quarta-feira, 4 de setembro de 2013

O ARQUIPÉLAGO DE FERNANDO DE NORONHA

  O arquipélago de Fernando de Noronha pertence ao estado de Pernambuco, é formado por 21 ilhas e ilhotas, e ocupa uma área de 26 km², estando situado no oceano Atlântico Sul-Equatorial, a leste do Rio Grande do Norte, distando cerca de 345 km da costa. As coordenadas geográficas da ilha são: 03°50'S e 32°25'W. Os processos de formação desse arquipélago estão associados à teoria da deriva continental, onde a instabilidade da crosta terrestre possibilitou o extravasamento do magma através de uma fratura, que ao longo do tempo geológico, por ascensão vertical, originou o arquipélago. A montanha que deu origem ao arquipélago está alinhada aos montes vulcânicos submarinos que compõem a Cadeia de Fernando de Noronha, orientada no sentido leste-oeste.
  Fernando de Noronha constitui um Distrito Estadual de Pernambuco desde 1988, quando deixou de ser um território federal, cuja sigla era FN, e a capital era Vila dos Remédios. É gerida por um administrador-geral designado pelo governo do estado.
Vila dos Remédios, em Fernando de Noronha
  Após uma campanha liderada pelo ambientalista gaúcho José Truda Palazzo Jr., em 1988, a maior parte do arquipélago foi declarada Parque Nacional, com cerca de 8 km², para a proteção de espécies endêmicas lá existentes e da área de concentração dos golfinhos rotadores (Stenella longirostris), que se reúnem diariamente na Baía dos Golfinhos - o lugar de observação mais regular da espécie em todo o planeta. O parque nacional é administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Baía dos Golfinhos, em Fernando de Noronha
  Todo o arquipélago está sobre um monte submarino cônico, com cerca de 60 km de diâmetro, tendo sua base apoiada no assoalho oceânico a quatro mil metros de profundidade. Ao longo do tempo geológico, as rochas sofreram intemperismo e formaram uma plataforma de erosão com cerca de 3 a 4 quilômetros de largura e até 100 metros de profundidade.
  A principal ilha do arquipélago, denominada Fernando de Noronha, possui cerca de 16,4 km², representando 91% da área emersa do arquipélago. O relevo do arquipélago apresenta planícies, planaltos e altos topográficos íngremes, como o Morro do Pico, com 323 metros.
Morro do Pico
OCUPAÇÃO HUMANA NO ARQUIPÉLAGO
  Em 1503, o navegador Américo Vespúcio oficialmente relatou a descoberta do arquipélago, quando um dos navios da expedição, comandada por Gonçalo Coelho, naufragou após bater nos recifes. Os náufragos habitaram a ilha principal por dois anos, até ser resgatados. Esse episódio também foi o primeiro naufrágio da história do Brasil. No ano de 1504, o fidalgo português Fernão de Noronha recebeu da coroa portuguesa o arquipélago como uma Capitania Hereditária, apesar do mesmo nunca ter visitado o local, a quem se deve o nome do arquipélago e da ilha principal.
Morro Dois Irmãos, na Baía do Sancho
  Após a descoberta, ocorreram sucessivas tentativas de ocupação por holandeses, em 1612 e 1635-1654, e franceses, em 1736, que logo foram expulsos pelos portugueses. Em 1736, os portugueses retomaram o controle da ilha e, no ano seguinte, iniciou-se sua colonização. A vila e a Igreja de Nossa Senhora dos Remédios foram as primeiras edificações construídas pelos portugueses nesse período. Também foram construídas dez fortificações para proteção do arquipélago. Nas décadas que se seguiram, a ilha também foi utilizada como colônia correcional.
Igreja de Nossa Senhora dos Remédios - uma das primeiras construções de Fernando de Noronha
  O arquipélago foi visitado por vários naturalistas e pesquisadores. Entre esses, Charles Darwin, que, no ano de 1832, a bordo do navio Beagle, fez uma descrição do arquipélago e posteriormente divulgou suas observações sobre a geologia, petrografia (estudo descritivo e sistemático das rochas), natureza vulcânica, fauna e flora da ilha principal. Outra importante  expedição foi realizada em 1873, pelo navio HMS Challenger, que realizou coletas no arquipélago.
Praia Sancho
  Em 1888, foi criado o Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha, reintegrando o arquipélago ao Estado de Pernambuco, que se tornou Distrito Estadual. Em 2002, o arquipélago foi tombado pela UNESCO, como Sítio do Patrimônio Mundial Natural.
O CLIMA DAS ILHAS
  Devido à privilegiada localização do arquipélago, o clima reinante é o tropical oceânico, onde as brisas marinhas atenuam o calor excessivo. A temperatura média anual é de 27ºC e pouco varia entre o dia e a noite. Em Fernando de Noronha existem apenas duas estações definidas: uma seca, de agosto a fevereiro, e uma úmida, de março a julho. No período úmido ocorre o aparecimento de vários córregos temporários, que desaparecem após o período de chuvas. A ilha não possui nascentes, mas a Lagoa da Viração (lagoa de água doce), localizada na região entre a Praia do Leão e a Ponta da Sapata, nunca seca.
Ponta da Sapata
  No mês de agosto, ventos sopram forte na ilha, e em setembro a vegetação da ilha fica seca, devido à escassez de chuvas. O mês de outubro apresenta os menores níveis de precipitação. A temperatura média do mar pouco varia ao longo do ano e fica em torno de 24ºC. A distância do continente, associada à ausência de rios, possibilita que a visibilidade da água chegue a 50 metros de profundidade.
Visão parcial do arquipélago
VEGETAÇÃO TERRESTRE
  A vegetação do arquipélago se assemelha à vegetação do agreste do sertão nordestino, devido à predominância de arbustos espinhosos, cactos, vegetação rasteira e árvores que perdem as folhas durante o período seco. Entre as espécies vegetais, as gameleiras (Ficus noronhae), que são endêmicas da ilha, destacam-se pelo tamanho imponente e pela beleza. Também aparecem outras espécies como a burra-leiteira (Sapium sceleratum) em uma pequena área com vegetação de mangue, localizada na Baía do Sueste.
Gameleiras no arquipélago de Fernando de Noronha
  Durante o processo de ocupação da ilha, grande parte da vegetação original foi destruída ou substituída. Assim, várias espécies vegetais foram introduzidas para alimentação humana ou de rebanhos. Encontram-se árvores frutíferas como mangas, cajás, carambolas, mamão e fruta-do-conde. Mesmo com a introdução de espécies, a diversidade de vegetais na ilha é pequena, quando comparada às áreas costeiras.
  Um problema que preocupa os ambientalistas é a elevada taxa de expansão da leucena, uma espécie de forrageira que foi introduzida na ilha para a alimentação de rebanhos. Atualmente,  essa vegetação ocupa quase 80% da ilha de Fernando de Noronha. Essa espécie arbórea possui copa densa, que limita a passagem de luz, impedindo o crescimento de outras espécies vegetais.
Visão aérea de Fernando de Noronha
A FAUNA MARINHA
  Para muitas espécies com baixa capacidade de dispersão, a imensa e profunda massa de água oceânica, que separa o arquipélago de Fernando de Noronha do continente americano, é uma barreira geográfica quase intransponível. Por isso, ao longo do tempo geológico, a evolução propiciou o aparecimento de espécies endêmicas.
1. OS CRUSTÁCEOS
  Compondo a fauna do arquipélago, existem algumas espécies de camarões, lagostas e caranguejos. Os camarões e lagostas são frequentemente encontrados escondidos em tocas e são mais ativos durante o período noturno. Já nas rochas da zona do entremarés encontram-se frequentemente o aratu ou aratu-vermelho (Grapsus grapsus). Porém, nas partes mais centrais da ilha, o caranguejo-amarelo ou carango (Gecarcinus lagostoma) pode ser encontrado em baixa densidade. Sua ocorrência no Brasil está restrita às ilhas oceânicas de Trindade, Fernando de Noronha e Atol das Rocas.
Caranguejo-amarelo ou carango (Gecarcinus lagostoma)
2. PEIXES
  Pesquisas recentes mostram curiosas interações entre os peixes do arquipélago. Um exemplo é a guarajuba (Coranx bartholomaei), que segue a arraia-prego (Dasyatis americana) e aproveita, quando a arraia movimenta o sedimento, para se alimentar de moluscos e caranguejos e capturar eventuais invertebrados e peixes que sejam descobertos por ela. O mesmo ocorre com o peixe-papagaio (Sparisoma amplum), frequentemente seguido pelos budiões-de-noronha (Thalassoma noronhanum), que se aproveitam das sobras de alimento. Já o tubarão cabeça-de-cesto (Carcharhinus perezi) tem os parasitas removidos de seu corpo pelo pequenino góbios-neon (Elacatinus randalli). Esse peixe é um especialista na área de limpeza e também presta seus serviços a outras espécies, como o catuá (Cephalopholis fulva) e a assustadora, porém pacífica, moreia-verde (Gymnothoraz funebris).
Moreia-verde
  O ótimo estado de conservação da parte marinha das ilhas, que estão protegidas da pesca predatória, proporciona a descoberta e o entendimento das interações entre os organismos. Essas informações são fundamentais para a implementação de novas medidas de conservação no ambiente marinho, que ainda hoje são pouco conhecidas.
Peixe-papagaio
3. AS TARTARUGAS-MARINHAS
  Entre as cinco espécies de tartarugas marinhas que ocorrem em águas brasileiras, apenas a tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata) e a tartaruga-verde, ou aruanã (Chelonia mydas) estão presentes no arquipélago de Fernando de Noronha. A tartaruga-de-pente, que se alimenta de esponjas, foi intensamente caçada no Brasil devido ao seu casco, que era usada na fabricação de pentes, armações de óculos e fivelas. Já a tartaruga-verde, que se alimenta prioritariamente de algas, era caçada devido a sua carne, comumente utilizada na alimentação de muitas comunidades tradicionais costeiras.
Tartaruga-verde
  A tartaruga-de-pente usa o arquipélago apenas para alimentação. A tartaruga-verde utiliza as praias da ilha para desova durante o período que vai de janeiro a junho. Durante a noite, a fêmea dessa espécie sobe à praia e escava um buraco, onde são depositados, em média, 120 ovos. Depois, o ninho é cuidadosamente fechado e a tartaruga volta ao mar. Cada fêmea pode repetir esse processo cerca de 4 vezes por temporada reprodutiva. O tempo de incubação dos ovos é de aproximadamente 55 dias. Após nascerem, os filhotes cavam até a superfície e, durante a noite, vão em direção ao mar, onde passarão o resto de suas vidas.
Tartaruga-de-pente
  Um fato curioso é a relação entre a tartaruga-verde e algumas espécies de peixes, como o sargentinho (Abudefduf saxatilis) e o cirurgião (Acanthurus chirurgus e A. coereleus), que se alimentam de algas presas ao casco das tartarugas. Assim, há um benefício para as tartarugas, pois as algas prejudicam sua movimentação, e para os peixes, têm uma fonte alternativa de alimento.
Peixe-cirurgião
4. AS AVES MARINHAS
  Várias espécies marinhas são encontradas em Fernando de Noronha, onde obtêm alimento e se reproduzem. Algumas espécies são migratórias e usam a ilha para alimentar-se e descansar durante sua jornada. Um exemplo é o pequenino maçarico vira-pedra (Arernaria interpress), que é frequentemente encontrado nas praias, próximo ao mar, alimentando-se de pequenos crustáceos, moluscos e insetos. Também existem aves que nidificam a ilha, como o mumbebo-de-patas-vermelhas (Sula-sula) e o mumbebo marrom (Sula leucogaster). A fragata ou catraia (Fregata magnificens), também encontrada em toda a costa brasileira, encanta pela grande envergadura de suas asas, que chegam a medir 2 metros, o que lhe possibilita planar por longos períodos e percorrer grandes distâncias. Essa ave se aproveita do seu tamanho e frequentemente é avistada batendo nos mumbebos, para roubar seu alimento.
Mumbebo marrom
  O arquipélago de Fernando de Noronha possui grande importância para a avifauna, pois é área de reprodução, nidificação e alimentação, além de ser ponto de parada para aves migratórias.
5. GOLFINHOS ROTADORES
  No arquipélago de Fernando de Noronha também são encontrados golfinhos rotadores (Stenella longirostris), que foram chamados dessa forma devido aos saltos executados, girando sobre seu próprio eixo. Esses golfinhos podem ser facilmente avistados durante o dia na Baía dos Golfinhos e na Enseada do Carreiro de Pedra.
Golfinho rotador
  Outra relação curiosa ocorre entre os golfinhos e doze espécies de peixes, que se alimentam das fezes e dos vômitos dos golfinhos. A principal espécie de peixe associada a esse comportamento é a purfa (Melichthys niger) e os golfinhos rotadores são importante fonte de alimento para aquela espécie.
Purfas
  Outros mamíferos marinhos, como o golfinho pintado (Stenella attenuata) e a baleia jubarte (Megaptera novaeangliae) também são esporadicamente encontrados nas águas do arquipélago.
Golfinho pintado
FONTE: Geografia: ensino fundamental e ensino médio: o mar no espaço geográfico brasileiro / coordenação Carlos Frederico Simões Serafim, organização Paulo de Tarso Chaves. - Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2005. 304 p. (Coleção explorando o ensino, v. 8)

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

A PRODUÇÃO SALINEIRA NO RIO GRANDE DO NORTE

  O mineral halita (NaCl) ou sal de cozinha é um importante bem mineral e está ligado à história do homem sobre o planeta. Seu uso é bastante amplo e passa pela conservação de alimentos até a produção de cosméticos.
  A extração deste bem mineral é dividida em várias etapas para garantir como produto final, um material de boa qualidade, além de garantir a preservação do meio ambiente.
  A halita tem seu nome mineralógico originário da palavra latina sal, que deriva do grego antigo alas ou alati no idioma atual. O termo halita, refere-se às suas ocorrências naturais, como sal de rocha, sal gema ou sal fóssil. Apresenta-se em dois tipos:
  • Sal marinho - é extraído através da evaporação da água do mar.
  • Sal de rocha - também conhecido por sal gema, é extraído de minas subterrâneas que já foram submersas pela água do mar.
Sal marinho
  O evaporito é uma rocha sedimentar formada pela precipitação dos sais contidos em uma solução química inorgânica, que se depositam quando salmouras de lagos e marés interiores se evaporam. A formação de evaporitos marinhos requer condições de extrema restrição de circulação de águas marinhas, aliada a condições climáticas específicas que possibilitem que a razão de evaporação seja maior que a taxa de influxo marinho.
  Para a obtenção do sal, existem processos específicos de extração. Geologicamente, o sal é encontrado na natureza em forma de solução ou em estado sólido. Existem dois tipos de ocorrências:
  • Ocorrência em forma de solução - oceanos, lagos, aquíferos subterrâneos e fontes de salmoura natural.
  • Ocorrência no estado sólido - depósitos a céu aberto, depósitos subterrâneos em forma de camadas ou domos/diapiros.
Pedra de sal gema
  O sal também é encontrado em depósitos sedimentares, em forma de camadas de espessura variável. Está associado com outras rochas sedimentares, como folhelhos, calcários calcíferos e dolomíticos, gipsita, anidrita e outros sais evaporíticos. Os depósitos salinos são encontrados em todos os períodos geológicos, desde o Cambriano até o Terciário, havendo também ocorrência de depósitos no Pré-Cambriano.
  As salinas são áreas de produção de sal marinho pela evaporação da água do mar ou em lago de água salgada. O sal marinho formado na salina é uma rocha sedimentar química que tem origem na precipitação da água do mar, quando esta sofre evaporação, quando átomos ou moléculas no estado líquido ou sólido ganham energia suficiente para passar ao estado de vapor.
Salinas em Lançarote - Ilhas Canarias
  Os maiores produtores de sal (todos os tipos) do mundo são a China (22,4% da produção mundial), os Estados Unidos (17,5%), a Alemanha (7,2%), e a Índia (6,2%). A produção brasileira é de 2,8%, sendo que a maior parte dessa produção é de sal marinho. No Brasil, o Rio Grande do Norte é o maior produtor nacional, representando cerca de 90% da produção do país, seguido do Rio de Janeiro. Os municípios que mais produzem sal no Rio Grande do Norte são Macau, Areia Branca, Mossoró, Grossos e Galinhos.
Grossos - RN. Um dos principais produtores de sal do Brasil
  As salinas de Mossoró, Areia Branca, Grossos, Macau, Guamaré e Galinhos estão presentes na história do Estado desde o século XVI, quando Pero Coelho de Souza registrou, por meio de cartas geográficas, a existência de áreas produtoras de sal. O Frei Vicente do Salvador, também registrou a ocorrência de salinas na mesma região, dizendo que o sal ali era formado espontaneamente. Quando a maré baixava, as águas ficavam retidas e sua evaporação era provocada pela ação natural do sol e dos ventos fortes. Essas reservas foram exploradas por portugueses e holandeses. Geden Morris de Jonge foi o primeiro não índio a fazer a extração do cloreto de sódio na costa potiguar.
Galinhos - RN
  Até os anos 1950/60, o sal marinho obtido no Rio Grande do Norte, era baseado no mesmo processo: mediante a exposição de água do oceano ao sol e ao vento, em tanques rasos, a solução ia atingindo um teor de centralização salina cada vez maior, até o ponto de saturação. Quando atingia esse ponto, formavam-se blocos de sal que, quebrados, davam lugar ao sal grosso que era "colhido". Esse processo era arcaico e antieconômico. Somente a privilegiada localização das salinas é que podia sustentar essa manufatura artesanal.
  Na zona salineira do Estado, o sol, os ventos, o solo e a água salgada se juntam para facilitar a exploração do cloreto de sódio. O sol é abrasador durante o dia todo, o solo é impermeável e os ventos constantes provocam a evaporação e a decantação das águas das marés.
Extração artesanal de sal no município de Macau - RN na década de 1950
  Na área salineira banhada pelo rio Mossoró, mesmo nos meses de chuva, quando o grau de salinidade da água diminui, ela não desaparece. Nos outros meses é superior à da água do mar em quase um terço.
  Apesar de alguns tímidos melhoramentos, nada se altera no processo de extração de sal marinho no Estado. Dentre esses melhoramentos estão a captação de água por meio de moinhos de vento, a cristalização por meio de canteiros (baldes) e a utilização de instrumentos de metais e carrinhos de mão na colheita de sal.
  Até os anos 1960, o sistema produtivo das salinas potiguares trabalhava na dependência da natureza: as marés e os ventos, estes para mover as pás dos moinhos.
Cata-vento para a extração de sal em uma salina de Macau - RN na década de 1950
  Sob a ótica da tecnologia atual, esse processo apresentava diversas inconveniências. A captação de água provocava o alagamento dos canteiros de captação e de cristalização e reduzindo a produtividade, uma vez que o sal se precipitava antes de alcançar os cristalizadores. Por outro lado, a salmoura, não podendo ser controlada, danificava a pureza do produto, que era obtido somente em camadas finas, com consideráveis perdas de tempo e despesas anormais da mão de obra.
  A esse cenário se juntavam os altos custos de carregamento dos navios, transporte e desembarque nos portos do Centro-Sul do país, o principal mercado consumidor do produto, encarecendo o preço do sal.
  Em fevereiro de 1967, durante uma visita à Mossoró, o então Ministro das Minas e Energia, Mário Thibau, declarou que a indústria salineira do Rio Grande do Norte poderia sofrer um grande abalo dentro de prazo médio. O principal motivo para esse pessimismo, era a descoberta de reservas de sal gema em Alagoas, Sergipe e Bahia, que poderia provocar o desaparecimento do parque salineiro potiguar em virtude do baixo rendimento econômico por causa dos altos custos de carregamento e transporte. Assim, o caminho encontrado para livrar a atividade salineira da falência, seria a mecanização das salinas.
Mossoró - RN. Importante cidade produtora de sal.
  A primeira salina planejada dentro de técnicas modernas foi a unidade produtiva da Salinas Guanabara S/A, empresa integrante do grupo econômico liderado pela S/A Mercantil Tertuliano Fernandes, a qual também pertenciam as salinas da Sosal e, em parte, da Salmac.
  A Guanabara foi a primeira salina brasileira moderna, integralmente planificada para ser uma fábrica de fazer sal. Contava com oito grupos de bombas para movimentação da água dentro da salina, tratores, colheitadeiras, lavador de sal, esteiras transportadoras para movimentação na área de estocagem e embarque, além de outros equipamentos nunca usados no setor.
  A demanda de energia era atendida por dois grupos de geradores de 110 KWA para as fases de empilhamento, beneficiamento e embarque, além de quatro outros para a vila operária. Graças a estas novas técnicas, a empresa conseguiu se firmar como a maior produtora de sal do país.
Salina em Areia Branca - RN
  Apesar de trazer benefícios econômicos, a prática de extração do sal marinho produzido nas salinas é um dos principais agravantes para a degradação ambiental na região das salinas. A extração do sal marinho entrou em expansão e com a grande aceleração na produção no final dos anos 1960, com o crescimento e a modernização do setor tecnológico, esse avanço provocou, e ainda provoca, grandes impactos ambientais.
  Entre esses impactos, destacam-se:
  • o comprometimento do ar com o aumento das partículas quando as águas das salinas entram em evaporação;
  • o comprometimento da umidade do ar que também reflete na vida do ser humano através de doenças pulmonares;
  • alterações dos solos devido o percurso das águas onde é produzido o sal e descartadas, na maioria das vezes, sem respeito ao meio ambiente;
  • alterações das águas devido os desvios dos rios e o aterro das gamboas (pequeno lago artificial junto ao mar), contribuindo para a degradação do habitat marinho na região;
  • comprometimento da flora onde estão inseridas as salinas;
Salinas no município de Areia Branca
  Apesar desses pontos negativos, a atividade salineira é responsável por gerar milhares de empregos na região produtora.
  Atualmente, a Salinor (Salinas Nordeste S.A) é a maior empresa produtora de sal do país, sendo responsável por mais de 40% da produção nacional. Suas salinas no Rio Grande do Norte estão localizadas nos municípios de Macau, Areia Branca e Mossoró.
Montanha de sal na Salinor de Areia Branca

O PORTO-ILHA DE AREIA BRANCA
  O Terminal Salineiro de Areia Branca Luiz Fausto de Medeiros, mais conhecido como Porto-Ilha de Areia Branca, fica localizado a 26 quilômetros de Areia Branca e distante cerca de 14 quilômetros da costa. Sua construção resultou da necessidade de suprir a demanda de sal marinho no mercado interno brasileiro. Dentre as hipóteses analisadas prevaleceu a da execução do sistema ilha artificial, sendo o projeto elaborado pela empresa norte-americana Soros Associates Consulting Engineers.
  O Porto-Ilha de Areia Branca é administrado pela Companhia Docas do Rio Grande do Norte (Codern).
Canteiro de obras do Porto-Ilha de Areia Branca em 1972
  Todo o sal movimentado no porto-ilha é oriundo das salinas do Rio Grande do Norte, principalmente as de Macau, Mossoró e Areia Branca.
  No dia 1° de março de 1974, uma ilha artificial, construída de areia e aço, em alto-mar, com aproximadamente 15 mil metros quadrados, passou a ser o porto de escoamento de todo o sal produzido no Rio Grande do Norte, realizando a sua primeira operação no dia 04 de setembro de 1974.
  O Porto-Ilha é retangular, mede 92 metros de largura e 166 metros de comprimento. Foi aterrado com material coralíneo tirado da região e coberto com um piso de sal para garantir a pureza do produto armazenado.
Terminal Salineiro de Areia Branca
 Fonte: Oliveira, Márcia Silva de. Rio Grande do Norte: geografia e paisagens potiguares:  Márcia Silva de Oliveira, Maria Cristina Cavalcanti e Araújo. - Curitiba: Base Editora, 2008.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

O RELEVO BRASILEIRO

  O Brasil é um país de altitudes modestas. Cerca de 40% do seu território encontra-se abaixo de 200 metros de altitude, 45% entre 200 e 600 metros, 12% entre 600 e 900 metros e 3% acima dos 900 metros. O Brasil não apresenta grandes formações montanhosas, não encontrando nenhum dobramento moderno no país.
  Tradicionalmente, o relevo do Brasil é dividido de acordo com a classificação de Ab'Saber. Essa classificação identifica dois grandes tipos de unidades de relevo no território brasileiro: planaltos e planícies.
  A primeira classificação do relevo brasileiro foi feito na década de 1940 pelo geógrafo Aroldo de Azevedo (1910-1974), que formulou o primeiro mapa do relevo brasileiro, quando não havia a tecnologia que existe atualmente. Aroldo, dividiu o Brasil em planícies e planaltos. Ele classificou o relevo da seguinte maneira:
  • Planícies: até 200 metros;
  • Planaltos: acima dos 200 metros.
   Aroldo baseou seu trabalho nas informações produzidas sobre o território até então e em trabalhos de campo, partindo para a observação direta do relevo. Ele dividiu o Brasil em quatro planaltos e quatro planícies:
  • Planaltos: Planalto das Guianas, Planalto Atlântico, Planalto Central e Planalto Meridional.
  • Planícies: Planície Amazônica, Planície do Pantanal, Planície Costeira e Planície do Pampa ou Gaúcha.
Classificação do relevo brasileiro segundo Aroldo Azevedo
  No final da década de 1950, o professor Aziz Nacib Ab'Saber aperfeiçoou a divisão do professor Aroldo de Azevedo (1924-2012), introduzindo critérios geomorfológicos, especialmente as noções de sedimentação e erosão. As áreas nas quais o processo de erosão é mais intenso do que a sedimentação foram chamados de planaltos. As áreas em que o processo de sedimentação supera o de erosão foram chamadas de planícies. Essa classificação não leva em conta as cotas altimétricas do relevo, mas os aspectos de sua modelagem.
  Os planaltos, de acordo com os critérios adotados por Ab'Saber são divididos em Planalto das Guianas e Planalto Brasileiro. O Planalto Brasileiro está subdividido em: Planalto Central, Planalto Meridional, Planalto Nordestino, Planalto do Maranhão-Piauí, Planalto Uruguaio Sul-Riograndense e Serras e Planaltos  do Leste e Sudeste. As planícies são: Planície e Terras Baixas Amazônica, Planícies e Terras Baixas Costeira e Planície do Pantanal.
Classificação do relevo segundo Ab'Saber
  Em 1989,o professor Jurandyr Ross elaborou uma outra classificação do relevo, dessa vez usando como critério três importantes fatores geomorfológicos: 
  • a morfoestrutura - origem geológica;
  • o paleoclima - ação de antigos agentes climáticos;
  • o morfoclima - influência dos atuais agentes climáticos.
  Trata-se de uma divisão inovadora, que conjuga o passado geológico e o passado climático com os atuais agentes escultores do relevo. Com base nesses critérios, Jurandyr Ross classifica três tipos de relevo:
  • planaltos - porções residuais salientes do relevo, que oferecem mais resistência ao processo erosivo;
  • planícies - superfícies essencialmente planas, nas quais o processo de sedimentação supera o de erosão;
  • depressões - áreas rebaixadas por erosão que circundam as bordas das bacias sedimentares interpondo-se entre estas e os maciços cristalinos.
  Esses três tipos de relevo compõem, em conjunto, 28 unidades geomorfológicas.
Mapa do relevo brasileiro segundo Jurandyr Ross
O RELEVO DO CENTRO-SUL
  Em decorrência da intensa atividade econômica, da boa qualidade das terras para a agricultura, do desenvolvimento da pecuária, da maior densidade populacional, das elevadas taxas de industrialização e urbanização, entre outros fatores, são muitos e diversos os problemas ambientais no Centro-Sul.
Pico da Bandeira - localizado entre o Espírito Santo e Minas Gerais, é o terceiro ponto mais elevado do Brasil, com 2.891,98 metros
  Os planaltos e as serras do Atlântico-Leste-Sudeste, com suas terras altas (acima de 500 metros de altitude, em média), são a forma de relevo predominante em Minas Gerais e no Rio de Janeiro, estendendo-se em trechos de São Paulo, do Espírito Santo, do Paraná e de Santa Catarina. Sua origem está relacionada a sucessivos ciclos de dobramentos, ocorridos há cerca de 2 bilhões de anos, e ao soerguimento de toda a faixa oriental da América do Sul. Os dobramentos, bastante antigos, sofreram intensos processos erosivos, que originaram - em razão de sua estrutura rochosa rígida - formas de relevo com topos convexos, semelhantes a uma "meia laranja". Um exemplo dessa formação é o Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro.
Morros do Pão de Açúcar e da Urca no Rio de Janeiro
  O soerguimento das rochas ocasionou a formação de serras e planaltos, como as serras do Mar, da Mantiqueira e do Espinhaço, e os planaltos e serras de Goiás-Minas. Por entre os planaltos e serras do Centro-Sul estendem-se algumas depressões, como a São-franciscana e a Periférica.
  Ao sul da serra do Espinhaço, próximo de Belo Horizonte, localiza-se o Quadrilátero Ferrífero, constituída por Mariana, Belo Horizonte, Santa Bárbara e Congonhas, de onde se extraem riquezas minerais, como o ferro, o manganês, a bauxita, entre outras.
Serra da Mantiqueira, no município de Passa Quatro - MG
  No sentido leste-oeste, do litoral em direção ao Mato Grosso do Sul, a estrutura rochosa predominantemente cristalina dos planaltos e serras do Atlântico-Leste-Sudeste vai dando lugar a uma estrutura predominantemente sedimentar. É a Depressão Periférica, que se prolonga longitudinalmente até o litoral sul de Santa Catarina; seguindo para oeste, encontra os planaltos e chapadas da bacia do Paraná.
Serra do Rio do Rastro, em Santa Catarina - maior cadeia de montanhas do sul do Brasil
 Nos planaltos e nas chapadas da bacia do Paraná, nos estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, oeste de Minas Gerais e de São Paulo, as altitudes raramente ultrapassam os mil metros e o relevo apresenta-se mais plano, favorecendo a mecanização das atividades agrícolas.
  Em direção ao sul do país, a partir do Paraná, ocorre um aumento gradativo de altitude, atingindo os 1,5 mil metros, no nordeste do Rio Grande do Sul, onde se encontram as escarpas dos planaltos e das chapadas da bacia do Paraná. Essas escarpas apresentam-se recortadas em forma de gargantas ou estreitos profundos denominados cânions.
Cânion de Itaimbezinho - RS
  Na parte sul dessa unidade de relevo, incluindo o oeste paulista e o sul do Mato Grosso do Sul, verifica-se a ocorrência do solo de terra roxa - formado pela decomposição do basalto proveniente dos derramamentos vulcânicos ocorridos na região. Esse solo serviu de base para a expansão cafeeira da região e, desde a década de 1970, vem sendo largamente ocupado pelas culturas da cana-de-açúcar e da soja.
Cataratas do Iguaçu, no Paraná
  Os trechos de planície litorânea no Centro-Sul são restritos e estreitos, apresentando-se de forma mais extensa apenas no estado do Espírito Santo. Em outros trechos são conhecidos como baixadas. A baixada Fluminense (RJ) e a baixada Santista (SP), são amplamente ocupadas, apresentando altas densidades demográficas.
São Vicente - SP. Cidade localizada na Baixada Santista
  Nas encostas da serra do Mar, próximo a essas baixadas, são frequentes os deslizamentos de terra, decorrentes da ocupação desordenada e da poluição atmosférica, responsáveis pela destruição da cobertura vegetal das encostas.
  Trechos das porções oeste e norte do Centro-Sul são dominados pelos planaltos e chapadas da bacia do Paraná e planaltos e serras de Goiás-Minas. Nos primeiros, são marcantes as extensas superfícies planas, principalmente nos planaltos.
  Nos planaltos e chapadas da bacia do Paraná, as superfícies planas chegam a atingir entre 900 e mil metros de altitude. É o caso da chapada dos Guimarães, no sudeste do Mato Grosso.
Véu de Noiva, no Parque Nacional da Chapada dos Guimarães
  É a topografia plana dessas unidades que permitiu a intensa mecanização agrícola de vastas áreas do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul ocupadas com o cultivo da soja.
  No extremo oeste do Centro-Sul há uma área de baixas altitudes (entre 100  e 150 metros, que equivale ao Pantanal Mato-grossense ou planície do Pantanal. Ela é formada por terrenos recentes, encontrando-se ainda em processo de sedimentação. Atravessado pelo rio Paraguai, o Pantanal constitui uma planície inundável, em razão das enchentes desse rio e de sua baixa altitude.
Pantanal Mato-grossense
  Em meio à planície do Pantanal, localiza-se um maciço rico em minérios de ferro e manganês: o maciço de Urucum.
  O maciço do Urucum ou Morro do Urucum, recebeu esse nome devido a cor de suas terras que se assemelha ao urucum. É um morro localizado na zona rural de Corumbá, no Mato Grosso do Sul. Famoso por ser a maior e mais culminante formação rochosa do Estado, possui uma altitude de 1.065 metros. Em razão da natureza das suas rochas, o maciço do Urucum se destaca na produção de manganês tipo pirolusita e criptomelana (maior reserva do Brasil e uma das maiores do mundo) e de ferro do tipo hematita e itabirita (terceira maior do Brasil).
Maciço de Urucum
O RELEVO DA AMAZÔNIA
  A maior parte do relevo da Amazônia é dominada pelas depressões. No estado do Tocantins, estendem-se as depressões do Tocantins e do Araguaia; no centro e sul do Pará e de Rondônia, a depressão Sul-amazônica; no norte do Pará e do Amazonas, no Amapá e em Roraima, a Norte-amazônica; no Acre e na maior parte do Amazonas, a da Amazônia Ocidental.
  Principalmente nas faixas de terras mais próximas dos grandes rios, as depressões apresentam baixas altitudes e topografia caracterizada por colinas com cerca de 20 metros de altura.
Depressão Tocantins na cidade de Lizarda - TO
  Os planaltos ocupam áreas restritas dos estados do Pará, Amapá, Rondônia e Amazonas. A porção norte do estado de Roraima é ocupada pelos planaltos Norte-amazônicos, que configuram o divisor de águas das bacias hidrográficas dos rios Orinoco (Venezuela) e Amazonas. Esses planaltos são caracterizados pelas formas tabulares, como o Monte Roraima. Nessa unidade, localizam-se alguns dos pontos culminantes do território brasileiro, como o Pico da Neblina, o ponto mais elevado do Brasil.
Monte Roraima
  O Pico da Neblina está localizado no norte do Amazonas, na Serra do Imeri. É o ponto mais alto do Brasil, com 2.993,78 metros de altitude. No local onde está localizado o Pico da Neblina foi criado o Parque Nacional do Pico da Neblina. O pico localiza-se no município de Santa Isabel do Rio Negro e a cidade mais próxima é São Gabriel da Cachoeira. Próximo ao Pico da Neblina, já na fronteira com a Venezuela, localiza-se o segundo ponto mais elevado do país, o Pico 31 de Março, com 2.972,66 metros de altitude.
Em primeiro plano o Pico 31 de Março e em segundo plano o Pico da Neblina - os pontos mais elevados do território brasileiro
  Na região amazônica, são as planícies fluviais que apresentam áreas mais extensas, situada ao longo das margens dos grandes rios. Elas estão associadas a depósitos de materiais bastante recentes na história geológica da Terra, sendo conhecidas por planícies interioranas.
  Antes dos trabalhos de campo desenvolvidos pelo projeto Radam, acreditava-se que essas faixas de terra fossem planícies fluviais. A copa das árvores da região confundia o observador que as sobrevoava, impedindo a identificação correta.
Planície do rio Amazonas
O RELEVO DO NORDESTE
  Na configuração do relevo nordestino encontram-se duas formas predominantes: planaltos e depressões.
  Praticamente por toda a extensão do Maranhão, Piauí e extremo oeste da Bahia estendem-se os planaltos e as chapadas da bacia do Parnaíba. Na porção sul dessa bacia localiza-se a chapada das Mangabeiras, onde as altitudes atingem mais de mil metros, correspondendo ao divisor de águas dos rios São Francisco e Tocantins.
Chapada das Mangabeiras
  Os outros planaltos da região são os da Borborema e os do Atlântico-Leste-Sudeste. Ao norte desses últimos localiza-se a chapada do Araripe, que separa as duas depressões do Nordeste: a Sertaneja, ao norte, e a do São Francisco, ao sul. Essas depressões apresentam altitudes entre 200 e 500 metros. No caso dos planaltos e chapadas, as altitudes variam entre 500 e 900 metros.
Depressão Sertaneja Setentrional no estado do Ceará
  O planalto da Borborema, também conhecido como Serra da Borborema ou Serra das Russas - antigamente era denominada de Serra da Copaoba -, é uma região montanhosa brasileira localizada no interior do Nordeste. Mede aproximadamente 250 km de norte a sul, localizando-se nos estados de Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. O termo Serra da Borborema e Planalto da Borborema são sinônimos. Borborema, na língua indígena, quer dizer "terra infértil, estéril".
Planalto da Borborema em Gravatá - PE
  O planalto da Borborema (com quase mil metros de altitude) exerce influência sobre o clima da região. Por sua localização, atua como uma barreira para os ventos úmidos que vêm do Atlântico. Isso faz com que esses ventos depositem toda sua umidade na encosta oriental, chegando à outra encosta completamente secos. Essa ausência de umidade torna a área sertaneja - que se inicia logo após o Borborema - a mais seca da região, afetando diretamente a vida da população que habita o local.
Pico do Barbado - localizado entre os municípios de Rio do Pires e Abaíra - BA, é o ponto mais elevado do Nordeste, com 2.033 metros.
  A chapada do Araripe é um planalto localizado entre a divisa dos estados do Ceará, Piauí e Pernambuco. Essa chapada abriga uma floresta nacional, uma área de proteção ambiental e um geoparque.
  A chapada do Araripe é considerada um oásis, pois o seu subsolo apresenta um extenso reservatório de água. As espécies de vegetação que vivem próximo à chapada são abundantes. Dentre essas espécies da flora destacam-se os visgueiros, a faveira e o pequi. As extensas regiões que se situam ao redor da chapada apresentam altitude inferior aos 400 metros.
Chapada do Araripe no município de Crato - CE
  É comum no Nordeste a ocorrência de inselbergs. Os inselbergs são uma forma residual que apresenta feições variadas, como crista, cúpula e domo, cujas encostas mostram declives acentuados, dominando uma superfície de aplainamento superior.
  O termo inselberg, do alemão "monte ilha", foi introduzido pelo geólogo alemão Friedrich Wilhelm Conrad Eduard Bornhardt em 1900 para caracterizar montanhas pré-cambrianas, geralmente monolíticas, de gnaisse e granito que emergem abruptamente do plano que as cerca.
  Esses relevos são considerados "testemunhos", pois resistem ao processo de pediplanação e pedogênese.
Serrote do Espinho Branco - inselberg localizado no município de Patos - PB
FONTE: Lucci, Elian Alabi. Geografia: homem & espaço, 7° ano / Elian Alabi Lucci, Anselmo Lázaro Branco. - 20. ed. - São Paulo: Saraiva, 2010.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

O MILAGRE ECONÔMICO NO BRASIL

  O período da História do Brasil entre os anos de 1969 e 1973, foi marcado por um forte crescimento da economia. Nesta época, o Brasil vivia uma ditadura militar, governado pelo General Médici. Esse período ficou conhecido como "Milagre Econômico", devido ao rápido e excepcional crescimento econômico pelo qual passou o país. Esse crescimento foi alavancado pelo PAEG (Programa de Ação Econômica do Governo), implantado em 1964 durante o governo de Castelo Branco.
  "Sinto-me feliz, todas as noites, quando ligo a televisão para assistir ao jornal. Enquanto as notícias dão conta de greves, agitações, atentados e conflitos em várias partes do mundo, o Brasil marcha em paz, rumo ao desenvolvimento. É como se eu tomasse um tranquilizante após um dia de trabalho."
  Nas palavras do então presidente da República, general Emílio Garrastazu Médici, em março de 1973 o Brasil era uma linha de tranquilidade.
Emílio Garrastazu Médici - ex-presidente do Brasil
O PAPEL DAS ESTATAIS
  Em 1967, assume o comando da economia Antônio Delfim Netto e seu interino José Flávio Pécora. Para Delfim, O PAEG teria provocado uma queda da demanda indesejada, causando recessão e desemprego. Segundo Delfim, o desenvolvimento interno do mercado brasileiro poderia por si só gerar crescimento. Assim, o governo adotou medidas de inspiração keynesiana, aumentando o investimento nas empresas estatais, agora recapitalizadas graças à política da chamada "verdade tarifária" (fixação das tarifas sem influências políticas), que as tornavam lucrativas e competitivas - conceito amplamente defendido pelos economistas e intelectuais brasileiros da época.
  O Estado investiu muito na indústria pesada, siderurgia, petroquímica, construção naval e geração de energia elétrica. O sucesso dessa política econômica promoveu o crescimento da produção de bens duráveis de consumo (automóveis, máquinas de lavar etc.), alcançando a média de 23,6% ao ano, e o de bens de capital (máquinas, equipamentos, instalações para indústrias etc.), 18,1%. As empresas estatais cresceram e, bem administradas, obtiveram lucros imensos.
Delfim Netto - Ministro da Economia na época do "milagre econômico"
 CONCENTRAÇÃO DE RENDA
  Em 1969, com o general Emílio Garrastazu Médici na Presidência da República, os militares da linha dura passaram a governar o país. Durante o governo Médici, os opositores foram perseguidos, presos ou mortos. Muitos deixaram o país.
  Os ministérios foram entregues a militares ou civis que defendiam a participação governamental na economia. Por causa dos grandes investimentos, a economia brasileira cresceu muito, acontecimento que recebeu o nome de "milagre econômico". Essa expressão foi criada nos anos 1970 para definir o que aconteceu no Brasil comandado pelos militares.
  Mas não havia nenhum milagre nesse crescimento. A principal causa da grande atividade econômica daquela época eram os empréstimos tomados pelo governo brasileiro em banco dos Estados Unidos, da Europa e do Japão.
Durante a Ditadura Militar, o país viveu um dos momentos mais tensos da sua história
A FORÇA DA PROPAGANDA
  Com os empréstimos estrangeiros, os governos militares realizaram grandes obras, que eles consideravam necessárias ao crescimento da economia brasileira. Foram feitos investimentos principalmente em obras de infraestrutura (rodovias, ferrovias, portos, telecomunicações, usinas hidrelétricas e nucleares), nas indústrias de base (mineração e siderurgia) e de transformação (papel, cimento, alumínio e fertilizantes).
  Essas obras eram utilizadas também para fazer propaganda do governo, simbolizando sua grandiosidade. O governo usava a expressão "Brasil - grande potência" para traduzir a ideia de uma economia poderosa, que poderia ser alcançada por meio de um crescimento acelerado.
  A ponte Rio-Niterói, a rodovia Transamazônica, as enormes usinas hidrelétricas de Itaipu e Tucuruí e a Usina Siderúrgica de Tubarão, no Espírito Santo, são algumas das obras "faraônicas" dessa época.
Ponte Rio-Niterói - uma das obras "faraônicas" do Milagre Econômico
  A propaganda dos governos militares também se aproveitava de acontecimentos esportivos, como o milésimo gol de Pelé e a vitória da Seleção Brasileira de futebol na Copa do Mundo do México, em 1970.
  Depois do milésimo gol, marcado em novembro de 1969, Pelé desfilou em carro aberto em Brasília e foi recebido pelo presidente Médici, que lhe concedeu uma medalha e o título de comendador. Os vencedores da Copa do Mundo de 1970 receberam tratamento semelhante.
Jogadores da Seleção Brasileira de 1970 pousando ao lado do presidente Médici em Brasília
  As datas comemorativas, como o 7 de Setembro, também foram transformadas em ocasiões para louvar os militares. Era comum ver alunos marchando como soldados em cerimônias públicas. O dia 31 de março era festejado nas escolas, com alunos em fila para ouvir discursos e cantar o Hino Nacional em comemoração à chamada "Revolução de 1964".
UM BOLO MAL DIVIDIDO
  O crescimento econômico promovido durante a ditadura permitiu a criação de muitos empregos. As grandes obras contratavam milhares de trabalhadores. Muitos tipos de material, como ferro, cimento, madeira e caminhões, deviam ser produzidos para alimentar as obras, exigindo ainda mais mão de obra.
  O número de pobres, no entanto, não diminuiu. Os salários continuaram baixos, pois, segundo o governo, as empresas precisavam ter muito lucro para poder investir continuamente. A riqueza acumulada dentro do país se tornou maior, porém bastante desigual. Depois de alguns anos de ditadura, a renda dos brasileiros ricos cresceu muito mais que a dos pobres, agravando a concentração de renda, problema que persiste até os dias atuais.
Contraste da desigualdade econômica em São Paulo - SP
O FIM DO MILAGRE
  Em 1973, ocorreu uma guerra entre Israel e alguns países árabes, como o Egito e a Síria, que ficou conhecida como Guerra do Yom Kippur. Os Estados Unidos e diversos países da Europa Ocidental apoiaram Israel. Para pressioná-los a retirar esse apoio, alguns países árabes diminuíram a produção de petróleo e quadruplicaram o seu preço, provocando uma séria crise econômica no mundo. Os países da Europa e o Japão foram os mais atingidos, pois não produzem petróleo.
  Reunidos em torno da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e donos de dois terços das reservas de petróleo do mundo, países como a Arábia Saudita, Irã, Iraque e Kuwait, tinham poder suficiente para controlar o preço do petróleo.
  A economia brasileira foi muitíssimo afetada por essa crise, pois dependia da importação de petróleo. Além disso, em 1979, uma revolução no Irã afetou as exportações de petróleo daquele país, provocando uma nova crise mundial que também atingiu a economia brasileira na década de 1970. O "milagre econômico" deu lugar a um período de pouco crescimento.
A crise de petróleo no mundo contribuiu para o fim do "milagre econômico" no Brasil
  O resultado desse falso "milagre econômico", foi o aumento da dívida externa, que chegou à US$ 90 bilhões na época. Para pagá-la, eram usados 90% da receita oriunda das exportações, e o Brasil entrou numa fortíssima recessão econômica que duraria até a década de 1990, provocando um aumento considerável do desemprego e da inflação.
FONTE: Cardoso, Oldimar. Leituras da história, 9º ano / Oldimar Cardoso. -- São Paulo: Escala Educacional, 2012. -- (Leituras da história)

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