A fronteira da Rússia é um caldeirão explosivo. A desintegração da União Soviética provocou uma onde separatista e de disputas que não foram resolvidas até hoje. São um terreno fértil para a guerra de influência entre potências. Transnístria, Nagorno-Karabakh, Ossétia do Sul e Ossétia do Norte, Abkházia, Chechênia, Crimeia, entre outras regiões, engrossam a lista dos conflitos não resolvidos. São os pontos em que o Ocidente teme uma ingerência maior da Rússia.
A situação atual da Crimeia não apenas evidencia o que muitos veem como renovadas ambições expansionistas da Rússia de Vladimir Putin. Também desperta preocupação entre os vizinhos do país do Leste Europeu, trazendo à tona conflitos que estavam esquecidos no tempo e que foram originados após a desintegração da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), em 1991.
Para muitos analistas, o presidente russo, Vladimir Putin, deseja conter a influência dos Estados Unidos e da União Europeia com uma espécie de União da Eurásia. Desde que assumiu o poder, em 2000, Putin deseja voltar a fazer de Moscou uma grande potência global.
Existe uma grande diversidade étnico-cultural na população da CEI. No vasto território desse conjunto geoeconômico e político são faladas cerca de 112 línguas, subdivididas em vários dialetos locais.
O grupo mais numeroso é o eslavo, formando cerca de 75% da população, que compreende russos (a nacionalidade mais numerosa), ucranianos e bielorrussos - também denominados de russos-brancos.
Os povos não eslavos, habitantes da Ásia Central, representam 25% da população total e compreendem várias culturas. Os mais numerosos são os uzbeques, cazaques, turcomenos, azerbaijanos, quirguizes e iakutes, que pertencem ao grupo dos turco-tártaros. Armênios, fino-úgricos, latinos e outros grupos completam esse mosaico de povos.
A religião dos povos eslavos é predominantemente cristã ortodoxa e a dos não eslavos é a muçulmana, com exceção dos armênios, que são cristãos. Além desses grupos, há minorias étnicas como os fineses e os lapões, habitantes da tundra do noroeste da Rússia, os koriaços e os samoiedas, da Sibéria, além de muitos outros.
Após a desagregação da União Soviética e o fim do socialismo real, as ex-repúblicas soviéticas, na condição de Estados independentes, optaram pela economia de mercado ou capitalismo. Assim, abriram as fronteiras ao capital externo e iniciaram um processo de privatização das empresas estatais.
A transição do socialismo para o capitalismo causou impactos não só na economia, mas, sobretudo, nas condições sociais. A desagregação repentina acabou provocando um empobrecimento generalizado da população em decorrência de o Estado deixar de fornecer vários serviços e produtos à população.
Além disso, com o fim da União Soviética e o consequente afrouxamento das relações de controle e dominação de Moscou sobre as ex-repúblicas, vários conflitos territoriais, étnicos ou de nacionalidades até então reprimidos eclodiram.
Durante a existência da União Soviética e do Estado autoritário que se instaurou, a "adesão" das mais de cem etnias existentes nas ex-repúblicas soviéticas foi mantida por meio da força e da repressão. Com a glasnost e a perestroika do governo Gorbatchev, a partir de 1985, a possibilidade de reafirmação da identidade étnica, cultural, histórica e de nacionalidade de muitos povos ganhou espaço e se intensificou. Surgiram muitos movimentos pró-independência de enclaves, ou seja, territórios totalmente circundados por outro território. Vários desses movimentos utilizaram força militar.
A oposição e parte da população não aceitaram a decisão, e foram às ruas, realizando protestos violentos que deixaram várias pessoas mortas e que culminou, no dia 22 de fevereiro de 2014, na destituição do presidente pelo Parlamento ucraniano e no agendamento de eleições antecipadas para o dia 25 de maio do corrente ano.
Assim, houve a criação de um novo governo pró-União Europeia e anti-Rússia, acirrando as tensões separatistas na região da Crimeia.
A Crimeia, península situada na costa setentrional do Mar Negro, é uma república da Ucrânia, mas com população predominantemente russa - cerca de 66% da população total. Em 1992, essa população de origem russa fez um movimento em prol de sua anexação à Rússia, logo combatido pelo governo ucraniano.
Essa região pertenceu à Rússia, no período em que os dois países faziam parte da ex-União Soviética. Em 1954, a Ucrânia anexou a Crimeia ao seu território, na época em que Nikita Krushchev - que era de origem ucraniana - governava a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas). Diferente do restante do território ucraniano, a Crimeia possui uma população majoritariamente russa. Em 1991, com a desintegração da União Soviética e a criação de 15 novos países, a Crimeia passou a ser uma república semi-autônoma da Ucrânia, com fortes laços políticos com o país e com a vizinha Federação Russa.
A Crimeia se tornou
foco da atenção da diplomacia internacional nas últimas semanas com uma
escalada militar russa e ucraniana na região. As tensões separatistas,
de maioria russa, se tornaram mais acirradas com a deposição do
presidente ucraniano Viktor Yanukovich, que tinha desistido de assinar
um tratado de livre-comércio com a União Europeia, preferindo estreitar
relações econômicas com a Rússia. A renúncia de Viktor Yanukovich levou a
Rússia a aprovar o envio de tropas para "normalizar" a situação. A
medida só piorou as relações entre Ucrânia e Rússia, gerando grande
perigo para a região.
Na Crimeia, o parlamento local foi dominado por um comando pró-Rússia, que nomeou Sergei Axionov como premiê. Esse novo governo, considerado ilegal pela Ucrânia, aprovou sua adesão à Federação Russa e a realização de um referendo sobre o status da região, que ocorreu no dia 16 de março de 2014.
Com a intensificação das tensões separatistas, o Parlamento russo aprovou o envio de tropas para a região da Crimeia. Essas tropas não tinham identificação, porém, demonstravam claramente que eram russas - por meio de placas registradas nos veículos - e tomaram a Crimeia, dominando bases militares e aeroportos. A Rússia justificou o movimento dizendo se reservar o direito de proteger seus interesses e os de seus cidadãos em caso de violência na Ucrânia e na região da Crimeia.
A escalada militar fez
com que diversos oficiais do exército ucraniano se juntassem ao governo
local pró-russo. Outros abandonaram seus postos. No dia 4 de março, o
novo governo da Crimeia anunciou que assumiu o controle da península,
dando um ultimato para que os últimos oficiais leais à Ucrânia se
rendessem.
Para muitos russos, a Crimeia e sua "Cidade Heroica" de Sebastopol, da era soviética, sitiada pelos invasores nazistas, têm uma ressonância emocional muito forte, por já ter sido parte do país e ainda ter a maioria de sua população de origem russa. Além disso, a maior parte da frota russa do Mar Negro está na Crimeia. Para a Ucrânia, a perda da Crimeia para a Rússia significaria um duro golpe.
Além da Crimeia, outra região ucraniana vem sofrendo com propostas de separatismo: o Leste da Ucrânia. Assim como ocorreu na Crimeia, os manifestantes pró-Rússia pedem a desintegração de três cidades (Donetsk, Lugansk e Kharkiv) e a anexação à Rússia. Eles exigem um referendo para que a população local vote a favor ou contra a anexação dessas cidades pela Federação Russa. Porém, diferente da Crimeia, que já era uma república autônoma, esse processo pode sofrer um revés, já que essas cidades possuem uma maioria populacional ucraniana e não russa, além de não terem autonomia política dentro do país.
1. TARTARISTÃO
A anexação da Crimeia pela Rússia levou a esperança de regiões russas a se tornarem independentes. Uma delas é o Tartaristão. O Tartaristão, ou terra dos tártaros, é a região mais ao norte do mundo com maioria muçulmana e está localizada na Região Econômica do Volga. Os tártaros ficaram mais conhecidos pelo fato de que muitos dos seus habitantes terem sido deportados em massa da Crimeia por Stálin. A Ucrânia e o Tartaristão possuem um ponto em comum: a morte de milhões de pessoas de fome devido às decisões políticas do governo da União Soviética. Entre 1921 e 1922, dois milhões de tártaros morreram de fome. Entre 1932 e 1933, uma decisão similar na Ucrânia, levou a morte mais de 7,5 milhões de pessoas.
O Tartaristão, ao lado da Chechênia, foi a única das 88 regiões autônomas da Rússia que não assinaram um acordo com a recém-criada Federação Russa depois do fim da União Soviética. Acabariam sendo forçados a assinar depois - diferente dos chechenos que nunca assinaram até serem arrasados militarmente. Mais da metade da população do Tartaristão considera-se tártara, e apenas 40% russos. Cerca de 55% da população segue a religião islâmica.
2. KALININGRADO
Quem olha o mapa da Europa muitas vezes não repara que há um pequeno território entre a Polônia e a Lituânia que não é parte de nenhum destes dois Estados. Trata-se de um território histórico da Prússia, e depois da Alemanha: é o enclave russo de Kaliningrado - nome em homenagem a Mikhail Kalinin, chefe de Estado oficial da União Soviética entre 1919 e 1946.
O território foi tomado da Alemanha no fim da Segunda Guerra Mundial e a União Soviética decidiu anexá-lo ao seu território dentro da Rússia soviética - e não dentro da Lituânia, que também era parte da União Soviética. O território possui grande importância estratégica, pois com mísseis nucleares de pequeno e médio alcances dá para atingir quase toda a Europa.
Nos últimos anos, têm-se criado movimentos em prol da autonomia e até da independência. Foi fundado o Partido Republicano Báltico, criado como um "movimento da sociedade civil".
Durante a desagregação da União Soviética em 1991, a Transnístria, uma porção do território moldávio localizado na porção leste do país e de maioria russa, exigiu a independência em um confronto armado. Com a mediação da Rússia, o cessar-fogo foi decretado, e os separatistas aceitaram a proposta do governo moldávio de conceder ampla autonomia à região.
Na prática, a Transnístria se separou da Moldávia e a maioria de sua população fala russo. As autoridades locais já tinham pedido ao Parlamento russo a anexação da região à Rússia, sendo que um referendo em 2006, respaldou essa ideia. A comunidade internacional não reconhece sua independência, e o território, que mantém um tenso enfrentamento com a Moldávia, é tida como uma região dominada pelo crime organizado e pelo contrabando.
A Transnístria tem moeda, Constituição, hino, bandeira e Parlamento próprios. Assim como na Crimeia, a Rússia possui vários soldados na região. A relação de Moscou com a Moldávia é marcada pelo ponto fraco do pequeno país, a economia, que é semelhante à relação entre Moscou e a Ucrânia.
No caso da Transnístria, o movimento separatista já estava bem adiantado antes mesmo da crise da Crimeia. O território, além de ser dominado por políticos pró-Rússia, já funciona como um Estado independente da Moldávia, não respondendo às ordens do governo do país desde 1990, quando seus chefes políticos declararam a independência da região sob o pretexto de que a Moldávia buscasse se unir à Romênia.
Apesar da comunidade internacional não reconhecer a independência da região, os habitantes possuem passaportes locais. Fotografias das suas cidades mostram cenários que parecem viver a época da antiga União Soviética, com estátuas de Vladimir Lênin enfeitando dezenas de praças.
A Moldávia é o país mais pobre da Europa, e sua economia depende em grande parte da exportação de vinho. A União Europeia deseja integrá-la à Associação Oriental, programa do bloco de aproximação com ex-repúblicas soviéticas ao leste, assim como Belarus, Azerbaijão, Armênia, Geórgia e Ucrânia. Mas, quando o país começou a se aproximar do Ocidente, a Rússia - seu principal parceiro comercial - vetou a importação de vinho moldávio. Esse mesmo tipo de aproximação com a União Europeia motivou os conflitos na Ucrânia e levou à anexação da Crimeia pela Rússia.
No sul do país, as autoridades moldávias também enfrentaram conflitos na região da Gaugázia, habitada por cristãos ortodoxos turcos. Em 1996, à semelhança do que ocorreu com a Transnítria, foram afirmados acordos que concederam autonomia a essa minoria étnica. A Gaugázia é formalmente conhecudo como Unidade Territorial Autônoma da Gaugázia.
O povo gaugaz descende dos turcos seljúcidas que migraram dos Balcãs orientais (atual Bulgária) e se instalaram na região.
Os principais conflitos nessa região são:
1. OSSÉTIA
Desde o tempo de Stálin como dirigente do Comitê para as Nacionalidades do Partido Comunista da URSS, os ossetianos foram divididos. Uma parte ficou no território russo (a Ossétia do Norte) e outra parte ficou no território da Geórgia (Ossétia do Sul). Em 1990, a Ossétia do Sul declarou independência da Geórgia e propôs se integrar à Ossétia do Norte. O governo da Geórgia, em 1991, iniciou uma ofensiva militar que resultou em mais de 1.500 pessoas mortas. Em 2004 a guerra voltou a ocorrer e em 2007 são reatadas as negociações entre os ossetianos e o governo da Geórgia para que a Ossétia do Sul obtenha a independência. Em 2008, Moscou usou a maioria russa na Ossétia como justificativa para atacar as tropas da Geórgia, que tentavam recuperar o controle da região separatista.
Na Ossétia do Sul, a maioria a população é de origem persa e cristã e a Ossétia do Norte possui uma população de cristãos e muçulmanos. Os ossetas do sul contam que são discriminados pelos georgianos e, por isso, querem a separação da Geórgia e a unificação com a Ossétia do Norte.
2. ABKHÁZIA
Na Abkházia, os abecazes foram reduzido a uma minoria depois do deslocamento de milhares de georgianos para a região, na época da extinta União Soviética. Separatistas abecazes (que são muçulmanos ortodoxos) lutam contra os georgianos (que são cristãos), desde 1992, pela criação de uma república independentes. Em 1994, declararam-se novamente independentes, mas não obtiveram o reconhecimento internacional.
Combates voltaram a ocorrer em 1998, 2002 e 2008.
Atualmente, a Abkházia permanece em grande medida de fato independente da Geórgia e mantém controle sobre grande parte do seu território, embora não seja reconhecida internacionalmente.
3. INGUCHÉTIA E DAGUESTÃO
Habitada por povos muçulmanos, a Inguchétia e o Daguestão são repúblicas autônomas da Rússia. Após a desagregação da União Soviética, passaram a reivindicar independência, o que causou conflitos armados com as tropas russas.
Quando não são conflitos, ocorrem atentados às autoridades e aos pró-Rússia, como o de 2009, que matou mais de 20 pessoas e deixou cerca de 140 pessoas feridas.
O Daguestão é a maior república russa do Cáucaso. Possui uma maioria muçulmana e grande importância para os russos, uma vez que abriga campos de petróleo e oleodutos. Também nessa república encontra-se o único porto russo no mar Cáspio, que pode ser usado durante os 365 dias do ano. A região abriga 32 povos diferentes que só se uniram no século XIX para enfrentar o Império Russo, o qual lutaram durante 30 anos.
A partir de 1999, o Daguestão foi cenário de incursões de rebeldes fundamentalistas muçulmanos da Chechênia. Moscou respondeu com uma vasta ofensiva militar na república.
Em 1920, o poder soviético foi estabelecido no território da Inguchétia, e em 1924 criou-se um oblast (distrito), dentro da Inguchétia Autônoma na Rússia Soviética, com a cidade de Vladikavkaz (atual Alania) como seu centro administrativo. Em 1934, a Chechênia e a Inguchétia foram unidas para formar o Oblast Autônomo da Chechênia-Inguchétia, tornando-se república autônoma em 1936. Em 1944, durante a Segunda Guerra Mundial, Stálin acusou os inguchétios de colaborar com o sistema nazista, sendo deportados em grande escala para a Ásia Central.
Em 1957, os inguchétios voltaram para a sua terra natal e passaram a exigir a devolução de Prigorodni Rayon, um distrito que se estende ao longo do rio Terek, que havia sido transferido para a Alania durante o seu exílio.
Quando a Chechênia declarou a sua independência da Rússia em novembro de 1991, pouco antes da dissolução da União Soviética, os inguchétios se separaram da Chechênia para formar a sua própria república. Em dezembro de 1992, o Congresso dos Deputados do Povo da Rússia reconheceu a Inguchétia como uma república autônoma na Rússia. A nova entidade continuou a exigir a devolução do distrito nas mãos da Ossétia do Norte, provocando hostilidades entre as regiões vizinhas. Os líderes russos e inguchétios passaram a mediar o conflito.
A Inguchétia continua a ser uma das mais pobres regiões russas. O conflito na vizinha Chechênia se alastrou para a Inguchétia e a república tem sido desestabilizada por vários crimes, protestos anti-governo, ataques a funcionários e soldados e excessos militares, piorando de forma crítica a situação dos direitos humanos.
4. CHECHÊNIA
A Chechênia, a mais conhecida região separatista da Rússia, chegou a ser independente logo no início da existência da União Soviética, entre 1917 e 1921, quando caiu sob o domínio soviético. Na fase final da Segunda Guerra Mundial, Stálin acusou os chechenos de colaborarem com os nazistas, e num único dia em 1944, lotou trens de gado e enviou cerca de 60% da população para a Sibéria e a Ásia Central - 20% da população morreu de fome, sede e maus tratos nessa "viagem".
A Chechênia, região de maioria muçulmana, declarou-se independente em 1991. Em 1994, foi invadido por tropas militares russas, o que deixou um saldo de 80 mil mortos. Apesar do acordo de paz de 1997, os conflitos entre os separatistas e o governo russo prosseguiram. Em 1999, após invasão ao vizinho Daguestão por guerrilheiros chechenos com a finalidade de criar um Estado islâmico, a Chechênia sofreu um ciclo de violência, dessa vez precedida por bombardeios aéreos intensos e culminando em um verdadeiro massacre de civis pelo exército russo. Nessa guerra, mais de 370 mil pessoas foram deslocadas. A população de Grozny, capital da Chechênia, passou de 400.000 (número antes da guerra) para cerca de 30.000 pessoas.
Em 2003, um referendo realizado pelo governo checheno pró-Rússia, reafirmou a subordinação a Moscou. Em 2004, rebeldes chechenos invadiram uma escola na cidade de Beslan, na Ossétia do Norte. No confronto com forças russas, 331 pessoas morreram, sendo 186 crianças.
A vitória na segunda guerra da Chechênia, significou a transformação do presidente russo, Vladimir Putin, em líder inconteste da Rússia.
Os grupos separatistas perderam sua força original, mas, para o governo de Moscou, principalmente após o episódio da Crimeia, continuam a representar uma série de ameaças, tanto na Chechênia quanto no Daguestão.
5. NAGORNO-KARABAKH
A região de Nagorno-Karabakh é foco de conflito entre a Armênia e o Azerbaijão por sua natureza peculiar. Desde o início do século XX, Armênia e Azerbaijão disputam essa região, encravada no território do Azerbaijão, país de origem muçulmana, mas com 80% da população cristã e de origem armênia.
Em 1988, aproveitando à abertura política soviética, a Armênia passou a reivindicar o território, iniciando uma guerra entre as duas repúblicas.
Em 1991, essa região proclamou sua independência, iniciando uma série de conflitos. Em 1992, a Armênia conquistou o enclave e formou o corredor de Latchine, ligando Nagorno-Karabakh a seu território. A continuidade dos combates provocou o colapso econômico dos dois países. Em maio de 1994, é assinado um cessar-fogo.
As negociações bilaterais sobre o destino da região não avançaram nos anos seguintes. Em 2001, os presidentes armênio e azeri reuniram-se em março na França e em maio desse ano nos Estados Unidos. É discutida a concessão do enclave do status de república autônoma do Azerbaijão, com Constituição e Exército próprios e o direito de vetar leis azeris. A Armênia teria que sair da área contígua, ocupada durante a guerra. Nada foi decidido por causa da forte resistência interna nos dois países. Em 2008, as tropas dos dois países reiniciaram os confrontos, e os conflitos prosseguem sem nenhuma trégua.
A situação atual da Crimeia não apenas evidencia o que muitos veem como renovadas ambições expansionistas da Rússia de Vladimir Putin. Também desperta preocupação entre os vizinhos do país do Leste Europeu, trazendo à tona conflitos que estavam esquecidos no tempo e que foram originados após a desintegração da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), em 1991.
Para muitos analistas, o presidente russo, Vladimir Putin, deseja conter a influência dos Estados Unidos e da União Europeia com uma espécie de União da Eurásia. Desde que assumiu o poder, em 2000, Putin deseja voltar a fazer de Moscou uma grande potência global.
Vladimir Putin - presidente da Rússia |
O CALDEIRÃO CULTURAL DA CEI (COMUNIDADE DOS ESTADOS INDEPENDENTES)
Em 8 de dezembro de 1991, os presidentes da Rússia, da Ucrânia e de Belarus assinaram um documento que sinalizava a criação da Comunidade dos Estados Independentes (CEI). A CEI é uma organização supranacional criada para implementar um mercado econômico comum e promover relações amistosas e de cooperação entre os países-membros. Era composta por doze das quinze repúblicas que pertenciam à antiga União Soviética - Rússia, Belarus, Ucrânia, Moldávia, Azerbaijão, Armênia, Geórgia, Turcomenistão, Quirguistão, Cazaquistão, Tadjiquistão e Uzbequistão -, deixando de participar os países Bálticos (Letônia, Estônia e Lituânia), devido serem mais ligados economicamente aos países da Europa Ocidental, principalmente os países nórdicos. Em 2008, após conflito entre a Geórgia e a Rússia motivado por disputas territoriais, a Geórgia abandonou o bloco, e o recente conflito entre Rússia e Ucrânia pela região da Crimeia levará à Ucrânia a desistir desse bloco.Mapa da CEI |
O grupo mais numeroso é o eslavo, formando cerca de 75% da população, que compreende russos (a nacionalidade mais numerosa), ucranianos e bielorrussos - também denominados de russos-brancos.
Os povos não eslavos, habitantes da Ásia Central, representam 25% da população total e compreendem várias culturas. Os mais numerosos são os uzbeques, cazaques, turcomenos, azerbaijanos, quirguizes e iakutes, que pertencem ao grupo dos turco-tártaros. Armênios, fino-úgricos, latinos e outros grupos completam esse mosaico de povos.
Mapa étnico dos países que faziam parte da antiga URSS |
Após a desagregação da União Soviética e o fim do socialismo real, as ex-repúblicas soviéticas, na condição de Estados independentes, optaram pela economia de mercado ou capitalismo. Assim, abriram as fronteiras ao capital externo e iniciaram um processo de privatização das empresas estatais.
A transição do socialismo para o capitalismo causou impactos não só na economia, mas, sobretudo, nas condições sociais. A desagregação repentina acabou provocando um empobrecimento generalizado da população em decorrência de o Estado deixar de fornecer vários serviços e produtos à população.
Mendigo nas ruas de Moscou |
CONFLITOS TERRITORIAIS E DE NACIONALIDADES
Quando ocorreu a revolução socialista de 1917, mais de 35 milhões de russos já haviam migrado para o leste, ultrapassando os Montes Urais e chegando à Ásia. A política de expansão territorial russa e de subjugação de povos continuou durante o Estado soviético.Durante a existência da União Soviética e do Estado autoritário que se instaurou, a "adesão" das mais de cem etnias existentes nas ex-repúblicas soviéticas foi mantida por meio da força e da repressão. Com a glasnost e a perestroika do governo Gorbatchev, a partir de 1985, a possibilidade de reafirmação da identidade étnica, cultural, histórica e de nacionalidade de muitos povos ganhou espaço e se intensificou. Surgiram muitos movimentos pró-independência de enclaves, ou seja, territórios totalmente circundados por outro território. Vários desses movimentos utilizaram força militar.
Mapa da divisão regional da Rússia |
O SEPARATISMO RUSSO NA CRIMEIA
A Ucrânia vive uma grave crise social e política desde novembro de 2013, quando o governo do então presidente Viktor Yanukovich desistiu de assinar um acordo de livre-comércio e associação política com a União Europeia, alegando que decidiu manter relações comerciais mais próximas com a Rússia, até então, seu principal aliado.A oposição e parte da população não aceitaram a decisão, e foram às ruas, realizando protestos violentos que deixaram várias pessoas mortas e que culminou, no dia 22 de fevereiro de 2014, na destituição do presidente pelo Parlamento ucraniano e no agendamento de eleições antecipadas para o dia 25 de maio do corrente ano.
Assim, houve a criação de um novo governo pró-União Europeia e anti-Rússia, acirrando as tensões separatistas na região da Crimeia.
Mapa da Ucrânia |
Essa região pertenceu à Rússia, no período em que os dois países faziam parte da ex-União Soviética. Em 1954, a Ucrânia anexou a Crimeia ao seu território, na época em que Nikita Krushchev - que era de origem ucraniana - governava a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas). Diferente do restante do território ucraniano, a Crimeia possui uma população majoritariamente russa. Em 1991, com a desintegração da União Soviética e a criação de 15 novos países, a Crimeia passou a ser uma república semi-autônoma da Ucrânia, com fortes laços políticos com o país e com a vizinha Federação Russa.
Mapa da Crimeia |
Na Crimeia, o parlamento local foi dominado por um comando pró-Rússia, que nomeou Sergei Axionov como premiê. Esse novo governo, considerado ilegal pela Ucrânia, aprovou sua adesão à Federação Russa e a realização de um referendo sobre o status da região, que ocorreu no dia 16 de março de 2014.
Com a intensificação das tensões separatistas, o Parlamento russo aprovou o envio de tropas para a região da Crimeia. Essas tropas não tinham identificação, porém, demonstravam claramente que eram russas - por meio de placas registradas nos veículos - e tomaram a Crimeia, dominando bases militares e aeroportos. A Rússia justificou o movimento dizendo se reservar o direito de proteger seus interesses e os de seus cidadãos em caso de violência na Ucrânia e na região da Crimeia.
Grupo pró-Rússia sobre tanque soviético em frente ao Parlamento de Simferopol |
Para muitos russos, a Crimeia e sua "Cidade Heroica" de Sebastopol, da era soviética, sitiada pelos invasores nazistas, têm uma ressonância emocional muito forte, por já ter sido parte do país e ainda ter a maioria de sua população de origem russa. Além disso, a maior parte da frota russa do Mar Negro está na Crimeia. Para a Ucrânia, a perda da Crimeia para a Rússia significaria um duro golpe.
Principais grupos étnicos da Crimeia |
Donetsk - Ucrânia
REGIÕES RUSSAS FORA DO CÁUCASO QUE LUTAM PELA INDEPENDÊNCIA
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A anexação da Crimeia pela Rússia levou a esperança de regiões russas a se tornarem independentes. Uma delas é o Tartaristão. O Tartaristão, ou terra dos tártaros, é a região mais ao norte do mundo com maioria muçulmana e está localizada na Região Econômica do Volga. Os tártaros ficaram mais conhecidos pelo fato de que muitos dos seus habitantes terem sido deportados em massa da Crimeia por Stálin. A Ucrânia e o Tartaristão possuem um ponto em comum: a morte de milhões de pessoas de fome devido às decisões políticas do governo da União Soviética. Entre 1921 e 1922, dois milhões de tártaros morreram de fome. Entre 1932 e 1933, uma decisão similar na Ucrânia, levou a morte mais de 7,5 milhões de pessoas.
O Tartaristão, ao lado da Chechênia, foi a única das 88 regiões autônomas da Rússia que não assinaram um acordo com a recém-criada Federação Russa depois do fim da União Soviética. Acabariam sendo forçados a assinar depois - diferente dos chechenos que nunca assinaram até serem arrasados militarmente. Mais da metade da população do Tartaristão considera-se tártara, e apenas 40% russos. Cerca de 55% da população segue a religião islâmica.
Mapa do Tartaristão |
Quem olha o mapa da Europa muitas vezes não repara que há um pequeno território entre a Polônia e a Lituânia que não é parte de nenhum destes dois Estados. Trata-se de um território histórico da Prússia, e depois da Alemanha: é o enclave russo de Kaliningrado - nome em homenagem a Mikhail Kalinin, chefe de Estado oficial da União Soviética entre 1919 e 1946.
O território foi tomado da Alemanha no fim da Segunda Guerra Mundial e a União Soviética decidiu anexá-lo ao seu território dentro da Rússia soviética - e não dentro da Lituânia, que também era parte da União Soviética. O território possui grande importância estratégica, pois com mísseis nucleares de pequeno e médio alcances dá para atingir quase toda a Europa.
Nos últimos anos, têm-se criado movimentos em prol da autonomia e até da independência. Foi fundado o Partido Republicano Báltico, criado como um "movimento da sociedade civil".
Em marrom a região de Kaliningrado |
A MOLDÁVIA E AS DISPUTAS TERRITORIAIS
Vizinha da Ucrânia, a Moldávia teme ser a próxima vítima do expansionismo russo. Recentemente, o presidente do Parlamento da Transnístria, no leste do país, viajou a Moscou e pediu para que a Duma, o Parlamento russo, autorize a anexação da região, uma pequena faixa de terra e que é habitada por meio milhão de pessoas. O objetivo da Transnístria é receber o mesmo tratamento dispensado à Crimeia.Durante a desagregação da União Soviética em 1991, a Transnístria, uma porção do território moldávio localizado na porção leste do país e de maioria russa, exigiu a independência em um confronto armado. Com a mediação da Rússia, o cessar-fogo foi decretado, e os separatistas aceitaram a proposta do governo moldávio de conceder ampla autonomia à região.
Na prática, a Transnístria se separou da Moldávia e a maioria de sua população fala russo. As autoridades locais já tinham pedido ao Parlamento russo a anexação da região à Rússia, sendo que um referendo em 2006, respaldou essa ideia. A comunidade internacional não reconhece sua independência, e o território, que mantém um tenso enfrentamento com a Moldávia, é tida como uma região dominada pelo crime organizado e pelo contrabando.
Em rosa a região da Transnístria |
No caso da Transnístria, o movimento separatista já estava bem adiantado antes mesmo da crise da Crimeia. O território, além de ser dominado por políticos pró-Rússia, já funciona como um Estado independente da Moldávia, não respondendo às ordens do governo do país desde 1990, quando seus chefes políticos declararam a independência da região sob o pretexto de que a Moldávia buscasse se unir à Romênia.
Apesar da comunidade internacional não reconhecer a independência da região, os habitantes possuem passaportes locais. Fotografias das suas cidades mostram cenários que parecem viver a época da antiga União Soviética, com estátuas de Vladimir Lênin enfeitando dezenas de praças.
Estátua de Lênin, em Tiraspol, capital da Transnístria |
Composição étnica da Moldávia |
O povo gaugaz descende dos turcos seljúcidas que migraram dos Balcãs orientais (atual Bulgária) e se instalaram na região.
Regiões da Moldávia |
OS CONFLITOS NO CÁUCASO
O Cáucaso corresponde a um sistema montanhoso situado entre os mares Negro e Cáspio, abrangendo o sul do território russo, além da Armênia, da Geórgia e do Azerbaijão. Nessa região, após o fim da União Soviética, eclodiram vários conflitos étnicos e nacionalistas, mas Moscou insiste em se manter presente nos países do Cáucaso. É no Cáucaso que se situam as linhas de defesa das fronteiras meridionais da Rússia. Além disso, Geórgia e Azerbaijão vêm estabelecendo relações econômicas e militares cada vez mais estreitas com os Estados Unidos, o que poderá tirar o Cáucaso da área de influência da Rússia. Assim, os conflitos nessa região não é só de choques de nacionalidades, mas também de caráter geopolítico.Região do Cáucaso |
1. OSSÉTIA
Desde o tempo de Stálin como dirigente do Comitê para as Nacionalidades do Partido Comunista da URSS, os ossetianos foram divididos. Uma parte ficou no território russo (a Ossétia do Norte) e outra parte ficou no território da Geórgia (Ossétia do Sul). Em 1990, a Ossétia do Sul declarou independência da Geórgia e propôs se integrar à Ossétia do Norte. O governo da Geórgia, em 1991, iniciou uma ofensiva militar que resultou em mais de 1.500 pessoas mortas. Em 2004 a guerra voltou a ocorrer e em 2007 são reatadas as negociações entre os ossetianos e o governo da Geórgia para que a Ossétia do Sul obtenha a independência. Em 2008, Moscou usou a maioria russa na Ossétia como justificativa para atacar as tropas da Geórgia, que tentavam recuperar o controle da região separatista.
Na Ossétia do Sul, a maioria a população é de origem persa e cristã e a Ossétia do Norte possui uma população de cristãos e muçulmanos. Os ossetas do sul contam que são discriminados pelos georgianos e, por isso, querem a separação da Geórgia e a unificação com a Ossétia do Norte.
Mapa da Geórgia |
Na Abkházia, os abecazes foram reduzido a uma minoria depois do deslocamento de milhares de georgianos para a região, na época da extinta União Soviética. Separatistas abecazes (que são muçulmanos ortodoxos) lutam contra os georgianos (que são cristãos), desde 1992, pela criação de uma república independentes. Em 1994, declararam-se novamente independentes, mas não obtiveram o reconhecimento internacional.
Combates voltaram a ocorrer em 1998, 2002 e 2008.
Atualmente, a Abkházia permanece em grande medida de fato independente da Geórgia e mantém controle sobre grande parte do seu território, embora não seja reconhecida internacionalmente.
Mapa da Abkházia |
Habitada por povos muçulmanos, a Inguchétia e o Daguestão são repúblicas autônomas da Rússia. Após a desagregação da União Soviética, passaram a reivindicar independência, o que causou conflitos armados com as tropas russas.
Quando não são conflitos, ocorrem atentados às autoridades e aos pró-Rússia, como o de 2009, que matou mais de 20 pessoas e deixou cerca de 140 pessoas feridas.
O Daguestão é a maior república russa do Cáucaso. Possui uma maioria muçulmana e grande importância para os russos, uma vez que abriga campos de petróleo e oleodutos. Também nessa república encontra-se o único porto russo no mar Cáspio, que pode ser usado durante os 365 dias do ano. A região abriga 32 povos diferentes que só se uniram no século XIX para enfrentar o Império Russo, o qual lutaram durante 30 anos.
A partir de 1999, o Daguestão foi cenário de incursões de rebeldes fundamentalistas muçulmanos da Chechênia. Moscou respondeu com uma vasta ofensiva militar na república.
Localização do Daguestão |
Em 1957, os inguchétios voltaram para a sua terra natal e passaram a exigir a devolução de Prigorodni Rayon, um distrito que se estende ao longo do rio Terek, que havia sido transferido para a Alania durante o seu exílio.
Divisão da Federação Russa |
A Inguchétia continua a ser uma das mais pobres regiões russas. O conflito na vizinha Chechênia se alastrou para a Inguchétia e a república tem sido desestabilizada por vários crimes, protestos anti-governo, ataques a funcionários e soldados e excessos militares, piorando de forma crítica a situação dos direitos humanos.
Mapa da Inguchétia |
A Chechênia, a mais conhecida região separatista da Rússia, chegou a ser independente logo no início da existência da União Soviética, entre 1917 e 1921, quando caiu sob o domínio soviético. Na fase final da Segunda Guerra Mundial, Stálin acusou os chechenos de colaborarem com os nazistas, e num único dia em 1944, lotou trens de gado e enviou cerca de 60% da população para a Sibéria e a Ásia Central - 20% da população morreu de fome, sede e maus tratos nessa "viagem".
A Chechênia, região de maioria muçulmana, declarou-se independente em 1991. Em 1994, foi invadido por tropas militares russas, o que deixou um saldo de 80 mil mortos. Apesar do acordo de paz de 1997, os conflitos entre os separatistas e o governo russo prosseguiram. Em 1999, após invasão ao vizinho Daguestão por guerrilheiros chechenos com a finalidade de criar um Estado islâmico, a Chechênia sofreu um ciclo de violência, dessa vez precedida por bombardeios aéreos intensos e culminando em um verdadeiro massacre de civis pelo exército russo. Nessa guerra, mais de 370 mil pessoas foram deslocadas. A população de Grozny, capital da Chechênia, passou de 400.000 (número antes da guerra) para cerca de 30.000 pessoas.
A capital da Chechênia, Grozny, destruída após bombardeios russos em 1999 |
A vitória na segunda guerra da Chechênia, significou a transformação do presidente russo, Vladimir Putin, em líder inconteste da Rússia.
Os grupos separatistas perderam sua força original, mas, para o governo de Moscou, principalmente após o episódio da Crimeia, continuam a representar uma série de ameaças, tanto na Chechênia quanto no Daguestão.
Mapa da Chechênia |
A região de Nagorno-Karabakh é foco de conflito entre a Armênia e o Azerbaijão por sua natureza peculiar. Desde o início do século XX, Armênia e Azerbaijão disputam essa região, encravada no território do Azerbaijão, país de origem muçulmana, mas com 80% da população cristã e de origem armênia.
Em 1988, aproveitando à abertura política soviética, a Armênia passou a reivindicar o território, iniciando uma guerra entre as duas repúblicas.
Em 1991, essa região proclamou sua independência, iniciando uma série de conflitos. Em 1992, a Armênia conquistou o enclave e formou o corredor de Latchine, ligando Nagorno-Karabakh a seu território. A continuidade dos combates provocou o colapso econômico dos dois países. Em maio de 1994, é assinado um cessar-fogo.
As negociações bilaterais sobre o destino da região não avançaram nos anos seguintes. Em 2001, os presidentes armênio e azeri reuniram-se em março na França e em maio desse ano nos Estados Unidos. É discutida a concessão do enclave do status de república autônoma do Azerbaijão, com Constituição e Exército próprios e o direito de vetar leis azeris. A Armênia teria que sair da área contígua, ocupada durante a guerra. Nada foi decidido por causa da forte resistência interna nos dois países. Em 2008, as tropas dos dois países reiniciaram os confrontos, e os conflitos prosseguem sem nenhuma trégua.
Mapa de Nagorno-Karabakh |
6. CARACHAI-CIRCÁSSIA E CABÁRDIA-BALCÁRIA
A Cabárdia-Balcária ou Cabardino-Balcária é uma divisão federal da Federação Russa. Possui cerca de 900 mil habitantes distribuídos em uma área de 12.500 km². Tornou-se uma região autônoma da República Socialista Soviética da Rússia em 1921, passando em 1936 para República Autônoma Socialista Soviética. Em 1997, foi adotada a Constituição da República da Cabárdia-Balcária.
A Cabárdia-Balcária é uma república multiétnica habitada majoritariamente por povos de língua caucasiana ao norte, na Cabárdia, e por povos de língua altaica do ramo turco ao sul, na Balcária.
Os cabardinos constituem o grupo mais numeroso, com cerca de 55% da população total, seguido dos russos com 25% e os balcares com 12%. Tanto cabardinos como balcares são de tradição muçulmana sunita.
A República da Carachai-Circássia foi constituída em 1991 pela elevação à condição de República do Oblast de Carachai-Circássia. É uma república multiétnica habitada majoritariamente por cherquesses e abazas, povos de língua caucasiana, ao norte, e por carachaios, povos de língua altaica do ramo turco, ao sul. Os carachaios constituem o grupo mais numeroso, com cerca de 39% da população total, seguidos dos russos com 34% e os cherquesses com 11%. Tanto os carachaios como os cherqueses são de tradição muçulmana sunita.
Os circassianos ganharam notoriedade recentemente por causa das Olimpíadas de Inverno na cidade de Sochi. Os circassianos e os cabardinos fazem parte do mesmo grupo. Já os balcários e os caraches também possuem ligações históricas, compartilhando língua, religião e processos de deportação em massa de Stálin. Em comum, o fato de só haver cerca de 25% de russos nas duas regiões e o grande desgosto com o passado de dominação russa, leva os nacionalistas a lutarem pela independência dessas duas regiões.
7. CALMÚQUIA
A Calmúquia é o único território de maioria budista da Europa, localizado na margem oeste do Mar Cáspio. Durante os anos iniciais, os budistas locais até foram relativamente respeitados, já que a União Soviética não queria usar o suposto bom tratamento aos budistas devido às suas intenções de atrair os territórios budistas da Mongólia e do Tibete para a sua área de influência. Mas, devido ao fato de os calmuques serem excessivamente não-russos, irritou Stálin, que resolveu forçar a coletivização da terra.
Durante a Segunda Guerra Mundial, a capital da Calmúquia, Elista, foi tomada pelos nazistas, que chegaram com armas e propaganda. Milhares de calmuques se uniram aos nazistas contra os soviéticos, que tinham massacrado os calmuques por mais de 10 anos.
Após a expulsão nazista pelos soviéticos, Stálin acusou toda a população da Calmúquia de ter colaborado com os nazistas e ordenou a deportação de toda a população local para a Sibéria e para a Ásia Central. Somente em 1957, o presidente soviético Nikita Krushchev permitiu a volta dos calmuques, que passaram a ser maioria, sendo hoje composta por 60% da população total da Calmúquia e, por isso, os calmuques lutam pela independência da região.
Em 1991, conflitos em torno da autonomia econômica e política, provocou a morte de milhares de pessoas. Em 2004, explodiu a maior crise na região, com ameaças de um confronto armado.
Por muitos anos, a Rússia manteve sua 12ª Base Militar na região, gerando uma enorme tensão entre a Rússia e a Geórgia. Em 17 de novembro de 2007, a Rússia retornou à base de Batoumi e, atualmente, essa base desempenha uma imensa pressão a favor da Adjária contra a Geórgia.
9. VALE DO PANKISI
Vale longo, de 80 quilômetros, considerado pela Rússia e pelos Estados Unidos base de apoio para os combatentes chechenos e da Al-Qaeda.
Em 2002, ocorreu a rebelião no vale de Pankisi, que foi um conflito entre a Geórgia, os militantes chechenos e a Al-Qaeda. A Geórgia foi obrigada pela Rússia e pelos Estados Unidos a ir contra a Al-Qaeda na Garganta de Pankisi. Para isso, a Geórgia recebeu um apoio significativo do Estados Unidos durante o conflito.
Atualmente, essa região ainda serve como esconderijo, tanto para combatentes chechenos quanto para integrantes da Al-Qaeda, contribuindo para aumentar as tensões no local.
Em 2004, os três se uniram à União Europeia e à Otan (aliança militar ocidental), afrontando o presidente russo Vladimir Putin. A presença significativa de uma minoria étnica russa é um tema delicado nos países bálticos, que dependem em grande parte do gás russo.
Na Estônia, os russos representam cerca de um terço da população, e muitos se queixam de preconceito por parte dos estonianos. Na Letônia, 25% da população fala russo, e seus direitos são um tema espinhoso para o país. Já na Lituânia, apenas 5% da população é russa. O temor de restabelecimento das fronteiras russas deixa os países bálticos em estado de tensão, pois temem que a Federação Russa possa desestabilizar esses três países.
FONTE: Adas, Melhem. Expedições geográficas. Melhem Adas, Sérgio Adas. - 1. ed. - São Paulo: Moderna, 2011.
A Cabárdia-Balcária é uma república multiétnica habitada majoritariamente por povos de língua caucasiana ao norte, na Cabárdia, e por povos de língua altaica do ramo turco ao sul, na Balcária.
Mapa da Cabárdia-Balcária |
A República da Carachai-Circássia foi constituída em 1991 pela elevação à condição de República do Oblast de Carachai-Circássia. É uma república multiétnica habitada majoritariamente por cherquesses e abazas, povos de língua caucasiana, ao norte, e por carachaios, povos de língua altaica do ramo turco, ao sul. Os carachaios constituem o grupo mais numeroso, com cerca de 39% da população total, seguidos dos russos com 34% e os cherquesses com 11%. Tanto os carachaios como os cherqueses são de tradição muçulmana sunita.
Mapa da Carachai-Circássia |
7. CALMÚQUIA
A Calmúquia é o único território de maioria budista da Europa, localizado na margem oeste do Mar Cáspio. Durante os anos iniciais, os budistas locais até foram relativamente respeitados, já que a União Soviética não queria usar o suposto bom tratamento aos budistas devido às suas intenções de atrair os territórios budistas da Mongólia e do Tibete para a sua área de influência. Mas, devido ao fato de os calmuques serem excessivamente não-russos, irritou Stálin, que resolveu forçar a coletivização da terra.
Durante a Segunda Guerra Mundial, a capital da Calmúquia, Elista, foi tomada pelos nazistas, que chegaram com armas e propaganda. Milhares de calmuques se uniram aos nazistas contra os soviéticos, que tinham massacrado os calmuques por mais de 10 anos.
Após a expulsão nazista pelos soviéticos, Stálin acusou toda a população da Calmúquia de ter colaborado com os nazistas e ordenou a deportação de toda a população local para a Sibéria e para a Ásia Central. Somente em 1957, o presidente soviético Nikita Krushchev permitiu a volta dos calmuques, que passaram a ser maioria, sendo hoje composta por 60% da população total da Calmúquia e, por isso, os calmuques lutam pela independência da região.
Mapa da Kalmúquia |
8. ADJÁRIA
A República Autônoma da Adjária, é uma república da Geórgia, localizada no sudoeste do país, fazendo fronteira com o sul da Turquia e banhada pelo Mar Negro. Pertenceu ao Império Otomano e à União Soviética.Em 1991, conflitos em torno da autonomia econômica e política, provocou a morte de milhares de pessoas. Em 2004, explodiu a maior crise na região, com ameaças de um confronto armado.
Por muitos anos, a Rússia manteve sua 12ª Base Militar na região, gerando uma enorme tensão entre a Rússia e a Geórgia. Em 17 de novembro de 2007, a Rússia retornou à base de Batoumi e, atualmente, essa base desempenha uma imensa pressão a favor da Adjária contra a Geórgia.
Mapa da Adjária |
Vale longo, de 80 quilômetros, considerado pela Rússia e pelos Estados Unidos base de apoio para os combatentes chechenos e da Al-Qaeda.
Em 2002, ocorreu a rebelião no vale de Pankisi, que foi um conflito entre a Geórgia, os militantes chechenos e a Al-Qaeda. A Geórgia foi obrigada pela Rússia e pelos Estados Unidos a ir contra a Al-Qaeda na Garganta de Pankisi. Para isso, a Geórgia recebeu um apoio significativo do Estados Unidos durante o conflito.
Atualmente, essa região ainda serve como esconderijo, tanto para combatentes chechenos quanto para integrantes da Al-Qaeda, contribuindo para aumentar as tensões no local.
Vale do Pankisi |
O TEMOR RUSSO NO BÁLTICO
Estônia, Letônia e Lituânia, as três repúblicas bálticas que pertenceram à União Soviética durante 51 anos, acompanham de perto as tensões envolvendo a Rússia e a Ucrânia.Em 2004, os três se uniram à União Europeia e à Otan (aliança militar ocidental), afrontando o presidente russo Vladimir Putin. A presença significativa de uma minoria étnica russa é um tema delicado nos países bálticos, que dependem em grande parte do gás russo.
Na Estônia, os russos representam cerca de um terço da população, e muitos se queixam de preconceito por parte dos estonianos. Na Letônia, 25% da população fala russo, e seus direitos são um tema espinhoso para o país. Já na Lituânia, apenas 5% da população é russa. O temor de restabelecimento das fronteiras russas deixa os países bálticos em estado de tensão, pois temem que a Federação Russa possa desestabilizar esses três países.
FONTE: Adas, Melhem. Expedições geográficas. Melhem Adas, Sérgio Adas. - 1. ed. - São Paulo: Moderna, 2011.