quinta-feira, 3 de julho de 2014

A REFORMA PROTESTANTE E A CONTRA-REFORMA

  Na Europa do início do século XVI, a Igreja católica tinha grande poder e influência sobre a vida das pessoas. Como a Bíblia só existia em latim - língua que a maior parte da população não entendia - os textos bíblicos eram sempre explicados pelos membros do clero. Eles dominavam o latim e afirmavam ser os únicos capazes de intermediar a relação dos fiéis com Deus.
  De acordo com a Igreja católica, para garantir a salvação da alma e assegurar a vida eterna no Paraíso, era necessário realizar boas ações na Terra. Quem se desviava do que a Igreja considerava o caminho do bem era considerado pecador.
  Mas nem todas as pessoas aceitavam sem crítica os ensinamentos  da Igreja. E muitos questionavam o comportamento dos padres e do papa, alegando que a Igreja se desviara de seus princípios originais e vivia envolvida em situações comprometedoras.
A Vulgata - tradução da Bíblia para o latim, por São Jerônimo
  Eram frequentes os casos de nepotismo junto ao clero e muitos padres tinham filhos, embora fossem obrigados a manter a castidade. Além disso, os religiosos pareciam mais preocupados em acumular riquezas do que em divulgar os ensinamentos de Cristo - uma das principais críticas à Igreja se referia à venda de indulgências.
  Indulgência era o perdão que a Igreja oferecia aos fiéis que se arrependiam de seus pecados. Em 1513, o papa Leão X estabeleceu que esse perdão passaria a ser vendido sob a forma de um documento chamado carta de indulgência.
  Os representantes da Igreja católica percorriam as cidades europeias vendendo essas cartas a quem quisesse garantir o perdão dos pecados já cometidos e também dos que viesse a cometer. O comércio de indulgências tornou-se tão lucrativo e difundido que os fiéis podiam adquirir carta de indulgência na casa bancária dos Fuggers, um dos maiores banqueiros da época.
Venda de indulgências - pintura de Augsburg de cerca de 1530
  Outra atividade da Igreja que muitas pessoas condenavam, mas que dava muito lucro, era a venda de imagens e relíquias, objetos supostamente sagrados, como fios de cabelo da Virgem Maria ou pedaços da cruz de Cristo. Segundo a Igreja, quem comprasse essas mercadorias  também teria o perdão dos pecados.
  O dinheiro arrecadado pela Igreja era usado para manter o luxo em que viviam os representantes do alto clero e também para a compra de obras de arte e a construção de igrejas. Ao instituir as cartas de indulgência, o papa Leão X tinha como principal objetivo conseguir dinheiro para finalizar as obras de construção da Basílica de São Pedro, em Roma.
Papa Leão X (1475-1521)
A REFORMA PROTESTANTE
  Uma das pessoas que discordava da atuação da Igreja era Martinho Lutero, um monge católico que vivia na Saxônia - região do Sacro Império Romano-Germânico, na atual Alemanha. Lutero defendia a ideia de que a fé era a única forma de garantir a salvação. Para ele, os pecados só podiam ser perdoados por Deus, e não pela Igreja. Com isso, surgiu a Reforma Protestante.
  A Reforma Protestante foi um movimento reformista cristão culminado no início do século XVI por Martinho Lutero, quando através da publicação de suas 95 teses, em 31 de outubro de 1517 na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, protestou contra diversos pontos da doutrina da Igreja Católica Romana, propondo uma reforma no catolicismo romano. Os princípios fundamentais da Reforma Protestante são conhecidos como os Cinco Solas. Essas suas proposições se tornaram muito populares, pois tiravam da Igreja e davam a cada pessoa a responsabilidade por sua própria salvação. Essas teses, porém, iam contra os interesses da Igreja católica, que excomungou Lutero em 1521.
Martinho Lutero (1483-1546)
A Pré-Reforma
  Antes de acontecer a Reforma Protestante, existiu a Pré-Reforma, que teve suas origens em uma denominação cristã do século XII conhecida como Valdenses, que era formada pelos seguidores de Pedro Valdo, um comerciante de Lyon, França, que se converteu ao Cristianismo por volta de 1174. Ele decidiu encomendar uma tradução da Bíblia para a linguagem popular e começou a pregar ao povo sem ser sacerdote. Ao mesmo tempo, renunciou à sua atividade e aos bens, que repartiu entre os pobres. Desde o início, os valdenses afirmavam o direito de cada fiel de ter a Bíblia em sua própria língua, considerando ser a fonte de toda autoridade eclesiástica. Eles reuniam-se em casas de famílias ou mesmo em grutas, clandestinamente, devido à perseguição da Igreja Católica Romana, já que negavam a supremacia de Roma e rejeitavam o culto às imagens, que consideravam como sendo idolatria.
Igreja Valdense em Roma
  No século XIV, o inglês John Wycliffe, considerado como precursor da Reforma Protestante, levantou diversas questões sobre controvérsias que envolviam o Cristianismo, mais precisamente a Igreja Católica Romana. Entre outras ideias, Wycliffe queria o retorno da Igreja à primitiva pobreza dos tempos dos evangelistas, algo que, na sua visão, era incompatível com o poder político do papa e dos cardeais, e que o poder da Igreja devia ser limitado às questões espirituais, sendo o poder político exercido pelo Estado, representado pelo rei.
  Contrário à rígida hierarquia eclesiástica, Wycliffe defendia a pobreza dos padres e os organizou em grupos. Estes padres foram conhecidos como "lordados".
John Wycliffe (1328-1384)
  Mais tarde, surgiu outra figura importante deste período: Jan Huss. Nascido na Tchecoslováquia, iniciou um movimento religioso baseado nas ideias de John Wycliffe. Seus seguidores ficaram conhecidos como Hussitas.
  Os hussitas foram divididos em dois grupos: os moderados utraquistas e os radicais taboritas (da cidade de Tábor, no sul da Boêmia). Os hussitas exigiam:
  • comunhão sob as duas espécies (os comungantes deveriam comer a hóstia e beber vinho);
  • a liberdade de pregação;
  • a pobreza da Igreja;
  • a punição dos pecados mortais sem distinção da posição de nascimento do pecador.
Jan Huss (1369-1415)
  Huss foi excomungado pela Igreja Católica em 1410 e, condenado pelo Concílio de Constança, foi queimado vivo e morreu cantando um cântico.
  A Reforma Protestante também foi impulsionada por razões políticas e sociais, como:
  • os conflitos políticos entre autoridades da Igreja Romana e governantes das monarquias europeias, cujos governantes desejavam para si o poder espiritual e ideológico da Igreja e do Papa, muitas vezes para assegurar o direito divino dos reis;
  • práticas como a usura eram condenadas pela ética católica romana, assim, a burguesia capitalista que desejava obter elevados lucros econômicos sentiria-se mais "confortável" se pudesse seguir uma nova ética religiosa, adequada ao espírito capitalista. Esta necessidade foi atendida pela ética protestante;
  • algumas causas econômicas para a aceitação da Reforma foram o desejo da nobreza e dos príncipes de se apossar das riquezas da Igreja católica e ver-se livre a tributação papal que, apesar de defender a simplicidade, era a instituição mais rica do mundo. Também na Alemanha, a pequena nobreza estava ameaçada de extinção em vista do colapso da economia senhorial. Muitos desses nobres desejavam as terras da Igreja. Somente com a Reforma, estas classes puderam expropriar as terras;
  • durante a Reforma na Alemanha, autoridades de várias regiões do Sacro Império Romano-Germânico, pressionadas pela população e pelos luteranos, expulsavam e até assassinavam sacerdotes católicos das igrejas, substituindo-os por religiosos com formação luterana;
  • Lutero era radicalmente contra a revolta camponesa iniciada em 1524 pelos anabatistas liderados por Thomas Münzer, que provocou a Guerra dos Camponeses. Münzer comandou massas camponesas contra a nobreza imperial, pois propunha uma sociedade sem diferenças entre ricos e pobres e sem propriedade privada; Lutero por sua vez defendia que a existência de "senhores e servos" era vontade divina, motivo pelo qual eles romperam.
Gravura mostrando a Guerra dos Camponeses
O Luteranismo
  Lutero foi apoiado por vários religiosos e governantes europeus provocando uma revolução religiosa, iniciada na Alemanha, estendendo-se pela Suíça, França, Países Baixos, Reino Unido, Escandinávia e algumas partes do Leste Europeu, principalmente os Países Bálticos e a Hungria.
  As teses pregadas por Lutero condenavam a avareza e o paganismo na Igreja, e pediam um debate teológico sobre o que as indulgências significavam. As 95 Teses foram logo traduzidas para o alemão e amplamente copiadas e impressas. Após um mês essas teses haviam se espalhado por toda a Europa.
  Após diversos acontecimentos, em junho de 1518, foi aberto um processo por parte da Igreja Católica contra Lutero. Alegava-se, com o exame do processo, que ele incorria em heresia. Em agosto do mesmo ano, o processo foi alterado para heresia notória. Finalmente, em junho de 1520 reapareceu a ameaça no escrito "Exsurge Domini" e, em janeiro de 1521, a bula "Decet Romanum Pontificem" excomungou Lutero. Devido a esses acontecimentos, Lutero foi exilado no Castelo de Wartburg, em Eisenach, onde permaneceu por cerca de um ano. Durante esse período de exílio forçado, Lutero trabalhou na sua tradução da Bíblia para o alemão, da qual foi impresso o Novo Testamento, em setembro de 1522.
As 95 Teses de Martinho Lutero
  Enquanto isso, em meio ao clero saxônico, aconteceram renúncias ao voto de castidade. Muitos realizaram a troca das formas de adoração e terminaram com as missas, assim como a eliminação das imagens nas igrejas e a ab-rogação do celibato. O casamento de Lutero com a ex-freira Catarina von Bora incentivou o casamento de outros padres e freiras que haviam adotado a Reforma. Com estes e outros atos consumou-se o rompimento definitivo com a Igreja Romana. 
  Martinho Lutero criou então sua própria religião, o Luteranismo. Nas Igrejas luteranas não havia uma autoridade máxima e o celibato clerical foi eliminado. Lutero também traduziu a Bíblia do latim para o alemão, permitindo que as pessoas tivessem acesso direto aos textos bíblicos, deixando de depender do clero.
Extensão da Reforma Protestante na Europa
  Vários príncipes se converteram à nova religião e deram proteção militar a Lutero, que não foi mais perseguido pela Igreja católica. Essa aliança entre Lutero e os príncipes deu origem a maior liberdade religiosa no Sacro Império Romano-Germânico, e o luteranismo se difundiu na sociedade europeia.
  Em 1529, o imperador Carlos V tentou obrigar todos os príncipes subordinados a ele (inclusive o duque Frederico da Saxônia, protetor de Lutero) a retornar ao catolicismo. O protesto dos príncipes aliados de Lutero contra essa determinação do imperador deu origem ao nome da nova religião: o protestantismo. Com isso, os príncipes adquiriram o direito de escolher qual religião desejavam seguir.
Igreja Luterana de Nossa Senhora Frauenkirche, em Dresden - Alemanha
O Calvinismo
  Ao mesmo tempo em que ocorria uma reforma em um sentido determinado, alguns grupos protestantes realizaram a chamada Reforma Radical. Queriam uma reforma mais profunda. Foram parte importante dessa reforma radical os Anabatistas, cujas principais características eram a defesa da total separação entre a Igreja e o Estado e o "novo batismo".
  Na Suíça, a Reforma teve como principal líder o francês João Calvino e o alemão Ulrico Zuínglio.
  João Calvino foi integrante do clero romano, porém, não chegou a ser ordenado sacerdote, pois foi afastado por causa de discordar de certos preceitos da Igreja católica. Depois do seu afastamento da Igreja romana, começou a ser visto como um representante do movimento protestante. Vítima das perseguições aos huguenotes na França, fugiu para Genebra em 1533, onde faleceu em 1564. Genebra tornou-se um centro do protestantismo europeu e João Calvino permaneceu desde então como uma figura central da história da cidade e da Suíça.
João Calvino (1509-1564)
  Calvino publicou as Institutas da Religião Cristã, que são uma importante referência para o sistema de doutrinas adotado pelas Igrejas Reformadas. Ele discordava tanto do catolicismo quanto do luteranismo em relação à salvação da alma. Para Calvino, desde a criação do mundo Deus já havia destinado apenas alguns seres humanos à salvação. Somente após a morte cada um iria descobrir se era ou não predestinado à vida eterna. Ninguém podia fazer nada para mudar isso durante a vida, apenas aceitar a decisão divina.
  Os calvinistas acreditavam que cada um dos predestinados à salvação vinha à Terra para realizar uma missão. O sucesso no trabalho e nos negócios era entendido como um indicativo de que a missão divina estava sendo cumprida. Assim, o sucesso profissional e financeiro passou a ser entendido também como um sinal de predestinação à vida eterna.
Livro de João Calvino Institutas da Religião Cristã
  Calvino teve de deixar a França por causa de suas crenças religiosas. Mudou-se para Genebra, na Suíça, e converteu à população local à sua religião. Mais tarde surgiram calvinistas no Leste Europeu, na França (onde foram chamados huguenotes) e na Inglaterra (onde foram chamados de puritanos).
  O problema com os huguenotes somente concluíram quando o rei Henry IV, um ex-huguenote, emitiu o Edito de Nantes, declarando tolerância religiosa e prometendo um reconhecimento oficial da minoria protestante, mas sob condições muito restritas.
Catedral de Saint Pierre, em Genebra - Suíça
  Já Ulrico Zuínglio foi o líder da reforma na Suíça e fundador das igrejas reformadas suíças. Zuínglio não deixou igrejas organizadas, mas as suas doutrinas influenciaram as confissões calvinistas. A reforma de Zuínglio foi apoiada pelo magistrado e pela população de Zurique, levando a mudanças significativas na vida civil e em assuntos de Estado em Zurique.
Ulrico Zuínglio (1484-1531)
O Anglicanismo
  A Inglaterra também foi palco de uma crise da Igreja católica. Em 1527, o rei inglês Henrique VIII pediu ao papa Clemente VII autorização para se divorciar de sua esposa, a rainha Catarina de Aragão. O papa rejeitou o pedido, mas mesmo assim o rei se separou de sua mulher e, em 1533, casou-se com uma dama da corte, Ana Bolena.
  Por causa dessa desobediência, o papa Clemente VII excomungou o monarca. então, em 1534, Henrique VIII rompeu de vez com o papado: confiscou os bens da Igreja e fundou uma nova religião: o anglicanismo, cujo chefe é o próprio rei da Inglaterra. Durante o reinado de Elizabeth I, filha de Henrique VIII, o anglicanismo se consolidou como a religião oficial da Inglaterra.
Henrique VIII (1491-1547)
  O Ato de Supremacia, votado no Parlamento em novembro de 1534, colocou Henrique e os seus sucessores na liderança da Igreja. Os súditos deveriam submeter-se ou então seriam excomungados, perseguidos e executados, tribunais religiosos foram instaurados e os católicos foram obrigados à assistir aos cultos protestantes. Muitos opositores foram mortos, como Thomas More, o Bispo John Fischer e alguns sacerdotes, frades franciscanos e monges cartuxos. Quando Henrique foi sucedido pelo seu filho Eduardo VI em 1547, os protestantes viram-se em ascensão no governo. Uma reforma mais radical foi imposta, diferenciando o anglicanismo ainda mais do catolicismo.
  A Reforma na Inglaterra procurou preservar o máximo da tradição romana (episcopado, liturgia e sacramentos). A Igreja da Inglaterra sempre se viu como a ecclesia anglicanae, ou seja, a Igreja cristã na Inglaterra e não como uma derivação da Igreja de Roma e o protestantismo.
Palácio e Abadia de Westmineter e o Big Ben, em Londres
  Em 1561, apareceu uma confissão de fé com uma Exortação à Reforma da Igreja modificando seu sistema de liderança, pelo qual nenhuma igreja deveria exercer qualquer autoridade ou governo sobre outras, e ninguém deveria exercer autoridade na Igreja se isso não lhe fosse conferido por meio de eleição. Esse sistema, considerado "separatista" pela Igreja Anglicana, ficou conhecido como Congregacionalismo.
  Na Escócia, John Knox (1505-1572), que tinha estudado com João Calvino em Genebra, levou o Parlamento da Escócia a abraçar a Reforma Protestante em 1560, sendo estabelecido o Presbiterianismo. A primeira Igreja Presbiteriana, a Church of Scotland (Igreja da Escócia), foi fundada como resultado disso.
Catedral Metropolitana de Glasgow - Escócia
A Reforma nos Países Baixos
  A Reforma nos Países Baixos, ao contrário de outros países, não foi iniciada pelos governantes das Dezessete Províncias, mas sim por vários movimentos populares que, por sua vez, foram reforçados com a chegada dos protestantes refugiados de outras partes do continente. Enquanto o movimento Anabatista gozava de popularidade na região das primeiras décadas da Reforma, o calvinismo, através da Igreja Reformada Holandesa, tornou a fé protestante dominante no país desde a década de 1560 em diante.
Igreja Reformada Holandesa, em Vereeniging - Holanda
  No início de agosto de 1566, uma multidão de protestantes invadiu a Igreja de Hondschoote na Flandres (atualmente Norte da França) com a finalidade de destruir as imagens católicas. Esse incidente provocou outros semelhantes nas províncias do norte e do sul, até Beeldenstorm, em que calvinistas invadiram igrejas e outros edifícios católicos para destruir imagens e estátuas de santos em toda a Holanda, pois de acordo com os calvinistas, estas estátuas representavam culto de ídolos.
  Duras perseguições aos protestantes pelo governo espanhol de Felipe II contribuíram para um desejo de independência nas províncias, o que levou à Guerra dos Oitenta Anos e, eventualmente, a separação da zona protestante (atual Holanda, ao norte) da zona católica (atual Bélgica, ao sul).
Westerkerk - localizada em Amsterdã, é a maior igreja protestante da Holanda
Reforma na Escandinávia
  Na Dinamarca, a difusão das ideias de Lutero deveu-se a Hans Tausen. Em 1536, na Dieta de Copenhague, o rei Cristiano III aboliu a autoridade dos bispos católicos, tendo sido confiscado os bens das igrejas e dos mosteiros. O rei atribuiu a Johann Bugenhagen, discípulo de Lutero, a responsabilidade de organizar uma Igreja Luterana nacional.
  A Reforma na Noruega e na Islândia foi uma consequência da dominação da Dinamarca sobre estes territórios. Assim, em 1537 ela foi introduzida na Noruega e entre 1541 e 1550 na Islândia, tendo assumido neste último território características violentas.
Igreja Luterana de Hallgrimur, em Reykjavik - Islândia
  Na Suécia, o movimento reformista foi liderado pelos irmãos Olaus Petri e Laurentius Petri. Teve o apoio do rei Gustavo I Vasa, que rompeu com Roma em 1525, na Dieta de Vasteras. O luteranismo, então, penetrou neste país, estabelecendo-se em 1527. Em 1593, a Igreja sueca adotou a Confissão de Augsburgo.
  Na Finlândia, as igrejas faziam parte da Igreja sueca até o início do século XIX, quando foi formada uma igreja nacional independente, a Igreja Evangélica Luterana da Finlândia.
Catedral Luterana na Praça do Senado, em Helsinque - Finlândia
A Reforma em outras partes da Europa
  Na Hungria, a disseminação do protestantismo foi auxiliada pela minoria étnica alemã, que podia traduzir os escritos de Lutero. Enquanto o luteranismo ganhou uma posição de destaque entre a população de língua alemã, o calvinismo se tornou amplamente popular entre a etnia húngara.
  Fortemente perseguida, a Reforma praticamente não penetrou em Portugal e na Espanha. Porém, uma missão francesa enviada por João Calvino se estabeleceu em uma das ilhas da Baía da Guanabara, no Rio de Janeiro, em 1557. Apesar de durar pouco tempo, essa missão deixou como herança a Confissão de Fé da Guanabara.
Confissão de Fé da Guanabara - primeiro escrito protestante no Brasil
  Por volta de 1630, durante o domínio holandês em Pernambuco, a Igreja Cristã Reformada (Igreja Protestante na Holanda) instalou-se no Brasil. Seu membro mais ilustre era o conde Maurício de Nassau. Esse período se encerrou com a Guerra de Restauração Portuguesa, quando os holandeses foram expulsos do Brasil.
Ata do Presbitério Reformado de Pernambuco, de dezembro de 1636
CONFLITOS E A REFORMA CATÓLICA OU CONTRA-REFORMA
  O surgimento de novas religiões na Europa nã aconteceu de forma pacífica. Na França, por exemplo, os protestantes foram vítimas de intensa perseguição por parte dos católicos. Isso provocou guerras entre os seguidores das duas crenças. Em um dos confrontos mais graves, 3 mil huguenotes foram assassinados por católicos na noite de 24 de agosto de 1572, conhecida como Noite de São Bartolomeu.
  Este foi o início de um massacre mais vasto, apesar do rei ter enviado mensageiro às províncias para manter o tratado de 1570 (Tratado de Paz de Saint-German), que tinha selado a paz entre católicos e protestantes.
  Para escapar da perseguição, muitos protestantes deixaram seus países de origem e decidiram se estabelecer na América. Alguns deles rumaram para a América portuguesa, onde estabeleceram a França Antártica (no atual Rio de Janeiro) e a França Equinocial (atual Maranhão).
Noite de São Bartolomeu, de François Dubois
  Nos países protestantes, por sua vez, foi feita a expulsão e o massacre de sacerdotes católicos, bem como a matança em massa de 30.000 anabatistas. Na Inglaterra, católicos foram executados em massa, tribunais religiosos foram instalados e muitos foram obrigados à assistir os cultos protestantes, forçando assim sua conversão ao protestantismo mediante o terror.
  Em reação a esses conflitos, no século XVI, a Igreja católica empreendeu certas reformas para alterar ou reforçar seus valores com o objetivo de evitar novas dissidências.
  Em 1540, o papa Paulo III autorizou as atividades da Companhia de Jesus, uma nova ordem religiosa fundada por Inácio de Loyola, em 1534. Seus membros, os jesuítas tinham como missão principal converter ao cristianismo os habitantes da América, da Ásia e da África, bem como administrar escolas conforme as orientações da reforma católica.
Santo Inácio de Loyola (1491-1556)
  Combinando motivação evangelizadora com disciplina militar e administração financeira independente da Igreja e das coroas europeias, a ordem teve uma grande e rápida expansão em todo o mundo. Em 1556, já atuava em várias regiões da Europa, na Índia, na China e nas colônias portuguesa, espanhola e francesa da América. Seu êxito atraiu inimigos, tanto políticos como religiosos. Pressionados pelos governos da França, da Espanha e de Portugal, o papa Clemente XIV aboliu a ordem em 1773, mas ela foi restaurada por Pio VII em 1814. Ainda assim, a Companhia de Jesus desempenhou importante papel nos primeiros tempos da colonização portuguesa na América.
Antigo mosteiro dos padres jesuítas, no Maciço de Baturité - CE
  O papa Paulo III também convocou um grupo de religiosos para rever  e formalizar as doutrinas da Igreja. Esse grupo, reunido em 1545, ficou conhecido como Concílio de Trento. Até 1563, com várias interrupções, o Concílio promoveu uma série de modificações na estrutura da Igreja católica. Entre outras reformas, estabeleceu a criação de seminários para a formação dos futuros sacerdotes, criou o catecismo (uma apresentação simplificada das crenças católicas), fortaleceu a Inquisição, para combater as heresias, e instituiu o Index Proibitorum - uma lista de livros proibido aos católicos que só foi oficialmente extinta em 1965 pelo papa Paulo VI.
Mosteiro São Bento, no Rio de Janeiro - RJ
  Um dos pontos de destaque da Reforma Protestante é o fato de ela ter possibilitado um maior acesso à Bíblia, graças às traduções feitas por vários reformadores a partir do latim para as línguas nacionais. Tal liberdade fez com que fossem criados diversos grupos independentes, conhecidos como denominações.
  Nas primeiras décadas após a Reforma Protestante, surgiram diversos grupos, destacando o Luteranismo, que foi o grupo originador do movimento de Reforma da Igreja Católica e as Igrejas Reformadas ou Calvinistas (Presbiterianismo e Congregacionalismo). Nos séculos seguintes, surgiram outras denominações, com destaque para os Batistas e os Metodistas.
Igreja Presbiteriana St. Giles, Escócia
FONTE: Cardoso, Oldimar. Leituras da história, 7° ano / Oldimar Cardoso. -- 1. ed. -- São Paulo: Escala Educacional, 2012. -- (Leituras da história)

domingo, 29 de junho de 2014

O EMBI +

  O indicador mais visado pelo mercado é o Embi +, sigla em inglês para "Emerging Markets Bonds Index", ou seja, Índice de Títulos da Dívida de Mercados Emergentes. É calculado pelo banco J. P. Morgan tanto para o Brasil quanto para Argentina, Bulgária, Rússia e África do Sul, entre outras economias emergentes. O Embi + surgiu no início dos anos 1990, quando boa parte dos principais países em desenvolvimento renegociou sua dívida externa, no âmbito do "Plano Brady", uma referência a um dos líderes desse processo, o então secretário do Tesouro americano, Nicholas Brady.
  O Embi + é um índice de referência para medir o desempenho de retorno total de títulos públicos internacionais emitidos por países emergentes que são considerados soberana (emitido em algo diferente da moeda local) e que atendam a liquidez específica e requisitos estruturais.
Nicholas Brady
  Como parte da renegociação de prazos e juros de pagamento, esses países entregaram aos credores uma série de títulos financeiros, com a ampla circulação no mercado de capitais global.
  Os investidores precisavam de parâmetros de referência para vender ou comprar esses papéis. Para auxiliar esses investidores, os grandes bancos criaram indicadores para acompanhar o mercado de títulos, a exemplo do que o Ibovespa, ou Dow Jones, fazem em relação à Bovespa ou à Bolsa de Nova York, respectivamente.
  Os índices de JP Morgan são uma referência popular para gestores de dinheiro que tratam de dívida de mercados emergentes, assim os investidores poderão ver o índice atualizado como comparação para os seus fundos mútuos ou fundos negociados em bolsa. Por causa de suas taxas de juros, os títulos de mercados emergentes pode superar significativamente os títulos do Tesouro dos Estados Unidos.
  Economias avançadas

  Economias emergentes

  Economias subdesenvolvidas
  O Emerging Markets Bond Index Plus (Embi +) registra os retornos totais de instrumentos de dívida externa negociados nos mercados emergentes. Além de servir como um ponto de referência, o Embi + oferece aos investidores uma definição do mercado para os mercados emergentes de dívida em moeda externa, uma lista dos instrumentos negociados e uma compilação de seus termos.
  O índice é composto por um conjunto de instrumentos de dívida negociados em corretor amplamente seguido e citado por vários formadores de mercado. Instrumentos do Embi + deve ter um valor mínimo de U$ 500 milhões e deve atender a critérios rigorosos para a liquidez de negociação no mercado secundário.
  O JP Morgan Emerging Markets Bond Index Global (Embi global) registra os retornos totais de instrumentos de dívida externa negociados nos mercados emergentes, e é uma versão expandida do JP Morgan Embi +. Assim como acontece com o Embi + , o Embi global inclui o U$dollar denominados Títulos Brady, empréstimos e Eurobonds com um valor nominal de circulação em pelo menos U$ 500 milhões.
  Já o Embi Global Diversified limita os pesos dos países do índice com maiores estoques de dívida, incluindo apenas uma parte especificada desses países valores de face atuais elegíveis da dívida.
Mapa da dívida pública dos países em 2009, de acordo com a CIA Factbook
FONTE: Lucci, Elian Alabi. Território e sociedade no mundo globalizado: geografia: ensino médio, volume 2 / Elian Alabi Lucci, Anselmo Lázaro Branco, Cláudio Mendonça. - 1. ed. - São Paulo: Saraiva, 2010.

sábado, 28 de junho de 2014

SAIBA UM POUCO SOBRE A ILHA DE MADAGASCAR

  Madagascar é um país-ilha localizado no sudeste da África. Seu nome deriva da palavra madagasikara, que quer dizer "fim de terra", uma alusão feita pelos malaios, os primeiros colonizadores da ilha, à longa distância percorrida da Malásia até a África. Compreende a Ilha de Madagascar e algumas ilhas próximas. Está situado ao largo da costa de Moçambique, sendo separado pelo Canal de Moçambique. Os seus vizinhos mais próximos são as possessões francesas de Mayotte, Ilhas Gloriosas (noroeste), Reunião (leste), Ilha de João da Nova (oeste), Bassas da Índia, Tromelin e Ilha Europa (leste), além das nações independentes de Comores (noroeste) e Seychelles (norte).
Localização geográfica de Madagascar
HISTÓRIA
  Madagascar foi colonizada por malaio-polinésios há cerca de dois mil anos, que introduziram o cultivo da banana, fruta-pão, coco, cana-de-açúcar, araruta, arroz, inhame e tabaco. Aos poucos a introdução desses alimentos vai se espalhando pelo continente africano, melhorando a alimentação das populações e o fortalecimento das migrações e fixação dos povos bantos. A partir do século X começam a migrar povos africanos e comerciantes árabes. Os árabes batizaram a ilha de "Jaziral al Gamar", que quer dizer "Ilha da Lua". Nesse período, algumas cidades malgaxes como Ilharana e Nosy-Manjar já estavam voltadas para o comércio feito entre os habitantes da ilha, árabes e indianos.
  Com as Grandes Navegações, os portugueses foram os primeiros europeus a chegarem à ilha, em 1500, quando o navegador Diogo Dias batizou-a de ilha de São Lourenço.
Paisagem de Madagascar
  Madagascar permaneceu fora dos planos das potências europeias entre os séculos XVI e XVIII. Durante esse período, a ilha serviu de refúgio para piratas, que chegaram a fundar uma república independente que ficou conhecida domo Libertália, na baía de Diego Suaréz, sendo liderada pelo corsário François de Missou, que foi destruída pelos nativos africanos.
  Paralelamente são formados vários reinos, como o dos merinos, betsileus, sakalaves, entre outros. O Reino Merina unificou a parte central da ilha, onde no ano de 1625, é fundada a capital Antananarivo. O rei Andrianampoinimerina realizou uma política de unificação dos reinos vizinhos. Após a sua morte, seu filho Radama I assumiu o controle da ilha, expulsando e matando os europeus que aí residiam.
Radama I
  Após a morte de Radama I, sua esposa Ranavalona I assume o governo, iniciando um período de perseguição aos missionários e cristãos, promovendo a escravização e a execução de muitos deles.
  Ranavalona governou a ilha até 1861, assumindo seu filho Radama II. Ao assumir o reino Radama II decreta liberdade de culto na ilha, sendo assassinado dois anos depois. As rainhas Rasoaherina, Ranavalona II e Ranavalona III segue a política de abertura ao assédio das potências europeias.
  Em 1885, com a derrota da rainha Ranavalona III, a França transformou Madagascar em um protetorado francês e, em 1896, em colônia. Em 1905 é estabelecida a União Malgaxe, em que os merinos, com a ajuda francesa, conquistam definitivamente a ilha.
Rainha Radama II
  Em 1947, inicia-se a rebelião malgaxe contra a dominação colonial francesa. Em 1960, após várias rebeliões, que foram sufocadas pelas tropas francesas, a ilha de Madagascar consegue a sua independência. Philibert Tsirana foi o primeiro presidente do país, governando até 1972, quando vários protestos organizados por estudantes e por operários obrigam-no a renunciar ao poder, passando a presidência para os militares, que adotam uma postura coletivista e antiocidental. Três anos depois, o capitão de corveta Didier Ratsiraka toma o poder, governando o país ditatorialmente por dezessete anos, quando em 1991 foi deposto em meio a uma crise econômica. Porém, pouco tempo depois reassumiu novamente a presidência, ficando no poder até 2001 quando perdeu as eleições.
Didier Ratsiraka
GEOGRAFIA
  Madagascar é a maior ilha da África e a quarta maior do mundo.  O relevo é, em geral, montanhoso, especialmente na parte oriental, onde existe dois maciços a norte - no qual se situa o ponto culminante do país, o Monte Maromokotro, com 2.876 metros acima do nível do mar - e no centro. Na parte oeste, o relevo se torna menos acidentado, encontrando-se algumas planícies costeiras.
Monte Maromokotro - ponto culminante de Madagascar
  O isolamento geográfico da ilha de Madagascar, ao longo de milhares de anos, contribuiu para o desenvolvimento de espécies da fauna e da flora exóticas, onde são encontradas apenas nessa ilha. A ilha tem um dos maiores índices de biodiversidade do planeta. Existem cerca de 200 mil espécies conhecidas em Madagascar, sendo cerca de 150 mil endêmicas da ilha.
  A ilha recebe ventos úmidos do oceano Índico pelo leste, contribuindo para a existência de uma floresta tropical exuberante. O centro-oeste é mais seco. Nele predomina a vegetação arbustiva de savana. A árvore nacional é o baobá, que tem tronco largo, com capacidade para armazenar centenas de litros de água. Das oito espécies de baobá existente na África e na Austrália, seis são nativas de Madagascar.
Baobás na ilha de Madagascar
  A ilha é famosa pela quantidade de espécies de camaleões e lêmures que nela vivem. Cerca de 90% das mais de 300 espécies de répteis em Madagascar são endêmicas. Por serem tão exóticos, os répteis de Madagascar são muito procurados por colecionadores no comércio ilegal, levando muitas espécies a entrarem em processo de extinção.
Alguns animais endêmicos da ilha de Madagascar
  Uma dessas espécies é o madagascar-gecko-dia  (Phelsuma madagascariensis madagascariensis), que é uma espécie de lagartixa. A maioria dos geckos tem hábitos noturnos e se alimentam principalmente de insetos. Outra espécie da lagartixa é o uroplatus (Uroplatus sikorae), que é especialista em camuflagem.
Uroplastus
  Existe no mundo cerca de 150 espécies de camaleões, sendo que a metade deles são encontrados em Madagascar. Camaleões são pequenos répteis famosos por sua capacidade de mudar de cor. Em algumas partes de Madagascar as pessoas têm medo de camaleões, que são vistos como criaturas místicas com poderes mágicos e a capacidade de ver o futuro.
  Uma das espécies de camaleão encontrado em Madagascar é o camaleão-pantera (Furcifer pardalis). Conhecido como "o rei das cores", vive no norte da ilha. Sua coloração varia de acordo com a localização geográfica (temperatura, clima e luz) em que se encontra. Os machos são os mais coloridos, enquanto que as fêmeas, normalmente, podem ser encontradas em tons marrons, com toques de pêssego, rosa, azul ou laranja. Outro fato curioso sobre as fêmeas, é que as que estão grávidas mudam de cor para sinalizar que não querem acasalar.
Camaleão-pantera
  Em Madagascar existem cerca de 80 espécies de cobra e nenhuma delas é perigosa para os seres humanos. Apesar de não serem venenosas, elas podem assustar muita gente. Uma dessas serpentes é a serpente-folha-de-nariz (Langaha madagascariensis). É encontrada nas florestas decíduas secas e florestas tropicais da ilha. Há um grande dimorfismo sexual na espécie, onde os machos são marrons dorsalmente e ventralmente amarelo com um longo focinho afiado enquanto as fêmeas são manchadas de cinza com um focinho em forma de folha.
Serpente-folha-de-nariz
  Na ilha são encontrados também os lêmures, um grupo de primatas que são encontrados apenas em Madagascar. Assemelham-se aos símios (tipo de primatas), mas são dotados de focinhos que lembra o da raposa, olhos grandes, pêlo lanoso e macio e cauda longa e peluda. Têm unhas em vez de garras e visão a cores limitada.
  Infelizmente, por causa do desmatamento e da caça, vários tipos de lêmures estão ameaçados de extinção.
Lêmures
  A traça-cometa (Argema mittrei), é um tipo de borboleta encontrada em Madagascar. Possui asas que podem atingir 20 centímetros, enquanto sua cauda pode crescer até 15 centímetros. Quando atinge a idade adulta, não pode se alimentar, vivendo por apenas quatro ou cinco dias. No entanto, a partir do primeiro dia que emerge do casulo, é capaz de se reproduzir, onde as fêmeas podem colocar até 170 ovos. As lagartas alimentam-se de folhas de eucaliptos frescas e têm um período de pupação de dois a seis meses. Seus casulos têm pequenos buracos para evitar afogamento nas florestas tropicais úmidas.
Traça-cometa
  A rã-tomate (Propithecus verreauxi) são predadoras de emboscada, encontradas somente nas partes mais úmidas do norte de Madagascar. Elas atacam principalmente insetos, mas podem comer qualquer coisa que caiba em suas bocas. Embora sejam rãs (com a distintiva pele lisa), esses animais também possuem várias características de sapo, como pés não palmípedes (interligados por membranas) e habilidade de secretar um irritante látex venenoso, como a maioria dos sapos fazem. Apenas as fêmeas possuem coloração forte que dá a essas rãs seu nome. Os machos são marrons.
Rã-tomate
  Os aie-aie (Daubentonia madagascarienses) é um tipo de primata encontrado em Madagascar. Possui hábitos norturnos bem adaptado à vida nas árvores. Seus dedões dos pés e caudas são mais longos do que seus corpos, permitindo-lhes se pendurar em ramos. São os únicos primatas que usam ecolocalização para encontrar suas presas. Seus dedos médios longos tocam as árvores e "ouvem" larvas de insetos, para depois desenterrarem-nas e comê-las. Suas orelhas sensíveis e olhos grandes podem ser úteis para encontrar comida, mas fez com que os habitantes da ilha os considerassem um presságio de má sorte, motivo este que fez esse animal entrar em extinção.
Aie-aie
  Os Tenrecídeos (Tenrencidae) são uma família de pequenos mamíferos insetívoros que habitam a ilha de Madagascar. Durante muito tempo foram considerados parte da ordem Insectivora, mas os estudos genéticos recentes indicam que trata-se de um grupo não-relacionado, parte da ordem Afrosoricida e integrantes do grande grupo Afrotheria. Esses pequenos animais só podem ser encontrados em 10 locais de Madagascar, e como atingem no máximo 17 centímetros de comprimento, são difíceis de detectar.
  Há uma série de espécies de tenrecídeos na área, mas os aquáticos são exclusivos por suas adaptações: seus músculos posteriores possuem membros grandes e seus pés são palmados para facilitar a natação. Eles nadam por corpos de água rasos a procura de insetos e girinos, esfregando as vibrissas sensíveis de seus focinhos contra o fundo. Assim que localizam suas presas, as arrastam para a superfície.
Terrencídeo
  A fossa (Cryptoprocta ferox) é um mamífero carnívoro da família Eupleridae. É encontrado na ilha de Madagascar, sendo o maior carnívoro mamífero da ilha. Sua aparência lembra a de um gato alongado, e sua cauda é quase tão comprida quanto o restante do corpo. Sua coloração é castanho-avermelhada e possui cabeça relativamente pequena, com focinho curto e orelhas arredondadas.
  As fossas caminham com a sola dos pés apoiada no chão. Suas garras são curtas e retrácteis, ideais para escalar árvores. Fica escondida na mata, aparecendo principalmente à noite, mas também pode aparecer de dia. Suas principais presas são os lêmures, mas caçam também anfíbios, aves e mamíferos.
Fossa
PROBLEMAS AMBIENTAIS EM MADAGASCAR
  Os maiores problemas ambientais em Madagascar, são: o desmatamento e a destruição de habitats, queimadas, erosão do solo, exploração descontrolada dos recursos naturais (incluindo a caça de espécies selvagens), introdução de espécies estranhas, entre outras.
Queimadas para a agricultura
  Essa prática, conhecida localmente como "tavy" faz parte da economia e da cultura malgaxe. É assim que as florestas tropicais de Madagascar são convertidas em plantações de arroz. Geralmente um ou dois acres de floresta são desmatados, queimados e replantados com arroz. Depois de dois anos de produção, a área é abandonada por um período de quatro a seis anos e o processo repetido. Depois de dois ou três anos desses ciclos o solo fica bastante exaurido de seus nutrientes e a terra é ocupada por ervas e vegetação rasteira. Nos morros, esse tipo de vegetação não é suficiente para segurar o solo, acarretando erosão e desabamentos.
  Tavy é a forma como a maioria das famílias malgaxes encontra para sobreviver, e pessoas que estão preocupadas com sua subsistência diária não podem dar ao luxo de pensar nas futuras consequências de suas ações. Na perspectiva dessas pessoas, é melhor garantir um pedaço de floresta antes do seu vizinho. Tavy também possui elementos espirituais e culturais que ultrapassam o valor nutricional e econômico de uma simples plantação de arroz.
Prática do tavy (queimada) em Madagascar
Produção de carvão e lenha
  As florestas espinhosas de Madagascar vem sendo desmatadas num ritmo alarmante para a produção de carvão e lenha. Vários malgaxes sobrevivem vendendo pequenos pedaços de carvão nas beiras das estradas do sul de Madagascar e, geralmente, esse carvão é obtido com a destruição da árvore Alluaudia (típica da ilha). Imagens de satélite mostram rios vermelhos correndo de Madagascar para o oceano Índico, como se a ilha estivesse perdendo sangue, resultado da erosão do solo.
Erosão do solo - um dos graves problemas de Madagascar
Extinção de espécies
  Para um país que tem como pilar da economia a produção agrícola a perda de seus solos tem um alto preço ambiental e econômico. Além disso, a introdução de espécies estranhas na ilha causou a extinção de várias espécies endêmicas de Madagascar. Uma dessas espécies é a tilápia, peixe agressivo que tem provocado a extinção de peixes nativos, como o cichlid.
  As espécies nativas de Madagascar tem sido caçadas por pessoas que buscam encontrar um meio de sobrevivência para suas famílias. Essas espécies são vendidas no mercado negro, contribuindo para aumentar o número de espécies em extinção no planeta.
Cichlids - peixes que estão desaparecendo de Madagascar
  As águas ao redor de Madagascar são ao mesmo tempo um grande santuário de peixes e fonte de sustento de milhares de famílias malgaxes. Porém, a pesca é mal supervisionada e não existe regulamentação. Barcos pesqueiros de outros países invadem a costa de Madagascar ameaçando o sustento das famílias de pescadores da ilha.
ECONOMIA DE MADAGASCAR
  Madagascar é um dos países mais pobres do mundo. A sua economia se baseia principalmente na agricultura, na pecuária, na mineração, na pesca e na produção têxtil. Um dos produtos mais conhecidos da ilha é a baunilha, que vem de uma orquídea que é usada no mundo inteiro e serve para dar sabor aos alimentos.
Agricultores de Madagascar secando a baunilha
  Apesar do produto ter um preço relativamente alto no mercado mundial e a muitos agricultores cultivarem esse produto, cerca de 70% da população de Madagascar vive abaixo da linha de pobreza (sobrevive com menos de 1 dólar por dia) e quase metade das crianças com menos de cinco anos sofre com a desnutrição.
  O principal produto cultivado no país é o arroz, mas o que representa a maior parcela de exportação é o café. Destacam-se também os cultivos da cana-de-açúcar, mandioca e frutas, como banana, maçã, ananás e laranja.
  A população de Madagascar vive majoritariamente na área rural e dedica-se ao cultivo de gêneros tropicais. Contudo, nas áreas mais elevadas, as temperaturas são amenas, favorecendo também o cultivo do trigo, produto típico das áreas mais frias.
Cultivo de arroz em Madagascar
  Na pecuária o principal rebanho é o de bovino, porém, certas camadas da população têm esse animal como sagrado, o que dificulta a criação com o objetivo comercial para essas camadas. Outros rebanhos significativos no país são ovinos, caprinos, suínos e a criação de aves.
  A indústria mineira é pouco desenvolvida, sobretudo por causa dos escassos recursos minerais. Porém, o país é um dos maiores produtores mundiais de titânio, único mineral abundante no país.
ALGUNS DADOS DE MADAGASCAR
NOME: República de Madagascar
CAPITAL: Antananarivo

Cidade alta de Antananarivo - capital de Madagascar
GENTÍLICO: madagascarense / malgaxe
LÍNGUA OFICIAL: malgaxe, francês
GOVERNO: República Semipresidencialista
INDEPENDÊNCIA: da França
, em 26 de junho de 1960
LOCALIZAÇÃO: Oceano Índico
ÁREA: 587.041 km² (44º)
POPULAÇÃO (ONU - Estimativa 2013): 21.926.221 habitantes (52º)
DENSIDADE DEMOGRÁFICA: 37,35 hab./km² (143º)
MAIORES CIDADES (Estimativa 2013):
Antananarivo: 1.729.102 habitantes
Antananarivo - capital e maior cidade de Madagascar
Toamasina: 265.431 habitantes
Toamasina - segunda maior cidade de Madagascar
Fianarantsoa: 173.136 habitantes
Fianarantsoa - terceira maior cidade de Madagascar
PIB (FMI - 2013): U$ 10,054 bilhões (127°)
IDH (ONU - 2012): 0,483 (151°)
EXPECTATIVA DE VIDA (ONU - 2005/2010): 65,77 anos (143°)
CRESCIMENTO VEGETATIVO (ONU - 2005/2010): 2,66% ao ano (22°)
MORTALIDADE INFANTIL (CIA World Factbook - 2012): 44,78/mil (145°)
TAXA DE ALFABETIZAÇÃO (CIA World Factbook - 2011): 29% (160°)
TAXA DE URBANIZAÇÃO (Pnud - 2009/2010): 70,7% (133°)
PIB PER CAPITA (FMI - 2013): U$ 488 (176°)
MOEDA: Ariary
RELIGIÃO: cristianismo 49,5% (sendo 25,7% de protestantes, 23% de católicos e 0,8% de outras religiões cristãs), crenças tradicionais 48%, outras religiões 2,2%, sem religião 0,3%.
DIVISÃO: Madagascar divide-se em seis províncias, que estão subdivididas em 148 departamentos. As províncias têm o nome da respectiva capital. O número corresponde a província. 1. Antananarivo 2. Antsiranana 3. Fianarantsoa 4. Mahajanga 5. Toamasina 6. Toliara.
Divisão de Madagascar
FONTE: Sampaio, Fernando dos Santos. Para viver juntos: geografia, 8° ano / Fernando dos Santos Sampaio, Marlon Clóvis de Medeiros, Vagner Augusto da Silva. - 3ª ed. - São Paulo: Edições SM, 2012 - (Para viver juntos; 3)

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