sábado, 29 de agosto de 2020

A ILHA DE CÓRSEGA

  A Córsega é uma ilha montanhosa localizada a oeste da Itália e a quarta maior ilha do Mar Mediterrâneo (sendo superada apenas pela Sicília, Sardenha e Chipre). É um território francês desde 1769, porém, já pertenceu à Itália, fato este que se reflete na culinária, na língua, nos nomes das ruas e das cidades (Campomoro, Tizzano, Porto Vecchio, entre outras. Divide-se em duas regiões administrativas: a Alta Córsega, cuja capital é Bastia; e a Córsega do Sul, cuja capital é Ajaccio, sendo também a capital da ilha. A área da Córsega é de 8.680 km². Segundo estimativas para 2020, sua população é de 339.973 habitantes.

Mapa de localização da ilha de Córsega

  A língua oficial é o francês, porém, grande parte da população utiliza o corso, que se assemelha ao dialeto toscano. O inglês também é bastante falado, visto que a economia da ilha tem como base o turismo. As principais cidades são: Ajaccio, Bastia, Bonifácio, Calacuccia, Calvi, Cervione, Corbara, Murato, Pigna e Porto Vecchio.

Ajaccio - capital e maior cidade da Córsega. Segundo estimativas para 2020, sua população é de 72.305 habitantes

  Separada da Sardenha por um curto trecho do Estreito de Bonifácio, a ilha da Córsega emerge como uma enorme cadeia de montanhas, marcando a fronteira entre a parte ocidental do Mar Tirreno e o Mar Lígure, e é universalmente conhecida como o berço de Napoleão Bonaparte (1769-1821), que nasceu em Ajaccio.

  O relevo da Córsega é bastante acidentado, onde mais de 20 picos superam os dois mil metros. O Monte Cinto é o ponto mais elevado da ilha da Córsega, com uma altitude de 2.706 metros.

Monte Cinto - ponto mais elevado da ilha de Córsega

  Cerca de um terço do território da Córsega é coberto de florestas. Os principais rios da ilha de Córsega são o Golo, o Tavignamo, o Liamone, o Gravone, o Taravo e o Profiano. O clima é o mediterrâneo, com invernos amenos e chuvosos e verões quentes e secos.

  A principal atividade econômica da ilha da Córsega é o turismo. Na agricultura, tipicamente mediterrânea, predomina o cultivo de cereais, videiras, oliveiras e frutas cítricas. A pecuária é desenvolvida no sistema extensivo, e a criação de ovinos é o rebanho mais numeroso.

Bastia - com uma população de 46.448 habitantes (estimativa 2020) é a segunda maior cidade da ilha de Córsega

  A posição estratégica da Córsega determinou uma história muito atribulada. Colonizada pelos gregos no século VIII a.C., pelos cartagineses no século VI a.C. e pelos romanos desde o século III a.C., a ilha foi ocupada pelos vândalos no século V d.C., e entre os séculos VI e VII esteve anexada ao Império Bizantino. Posteriormente, fez parte dos reinos da Lombardia e dos Francos e dos Estados Pontifícios. No século XI, o Papa Gregório VII cedeu a ilha à cidade italiana de Pisa. Foco de disputa entre os senhores de Pisa, Gênova e Aragão, Córsega passou ao controle dos genoveses em meados do século XV.

Paisagem da ilha da Córsega

  Em 1769, após um breve período de autonomia, Gênova vendeu a ilha à França. Depois da Era Napoleônica, a Córsega firmou seus elos políticos com a França. Em 1976, a ilha foi dividida administrativamente em dois departamentos franceses: o da Alta Córsega, no norte; e o da Córsega do Sul. Nesse mesmo ano, em 5 de maio de 1976, foi criada a Frente de Libertação Nacional da Córsega (Fronte di Liberazione Naziunale Corsu, em corso - FLNC), um movimento político que defende a independência da Córsega da França. A FLNC é considerada pelas autoridades francesas, uma organização criminosa, que emprega em suas ações métodos violentos similares aos da máfia italiana, como vinganças, sequestros, atentados, entre outros.

Bandeira da Córsega

  A Córsega é a única coletividade na França, além dos territórios ultramarinos, que dispõe de um status particular. Em 2014, a FLNC anunciou que iria depor as armas, após décadas de atentados e de ataques armados. Em 2015, uma aliança de separatistas moderados chegou ao governo da Assembleia Territorial. Em junho de 2017, a Córsega elegeu, pela primeira vez, três deputados nacionalistas. A Assembleia da Córsega reivindica que o corso seja reconhecido como idioma oficial, junto com o francês, assim como um estatuto fiscal específico.

Paisagem de Bonifácio, na Córsega

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

A REPÚBLICA DO KOSOVO

  Ex-província autônoma da Sérvia, com população composta de 90% de albaneses muçulmanos, perdeu sua autonomia em 1989, e declarou sua independência em 2008. Embora a independência de Kosovo tenha sido reconhecida por muitos países, o fato criou divisões na União Europeia e na Rússia.
  O território de Kosovo fez parte dos impérios Romano, Bizantino, Búlgaro, Sérvio e Otomano e, no século XX, passou às mãos do Reino da Sérvia e da Iugoslávia. É um país interior, localizado no centro dos Bálcãs. A maior parte do território kosovar é coberto por vastas planícies de campos.
Mapa de Kosovo
HISTÓRIA
  Na antiguidade, a região de Kosovo, nos Bálcãs, era conhecida como Dardânia, e desde o século I fazia parte da província romana da Mésia. Entre 700 e 1455, a região de Kosovo tornou-se parte do Império Búlgaro, do Império Bizantino e, em seguida, pelos estados da Sérvia, quando foi conquistado pelo Império Otomano, no qual esteve sob o domínio desse Império de 1389 até 1912.
  Durante o Neolítico, o atual território de Kosovo estava sob o controle da chamada cultura de Vinca-Turdas. Os Dardânios e Tribálios, tribos indo-europeias de origem traco-ilíria, viveram no local entre os séculos IV e III a.C. Por volta do ano 160 a.C., a área começou a ser conquistada pelos romanos e integrada ao seu império, como parte da província da Ilíria, em 59 a.C. No ano 87 d.C., tornou-se parte da Mésia Superior e, em seguida, constituiu a sua própria divisão, por volta de 284, sob o reinado de Diocleciano, com capital na atual cidade de Nis (sul da Sérvia).
Muros de um antigo assentamento romano em Ulpiana, uma das principais cidades da antiga Dardânia
  No final do século VI e princípios do século VII, uma onda de migração de eslavos chegaram à região sob o domínio do Império Bizantino, miscigenando com latinos e trácio-ilírios. O Primeiro Império Búlgaro conquistou a área até 850. Em 1018, sob o comando do imperador Basílio II Bulgaróctono, recapturou Constantinopla. Vários pequenos reinos sérvios se instalaram na parte noroeste de Kosovo, liderando a resistência eslava contra o domínio bizantino. Numerosas igrejas e mosteiros foram construídos depois da cristianização da Bulgária, em 864.
  Durante a Revolta  de Pedro Deliano (1040-1041), Kosovo foi libertado e, durante a Revolta de Jorge, o Boitaco, em 1072, Pedro III foi proclamado imperador da Bulgária, em Prizren.
Província romana da Dardânia, no século IV
  Em 1216 a região passou ao controle do principado sérvio de Ráscia.  Kosovo foi absorvido pela Sérvia no final do século XII, e parte do Império Sérvio de 1346 a 1371. Em 1389, na Primeira Batalha do Kosovo, o exército do príncipe sérvio Lázaro Hrebljanovic foi derrotado pelos turcos-otomanos, que assumiram o controle total em 1455.
  Durante o governo da dinastia Nemânica, muitas igrejas e mosteiros ortodoxos sérvios foram construídos em todo o território sérvio. Essa dinastia utilizavam, de forma alternada, Prizren e Pristina como capitais.
  Kosovo era economicamente importante, tal como a moderna capital, Pristina, que era um importante centro comercial nas rotas principais para os portos do Mar Adriático.
  A composição étnica da população do Kosovo durante este período incluíam sérvios, albaneses e valacos, juntamente com um número simbólico de gregos, saxões e búlgaros, de acordo com estatísticas dos monastérios sérvios.
Mapa do Kosovo no Império Búlgaro, século X
  A Segunda Batalha do Kosovo foi travada ao longo de dois dias em outubro de 1448, entre uma força liderada pelo húngaro John Hunyadi e um exército otomano liderado por Murade II. Significativamente maior do que a primeira, com ambos os exércitos de numeração duas vezes maior que da primeira batalha, o exército húngaro foi derrotado e expulso do território.
  Após a conquista otomana, o território de Kosovo se tornou parte da Rumélia, área atualmente referida como Bálcãs. A principal mudança após a invasão foi o processo de islamização realizado na área, que começou logo após a chegada dos otomanos.
Gjakova - com uma população de 103.998 habitantes (estimativa 2020) é a quarta cidade mais populosa do Kosovo
  Em 1689, o Kosovo foi desestabilizado por causa de uma guerra entre os otomanos e o Santo Império Romano, sob o domínio dos Habsburgos. Em outubro do mesmo ano, uma força comandada pelo austríaco Ludwig von Baden Markgraf avançou para o Kosovo, capturando também Belgrado. Muitos sérvios se juntaram ao exército austríaco. Uma ofensiva otomana forçou os austríacos a recuar para a fortaleza em Nis, próximo à Belgrado e, depois retornaram para a Hungria.
  A ofensiva otomana foi acompanhada por represálias e saques, principalmente contra os sérvios, obrigando-os a migrarem para outras regiões. Com isso, o Kosovo tornou-se uma área com população majoritariamente albanesa.
Vilaiete do Kosovo, 1875-1878
  No final do século XIX, surgiu um sentimento nacionalista por parte dos albaneses. O governo fez uma reforma administrativa em 1864, criando uma província ou Vilaiete de Kosovo, que incluía territórios que atualmente fazem parte da Albânia, da República da Macedônia e de Montenegro. Essas reformas não foram suficientes para satisfazer os desejos de maior autonomia. Em 10 de julho de 1878, formou-se a Liga de Prizren, onde quatro vilaietes albaneses (incluindo o Kosovo) se uniram para lutar por sua independência e para defender o território dos reinos eslavos nas proximidades, que haviam derrotado os turcos na recente Guerra Russo-Turca, onde a Liga seria desfeita em 1881 pelas forças do sultanato.
  O território foi confrontado pelos resultados da Primeira e Segunda Guerra Balcânica. A derrota definitiva do Império Otomano na primeira, implicou na remoção permanente destes em grande parte dos Bálcãs, incluindo o Kosovo, e permitiu a formação da Albânia para formar um Estado-nação para os habitantes dessa etnia. No entanto, a vitória nestas guerras foi utilizada pela Sérvia para restaurar os antigos territórios sob seu controle, incluindo o Kosovo e o norte da Macedônia.
Péc - com uma população de 100.442 habitantes (estimativa 2020) é a quinta cidade mais populosa do Kosovo
  Em 1912, durante as guerras dos Bálcãs, a maior parte do Kosovo foi anexada pelo Reino da Sérvia, enquanto que a região de Metóquia foi tomada pelo Reino de Montenegro. Kosovo foi dividido em quatro municípios: três sendo uma parte da entidade da Sérvia (Zvecan, Kosovo e Metóquia do Sul) e um de Montenegro (Norte da Metóquia).
  Após a Primeira Guerra Balcânica, em 1912, o Kosovo foi reconhecido internacionalmente como parte da Sérvia, e Metóquia do Norte como parte de Montenegro, no Tratado de Londres, em maio de 1913.
  A integração do Kosovo à Sérvia, provocou uma forte mudança demográfica, onde milhares de famílias albanesas se mudaram para o novo Estado-nação da Albânia, enquanto as novas autoridades incentivaram um plano de colonização sérvia e procedimentos de limpeza étnica, que incluíam massacres de albaneses. A eclosão da Primeira Guerra Mundial iria criar uma oportunidade para os albaneses recuperarem alguma parte da sua autonomia, aliando-se a alguns de seus líderes as tropas da Áustria-Hungria e do Reino da Bulgária, que forçou a retirada das forças sérvias entre 1914 e 1915. No entanto, a participação dos exércitos da Tríplice Entente permitiram derrotar as Potências Centrais e a vitória da Sérvia.
Fronteiras nos Bálcãs após a Primeira e Segunda Guerra Balcânica
  Em 1918, a Sérvia tornou-se parte do recém-criado Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos, mais tarde chamado Iugoslávia.
  O período de 1918 a 1929 do Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos, testemunhou um aumento da população sérvia na região e um declínio dos não-sérvios. Em 1929, o Kosovo foi dividido entre a Banovina Zeta a leste com capital em Cetinje, Banovina Vardar no sudeste com capital em Escópia e Banovina Morava no nordeste com a capital em Nis.
  No âmbito da Segunda Guerra Mundial, os exércitos das potências do Eixo invadiram a Iugoslávia em 1941, desmantelando em diversos territórios sob seu controle. Grande parte do Kosovo foi dado à Grande Albânia ocupada pela Itália fascista, o sul ficou sob a administração do Reino da Bulgária (formando a Bulgária Maior) e o norte a Sérvia de Nedic. Durante a ocupação, os grupos armados albaneses locais (chamados Vulnetari) lançaram uma campanha para estabelecer uma homogeneidade étnica no território do Kosovo, pelo qual se realizaram massacres e deportações de eslavos, judeus e ciganos, que aumentaria após a capitulação italiana e a ocupação da Albânia pela Alemanha nazista em setembro de 1943. Estima-se que entre 10 mil e 30 mil sérvios foram mortos e 100 mil fugiram da área.
Kosovo em 1941
  A resistência albanesa contra a ocupação cresceu e começou a deslocar as forças alemãs. No entanto, o estatuto do Kosovo era uma fonte de confronto entre os nacionalistas e partisans comunistas, enquanto os primeiros esperavam que após o fim do conflito, o Kosovo permaneceria parte da Albânia, os últimos tinham esperança de que uma vez libertada e articulada, a Iugoslávia cederia o território pacificamente. A vitória dos partisans e o apoio desses as tropas iugoslavas de Josip Broz Tito, permitiu a permanência do Kosovo na recém-formada República Democrática Federal da Iugoslávia, em 1946.
  Após o fim da guerra e o estabelecimento do regime comunista de Tito, foi concedido ao Kosovo o estatuto de região autônoma da Sérvia em 1946, tornando-se uma província autônoma em 1963. O governo comunista não permitiu o retorno de muitos dos refugiados sérvios, entretanto, continua com as prisões e os assassinatos de albaneses nacionalistas, culminando no Massacre de Tivar, onde entre 3 mil e 4 mil albaneses do Kosovo que resistiam ao regime iugoslavo foram mortos.
Massacre de Tivar ou Bar, realizado entre os dias 1 e 2 de abril de 1945
  Com a aprovação da Constituição Iugoslava de 1974, o Kosovo obteve um auto-governo virtual. O governo provincial havia implementado o currículo albanês nas escolas do Kosovo: livros obsoletos e excedentes da Albânia de Enver Hosha foram obtidos e colocados em uso.
  Ao longo da década de 1980, as tensões entre as comunidades albanesa e sérvia na província aumentaram. A comunidade albanesa favorecia uma maior autonomia para o Kosovo, enquanto que os sérvios apoiavam laços mais estreitos com o resto da Sérvia. Havia pouca aprovação para a unificação com a Albânia, em si, que era governada por um governo stalinista, cujo padrão de vida era consideravelmente pior do que o Kosovo. No início de março de 1981, estudantes kosovares albaneses organizaram protestos para exigir que o Kosovo se tornasse uma República no seio da Iugoslávia. Estes protestos contribuíram para a escaladada da violência, sendo reprimida duramente pelo governo iugoslavo. Cerca de dois mil estudantes foram envenenados por meio de tubulações de água que abasteciam seus dormitórios.
Província Socialista Autônoma do Kosovo da República Socialista da Sérvia, no interior da República Federal Socialista da Iugoslávia, 1974-1990
  Os sérvios residentes no Kosovo foram discriminados pelo governo provincial, especialmente pelas autoridades policiais locais, que não puniam os crimes relatados contra sérvios, tornando o ambiente cada vez mais difícil no Kosovo.
  Em 1989, a autonomia do Kosovo e da província de Voivodina foi drasticamente reduzida através de um referendo realizado em toda a Sérvia. O referendo aprovou uma nova constituição, que permitia um sistema multipartidário, introduziu a liberdade de expressão, e promoveu os direitos humanos.
  Os albaneses do Kosovo se recusaram a participar do referendo, considerando-o ilegítimo, mas a nova Constituição devia ser ratificada pela Assembléia do Kosovo. A Assembleia foi inicialmente contrária à Constituição, mas em março de 1989, quando ela se reuniu para discutir as propostas, tanques e veículos blindados cercaram e obrigaram os delegados a aceitar as emendas.
Principais etnias e nacionalidades na Iugoslávia, em 1998
  Em 28 de junho de 1989, o presidente iugoslavo, Slobodan Milosevic proferiu o Discurso de Gazimestan a frente de um grande número de cidadãos sérvios. Milosevic, empregando uma combinação de intimidação e de manobras políticas, reduziu drasticamente o estatuto especial autônomo do Kosovo dentro da Sérvia e iniciou a opressão cultural da população de etnia albanesa. Os albaneses do Kosovo responderam com um movimento separatista não-violento, empregando desobediência civil generalizada e a criação de estruturas paralelas na educação, cuidados médicos, e fiscalidade, com o objetivo final de alcançar a independência do Kosovo.
  Em 2 de julho de 1990, o auto-declarado parlamento de Kosovo declarou o Kosovo como um país independente, a República de Kosova. Em maio de 1992, Ibrahim Rugova foi eleito presidente. Durante sua existência, a República de Kosova só foi reconhecida pela Albânia, sendo formalmente dissolvida em 2000, após a Guerra do Kosovo, quando suas instituições  foram substituídas pela Estrutura Conjunta Administrativa Intercalar, estabelecida pela Missão de Administração Interina das Nações Unidas no Kosovo (UNMIK).
  Em 1996, formou-se um grupo guerrilheiro, o Exército de Libertação de Kosovo (ELK), de etnia albanesa, com o objetivo de lutar pela independência da província.
  Em 1998, com o apoio albanês, iniciou-se a tentativa de independência da região autônoma de Kosovo, provocando uma guerra no começo de 1999. O governo iugoslavo, liderado pelo então presidente Slobodan Milosevic, deixou de agir de forma disfarçada e passou a massacrar abertamente a etnia albanesa, expulsando famílias de suas casas e da própria região e fazendo uma verdadeira limpeza étnica.
  Nesse momento, o apoio popular do ELK era cada vez maior em Kosovo. Além disso, os conflitos na região chamavam a atenção do mundo. Graças aos meios de comunicações internacionais, uma opinião favorável à independência de Kosovo começou a crescer em vários países, principalmente nos Estados Unidos e na Europa. Na tentativa de impedir que isso acontecesse, houve uma intensificação do genocídio contra os kosovares.
Localidade kosovar em 1999, destruída pela Guerra do Kosovo
  De abril a junho de 1999, as forças armadas da Otan, lideradas pelos Estados Unidos, promoveram milhares de operações aéreas, efetuando intensos bombardeios nas áreas de Kosovo dominadas pelas tropas sérvias, como forma de pressionar o governo a negociar com o Exército de Libertação de Kosovo. Estradas, aeroportos, pontes, usinas e edifícios do governo foram bombardeados e destruídos na região sérvia e em Kosovo.
  Em junho de 1999, o governo iugoslavo assinou um tratado de paz, concordando em retirar suas tropas de Kosovo e permitindo o controle do território por tropas da ONU, compostas de milhares de soldados estadunidenses, britânicos, alemães, franceses e russos. Após a assinatura do acordo de paz, mais de 800 mil refugiados albaneses retornaram a Kosovo na tentativa de reconstruir suas vidas.. Por outro lado, cerca de 200 mil sérvios abandonaram a província desde então, temendo o aumento da discriminação étnica dos albaneses.
Áreas do Kosovo e no sul da Sérvia, onde a aviação da Otan utilizou munições com urânio empobrecido no bombardeio de 1999
  Em fevereiro de 2008, Kosovo declarou sua independência unilateralmente da Sérvia. Sua independência foi reconhecida quase de imediato por Estados Unidos, Reino Unido, França e Alemanha. Atualmente, Kosovo é reconhecido por cerca de 120 países, mas alguns, como a Sérvia, principalmente, e seus aliados - Rússia e China - e de cinco Estados-membros da União Europeia - Espanha, Romênia, Chipre, Grécia e Eslováquia - não reconhecem a independência de Kosovo.
  A Sérvia não só aceita a independência como procura impedir o reconhecimento internacional de Kosovo, o que, no entanto, pode ser uma questão de tempo. A Sérvia pretende ingressar na União Europeia, mas só conseguirá realizar sua pretensão após reconhecer o território kosovar como país independente. Com o reconhecimento por parte da Sérvia, automaticamente, Rússia e China deverão aceitar a independência de Kosovo.
  Atualmente, a tensão entre sérvios e kosovares vem aumentando pelo apoio declarado da Rússia à Sérvia - com intenção de impedir a independência do Kosovo, acentuando as rivalidades étnicas e a possibilidade de novos conflitos.
Símbolo do Exército de Libertação do Kosovo (ELK)
GEOGRAFIA
  Kosovo ocupa uma área de 10.887 km² e está localizado no sul da Sérvia, fazendo fronteira com a Macedônia (a sudeste) e com a Albânia e Montenegro (a oeste). Cerca de 2 milhões de pessoas viviam em Kosovo em 1997, mas os conflitos de 1998-1999 provocaram milhares de mortes e cerca de 1 milhão de refugiados. Segundo estimativas da ONU para 2020, a população de Kosovo é de 1.824.396 habitantes.
  O clima predominante no Kosovo é o clima continental, com verões muito quentes, invernos muito rigorosos e com a ocorrência de neve. A maior parte do território kosovar é composto por montanhas. O ponto mais elevado da República é o Monte Djeravica, com 2.656 metros de altitude, localizado na fronteira com a Albânia. O país tem duas regiões planas: a bacia de Metohija, localizada na parte ocidental; e a Planície do Kosovo, que ocupa a parte oriental.
Monte Djeravica - ponto mais elevado do Kosovo
  Os principais rios que cortam o país são: Drin (que deságua no Mar Adriático), o Erenik (um dos seus afluentes), o Sitnica, o Morava do Sul, o Gollak e o Iber. Os maiores lagos são o Ujman, o Radonic, o Batlava e o Badovc.
  Cerca de 39% do território kosovar é coberto por florestas. O Parque Nacional das Montanhas de Char, com 39.000 hectares, fundado em 1986, é o principal parque florestal do país.
Rio Drin - principal rio que corta o Kosovo
POPULAÇÃO
  A população do Kosovo, segundo estimativas da ONU para 2020, é de 1.824.396 habitantes. Os principais grupos étnicos existentes no país são: albaneses (que respondem por cerca de 92% da população), sérvios (4% da população), bósnios muçulmanos (2%) e os 2% restantes são compostos por outros grupos, como goranis, turcos e ciganos.
  Os albaneses do Kosovo têm a maior taxa de crescimento populacional da Europa, com cerca de 1,3% ao ano. As línguas mais faladas no Kosovo são o albanês e o sérvio A maioria da população do Kosovo professa o islamismo.
Podujevo - com uma população de 88.630 habitantes (estimativa 2020) é a sexta cidade mais populosa do Kosovo
ECONOMIA
  O Kosovo possui uma das menores economias da Europa. A economia do Kosovo é baseada na extração e exportação de produtos primários, principalmente no setor da mineração. Os principais recursos minerais extraídos no país são: zinco, chumbo, níquel, cromo, ouro e carvão mineral, cuja reserva é a terceira maior da Europa e também seu principal recurso energético. No setor agrícola, os principais produtos cultivados na República são trigo, cevada, milho e uva. O vinho produzido em Kosovo é considerado um dos melhores dos Balcãs, cuja exportação é destinada principalmente para a Alemanha e os Estados Unidos.
  O euro é a moeda oficial do Kosovo. O dinar sérvio é utilizado nas áreas povoadas por sérvios.
Kosovska Mitrovica - com uma população de 85.653 habitantes (estimativa 2020) é a sétima cidade mais populosa do Kosovo
ALGUNS DADOS SOBRE KOSOVO
NOME: República do Kosovo
INDEPENDÊNCIA: da Sérvia
Declarada: 17 de fevereiro de 2008 (ainda não reconhecida pela ONU)
CAPITAL: Pristina
Pristina - capital do Kosovo
GENTÍLICO: kosovar
LÍNGUA OFICIAL: albanês e sérvio
GOVERNO: República Parlamentarista
LOCALIZAÇÃO: Sudeste da Europa (Península dos Balcãs)
ÁREA: 10.887 km² (161º)
POPULAÇÃO (ONU - Estimativa para 2020): 1.824.396 habitantes (147°)
DENSIDADE  167,57 hab./km² (48º). Obs: a densidade demográfica, densidade populacional ou população relativa, é a medida expressa pela relação entre a população total e a superfície de um determinado território.
CRESCIMENTO POPULACIONAL (ONU - Estimativa 2019): 0,8% (141°). Obs: o crescimento vegetativo, crescimento populacional ou crescimento natural é a diferença entre a taxa de natalidade e a taxa de mortalidade de uma determinada população e é contada da maior para a menor.
CIDADES MAIS POPULOSAS (Estimativa para 2020):
Pristina: 217.823 habitantes
Pristina - capital e cidade mais populosa do Kosovo
Prizren: 198.953 habitantes
Prizren - segunda cidade mais populosa do Kosovo
Ferizaj: 107.649 habitantes
Ferizaj - terceira cidade mais populosa do Kosovo
PIB (FMI - 2019): US$ 7.947 bilhões (143º). Obs: o PIB (Produto Interno Bruto), representa a soma (em valores monetários) de todos os bens e serviços finais produzidos numa determinada região (quer sejam países, estados ou cidades), durante um período determinado (mês, trimestre, ano).
PIB PER CAPITA (FMI 2019): U$ 4.355 (107°). Obs: o PIB per capita ou renda per capita é o Produto Interno Bruto (PIB) de um determinado lugar dividido por sua população. É o valor que cada habitante receberia se toda a renda fosse distribuída igualmente entre toda a população. 
IDH (ONU - 2019): 0,739 (91º) Obs: o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) é uma medida comparativa usada para classificar os países pelo seu grau de desenvolvimento econômico e a qualidade de vida oferecida à população. Este índice é calculado com base em dados econômicos e sociais, variando de 0 (nenhum desenvolvimento humano) a 1 (desenvolvimento humano total). Quanto mais próximo de 1, mais desenvolvido é o país. No cálculo do IDH são computados os seguintes fatores: educação (anos médios de estudos), longevidade (expectativa de vida da população) e PIB per capita. A classificação é feita dividindo os países em quatro grandes grupos: baixo (de 0,0 a 0,500), médio (de 0,501 a 0,800), elevado (de 0,801 a 0,900) e muito elevado (de 0,901 a 1,0).
Mapa do IDH no mundo
EXPECTATIVA DE VIDA (OMS - 2019): 71,91 anos (95°). Obs: a expectativa de vida refere-se ao número médio de anos para ser vivido por um grupo de pessoas nascidas no mesmo ano, se a mortalidade em cada idade se mantém constante no futuro, e é contada da maior para a menor.
TAXA DE NATALIDADE (ONU - 2019): 15,2/mil (131º). Obs: a taxa de natalidade é a porcentagem de nascimentos ocorridos em uma população em um determinado período de tempo para cada grupo de mil pessoas, e é classificada do maior para o menor.
TAXA DE MORTALIDADE (CIA World Factbook - 2019): 5,32/mil (184º). Obs: o índice de mortalidade reflete o número de mortes registradas, em média por mil habitantes, em uma determinada região em um período de tempo, e é contada da maior para a menor.
TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL (CIA World Factbook - 2019):  14,15/mil (102°). Obs: a taxa de mortalidade infantil refere-se ao número de crianças que morrem no primeiro ano de vida entre mil nascidas vivas em um determinado período, e é classificada do menor para o maior.
Mapa com um gráfico que apresenta a taxa de mortalidade infantil dos países
TAXA DE FECUNDIDADE (CIA World Factbook - 2020): 1,95 filhos/mulher (119°). Obs: a taxa de fecundidade refere-se ao número médio de filhos que a mulher teria do início ao fim do seu período reprodutivo (15 a 49 anos), e é classificada do maior para o menor.
Mapa com a taxa de fertilidade dos países
  7-8 crianças
  6-7 crianças
  5-6 crianças
  4-5 crianças
  3-4 crianças
  2-3 crianças
  1-2 criança(s)
TAXA DE ALFABETIZAÇÃO (CIA World Factbook - 2019):  91,9% (126º). Obs: essa taxa refere-se a todas as pessoas com 15 anos ou mais que sabem ler e escrever.
Mapa com o índice de alfabetização
TAXA DE URBANIZAÇÃO (CIA World Factbook - 2020): 62,1% (95°). Obs: essa taxa refere-se a porcentagem da população que mora nas cidades em relação à população total.
Mapa com o índice de urbanização entre os países
MOEDA: Euro
RELIGIÃO: muçulmanos (71,2%), cristãos ortodoxos (19,1%), católicos romanos (8,7%), outras religiões (1%).
DIVISÃO: o Kosovo está subdividido em sete distritos. Os distritos são: Dakovica, Gnjilane, Kosovska Mitrovica, Péc, Pristina, Prizren e Urosevac.
Mapa da divisão administrativa de Kosovo

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