CBERS (sigla para China-Brazil Earth-Resources Satellite, em português Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres), é a denominação da cooperação tecnológica entre China e Brasil, para a produção de uma série de satélites de observação da Terra, que ficaram conhecidos internacionalmente por esta sigla.
O Programa CBERS nasceu de uma parceria inédita entre Brasil e China no setor técnico-científico espacial. Com isto, o Brasil ingressou no seleto grupo de países detentores da tecnologia de geração de dados primários de sensoriamento remoto.
Um dos frutos dessa cooperação foi a obtenção de uma poderosa ferramenta para monitorar seu imenso território com satélites próprios de sensoriamento remoto, buscando consolidar uma importante autonomia neste segmento.
A família de satélites de sensoriamento remoto CBERS trouxe significativos avanços científicos ao Brasil. Suas imagens são usadas em importantes campos, como o controle do desmatamento e queimadas na Amazônia Legal, o monitoramento de recursos hídricos, áreas agrícolas, crescimento urbano, ocupação do solo, em educação e em inúmeras outras aplicações.
|
Imagem de Brasília fornecida pelo CBERS |
O programa CBERS contemplou num primeiro momento apenas dois satélites de sensoriamento remoto, o CBERS-1 e o CBERS-2. O sucesso do lançamento pelo foguete chinês Longa Marcha 4B e o perfeito funcionamento dos CBERS-1 e CBERS-2 produziram efeitos imediatos. Ambos os governos decidiram expandir o acordo e incluir outros três satélites da mesma categoria, os CBERS-2B e os CBERS-3 e 4, como uma segunda etapa da parceria Sino-Brasileira.
O Longa Marcha 4B, também conhecido como Chang Zheng 4B, CZ-4B e LM-4B é um foguete de três estágios, usado principalmente para colocar satélites em órbita terrestre baixa e órbita heliossíncrona (que viaja do Polo Norte ao Polo Sul e vice-versa). O primeiro lançamento desse modelo, ocorreu em 10 de maio de 1999, levando o satélite meteorológico FY-1C, que mais tarde foi usado no míssil antissatélite chinês.
|
CBERS-3 |
O Programa CBERS é fundamental para grandes projetos estratégicos, como o PRODES (Programa de Despoluição das Bacias Hidrográficas), de avaliação do desflorestamento na Amazônia, o DETER (Detecção do Desmatamento em Tempo Real), o Canasat (programa de monitoramento de áreas canavieiras), entre outros.
Criado pela Agência Nacional de Águas (ANA) em março de 2001, o PRODES, também conhecido como "programa de compra de esgoto tratado", consiste na concessão de estímulo financeiro pela União, na forma de pagamento pelo esgoto tratado, a Prestadores de Serviços de Saneamento (PSS) que investirem na implantação e operação de Estações de Tratamento de Esgotos (ETE), desde que cumpridas as condições previstas em contrato.
|
Mapa sobre a situação das águas feitas pelo CBERS |
O DETER é um levantamento rápido de alertas de evidências de alterações da cobertura florestal na Amazônia, feito pelo INPE desde 2004, com dados do sensor MODIS do satélite Terra. O DETER foi desenvolvido como um sistema de alerta para dar suporte à fiscalização e controle de desmatamento e da degradação florestal ilegais pelo Ibama. As alterações da cobertura florestal que o DETER mapeia são o corte raso da floresta, a degradação florestal preparativa para o desmatamento (brocagem) e cicatrizes de incêndios florestais. Os mapas do DETER podem também incluir áreas com atividades de exploração madeireira.
|
Imagem de satélite de área desmatada no estado de Rondônia em 2009 |
Desenvolvido pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) com o apoio da UNICA (União das Indústrias de Cana-de-açúcar), o Canasat é um sistema de monitoramento remoto, via satélite, das áreas de produção de cana-de-açúcar na região Centro-Sul do Brasil.
O mapeamento é realizado anualmente, tendo como base as áreas disponíveis para colheita, delimitadas pelo Projeto Canasat-Área, e imagens obtidas pelos satélites Landsat, CBERS e Resourcesat-I.
Utilizando técnicas de sensoriamento remoto e geoprocessamento, o Canasat começou em 2003 a mapear a área cultivada e fornecer informações sobre a distribuição espacial da cultura de cana-de-açúcar em São Paulo. A partir de 2005, o mapeamento passou a abranger também Paraná, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
|
Mapeamento por meio de satélite do cultivo de cana-de-açúcar no estado de São Paulo, em 2008-2009 |
HISTÓRIA DO CBERS
Na década de 1980, países emergentes como Brasil e China, estavam dependentes das imagens fornecidas por satélites de outras nações. Nessa época, uma das prioridades do governo chinês era o desenvolvimento da área espacial. Já no Brasil, o programa de satélites da Missão Espacial Completa Brasileira avançava com o projeto SCD-1 (Satélite de Coleta de Dados-1). Enquanto o Brasil já possuía familiaridade com a alta tecnologia e um parque industrial mais moderno, a China possuía experiência tanto na construção de satélites, quanto na construção de foguetes lançadores.
A assinatura da parceria sino-brasileira ocorreu no dia 6 de julho de 1988, por meio de um acordo de parceria envolvendo o INPE, vinculado ao MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação) pelo lado brasileiro, e o CAST (China Academy of Space Technology), vinculada à CASC (China Aerospace Science and Technology Corporation) pelo lado chinês, para o desenvolvimento de um programa de construção de dois satélites avançados de sensoriamento remoto.
|
Lançamento do CBERS-4, em 7 de dezembro de 2014 |
OS SATÉLITES
Os satélites de primeira geração (CBERS-1 e 2 e 2B), lançados entre 1999 e 2007, tinham a forma de um paralelepípedo de 1,8 x 2,0 x 2,2 m com um painel solar de 6,3 m de comprimento, fixado em uma das suas faces. Uma fonte de alimentação de 1.100 Watts armazenados em duas baterias de níquel-cádmio de 30 A-h (Ampere-hora), possuindo uma massa de 1.450 kg, estabilizados nos três eixos por 16 pequenos motores de 1 Newton e mais 2 motores de 20 Newtons, movidos a hidrazina, com vida útil estimada desses satélites de dois anos.
|
Cidade de Taiyuan, China, onde se localiza o Centro de Lançamento de Foguetes da China |
CBERS-1
O CBERS-1 foi o primeiro satélite desenvolvido dentro do acordo de cooperação entre a China e o Brasil. Foi lançado pelo foguete chinês Longa Marcha 4B, do Centro de Lançamento de Taiyuan, em 14 de outubro de 1999. Apresenta uma órbita heliossíncrona com uma altitude de 778 km, fazendo cerca de 14 revoluções por dia e conseguindo obter a cobertura completa da Terra em 26 dias.
Este satélite foi projetado e lançado com o objetivo de gerar imagens da superfície da Terra, usando equipamentos de sensoriamento remoto. Essas imagens podem ser usadas nas mais variadas aplicações, como: agricultura, meio ambiente, recursos hidrológicos e oceânicos, geologia, entre outros.
|
Imagem do CBERS-1 |
CBERS-2 e CBRES-2B
O CBERS-2 é tecnicamente idêntico ao CBERS-1. Sua órbita também é heliossíncrona, o que propicia ao CBERS-2 efetuar a cobertura de todo o planeta. Esse satélite foi lançado no dia 21 de outubro de 2003, do Centro de Lançamento de Taiyuan, na China. Ele deixou de funcionar em 15 de janeiro de 2009. O CBERS-2 totalizou 27 mil órbitas completas.
O CBERS-2B foi tecnicamente
construído como modelo de provas para o CBERS-2. Foi aproveitado como
solução intermediária enquanto o CBERS-3 não era lançado.
|
Esquema de órbita do CBERS-2 |
SATÉLITES DE SEGUNDA GERAÇÃO
Os satélites de segunda geração (CBERS-3 e 4), mantém a forma de um paralelepípedo de 1,8 x 2,0 x 2,2 m com um painel solar de 6,3 m de comprimento, fixado em uma das suas faces. Possuem uma fonte de alimentação mais potente, de 2.300 Watts e massa de 1.980 kg. São estabilizados nos três eixos por motores movidos a hidrazina. A vida útil estimada para esses satélites é de três anos.CBERS-3
O CBERS-3 estava previsto para entrar em órbita no final de 2013, visando dar continuidade à missão CBERS depois do encerramento das atividades do CBERS-2B, ampliando a participação brasileira no projeto para 50%. Entretanto, na fase final do lançamento, ocorrido em 9 de dezembro de 2013, a partir da base de lançamentos de Taiyuan, ocorreu uma falha no último estágio do foguete cuja propulsão foi interrompida 11 segundos antes do previsto, impedindo o satélite de atingir a órbita pretendida, causando a sua reentrada na atmosfera.
|
Montagem do satélite CBERS-3 |
CBERS-4
O CBERS-4 foi lançado no dia 7 de dezembro de 2014 por um foguete Longa Marcha 4B a partir da base espacial de Taiyuan.
Inicialmente, o CBERS-4 só seria lançado em 2015. O satélite tem o mesmo formato e mecanismo do CBERS-3, com modernização da tecnologia das câmeras de observação da Terra. Esse satélite tem capacidade de 15 minutos de gravação por dia e viaja a uma velocidade de 4,2 km/segundo, dando 14 voltas no planeta.
As câmeras do CBERS-4 enviam mensagens de área que variam de 120 km a 860 km de extensão. As imagens possibilitam o mapeamento de áreas agrícolas, geológicas e monitoramento de áreas de desmatamento de quase 90% do território da América do Sul e também da China, além de disponibilizar o material gratuitamente para alguns países da África, por meio de parcerias governamentais.
|
Imagem do litoral norte do Rio de Janeiro feito pelo CBERS-4 |
APLICAÇÕES
A família de satélites de sensoriamento remoto CBERS trouxe significativos avanços científicos ao Brasil. Suas imagens são usadas desde o controle do desmatamento e queimadas na Amazônia Legal, até o monitoramento dos recursos hídricos, áreas agrícolas, crescimento urbano e ocupação do solo. Além de ser fundamental para grandes projetos nacionais estratégicos, como o SIVAM (Sistema de Vigilância da Amazônia) e a ocupação do espaço definitivo em diversos programas ambientais.
|
Mapa sobre o desmatamento da Amazônia em 2014 |
COLETA DE DADOS
Os satélites CBERS carregam à bordo repetidores para o Sistema Brasileiro de Coleta de Dados Ambientais (SBCDA). Esse sistema conta com mais de 800 Plataformas de Coleta de Dados (PCDs) instaladas no território brasileiro, atuando em diversas aplicações, como o monitoramento das bacias hidrográficas, previsão do tempo e estudos climáticos, estudos sobre correntes oceânicas, marés, química da atmosfera, planejamento agrícola, etc.
|
Imagens feitas pelo CBERS-4 sobre o desmatamento em Rio Branco - AC |
FONTE: Antunes, Celso Avelino. Geografia e participação: 9º ano / Celso Avelino Antunes, Maria do Carmo Pereira e Maria Inês Vieira. 2. ed. - São Paulo: IBEP, 2012.