A Revolução de Jasmim, também chamada Revolução Tunisiana de 2010-2011, é uma sucessão de manifestações insurrecionais ocorrida na Tunísia entre dezembro de 2010 e janeiro de 2011, que levou à saída do presidente da República, Zine El Abidine Ben Ali, que ocupava o cargo desde 1987.
País de colonização francesa, que se tornou independente em 1956, a Tunísia era governada em 2010 por Zine El Albidine Ben Ali. O ditador criou um sistema no qual foi reeleito cinco vezes.
A família de Ben Ali comandava os negócios de setores estratégicos do país, como o turismo, que nos últimos anos foi uma aposta do governo. Entretanto, oferecer suas belezas naturais e seu patrimônio histórico à visita de turistas como forma de gerar riqueza causou desconforto entre a população. Muita gente começou a questionar essas ações, dando origem a mais uma fonte de insatisfação contra o governo de Ben Ali, que era acusado de ser antidemocrático e corrupto.
Zine El Abidine Ben Ali (1936-2019) - ditador e ex-presidente da Tunísia
Em 18 de dezembro de 2010, um jovem chamado Mohamed Buazizi ateou fogo ao próprio corpo como forma de protesto contra a corrupção policial. Buazizi tinha uma barraca de frutas, que foi confiscada pela polícia porque o jovem se recusou a pagar propina. A ação do jovem foi o estopim para que começasse uma onda de protestos pelo país.
Os protestos na Tunísia prosseguiram ao longo de janeiro de 2011, estimulados por um excessivo aumento dos preços dos alimentos básicos, que veio a aumentar a insatisfação popular diante do elevado desemprego, das más condições de vida da maior parte da população tunisiana e da corrupção do governo.
O presidente Zine el-Abidine Ben Ali, no poder há 24 anos, exigiu a cessação de disparos indiscriminados das forças de segurança contra os manifestantes e afirmou que deixaria o poder em 2014, prometendo também liberdade de imprensa para todos os meios de comunicação, incluindo a internet.
O povo se reuniu em diversas situações nas ruas, com presença maciça dos jovens, até que, em 14 de janeiro de 2011, Ben Ali fugiu da Tunísia para a Arábia Saudita. Os vários enfrentamentos com a polícia do governo deram resultado positivo para os manifestantes. Como as manifestações foram muito bem-sucedidas e duraram menos de um mês, esse movimento popular contra o governo de Ben Ali foi chamado de Revolução de Jasmim; era a primeira "flor que brotava" da Primavera Árabe.
Manifestantes antigoverno agitando a Bandeira da Tunísia, em 23 de janeiro de 2011
Logo após a saída do presidente Ben Ali, foi formado um novo governo de transição até a posse de outros dirigentes eleitos. O Conselho Constitucional da Tunísia designou o presidente do Parlamento, Fouad Mebazaâ, como Presidente da República de forma interina, com base no artigo 57 da Constituição do país. Essa nomeação e a constituição de um novo governo dirigido pelo primeiro-ministro demissionário Mohamed Ghannouchi não resolveram a crise. O controle de oito ministérios pelo partido de Ben Ali, o Rassemblement Constitutionnel Démocratique, é contestado pelo oposição e pelos manifestantes.
Em 27 de janeiro, sob a pressão popular e sindical, um novo governo, sem os caciques do antigo regime, é anunciado pelo primeiro-ministro Ghannouchi, mantido na função. As manifestações e a violência continuaram após essa data. O povo tunisiano pressionou por mudanças políticas e sociais mais amplas. O premier Ghannouchi anunciou sua demissão em 27 de fevereiro de 2011. Um Tribunal de Túnis proibiu a atuação do antigo partido governante e confiscou todos os seus recursos. Um decreto do Ministro do Interior proibiu também a "polícia política", que eram forças especiais usadas para intimidar e perseguir ativistas políticos durante o regime de Ben Ali.
A Tunísia é vista pela comunidade internacional como o único caso de sucesso da Primavera Árabe. Eleições foram realizadas e as tensões entre as forças islâmicas e laicas não se converteram em um confronto armado graças ao papel de mediação da sociedade civil que, por isso, obteve o Nobel da Paz em 2015.
14 de janeiro de 2011: com barricadas e incêndios, manifestantes tentam impedir a passagem da polícia
A tragédia pessoal de Pingas desencadeou os protestos que acabaram por provocar uma onda revolucionária que envolveu toda a Tunísia e espalhou-se pelo Mundo Árabe, do Norte da África ao Oriente Médio, alastrando-se por Egito, Líbia, Argélia, Bahrein, Iêmen, Marrocos, Jordânia e Síria, países que, durante décadas, viveram sob ditaduras - muitas das quais apoiadas pelo Ocidente, embora acusadas de violações constantes dos direitos humanos e de impor severas restrições da liberdade de expressão. Além disso, as populações desses países têm convivido com altos índices de desemprego e pobreza apesar de as elites dirigentes acumularem fortunas.
Mapa com os países que enfrentaram os protestos da Primavera Árabe
Presente em diversas civilizações ao longo da história, a escravidão é uma das modalidades mais antigas de exploração do homem pelo homem. No Egito, na Grécia Clássica ou no Império Romano, boa parte das atividades produtivas era desenvolvida através do uso de escravos, normalmente obtidos a partir da detenção de inimigos de guerra. Com o passar dos anos, o trabalho escravo pôde ser observado em tantas outras sociedades, adquirindo características específicas de seu tempo.
No período colonial da América portuguesa, o continente africano se caracterizava pela enorme riqueza e diversidade cultural, contando com a presença de variados povos, reinos, impérios, cidades dinâmicas e populosas, portos movimentados e intensos fluxos comerciais, além de considerável desenvolvimento técnico e do uso da escrita em algumas sociedades.
Nos reinos africanos, desde a Antiguidade, pessoas eram escravizadas e vendidas para mercados da Europa e da Ásia em decorrência de guerras entre distintas etnias. Em geral, tornavam-se cativas as pessoas aprisionadas em guerras, as que cometiam crimes ou as que não conseguiam pagar suas dívidas.
Pintura de Gustave Boulanger (1824-1888), retratando um mercado de escravos na Antiguidade
Foi a partir do século XV, quando os europeus criaram novas rotas de comércio para as Índias, ocupando e colonizando a costa atlântica da África, que a venda de escravizados passou a ser uma atividade comercial muito lucrativa, sendo ampliada em escala intercontinental. Em troca de vários produtos, os chefes africanos forneciam seus cativos para os traficantes europeus, que os traziam para a América em navios.
A vinda de escravizados para o Brasil atendia duas atividades principais: à nascente economia canavieira nordestina, à extração de pedras preciosas na região de Minas Gerais, à economia cafeeira no século XIX e ao próprio tráfico, muito lucrativo para as potências europeias. Por vários séculos, o trabalho dos escravizados sustentou a economia colonial no Brasil.
Entretanto, o trabalho escravo não se fazia presente somente nessas grandes atividades. As casas das famílias coloniais mais abastadas, por exemplo, possuíam um bom número de serviçais, os "escravos domésticos". Havia ainda os "escravos tigres" cujas obrigações eram de extrema importância em tempos de precário saneamento básico: deveriam levar tonéis cheios de fezes das casas ao local de despejo mais próximo. Por razões óbvias, tais escravos também eram chamados de "enfezados".
Muitos escravos gozavam de grande confiança de seus senhores. Alguns, inclusive, eram escolhidos para comercializarem seus produtos em lugares distantes do cativeiro. Conhecidos como "escravos de ganho", circulavam pelas cidades e em outros centros de comércio, exemplificando o relevante grau de autonomia que alguns escravos possuíam.
Uma família brasileira do século XIX sendo servida por escravos, pintado por Jean-Baptiste Debret
A proveniência dos escravos percorria toda a costa oeste da África, passando por Cabo Verde, Congo, Quíloa e Zimbábue. Dividiam-se em três grupos: sudaneses, guinenos-sudaneses muçulmanos e bantus. Cada um desses grupos representava determinada região do continente e tinha um destino característicos no desenrolar do comércio.
Os sudaneses dividiam-se em três subgrupos: iorubas, gegês e fanti-ashantis, Esse grupo tinha origem do que hoje é representado pela Nigéria, Daomei (atual Benin) e Costa do Ouro (região da costa da Guiné) e seu destino geralmente era a Bahia. Já os bantus, grupo mais numeroso, dividiam-se em dois subgrupos: angola-congoleses e moçambiques. A origem desse grupo estava ligada ao que hoje representa Angola, República Democrática do Congo (ex-Zaire) e Moçambique (correspondentes ao centro-sul do continente africano) e tinha como destino Maranhão, Pará, Pernambuco, Alagoas, Rio de Janeiro e São Paulo. Os guineanos-sudaneses muçulmanos dividiam-se em quatro subgrupos: fula, mandinga, haussas e tapas. Esse grupo tinha a mesma origem e destino dos sudaneses, a diferença estava no fato de serem convertidos ao islamismo.
A travessia dos africanos escravizados para a América podia durar até 40 dias em embarcações superlotadas. A falta de higiene, ventilação, água e comida faziam com que muitos adoecessem. Cerca de 20% dos cativos morriam antes de chegar ao Brasil.
Mapa mostrando as principais rotas de comércio de escravos na África
Escravidão no Brasil: resistências e alternativas
Na sociedade colonial, os brancos ocupavam a condição de proprietários de terra, camponeses, trabalhadores urbanos ou aventureiros. Mesmo desempenhando os mais diversos papéis no sistema produtivo e na hierarquia social, tinham uma característica comum: eram pessoas livres em uma sociedade movida pelo trabalho de escravizados.
Em 1535 chegou à Salvador (BA), o primeiro navio com negros escravizados. Este é o marco do início da escravidão no Brasil, que só terminaria 353 anos depois, em 13 de maio de 1888, com a Lei Áurea.
As primeiras pessoas a serem escravizadas na colônia foram os indígenas. Posteriormente, negros africanos seriam capturados em possessões portuguesas como Angola e Moçambique e regiões como o Reino de Daomé, e trazidos à força ao Brasil para serem escravizados.
Entre 1551 e 1850, aportaram no Brasil aproximadamente 5,5 milhões de africanos escravizados pertencentes a diversas etnias, com costumes, religiões e línguas diferentes, vindos da Ilha de São Tomé, de Angola (pelos portos de Luanda e Benguela), da Costa da Mina (que hoje corresponde ao litoral de Gana à Nigéria) e de Moçambique. Mesmo após a proibição do tráfico de escravizados, decretada em 1850, pelo menos 6,5 mil africanos desembarcaram de navios clandestinos entre 1851 e 1855.
Quadro de Johann Moritz Rugendas (1802-1858), retratando o interior de um navio negreiro
Os africanos começaram a chegar à colônia portuguesa da América em meados do século XVI. Os primeiros grupos de escravizados foram comprados pelos senhores de engenho da Zona da Mata nordestina. No século XVII, com a expansão da cultura canavieira, a economia escravocrata se estendeu até o Maranhão. No século XVIII, a descoberta de metais preciosos na região de Minas Gerais impulsionou ainda mais o mercado escravista.
As condições de escravidão no Brasil eram as piores possíveis e a vida útil de uma pessoa escravizada adulta não passava de 10 anos.
Após a sua captura na África, os seres humanos escravizados enfrentavam a perigosa travessia da África para o Brasil nos porões dos navios negreiros, onde muitos morriam antes de chegar ao destino.
Após vendidos, passavam a trabalhar de sol a sol, recebendo uma alimentação de péssima qualidade, vestindo trapos e habitando as senzalas. Normalmente, tratava-se de locais escuros, úmidos e com pouca higiene, adaptado para evitar fugas.
Errar não era permitido e poderia ser punível com castigos dolorosos. Eram proibidos de professar sua fé ou de realizar suas festas e rituais, tendo que fazer isso às escondidas. Afinal, a maioria das pessoas escravizadas vinham da África já batizadas e era suposto que abraçassem a fé católica. Daí surge o sincretismo que verificamos no Candomblé praticado no Brasil.
As mulheres negras eram exploradas sexualmente e usadas como mão de obra para trabalhos domésticos. Não era incomum que as mulheres escravizadas recorressem ao aborto para impedir que seus filhos não tivessem a mesma sorte.
Mercado de escravos no Recife, pelo desenhista alemão Zacharias Wagner (entre 1637 e 1644). Pernambuco foi o berço da escravidão indígena e africana no Brasil
Desde os primeiros tempos da colonização, os escravizados protagonizaram inúmeros episódios de rebelião na forma de insubmissão, violência contra os feitores e fuga para os sertões para resistir à escravidão e aos maus-tratos. Quando fugiam, os capitães do mato perseguiam as pessoas escravizadas. A maior parte dos rebelados era recapturada, mas muitos conseguiam escapar e refugiar-se em quilombos. A obtenção da liberdade só era conseguida quando escapavam para os quilombos ou quando conseguiam comprar a carta de alforria.
As comunidades quilombolas se formaram a partir de variadas situações de resistência territorial, social e cultural.
Atualmente, as comunidades remanescentes de quilombolas lutam pela regularização de seus territórios. Apesar de a Constituição Federal de 1988 garantir o direito à terra, a entrega de títulos tem demorado a acontecer. Por essa razão, as comunidades enfrentam diversos conflitos para garantir a permanência de seus integrantes nas terras que já ocupam historicamente.
Após a abolição da escravatura, uma quantidade muito reduzida de libertos conseguiu comprar terras ou as recebeu como pagamento por prestação de serviços ou por doações, e conseguiu formar grupos que mantiveram e reproduziram seu modo de vida. A grande maioria dos negros libertos, no entanto, fixou-se nas áreas periféricas das cidades brasileiras.
Quadro de 1824 do pintor inglês Edward Francis Finden, retratando um mercado de escravos no Rio de Janeiro
Terrorismo é o uso da violência, física ou psicológica, por meio de ataques localizados a elementos ou instalações de um governo ou da população governada, de modo a incutir medo, pânico e, assim, obter efeitos psicológicos que ultrapassem largamente o círculo das vítimas, incluindo o restante da população do território. É utilizado por uma grande gama de instituições como forma de alcançar seus objetivos, como organizações políticas, grupos separatistas e até por governos no poder.
O terrorismo originou-se no século I d.C., quando um grupo de judeus radicais, chamados de sicários (Homens de Punhal), atacavam cidadãos judeus e não judeus que eram considerados a favor do domínio romano. Nessa época também havia uma grande perseguição aos cristãos pelo Império Romano, que praticava práticas terroristas para acusar os cristãos de tais crimes. Outros indícios que confirmam as origens remotas do terrorismo são os registros da existência de uma seita muçulmana, no final do século XI d.C., que se dedicou a exterminar seus inimigos no Oriente Médio. Dessa seita teria surgido a origem da palavra "assassino". Mas foi no século XXI que ele se acentuou e que o discurso terrorista virou assunto recorrente na mídia Ocidental.
Cristãos sendo usados como tochas humanas, na perseguição sob Nero, por Henry Siemiradzki. Museu Nacional, Cracóvia, Polônia, 1876.
Terrorismo moderno
O terrorismo moderno tem sua origem no século XIX no contexto europeu, quando grupos anarquistas viam no Estado seu principal inimigo. A principal ação terrorista naquele período visava à luta armada para constituição de uma sociedade sem Estado - para isso, os anarquistas tinham como principal alvo algum chefe de Estado, e não seus cidadãos.
Durante a segunda metade do século XIX, as ações terrorista tiveram uma ascensão. Porém, no século XX, houve uma expansão dos grupos que optaram pelo terrorismo como forma de luta. Como consequência dessa expansão, o raio de atuação terrorista aumentou, surgindo novos grupos, como os separatistas bascos na Espanha, os curdos na Turquia e no Iraque, os muçulmanos na Caxemira e as organizações paramilitares racistas de extrema-direita nos Estados Unidos. Um dos seguidores dessa última organização foi Timothy James McVeigh, terrorista que assassinou 168 pessoas em 1995, no conhecido Atentado de Oklahoma.
Com o desenvolvimento da ciência e tecnologia no século XX, as ações terroristas passaram a ter um maior alcance e poder por meio de conexões globais sofisticadas, uso de tecnologia bélica de alto poder destrutivo, redes de comunicação (internet), entre outros.
Edifício Federal Alfred P. Murrah após o Atentado de Oklahoma City
Terrorismo no século XXI
No início do século XXI, principalmente após os ataques terroristas aos Estados Unidos, estudiosos classificaram o terrorismo em quatro formas:
Terrorismo revolucionário - surgiu no século XX e seus praticantes ficaram conhecidos como guerrilheiros urbanos marxistas (maoístas, castristas, trotskistas e leninistas);
Terrorismo nacionalista - fundado por grupos que desejavam formar um novo Estado-nação dentro de um Estado já existente (separação territorial), como no caso do grupo terrorista separatista ETA (Euskadi Ta Askatasuna -Pátria Basca e Liberdade) na Espanha (o povo Basco não se identifica como espanhol, mas ocupa o território espanhol e é submetido ao governo da Espanha);
Terrorismo de Estado - é praticado pelos Estados nacionais e seus atos integram duas ações. A primeira seria o terrorismo praticado contra a sua própria população. Foram exemplos dessa forma de terrorismo: os Estados totalitários fascistas e nazistas, a ditadura militar brasileira e a ditadura Pinochet no Chile. A segunda forma constituiu-se como uma luta contra a população estrangeira (xenofobia);
Terrorismo de organizações criminosas - são atos de violência praticados por fins econômicos e religiosos, como nos casos da máfia italiana, do Cartel de Medellín, da Al Qaeda, entre outros.
Corpos de guerrilheiros da Guerrilha do Araguaia com as mãos amarradas na década de 1970. Essa guerrilha praticava um terrorismo revolucionário
O Atentado de 11 de Setembro de 2001
No dia 11 de setembro de 2001, membros da rede terrorista Al-Qaeda, constituída por extremistas islâmicos, sequestraram quatro aviões nos Estados Unidos. Dois deles foram lançados sobre as torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York; outro sobre o Pentágono, a sede do Departamento de Defesa do país, próximo à capital Washington. O último foi derrubado pelas forças militares oficiais. Este foi o maior ataque estrangeiro ao território estadunidense desde 1812, ano da guerra contra o Canadá, então colônia inglesa.
Os ataques terroristas de 2001 mataram cerca de 3 mil pessoas. A resposta do governo dos Estados Unidos, nos anos seguintes, foi de reafirmação de seu poder militar por meio da Doutrina Bush, uma espécie de cruzada contra o que o então presidente estadunidense, George W. Bush, denominou "eixo do mal". A ação dirigia-se contra grupos e países que contestavam a hegemonia dos Estados Unidos, como a Coreia do Norte, o Irã e o Iraque. A primeira incursão da Doutrina Bush, no entanto, foi no Afeganistão, país que estava sob o regime Talibã, grupo fundamentalista islâmico, e que abrigava bases de operação da Al-Qaeda.
Vídeo mostrando o momento do ataque às torres do World Trade Center
Apoiado por outros países, como o Reino Unido, os ataques estadunidenses foram extensos e provocaram grandes destruições. Em poucas semanas, o governo afegão seria vencido e substituído por representantes de grupos mais alinhados com os Estados Unidos. O controle territorial, porém, se estenderia por longos anos, mais precisamente até o final de 2014, quando oficialmente a missão foi encerrada. Ao final da década de 2010, porém, as ações militares dos Estados Unidos ainda continuavam na região, principalmente em áreas de atuação de grupos fundamentalistas.
Desde 14 de abril de 2021, quando o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou a retirada de todas as tropas americanas do Afeganistão, os talibãs começaram a assumir o controle do país, retomando definitivamente o poder no país desde agosto de 2021.
Militantes do Talibã
A Guerra do Iraque
Após o Afeganistão, o alvo do governo dos Estados Unidos foi o Iraque, sob a alegação de suspeita de produzir armamentos de destruição em massa e de patrocinar o terrorismo internacional, o que era negado pelo governo local, comandado à época pelo ditador Saddam Hussein (1937-2006). Em 2003, mesmo sem a autorização da ONU, uma coalizão de países sob a liderança de Estados Unidos e Reino Unido deu início à invasão do Iraque.
Assim como ocorreu no Afeganistão, os ataques foram intensos e provocaram grandes estragos, com a desorganização da sociedade local. Em algumas semanas, o governo de Saddam Hussein foi destituído. Investigações revelaram, entretanto, que o Iraque não possuía armas de destruição em massa e que vários relatórios dos países agressores tinham sido forjados para justificar a guerra.
A presença das tropas estadunidenses e de aliados no território iraquiano se estenderia por longos anos, mas com intenso movimento de resistência, o que provocou a morte de mais de 100 mil pessoas. Oficialmente, as tropas estadunidenses só se retirariam do país em 2011. Longe de haver estabilidade, o governo local se viu imerso em diversos conflitos internos, muitos deles envolvendo grupos islâmicos fundamentalistas. Com isso, tropas dos Estados Unidos mantiveram-se presentes no país nos anos seguintes.
Dois tanques de guerra americanos M1 Abrams das forças de ocupação da Coalizão em frente ao monumento das "Mãos da Vitória", no centro de Bagdá, em 2003
O aumento do extremismo
As intervenções estrangeiras dos últimos anos no Oriente Médio resultaram em inúmeras consequências, entre elas o fortalecimento de grupos extremistas após a Guerra do Iraque (2003-2011). Muitos desses grupos se estruturaram para resistir à ocupação do país, promovendo ações suicidas e práticas terroristas para atingir as principais potências internacionais, mas que também se voltavam contra a população local.
Foi assim que ali se fortaleceu um grupo extremista ligado à Al-Qaeda, que a partir de 2006 passaria a se identificar como Estado Islâmico (EI), cujo principal objetivo era delimitar um território na região para reunir a população sunita, o segmento majoritário do islamismo. Após a saída das tropas estadunidenses do país, em 2011, o EI intensificou sua atuação, que ganharia maior abrangência com a eclosão de uma guerra civil na Síria.
Militante do Estado Islâmico carregando a bandeira do grupo
Iniciado em 2011, o conflito sírio teve origem na chamada Primavera Árabe, um conjunto de manifestações populares que se arrastou por diversos países do Oriente Médio e do Norte da África a partir de 2010 e que resultou na queda de diversos governos locais, como ocorreu na Tunísia e no Egito. Na Síria, o governo permaneceu devido a uma forte repressão imposta a seus opositores, o que provocou intensa reação da população local contra o regime comandado por Bashar al-Assad. O cenário de conflito favoreceu a atuação do Estado Islâmico na Síria, que passou a colaborar com os rebeldes que lutavam contra o governo.
Explosão de um carro bomba feita na base aérea de Menagh, em território sírio, em 2017, executada por um suicida ligado ao Estado Islâmico. Conforme o grupo ia perdendo terreno e influência, seus militantes passaram a realizar centenas de atentados (a maioria suicidas) contra cidades da Síria e do Iraque e por outras regiões do Oriente Médio.
Nos anos seguintes, o acirramento da guerra civil na Síria provocou uma dramática movimentação de refugiados, principalmente em direção a países vizinhos e à Europa, onde encontraram forte resistência para sua aceitação.
Em 2014, extremistas do EI na Síria e no Iraque declararam a formação de um califado nos territórios ocupados. O grupo passou a chamar a atenção do mundo todo devido à adoção de práticas de extrema violência, divulgando vídeos com a execução sumária de seus prisioneiros, entre eles, cidadãos estrangeiros naturais das grandes potências.
A situação levou o governo dos Estados Unidos a anunciar estratégias militares para combater o EI, especialmente por meio de ataques aéreos aos territórios controlados pelos extremistas. Porém, a partir de então, viu-se a disseminação de ataques terroristas assumidos pelo grupo em diversos países do mundo.
Em novembro de 2015, um desses ataques ocorreu em Paris, na França, provocando a morte de 130 pessoas. Os alvos foram uma casa de espetáculos, um estádio de futebol e uma área repleta de restaurantes. No ano seguinte, os ataques se repetiram em Bruxelas, na Bélgica, no aeroporto e em uma estação de metrô, fazendo 32 vítimas fatais.
Em laranja, o território reivindicado pelo Estado Islâmico
FONTE: Palavra de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas: Mundo contemporâneo: tensões, conflitos e cooperação / Arno Aloísio Goettems ... [et al.]. São Paulo: Palavras Projetos Editoriais 2020 (pág. 134/135)
A Guerra do Vietnã, iniciada em 1959 e estendida até 1975, foi o enfrentamento entre o Vietnã do Norte e o Vietnã do Sul, ambos lutando pela unificação do país sob seu domínio. O conflito no Vietnã contou, a partir de 1965, com a participação ativa dos Estados Unidos, o qual lutou ao lado das tropas do Vietnã do Sul contra as forças do Vietnã do Norte. A atuação americana nessa guerra fez parte de sua política de contenção do comunismo em nível internacional durante o período da Guerra Fria.
Ao longo dos anos 1960, a agressividade da política externa do governo estadunidense se ampliou. O maior exemplo foi o envolvimento nos conflitos do Vietnã, que se originaram no processo de descolonização com a divisão do território em duas partes: uma próxima aos princípios comunistas e outra adepta ao capitalismo. Os Estados Unidos intervieram militarmente no embate, com o propósito de derrotar os defensores do comunismo. A iniciativa, porém, resultou em grande desastre militar, com graves consequências à população vietnamita
Ao longo de 11 anos, o governo estadunidense mobilizou grandes recursos para ocupar a região. Em 1964, eram cerca de 150 mil soldados envolvidos na guerra - quatro anos depois, o número ultrapassava os 500 mil homens. As tropas contavam ainda com tecnologias bélicas avançadas e bastante destrutivas, inclusive armas químicas, que provocaram a morte tanto de soldados vietnamitas quanto da população local.
No início do conflito, a opinião pública estadunidense defendeu os ataques. A resistência vietnamita, porém, impossibilitou uma vitória rápida, obrigando a crescente mobilização de recursos e soldados, inclusive com a morte de um número considerável de indivíduos enviados ao combate. Nos Estados Unidos surgiram movimentos pacifistas e defensores de direitos civis, que passaram a lutar pelo fim do conflito e pela retirada das tropas estadunidenses do Vietnã. Ainda assim, o governo só começou a retirar seus exércitos do país em 1973. Dois anos depois, a guerra chegou ao fim, com a unificação do país e a tomada do poder pelos comunistas, para grande descontentamento dos Estados Unidos.
Mapa do Vietnã com a divisão do país em Vietnã do Norte (vermelho) e Vietnã do Sul (azul)
Nomes para a guerra
Vários nomes foram aplicados ao conflito. Guerra do Vietnã é o nome mais comumente usado. Também tem sido chamado de Segunda Guerra da Indochina e Conflito do Vietnã.
As principais organizações militares envolvidas na guerra foram, de um lado, o Exército da República do Vietnã (ARVN) e as Forças Armadas dos Estados Unidos, e, por outro lado, o Exército Popular do Vietnã (PAVN - mais comumente chamado de Exército do Vietnã do Norte), e a Frente Nacional para a Libertação do Vietnã do Sul (FNL, mais conhecido como Vietcongue), uma força de guerrilha comunista do Vietnã do Sul.
Museu em Hanói com as armas utilizadas na Guerra do Vietnã em exposição
Pré-guerra
A Guerra do Vietnã é considerada pelos historiados um desdobramento direto da guerra travada na década de 1950, na região, pela independência e contra o domínio colonial francês. O Vietnã, juntamente com Camboja e Laos, formou, durante décadas, a Indochina Francesa e, após a Segunda Guerra Mundial, viu o poder colonial francês ser enfraquecido. O resultado desse conflito foi a consolidação do fim do domínio francês na região com a independência do Vietnã, Laos e Camboja.
No caso do Vietnã, a independência aconteceu de maneira mais complexa, pois o país estava dividido em duas grandes forças antagônicas. Essa divisão foi ratificada na Conferência de Genebra, em 1954, em que foi estipulado que o Vietnã do Norte teria como capital Hanói e seria governado pelos comunistas de Ho Chi Minh, e o Vietnã do Sul, com capital em Saigon (atual Ho Chi Minh), seria governado por Bao Dai, aliado dos Estados Unidos.
Apesar da divisão existente, na mesma Conferência de Genebra, determinou-se a realização de eleições livres para formar um governo que promovesse a unificação dos países. No entanto, a escalada da tensão entre as duas partes e as diferenças ideológicas fizeram com que o governo do Vietnã do Sul recusasse a realização dessas eleições.
Conferência de Genebra de 1954, na qual promoveu a divisão do Vietnã
Tanto o governo do Norte quanto o do Vietnã do Sul apresentavam posturas ditatoriais e repressivas. O norte, por exemplo, promovia julgamentos sumários, fuzilamentos em massa e confinamentos em campos de trabalho forçado, enquanto o Sul desenvolvia um governo extremamente corrupto e ditatorial, que impôs perseguição a dissidentes e suspeitos de adesão ao comunismo.
A partir de 1955, esses governos desenvolveram campanhas um contra o outro, além de aliarem-se a potências internacionais que poderiam dar-lhes suporte em caso de conflito. O Vietnã do Norte passou a contar com o apoio da União Soviética, e o Vietnã do Sul foi apoiado pelos Estados Unidos. A crescente tensão precipitou pequenos conflitos entre as tropas das duas forças, o que conferiu ares de guerra civil a partir de 1959.
Camponeses presos suspeitos de serem Vietcongue sob detenção do exército dos Estados Unidos, em 1966
Participação americana na guerra
Durante os primeiros anos do conflito, os Estados Unidos não se envolveram diretamente e mantiveram sua atuação apenas no fornecimento de armas e na ação de conselheiros norte-americanos que preparavam as tropas do Vietnã do Sul para as batalhas. Apesar do apoio estadunidense, as tropas vietcongues (nome usado em referência aos vietnamitas comunistas do Norte) levavam a vantagem no conflito.
O governo de Diem, que estava no poder desde 1955, passou por um forte enfraquecimento e enfrentou inúmeros protestos no Vietnã do Sul. Isso levou os Estados Unidos a apoiarem conspirações internas que articularam o golpe e a execução de Diem em 1963. Pouco tempo depois, o assassinato do presidente americano John F. Kennedy fez com que os Estados Unidos assumissem uma nova postura no conflito.
Com a morte de Kennedy, o vice, Lyndon Johnson, ocupou a presidência dos Estados Unidos e, durante o seu governo, o país passou a atuar diretamente no conflito com o envio de tropas. A entrada dos norte-americanos no conflito aconteceu após o Incidente do Golfo de Tonquim. Nesse incidente, a embarcação USS Maddox foi supostamente atacada duas vezes por torpedeiros norte-vietnamitas (o segundo ataque nunca foi comprovado). Isso foi utilizado como pretexto por Lyndon Johnson para autorizar o ataque ao Vietnã do Norte e o envio de tropas.
O presidente americano Lybdon B. Johnson na assinatura da Resolução do Golfo de Tonquim, que dava autoridade para a Casa Branca levar à nação a guerra no sudoeste da Ásia
A entrada dos Estados Unidos na guerra motivou o envio de 184 mil soldados ao final de 1965. Esse número cresceu gradativamente nos anos seguintes, chegando a 429 mil soldados, em 1966, e 543 mil em abril de 1969. A presença estadunidense no conflito também promoveu intensos bombardeios no Vietnã e nos vizinhos Camboja e Laos.
A participação dos Estados Unidos na guerra, no entanto, não conseguiu a derrota das forças vietcongues. Utilizando-se do conhecimento geográfico das matas e de táticas de guerrilha, os vietcongues tornaram as batalhas desgastantes para as forças norte-americanas. Além disso, o uso de armamentos, como as bombas incendiárias Napalm, os ataques contra civis e o grande número de norte-americanos mortos no conflito impulsionaram uma campanha na imprensa dos Estados Unidos pela saída do país do conflito.
Soldados americanos inspecionando vilas vietnamitas em busca de soldados do Vietcongue
Essas pressões da sociedade e da imprensa norte-americana levaram o presidente Richard Nixon a assinar um cessar-fogo e, em 1973, concluiu a retirada das tropas americanas do Vietnã. Sem esse apoio, o Vietnã do Sul não conseguiu conter as tropas comunistas e, em 1975, os vietcongues conquistaram a cidade de Saigon, realizando a unificação do Vietnã sob o comando dos comunistas em 1976.
Estima-se que, em decorrência desse conflito, os Estados Unidos tiveram por volta de 58 mil baixas, enquanto os exércitos do Vietnã do Sul 225 mil baixas e do Vietnã do Norte 1,1 milhão de soldados.
Os vietcongues construíram um complexo sistema de túneis que lhes possibilitava transportar armamentos, socorrer feridos, estocar munições e enviar tropas para os locais de combate. Foi assim que conseguiram derrotar as tropas norte-americanas e do Vietnã do Sul