sábado, 17 de maio de 2014

CULTURA DO RN: O TEATRO DE BONECOS DO "JOÃO REDONDO"

  Para o folclorista potiguar Luís da Câmara Cascudo, o mamulengo é o mesmo que o guignol francês ou algo de não importância e o pupazzi italiano. Em todos eles há uns panos à frente, atrás dos quais se escondem um ou mais manipuladores que dão voz e movimento aos bonecos. Suas apresentações eram em praça pública, em geral, na periferia das cidades durante os festejos religiosos, apresentando geralmente uma temática bíblica ou sobre atualidades.
  As raízes mais remotas desse espetáculo espalham-se pela Ásia (China e Índia), de onde ele emigrou depois para a Turquia. Inicialmente, este era um brinquedo eminentemente popular, não só pela forma de bonecos, mas igualmente pela linguagem rústica dos apresentadores.
  Quando se transferiu para a Europa, através da Turquia, o Teatro de Bonecos refinou-se de tal forma que passou a ser uma brincadeira predileta dos monarcas, sendo apresentado dentro dos palácios.
  Os fantoches são feitos de madeira, metal, papel, palha, barro, etc.. São vestidos a caráter. Geralmente, cada boneco tem o seu nome e a sua personalidade. Em todas as representações, nunca saem de uma determinada "linha de conduta". Assim o chorão, o briguento, o valente, o bondoso, sempre se apresentam com seus predicados, pelos quais se tornam conhecidos. Além desses personagens humanos, há também os bichos.
  Com a vinda dos bonecos para o Brasil, o brinquedo retornou às suas origens primitivas. O que antes era um teatro refinado, voltou a ser, nas mãos dos "calungueiros" do Nordeste, uma diversão da "plebe analfabeta".
 Atualmente, o mamulengo faz parte da cultura popular nordestina, sendo praticada desde a época colonial. Retrata situações cotidianas do povo que a pratica, tratando geralmente de situações cômicas e sátiras.
Bonecos gigantes do carnaval de Olinda
  No Rio Grande do Norte recebe o nome de Teatro de Bonecos do "João Redondo", e é, depois das danças folclóricas, uma das mais importantes para a cultura norte-riograndense. O espetáculo é apresentado por trás de um biombo de fazenda, pelo mamulengueiro que manipula os bonecos. As historinhas representadas, de curta duração, têm sempre um caráter teatral, próprio para divertir plateias. No Rio Grande do Norte os principais bonecos são o Capitão João Redondo, fazendeiro; Baltazar, escravo, vaqueiro, cheio de presepadas; o padre; o sargento e outros mais.
  O principal nome e mais atuante calungueiro do Rio Grande do Norte é Chico Daniel. Francisco Ângelo da Costa - Chico Daniel - nasceu em Açu-RN, no dia 05 de setembro de 1941, falecendo no dia 03 de março de 2007 de ataque cardíaco. Seu pai, Daniel, era também brincante, com quem Chico aprendeu a arte do mamulengo.
Chico Daniel com seus bonecos
  O enredo do João Redondo praticado por Chico Daniel é fragmentado em diversas histórias e o herói da brincadeira é o escravo Benedito, conhecido pelo nome de Baltazar. Nas apresentações de Chico Daniel, além de Baltazar, tinha outros personagens como Dr. Pindurassaia, Etelvina, Capitão João Redondo, Boi Coração, Mestre Guedes, o Malandro de Coca-Cola, o Padre, Dr. João Bondado, Cassimiro Coco, Tenente Bezerra de Melo, Pedro Marinheiro, João Guedes e o Cachaceiro.
  A última apresentação de Chico Daniel aconteceu um dia antes de sua morte, no Largo da Cabocla, no bairro que ele residia, Felipe Camarão, Zona Oeste da capital potiguar.
  Além de Chico Daniel, destacam-se ainda os irmãos Relampo (Zé, Miguel e Antônio) de Serra Caiada, Chico Rosa de São Paulo do Potengi, seu Bastos de Currais Novos, Heraldo Lins de Natal, entre outros.
  Atualmente, Heraldo Lins responde por boa parte das apresentações do João Redondo na capital potiguar, sendo sempre bem recebido e apreciado pelo público presente. Ele é responsável pelo Show de Mamulengos, levando alegria e mensagens importantes à criançada e a seus pais. Apresentação em ocasiões especiais, encontros empresariais, comemorações particulares ou festas populares fazem parte do show proporcionado por Heraldo.
Heraldo com seus bonecos
FONTE: Gurgel, Tarcísio. Introdução à cultura do Rio Grande do Norte / Tarcísio Gurgel, Vicente Vitoriano, Deífilo Gurgel. João Pessoa, PB: Editora Grafset, 2003.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

A AGROPECUÁRIA DA AMÉRICA CENTRAL

  A agricultura é a base da economia dos países da América Central. Nas pequenas e médias propriedades, predomina uma agricultura de subsistência, onde se cultivam milho, feijão, abóbora, mandioca, entre outros. Nos latifúndios, predomina a agricultura comercial destinada à exportação. Neles cultivam-se a cana-de-açúcar, banana, tabaco, algodão e café, principalmente.
  Na pecuária, predomina a criação de bovinos, suínos e de aves, sendo a maior parte criada no sistema extensivo.
AGROPECUÁRIA DA AMÉRICA CENTRAL CONTINENTAL
  Nos planaltos, em função dos bons solos de origem vulcânica, os produtos mais cultivados são o café, em El Salvador, e o milho, na Guatemala. Nas zonas de maior altitude cultiva-se o trigo.
  Nas baixadas litorâneas do mar do Caribe, desde Belize até o Panamá, o principal produto cultivado é a banana, tendo como grande produtor Honduras. A produção dessa fruta é dominada por grandes companhias norte-americanas, como a Chiquita Brands.
Mapa agrícola da América Central
  Em virtude de uma epidemia que ficou denominada de mal do Panamá e que destruiu parte das plantações de banana do litoral Atlântico, o produto foi introduzido na costa do Pacífico, onde vem se desenvolvendo com bons resultados.
El Salvador
  El Salvador emprega quase dois terços de sua mão de obra na agricultura. O país é o maior produtor mundial de goma balsâmica, usada em medicamentos e perfumaria. As culturas agrícolas dominantes são café, cana-de-açúcar, feijão, milho, arroz, tabaco, algodão, laranja e banana. Na pecuária destaca-se a criação de equinos, bovinos, suínos e aves.
  Apesar de várias tentativas de reforma agrária, as desigualdades permanecem enorme entre os proprietários rurais, onde os latifúndios, que respondem pela grande maioria das terras do país, produzem no sistema de plantation, destinada à exportação e nas pequenas propriedades praticam uma agricultura de subsistência.
Cultivo de algodão em El Salvador
Honduras
  Em Honduras, a agricultura é um ponto importante da economia, no qual emprega quase dois terços de sua mão de obra. Os principais produtos da pauta de exportações são o café, a banana e o camarão. Os Estados Unidos são o principal parceiro comercial do país, com cerca de 70% das transações comerciais hondurenhas feitas com os norte-americanos. Na pecuária hondurenha destacam-se a criação de bovinos, suínos e aves, criados no modelo extensivo, servindo para abastecer o mercado interno e, em menor parcela, para a exportação.
Costa Rica
  A Costa Rica se diferencia dos vizinhos desde o século XIX. Grande produtor de banana, cana-de-açúcar e café, o país conseguiu lucrar bastante com as exportações desses alimentos em alguns períodos de preços elevados, como a Primeira e Segunda Guerra Mundial. Em momentos como esses, os Estados Unidos e a Europa, muito envolvidos no conflito, precisavam garantir o abastecimento de alimentos à própria população.
  Ao contrário dos seus vizinhos, a Costa Rica conseguiu tirar proveito desses momentos de preço privilegiado, porque investiu o lucro para reverter o quadro social bastante pobre. Assim, muitos recursos que seriam gastos na compra de armamentos e de outros equipamentos militares, passaram a ser investidos em educação, moradia, saúde e transporte.
  Na pecuária costariquenha, destacam-se os rebanhos bovinos, suínos e a criação de aves. Recentemente começou a ser cultivado no país flores, cuja produção é toda destinada a exportação.
Cultivo de banana na Costa Rica
Belize
  Em Belize, a economia é essencialmente agrária, muito dependente da exportação de açúcar e banana. Recentemente, foi ampliado o cultivo de cítricos, que já contribuem para elevar o valor das exportações do país. Grande parte desse produto é exportado para os Estados Unidos. Na pecuária de Belize destacam-se as criações de equinos, bovinos, suínos e aves.
Guatemala
  A Guatemala, assim como os demais países centro-americanos, tem sua economia baseada na agricultura, que, não só emprega metade da população economicamente ativa, como representa cerca de 25% do PIB do país e 60% das exportações. Os principais produtos agrícolas são o café, o cardamomo (planta aromática e de aplicação terapêutica), a cana-de-açúcar, a banana, o feijão, os legumes, o milho e o algodão. A pecuária bovina também exerce papel importante na balança comercial do país. Os rebanhos de ovinos, suínos e aves também são significativos no país.
Nicarágua
  A economia da Nicarágua é predominantemente agrícola. Os depósitos de material vulcânico enriqueceram o solo do país, tornando-o extremamente fértil. Quase metade do território nicaraguense está coberto por selva. Os principais produtos cultivados no país são café, algodão e banana. Destacam-se também os cultivos de cana-de-açúcar, milho, frutas cítricas, arroz, mandioca, sorgo e feijão. A Nicarágua possui um dos maiores rebanhos bovinos da América Central. As criações de ovinos, suínos e caprinos também merecem destaque no país.
Panamá

  No Panamá, diferentemente dos outros países da América Central, a atividade agropecuária não é a mais importante atividade econômica do país, visto que a principal fonte do PIB gira em torno do Canal do Panamá.
  As grandes empresas agrícolas panamenhas convivem com as pequenas propriedades e lavouras de subsistência. A maior parte da produção agrícola destina-se à exportação e é obtida em fazendas mecanizadas, porém, nas pequenas e médias propriedades persistem os núcleos de subsistência, que utilizam técnicas tradicionais. Nas planícies cultivam-se o arroz, a cana-de-açúcar e as frutas tropicais, principalmente a banana e o abacaxi; nas terras temperadas são produzidos tomate, batata e cebola. O milho é cultivado em quase todo o país. O café também é um importante produto da pauta de exportações no setor agrícola.
  Na pecuária, predomina os rebanhos bovinos e suínos. Nos últimos anos, a pesca tem-se desenvolvido bastante, tanto no litoral como no alto-mar. Nesse setor, o produto que mais tem se destacado é o camarão, cuja produção é quase toda exportada para os Estados Unidos, o Canadá e a União Europeia.
Propriedade rural do Panamá
AGROPECUÁRIA DA AMÉRICA CENTRAL INSULAR
  A agricultura é a principal atividade econômica das Antilhas, destacando-se o cultivo da cana-de-açúcar.
Cuba
  Cuba tem como base econômica a agropecuária, destacando-se os cultivos de cana-de-açúcar, tabaco, banana, café, frutas cítricas, arroz, legumes e verduras. É o maior produtor de cana-de-açúcar e de tabaco da América Central.
  Após a Revolução Cubana de 1959, Cuba priorizou a produção de alimentos por meio da reforma agrária empreendida por Fidel Castro.
  Graças a um comércio vantajoso, Cuba adquiriu, cada vez mais, em diversos países do Leste Europeu e da União Soviética os instrumentos necessários para sustentar a produção agropecuária. Este esquema de trocas criou uma dependência e, como consequência, conduziu à pouca utilização dos recursos naturais.
Agricultores cubanos cultivam a terra
  Na agropecuária cubana foram estabelecidas as Unidades Básicas de Produção Cooperativa (UBCP), em parte de terras ocupadas por granjas estatais. A especialização da criação de gado deu-se em torno da pecuária leiteira, sendo esta a prioridade do governo cubano desde o início de 1960, objetivando garantir às crianças este alimento como o principal do cardápio.
  Os principais rebanhos de Cuba são bovinos, equinos, aves e suínos.
República Dominicana
  A economia da República Dominicana depende, quase exclusivamente, da produção e exportação de açúcar. O país, depois de Cuba, é o maior produtor de cana-de-açúcar da região. Além da cana, também são cultivados algodão, banana, abacaxi, café, fumo, arroz, feijão, coco, cacau, mandioca, milho e tabaco. Na pecuária destacam-se as criações de bovinos, suínos, caprinos e de aves.
Jamaica
  Na Jamaica, a agricultura é a principal atividade econômica e concentra-se na plantação de cana-de-açúcar. Além desta cultura, o solo jamaicano favorece o cultivo de mandioca, milho, café, cacau, banana, frutas cítricas (limão, laranja e abacaxi) e tabaco. Na pecuária, a Jamaica investe na criação de gado bovino. As criações de suínos, caprinos e aves também são importantes para a economia do país.
Haiti
  O Haiti é o país mais pobre de todo o continente americano. A agropecuária é a base da economia haitiana. Os principais produtos cultivados são cana-de-açúcar, café, banana, milho, batata-doce e arroz. Na pecuária os principais rebanhos são de equinos, bovinos, caprinos e aves. 
Bahamas
  Nas Bahamas a agropecuária é a atividade econômica secundária do país, pois o turismo e a indústria pesqueira são a base da economia. Os principais produtos cultivados no país são milho, trigo e frutas (que abastecem ao mercado interno) e cana-de-açúcar, banana, algodão, sisal e verduras (destinadas à exportação). Na pecuária os principais rebanhos são de ovinos, caprinos, suínos e aves.
Trinidad e Tobago
  Trinidad e Tobago tem como base da economia a exploração petrolífera e de gás natural. Com a produção de petróleo e gás natural, o setor agrícola foi praticamente abandonado, predominando apenas a agricultura de subsistência. Os principais produtos agrícolas são cacau, cana-de-açúcar, café, coco, arroz, milho e frutas cítricas. Na pecuária os principais rebanhos são de bovinos, suínos, caprinos e aves.
Porto Rico
  Porto Rico é um território dependente dos Estados Unidos. A economia de Porto Rico é uma das mais dinâmicas do Caribe. Seu maior parceiro comercial são os Estados Unidos.
  A agricultura de Porto Rico é totalmente voltada para exportação, sendo necessário importar mais da metade dos alimentos consumidos pela população. O café, a cana-de-açúcar e o tabaco são os cultivos mais importantes dessa possessão norte-americana, seguido dos hortifrutigranjeiros. Na pecuária destacam-se os rebanhos bovinos, suínos e de aves e a pesca desempenha um papel importante na economia porto-riquenha.
São Cristóvão e Névis
  São Cristóvão e Névis é o menor Estado soberano das Américas. A economia é fortemente dependente do turismo, que substituiu o açúcar, que antes era a principal atividade econômica do país. Para tentar alavancar a agricultura, o governo iniciou um programa de diversificação da agricultura. Os principais produtos agrícolas cultivados são a cana-de-açúcar, o coco e o algodão. Na pecuária os maiores rebanhos são de suínos, caprinos e ovinos.
Antígua e Barbuda
  Antígua e Barbuda possui uma economia fortemente dependente do turismo, porém, a produção agrícola de cana-de-açúcar e algodão são importantes. Também se destacam a produção de mamão, goiaba, laranja, abacaxi, limão, batata-doce, manga, coco e cenoura. Os principais rebanhos do país são de bovinos, ovinos e caprinos.
Santa Lúcia
  Santa Lúcia tem como base agrícola o cultivo da banana, que representa cerca de 40% das exportações da ilha. Outros produtos agrícolas de destaque são o cacau, as frutas cítricas e o coco. A produção agrícola é beneficiada pela presença de um solo vulcânico bastante fértil. Na pecuária, os principais rebanhos são de bovinos, suínos e de aves.
Barbados
  Historicamente, a economia de Barbados dependia do cultivo da cana-se-açúcar e de atividades ligadas a esse segmento. Porém, nos últimos anos o turismo vem superando a atividade agropecuária. Além da cana-de-açúcar, são cultivados batata-doce, cará, legumes e verduras, que servem para abastecer o mercado interno. Na pecuária, os maiores rebanhos são de bovinos, suínos, ovinos e aves.
São Vicente e Granadinas
  A economia de São Vicente e Granadinas é baseada na agricultura, no turismo e na construção civil. A maior parte da mão de obra empregada na agricultura está no cultivo da banana, que é o principal produto de exportação do país. Além da banana são cultivados cana-de-açúcar, coco, inhame, araruta, raízes e tubérculos. Na pecuária os maiores rebanhos são de bovinos, suínos e ovinos.
Granada
  A economia de Granada se baseia no turismo e na agricultura. No setor agrícola os principais produtos são o cacau e a noz-moscada, mas são cultivados também o cardamomo, a banana e outros produtos para o abastecimento da população local. Os principais rebanhos são de suínos, caprinos, ovinos e de aves.
Dominica
  A agricultura domina a economia de Dominica, destacando-se a produção de banana. Quase um terço da força de trabalho exerce atividades na agricultura. Este setor, no entanto, é altamente vulnerável às condições climáticas e aos eventos externos que afetam os preços das commodities. Em 2007, o furacão Dean causou danos significativos para o setor agrícola, bem como para a infraestrutura do país, especialmente as estradas. Para tentar amenizar a queda na produção de bananas, o governo de Dominica vem diversificando a produção, como café, patchouli, babosa, flores e frutas exóticas, como manga, goiaba e mamão. Na pecuária, as principais criações são de bovinos, ovinos e caprinos.
FONTE: Lucci, Elian Alabi. Geografia: homem & espaço, 8° ano / Elian Alabi Lucci, Anselmo Lázaro Branco. - 23. ed. -São Paulo: Saraiva, 2010.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

CONFLITOS NO SUDÃO DO SUL: O MAIS NOVO PAÍS DO MUNDO

BREVE HISTÓRIA DO SUDÃO
  Há séculos, minorias étnicas africanas são obrigadas a conviver dentro das mesmas fronteiras graças ao desenho arbitrário das linhas imperialistas.
  Na primeira metade do século XX, o Sudão pertencia ao consórcio anglo-egípcio, até conseguir sua independência, em 1956. O nome do país deriva da expressão árabe Bilad-as-Sudan, que quer dizer "terra dos negros". No norte do território impera o deserto; o sul é domínio do Sahel. O Sudão é um país sahelino, caracterizado por conflitos decorrentes dos contatos entre etnias e culturas diferentes.
  O Sudão vive em guerra civil há quase meio século, o que causou cerca de dois milhões de mortes. O poder é exercido por muçulmanos de origem árabe, mediante a aplicação da rigorosa lei islâmica - a Sharia. Mas o regime tem enfrentado forte resistência.
  O conflito entre o norte e o sul do Sudão, teve início quando o governo islâmico tentou impor o Xariá ou Sharia (lei religiosa do Islamismo) em todo o país, inclusive no sul, onde a maior parte da população é cristã.
Mapa do Sudão e do Sudão do Sul
  No oeste, em Darfur, a disputa é contra os negros muçulmanos que formam a população local. A guerra, cujo apogeu foi em 2003 e 2004, causou cerca de 300 mil mortes e deixou 2,5 milhões de refugiados. Segundo a ONU, houve um verdadeiro genocídio provocado por milícias islâmicas contra os negros de Darfur, provocando a maior crise humanitária dos últimos tempos. Um acordo de paz foi selado em 2006, mas os campos de refugiados ainda necessitam de ajuda humanitária.
  Darfur (que em português quer dizer "terra dos fur") é uma região no extremo oeste do Sudão com a presença de três principais grupos étnicos: Fur (que empresta o nome à região), Masalit e Zaghawa. O Movimento de Justiça e Igualdade e o Exército de Libertação Sudanesa acusaram o governo de oprimir os não-árabes em favor dos árabes do país.
Em destaque a região de Darfur
  No sul, onde a população é de negros que seguem seitas tradicionais, em 1995 começou a guerrilha separatista contra o domínio muçulmano. Somente em 2002, iniciaram-se os diálogos de paz, mediados pela ONU e pela União Africana.
  Em 9 de janeiro de 2005, foi assinado o Tratado de Naivasha, que estabeleceu a autonomia de seis anos na região sul.
  As primeiras tentativas de separação do sul do Sudão com o norte é datado de 1955, quando ocorreu a Primeira Guerra Civil Sudanesa. Esse conflito teve duração de 17 anos e foi dividida em três fases: a guerra de guerrilhas inicial, o Anyanya e o Movimento para a Libertação do Sudão do Sul. A guerra ocasionou a morte de meio milhão de pessoas e teve fim com o Tratado de Adis Abeba.
Dança da paz em Kapoeta, Sudão do Sul
  Finalmente, em 7 de janeiro de 2011, um referendo permitiu à população sulista optar pela independência da região. No total, 98,81% dos votos foram favoráveis à criação de um Estado independente. Assim, entrou em vigor em 9 de julho de 2011, a criação do novo país africano, o Sudão do Sul, em que foi respeitada a soberania popular, dando ao povo a oportunidade de escolha. Desde então, há dois países: o Sudão, essencialmente islâmico, e o Sudão do Sul, que ficou com 22,3% do antigo território (644.329 km²) e cerca de 25% da população (8.260.490 habitantes), constituído por diversos grupos de estrutura tribal.
  Embora o novo país, cuja capital é Juba, tenha sido oficialmente reconhecido, persistem pendências com o vizinho do norte, sobretudo porque ali estão localizadas grandes reservas de petróleo.
Produção de petróleo no Sudão
  Desde que começou a ser explorado, em 1999, o petróleo se tornou o principal produto de exportação do Sudão, respondendo por cerca de 98% das exportações do país. Mas a maior parte das reservas petrolíferas locais encontram-se no Sudão do Sul, onde a China vem fazendo grandes investimentos, na condição de parceira comercial do novo país.
  Além dos interesses envolvendo a exploração do petróleo, duas outras questões precisam ser resolvidas entre os dois países: a da utilização da água da Bacia do Rio Nilo, vital para o Sudão e principalmente para o Egito, e a forma de repartir a enorme dívida externa do antigo país.
População do Sudão do Sul comemora a independência do país em 2011
 GEOGRAFIA DO SUDÃO DO SUL
  O Sudão do Sul é majoritariamente coberto pela floresta tropical, com muitos pântanos e algumas áreas de pradarias. O Nilo Azul atravessa o país fluindo de sul para norte, banhando a capital, Juba. Cerca de metade da água do Nilo Azul perde-se em pântanos ou é consumida pela vegetação ou pelos animais. O pântano nas regiões de Sudd, Bahr el Ghazal e do rio Sobat formam um importante ecossistema. O ponto mais elevado do país é o monte Kinyeti, com 3.187 metros acima do nível do mar, estando localizado no condado de Ikotos, no estado do Equatória Oriental, bem próximo à fronteira do Sudão do Sul com Uganda.
Monte Kinyeti, no Sudão do Sul
  A parte centro-oriental do país é uma planície fluvial, onde os aluviões são distribuídos à medida que a subsistência afeta o substrato rochoso. Nessa área encontram-se grandes jazidas de petróleo e gás natural.
  A parte sudoeste do país possui afloramentos do substrato, constituído por rochas magmáticas. Na fronteira com a Etiópia há afloramentos de rochas magmáticas e intrusivas.
Nilo Azul e a cidade de Juba, no Sudão do Sul
ECONOMIA DO SUDÃO DO SUL
  Até a segunda metade de 2008, a economia do Sudão obteve um grande crescimento graças ao alto preço do petróleo e ao crescimento da exploração petrolífera, que atraiu um elevado investimento externo, principalmente chinês.
  Desde 1997, o Sudão tem trabalhado com o Fundo Monetário Internacional (FMI) com vistas a implementar reformas macroeconômicas, como a administração de uma taxa de câmbio flutuante. Em 2007, a moeda do país foi substituída, trocando o dinar sudanês pela libra sudanesa, onde a libra passou a ser equivalente a 100 dinares.
  Apesar da produção de petróleo ser a responsável por mais de 97% das exportações do país, o transporte desse produto torna-se difícil devido à falta de vias de transportes para o escoamento, bem como de oleodutos.
  A agropecuária é outro setor de extrema importância para o Sudão do Sul. Predomina uma agricultura de subsistência, e os principais produtos agrícolas são o milho e o algodão.
  No país, homens e crianças partilham a terra com o gado, que usam como base da alimentação e moeda de troca, que é, ao mesmo tempo, fator determinante do estatuto social de cada indivíduo ou família da tribo.
Pecuária bovina no Sudão do Sul
  Recentemente, para tentar alavancar a economia, o país tentar atrair investimentos estrangeiros, principalmente no setor da construção civil. Porém, os recentes conflitos podem prejudicar no crescimento econômico do país.
CONFLITOS RECENTES NO SUDÃO DO SUL
  Recentemente, dois grandes grupos do país voltaram a se enfrentar, provocando massacres na população civil. O conflito começou após o atrito entre o presidente Salva Kiir e seu ex-vice Riek Mashar.
  De acordo com a Missão da ONU no Sudão do Sul (Unmiss), os rebeldes de Mashar atacaram e mataram centenas de civis que se refugiaram numa mesquita, numa igreja e num hospital, na última semana de abril de 2014. Calcula-se que somente na mesquita morreram cerca de 200 pessoas. Muitos deles pertenciam à etnia dinka - a maior do Sudão do Sul e a mesma de Kiir, adversário de Mashar. Este, por sua vez, pertence ao grupo étnico nuer.
  Ao mesmo tempo, jovens membros da etnia dinka atacaram um acampamento da Unmiss onde se encontravam principalmente membros do grupo étnico nuer, levando a morte de cerca de 50 pessoas e deixando outras 100 feridas.
Salva Kiir Mayardit
  De acordo com analistas, o conflito não teria origem na hostilidade entre as etnias, mas na hostilidade entre os líderes políticos. Por trás disso tudo está também o interesse nas grandes reservas de petróleo do norte do país, responsáveis por quase toda a receita do Sudão do Sul. O objetivo dos rebeldes é assumir o controle dessas reservas. Porém, há também ressentimentos entre os dois grupos étnicos: os nuer se sentem desfavorecidos frente aos dinka (que são numericamente superiores) desde a independência do Sudão do Sul, principalmente no que diz respeito a divisão dos cargos políticos e das terras cultiváveis.
  O conflito já provocou o deslocamento de mais de 716 mil pessoas no interior do Sudão do Sul, segundo a ONU.
Pessoas fugindo do conflito no Sudão do Sul
  Perseguições e detenções de trabalhadores das Nações Unidas têm limitado o trabalho da missão de paz no Sudão do Sul.
  A missão de paz da ONU no Sudão do Sul (Unmiss) tenta intermediar o fim do conflito, e informou que no dia 1º de maio de 2014, a Universidade de Linch, no centro do país, foi ocupada por forças de oposição ao governo, lembrando aos opositores que o uso de instituições de educação para objetivos militares é uma violação da lei humanitária internacional.
  A Unmiss também informou que uma situação de "fogo amigo" junto ao complexo em Bor, no estado de Jonglei, fez com que mais pessoas procurassem abrigo nas instalações da ONU. Nessa base, a Unmiss protege mais de 4,8 mil pessoas.
Escola improvisada para alunos do campo de refugiados da UNMISS em Bor - Sudão do Sul
  Alertando para o fato de que a nação mais jovem do mundo está à beira de uma catástrofe, a alta comissária da ONU para os Direitos humanos, Navi Pillay, fez um apelo, no dia 30 de abril, aos líderes do Sudão do Sul, pedindo que abandonassem suas "lutas de poder pessoal" e levem o país, empobrecido pela guerra, para a estabilidade.
  O conflito, que começou em dezembro de 2013, e é marcado por inúmeras violações graves dos direitos humanos, já deixou milhares de mortos e forçou dezenas de pessoas a buscar refúgio nas bases da ONU em todo o país.
Navi Pillay (centro)
  De acordo com o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR), cobertores, colchões, reservatórios de água e outros itens de ajuda humanitária estão sendo transportados de Dubai, nos Emirados Árabes, para Juba, capital do Sudão do Sul, para ajudar as pessoas deslocadas.
  Estes suprimentos de emergência serão distribuídos, principalmente, nos estados de Unity, Alto Nilo e Jonglei. A operação faz parte de um grande esforço da agência para fornecer alívio essencial para os mais de um milhão de pessoas deslocadas pelos combates no Sudão do Sul.
Agentes da ONU distribuem ajuda para deslocados do Sudão do Sul
ALGUNS DADOS SOBRE O SUDÃO DO SUL
NOME: República do Sudão do Sul
CAPITAL: Juba

Ponte de Juba
LÍNGUA OFICIAL: inglês
GOVERNO: República Presidencialista
INDEPENDÊNCIA: do Sudão, 09 de julho de 2011

GENTÍLICO: sul-sudanês
LOCALIZAÇÃO: nordeste da África
ÁREA: 644.329 km² (40º)
POPULAÇÃO (ONU - Estimativa 2013): 8.260.490 habitantes (90º)
DENSIDADE DEMOGRÁFICA: 12,82 hab./km² (181º)
MAIORES CIDADES (Estimativa 2013):

Juba: 352.478 habitantes

Vista aérea de Juba - capital e maior cidade do Sudão do Sul
Malakal: 179.542 habitantes
Malakal - segunda maior cidade do Sudão do sul
Wau: 153.210 habitantes
Base da ONU em Wau - terceira maior cidade do Sudão do Sul
PIB (FMI - 2013): U$ 11,445 bilhões (124º)
IDH (ONU): Não disponível
EXPECTATIVA DE VIDA (ONU):  Não disponível
CRESCIMENTO VEGETATIVO (ONU): Não disponível
MORTALIDADE INFANTIL (
CIA World Factbook): Não disponível

TAXA DE URBANIZAÇÃO (CIA World Factbook): Não disponível
TAXA DE ALFABETIZAÇÃO (Pnud): Não disponível

PIB PER CAPITA (FMI - 2011): U$ 1.000 (150º)
MOEDA: Libra sul-sudanesa
RELIGIÃO: a população do Sudão do Sul segue, majoritariamente, religiões tribais, o cristianismo e o islamismo, sendo 60,2% cristãs (católicos em sua maioria), 32,9% religiões tradicionais, 6,2% de islâmicos e 0,7% de outras religiões.

Missa dominical na diocese de Rumbek, no Sudão do Sul
DIVISÃO: o Sudão do Sul está dividido em dez estados, criados a partir das três regiões históricas do país: Bahr el Ghazal, Equatória e Grande Nilo Superior. Os estados estão subdivididos em 86 condados.

Bahr el Ghazal
  Equatória
  Grande Nilo Superior
  O número abaixo corresponde aos estados:
1. Gharb Bahr al-Ghazal 2. Schamal Bahr al-Ghazal 3. Al-Wahdal 4. A'li an-Nil 5. Warab 6. Junqali 7. Al-Buhairat 8. Gharb al-Istiwa'iyya 9. Al-Istiwã iyya al-Wustã 10. Scharq al-Istiwa'iyya.
 
FONTE: Vesentini, J. William. Projeto Télaris: Geografia / J. William Vesentini, Vânia Vlach. - 1. ed. - São Paulo: Ática, 2012. - (Projeto Télaris:Geografia) 

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