sexta-feira, 9 de maio de 2014

CONFLITOS NO SUDÃO DO SUL: O MAIS NOVO PAÍS DO MUNDO

BREVE HISTÓRIA DO SUDÃO
  Há séculos, minorias étnicas africanas são obrigadas a conviver dentro das mesmas fronteiras graças ao desenho arbitrário das linhas imperialistas.
  Na primeira metade do século XX, o Sudão pertencia ao consórcio anglo-egípcio, até conseguir sua independência, em 1956. O nome do país deriva da expressão árabe Bilad-as-Sudan, que quer dizer "terra dos negros". No norte do território impera o deserto; o sul é domínio do Sahel. O Sudão é um país sahelino, caracterizado por conflitos decorrentes dos contatos entre etnias e culturas diferentes.
  O Sudão vive em guerra civil há quase meio século, o que causou cerca de dois milhões de mortes. O poder é exercido por muçulmanos de origem árabe, mediante a aplicação da rigorosa lei islâmica - a Sharia. Mas o regime tem enfrentado forte resistência.
  O conflito entre o norte e o sul do Sudão, teve início quando o governo islâmico tentou impor o Xariá ou Sharia (lei religiosa do Islamismo) em todo o país, inclusive no sul, onde a maior parte da população é cristã.
Mapa do Sudão e do Sudão do Sul
  No oeste, em Darfur, a disputa é contra os negros muçulmanos que formam a população local. A guerra, cujo apogeu foi em 2003 e 2004, causou cerca de 300 mil mortes e deixou 2,5 milhões de refugiados. Segundo a ONU, houve um verdadeiro genocídio provocado por milícias islâmicas contra os negros de Darfur, provocando a maior crise humanitária dos últimos tempos. Um acordo de paz foi selado em 2006, mas os campos de refugiados ainda necessitam de ajuda humanitária.
  Darfur (que em português quer dizer "terra dos fur") é uma região no extremo oeste do Sudão com a presença de três principais grupos étnicos: Fur (que empresta o nome à região), Masalit e Zaghawa. O Movimento de Justiça e Igualdade e o Exército de Libertação Sudanesa acusaram o governo de oprimir os não-árabes em favor dos árabes do país.
Em destaque a região de Darfur
  No sul, onde a população é de negros que seguem seitas tradicionais, em 1995 começou a guerrilha separatista contra o domínio muçulmano. Somente em 2002, iniciaram-se os diálogos de paz, mediados pela ONU e pela União Africana.
  Em 9 de janeiro de 2005, foi assinado o Tratado de Naivasha, que estabeleceu a autonomia de seis anos na região sul.
  As primeiras tentativas de separação do sul do Sudão com o norte é datado de 1955, quando ocorreu a Primeira Guerra Civil Sudanesa. Esse conflito teve duração de 17 anos e foi dividida em três fases: a guerra de guerrilhas inicial, o Anyanya e o Movimento para a Libertação do Sudão do Sul. A guerra ocasionou a morte de meio milhão de pessoas e teve fim com o Tratado de Adis Abeba.
Dança da paz em Kapoeta, Sudão do Sul
  Finalmente, em 7 de janeiro de 2011, um referendo permitiu à população sulista optar pela independência da região. No total, 98,81% dos votos foram favoráveis à criação de um Estado independente. Assim, entrou em vigor em 9 de julho de 2011, a criação do novo país africano, o Sudão do Sul, em que foi respeitada a soberania popular, dando ao povo a oportunidade de escolha. Desde então, há dois países: o Sudão, essencialmente islâmico, e o Sudão do Sul, que ficou com 22,3% do antigo território (644.329 km²) e cerca de 25% da população (8.260.490 habitantes), constituído por diversos grupos de estrutura tribal.
  Embora o novo país, cuja capital é Juba, tenha sido oficialmente reconhecido, persistem pendências com o vizinho do norte, sobretudo porque ali estão localizadas grandes reservas de petróleo.
Produção de petróleo no Sudão
  Desde que começou a ser explorado, em 1999, o petróleo se tornou o principal produto de exportação do Sudão, respondendo por cerca de 98% das exportações do país. Mas a maior parte das reservas petrolíferas locais encontram-se no Sudão do Sul, onde a China vem fazendo grandes investimentos, na condição de parceira comercial do novo país.
  Além dos interesses envolvendo a exploração do petróleo, duas outras questões precisam ser resolvidas entre os dois países: a da utilização da água da Bacia do Rio Nilo, vital para o Sudão e principalmente para o Egito, e a forma de repartir a enorme dívida externa do antigo país.
População do Sudão do Sul comemora a independência do país em 2011
 GEOGRAFIA DO SUDÃO DO SUL
  O Sudão do Sul é majoritariamente coberto pela floresta tropical, com muitos pântanos e algumas áreas de pradarias. O Nilo Azul atravessa o país fluindo de sul para norte, banhando a capital, Juba. Cerca de metade da água do Nilo Azul perde-se em pântanos ou é consumida pela vegetação ou pelos animais. O pântano nas regiões de Sudd, Bahr el Ghazal e do rio Sobat formam um importante ecossistema. O ponto mais elevado do país é o monte Kinyeti, com 3.187 metros acima do nível do mar, estando localizado no condado de Ikotos, no estado do Equatória Oriental, bem próximo à fronteira do Sudão do Sul com Uganda.
Monte Kinyeti, no Sudão do Sul
  A parte centro-oriental do país é uma planície fluvial, onde os aluviões são distribuídos à medida que a subsistência afeta o substrato rochoso. Nessa área encontram-se grandes jazidas de petróleo e gás natural.
  A parte sudoeste do país possui afloramentos do substrato, constituído por rochas magmáticas. Na fronteira com a Etiópia há afloramentos de rochas magmáticas e intrusivas.
Nilo Azul e a cidade de Juba, no Sudão do Sul
ECONOMIA DO SUDÃO DO SUL
  Até a segunda metade de 2008, a economia do Sudão obteve um grande crescimento graças ao alto preço do petróleo e ao crescimento da exploração petrolífera, que atraiu um elevado investimento externo, principalmente chinês.
  Desde 1997, o Sudão tem trabalhado com o Fundo Monetário Internacional (FMI) com vistas a implementar reformas macroeconômicas, como a administração de uma taxa de câmbio flutuante. Em 2007, a moeda do país foi substituída, trocando o dinar sudanês pela libra sudanesa, onde a libra passou a ser equivalente a 100 dinares.
  Apesar da produção de petróleo ser a responsável por mais de 97% das exportações do país, o transporte desse produto torna-se difícil devido à falta de vias de transportes para o escoamento, bem como de oleodutos.
  A agropecuária é outro setor de extrema importância para o Sudão do Sul. Predomina uma agricultura de subsistência, e os principais produtos agrícolas são o milho e o algodão.
  No país, homens e crianças partilham a terra com o gado, que usam como base da alimentação e moeda de troca, que é, ao mesmo tempo, fator determinante do estatuto social de cada indivíduo ou família da tribo.
Pecuária bovina no Sudão do Sul
  Recentemente, para tentar alavancar a economia, o país tentar atrair investimentos estrangeiros, principalmente no setor da construção civil. Porém, os recentes conflitos podem prejudicar no crescimento econômico do país.
CONFLITOS RECENTES NO SUDÃO DO SUL
  Recentemente, dois grandes grupos do país voltaram a se enfrentar, provocando massacres na população civil. O conflito começou após o atrito entre o presidente Salva Kiir e seu ex-vice Riek Mashar.
  De acordo com a Missão da ONU no Sudão do Sul (Unmiss), os rebeldes de Mashar atacaram e mataram centenas de civis que se refugiaram numa mesquita, numa igreja e num hospital, na última semana de abril de 2014. Calcula-se que somente na mesquita morreram cerca de 200 pessoas. Muitos deles pertenciam à etnia dinka - a maior do Sudão do Sul e a mesma de Kiir, adversário de Mashar. Este, por sua vez, pertence ao grupo étnico nuer.
  Ao mesmo tempo, jovens membros da etnia dinka atacaram um acampamento da Unmiss onde se encontravam principalmente membros do grupo étnico nuer, levando a morte de cerca de 50 pessoas e deixando outras 100 feridas.
Salva Kiir Mayardit
  De acordo com analistas, o conflito não teria origem na hostilidade entre as etnias, mas na hostilidade entre os líderes políticos. Por trás disso tudo está também o interesse nas grandes reservas de petróleo do norte do país, responsáveis por quase toda a receita do Sudão do Sul. O objetivo dos rebeldes é assumir o controle dessas reservas. Porém, há também ressentimentos entre os dois grupos étnicos: os nuer se sentem desfavorecidos frente aos dinka (que são numericamente superiores) desde a independência do Sudão do Sul, principalmente no que diz respeito a divisão dos cargos políticos e das terras cultiváveis.
  O conflito já provocou o deslocamento de mais de 716 mil pessoas no interior do Sudão do Sul, segundo a ONU.
Pessoas fugindo do conflito no Sudão do Sul
  Perseguições e detenções de trabalhadores das Nações Unidas têm limitado o trabalho da missão de paz no Sudão do Sul.
  A missão de paz da ONU no Sudão do Sul (Unmiss) tenta intermediar o fim do conflito, e informou que no dia 1º de maio de 2014, a Universidade de Linch, no centro do país, foi ocupada por forças de oposição ao governo, lembrando aos opositores que o uso de instituições de educação para objetivos militares é uma violação da lei humanitária internacional.
  A Unmiss também informou que uma situação de "fogo amigo" junto ao complexo em Bor, no estado de Jonglei, fez com que mais pessoas procurassem abrigo nas instalações da ONU. Nessa base, a Unmiss protege mais de 4,8 mil pessoas.
Escola improvisada para alunos do campo de refugiados da UNMISS em Bor - Sudão do Sul
  Alertando para o fato de que a nação mais jovem do mundo está à beira de uma catástrofe, a alta comissária da ONU para os Direitos humanos, Navi Pillay, fez um apelo, no dia 30 de abril, aos líderes do Sudão do Sul, pedindo que abandonassem suas "lutas de poder pessoal" e levem o país, empobrecido pela guerra, para a estabilidade.
  O conflito, que começou em dezembro de 2013, e é marcado por inúmeras violações graves dos direitos humanos, já deixou milhares de mortos e forçou dezenas de pessoas a buscar refúgio nas bases da ONU em todo o país.
Navi Pillay (centro)
  De acordo com o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR), cobertores, colchões, reservatórios de água e outros itens de ajuda humanitária estão sendo transportados de Dubai, nos Emirados Árabes, para Juba, capital do Sudão do Sul, para ajudar as pessoas deslocadas.
  Estes suprimentos de emergência serão distribuídos, principalmente, nos estados de Unity, Alto Nilo e Jonglei. A operação faz parte de um grande esforço da agência para fornecer alívio essencial para os mais de um milhão de pessoas deslocadas pelos combates no Sudão do Sul.
Agentes da ONU distribuem ajuda para deslocados do Sudão do Sul
ALGUNS DADOS SOBRE O SUDÃO DO SUL
NOME: República do Sudão do Sul
CAPITAL: Juba

Ponte de Juba
LÍNGUA OFICIAL: inglês
GOVERNO: República Presidencialista
INDEPENDÊNCIA: do Sudão, 09 de julho de 2011

GENTÍLICO: sul-sudanês
LOCALIZAÇÃO: nordeste da África
ÁREA: 644.329 km² (40º)
POPULAÇÃO (ONU - Estimativa 2013): 8.260.490 habitantes (90º)
DENSIDADE DEMOGRÁFICA: 12,82 hab./km² (181º)
MAIORES CIDADES (Estimativa 2013):

Juba: 352.478 habitantes

Vista aérea de Juba - capital e maior cidade do Sudão do Sul
Malakal: 179.542 habitantes
Malakal - segunda maior cidade do Sudão do sul
Wau: 153.210 habitantes
Base da ONU em Wau - terceira maior cidade do Sudão do Sul
PIB (FMI - 2013): U$ 11,445 bilhões (124º)
IDH (ONU): Não disponível
EXPECTATIVA DE VIDA (ONU):  Não disponível
CRESCIMENTO VEGETATIVO (ONU): Não disponível
MORTALIDADE INFANTIL (
CIA World Factbook): Não disponível

TAXA DE URBANIZAÇÃO (CIA World Factbook): Não disponível
TAXA DE ALFABETIZAÇÃO (Pnud): Não disponível

PIB PER CAPITA (FMI - 2011): U$ 1.000 (150º)
MOEDA: Libra sul-sudanesa
RELIGIÃO: a população do Sudão do Sul segue, majoritariamente, religiões tribais, o cristianismo e o islamismo, sendo 60,2% cristãs (católicos em sua maioria), 32,9% religiões tradicionais, 6,2% de islâmicos e 0,7% de outras religiões.

Missa dominical na diocese de Rumbek, no Sudão do Sul
DIVISÃO: o Sudão do Sul está dividido em dez estados, criados a partir das três regiões históricas do país: Bahr el Ghazal, Equatória e Grande Nilo Superior. Os estados estão subdivididos em 86 condados.

Bahr el Ghazal
  Equatória
  Grande Nilo Superior
  O número abaixo corresponde aos estados:
1. Gharb Bahr al-Ghazal 2. Schamal Bahr al-Ghazal 3. Al-Wahdal 4. A'li an-Nil 5. Warab 6. Junqali 7. Al-Buhairat 8. Gharb al-Istiwa'iyya 9. Al-Istiwã iyya al-Wustã 10. Scharq al-Istiwa'iyya.
 
FONTE: Vesentini, J. William. Projeto Télaris: Geografia / J. William Vesentini, Vânia Vlach. - 1. ed. - São Paulo: Ática, 2012. - (Projeto Télaris:Geografia) 

domingo, 27 de abril de 2014

A FERROVIA TRANSIBERIANA

 
  A ferrovia Transiberiana é uma rede ferroviária que conecta a Rússia Europeia com as províncias do Extremo-Oriente Russo, Mongólia, China e o Mar do Japão. É frequentemente associada com o comboio transcontinental russo que liga centenas de grandes e pequenas cidades da Rússia, tanto na Europa quanto na Ásia.
  Construída em meio a um cenário tão belo quanto hostil, a maior e mais lendária ferrovia do mundo levou 26 anos para ser implantada e custou a vida de quase 10 mil operários: soldados, trabalhadores e prisioneiros chineses. Na difícil tarefa de sua construção, além do frio polar, os trabalhadores precisavam enfrentar o terreno difícil, enchentes, desabamentos, doenças e ataques de bandidos. Em 2004, essa ferrovia completou 100 anos.
Ponte sobre o rio Kama, em Perm - Rússia
  Os planos originais e financiamento para a construção da ferrovia Transiberiana, para ligar a então capital São Petersburgo à cidade portuária de Vladivostok no oceano Pacífico, foram aprovados pelo Czar Alexandre II em São Petersburgo. O filho dele, o Czar Alexandre III, supervisionou a construção. O Czar nomeou pessoalmente Sergei Witte como Diretor dos Assuntos dos Caminhos-de-Ferro em 1889. Em 1891, o Czar Alexandre III abençoou oficialmente a construção do segmento do Extremo-Oriente da linha em Vladivostok e o primeiro segmento entre Chelyabinsk e Omsk. Em março de 1891, o futuro Czar Nicolau II e a Imperatriz Alexandra abriram e abençoaram a construção do segmento do Extremo-Oriente durante a sua passagem por Vladivostok, após a visita ao Japão no final de sua viagem à volta do mundo.
Czar Alexandre II - idealizador da ferrovia
  A linha principal da ferrovia parte de Moscou e, após seis dias e meio de viagem ou cerca de 150 horas, ela chega a Vladivostok, no leste da Rússia, à beira do Mar do Japão (Mar do Leste). Ao percorrer 9.200 quilômetros, atravessar cerca de 70 grandes cidades russas e viajar por áreas de montanhas, taiga, lagos gelados, estepes e desertos - todos assolados pelo frio constante -, a ferrovia cumpre com o papel pelo qual foi feita: integrar o país que é quase um continente. Além das paisagens, a maior atração para o viajante é percorrer oito fusos horários da Terra, cruzando praticamente um terço do mundo e mantendo contato direto com russos, chineses, mongóis, europeus, entre outras nacionalidades.
Trecho da Transiberiana em Tomsk, na Sibéria - Rússia
  A ferrovia possui ramificações que tornam o complexo ferroviário mais descomunal do que já é. Uma das mais usadas é a Trans-Mongólia, que cruza as estepes natais de Gêngis Khan, passa pela Muralha da China e termina em Pequim. A capital chinesa também é o destino da Trans-Manchúria, mas por um caminho que percorre o nordeste da China.
  As principais rotas dessa ferrovia são:
1. Linha Transiberiana
  A rota principal é a linha Transiberiana que inicia-se em Moscou, passa por Iaroslavl no Volga, Perm no rio Kama, Ekaterinenburg nos Urais, Omsk no rio Irtysh, Novosibirsk no rio Ob, Krasnoyarsk no rio Ienissei, Irkutsk perto da extremidade sul do lago Baikal, Tchita, Blagoveshchensk, Khabarovsk até chegar em Vladivostok. Frequentemente, em vez do trecho Moscou-Iaroslavl-Kirov usa-se a rota ferroviária Moscou-Vladimir-Nijni Noygorod-Kirov. A sua construção durou desde 1891 até 1916 e, em 2002, a eletrificação foi finalizada. Cerca de 30% das exportações russas passam por essa linha.
Trecho da Transiberiana em Irkutsk, Sibéria - Rússia
2. Linha Transmanchuriana
  A linha Transmanchuriana coincide com a Transiberiana até Tarskaya, algumas centenas de quilômetros a leste do lago Baikal. De Tarskaya a Transmanchuriana dirige-se para o sudeste da China, terminando seu percurso em Pequim, sendo administrada pelo pessoal e administração russos baseados em Harbin, na Manchúria.
Trecho da Transmanchuriana, no Lago Baikal, na Rússia
3. Transmongoliana
  A Transmongoliana coincide com a Transiberiana até Ulan-Ude, na margem oriental do Lago Baikal. De Ulan-Ude a Transmongoliana dirige-se para o sul, em direção a Ulan Bator, para depois dirigir-se ao sudeste, em direção a Pequim, na China.
Trecho da Transmongoliana, próximo a divisa entre Mongólia e Rússia
4. Linha Baikal-Amur
  Em 1991, uma quarta rota indo mais longe para o norte, foi finalmente terminada, depois de mais de 50 anos de trabalhos cansativos. Conhecida como a Linha Baikal-Amur, esta extensão inicia-se da linha Transiberiana, há várias centenas de quilômetros a oeste do lago Baikal, e passa pelo lago na sua extremidade norte. Chega ao Pacífico a nordeste de Khabarovsk, em Sovetskaya Gavan. Apesar de esta rota dar acesso à costa norte do Baikal, passa também por algumas zonas de acesso restrito.
Linha Baikal-Amur próximo a Vladivostok
  Os trilhos, que ainda são rota de mão única e usam estreitamento em forma de gargalho, terão que entrar na era da mão dupla. Mesmo centenária, a velha senhora ainda tem muitos caminhos a percorrer.
FONTE: Moreira, Igor. Mundo da geografia: 9º ano / Igor Moreira; Ilustrações Antônio Éder [ et al.]. Curitiba: Positivo, 2012.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

CONFLITOS NO CHADE E NA REPÚBLICA CENTRO-AFRICANA

CHADE
 
  Localizado no Centro-Norte do continente africano, na área de transição entre a África Mediterrânea e a África Subsaariana, o Chade abriga um dos povos mais pobres do mundo. O país possui cerca de 75% do seu território ocupado pelo deserto do Saara e não possui saída para o mar. Ex-colônia francesa, em seu território habitam mais de 200 grupos étnicos e essa grande diversidade étnica é um dos principais responsáveis pelos constantes conflitos que assola o país.
  Nos seus 54 anos de história como país independente, o Chade nunca teve uma mudança de governo de forma democrática e livre. Todas as mudanças no comando do Estado fizeram-se sempre de forma violenta, através de golpe militar.
  Desde a sua independência da França em 1960, o Chade tem sido palco de guerra civil entre árabes muçulmanos do norte e cristãos subsaarianos do sul. Como resultado, a liderança e a presidência do Chade é disputada entre os cristãos sulistas e os muçulmanos nortistas. Quando um dos lados está no poder, o outro normalmente inicia uma guerra revolucionária para enfrentá-lo.
Comércio de trajes típicos no Chade
1. Primeira Guerra Civil do Chade
  A Primeira Guerra Civil do Chade foi um conflito armado que ocorreu 1965 e 1979. Essa guerra começou com uma rebelião contra o regime ditatorial do presidente François Tombalbaye, continuando depois do golpe de Estado de 1975, durante o qual Tombalbaye foi assassinado. Na guerra, participaram as várias facções e grupos militantes, contando com o apoio dos Estados Unidos, França e Líbia. A guerra terminou em 1979 com a formação de um governo de coalizão liderado por Hissene Habré, tendo como presidente Goukouni Oueddei. Os confrontos continuaram e, em 1983, Habré tornou-se presidente, obrigando Oueddei a fugir do país.
Hissene Habré
2. Conflito entre Chade e Líbia
  A partir de 1972, o Regime Líbio passou a ter dentre os seus objetivos, a transformação do Chade em um Estado cliente da Líbia, uma república islâmica no Jamairia, que manteria estreitas relações com a Líbia para garantir seu controle sobre a Faixa de Aouzou, a expulsão dos franceses da região, e a utilização daquele país como uma base para expandir sua influência na África Central.
  O conflito entre Chade e Líbia foi um estado de guerra que ocorreu de 1978 a 1987, entre as forças militares dos dois países. A Líbia envolveu-se nos assuntos internos do Chade, ocupando uma faixa de terras do território chadiano em 1977. Para ocupar o Chade, o ex-ditador da Líbia Muammar al-Gaddafi contou com várias facções que participaram da guerra civil, enquanto os adversários da Líbia receberam o apoio da França, que interveio militarmente para salvar o governo do Chade em 1978, 1983 e 1986.
Área do conflito entre Chade e Líbia
  Em 1978, a Líbia forneceu armas, artilharia e apoio aéreo aos seus aliados no Chade, assumindo a maior parte da luta. Em 1986, todas as forças do Chade uniram-se à oposição e ocuparam o norte do país pela Líbia. Essa união provocou a Guerra dos Toyota, que envolveu a Líbia, o Chade e a França, pelo controle da Faixa de Aouzou, uma estreita faixa territorial no extremo norte do Chade, que era reivindicada pela Líbia. O nome dessa guerra deve-se ao fato de os soldados chadianos usarem camionetas Toyota Land Cruiser para atravessar o deserto e enfrentar os veículos blindados líbios. Nessa guerra, os líbios foram derrotados e expulsos do Chade, pondo o fim à guerra.
Faixa de Aouzou
3. Conflito entre Chade e Sudão
  Em 2003, o conflito na região de Darfur, no vizinho Sudão, expandiu através da fronteira com o Chade. Os refugiados do Sudão se juntaram aos civis do Chade que estavam tentando escapar da violência rebelde, enchendo os campos de concentração dos refugiados, contribuindo para provocar a Segunda Guerra Civil do Chade, que teve início em dezembro de 2005. O conflito envolveu as forças governamentais e vários grupos rebeldes chadianos, como a Frente Unida pela Mudança Democrática (FUC), a União das Forças para a Democracia e Desenvolvimento (UFDD), a Reunião de Forças pela Mudança (RFC) e a Concórdia Nacional do Chade (CNT). Ao lado dos rebeldes, está a milícia árabe Janjaweed, abertamente apoiada pelo Sudão. A Líbia tentou intermediar o conflito, assim como diplomatas de outros países.
  De acordo com o governo do Chade, em janeiro de 2006, cerca de 614 cidadãos chadianos foram mortos nas batalhas fronteiriças. Em 8 de fevereiro de 2006, foi assinado o Acordo de Trípoli, que cessou a guerra por aproximadamente dois meses.
Milicianos de Darfur
  Em fevereiro de 2008, três grupos rebeldes se uniram e lançaram um ataque contra a capital chadiana, N'Djamena. Depois de lançar um ataque que não conseguiu tomar o palácio presidencial, o ataque foi repelido decisivamente. A França enviou tropas para fortalecer o governo. Muitos dos rebeldes eram antigos aliados do presidente Idriss Déby. Acusaram-no de corrupção contra membros de sua própria tribo.
  Em março de 2008, foi assinado o Acordo de Dacar, feito pelos presidentes do Chade e Sudão, Idriss Déby e Omar al-Bashir, respectivamente. Os dois líderes se comprometiam a pôr em prática pactos de não-agressão firmados nos fracassados tratados anteriores. A assinatura do novo acordo foi feita durante uma cúpula da Organização da Conferência Islâmica, em Dacar, Senegal, contando com a ajuda do secretário-geral da ONU Ban Ki-moon e com a mediação do presidente senegalês Abdoulaye Wade.
Idriss Déby
  Em 12 de junho de 2008, tropas da União Europeia no leste do Chade reforçaram as patrulhas em torno dos campos de refugiados e de ajuda internacional, após os rebeldes anunciarem uma nova ofensiva. O governo do Chade e os rebeldes davam versões conflitantes sobre as movimentações militares na região Dar Sila, perto da fronteira do Sudão, onde soldados irlandeses da UE faziam a proteção dos campos de refugiados das Nações Unidas para chadianos e sudaneses.
  Enquanto porta-vozes dos rebeldes chadianos disseram que os insurgentes avançavam com força no oeste e tinham abatido um helicóptero do governo, fontes governamentais diziam que o helicóptero caiu por causa de problemas técnicos.
Principais locais de conflito
  Em janeiro de 2009, o governo do Chade pediu a retirada dos soldados da ONU do leste do país, alegando a lenta implantação da missão de paz, as melhorias da situação de segurança, entre outras razões para justificar a saída dos soldados da ONU. Em maio desse mesmo ano, a ONU revisou o mandato da missão e autorizou a retirada gradual dos "capacetes azuis" e o encerramento até o final do ano dessa missão de paz, passando toda a responsabilidade de proteção dos civis e das populações deslocadas e refugiados de Darfur para as mãos das forças de segurança do Chade.
  Um acordo para a restauração da harmonia entre o Chade e o Sudão, foi assinado em janeiro de 2010, marcando o fim de uma guerra de cinco anos. A correção nas relações levaram os rebeldes chadianos do Sudão a retornarem ao país, a abertura da fronteira entre os dois países, bem como a implantação de uma força conjunta para proteger a fronteira.
Campo no Chade para refugiados vindos de Darfur
  A guerra civil no Chade é uma guerra regional, que tem profundas ligações com os conflitos no Sudão e na República Centro-Africana.
ALGUNS DADOS DO CHADE
NOME: República do Chade
CAPITAL: N'Djamena
Comércio nas ruas de N'Djamena - capital do Chade
LÍNGUA OFICIAL: francês e árabe
GOVERNO: República Presidencialista
INDEPENDÊNCIA: da França em 11 de agosto de 1960

GENTÍLICO: chadiano, chadiense
LOCALIZAÇÃO: centro-norte da África
ÁREA: 1.284.000 km² (20º)
POPULAÇÃO (ONU - Estimativa 2013): 10.111.337 habitantes (79º)
DENSIDADE DEMOGRÁFICA: 7,87 hab./km² (191º)
MAIORES CIDADES (Estimativa 2013):
N'Djamena: 1.093.492 habitantes
N'Djamena - capital do Chade
Moundou: 142.943 habitantes
Rua de Moundou - segunda maior cidade do Chade
Sarh: 104.432 habitantes
Sarh - terceira maior cidade do Chade
PIB (FMI - 2013): U$ 9,723 bilhões (132º)
IDH (ONU - 2012): 0,340 (184º)
EXPECTATIVA DE VIDA (ONU - 2005/2010): 48,52 anos (189º)
CRESCIMENTO VEGETATIVO (ONU - 2005-2010): 2,88% ao ano (18º)
MORTALIDADE INFANTIL (
CIA World Factbook - 2012): 131,17/mil (
192º)
TAXA DE URBANIZAÇÃO (CIA World Factbook - 2011): 27% (16º)
TAXA DE ALFABETIZAÇÃO (Pnud - 2009/2010): 25,7
% (175º)

PIB PER CAPITA (FMI - 2011): U$ 892 (151º) 
MOEDA: Franco
RELIGIÃO: 53% muçulmanos, 20% de católicos, 14% protestantes, 10% animistas e 3% de ateus.
Catedral de N'Djamena
DIVISÃO: desde fevereiro de 2008, o Chade está dividido em 22 regiões. A subdivisão do Chade em regiões surgiu em 2003 por meio de um processo de descentralização, quando o governo aboliu as catorze prefeituras anteriores. Cada região é encabeçada por um governador designado pela presidência. Os prefeitos administram os 61 departamentos dentro das regiões. Os departamentos se subdividem em duzentas prefeituras, os quais se dividem em 446 cantões.
  A Constituição do país prevê um governo descentralizado para alertar as populações locais sobre o desempenho de um papel ativo em seu próprio desenvolvimento, objetivando declarar que cada organização administrativa e territorial seja redigida por assembleias locais eleitas.
  As regiões do Chade são: 1. Batha 2. Chari-Baguirmi 3. Hadjer-Lamis 4. Wadi Fira 5. Barh El Gazel 6. Borkou 7. Ennedi 8. Guéra 9. RKanem 10. Lac 11. Logone Ocidental 12. Logone Oriental 13. Mandou 14. Mayo-Kebbi Leste 15. Mayo-Kebbi Oeste 16. Moyen-Chari 17. N'Djamena 18. Ouaddai 19. Salamar 20. Sila 21. Tandjilé 22. Tibesti.
Regiões do Chade
REPÚBLICA CENTRO-AFRICANA

  A antiga colônia francesa de Ubangui-Chari fez parte da África Equatorial Francesa. Em 1958, tornou-se república dentro da Comunidade Francesa e totalmente independente em 1960.
  Em 1976, seu presidente, Jean-Bédel Bokassa, declarou-a império e nomeou a si próprio imperador. Após denúncias de atrocidades, ele foi deposto em 1979, e o país voltou a ser uma República. Porém, a instabilidade política persistiu e, em 1981, o general André Kolingba tomou o poder.
André Kolingba
  O governo civil foi restaurado em 1986, com Kolingba ainda presidente. Houve reivindicações por eleições multipartidárias e o Movimento Democrático pela Renovação e Evolução na África Central (MDREC) foi constituído. Uma conferência constitucional fracassou em 1992 e o líder do MDREC foi aprisionado. Em 1993, ocorreram eleições livres, vencidas no segundo turno por Ange-Félix Patassé, ex-primeiro-ministro do governo Bokassa.
Ange-Félix Patassé
  Em 2003, um golpe de Estado depôs Patassé, e o líder rebelde François Bozizé assumiu o poder. Dois anos depois, ele organizou eleições presidenciais, onde saiu vitorioso no segundo turno. Em 2013, Bonzizé foi deposto por um novo golpe, após a coalizão rebelde Seleka assumir o controle da capital e forçar a fuga do ex-presidente para Camarões.
CONFLITO ATUAL
  A República Centro-Africana está há um ano mergulhada na violência entre as comunidades muçulmanas e cristã, que levou a ONU a temer por um genocídio e uma limpeza étnica.
  Com mais de seis mil homens e subordinados à União Africana, a Misca (Missão de Paz da República Centro-Africana) está presente no país, além de cerca de dois mil soldados franceses.
  Nos últimos dias, os soldados africanos foram alvos de disparos dos milicianos anti-balaka, na capital do país, Bangui, obrigando-os a retaliarem. Os anti-balaka são milícias camponesas de autodefesa cristãs e nasceram em reação às agressões cometidas contra a população pelos combatentes Seleka, em sua maioria muçulmanos, desde que eles tomaram o poder, em março de 2013.
Militantes anti-balaka
  A violência no país obrigou a cerca de um milhão de pessoas a se deslocar, em sua maioria muçulmanas, para outros locais do país e do continente africano.
  Os soldados da força internacional para a manutenção da paz não conseguem impedir a limpeza étnica de civis muçulmanos no oeste da República Centro-Africana.
  A situação se deteriorou após a queda do presidente François Bozizé, em março de 2013, deposto por Michel Djotodia e pela rebelião Seleka.
  Djotodia foi forçado a sair do poder em janeiro de 2014, pois foi acusado pelos cristãos de promover massacres contra esse grupo religioso, provocando uma onda incontrolável de violência após o surgimento das milícias anti-balaka.
Corpos de pessoas assassinadas em Bangui
ALGUNS DADOS DA REPÚBLICA CENTRO-AFRICANA
NOME: República Centro-Africana ou República da África Central
CAPITAL: Bangui

Entrada da cidade de Bangui
LÍNGUA OFICIAL: francês, sangho
GOVERNO: República Federal
INDEPENDÊNCIA: da França, em 13 de agosto de 1960

GENTÍLICO: centro-africano
LOCALIZAÇÃO: centro da África
ÁREA: 622.984 km² (43º)
POPULAÇÃO (ONU - Estimativa 2013): 4.444.330 habitantes (120º)
DENSIDADE DEMOGRÁFICA: 7,13 hab./km² (192º)
MAIORES CIDADES (Estimativa 2013):

Bangui: 876.342 habitantes
Bangui - capital e maior cidade da República Centro-Africana
Bimbo: 267.859 habitantes
Escola na zona rural de Bimbo - segunda cidade mais populosa da RCA
Mbaiki: 104.321 habitantes
Vila rural em Mbaiki - terceira cidade mais populosa da República Centro-Africana
PIB (FMI - 2013): U$ 2,168 bilhões (159º)
IDH (ONU - 2012): 0,352 (180º)
EXPECTATIVA DE VIDA (ONU - 2005/2010): 45,91 anos (198º)
CRESCIMENTO VEGETATIVO (ONU - 2005-2010): 1,83% ao ano (65º)
MORTALIDADE INFANTIL (
CIA World Factbook - 2012): 105,38/mil (
185º)
TAXA DE URBANIZAÇÃO (CIA World Factbook - 2011): 39% (137º)
TAXA DE ALFABETIZAÇÃO (Pnud - 2009/2010):
48,6% (162º)
PIB PER CAPITA (FMI - 2011): U$ 456 (174º)
MOEDA: Franco
RELIGIÃO: 67,23% de cristãos (sendo a grande maioria de católicos), 17,39% de crenças tribais, 14,65% de islâmicos e 0,73% de outras crenças.
DIVISÃO: A República Centro-Africana divide-se em 14 prefeituras administrativas, 2 prefeituras econômicas e uma comuna autônoma.
FONTE: Geografia nos dias de hoje, 8º ano / Cláudio Giardino ... [et al.]. 1. ed. - São Paulo: Leya, 2012. - (Coleção nos dias de hoje).

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