terça-feira, 14 de abril de 2015

OS MANANCIAIS E A EXPANSÃO DAS CIDADES

  Os mananciais são as nascentes abastecedoras naturais de água doce, que se originam de lençóis subterrâneos e de cursos d'água superficiais, como córregos, rios, lagos, represas e lençóis freáticos. As áreas de mananciais devem ser protegidas por meio da conservação da sua paisagem vegetal e da proibição de construções, que podem poluir a água e comprometer sua qualidade. Esse fato exige mais gastos com o tratamento de água para que ela possa ser distribuída para a população.
    A ocupação desordenada das margens dos rios (construção de moradias irregulares, prédios, avenidas) contribui para o acúmulo de lixo, o despejo de esgoto - muitas vezes sem tratamento -, o aterramento de parte do rio, a alteração do seu leito e a canalização das suas águas.
Nascente do rio Tietê, em Salesópolis - SP
  Com os baixos salários, o custo alto dos aluguéis em regiões mais centrais das grandes cidades e a falta de políticas habitacionais adequadas, as pessoas mais pobres são forçadas a ocupar e construir moradias em locais mais distantes do centro, nas periferias. Muitas vezes, nesses locais estão as áreas de mananciais. Na Grande São Paulo, mais de 1,6 milhão de pessoas moram em áreas de mananciais.   Como consequência, podem ocorrer a erosão e o assoreamento do rio, enchentes e poluição. Com isso, a disponibilidade de água de boa qualidade fica cada vez mais reduzida, exigindo investimentos cada vez maiores para o seu tratamento.
Rio Paraíba do Sul, em Barra Mansa - RJ
  Para cumprir sua função, um manancial precisa de cuidados especiais, garantidos nas chamadas leis estaduais de proteção a mananciais. Nessas regras, o ponto principal é evitar a poluição das águas. A expansão das grandes cidades provocou a poluição e, muitas vezes, a morte de rios, além da desconfiguração natural dos mesmos por meio de canalização. Um desses exemplos é o rio Tietê, que corta a cidade de São Paulo e boa parte do interior paulista.
  O rio Tietê sempre foi um rio de meandros e para a construção das avenidas marginais na cidade de São Paulo, foi preciso mudar o seu curso natural e realizar a sua canalização. Com a impermeabilização do solo, grande parte da precipitação que cai na capital paulista corre imediatamente para as galerias pluviais e dali para os córregos que as conduz para o Tietê, que não consegue absorver toda essa água e acaba transbordando, provocando alagamentos e trazendo prejuízos e transtornos para a população que mora próximo ao rio.
Rio Tietê, em São Paulo - SP
  A partir da década de 1970, a cidade de São Paulo começou a se expandir em direção à represa de Guarapiranga, situada na Região Metropolitana de São Paulo, com milhares de ocupações clandestinas que despejam esgoto no manancial sem nenhum tratamento.
  A represa de Guarapiranga, responsável pelo abastecimento de mais de 4 milhões de pessoas, é o manancial mais ameaçado da Região Metropolitana de São Paulo. Poluída pelo esgoto de loteamentos irregulares e favelas, a represa sofreu com a explosão demográfica, provocando a elevação nos custos para o tratamento e, consequentemente, no preço da água destinada ao consumidor.
  Na década de 1980, a presença de algas foi registrada nas águas, que indicam a grande quantidade de material orgânico na represa. O excesso de poluição tem aumentado a quantidade de plantas aquáticas, cujo impacto incide na qualidade da água e no assoreamento da represa.
Represa Guarapiranga, em São Paulo - SP
  Outro reservatório que vem sofrendo com a poluição decorrente do crescimento desordenado da Grande São Paulo é a represa Billings, um dos maiores e mais importantes reservatórios de água da Região Metropolitana de São Paulo.
  A represa foi idealizada nas décadas de 1930 e 1940 pelo engenheiro Billings, um dos empregados da extinta concessionária de energia elétrica Light. Inicialmente, a represa tinha o objetivo de armazenar água para gerar energia elétrica para a usina hidrelétrica Henry Borden, em Cubatão.
  Em função do elevado crescimento populacional e industrial da Grande São Paulo ter ocorrido sem planejamento, principalmente ao longo das décadas de 1950 e 1970, a represa Billings possui trechos poluídos com esgotos domésticos, industriais e metais pesados.
Represa Billings, cruzando a Rodovia dos Imigrantes, em São Bernardo do Campo - SP
  O rio das Velhas está localizado no estado de Minas Gerais e corta grande parte da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Boa parte do seu volume de água é captado na Estação de Tratamento de Água de Bela Fama. Recebe uma grande quantidade de esgoto através de afluentes como o Ribeirão das Arrudas e o Ribeirão da Onça, que atravessam a cidade de Belo Horizonte. A degradação ambiental faz com que o rio das Velhas se apresente em seu trecho mais conhecido como um rio de águas avermelhadas (em grande parte devido à presença de minério de ferro no solo da região), barrentas, extremamente poluído e assoreado. Praticamente não há vida nas águas do rio ao longo desse trecho.
Rio das Velhas, em Santa Luzia - MG
  A represa de Várzea das Flores é um importante reservatório de abastecimento de água para os municípios de Betim, Contagem e Belo Horizonte. Essa represa recebe esgoto de casas de seu entorno. O local, devido à sua beleza natural, é utilizado pela população como área de lazer para pesca e banhos. Ao mesmo tempo, pessoas de melhor poder aquisitivo, têm adquirido as áreas no entorno para residências e atividades voltadas ao lazer, provocando o parcelamento de áreas - antigamente constituída por grandes fazendas - e, consequentemente, a execução de obras que provocam desmatamento e movimento de terra.
Represa Várzea das Flores, entre os municípios de Betim e Contagem - MG
  O rio Piracicaba é o maior afluente em volume de água do rio Tietê. É também um dos mais importantes rios paulistas e responsável pelo abastecimento da Região Metropolitana de Campinas e parte da Grande São Paulo.
  O rio Piracicaba foi utilizado como rota fluvial de acesso ao Mato Grosso e Paraná no século XVIII, provocando a fundação de cidades, como Piracicaba. Ao longo dos séculos XIX e XX, foi utilizado como rota de navegação de pequenos vapores e fonte de abastecimento de engenhos e fazendas de café e cana-de-açúcar.
  Por volta de 1960, o governo paulista decidiu reforçar o abastecimento de água da Região Metropolitana de São Paulo, construindo diversas represas nas nascentes da bacia hidrográfica do Piracicaba, formando assim, o Sistema Cantareira, maior responsável pelo abastecimento de água de São Paulo, que capta e desvia água dos formadores do rio, reduzindo o nível da água e de seus afluentes.
Reservatório Paiva Castro, do Sistema Cantareira, em Mairiporã - SP
  Por volta de 1980, a industrialização e metropolização da Região Metropolitana de Campinas provocou uma crescente contaminação das águas do rio Piracicaba, fazendo com que esse rio se tornasse um dos mais contaminados do Brasil. A água desse rio e de seus afluentes fica poluída depois de passar na área de grandes cidades, como Campinas, Limeira e Piracicaba, provocando racionamento e rodízios de água nas cidades no qual ele corta.
Rio Piracicaba, em Piracicaba - SP
  Apesar de ser conhecida como a "Veneza brasileira", Recife sofre com o problema da falta de água. Como a capital pernambucana não tem rios permanentes capazes de fornecer água para seus habitantes, a cidade retira esse precioso líquido dos lençóis subterrâneos. O problema é que boa parte dessas reservas está comprometida. Primeiro, pela grande quantidade de esgoto não coletado, que se infiltra no solo e polui os lençóis freáticos. Segundo, a superexploração contribui para baixar o nível dos reservatórios, deixando a água com muito sal e prejudicando o consumo.
  Recife é cortado por vários rios, com destaque para os rios Capibaribe e Beberibe. O rio Capibaribe divide a área central de Recife, e encontra-se bastante degradado pelo assoreamento e pela poluição devido a dejetos de matadouros, lixões e esgotos urbanos e industriais. O rio Beberibe é a divisa natural entre as cidades de Olinda e Recife, e como grande parte dos seus afluentes na Grande Recife cortam zonas de extrema pobreza, desagua trazendo grandes quantidades de poluição.
Confluência entre os rios Beberibe e Capibaribe, em Recife -PE
FONTE: Lucci, Elian Alabi. Geografia: homem & espaço, 6° ano / Elian Alabi Lucci, Anselmo Lázaro Branco. - 22. ed. - São Paulo: Saraiva, 2010.

domingo, 12 de abril de 2015

CAÑADA REAL GALIANA: A MAIOR FAVELA DA EUROPA

  Crianças brincam em uma favela sem saneamento básico. No chão, lama, fezes humanas, lixo. A situação de precariedade - pior que a de muitas favelas no Brasil - retrata um dia na Cañada Real Galiana, a 15 km de Madri, na Espanha. Se estende  a partir da Avenida de la Cañada de Coslada ao limite municipal de Madri e Getafe, atravessando os municípios de Coslada, Rivas-Vaciamadri e Madri.
  Essa é a maior favela do continente europeu, onde vivem 44 mil pessoas, entre ciganos, espanhóis, romenos e marroquinos.
  A situação sociocultural da Cañada Real Galiana é multipolar, com fenômenos de marginalização social, especialmente o tráfico de drogas, moradias insalubres, falta ou serviços inadequados (água, luz, esgoto etc.) e sensível aos efeitos nocivos causados por deslocamentos forçados após a dispersão de outras favelas ou afluxo de imigrantes da década de 1990.
Ao fundo, crianças no meio da lama na Cañada Real Galiana
  Antigo caminho de gado, toda a extensão da Cañada Real é considerada área pública. Há 40 anos, casas surgiram no terreno. Virou moradia de espanhóis que iam a Madri trabalhar na criação de gado. Depois, foi ocupada por ciganos espanhóis. Marroquinos muçulmanos também ocuparam o local e, mais tarde, ciganos romenos ergueram um assentamento lá.
  As trilhas de tropeiros de gado são reservados para o trânsito de animais entre diferentes partes da Espanha. Elas são estatais onde a construção é proibido por lei. Durante os anos 1960 e 1970, foi criada uma emenda na lei que proibia a construção nessas trilhas, regularizando a utilização de tropeiros e permitindo que ao longo de seu caminho fosse estabelecido pomares e pequenas casas de conservação, o que contribuiu para a construção das moradias irregulares que existem no local.
Visão aérea de Cañada Real Galiana
  Um lixão, construído na década de 1980, e uma paróquia, há oito anos, completaram o cenário da favela.
  O espaço é estreito, mas bem demarcado: em uma ponta vivem os romenos; na outra, os ciganos espanhóis; no meio deles, marroquinos.
  O trecho dos romenos, o Gallinero, é o mais precário. Ali, os barracos, erguidos sobre lama, são feitos de pedaços de madeira e lona.
  Inicialmente, toda a extensão da Cañada Real Galiana afetada por construções ilegais pertenciam ao município de Madri, com exceção de um trecho intermediário que se projeta para a cidade de Rivas-Vaciamadri. No entanto, após várias trocas de terras entre os municípios essa consideração mudou.
  A cañada Real Galiana divide-se em vários setores, que são:
 Setor 1
  Atravessa a cidade de Coslada, na divisa com o município de Madri. As características das casas nesta área são semelhantes em muitas partes com as de Madri, com apartamentos de 1 ou 2 andares, moradias feitas de tijolos e ruas estreitas. Atualmente, a cidade de Coslada tem tomado medidas para condicionar e legalizar esta área. É habitada principalmente por famílias espanholas.
Setor 1 de Cañada Real Galiana, em Coslada - Espanha
Setor 2
  Localizada ao redor do município de Madri, entre a rodovia M-45 e M-203, é composta principalmente de casas e de algumas mansões, além de oficinas e armazéns. Separa os bairros de El Canaveral e Los Cerros. É habitada principalmente por famílias espanholas.
Setor 2 de Cañada Real Galiana, em Madri - Espanha
Setor 3
  Inclui o trecho entre as rodovias M-203 e M-823. Grande parte da sua rota é a linha divisória entre as cidades de Madri e Rivas-Vaciamadrid, com uma parcela que vai para a cidade de Rivas-Vaciamadri. Consiste principalmente de casas de baixa qualidade, algumas habitações de luxo e favelas com famílias espanholas e romenas, em sua maioria.
Setor 3 de Cañada Real Galiana, em Rivas-Vaciamadrid - Espanha
Setor 4
  Localizada entre a rodovia M-823 (estrada de Cristo Rivas) e linha 9 (em Puerta de Arganda-Rivas Urbanizaciones). Esse setor pertence aos municípios de Madri e Rivas-Vaciamadrid, sendo composto por uma mistura de barracos e casas humildes habitada principalmente por ciganos espanhóis e marroquinos.
Setor 4 de Cañada Real Galiana, em Rivas-Vaciamadrid - Espanha
Setor 5
  Funciona a partir do Metrô Linha 9 (em Puerta de Arganda-Rivas Urbanizaciones) para o A-3 (rodovia leste) ao lado da urbanização de Covibar (Rivas). Inicialmente, este setor era pouco povoado por espanhóis, mas teve um grande crescimento nos últimos anos, graças à imigração marroquina. As casas são todas construídas de qualidade  variável, e há uma divisão clara entre as parcelas dos vizinhos originais e os mais recentes.
Trecho 5 da Cañada Real Galiana, em Rivas - Espanha
Setor 6
  Começa a partir da rodovia A-3 e atinge a cidade de Getafe. Este é o maior, mais pobre e o setor que é mais visado pela polícia, devido ao imenso tráfico de drogas que impera no local, sendo também conhecido por Gallinero. É habitada principalmente por ciganos romenos.
Setor 6 do Cañada Real Galiana, em Getafe - Espanha
  A Anistia Internacional pede ao governo espanhol condições mínimas de saneamento básico, mas Madri estuda desalojar a favela, alegando ser uma via pública.
FONTE: Projeto Araribá: geografia / obra coletivo concebida, desenvolvida e produzida pela Editora Moderna; editor responsável Fernando Carlo Vedovate. - 3. ed. - São Paulo: Moderna, 2010.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

RIDGE A: O LUGAR MAIS FRIO DO MUNDO

  O lugar mais frio do mundo fica nos confins do Polo Sul, nunca foi visitado por um ser humano e pode revolucionar a astronomia. Ele se chama Ridge A (Cordilheira A, em inglês), fica a mais de 4 mil metros de altitude - 30% mais alto que a cidade de La Paz, na Bolívia - e está a 600 quilômetros do Polo Sul. Mas a principal característica desse lugar, que acaba de ser revelado por imagens de satélite, é outra: Ridge A é o ponto mais frio da face da Terra, com temperatura média de 70 graus negativos. Até então, acreditava-se que o lugar mais frio do mundo fosse o lago Vostok, na Antártida, que chegou a registrar 90 graus negativos.
  Os cientistas fizeram essa descoberta enquanto analisavam os mapas de temperatura superficial global mais detalhados já feitos, desenvolvidos com dados de satélites de sensoriamento remoto.
  Esta cordilheira fica próxima à Estação de Pesquisa Davis, no território antártico australiano, ao leste do platô antártico em uma alta cordilheira onde foram registradas temperaturas de -92ºC.
Estação de pesquisa australiana Davis
  Ridge A é muito hostil para a vida, mas perfeito para a ciência. O céu extremamente limpo, com poucas nuvens e sem água (a umidade relativa do ar é praticamente zero), faz de Ridge A o lugar perfeito para a instalação de um telescópio.
  Os lugares mais frios da Terra que são habitados permanentemente ficam no nordeste da Sibéria, na Rússia, onde as temperaturas chegaram a -90°C em duas cidades, Verkhoyansk e Oimekon, em 1892 e 1933, respectivamente.
Inverno em Verkhoyansk - Rússia
  Ridge A está localizado a 929 quilômetros do Polo Sul e a 159 quilômetros de Domo A (cúpula de gelo localizada no centro da Antártica), e a uma altitude de 4.053 metros acima do nível do mar. O local foi avaliado por cientistas da Austrália e dos Estados Unidos através de dados de satélite como um ótimo local de observação astronômica por suas condições meteorológicas favoráveis, além de ser o local de origem dos ventos catabáticos (vento que transporta ar de alta densidade de uma elevação descendo a encosta, devido à ação da gravidade).
Mapa de localização do Ridger A (Cordilheira A)
  O Lago Vostok, que antes da descoberta da Cordilheira A era o local mais frio do mundo, é uma massa de água subglacial localizado na Antártica, por baixo da Estação Vostok - um centro de investigação dirigido pela Rússia. Esse lago tem uma forma elíptica com 250 km de comprimento e 40 km de largura, cobrindo uma área de 14 mil km². O seu fundo é irregular e divide-se em duas bacias, a mais profunda com cerca de 800 metros e a outra com 200 metros. Calcula-se que o lago contenha um volume de 5.400 km³ de água doce.
  O Lago Vostok, segundo os cientistas, teve origem normal e foi coberto por gelo à medida que se desenvolveram os glaciares da calota polar da Antártica. Esta submersão ocorreu há aproximadamente 30 milhões de anos, concluindo há aproximadamente 15 milhões de anos atrás.
Lago Vostok - Antártica
FONTE: Adas, Melhem. Expedições geográficas / Melhem Adas, Sérgio Adas. - 1. ed. - São Paulo: Moderna, 2011.

terça-feira, 7 de abril de 2015

A IMPORTÂNCIA ECONÔMICA DOS MACIÇOS CRISTALINOS ANTIGOS

  O conjunto rochoso dos maciços antigos brasileiros enterra numerosas jazidas de diversos minérios. Minérios são todos os minerais ou associações de minerais, metálicos ou não, que têm grande importância econômica. É o caso do ferro, do manganês, do cobre ou da bauxita. Esses maciços antigos são também chamados de escudos cristalinos.
  O escudo cristalino é uma grande área composta de rochas ígneas ou metamórficas de alta temperatura que surgiram durante a era Pré-Cambriana e se encontram expostas, formando zonas tectonicamente estáveis. Em todos os escudos, a idade das rochas é superior a 570 milhões de anos, chegando até aos 3 bilhões e meio de anos. Compreendem as primeiras formações rochosas terrestres.
Serra Caiada. Localizada no município de Serra Caiada - RN, é a rocha mais antiga das Américas

  No Brasil, os maciços antigos antigos correspondem a cerca de 36% da área total do território brasileiro e são divididos em duas porções: o escudo das Guianas, ao norte da planície Amazônica, e o escudo Brasileiro, na parte centro-oriental do país, cuja grande extensão permite dividi-lo em sete escudos menores ou núcleos, segundo Aziz Nacib Ab'Saber, que são: Sul-Amazônico, Atlântico, Araguaia-Tocantins ou Goiano, Sul-Rio Grandense, Gurupi, Nordestino e Bolívio-Matogrossense.
Mapa da estrutura geológica do Brasil, segundo Ab'Saber
  Nesses escudos são encontrados alguns dos principais minerais metálicos.
FERRO
  A utilização em larga escala do minério de ferro tem início no século XV, quando começam a ser utilizados os altos-fornos. Esses fornos são grandes estruturas verticais que atingem temperaturas muito elevadas, acima dos 1.200°C, mediante a queima do carvão. Essa temperatura é necessária para que o metal contido no minério de ferro assuma forma líquida ou pastosa e, assim, possa ser depositado em moldes e transformados em vários objetos, como ferramentas e máquinas.
  As reservas de minério de ferro são muito abundantes em todo o mundo. Porém, 73% das jazidas desse mineral estão concentradas em apenas cinco países, dentre os quais o Brasil e a Austrália, cujas reservas apresentam teor de ferro mais elevado.
  No Brasil, o minério de ferro é extraído, principalmente, em Minas Gerais, no Pará e no Mato Grosso do Sul.
   Em Minas Gerais, a mineração concentra-se no Quadrilátero Ferrífero. Várias empresas de mineração atuam nessa região, e a maior delas é a Vale, empresa criada em 1942 pelo governo nacional-desenvolvimentista de Getúlio Vargas, com o nome Companhia Vale do Rio Doce, que foi privada em 1997, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Atualmente, a Vale é uma das maiores companhias de mineração do mundo.
  O Quadrilátero Ferrírfero, localizado na porção centro-sul do estado de Minas Gerais e com extensão territorial de aproximadamente 7 mil km², é uma área vizinha a Belo Horizonte formada pelas cidades de Sabará, Rio Piracicaba, Congonhas, Casa Branca, Itaúna, Itabira, Nova Lima, Santa Bárbara, Mariana, Ouro Preto, entre outras.
Mapa da região do Quadrilátero Ferrífero
  A descoberta de ouro nessa área ocorreu no final do século XVII, fato que proporcionou a criação de importantes cidades mineiras, tais como Ouro Preto e Mariana. Também atraiu grandes fluxos migratórios de mineradores, contribuindo para a ocupação do interior do Brasil, visto que nesse período a população se concentrava basicamente nas áreas litorâneas.
  O Quadrilátero Ferrífero continua a sendo a região de maior concentração urbana de Minas Gerais, além de ser uma área de fundamental importância para o desenvolvimento econômico estadual, impulsionando o setor industrial, sobretudo o segmento siderúrgico.
   Dentre os vários minérios extraídos do Quadrilátero Ferrífero estão o ouro, o manganês e o ferro. É a maior região produtora de minério de ferro do Brasil, respondendo por cerca de 60% da produção nacional desse produto.
Mariana - MG. Importante cidade do Quadrilátero Ferrífero
  A intensa exploração desses recursos sem uma devida preocupação ambiental desencadeou uma série de impactos na natureza. Entre os problemas detectados estão a poluição do lençol freático e do solo, perda da biodiversidade, erosões, entre outros.
  Para exportar o minério de ferro extraído do Quadrilátero Ferrífero, a Vale utiliza a Estrada de Ferro Vitória-Minas, cuja administração está sob seu controle. Essa ferrovia escoa o minério até o porto de Tubarão (ES). Ao longo de mais de 900 quilômetros de extensão, a Estrada de Ferro Vitória-Minas atravessa também o chamado Vale do Aço, a mais importante região siderúrgica de Minas Gerais.
Produção de minério de ferro em Mariana - MG
   Para exportar o minério de ferro extraído do Quadrilátero Ferrífero, a Vale utiliza a Estrada de Ferro Vitória-Minas, cuja administração está sob seu controle. Essa ferrovia escoa o minério até o porto de Tubarão (ES). Ao longo de mais de 900 quilômetros de extensão, a Estrada de Ferro Vitória-Minas atravessa também o chamado Vale do Aço, a mais importante região siderúrgica de Minas Gerais.
  A Estrada de Ferro Vitória-Minas, também conhecida pela abreviação EFVM, interliga a Região Metropolitana de Vitória, no Espírito Santo, a Belo Horizonte, capital de Minas Gerais. Sua construção teve início no final do século XIX e tinha como objetivo inicial o transporte ferroviário de passageiros e escoar a produção cafeeira do Vale do Rio Doce e Espírito Santo. No entanto, seu foco foi alterado em 1908, passando a visar Itabira e escoar o minério de ferro extraído no município até os complexos portuários capixabas.
Mapa da Estrada de Ferro Vitória-Minas
   A partir da construção da via férrea, estruturaram-se povoados que deram origem a novos municípios, como Coronel Fabriciano e, posteriormente, ao Vale do Aço, cujo crescimento industrial só foi possível pela existência da EFVN, que também passou a servir como forma de escoamento da produção das indústrias locais. Em 1994, a ferrovia alcançou a capital mineira, configurando-se como a única no Brasil a fornecer trens de passageiros com saídas diárias a longa distâncias.
Estrada de Ferro Vitória-Minas, em Itapina - MG
   Existe também o transporte por dutos, chamado mineroduto, ligando Mariana (MG) a Anchieta (ES), com extensão de aproximadamente 400 km e que atravessa 25 municípios. Recentemente foi construído um mineroduto ligando o município de Alvorada de Minas (MG) até o Complexo Portuário do Açu, em São João da Barra (RJ). O comprimento total do duto é de 525 km, passando por 32 municípios. O transporte pelo duto tem uma duração de três dias, e utiliza bombas de alta pressão.
Mineradora Samarco, em Anchieta -ES
  O Vale do Aço concentra várias indústrias siderúrgicas, que também exportam parte de sua produção para a Europa, o Japão e a China, utilizando a ferrovia Vitória-Minas e o porto de Tubarão.
  O Vale do Aço é uma região metropolitana de Minas Gerais formada pelos municípios de Ipatinga, Coronel Fabriciano, Santana do Paraíso e Timóteo, e pelo colar metropolitano, que é composto pelos seguintes municípios: Açucena, Antônio Dias, Belo Oriente, Braúnas, Bugre, Córrego Novo, Dionísio, Dom Cavati, Entre Folhas, Iapu, Ipaba, Jaguaraçu, Joanésia, Marliéria, Mesquita, Naque, Periquito, Pingo-d'Água, São João do Oriente, São José do Goiabal, Sobrália e Vargem Alegre. Foi criada pela lei complementar n° 51, de 30 de dezembro de 1998, e oficializada pela lei complementar n° 90, de 12 de janeiro de 2006. O desenvolvimento e estabelecimento dessa região metropolitana se deve às grandes empresas situadas na região, como a Aperam South America, em Timóteo; a Usiminas, em Ipatinga; e a Cenibra, no município de Belo Oriente.
Mapa da região do Vale do Aço Mineiro
  Outro estado brasileiro que se destaca na produção de minério de ferro é o Pará, onde a extração também é realizada exclusivamente pela Vale. A empresa atua na Serra do Carajás, no sudeste do estado, em plena Amazônia. A extração de ferro em Carajás só se tornou possível depois que o governo brasileiro providenciou uma série de obras de infraestrutura.
  O Projeto Carajás, oficialmente conhecido como Projeto Grande Carajás (PGC), é um projeto de exploração mineral, lançado em 1979 e iniciado em 1980, na mais rica área mineral do planeta, pela Vale. Estende-se por 900 mil km², numa área que corresponde a um décimo do território brasileiro, e que é cortada pelos rios Xingu, Tocantins e Araguaia, e engloba terras do sudeste do Pará, norte do Tocantins e sudoeste do Maranhão. Essa região possui um dos maiores potenciais minerais do Brasil, com imensas jazidas de minério de ferro (20 bilhões de toneladas), manganês (60 milhões de toneladas), cobre (1 bilhão de toneladas), bauxita (40 milhões de toneladas), níquel, cassiterita e ouro.
Mapa do Projeto Grande Carajás
  O PGC tinha como objetivo realizar a exploração integrada dos recursos dessa província mineralógica, considerada a mais rica do mundo, contendo minério de ferro de alto teor, ouro, estanho, bauxita, manganês, níquel, cobre e minérios raros. A vida útil das reservas de minério de ferro, estimada na década de 1980, era de cerca de 500 anos.
  Carajás não se limitou apenas a explorar a mineração; existiam outros projetos agropecuários e de extração florestal, que tinham por objetivo o desenvolvimento da região.
  Para a consolidação desse ambicioso projeto, foi implantada uma importante infraestrutura, que incluiu a Usina Hidrelétrica de Tucuruí, a Estrada de Ferro Carajás e o Porto de Ponta da Madeira, localizado no Porto de Itaqui, em São Luís (MA).
Mapa da Estrada de Ferro Carajás
  A Estrada de Ferro Carajás, que se estende por quase 900 quilômetros e liga a Serra dos Carajás ao porto de Itaqui, em São Luís (MA), é operada pela Vale. Possui 5 estações, 10 paradas e percorre ao todo 892 km ligando os municípios de São Luís, Santa Inês, e Açailândia (MA), MarabáParaubebas (PA).
  Junto com as ferrovias, as condições hídricas dos rios amazônicos (com grande volume de águas) são fundamentais para o escoamento dos minerais extraídos, e também para assegurar a operação da usina de Tucuruí, necessária para o funcionamento das indústrias de transformação de minerais.
Trem da Estrada de Ferro Carajás
  Outra grande obra ligado à exploração de Carajás é a usina hidrelétrica de Tucuruí, no rio Tocantins, que fornece toda a energia necessária para a extração e o transporte do minério.
  A Usina Hidrelétrica de Tucuruí é uma central hidrelétrica localizada no rio Tocantins, no município de Tucuruí, distante cerca de 300 km ao sul de Belém. É a maior usina hidroelétrica totalmente brasileira. Integrante do Subsistema Norte do Sistema Interligado Nacional (SIN), é responsável pelo abastecimento de grande parte das redes da Celpa (no Pará), Cemar (no Maranhão) e da Celtins (no Tocantins).
Usina Hidrelétrica de Tucuruí
  O minério de ferro também é encontrado em abundância no estado do Mato Grosso do Sul, especialmente no município de Corumbá, onde aflora um grande maciço cristalino antigo: o Maciço de Urucum. Ali, o minério de ferro é explorado por duas empresas, a Vale e a Rio Tinto. A produção é quase toda exportada sem qualquer beneficiamento, em estado bruto, ou seja, como o minério se apresentava no momento em que foi extraído. O minério é escoado em grandes barcaças, que descem os rios Paraguai e Paraná, principalmente para a Argentina, o Uruguai e o Paraguai. Apesar de está distante das  grandes siderúrgicas brasileiras, o Maciço de Urucum é uma importante área de extração de minério de ferro.
Mapa da região do Maciço de Urucum
  O Maciço de Urucum ou Morro de Urucum, recebeu este nome pela cor avermelhada de suas terras, que se assemelha ao urucum (fruto do urucuzeiro, do qual se produz o colorau). Está localizado na zona rural de Corumbá, no Mato Grosso do Sul e é famoso por ser a maior e mais culminante formação rochosa do Estado, com altitude de 1.065 metros. Em razão da natureza de suas rochas, o Maciço de Urucum possui grandes reservas minerais, que se destaca o manganês tipo pirolusita e criptomelana, possuindo a maior reserva do Brasil e uma das maiores do mundo, podendo ser extraído mais de 30 milhões de toneladas, e o ferro tipo hematita e itabirita (terceira maior reserva do Brasil).
Maciço de Urucum
MANGANÊS
  O manganês é o segundo minério mais abundante na natureza, mas só se tornou importante no século XIX, quando surgiram as primeiras siderúrgicas. Então passou a ser valorizado como matéria-prima para dar liga aos componentes do aço. É o manganês que faz o ferro se juntar ao carbono do carvão durante o processo de fabricação do aço, nas indústrias siderúrgicas. Cada tonelada de aço exige até 60 kg de manganês. Por isso, 90% do manganês extraído no mundo destina-se à fabricação do aço. Os restantes 5% têm várias aplicações nas indústrias químicas, de cerâmica, elétricas e de fertilizantes.
  A reserva de manganês no Brasil é a quinta maior do mundo e o país é o terceiro maior produtor mundial desse minério, sendo superado apenas pela África do Sul e pelos membros da Comunidade dos Estados Independentes (CEI).
Manganês
  O Quadrilátero Ferrífero abriga grandes jazidas de manganês, e ali a Vale possui algumas usinas que beneficiam esse minério. Entretanto, é no Mato Grosso do Sul que se localiza uma das maiores jazidas  de manganês de alto teor do mundo, no Maciço de Urucum, que também é explorada pela Vale e que beneficia o manganês em uma usina instalada nas proximidades. A maior parte dessa produção é direcionada para países como Japão e Estados Unidos, que importam quase 50% da produção total nacional.
  Outro fator que está presente na região do Maciço de Urucum e que interfere um pouco na produção da região é o transporte, pois a área onde essa reserva se encontra não possui uma rede de transportes eficientes, e o minério é transportado por hidrovias, diminuindo o potencial desse produto.
Produção de manganês em Corumbá - MS
  Outra região que teve uma grande produção de manganês, foi na Serra do Navio, no Amapá. O primeiro relato da presença de manganês no estado do Amapá ocorreu às margens do rio Amapari. Entre 1957 e 1986, o manganês do Amapá formou a principal parcela do minério produzido e exportado pelo Brasil.
  O minério de manganês encontrado na Serra do Navio foi amplamente explorado e levado para o Deserto de Nevada, nos Estados Unidos, onde permanece estocado.
Produção de manganês no Amapá
MINÉRIO DE ALUMÍNIO (BAUXITA)
  O alumínio não é encontrado na natureza em estado puro. Sua produção depende do refinamento da bauxita, um minério que foi descoberto apenas no século XX.
  O nome bauxita deve-se à localização da jazida onde esse recurso natural foi identificado pela primeira vez, em 1821, em Les Baux, no sul da França.   A primeira vez em que uma indústria produziu alumínio utilizando bauxita foi em 1854, nas proximidades de Paris, na França. Mas nessa época o processo de fabricação desse metal era muito caro. Por isso, sua aplicação ficou restrita a trabalhos luxuosos e artísticos, como estatuetas e placas comemorativas.
  Contudo, desde a descoberta da bauxita, no século XIX, estão se desenvolvendo novas técnicas de produção do metal alumínio, e sua utilização tem aumentado cada vez mais no mundo todo.   A bauxita é o terceiro mineral mais abundante na natureza e mesmo assim tornou-se um recurso natural muito valorizado. Cerca de 90% do minério extraído destina-se à fabricação de alumínio, mas o processo ainda é muito caro. São necessários cinco toneladas de bauxita para produzir uma tonelada de alumínio.
Mineral bauxita
  O Brasil possui a terceira maior reserva de bauxita do mundo. As jazidas desse mineral concentram-se em duas grandes áreas, no Pará e em Minas Gerais, com destaque para o Vale do Rio Trombetas, no Pará, no município de Oriximiná.  O Projeto Trombetas em Oriximiná (PA), faz parte do Projeto Grande Carajás, de onde se extrai a bauxita; Alumar, em São Luís (MA) e Alunorte, em Barcarena (PA), que transformam a bauxita em alumina, primeira etapa da industrialização do alumínio; Albrás, em Barcarena (PA), onde a alumina é transformada em alumínio.
  A exploração desse minério é realizada pela empresa Mineração Rio Norte, de propriedade de uma série de empresas nacionais e estrangeiras que atuam no beneficiamento industrial da bauxita.
Fábrica da Alunorte em Barcarena - PA
  A Albrás e a Alunorte foram criadas a partir da associação entre capitais de empresas nacionais e estrangeiras, principalmente japonesas. Anualmente, milhões de toneladas de alumina e alumínio produzidos por essas empresas são vendidos principalmente para o Japão e a Alemanha e para o mercado interno.
  Parte da produção de bauxita do complexo do Porto de Trombetas segue para o atendimento de complexos metalúrgicos do alumínio instalados no Norte e Nordeste do país (para beneficiamento industrial dessa matéria-prima) e uma outra parte é destinada à exportação.
  Na região foi construído o núcleo Urbano do Rio Trombetas. Esse núcleo conta com toda infraestrutura necessária, como usina de geração de energia, tratamento de água e esgoto, escola, hospital, clubes de lazer, cine-teatro, aeroporto e sistema de comunicação nacional e internacional.
Mapa da produção de bauxita no Pará
  Em Minas Gerais, existem depósitos de bauxita em Poços de Caldas e no leste do estado, nos municípios de Muriaé e São João Nepomuceno.
CASSITERITA
  A cassiterita  é um mineral de estanho. Geralmente opaca, esse minério é translúcido quando em pequenos cristais, com cor púrpura, preta, castanha-avermelhada ou amarela.
  É a principal fonte para a obtenção do estanho, metal usado para produzir chapas finas de aço e folhas de flandres. A maioria da cassiterita provém de depósitos aluviais ou de depósitos do tipo plácer (depósito natural por concentração, normalmente nas curvas dos rios), que contêm os grãos resistentes à erosão.
  A Região Norte é onde se concentram as maiores produções de cassiterita, com destaque para as áreas da Província Mineral de Mapuera no Amazonas (Minas de Pitinga) e da Província Estanífera de Rondônia (Minas de Bom Futuro e Santa Bárbara).
Cassiterita
FONTE: Tamdjian, James Onnig. Estudos de geografia: o espaço geográfico do Brasil, 7° ano / James Onnig Tamdjian, Ivan Lazzari Mendes. - São Paulo: FTD, 2012.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

AS GUIANAS

  Situadas ao norte do Brasil, as Guianas, diferente dos demais países sul-americanos, não foram colonizadas por espanhóis e portugueses. Eram colônias da França (Guiana Francesa), Inglaterra (Guiana Inglesa) e Holanda (Guiana Holandesa). A palavra "guiana" deriva do vocábulo indígena guyana, que significa "terra de muitas águas", maneira como os indígenas chamavam a área onde se localizam atualmente a Guiana, o Suriname e a Guiana Francesa.
  Os três territórios se diferenciam dos demais países sul-americanos pelo fato de sua história colonial estar associada a ingleses, franceses e holandeses e pelo tardio processo de independência política.
  Até a primeira metade do século XX, as Guianas eram três colônias pertencentes a países europeus: à Holanda (atual Suriname), ao Reino Unido (a atual Guiana) e a Guiana Francesa, que ainda é um departamento de ultramar da França. As relações dessas três Guianas com os demais países sul-americanos sempre foram frágeis, quase inexistentes. Isso porque a maioria das nações da América do Sul foi colonizada pela Espanha ou por Portugal. Essas nações mantiveram contatos durante o período colonial, principalmente entre 1580 e 1640, quando Portugal ficou sob o domínio da Espanha. Hoje a Guiana e o Suriname tentam timidamente estreitar suas relações comerciais com os demais países da América do Sul, sem muitos avanços.
Litoral da Guiana Francesa
  Desde sua origem, a economia desses países baseou-se na extração de produtos da Floresta Amazônica e, posteriormente, na de bauxita. A agricultura de plantation é outra herança do período colonial.
  As três Guianas limitam-se ao sul com o Brasil, a oeste com a Venezuela e ao norte com o oceano Atlântico. É na porção norte, na faixa de terras mais baixas e próximas do litoral, que se concentram cerca de 90% da população total das três Guianas. Aí estão as principais cidades. Para o sul as terras são planálticas, com algumas grandes elevações (entre 2.000 e 3.000 metros, nas fronteiras com o Brasil), e vegetação densa, constituída pela Floresta Amazônica.
  As altitudes de seus relevos são modestas, com predomínio das planícies na porção norte e dos baixos planaltos ao sul. Na porção oeste da Guiana surge um sistema montanhoso, a Serra de Pacaraíma, cujo ponto culminante é o Monte Roraima, com 2.875 metros, que faz fronteira com o Brasil.
Monte Roraima
  Com territórios localizados totalmente na zona intertropical, as Guianas apresentam clima equatorial: médias térmicas elevadas no decorrer do ano, pequena amplitude térmica anual e chuvas abundantes. A cobertura vegetal dominante é a Floresta Amazônica; nas áreas de maiores altitudes surgem os campos e as savanas, e no litoral os manguezais. A farta rede hidrográfica serve à navegação e à pesca , mas também é utilizada para a produção de energia elétrica.
  O Planalto das Guianas ou Escudo Guianês, faz parte da paisagem das Guianas. Os planaltos são constituídos basicamente por terrenos cristalinos, cuja matéria-prima é destinada à fabricação de azulejos e asfaltamento de rodovias e ruas. É uma formação geológica muito antiga, sendo uma das zonas mais antigas da Terra, que surgiu na era Pré-Cambriana, e se estende pelo Brasil, Guianas, Venezuela e uma pequena parte da Colômbia.
Mapa do Planalto das Guianas
GUIANA
  Cerca de 80% do território guianense é recoberto pela Floresta Amazônica. No centro-oeste está a Serra Pacaraima e no sul a Serra Acaraí, áreas elevadas do país. O restante é dominado por terras baixas. A paisagem do país pode ser dividida em três regiões: uma planície estreita e pantanosa ao longo da costa do oceano Atlântico, uma faixa de areia branca mais para o interior onde crescem as florestas úmidas e onde se situam a maioria das reservas minerais, e as grandes terras altas do interior, que consistem principalmente de savanas e de montanhas, com destaque para o monte Roraima, o ponto culminante do país, com 2.875 metros. Os rios mais importantes da Guiana são o Essequibo, o Demerara, o Corentyne, o Rupununi e o Berbice.
Rio Essequibo, em Mango Landing - Guiana
  O clima dominante é o tropical, quente e úmido, moderado pelos ventos alísios de nordeste ao longo da costa. Existem duas estações de chuvas: a primeira vai de maio a agosto e a segunda de meados de novembro a meados de janeiro.
  A planície costeira, de cerca de 430 quilômetros de comprimento e aproximadamente 15 a 65 quilômetros de largura, é resultado da ação antrópica nos cinco e sete quilômetros iniciais, quando foram construídos pôlderes semelhantes aos dos Países Baixos para proteger o litoral da ação das marés altas.
  Em direção ao interior, continuando a planície costeira, estende-se uma faixa de 150 a 180 quilômetros de ondulantes colinas. A região é coberta de areias brancas e uma pequena savana a leste. As areias também cobrem um baixo platô cristalino.
  No sul do país, o planalto de Kaieteur, com cerca de 500 metros de altitude, forma a extensa região dos campos de Rupununi, que culmina na serra do Acaraí.
Campos de Rupununi - Guiana
  Explorada por navegantes espanhóis a partir de 1499, o território que atualmente faz parte da Guiana foi colonizado no século XVII por holandeses da Companhia das Índias Ocidentais. Em 1814, a Holanda cedeu a região aos ingleses, que a batizaram oficialmente de Guiana Inglesa em 1831, tornando-a uma colônia britânica.
  Diante das dificuldades encontradas para recrutar trabalhadores braçais entre os indígenas, as autoridades coloniais decidiram importar escravos negros. Com a abolição da escravidão em 1837, os trabalhadores indianos substituíram os negros nos cultivos de plantations do interior.
  Com a vitória eleitoral do Partido Progressista do Povo (PPP) nos anos de 1953, 1957 e 1961, teve início o processo de independência do Reino Unido. A Guiana tornou-se independente em 1966, quando passou a integrar a Comunidade Britânica. Em 1970, tornou-se uma república. A vida política do país é dominada pelo PPP, que defende os interesses da maioria indiana, e pelo Congresso Nacional do Povo (CNP).
  A curta história do país é marcada por tensões étnicas, corrupção e ineficácia governamental.
Paisagem das Cataratas de Kaieteur - Guiana
  A população guianense se caracteriza pela diversidade étnica e cultural. Mais de 50% da população da Guiana é constituída por descendentes de indianos que para lá migraram no século XIX, por causa da política britânica de incentivar a ida de mão de obra barata da Ásia. Antes disso, os britânicos já haviam levado negros africanos à Guiana para trabalhar como escravos. Mas houve uma forte rebelião no século XVIII, que foi violentamente reprimida e causou um grande receio nas autoridades britânicas. A escravidão foi abolida em 1834, e os negros e mulatos constituem atualmente cerca de 40% da população total da Guiana. Os violentos choques raciais entre indianos e negros no país tendem a marcá-lo fortemente ainda no século XXI, caso não ocorram mudanças significativas. O restante da população é formada por indígenas, europeus e pela miscigenação desses quatro povos. O padrão de vida da população do país é bastante baixo.
Crianças guianenses
  A economia guianense é tipicamente subdesenvolvida e bastante dependente do setor primário: quase não há indústrias no país, predominam as atividades extrativas minerais (com destaque para a bauxita, que é o principal produto de exportação) e a produção de gêneros agrícolas (cana-de-açúcar, café, arroz e algodão são os mais importantes), além da exploração madeireira. Com o declínio nas exportações de bauxita (minério de alumínio) nos últimos anos, a economia guianense vem passando por uma crise que se agravou ainda mais por causa dos empréstimos que o governo fez em bancos internacionais.
Cultivo de arroz na Guiana
  A Guiana vem enfrentando um grande problema: a Venezuela tem reivindicado uma extensão enorme de terra pertencente à Guiana,  com alegação de que essa área foi tomada à força pelos britânicos no século XIX. Essa área reivindicada pela Venezuela constitui o território de Essequibo, conhecida como Guiana Essequiba, que compreende quase dois terços do território guianense na sua porção oriental.
  Por causa desse conflito, a situação na fronteira entre esses dois países é de tensão permanente. A arbitragem desse litígio encontra-se, desde 1983, nas mãos da ONU (Organização das Nações Unidas), com a concordância das duas partes interessadas. Espera-se que haja um acordo, mas é provável que a Guiana perca parte desse território.
Em azul, região reivindicada pela Venezuela
  A porção sudeste da região de Berbice Oriental-Corentyne é reivindicada pelo Suriname como parte do subúrbio de Coeroeni, pertencente ao distrito surinamês de Sipaliwini. A área é delimitada pelos rios Boven-Corentyne (que na Guiana é chamado de New River), o Coeroeni e o Koetari. Esta área triangular é referido na Guiana como New River Triangle (O Triângulo do Rio Novo), enquanto que no Suriname é conhecida como região do Tigri.
A área verde mais clara é a região reivindicada pelo Suriname
ALGUNS DADOS DA GUIANA
NOME OFICIAL: República Cooperativa da Guiana
CAPITAL: Georgetown
Catedral de São Jorge, em Georgetown - capital da Guiana
GENTÍLICO: guianês ou guianense
LÍNGUA OFICIAL: inglês. Línguas reconhecidas: crioulo guianense, português, hindi, espanhol. Línguas indígenas: akawaio, macuxi, wai-wai, arawak, warao, wapixiana, arekuma.
GOVERNO: República Semipresidencialista
INDEPENDÊNCIA: do Reino Unido, em 26 de maio de 1966
LOCALIZAÇÃO: norte da América do Sul
ÁREA: 214.969 km² (83°)
POPULAÇÃO (ONU - Estimativa 2014): 772.489 habitantes (155°)
DENSIDADE DEMOGRÁFICA: 3,59 hab./km² (195°)
CIDADES MAIS POPULOSAS (Estimativa 2014):
Georgetown: 301.360 habitantes
Georgetown - capital e maior cidade da Guiana
Linden: 59.119 habitantes
Linden - segunda maior cidade da Guiana
New Amsterdã: 46.620 habitantes
New Amsterdã - terceira maior cidade da Guiana
PIB (Banco Mundial - 2013): US$ 2,788 bilhões (156°)
IDH (ONU - 2014): 0,638 (121°)
EXPECTATIVA DE VIDA (ONU - 2012): 70,5 anos (125°)
CRESCIMENTO POPULACIONAL (ONU 2005-2010): -0,22% (215°)
TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL (CIA World Factbook - 2013): 41,73/mil (130°). Obs: essa mortalidade refere-se ao número de crianças que morrem antes de completar 1 ano de idade, e é contada de menor para maior.
TAXA DE FECUNDIDADE (CIA World Factbook 2014): 2,14 filhos/mulher (106°). Obs: essa taxa refere-se ao número médio de filhos que a mulher teria do início até o fim do seu período reprodutivo (15 a 49 anos) e é contada de maior para menor.
TAXA DE ALFABETIZAÇÃO (CIA World Factbook 2013): 91,8% (125°). Obs: essa taxa refere-se a todas as pessoas com 15 anos ou mais que sabem ler e escrever.
TAXA DE URBANIZAÇÃO (Pnud 2010/2011): 28% (164°)
PIB PER CAPITA (Fundo Monetário Internacional - FMI - 2013): US$ 3.729 (112°)
MOEDA: Dólar Guianense
RELIGIÃO: cristianismo (51,4%, sendo 22% de protestantes, 11% de católicos, 8,6% de anglicanos, 9,8% de cristãos independentes), hinduísmo (32,8%), islamismo (8,2%), outras religiões (5,6%), e ateus ou sem religião (2%).
DIVISÃO: a Guiana é dividida em 10 regiões administrativas de 27 conselhos. As regiões são (os números corresponde à região no mapa): 1. Barima-Waini 2. Cuyuni-Mazaruni 3. Demerara-Mahaica 4. Berbice Oriental-Corentyne 5. Ilhas Essequibo-Demarara Ocidental 6. Mahaica-Berbice 7. Pomeroon-Supenaam 8. Portaro-Siparuni 9. Alto Demerara-Berbice 10. Alto Takutu-Alto Essequibo.
Mapa da divisão regional da Guiana
SURINAME
  O Suriname é o menor país independente da América do Sul. O país é dividido em duas regiões geográficas: a área costeira do norte, formada por planícies e onde se registra as maiores áreas de cultivos e habita a maioria da população; e a parte sul, composta pela floresta equatorial e as savanas, pouco habitada e que cobre cerca de 80% do território do Suriname.
  O território do Suriname apresenta um relevo caracterizado pela ocorrência de colinas no centro e no sul e uma vasta planície no norte. As duas principais cadeias de montanhas são as montanhas Bakhuys e Montanhas Van Asch Van Wijk. O ponto culminante do país é o monte Juliana Top, com 1.286 metros. A vegetação é constituída principalmente pela Floresta Amazônica e Savanas, com predomínio do clima tropical.
Juliana Top - ponto culminante do Suriname
  O Suriname foi primariamente conquistado pelos espanhóis no século XVI e, em meados do século XVII, os ingleses se estabeleceram nesse território. Em 1667, com o fim da Segunda Guerra Anglo-Holandesa e a assinatura do Tratado de Breda, o atual Suriname passou a fazer parte da Holanda. Em 1863 foi abolida a escravatura, e os holandeses trouxeram trabalhadores da Índia e da Indonésia para trabalharem no cultivo dos produtos tropicais.
  Em 1954 o Suriname passou a fazer parte do Reino dos Países Baixos e em 1975 conseguiu a sua independência. No início dos anos 1980, o Suriname foi governado por um regime militar até 1988, quando foi restabelecida a democracia.
  Diferente de outros países da América Latina que tiveram governos militares nas décadas de 1960 e 1970, o Suriname sofreu com um golpe de Estado em 29 de fevereiro de 1980, provocado pelo general Desi Bouterse, que declarou o país uma República Socialista.
  Nos primeiros anos do regime militar, o governo surinamense estabeleceu relações com Cuba, enfrentando oposição interna e externa, principalmente dos Estados Unidos e dos Países Baixos.
Paisagem do Suriname
  Em abril de 1987, a Assembleia Nacional aprovou uma Constituição que proporcionou um enquadramento para o retorno às instituições democráticas do país. Nas eleições de 1988, a Frente para a Democracia e Desenvolvimento saiu vitoriosa, pondo fim ao regime militar. Nas eleições de 1991, saiu vitoriosa a Nova Frente (NF), que teve como principal proposta restabelecer o diálogo com o governo neerlandês.
  As tensões entre o Suriname e a Guiana devido à disputa por águas que já durava décadas, aumentou em junho de 2000, quando um navio surinamês, que explorava petróleo na costa próximo à divisa territorial marítima entre os dois países, foi forçado a se retirar do mar para dar lugar a empresa canadense CGX Energia, que tinha obtido permissão de exploração petrolífera da Guiana. Após várias tentativas fracassadas de se chegar a um acordo, a empresa canadense suspendeu o projeto.
  Visando fortalecer a sua economia, em janeiro de 2004, o governo surinamês estabeleceu o Dólar do Suriname como a nova moeda do país, substituindo o Florim Neerlandês.
Albina - Suriname
  O Suriname transformou-se em membro autônomo do Reino da Holanda em 1954 e tornou-se um país independente em 1975.
  A população do Suriname é bastante heterogênea, formada por 35% de negros ou mulatos, 35% de descendentes de indianos e 30% de chineses, japoneses, paquistaneses, descendentes de europeus e minorias indígenas, e da miscigenação entre esses povos, refletindo a forma como os governantes das metrópoles europeias deslocavam os povos de uma colônia para outra, a fim de obter mão de obra.
  O Suriname possui uma das maiores reservas de bauxita do mundo. Esse minério é o principal produto de exportação do país. Além da bauxita, o país exporta ouro, ferro, platina e manganês. Os principais produtos agrícolas são arroz, cana-de-açúcar, café, cacau e frutas tropicais.
  O Suriname enfrentou diversas crises políticas que provocaram instabilidade econômica e social. Regimes autoritários, golpes de Estado, tráfico de drogas e ataques guerrilheiros forçaram a emigração de muitos de seus habitantes e afugentaram os investimentos estrangeiros no país.
Rua de Paramaribo
ALGUNS DADOS DE SURINAME
NOME OFICIAL: República do Suriname
CAPITAL: Paramaribo
Casas em estilo colonial em Paramaribo
GENTÍLICO: surinamês ou surinamense
LÍNGUA OFICIAL: holandês
GOVERNO: República Presidencialista
INDEPENDÊNCIA: dos Países Baixos, em 25 de novembro de 1975
LOCALIZAÇÃO: norte da América do Sul
ÁREA: 163.820 km² (90°)
POPULAÇÃO (ONU - Estimativa 2014): 480.851 habitantes (164°)
DENSIDADE DEMOGRÁFICA: 2,93 hab./km² (200°)
CIDADES MAIS POPULOSAS (Estimativa 2014):
Paramaribo: 253.316 habitantes
Paramaribo - capital e maior cidade do Suriname
Lelydorp: 34.229 habitantes
Lelydorp - segunda maior cidade do Suriname
Nieuw Nickerie: 23.142 habitantes
Nieuw Nickerie - terceira maior cidade do Suriname
PIB (Banco Mundial - 2013): US$ 5,094 bilhões (145°)
IDH (ONU - 2014): 0,705 (100°)
EXPECTATIVA DE VIDA (ONU - 2012): 74,5 anos (95°)
CRESCIMENTO POPULACIONAL (ONU 2005-2010): 0,56% (158°)
TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL (CIA World Factbook - 2013): 21,61/mil (95°). Obs: essa mortalidade refere-se ao número de crianças que morrem antes de completar 1 ano de idade, e é contada de menor para maior.
TAXA DE FECUNDIDADE (CIA World Factbook 2014): 2,01 filhos/mulher (124°). Obs: essa taxa refere-se ao número médio de filhos que a mulher teria do início até o fim do seu período reprodutivo (15 a 49 anos) e é contada de maior para menor.
TAXA DE ALFABETIZAÇÃO (CIA World Factbook 2013): 92,6% (124°). Obs: essa taxa refere-se a todas as pessoas com 15 anos ou mais que sabem ler e escrever.
TAXA DE URBANIZAÇÃO (Pnud 2010/2011): 75% (43°)
PIB PER CAPITA (Fundo Monetário Internacional - FMI - 2013): US$ 9.240 (69°)
MOEDA: Dólar do Suriname
RELIGIÃO: cristianismo (51,2%, sendo católicos - 23,9%, protestantes - 18,7%, outras religiões cristãs - 8,6%), hinduísmo (17,2%), islamismo (13,7%), sem religião e ateus (4,9%), novas religiões (4,9%), espíritas (3,5%), outras religiões (4,6%).
DIVISÃO: o Suriname está dividido em dez distritos. A maior parte da população vive no distrito de Paramaribo. Cada distrito é subdividido em ressorten. Os distritos são (os números corresponde ao distrito no mapa): 1. Brokopondo 2. Commewijne 3. Coronie 4. Marowijne 5. Nickerie 6. Para 7. Paramaribo 8. Saramacca 9. Sipaliwini 10. Wanica. Os ressorten totalizam 62.
Mapa da divisão do Suriname
GUIANA FRANCESA
   A Guiana Francesa é um departamento ultramarino da França. Cerca de 90% do território desse departamento é coberto por florestas. Os conflitos étnicos são comuns nessa possessão francesa. A população, como a das outras Guianas, é composta de diversas etnias, descendentes diretos ou miscigenados dos seguintes grupos: africanos, europeus, chineses, vietnamitas e uma minoria de árabes e indígenas. A maioria da população vive nas cidades litorâneas, sobretudo em Caiena, a capital.
  A Guiana Francesa foi descoberta em 1500 e colonizada no século XVII e, antes da chegada dos europeus, era habitada por indígenas, principalmente da nação aruaque. Na costa, viviam os caribes e no interior as tribos wayana, oyampi e emerillon. Os caribes, índios guerreiros, reagiram violentamente à presença espanhola desde o século XVI. O primeiro explorador da costa das Guianas foi Vicente Yanez Pinzón, em 1500.
Aldeia aruaque - nação nativa da Guiana Francesa
  O território da Guiana Francesa foi reconhecido no começo do século XVII e a cidade de Caiena foi fundada em 1637. A Guiana foi disputada por holandeses e franceses, mas foram os franceses que estabeleceram uma colônia na região. No fim do século XVII, começam a chegar os escravos que trabalhariam nas plantações de café e cacau. Em 1794 é abolida a escravidão, que foi novamente implantada na década seguinte. Em 1848, a escravidão é abolida definitivamente.
  A partir de 1852, a Guiana Francesa se transformou num presídio, sendo que a Ilha do Diabo era o mais famoso deles, no qual eram enviados os opositores políticos dos diversos regimes que governaram a França, chegando a mais de 80 mil prisioneiros em mais de um século, onde eles viviam em condições precárias, com elevado número de mortes.
  Em 1946, essa possessão francesa era conhecida por suas penitenciárias, como a Ilha do Diabo. A partir daquele ano, pressionado pela pressão pública mundial, o governo francês extinguiu as colônias penais, onde os presos eram mantidos sem alimentos, sofriam torturas e realizavam trabalhos forçados.
Ruínas de uma antiga prisão na Ilha do Diabo - Guiana Francesa
  Na segunda metade do século XIX foi encontrado ouro nos rios do interior da Guiana Francesa, fazendo com que muitas pessoas deixassem a agricultura para tentar a sorte nas minas em busca desse mineral metálico, provocando uma redução na produção agrícola e disputas de áreas fronteiriças.
  Em 1938 chegaram ao fim as deportações, mas a instituição prisional continuou funcionando e a repatriação começou em 1947, quando a Guiana se transformou em um departamento de ultramar. Nessa época a costa da Guiana Francesa teve um relativo desenvolvimento econômico.
  Em 1964, começa a construção do Centro Espacial de Kourou, que foi inaugurado em 1968. No início da década de 1980 foi posto em prática o Plano Vert, que tinha como finalidade aquecer a economia da Guiana Francesa, melhorando a produção agrícola e florestal.
Centro Espacial de Kourou - Guiana Francesa
  A Guiana Francesa é uma região plana com poucas colinas, sendo que o Bellevue de Inini é o ponto culminante dessa possessão francesa, com 851 metros. O relevo eleva-se desde a faixa costeira até as terras altas do sul, passando por uma planície de transição, onde se combinam os granitos do escudo guianês (ou maciço das Guianas) e os depósitos fluviais. No extremo sul estão localizadas as cadeias montanhosas Eureupogcigne e Oroye.
  Os rios são bastante caudalosos, destacando-se o Mana, Sinnamary, Approuague e o Oiapoque.
  O clima é o tropical, quente e úmido na maior parte do ano. A temperatura média desse departamento ultramarino francês é de 27°C e as precipitações ultrapassam os 3.000 milímetros anuais.
  Mais de 90% do território da Guiana Francesa está coberta por uma floresta equatorial densa, tornando-se impenetrável à medida que se aproxima das margens dos rios. Os manguezais cobrem grande parte do litoral.
Selva na Guiana Francesa
  A Guiana Francesa tem uma economia baseada principalmente na pesca e na extração mineral. Existe aí uma grande imigração ilegal, principalmente de brasileiros, haitianos, surinameses, atraídos pela possibilidade de obter renda em euros, a moeda que vigora nesse departamento francês. Atualmente, vem-se desenvolvendo a produção de camarão, que se transformou no principal produto de exportação. A produção agrícola em seu território é insuficiente para o abastecimento interno, o que obriga a Guiana Francesa a recorrer a importações da França.
  Em virtude da instabilidade econômica, recebe auxílio do governo francês, que lhe envia produtos industrializados e alimentos.
Lançamento de foguete no Centro Espacial de Kourou
  Nas últimas décadas, a Guiana Francesa desenvolveu uma economia florescente, estimulada pela atividade no Centro Espacial de Kourou, conhecido por hospedar a base de lançamento de foguetes e satélites da Agência Espacial Europeia (ESA). O aluguel da base de lançamento rende dividendos à administração local. Esse centro espacial, construído a partir de 1968, contribuiu bastante para o desenvolvimento econômico da Guiana Francesa, não só por gerar empregos, mas também por introduzir tecnologia de ponta e informática à região.
  Da Base de Kourou são lançados foguetes espaciais que conduzem satélites para os mais diversos fins. A localização geográfica e astronômica dessa base favorece, entre outros aspectos, a economia do combustível usado para efetuar seus lançamentos.   O sistema de transporte concentra-se no litoral. Há um aeroporto internacional em Rochambeau, perto de Caiena, a capital.
  Nas últimas décadas do século XX surgiram movimentos de independência do território e maiores direitos para a população.
Macouria - Guiana Francesa
 ALGUNS DADOS DA GUIANA FRANCESA
NOME OFICIAL: Departamento de Ultramar da França
CAPITAL: Caiena
Ruas de Caiena
GENTÍLICO: guianense
LÍNGUA OFICIAL: francês
GOVERNO: Região e Departamento Ultramarino da República Francesa
LOCALIZAÇÃO: norte da América do Sul
ÁREA: 90.000 km² (110°)
POPULAÇÃO (ONU - Estimativa 2014): 268.481 habitantes (172°)
DENSIDADE DEMOGRÁFICA: 2,84 hab./km² (202°)
CIDADES MAIS POPULOSAS (Estimativa 2014):
Caiena: 69.019 habitantes
Caiena - capital e maior cidade da Guiana Francesa
Matoury: 27.620 habitantes
Matoury - segunda maior cidade da Guiana Francesa
Saint-Laurent-du-Maroni: 25.457 habitantes
Saint-Laurent-du-Maroni - terceira maior cidade da Guiana Francesa
PIB (Banco Mundial - 2013): US$ 2,207 bilhões (159°)
IDH (ONU - 2014): 0,862 (28°)
EXPECTATIVA DE VIDA (ONU - 2012): 77,27 anos (49°)
CRESCIMENTO POPULACIONAL (ONU 2005-2010): 2,41% (35°)
TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL (CIA World Factbook - 2013): 14,02/mil (69°). Obs: essa mortalidade refere-se ao número de crianças que morrem antes de completar 1 ano de idade, e é contada de menor para maior.
TAXA DE FECUNDIDADE (CIA World Factbook 2014): 0,8 filhos/mulher (224°). Obs: essa taxa refere-se ao número médio de filhos que a mulher teria do início até o fim do seu período reprodutivo (15 a 49 anos) e é contada de maior para menor.
TAXA DE ALFABETIZAÇÃO (CIA World Factbook 2013): 83,9% (153°). Obs: essa taxa refere-se a todas as pessoas com 15 anos ou mais que sabem ler e escrever.
TAXA DE URBANIZAÇÃO (Pnud 2010/2011): 75,7% (42°)
PIB PER CAPITA (Fundo Monetário Internacional - FMI - 2013): US$ 12.641 (58°)
MOEDA: Euro
RELIGIÃO: católicos (75,2%), islâmicos (3,5%), hindus (12,2%), outras religiões cristãs (7,8%), outras religiões (1,3%).
DIVISÃO: a Guiana Francesa é dividida em dois arrondissements (distritos), que são Caiena e Saint-Laurent-du-Maroni, dezesseis cantões e 22 comunas.
Divisão administrativa da Guiana Francesa
FONTE: Vesentini, J. William. Projeto Teláris: Geografia / J. William Vesentini, Vânia Vlach. - 1. ed. - São Paulo: Ática, 2012. - (Projeto Teláris: Geografia)

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