quinta-feira, 18 de outubro de 2012

CEARÁ

O Ceará é uma das 27 unidades federativas do Brasil. Está situado na região Nordeste e tem por limites: o oceano Atlântico, a norte e a nordeste; Rio Grande do Norte e Paraíba, a leste; Pernambuco, a sul; e Piauí, a oeste. A capital e maior cidade é Fortaleza, sede da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Outras cidades importantes fora da RMF, são: Juazeiro do Norte e Crato (que fazem parte da Região Metropolitana do Cariri), Sobral, na região noroeste, Itapipoca, na região norte, Iguatu, na região centro-sul e Quixadá, no sertão.
  Na RMF, cidades importantes como Eusébio, Horizonte, Maranguape, Maracanaú e São Gonçalo do Amarante, sede do porto de Pecém, incrementam o PIB cearense. Ao todo o estado possui 184 municípios.
  Atualmente, o Ceará é o décimo segundo estado mais rico do Brasil e o terceiro mais rico da região Nordeste. Fortaleza, tem o segundo maior PIB do Nordeste e o 10° maior do Brasil. Abriga o maior parque aquático da América Latina, o Beach Park, na praia do Porto das Dunas, que recebe mais de um milhão de visitantes por ano. O Ceará detém o terceiro melhor serviço de coleta de esgoto do Norte, Nordeste e Sul brasileiro, segundo o IBGE, e apresenta a melhor qualidade de vida do Norte-Nordeste, segundo a FIRJAN (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro).
Beach Park, em Fortaleza - CE
  O estado é conhecido nacionalmente pela beleza do seu litoral, pela religiosidade popular e pela imagem de berço de talentos humorísticos. A jangada, ainda comum ao longo da costa, é considerada um dos maiores símbolos do povo e da cultura cearenses. O Ceará concentra 85% de toda a caatinga do Brasil. Terra de Rachel de Queiroz, Patativa do Assaré e José de Alencar, o Ceará também é berço dos maiores humoristas do país como Renato Aragão e Chico Anysio, além de Padre Cícero, e até atores famosos como José Wilker, Gero Camilo e Luiza Tomé.
Renato Aragão - cearense e um dos maiores humoristas do Brasil
  O Estado é conhecido como "Terra da Luz", numa referência à grande quantidade de dias ensolarados, mas que também remonta ao fato de ter sido o primeiro estado da federação a abolir a escravidão, em 1884, quatro anos antes da Lei Áurea. Por esse fato, o jornalista José do Patrocínio considerou o estado como "a terra da luz".
ETMOLOGIA
  O topônimo Ceará tem vários significados, porém, o mais conhecido e aceito significa, literalmente, canto da jandaia. Segundo José de Alencar, Ceará é nome composto de cemo - cantar forte, clamar -, e ara - pequena arara ou periquito (em língua indígena). Há também teorias de que o nome do estado derivaria de Siriará, referência aos caranguejos do litoral.
HISTÓRIA
  Com a decisão do rei de Portugal D. João III em dividir o Brasil em capitanias hereditárias, coube ao português Antônio Cardoso de Barros, em 1535, administrar a Capitania do Siará (como era chamada a região correspondente as capitanias do Rio Grande, Ceará e Maranhão). Entretanto, a região não lhe despertou interesse. Só então, em 1603, é que o açoriano Pero Coelho de Sousa liderou a primeira expedição à região, demonstrando interesse em colonizar aquelas terras.
Ceará a partir do mapa de 1629, feito por João Teixeira Albernaz I, o Velho
  Pero Coelho se instalou às margens do rio Pirangi (depois batizado rio Siará), onde construiu o Forte de São Thiago, depois destruído por piratas franceses. A esquadra de Pero Coelho teve que enfrentar ainda a revolta dos índios da região que, inconformados com a escravidão, destruíram o forte, obrigando os europeus a migrarem para a ribeira do rio Jaguaribe. Lá, a esquadra de Pero Coelho construiu o Forte de São Lourenço. Em 1607, uma seca assolou a região e Pero Coelho abandonou a região.
  Em 1612 foi enviado ao Siará o português Martin Soares Moreno, considerado o fundador do Ceará, que também se instalou às margens do Rio Siará (atualmente Barra do Ceará), onde recuperou e ampliou o Forte de São Thiago e o batizou de Forte de São Sebastião. Deu-se início a colonização da capitania do Siará, dificultada pela oposição das tribos indígenas e invasões de piratas europeus.
Fortim de São Sebastião em 1645, segundo Frans Post
  No ano de 1637, a região foi invadida por holandeses, enviados pelo príncipe Maurício de Nassau, que tomaram o Forte de São Sebastião. Anos depois, a expedição foi dizimada pelos ataques indígenas. Os holandeses ainda voltaram ao litoral brasileiro em 1649, numa expedição chefiada por Matias Beck e se instalaram nas proximidades do rio Pajeú, no Siará, onde construíram o Forte Schoonenborch.
  Em 1654, o Forte Schoonenborch foi tomado por portugueses, chefiados por Álvaro de Azevedo Barreto, e o forte foi renomeado de Forte Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção. A sua volta formou-se a segunda vila do Ceará, chamada de Vila do Forte ou Fortaleza. A primeira vila reconhecida foi a de Aquiraz. Em 1726, a Vila de Fortaleza passou a ser oficialmente a capital do Ceará após disputas com Aquiraz.
Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção
OCUPAÇÃO
  Duas frentes de ocupação atuaram no Siará: a primeira, chamada de sertão-de-fora, foi controlada por pernambucanos que vinham do litoral; a segunda, chamada de sertão-de-dentro, foi controlada por baianos. Ao longo do tempo, o Siará foi sendo ocupado, o que impulsionou o surgimento de várias cidades. A pecuária serviu de motor para o povoamento e crescimento da região, transformando o Siará na "Civilização do Couro".
  Entre os séculos XVIII e XIX, o comércio de charque alavancou o crescimento econômico da região. Durante esse período, surgiram as cidades de Aracati, principal região comerciária do charque, Sobral, Icó, Acaraú, Camocim e Granja. Outras cidades, como Caucaia, Crato, Pacajus, Messejana e Parangaba (as duas últimas bairros de Fortaleza), surgiram a partir da colonização indígena por parte dos jesuítas.
Icó - Ceará
  A partir de 1680, o Siará passou à condição de capitania subalterna de Pernambuco, desligada do estado do Maranhão. A região só se tornou administrativamente independente em 1799, quando foi desmembrada de Pernambuco e o cultivo do algodão despontou como uma importante atividade econômica. Às vésperas da Independência do Brasil, em 28 de fevereiro de 1821, o Siará tornou-se uma província e assim permaneceu durante todo o período do Império. Com a Proclamação da República Brasileira, no ano de 1889, a província tornou-se o atual estado do Ceará.
MOMENTOS HISTÓRICOS
  Em 1817, os cearenses, liderados pela família Alencar, apoiaram a Revolução Pernambucana. O movimento, que se restringiu aos municípios do Cariri, especialmente na cidade do Crato, foi rapidamente sufocado.
  Em 1824, após a Independência do Brasil, foi a vez dos cearenses das cidades do Crato, Icó e Quixeramobi, demonstrarem sua insatisfação com o governo imperial. Assim, eles se aderiram aos revoltosos pernambucanos na Confederação do Equador.
  No século XIX, vários fatos marcaram a história do Ceará, como o fim da escravidão no Estado, em 25 de março de 1884, antes da Lei Áurea, assinada em 1888. O Ceará foi, portanto, o primeiro estado brasileiro a abolir a escravidão. Um cearense se destacou nessa época: o jangadeiro Francisco José do Nascimento, que se recusou a transportar escravos em sua jangada. José Nascimento ficou conhecido como "Dragão do Mar" (atualmente nome de um centro cultural em Fortaleza).
Francisco José do Nascimento - o Dragão do Mar
  Entre 1896 e 1912, o comendador Antônio Pinto Nogueira Accioly governou o Estado de forma autoritária e monolítica. Seu mandato ficou conhecido como a "Política Aciolina" que deu início ao surgimento de diversos movimentos messiânicos, alguns deles liderados por Antônio Conselheiro, Padre Ibiapina e o beato Zé Lourenço. Os movimentos foram uma forma que a população encontrou de fugir da miséria a qual se encontrava a região. Foi também nessa época que surgiu o movimento do cangaço, liderado por Lampião.
Padre Ibiapina - liderou um dos movimentos messiânicos no interior do Nordeste
  Nos anos 1930, cerca de três mil pessoas se reuniram, sob a liderança do beato Zé Lourenço, na região do sítio Baixa Danta, em Juazeiro do Norte. O sítio prosperou e desagradou a elite cearense. Em setembro de 1936, a comunidade foi dispersa e o sítio incendiado e bombardeado. O beato e seus seguidores rumaram para uma nova comunidade. Alguns moradores resolveram se vingar e prepararam uma emboscada, que culminou num verdadeiro massacre. O episódio ficou conhecido como "Caldeirão".
Beato Zé Lourenço
  Nos anos 1940, com a Segunda Guerra Mundial, foi montada uma base norte-americana no Ceará mudando os costumes da população, que passou a realizar diversos protestos contra o nazismo. Também na mesma década, o governo, a fim de estimular a migração dos sertanejos para a Amazônia, realizou uma intensa propaganda. Esse contingente formou o "Exército da Borracha", que trabalhou na exploração do látex das seringueiras. Milhares de cearenses migraram para o Norte e acabaram morrendo no combate entre os Estados Unidos e os seus Aliados com os exércitos do Eixo, sem os seringais da Ásia para abastecê-los.
Restaurante Estoril localizado na praia de Iracema - Fortaleza. Abrigou um cassino e o Clube dos Oficiais durante a Segunda Guerra Mundial
  Os fatos históricos sobre o território cearense, provavelmente começaram a ser registrados na história moderna a partir do século XVI. Os primeiros registros descrevem essa região do Brasil, já habitadas por diversas etnias indígenas, que viviam da extração dos recursos naturais, da pesca, da agricultura e do comércio com os povos europeus.
  A formação histórica do Ceará é resultado dos diversos fatores sociais, econômicos e da adaptação ao solo e a natureza, tais como: a interação entre os povos nativos, os europeus e os africanos; a interação desses povos envolvidos (índios,europeus e africanos) com o fenômeno da seca.
A seca permitiu uma maior interação entre os povos no Ceará
  O desenvolvimento independente do Ceará aconteceu apenas depois de sua desagregação de Pernambuco, em 1799, e sua história foi marcada por lutas políticas e movimentos armados. Essa instabilidade se prolongou durante o Império e a Primeira República, normalizando-se depois da reconstitucionalização do país, em 1945.
CEARÁ PRÉ-COLONIAL
  O Ceará era habitado ancestralmente por povos indígenas dos troncos Tupi (Tabajara, Potiguara, Tapeba, entre outros) e Jê (Kariri, Inhamum, Jucá, Kanindé, Tremembé, Karatius, entre outros), cujas tribos ainda hoje dominam vários topônimos no Ceará. Esses povos já negociavam tatajuba, âmbar, algodão bravo, entre outros produtos, com os estrangeiros que aportavam nas costas cearenses, antes da chegada dos portugueses, em 1603. Os portugueses tentaram, já a partir de 1603, estabelecer-se nas terras cearenses, mas sem sucesso devido à intensa resistência dos nativos e à sua falta de conhecimento como sobreviver ao fenômeno das secas. Só a partir de 1654, após a expulsão dos holandeses e o enfraquecimento político dos povos indígenas locais, é que os portugueses começaram a ter sucesso na colonização desse território. Os esforços de povoamento feito pelos portugueses, visavam principalmente vencer a resistência indígena e garantir o domínio lusitano contra os estrangeiros.
  Os navegadores espanhóis Vicente Yáñez Pinzón e Diego de Lepe desembarcaram na costa cearense antes da viagem de Pedro Álvares Cabral ao Brasil. Pinzón chegou a um cabo identificado como "Porto Famoso", que se acredita ser o Mucuripe, e Lepe, à barra do rio Ceará, em Fortaleza. Essas descobertas não puderam ser oficializadas devido ao Tratado de Tordesilhas, feito em 1494.
  As terras equivalentes à Capitania do Ceará foram doadas a Antônio Cardoso de Barros na segunda metade do século XVI, porém, ele não se interessou em colonizá-las. Os franceses, que já negociavam âmbar-gris, tatajubas, pimenta e algodão nativo com os indígenas, foram os primeiros europeus a se estabelecerem no Ceará. Em 1590, eles fundaram a Feitoria da Ibiapaba. Os holandeses também já negociavam com os nativos cearenses, a exemplo do capitão Jean Baptista Sijens, que esteve no Mucuripe em 1600. Em 1597/98, um ramo da etnia Potyguara que habitavam ao redor do Forte dos Reis Magos, migrou e fixou-se na região entre as margens do rio Cocó e rio Ceará e os sopés norte das serras de Pacatuba e Maranguape.
Carta da Capitania do Ceará, de Antônio José da Silva Paulet, 1818
CEARÁ COLONIAL
  Graças aos contatos mantidos entre os índios potyguara e portugueses, estes últimos planejaram chegar ao Ceará e estabelecer um ponto de apoio na jornada para o Maranhão. Desta forma, a primeira tentativa efetiva de colonização portuguesa ocorreu com Pero Coelho de Sousa em 1603, que na sua estadia fundou o Forte de São Tiago, na Barra do Ceará. Em 1605, porém, sobreveio a primeira seca registrada na história cearense, fazendo com que Pero Coelho e sua família abandonasse o Ceará.
  Depois da partida de Pero Coelho, os padres jesuítas Francisco Pinto e Pereira Figueira chegaram ao Ceará com o intuito de evangelizar os silvícolas (povos nativos). Avançaram até a Chapada da Ibiapaba, onde ficaram até a morte do padre Francisco Pinto, em outubro do mesmo ano. O padre Pereira Figueira retornou a Pernambuco em 1608, sem grandes sucessos.
Barra do rio Ceará
  Em 1612, uma nova expedição portuguesa foi enviada como parte dos esforços de conquista do Maranhão, então dominado pelos franceses. Fazia parte desta jornada Martim Soares Moreno, que fundou o Fortim de São Sebastião, também na Barra do Ceará. Ao retornar ao Ceará, em 1621, encontrou o forte destruído, mas lançou as bases para o início da exploração econômica pelos portugueses e a convivência com os nativos.
  Os holandeses, já estabelcidos em Pernambuco desde 1630, tentaram invadir o Ceará já em 1631, atendendo ao pedido das nações indígenas cearenses. Sendo que a primeira tentativa de conquista holandesa fracassou.
  Em 1637, o território foi tomado pelos holandeses, graças a um trabalho conjunto com os índios nativos, no qual os portugueses foram feitos prisioneiros e levados para Recife. Os holandeses estabeleceram-se e também chegaram a usar o Ceará como ponto de apoio a conquista holandesa do Maranhão, em 1641.
  Nesta época de ocupação holandesa (1637-1644), o forte da Barra do Ceará foi reformado, foi construído um forte em Camocim, as pesquisas para exploração das salinas foram feitas e em 1639, George Marcgraf veio ao Ceará numa expedição, que se deu partindo do Fortim São Sebastião e percorreu o oeste cearense até a região de Inhamuns.
  Os holandeses ficaram no Ceará até 1644, quando Gedeon Morris e sua tropa, que retornavam das batalhas no Maranhão, foram mortos numa emboscada organizada pelos próprios índios. Com a emboscada de 1644, o Fortim de São Sebastião também foi destruído.
  Entre 1644 até 1649, o Ceará ficou sendo administrado pelas etnias então existentes. A presença europeia só retorna em 1649, depois de contatos e negociações feitas entre os nativos e Antônio Paraupaba em 1648.
  Com a chegada de Matias Beck, em 1649, o Siará Grande entrou num novo período histórico: na embocadura do riacho Pajeú, o Forte Schoonenborch foi construído, os trabalhos de busca das supostas minas de prata foram iniciadas e os holandeses procuraram mais uma vez se estabelecer na região, sob forte hostilidade dos indígenas.
  Após a capitulação holandesa em Pernambuco, o forte foi entregue aos portugueses, restabelecendo-se assim o poderio português, rebatizando-o de Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção. Neste período muitas das nações indígenas que apoiaram os holandeses, que não estavam protegidas pelo Tratado de Taborda, fugiram para o Ceará, procurando refúgio das retaliações lusas. Desta forma, o Ceará acabou sendo o centro de batalha na Guerra dos Bárbaros.
  Na continuação da colonização pelos portugueses, a influência dos jesuítas foi determinante, resultando na criação de aldeamentos (Porangaba, Paupina, Viçosa e outros), muitos deles fortemente militarizados, onde os indígenas eram concentrados para serem catequizados e assimilados à cultura lusitana. Tribos tupis aliadas dos portugueses também vieram se instalar em vilas militarizadas na capitania. Dessas reduções surgiram as primeiras cidades da capitania, como Aquiraz e Crato. O processo de aculturação, no entanto, não se deu sem grandes influências de crenças e produtos nativos. A intensa resistência levou a episódios sangrentos, destacando-se a Guerra dos Bárbaros, ao longo de várias décadas do século XVIII, que resultou na fuga dos habitantes de Aquiraz, em 1726, para Fortaleza, que passou a ser a capital.
Crato - uma das primeiras cidades do Ceará
  Outras frentes colonizadoras surgiram com a instalação da pecuária na capitania através dos "sertões de dentro" e "sertões de fora", com levas oriundas respectivamente da Bahia e de Pernambuco. Vilas como Icó, Aracati, Sobral e outras surgiram do encontro de rotas do gado tangerino, que era levado até as feiras ou fregueses. Mais tarde, o custoso transporte do gado perdeu importância para a produção de carne de charque que, no final do século XVIII, se disseminou também para a Região Sul do Brasil. Nas regiões serranas, houve grande afluxo de pessoas que se dedicaram à agricultura policultora, o que veio a caracterizá-las pela maior diversificação da produção e pela estrutura menos latifundiária que a do sertão. O Vale do Cariri assentou-se menos na pecuária e mais na cultura da cana-de-açúcar, propiciando a entrada de maiores levas de escravos africanos. O litoral, refúgio de muitos indígenas e negros livres ou fugitivos, povoou-se de vários vilarejos de pescadores.
Vale do Cariri - Ceará
  As principais vilas da capitania da época charqueada eram Aracati, Crato, Icó e Sobral. A que mais ganhou destaque foi Aracati, devido ao comércio de couro e carne de charque. Entre os anos de 1750 a 1800, Aracati viveu seu apogeu, mas com uma grande seca na região entre os anos de 1790 até 1793, os rebanhos bovinos morreram e a produção de charque transferiu-se para o Rio Grande do Sul, que assumiu a posição de abastecedor principal das outras regiões.
Igreja Matriz de Aracati - CE
CAPITANIA DO SIARÁ GRANDE
  Em 1799 o Ceará adquiriu independência em relação à Pernambuco, e Bernardo Manuel de Vasconcelos foi nomeado seu primeiro governador, sendo o responsável pelo início da urbanização de Fortaleza. No final do século XVIII, especialmente com a Guerra de Independência norte-americana, o algodão foi se tornando relevante papel na pauta de exportações do Ceará. Com o declínio do charque, cuja distribuição era centrada em Aracati, Fortaleza se tornou a principal cidade cearense devido à sua condição de destino dos produtos agrícolas cultivados nas diversas serras que se elevam nas vizinhanças do município.
Cultivo de algodão em Quixadá - CE
  Em 1812 foi nomeado governador do Ceará o português Manuel Inácio de Sampaio e Pina Freire, o qual reuniu os literatos no palácio do governo e deu incentivo às artes e à urbanização da capital por meio dos projetos de Silva Paulet. No começo do século XIX, o Ceará passou por movimentos rebeldes, como a República do Crato, em 1813, e também influências da Revolução Pernambucana de 1817, movimentos de cunho republicano-liberal liderados pela família cratense dos Alencar. Tais movimentos foram reprimidos com dureza pelo governador provincial do Ceará, Inácio de Sampaio.
Bárbara de Alencar - assumiu a presidência da República do Crato
CEARÁ NO IMPÉRIO
  Em 1825, o Ceará tomou parte na Confederação do Equador, com o liberal Tristão Gonçalves aplicando um golpe e tornando-se chefe de governo. A confederação foi frustrada pelas forças imperiais, e Tristão morreu durante os combates contra as forças legalistas do Império. O ciclo de conflitos terminou com a Insurreição de Pinto Madeira, "coronel" de Jardim, que visava o retorno da monarquia absolutista e representava interesses regionais opostos aos da cidade do Crato, de inspiração marcantemente liberal.
  Em meados de 1860, devido à Guerra de Secessão norte-americana, houve um surto de crescimento da produção de algodão. Tal florescimento não durou muito tempo, mas deu grande impulso à modernização da infraestrutura da Província, como exemplo a Estrada de Ferro de Baturité, inaugurada em 1873. Em 1877, tem início a chamada Grande Seca de 1877-1879, um dos mais severos períodos de seca prolongada da história cearense, levando à morte milhares de pessoas e acarretando emigração maciça de retirantes. Fortaleza recebeu uma população de fugitivos da seca quatro vezes maior que a sua própria população. Logo após, a produção da borracha explode na Amazônia, e muitos cearenses vítimas da seca migram para esta região.
Estação da Estrada de Ferro Baturité e cidade de Baturité no final do século XIX
  A gravidade dessa estiagem chamou a atenção do governo central e mesmo de cientistas, havendo então a produção de textos científicos e propostas de melhoramento da situação da população cearense, cuja maior parte não foi posta em prática ou se revelou ineficaz. Por outro lado, houve um aceleramento nas obras do Açude do Cedro, em Quixadá, o primeiro do Nordeste, que só ficou pronto em 1906. A Grande Seca e as estiagens seguintes impulsionaram o surgimento da indústria da seca e geraram uma tradição migratória no estado. Entre 1869 e 1900, cerca de 300 mil cearenses abandonaram sua terra, 85% deles indo para a Amazônia.
  Anos antes da Proclamação da República notabilizou-se a campanha abolicionista no Ceará, que logrou abolir a escravidão no estado em 25 de março de 1884, quatro anos antes da Lei Áurea. O movimento contou com a participação de várias sociedades libertárias, inclusive a maçonaria, mas o maior destaque ficou com Francisco José do Nascimento, o Dragão do Mar, jangadeiro que impulsionou o abolicionismo ao comandar seus companheiros, em 1881, numa total recusa a transportar escravos para dentro ou fora da província. A primeira cidade a abolir a escravatura foi Acarape, atual Redenção, em 1º de janeiro de 1883. Devido a isso, o Ceará recebeu a alcunha de "Terra da Luz", de início por José do Patrocínio. A escravidão, que jamais fora dominante no estado, estava praticamente extinta nos anos de 1880, de forma que não houve resistência à abolição, mesmo por parte da elite agrária.
Redenção (CE) - primeira cidade a abolir a escravidão no Estado
PRIMEIRA REPÚBLICA E ESTADO NOVO
  No início da Primeira República, apesar das estiagens que assolaram o Ceará, Fortaleza continuou a desenvolver-se econômica e politicamente, ao contrário do resto do estado. Ocorre nas primeiras décadas do século XX um afluxo de imigrantes, embora pequeno em relação ao de outras regiões, consistindo principalmente de portugueses e sírio-libaneses. Os descendentes  destes, em particular, ganharam grande destaque no comércio, como mascates, e, futuramente, na política cearenses.
  Começou a ganhar destaque a atividade dos cangaceiros que, agindo em grupos organizados e promovendo saques em cidades e propriedades rurais, desestabilizaram o interior do Nordeste por décadas. A forte religiosidade popular e a grande miséria estimulavam uma profusão de líderes messiânicos e formas de fanatismo religioso. O cearense Antônio Conselheiro, de Quixeramobim, chegou a formar, na Bahia, o arraial de Canudos, cuja forte atração populacional e ideológica, contrária aos interesses da elite fundiária, deflagrou a Guerra de Canudos. Isso, porém, não extinguiu a influência de líderes religiosos.
Lampião e seu bando. O cangaço desestabilizou o interior do Nordeste durante as primeiras décadas do século XX
  Entre 1896 e 1912, a hegemonia política foi centrada nas mãos do comendador Nogueira Accioly e de sua família, que estabeleceram uma poderosa oligarquia que comandava a maior parte dos escalões do poder estadual. Em 1912, Accioly apontara como seu candidato Domingos Carneiro, contra Franco Rabelo, representante da política do salvacionismo do presidente Hermes da Fonseca, gerando uma conturbada campanha eleitoral. A dura repressão policial a uma passeata de crianças em favor de Rabelo, que causou a morte de alguma delas e feriu outras, desencadeou uma revolta de três dias da população fortalezense, forçando o governo Accioly a renunciar, evento conhecido como Sediação de Fortaleza. Franco Rabelo passou a governar o Ceará.
Antônio Pinto Nogueira Accioly - ex-governador do Ceará
  No fim do século XIX o carismático Padre Cícero passou a atrair milhares de sertanejos para um pequeno distrito do Crato, que se tornaria Juazeiro do Norte em 1911, persuadidos por sua fama de milagreiro, atribuída a suposta transformação em sangue de hóstia recebida do padre pela beata Maria de Araújo. Mesmo após a perda de sua ordenação, em virtude de controvérsias sobre o milagre, o Padre Cícero tornou-se cada vez mais conhecido e, apesar de seu caráter messiânico, foi hábil em evitar grandes conflitos com a elite local, tornando-se ele próprio um poderoso chefe político. Em 1914 irrompeu a Sediação de Juazeiro, opondo o governador interventor Franco Rabelo e o Padre Cícero, que havia conquistado os postos de prefeito de Juazeiro do Norte e vice-governador. Rabelo iniciou uma perseguição ao líder religioso. Com isso, liderados por Floro Bartolomeu, os sertanejos fiéis ao Padim Ciço reuniram-se para lutar contra as tropas estaduais, conseguindo derrotá-las em sua cidade e fazê-las recuar até Fortaleza, onde, vencendo, destituíram o governador. Estabeleceu-se um relativo equilíbrio entre as oligarquias cearenses, que durou até a Revolução de 1930.
Cícero Romão Batista, o Padre Cícero
  Em 1915, o Ceará sofreu com uma gravíssima seca levando novo êxodo da população para a Amazônia, região que, devido à intermitente mas significativa emigração, recebeu grande influência de cearenses. A gravidade da seca inspirou a escritora Rachel de Queiroz em sua famosa obra O Quinze. O sertão sofreu mais uma estiagem em 1932, e o governo estadual não pôde dispor mais da Amazônia como refúgio para os flagelados.
  Diante disso, os campos de Concentração no Ceará, que já foram usados na estiagem de 1915, foram recriados. Conhecidos como Currais do Governo, tinham como objetivo impedir que os retirantes, que fugiam da seca e da fome, chegassem às grandes cidades. A instabilidade política e social foi crescendo no Estado. Nos anos 1930, surgiu no Crato o movimento messiânico do Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, liderado pelo beato José Lourenço. Igualitária e agrária, a comunidade do Caldeirão perseguia a auto-suficiência, passando a ser vista pelo governo e pelos fazendeiros poderosos da região como uma má influência. Em 1937 o Caldeirão foi invadido e alvo de bombardeio aéreo, resultando no massacre de aproximadamente 400 indivíduos.
Ruínas da casa do beato José Lourenço
  Após a Revolução de 1930, o Ceará passou a ser governado por interventores do Governo Federal. Ascenderam duas organizações políticas que dominaram o cenário estadual: a Legião Cearense do Trabalho, com nítida influência fascista, e a Liga Eleitoral Católica, fortemente religiosa, representante da elite tradicional e de grande apelo popular. Nos anos 1940, mais uma seca (1943) assolou o Ceará e, com a Segunda Guerra Mundial e os Acordos de Washington, o governo de Getúlio Vargas incluiu o Ceará no seu projeto político. A instalação de uma base norte-americana em Fortaleza trouxe ideais democráticos e antifascistas que passaram a ser defendidos em várias manifestações. Sob uma forte propaganda governamental de migração (SENTA), cerca de 30 mil cearenses tornaram-se Soldados da Borracha, produzindo esse produto na Amazônia para abastecer os exércitos aliados.
Soldados da Borracha - nordestinos que foram para a Amazônia trabalhar na exploração do látex
REPÚBLICA NOVA
  A República Nova no Ceará tem início com a nomeação sucessiva de seis interventores até as eleições de 1947, seguindo-se a eleição de Faustino de Albuquerque pela UDN. Durante seu governo, nas eleições presidenciais de 1950, o candidato udenista Eduardo Gomes obteve a maior votação e Getúlio Vargas ficou na 3ª colocação no estado. Para a direção do governo estadual é eleito Raul Barbosa. Durante seu governo houve a instalação do Banco do Nordeste do Brasil (1952) em Fortaleza. No mesmo ano o governo federal inaugurou oficialmente o Porto de Mucuripe, em cujo entorno foram instaladas várias usinas termoelétricas.
Porto de Mucuripe em Frotaleza- CE
  Durante a década de 1950 surgiram ou se consolidaram vários dos maiores grupos econômicos do Ceará, como Deib Otoch, J. Macêdo, M. Dias Branco, Édson Queiroz e Jereissati. Paulo Sarasate foi o terceiro governador eleito no período. Ainda nessa década tem início uma nova onda migratória para vários estados e regiões. Entre as décadas de 1950 e 1960, a população cearense passou de 5,1% para 4,5% do total da população brasileira. Em 1958 foi eleito Parfisal Barroso que teve a ajuda do governo federal para combater as mazelas decorrentes da seca daquele ano, sendo a principal obra o Açude de Orós, inaugurado em 1961. Em Fortaleza, o Grupo Severiano Ribeiro inaugurou o Cine São Luís. Em 1962, foi criado o Banco do Estado do Ceará (BEC). Em 1963,  Virgílio Távora foi eleito governador do Ceará, exercendo o mandato até 1966, mesmo com o surgimento da ditadura militar em 1964. Seu governo foi marcado pela criação do "PLAMEG I" - Plano de Metas do Governo - que visou à modernização da estrutura do estado com a ampliação do porto de Mucuripe e a transmissão da energia de Paulo Afonso para a capital. Foram criados ou instalados, também, o Distrito Industrial de Maracanaú, a CODEC e a Companhia DOCAS do Ceará. Com o AI-2, Virgílio aderiu à ARENA, e seu vice Figueiredo Correia ao MDB.
Açude de Orós no Ceará
GOVERNO MILITAR
  Plácido Castelo foi eleito pela Assembleia Legislativa em 1966. Durante seu governo houve perseguição política a deputados e várias manifestações, acarretando a prisão e tortura de estudantes e trabalhadores, assim como atentados a bomba em Fortaleza. Foi criado o Banco de Desenvolvimento do Ceará (BANDECE) e pavimentada a rodovia CE-060, a "Estrada do Algodão". Também tiveram início as obras do estádio do Castelão.
  Durante o governo de César Cals (1971-1975) se sucedeu o auge da repressão militar. Vários cearenses de esquerda estiveram envolvidos na Guerrilha do Araguaia. Cals procurou governar tecnocraticamente, formando sua própria facção política e rompendo com Virgílio Távora. Seu sucessor, Adauto Bezerra (1975-1978) durante o seu mandato, não promoveu grandes mudanças. Adauto volta-se politicamente para o interior com a criação de uma secretaria de assuntos municipais. Renuncia seu mandato para se eleger deputado federal. O vice-governador, Waldemar Alcântara, toma posse e termina o mandato.
César Cals - ex-governador do Ceará
  Virgílio Távora retorna ao governo em 1979, sendo o último eleito indiretamente, e resgata seu primeiro governo com a criação do PLAMEG II. Estabelece o Fundo de Desenvolvimento Industrial para complementar o sistema de incentivos regionais à indústria, impulsionando uma industrialização muito concentrada na Região Metropolitana de Fortaleza. Criou-se o PROMOVALE (projetos de irrigação) e sua esposa, Luiza Távora, programou projetos sociais como a Central do Artesanato do Ceará. Seu governo foi marcada pela ausência, quase total, de oposição na Assembleia, nomeações aproximadas de 16.000 pessoas para cargos púbicos e várias greves. Em 1983, Gonzaga Mota foi eleito pelo voto popular, rompendo com os coronéis anteriores para criar seu próprio grupo político. Seu rompimento rendeu-lhe ataques do regime militar com a suspensão de verbas federais.
Virgílio Távora - ex-governador do Ceará
NOVA REPÚBLICA
  A Nova República coincide no Ceará com a eleição de Maria Luiza para o cargo de prefeita de Fortaleza em 1985. Foi a primeira prefeita de capital estadual eleita pelo Partido dos Trabalhadores e a primeira mulher a ser eleita para esse cargo após o regime militar. A insatisfação com a política praticada durante a ditadura militar e o movimento de redemocratização impulsionaram as transformações no poder político, com a decadência da hegemonia tradicional do coronelismo.
Maria Luíza - ex-prefeita de Fortaleza
  Gonzaga Mota deixou o governo com pagamentos atrasados do funcionalismo e descontrole nas contas públicas. Rompido com os antigos aliados, Mota, junto com os partidos de esquerda e o PMDB, apóia a candidatura oposicionista liderada pelo jovem empresário Tasso Jereissati, que conseguiu se eleger com a promessa de modernizar a administração pública e as finanças, combater o clientelismo dos governos anteriores, moralizar a administração pública e desenvolver a economia estadual. A nova gestão se autodenominou como "Governo das Mudanças". Nas duas décadas seguintes, o projeto avançou com a eleição de Ciro Gomes, seguida de um segundo mandato de Tasso Jereissati. Com a instituição da reeleição no país, Tasso ainda governou o estado pela terceira vez, tornando-se o primeiro político a conseguir tal fato em mais de 100 anos de história republicana. Nas duas décadas seguintes, Jereissati e seus aliados passaram a deter a hegemonia política no Estado, e rapidamente perdem a aliança com os partidos mais de esquerda. Ciro Gomes, então prefeito de Fortaleza, se candidatou e foi eleito em 1990 para o cargo de governador, apoiado por Tasso.
Tasso Jereissati
  Os "Governos das Mudanças" priorizaram o aumento das receitas, visando a investimentos públicos e privados em infraestrutura e nos setores industrial e de serviços, enquanto o agropecuário permanece à margem. Politicamente, há uma relativa diminuição do poder dos "coronéis", com a ampliação do poder do grande empresariado. O saneamento das contas estaduais - atingindo, em parte, pelo propósito de diminuir as despesas através de reformas administrativa e financeira, bem como de demissões e achatamento salarial do funcionalismo público - garantiu superávits entre 1988 e 1994, mas com a consolidação do Plano Real volta-se a uma predominância de déficits.
Ciro Gomes
  Tasso foi eleito novamente em 1994 e reeleito em 1998, concentrando os esforços governamentais em grandes obras, como o Porto de Pecém, o novo Aeroporto Internacional de Fortaleza, o Açude Castanhão, o Centro Cultural Dragão do Mar e o Canal da Integração. O terceiro "Governo das Mudanças" (1994-1997) se caracterizou pela privatização de algumas empresas estatais e a extinção de órgãos, enxugando a máquina, reformando a Previdência estadual e dando maior racionalidade aos gastos públicos. Lúcio Alcântara, eleito com o apoio de Tasso, continuou, em linhas gerais, o modelo político anterior, mas não conseguiu se reeleger em 2006, quando rompeu com o PSDB, posteriormente mudando para o Partido da República. Cid Gomes, do PSB, ex-prefeito de Sobral e irmão de Ciro Gomes, aliado histórico de Tasso, venceu a disputa com o apoio do PT, que em Fortaleza, já havia vencido com Luizianne Lins, eleita em 2004 mesmo sem o apoio real do partido, o qual, devido às alianças partidárias nacionais, apoiou o candidato Inácio Arruda do PC do B. Em 2008, Luizianne foi reeleita.
Luizianne Lins
  O Estado se beneficiou também da guerra fiscal, que então se iniciava, o que, somada à mão de obra barata, atraiu várias indústrias, as quais se concentraram em algumas poucas cidades. O crescimento médio do PIB, de 4,6%, foi superior à média nacional e nordestina nos anos 1990, continuando a tendência iniciada na década de 1970. As ações do governo, aliado aos esforços do empresariado local, e os incentivos de instituições de grande importância na história econômica recente do Ceará, como o BNB e a Sudene, foram determinantes para tal desempenho.
Cid Gomes
  O forró eletrônico se popularizou na década de 1990, e o ceará começou a despontar, seguindo a tendência do litoral nordestino, como grande polo de turismo. Ao longo dessa década, com ações como o Programa de Saúde da Família (PSF), o Estado também realizou grandes avanços na redução da mortalidade infantil. A migração em direção a Fortaleza segue forte. A segurança pública tornou-se muito mais problemática entre 1990 e 2003, com a taxa de homicídios subindo de 8,86 para 20,15 por 100 mil habitantes.
  Apesar de vários avanços na saúde e educação básicas e do crescimento econômico estável, a chamada Era Tasso não alterou a estrutura socioeconômica problemática do Ceará, em especial a concentração de renda, que piorou entre 1991 e 2000, a má distribuição fundiária e a enorme disparidade regional (sobretudo entre a capital e o interior).
  Em 1999, segundo o Banco Mundial, metade dos cearenses viviam abaixo da linha de pobreza. No início do século XXI, consolidou-se a tendência de queda na tradicional emigração de cearenses, que, no período 2001-2006, reverte-se para um saldo positivo de 38,3 mil pessoas, o que se atribui à melhoria das condições de vida e à maior estabilidade proporcionada por programas sociais, que permitiram a fixação do pobre em sua terra e o retorno de parte dos emigrantes.
Um dos graves problemas do Ceará é a grande desigualdade social
GEOGRAFIA
  O Ceará é cercado por formações de relevo relativamente altas: chapadas e cuestas: a oeste é delimitado pela Serra da Ibiapaba; a leste, parcialmente pela Chapada do Apodi; ao sul pela Chapada do Araripe; e ao norte pelo Oceano Atlântico. Daí o nome de Depressão Sertaneja à área central.
Chapada do Araripe
  O estado está no domínio da Caatinga, com período chuvoso restrito a cerca de quatro meses ao ano e alta biodiversidade adaptada. A sazonalidade característica desse bioma se reflete em uma fauna e flora adaptadas às condições semiáridas. Consequentemente, há um grande número de espécies endêmicas, sobretudo nos brejos e serras, isolados pela Caatinga e refúgios da flora e fauna de matas tropicais úmidas. Na Serra de Baturité, por exemplo, 10% das espécies de aves são endêmicas. O soldadinho-do-araripe foi descoberto em 1996 na Chapada do Araripe e só é encontrado nessa região. Dentre as aves, são ainda característicos o uirapuru-laranja e a jandaia. Destacam-se na flora cearense, a carnaúba, considerada um dos símbolos do estado e também importante fonte econômica e a zephyranthes sylvestris, flor original do habitat cearense.
Soldadinho-do-araripe
  As regiões mais áridas se situam na Depressão Sertaneja, a oeste e a sudeste. Próximo ao litoral, a influência dos ventos alísios propicia um clima subúmido, onde surge vegetação mais densa, com forte presença de carnaubais, os quais caracterizam trechos de mata dos cocais. O clima também se torna subúmido, com caatinga mais densa e maior pluviosidade nas adjacências das chapadas e serras.
  Enquanto as chapadas e cuestas são de origem sedimentar, as serras e os inselbergs, que abundam em meio à Depressão Sertaneja, são de formação cristalina. Dentre os relevos sedimentares, apenas a Chapada do Araripe (com altitudes que vão de 700 metros até mais de 900 metros) e a serra da Ibiapaba (com altitude média de 750 metros) possuem altura suficiente para permitir a ocorrência frequente de chuvas orográficas, o que lhes confere maior pluviosidade. As pluviosidades, bem mais intensas do que na Depressão Sertaneja, variam de 1000 mm a mais de 2000 mm anuais.
Depressão Sertaneja
  Por outro lado, a altitude na Chapada do Apodi não ultrapassa os 300 metros, de modo que as características semiáridas ainda predominam nela. Dentre as serras de origem cristalina, as que têm de 600 m a 800 m de altitude média (caso do Maciço de Baturité, da Serra da Meruoca e da Serra de Uruburetama) também são favorecidas pelas chuvas orográficas, surgindo aí a vegetação tropical densa, chuvas mais frequentes e maior umidade, em especial na sua vertente de barlavento. Em Catunda, na Serra das Matas, encontra-se o ponto mais elevado do estado, o Pico da Serra Branca, com 1.154 metros. Nas serras pouco elevadas, surge vegetação semelhante às das vertentes de sotavento das serras úmidas, isto é, uma vegetação similar à caatinga mas bastante densa e com distinções na fauna e na flora, conhecida como mata seca.
Pico da Serra Branca - ponto culminante do Ceará
  Existe ainda o carrasco, vegetação xerófila peculiar, que surge no reverso da Chapada da Ibiapaba e do Araripe, áreas mais secas, caracterizando-se por uma flora arbustiva e arbórea predominantemente lenhosa, ao contrário da caatinga. O carrasco distingue-se ainda da caatinga pela quase inexistência de cactos e bromeliáceas. Alguns se referem a essa vegetação como uma espécie de transição entre o cerrado, a floresta tropical e a caatinga.
Paisagem de monólitos próximo à Quixadá - CE
HIDROGRAFIA
  O território cearense é dividido em sete bacias hidrográficas, sendo a maior delas a do rio Jaguaribe. Sua bacia compreende mais de 50% do estado. O rio tem 610 km de extensão. Os dois maiores reservatórios de água do Ceará são as barragens que represam o rio Jaguaribe: Açude Orós, com 2,1 bilhões de metros cúbicos, e Açude Castanhão, com 6,7 bilhões de metros cúbicos. Os afluentes mais importantes do rio Jaguaribe são os rios Salgado e Banabuiú.
  As outras bacias são: do rio Acaraú, com um dos maiores reservatórios do estado, o Açude Araras, com capacidade para 1 bilhão de metros cúbicos; do rio Coreaú; do rio Curu; do litoral, que drena boa parte do litoral noroeste, cujo principais rios são Aracatiaçu, Aracatimirim, Mundaú e Trairi; na região metropolitana, onde os principais rios são Ceará, Cocó, Pacoti e Choró; e parte da bacia do rio Parnaíba.
Açude Castanhão - maior reservatório do Ceará
LITORAL
  No litoral, que se estende por 573 km, predominam os mangues e as restingas, vegetação litorânea típica, além de áreas sem vegetação recobertas por dunas. Mesmo com altitudes muito pouco elevadas, as pluviosidades e a umidade são maiores que na Depressão Sertaneja. As temperaturas médias variam de 22°C a 32°C. A planície litorânea possui geografia diversificada, o que faz com que o estado possua praias com coqueirais, dunas, barreiras (também chamadas falésias - paredões sedimentares que acompanham a faixa da costa e, em alguns trechos, possuem tons coloridos) e áreas alagadas de manguezal, onde há grande biodiversidade.
Falésias na praia de Ponta Grossa, em Icapuí - CE
  As praias mais famosas do Ceará são as praias de: Jericoacoara, Canoa Quebrada e Porto das Dunas, dentre outras, as quais se destacam por alcançar fama internacional. Regionalmente, outras praias destacadas são: a Praia das Fontes, Morro Branco, Icaraí, Presídio, Baleia, Flecheiras, Cumbuco e Lagoinha. O litoral cearense é atravessado por duas rodovias: a Costa do Sol Nascente e a Costa do Sol Poente, que, a partir de Fortaleza, direcionam-se para o litoral leste e oeste, respectivamente.
Pedra Furada na Praia de Jericoacoara - CE
CLIMA
  No Ceará o clima é predominantemente semiárido, com pluviosidades que, em trechos da região de Inhamuns, podem ser menor que 500 mm, mas também podem se aproximar de 1.000 mm em outras áreas caracterizadas pelo clima semiárido brando (presente, por exemplo, na área semiárida do Cariri e nas cidades relativamente próximas à faixa litorânea). A temperatura média é alta, com pequena amplitude térmica anual de aproximadamente 5°C, girando entre meados de 20°C no topo das serras a até 28°C nos sertões mais quentes. No interior, a amplitude térmica diária pode ser relativamente grande devido à menor umidade. Em todo o estado, os dias mais frios ocorrem geralmente entre junho e julho e os mais quentes, entre outubro e fevereiro.
  Nas áreas serranas, onde impera o clima tropical semi-úmido e, em altitudes mais elevadas, úmido, as temperaturas são mais baixas, com média de 20°C a 25°C, podendo ter mínimas anuais entre 12°C e 16°C. Surgem aí vegetações de cerradão e floresta tropical, e as pluviosidades são mais altas, superando os 1.000 mm. Essas áreas contêm mananciais que banham os sopés dessas regiões, tornando-os propícios à atividade agrícola. É nas serras e próximo a elas, assim como nas planícies aluviais, que se concentra a maior parte da população do interior cearense, com densidades superiores a 100 hab./km².
  No litoral, o clima tropical subúmido possui pluviosidades normalmente entre 1.000 mm e 1.500 mm. As temperaturas são bastante elevadas, com médias de 26°C a 28°C, mas a amplitude térmica é bastante pequena. No geral, as temperaturas variam durante o dia de mínimas de 23°C - 24°C até máximas de 30°C - 31°C. É raro as temperaturas ultrapassarem os 35°C na região litorânea, ao contrário do que ocorre no Sertão cearense.
Quixadá - uma das cidades mais populosas do Sertão cearense
SUBDIVISÕES
  O Ceará surgiu como unidade administrativa em 1799 com quatorze municípios, sendo o mais antigo Aquiraz, fundado em 1699, e o último desse período foi Guaraciaba do Norte, criado em 1791. Com a Independência do Brasil as províncias foram organizadas em 1823 e nesse ano o território já estava dividido em mais quatro cidades. Durante todo o período imperial do Brasil foram criadas mais 44 cidades, desmembrando-se vilas das já então existentes. Em pouco mais de um século o estado passou de 62 para 184 municípios que, a partir da Constituição de 1988, passaram a serem unidades constitutivas da União em patamar igual aos estados.
  O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) dividiu o território cearense em sete mesorregiões e estas em 33 microrregiões, constituindo-se basicamente em divisões estatísticas. O Governo do Ceará dividiu o estado em oito macrorregiões de desenvolvimento e em vinte regiões administrativas.
  Existem ainda duas regiões metropolitanas no estado: a Região Metropolitana do Cariri (RMC) e a de Fortaleza (RMF). A primeira foi criada pela Lei Complementar Estadual n° 78, sancionada pelo governador Cid Gomes em 29 de junho de 2009 e é formada por nove municípios do sul cearense: Barbalha, Caririaçu, Crato, Farias Brito, Jardim, Juazeiro do Norte, Missão Velha e Santana do Cariri. Já a Região Metropolitana de Fortaleza, onde se localiza a capital, foi criada pela Lei Complementar Federal n° 14, de 8 de junho de 1973, que instituía, também, outras regiões metropolitanas no país. Inicialmente, a Região Metropolitana de Fortaleza era formada por apenas cinco municípios: Fortaleza, Caucaia Maranguape, Pacatuba e Aquiraz, sendo, posteriormente, adicionado os municípios de Maracanaú (1983), Eusébio (1987), Itaitinga e Guaiuba (1992), Chorozinho, Pacajus, Horizonte e São Gonçalo do Amarante (1992) e Pindoretama e Cascavel (2009).
LITÍGIO TERRITORIAL
  No governo colonial do Governador Sampaio, o engenheiro Silva Paulet apresentou mapa da província em 1818, que mostrou o limite oeste do litoral até a foz do Rio Igaraçu. Desta forma, a localidade de Amarração, atual cidade de Luís Correia, faria parte do Ceará. Durante o século XIX a localidade teve assistência da cidade cearense vizinha, Granja, até que em 1874 os parlamentares estaduais decidiram elevar a localidade a categoria de vila. Essa atitude chamou a atenção dos políticos do Piauí, que reivindicaram seu território. A solução ocorreu pelo Decreto Geral n° 3012, de 22 de novembro de 1880, decidindo que haveria uma "troca" onde o Piauí restabeleceu a totalidade de seu litoral e o Ceará incorporou os municípios de Crateús e Independência.
Área em litígio
  Desde essa época que na divisa do Ceará com o Piauí persistem vários pontos com indefinições de seus limites. A área total em disputa é de aproximadamente 2.500 hectares. Depois da Constituição de 1988, foi proposto que em 1991 seriam resolvidas as questões de limites entre os estados, mas só em 2008 foi apresentado um acordo entre esses, com o Piauí ficando com 1.500 hectares e o Ceará com 1.000, devendo ainda ser confirmado pelo governo federal.
Proposta piauiense para resolver o impasse
ECONOMIA
  Em 2011, o PIB cearense, em preços de mercado, foi de R$ 84 bilhões, sendo a terceira mais forte do Nordeste. Sua participação no Produto Interno Bruto (PIB) regional é de 14,5%, atrás dos estados da Bahia (31,5%) e Pernambuco (17,9%). Para o PIB nacional, o Ceará contribuiu com 1,9%. O PIB per capita cearense é de R$ 6.149,00.
  O estado vem apresentando melhoras na economia, os incentivos governamentais para a instalação de indústrias (isenção de impostos e doação de terrenos) e a mão de obra barata atraíram mais de600 empresas nacionais e estrangeiras para o Ceará num período de seis décadas (1950 a 2010).
Fábrica da Grendene em Sobral - CE
  A composição do PIB estadual, conforme os setores da economia, é: agropecuária (6,2%), indústria (23,6%) e serviços (70,2%).
  O segmento industrial é bem diversificado e está em constante processo de expansão. A Região Metropolitana de Fortaleza é o local com a maior concentração de indústrias no Ceará. O couro é uma matéria-prima fundamental para a indústria cearense. A produção ligada a ele é o principal ramo de atividade industrial do estado. A produção de calçados é responsável por 27% das exportações do Ceará. Outros setores importantes são o polo têxtil de confecções de Fortaleza (capital) e do interior, vestuário, alimentício, químico, siderúrgico, além da metalmecânica.
Produção de calçados - uma das mais fortes na indústria cearense
  A Secretaria da Agricultura Irrigada (Seagri) promove uma política de incentivo ao polo de floricultura, fato que já faz do Ceará o segundo maior exportador de flores frescas cortadas, atrás somente de São Paulo. O cultivo de frutas está em constante ascensão, destacando-se a banana, laranja, coco, castanha de caju, abacaxi e melão.
  O estado também produz cana-de-açúcar, mandioca, feijão, arroz, milho, algodão, entre outros. Em regiões como no Vale do Cariri, cultiva-se o algodão de fibra longa, produto que apresenta ótima qualidade.
O Ceará é o segundo maior exportador de flores do Brasil
  A pecuária é extremamente prejudicada pelas condições climáticas do Sertão. Essa atividade econômica baseia-se nos rebanhos bovinos, caprinos e suínos.
  A mineração é praticada através da extração de ferro, argila, magnésio, granito, petróleo, gás natural, urânio. Nas regiões litorâneas ocorre a extração de sal marinho.
  O turismo é uma atividade de fundamental importância para a economia cearense. Essa atividade tem atraído redes internacionais de hotéis e empresas de serviço e comércio. O Ceará recebe mais de 2 milhões de turistas atualmente.
As belezas naturais é a principal fonte de atração para o turismo no Ceará
DADOS SOBRE O CEARÁ
LOCALIZAÇÃO: Região Nordeste
LIMITES: Oceano Atlântico (norte), Rio Grande do Norte e Paraíba (leste), Pernambuco (sul) e Piauí (oeste).
CAPITAL: Fortaleza
Fortaleza - capital e maior cidade do Ceará
ÁREA: 148.920,538 km² (17º)
POPULAÇÃO (IBGE - 2010):
8.452.381  habitantes (8º)
DENSIDADE DEMOGRÁFICA (IBGE): 56,76 hab./km² (11°)
CIDADES MAIS POPULOSAS (IBGE 2010):
Fortaleza: 2.452.185 habitantes
Avenida Santos Dumont - principal eixo de expansão econômica de Salvador para a área leste
Caucaia: 325.441 habitantes
Igreja matriz de Caucaia - segunda maior cidade do Ceará
Juazeiro do Norte: 249.939 habitantes
Juazeiro do Norte - terceira maior cidade do Ceará
IDH (PNUD - 2005): 0,723 (22°)
PIB (IBGE - 2009): R$ 65,704 bilhões (12°)
EXPECTATIVA DE VIDA (IBGE - 2010): 71,0 anos (20º)
TAXA DE NATALIDADE (IBGE - 2009): 17,9 / mil (14°)
MORTALIDADE INFANTIL (IBGE - 2009): 27,6/ mil (19°)
TAXA DE URBANIZAÇÃO (IBGE - 2010): 75,09% (19°)
TAXA DE ANALFABETISMO (IBGE - 2010): 17,19% (22°)
PIB PER CAPITA (IBGE - 2010): R$ 9.216,00 (23°)
RELIGIÃO (IBGE - 2010): católicos (84,9%), protestantes (8,2%), sem religião (3,8%), outros (3,1%).
FONTE: www.secult.ce.gov.br
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