domingo, 21 de setembro de 2014

A AGROPECUÁRIA TRADICIONAL DE SUBSISTÊNCIA

  Durante o século XX a agropecuária comercial moderna foi introduzida em várias partes do mundo, alterando as práticas agrícolas, os ecossistemas, os hábitos das populações e, consequentemente, as paisagens geográficas. No entanto, é importante ressaltar que existem ainda grandes extensões de terra, sobretudo nos países subdesenvolvidos, em que, por meio da utilização de práticas arcaicas, cultivam-se alimentos como o arroz, o feijão, a mandioca e a batata e criam-se bovinos, caprinos e ovinos.
  De maneira geral, as atividades ligadas à agropecuária tradicional de subsistência são desenvolvidas por meio de técnicas seculares de cultivo (como o terraceamento e o pousio) e de pastoreio (como a transumância). São exemplos de sistemas tradicionais a atividade rizicultora na Ásia, a agricultura itinerante ou de roça na América do Sul e na África e o pastoreio nômade na África. Nesses sistemas agrícolas, as tarefas diárias são desenvolvidas por famílias camponesas dentro de suas propriedades (mão de obra familiar) ou ainda, como no caso da atividade rizicultora asiática, por todos os integrantes da comunidade, em uma área de propriedade coletiva.
  Para os camponeses, a terra é um meio de garantir a subsistência da família e da comunidade a que pertencem. Os excedentes da produção são trocados ou vendidos para que possam ser adquiridos bens não produzidos nas propriedades ou nas terras comunais. Portanto, mantêm-se nesses lugares relações de produção muito diversas das presentes na agropecuária capitalista moderna.
Irrigação em cultivo de milho, em Dourados - MS
  O modelo econômico capitalista atingiu a produção agrícola, na qual ocorreu um rápido processo de modernização no campo (mecanização, utilização de defensivos agrícolas, sementes geneticamente modificadas, etc.) visando à maximização da produção. Esse fenômeno foi responsável pela redução do campesinato ou do pequeno produtor de subsistência. Entretanto, essa modalidade da agricultura resiste à modernização e é muito praticada em várias partes do mundo, especialmente na América Latina, Ásia e África.
  A agricultura de subsistência se caracteriza pela utilização de métodos tradicionais de cultivo, realizados por famílias camponesas ou por comunidades rurais. Essa modalidade é desenvolvida, geralmente, em pequenas propriedades e a produção é bem inferior se comparada às áreas rurais mecanizadas. Contudo, o camponês estabelece relações de produção para garantir a subsistência da família e da comunidade a que pertence.
Agricultura de subsistência em Carnaúba dos Dantas - RN
AGRICULTURA ITINERANTE
  A agricultura itinerante (ou de roça, como também é conhecida no Brasil) desenvolve-se plenamente em áreas pouco integradas ao sistema agrícola capitalista, principalmente nas regiões interioranas da América Latina e da África Subsaariana. Nesse sistema agrícola, geralmente aplicado em pequenas propriedades rurais ou em áreas de posse, emprega-se mão de obra familiar e técnicas bastante rudimentares de cultivo. Uma delas consiste em derrubar a floresta ou a mata próxima ao local onde os camponeses estão sediados. Em seguida, ateia-se fogo na capoeira remanescente da derrubada, a chamada queimada, como forma de limpar o terreno para o preparo do solo e para a semeadura.
  Por meio da utilização continuada dessas técnicas tradicionais, em poucos anos tem-se uma rápida exaustão da fertilidade dos solos, fato que obriga as famílias camponesas a buscarem novas áreas para o cultivo, mantendo-as em constante deslocamento (daí a denominação  de agricultura itinerante para esse sistema agrícola). A área abandonada, por sua vez, entra em um período de pousio, que permite a regeneração parcial da fertilidade do solo.
Agricultura itinerante em Senegal - África
  São características da agricultura itinerante:
  •  ao não fazer uso de técnicas corretas de manuseamento como: adubar e construir trechos de água, somados a ação das chuvas ou da falta de chuvas, a terra poderá vir a esgotar-se de uma maneira mais rápida e levar o agricultor a abandoná-la e usar o método em outra área, o que pode fazer com que tudo torne a acontecer, acarretando em mais desmatamento, mesmo que seja sem a intenção de fazê-lo;
  • manuseio por mão de obra familiar e uso de técnicas tradicionais e rudimentares;
  • alimentos mais produzidos: milho, nabo, feijão, mandioca, rabenete, entre outros.
Esquema da agricultura itinerante
RIZICULTURA ASIÁTICA
  Na Ásia, continente mais populoso do mundo, há grande demanda por alimentos. Por isso, as áreas rurais são intensamente aproveitadas, sobretudo para o cultivo de arroz, base da alimentação de grande parte da população dos países asiáticos.
  A escassez de áreas para cultivo levou os camponeses asiáticos a praticar a rizicultura mesmo em lugares onde o relevo é muito acidentado, como nas encostas das montanhas. Isso foi possível graças ao emprego da técnica de terraceamento, isto é, a construção de "degraus" (terraços) em áreas de encostas íngremes, que aumenta a área cultivável de arroz e protegem os terrenos da ação erosiva das águas pluviais. Além da rizicultura em terraços, também são cultivadas áreas de planícies inundáveis, por meio do sistema de jardinagem.
Cultivo do arroz na Indonésia
  A agricultura de jardinagem é praticado em pequenas e médias propriedades cultivadas pelo dono da terra e sua família ou em parcelas de grandes propriedades. Nelas é obtida alta produtividade, através da seleção de sementes, da utilização de fertilizantes, da aplicação de avanços biotecnológicos e de técnicas de preservação do solo que permitem a fixação da família na propriedade por tempo indeterminado.
  Em países como Filipinas, Tailândia, Indonésia, entre outros, devido a elevada densidade demográfica, as famílias contam com áreas muitas vezes inferiores a 1 hectare e as condições de vida são bastante precárias. Em países que realizam a reforma agrária, como Japão e Taiwan, e ao redor dos grandes centros urbanos de áreas tropicais, após a comercialização da produção e a realização de investimentos para a nova safra, há um excedente de capital que permite melhorar, a cada ano, as condições de trabalho e a qualidade de vida da família.
Agricultura de jardinagem na Índia
  A agricultura de terraços, de terraceamento ou de curva de nível é uma técnica agrícola e geográfica de conservação do solo, destinada ao controle de erosão hídrica, utilizada em terrenos muito inclinados. Baseia-se no parcelamento de rampas niveladas, requerendo muita mão de obra, elevados conhecimentos técnicos e pouca mecanização por causa da dificuldade na utilização de máquinas em ambientes mais íngremes. Quando bem planejado e bem construído, reduz as perdas de solo e água pela erosão e previne a formação de sulcos e grotas. São comuns esse tipo de cultivo em regiões do sul e sudeste da Ásia, na China e no Japão, sendo utilizado principalmente na produção de arroz.
Agricultura de terraceamento na China
  Essas técnicas são empregadas há mais de 2 mil anos e exigem o trabalho contínuo e conjunto dos camponeses em todas as etapas da produção: no plantio e no replantio de mudas, no controle de pragas e do nível da água armazenada nos terraços e na colheita dos grãos. Em muitas ocasiões, famílias inteiras trabalham em áreas agrícolas comunais, e dividem equitativamente as safras.
Esquema da rizicultura
PASTOREIO NÔMADE NA ÁFRICA
  O pastoreio nômade é uma prática pecuária tradicional que ainda persiste em algumas partes do mundo, especialmente onde a agricultura é impraticável ou antieconômica, como em áreas desérticas ou semidesérticas do planeta.
  Na região do Sahel, área que margeia o sul do deserto do Saara, na África, diversos povos praticam o pastoreio nômade. Na estação úmida, eles conduzem seus rebanhos (ovinos, bovinos, equinos e de camelos) para as áreas de pastagens na estepe, que ficam ao norte. Quando começa o período de estiagem, os pastores migram para o sul, nas áreas de campos de Savanas, onde permanecem até o ciclo de chuvas seguinte.
Pastoreio nômade no Sudão
AGRICULTURA DE POUSIO E A ROTAÇÃO DE CULTURAS
  A agricultura de pousio refere-se ao descanso ou repouso proporcionado às terras cultiváveis, interrompendo-lhe as culturas para tornar o solo mais fértil. Além desta finalidade, pode ser usado como meio de controle de ervas daninhas, consorciada a outras práticas, como a rotação de culturas.
  O pousio aumenta a recuperação da bioestrutura do solo e a profundidade do enraizamento, tendo como consequência o aumento das trocas de substâncias umidificadas e seu reabastecimento, como ocorre bastante em regiões tropicais.
  A prática é comum entre pequenos agricultores que, após o plantio por três anos consecutivos, deixam a área em pousio por 3 a 5 anos o que, a depender do local, não é suficiente para a recuperação da fertilidade; em tais casos, recomenda-se o uso de leguminosas para acelerar a recuperação, pois esta promove a fixação de nitrogênio.
  A rotação de culturas é uma técnica agrícola de conservação que visa diminuir a exaustão do solo. Isto é feito trocando as culturas a cada novo plantio de forma que as necessidades de adubação sejam diferentes a cada ciclo. Consiste em alternar espécies vegetais numa mesma área agrícola. As espécies escolhidas devem ter, ao mesmo tempo, propósitos comercial e de recuperação do solo.
Esquema da rotação de cultura e agricultura de pousio
FONTE: Boligian, Levon. Geografia espaço e vivência, vol. 2 / Levon Boligian, Andressa Turcatel Alves Boligian. -- 2. ed. -- São Paulo: Saraiva, 2013.

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