendem vendê-la rapidamente para conseguir algum lucro.
  Algumas organizações de sem-terra até mesmo incentivam a vinda de pessoas sem vocação nem experiência no trabalho rural, principalmente desempregados, que existem aos milhões nas cidades, para engrossar suas fileiras. Isso porque, com um maior número de pessoas, elas podem promover manifestações mais ruidosas e conseguir, assim, uma maior cobertura da mídia, o que garantirá a continuidade das verbas ou auxílios que recebem de algumas ONGs (Organizações Não-Governamentais) dos países ricos ou, às vezes, até do Banco Mundial.
  Para custear os assentamentos é preciso haver financiamento com juros baixíssimos para a compra de adubos, sementes, eventualmente máquinas etc. Os assentamentos precisam de estradas e caminhões para escoar a produção, precisam de garantias de um preço mínimo para cada produto que cultivam etc., e isso tudo é extremamente custoso. Foi por falta dessas condições que vários projetos de reforma agrária fracassaram no Brasil, especialmente na Amazônia, onde, após alguns anos, os assentados venderam suas terras para grandes proprietários por não conseguirem sustentar a família com essa atividade.
Fonte: VESSENTINI, José William. Geografia: o mundo em transformação. 1ª edição. Editora Ática: São Paulo, 2009.

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