quarta-feira, 29 de junho de 2022

A CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE COMÉRCIO E DESENVOLVIMENTO (UNCTAD)

  A Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e Desenvolvimento (Unctad) foi estabelecida em 1964, em Genebra, Suíça, no contexto das discussões de liberalização do comércio no Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT). É o órgão da Assembleia Geral das Nações Unidas que procura promover o crescimento dos países em desenvolvimento por meio do comércio mundial, contribuindo para que participem do comércio global em condições de equidade. O organismo acredita que o comércio internacional é um fator de combate ao subdesenvolvimento, pois, apesar de a globalização ter contribuído para minimizar a pobreza, o ideal de um mundo menos desigual continua distante. Promove a integração de países em desenvolvimento na economia mundial e atua como um fórum para deliberações intergovernamentais, apoiado por debates com especialistas e intercâmbio de experiências. Também desenvolve pesquisas, análises de política e coleta de dados para debates de representantes do governo e especialistas. Seu trabalho visa ajudar a moldar os debates sobre políticas e o pensamento sobre o desenvolvimento, com foco particular em garantir que as políticas domésticas e a ação internacional se apoiem mutuamente para alcançar o desenvolvimento sustentável.

Sede da Unctad em Genebra, Suíça

  A Unctad defende um comércio global justo e eficaz. A entidade ajuda os países em desenvolvimento a superar as condições desiguais do comércio internacional equipando-os tecnicamente para lidar com as desvantagens impostas pelos países ricos. Para isso, busca construir consensos globais, oferece análises, assessorias e consultorias comerciais, além de uma retaguarda técnica aos países em desenvolvimento. Procura, portanto, subsidiar esses países com investimento, financiamento e desenvolvimento tecnológico para que alcancem um desenvolvimento sustentável. O comércio global inclusivo é seu lema.

  Tanto a Organização Mundial do Comércio (OMC) como a Unctad têm no comércio internacional o foco de suas atuações; no entanto, a Unctad dedica-se prioritariamente aos países em desenvolvimento, enquanto a OMC não faz essa distinção específica. A maioria dos países-membros das duas entidades é integrante de ambos os organismos. A Unctad atua em estreita sintonia com outros organismos internacionais vinculados à ONU, em especial com Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional (FMI), OMC e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).

  A organização:

  • funciona como um fórum para deliberações intergovernamentais, apoiado por discussões com especialistas e trocas de experiências, visando a construção de consenso;
  • realiza pesquisas, análises de políticas e coleta de dados para informar representantes do governo e discussões de especialistas;
  • presta assistência técnica aos países em desenvolvimento, com especial atenção às necessidades dos países menos desenvolvidos e das economias em transição. Quando apropriado, a Unctad coopera com outras organizações e países doadores na prestação de assistência técnica.

Assembleia da Unctad

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

Boulos Júnior, Alfredo. Multidiversos: ciências humanas: política, conflitos e cidadania: ensino médio / Alfredo Boulos Júnior, Edilson Adão Cândido da Silva, Laércio Furquim Júnior. 1. ed. -- São Paulo: FTD, 2020.

http://unctad.org. Acesso em 29/06/2022.

quinta-feira, 23 de junho de 2022

AS MIGRAÇÕES INTERNAS NO TERRITÓRIO BRASILEIRO

  A migração interna no Brasil acontece principalmente por motivos econômicos e desastres ecológicos. A população de um país não é apenas modificada pelas mortes e nascimentos de seus habitantes. É preciso levar em conta, também, os movimentos de entrada e de saída, ou seja, as migrações que ocorrem em seu território. As migrações internas são aquelas que se processam no interior de um país, como por exemplo, o êxodo rural.

  Um exemplo de migração foi devido às secas que devastou o Nordeste brasileiro na década de 1960, que fizeram com que milhares de pessoas abandonassem suas casas no sertão nordestino por falta de alternativa agrícola e políticas sociais na região. Outro exemplo foi a migração de nordestinos para a região Norte do Brasil no fim do século XIX. Isto se deu por dois motivos: o início do ciclo da borracha e a grande seca que devastou a região Nordeste. Destaca-se também a movimentação de migrantes nordestinos e sulistas em busca de uma melhoria de vida na região Sudeste, único polo industrial na década de 1970.

  A história do povo brasileiro é uma história de migrações. A migração no Brasil não ocorreu nem ocorre por causa de guerras, mas pela inconstância dos ciclos econômicos e de uma economia planejada, independente das necessidades da população.

Mapa mostrando alguns fluxos migratórios que ocorreram no território brasileiro

  As migrações internas podem ser:

  • Êxodo rural - saída de moradores do campo para o meio urbano;
  • Pendular - migração diária, típica das grandes metrópoles, em que o trabalhador sai cedo da cidade onde reside ou da periferia para chegar ao trabalho em outra cidade ou região central e só retorna no fim do dia;
  • Transumância - migração periódica, sazonal e reversiva, como no caso os cortadores de cana, que se deslocam para as regiões produtoras de açúcar e álcool durante a colheita e depois retornam para o seu local de origem.

  O fluxo migratório interno no Brasil é tradicionalmente intenso. A mobilidade interna sempre ocorreu, desde o início da colonização.

Migrações clássicas que ocorreram no território brasileiro

  Igualmente ao que ocorre com a migração internacional, o principal motivo da mobilidade demográfica interna é o aspecto socioeconômico. Na metade do século XX, quando o Brasil passou gradativamente a se transformar de país agroexportador para urbano industrial, os fluxos internos tornaram-se mais intensos.

  A industrialização concentrada no Sudeste passou a exercer espetacular força de atração demográfica, principalmente o estado de São Paulo, para onde milhões de nordestinos migraram  a partir dos anos 1950. A força e a marca dessa migração deixam fortes traços culturais até os dias de hoje.

Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, mais conhecido como Feira de São Cristóvão, no Rio de Janeiro. É um pavilhão que promove a cultura e o comércio de produtos nordestinos.

  As regiões brasileiras vão se caracterizando como de atração populacional, com destaque para o Sudeste, e outras de repulsão populacional (Nordeste, Minas Gerais, Espírito Santo e Santa Catarina). O êxodo rural, a partir da segunda metade do século XX, foi decisivo para a transformação da realidade demográfica brasileira.

Casa abandonada na zona rural de Floresta (PE), exemplo do êxodo rural

  Também merece destaque outro importante período de fluxo migratório: foi o iniciado nos anos 1970 e intensificado nas décadas de 1980 e 1990, quando muitas pessoas se dirigiram para as regiões Centro-Oeste e sul da Amazônia, motivadas pela expansão da fronteira agrícola brasileira, tendo a soja como carro-chefe desse movimento. Foi o período conhecido como "expansão das frentes pioneiras". Os sulistas foram os principais migrantes para essas regiões.

Fluxos migratórios no Brasil durante a década de 1970

  Os estados onde a população aumentou nos últimos anos estão localizados nas regiões Norte e Centro-Oeste, exatamente o destino das migrações internas e onde ocorreu a expansão agrícola. O Censo de 2010 confirma que Amapá, Roraima e Acre foram os estados que mais cresceram demograficamente. Porém, o mesmo censo indica uma diminuição do ritmo das migrações internas no país, com uma redução de 11% do volume de migrantes em relação à primeira década deste século. Espera-se que essa tendência se confirme pelo censo programado para 2022.

Deslocamentos populacionais no Brasil

  Finalmente, nas duas primeiras décadas do século XX, deu-se o fenômeno da "migração de retorno". Milhares de nordestinos que no passado migraram sobretudo para a região Sudeste passam a retorna para os respectivos municípios e estados nativos, apesar de muitos deles continuarem a migrar para São Paulo e Rio de Janeiro. Esse retorno aconteceu em razão do reaquecimento da economia nordestina nos anos 2000 e 2010, movimento que pode ser interrompido pela estagnação econômica brasileira dos últimos anos, agravada pela pandemia da Covid-19.

Principais fluxos migratórios do Brasil no século XXI

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

IBGE. Atlas nacional do Brasil Milton Santos. Rio de Janeiro, 2010.

GIRARDI, G.; ROSA, J. V. Atlas geográfico do estudante. São Paulo: FTD, 2016.

IBGE. Atlas do censo demográfico 2010. Rio de Janeiro, 2013.

RIBEIRO, D. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

terça-feira, 21 de junho de 2022

A DIVERSIDADE CULTURAL DO MUNDO

  Em sociologia, diversidade cultural diz respeito à existência de uma grande variedade de culturas antrópicas. Refere-se à inclusão de diferentes perspectivas culturais em uma organização ou sociedade. Há vários tipos de manifestações culturais que nos revelam  essa variedade, tais como: a linguagem, comida, vestuário, religião e outras tradições como a organização da sociedade.

  A diversidade cultural é algo associado à dinâmica do processo aceitativo da sociedade. Pessoas que por algumas razões decidem pautar suas vidas por normas pré-estabelecidas tendem a esquecer suas próprias idiossincrasias (mistura de culturas).

  O termo diversidade diz respeito à variedade e convivência de ideias, características ou elementos diferentes entre si, em determinado assunto, situação ou ambiente. Cultura (do latim cultura, cultivar o solo, cuidar) é um termo com várias acepções, em diferentes níveis de profundidade e diferente capacidade de agir. São práticas e ações sociais que seguem um padrão determinado no espaço/tempo. Se refere a crenças, comportamentos, valores, instituições, regras morais que permeiam e "preenchem" a sociedade.

   A população do planeta é formada por mais de 7,5 bilhões de pessoas, a imensa maioria vivendo coletivamente, nas mais variadas sociedades. Nossas relações sociais se iniciam já ao nascermos.

  Nos dias atuais, marcados pela ampliação de recursos digitais de informação e comunicação, a maioria das pessoas está envolvida com algum tipo de rede social digital, na qual diferentes formas de interação com variados objetivos são possíveis. Há, inclusive, diversos encontros que não seriam possíveis sem essas inovações tecnológicas. No entanto, há também formas de contato social não permeadas pela tecnologia bem mais antigas e que são usadas no dia de hoje.

A população mundial é composta por várias culturas

A diversidade cultural no mundo

  Em um mundo composto de tantas pessoas, é de se esperar que haja uma infinidade de povos com culturas distintas, que manifestam seus próprios valores, tradições, hábitos alimentares, costumes, vestimentas e religiões.

  Esses diversos povos com suas culturas distintas distribuídos pelo mundo vivem majoritariamente sob um Estado e um território. Friedrich Ratzel, um intelectual do início do século XX, afirmou serem estes os elementos necessários da composição da maioria das sociedades atuais: um povo, um território e um Estado. E isso acontece igualmente em nosso país, em que o povo brasileiro vive sob uma base territorial política organizada em torno da República Federativa do Brasil.

  As sociedades costumam mudar e se redefinir ao longo de sua existência, pois o comportamento social não é imutável. O mesmo acontece com as fronteiras territoriais, que também são elásticas: ampliam-se e reduzem-se no decorrer da história.

Países classificados por nível de diversidade étnica e cultural

  As sociedades estão circunscritas à organização e à regulação do Estado, responsável pela organização social e guarda da soberania do território. Não é incomum existirem, em um mesmo Estado, nações distintas, como é o caso da Espanha e da Rússia. Essa diversidade produz efeitos diversos: muitas vezes é o motivo da riqueza cultural de um local, marcado pela convivência e pelo respeito entre os povos; em outras, é o oposto, gerando desentendimentos, conflitos e guerras.

  A religião é um elemento importante nesse cenário: por vezes, pode ser um agregador de uma sociedade, como o judaísmo, que conecta judeus dispersos por várias partes do mundo; em outras situações, é um elemento desagregador, como o longevo conflito entre católicos e protestantes irlandeses que se arrasta ao longo de séculos.

  A cultura é também comumente associada às formas de manifestação artística e/ou técnica da humanidade, como a música erudita europeia.

A religião e a arte são importantes manifestações da cultura humana

Choque de civilizações

  O cientista político estadunidense Samuel P. Huntington causou forte furor nos anos 1990 com sua tese de "choque civilizacional" quando publicou, em 1993, na revista Foreign Affairs, um artigo intitulado "O choque das civilizações" e que daria vazão, em 1996, ao livro homônimo. Para ele "a história da humanidade é a história das civilizações". Seu artigo causou forte polêmica, reconhecido por ele próprio neste trecho:

  Não há dúvida de que ele foi motivo de discussão mais forte que qualquer outro artigo que escrevi. As reações e os comentários sobre ele vieram de todos os continentes e de dezenas de países. As pessoas ficaram impressionadas, intrigadas, indignadas, amedrontadas ou perplexas por meu argumento de que a dimensão central e mais perigosa da política mundial que estava emergindo seria o conflito entre grupos de civilizações diferentes.  À parte qualquer outro efeito, o artigo abalou os nervos de pessoas de todas as civilizações.

HUNTINGTON, S. P. O choque das civilizações e a recomposição da ordem mundial. Rio de Janeiro: Objetiva, 1997. p. 11.

Capa do livro "O choque das civilizações", de Samuel P. Huntington

  Huntington reconhece oito civilizações: ocidental, latino-americana, africana, japonesa, ortodoxa (Rússia), hindu (Índia), islâmica, sínica (chinesa), que viveriam em zonas de tensa fricção, uma mais belicosas que outras.

  Na percepção de Huntington, o novo paradigma que substitui a bipolaridade da Guerra Fria nos anos 1990 é o conflito entre civilizações, pautado por uma intolerância entre elas.

  A tese sobre uma difícil coexistência entre as civilizações foi motivo de bastante polêmica e diversos autores divergiram dessa ideia. Muitos dos críticos de Huntington defendem o universalismo, negando a perspectiva de relações conflituosas entre as civilizações. Eles alegam que, apesar das diferenças culturais e nacionais, a humanidade é uma só e a convivência entre os vários povos é plenamente possível. A existência de conflitos e tensões independem da diversidade civilizacional, tanto é que há inúmeros conflitos no interior de uma mesma civilização.

  Com os os atentados de 11 de setembro de 2001, o tema das civilizações ganhou forte destaque, muito em parte por conta dos trabalhos de Huntington. Muitos entendem que ele prognosticou os atentados ao anunciar antecipadamente  um conflito entre as civilizações ocidental e islâmica.

As civilizações existentes no mundo, segundo Huntington

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

HUNTINGTON, S. P. O choque das civilizações e a recomposição da ordem mundial. Rio de Janeiro: Objetiva, 1997.

GANDHI, M. Relatório do desenvolvimento humano 2004. In: TERRA, Lygia; COELHO, Marcos de A. Geografia geral. São Paulo: Moderna, 2005.

CARVALHO, J. M. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.

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