Localizado no Centro-Norte do continente africano, na área de transição entre a África Mediterrânea e a África Subsaariana, o Chade abriga um dos povos mais pobres do mundo. O país possui cerca de 75% do seu território ocupado pelo deserto do Saara e não possui saída para o mar. Ex-colônia francesa, em seu território habitam mais de 200 grupos étnicos e essa grande diversidade étnica é um dos principais responsáveis pelos constantes conflitos que assola o país.
Nos seus 54 anos de história como país independente, o Chade nunca teve uma mudança de governo de forma democrática e livre. Todas as mudanças no comando do Estado fizeram-se sempre de forma violenta, através de golpe militar.
Desde a sua independência da França em 1960, o Chade tem sido palco de guerra civil entre árabes muçulmanos do norte e cristãos subsaarianos do sul. Como resultado, a liderança e a presidência do Chade é disputada entre os cristãos sulistas e os muçulmanos nortistas. Quando um dos lados está no poder, o outro normalmente inicia uma guerra revolucionária para enfrentá-lo.
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Comércio de trajes típicos no Chade |
1. Primeira Guerra Civil do Chade
A Primeira Guerra Civil do Chade foi um conflito armado que ocorreu 1965 e 1979. Essa guerra começou com uma rebelião contra o regime ditatorial do presidente François Tombalbaye, continuando depois do golpe de Estado de 1975, durante o qual Tombalbaye foi assassinado. Na guerra, participaram as várias facções e grupos militantes, contando com o apoio dos Estados Unidos, França e Líbia. A guerra terminou em 1979 com a formação de um governo de coalizão liderado por Hissene Habré, tendo como presidente Goukouni Oueddei. Os confrontos continuaram e, em 1983, Habré tornou-se presidente, obrigando Oueddei a fugir do país.
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Hissene Habré |
2. Conflito entre Chade e Líbia
A partir de 1972, o Regime Líbio passou a ter dentre os seus objetivos, a transformação do Chade em um Estado cliente da Líbia, uma república islâmica no Jamairia, que manteria estreitas relações com a Líbia para garantir seu controle sobre a Faixa de Aouzou, a expulsão dos franceses da região, e a utilização daquele país como uma base para expandir sua influência na África Central.
O conflito entre Chade e Líbia foi um estado de guerra que ocorreu de 1978 a 1987, entre as forças militares dos dois países. A Líbia envolveu-se nos assuntos internos do Chade, ocupando uma faixa de terras do território chadiano em 1977. Para ocupar o Chade, o ex-ditador da Líbia Muammar al-Gaddafi contou com várias facções que participaram da guerra civil, enquanto os adversários da Líbia receberam o apoio da França, que interveio militarmente para salvar o governo do Chade em 1978, 1983 e 1986.
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Área do conflito entre Chade e Líbia |
Em 1978, a Líbia forneceu armas, artilharia e apoio aéreo aos seus aliados no Chade, assumindo a maior parte da luta. Em 1986, todas as forças do Chade uniram-se à oposição e ocuparam o norte do país pela Líbia. Essa união provocou a Guerra dos Toyota, que envolveu a Líbia, o Chade e a França, pelo controle da Faixa de Aouzou, uma estreita faixa territorial no extremo norte do Chade, que era reivindicada pela Líbia. O nome dessa guerra deve-se ao fato de os soldados chadianos usarem camionetas Toyota Land Cruiser para atravessar o deserto e enfrentar os veículos blindados líbios. Nessa guerra, os líbios foram derrotados e expulsos do Chade, pondo o fim à guerra.
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Faixa de Aouzou |
3. Conflito entre Chade e Sudão
Em 2003, o conflito na região de Darfur, no vizinho Sudão, expandiu
através da fronteira com o Chade. Os refugiados do Sudão se juntaram aos
civis do Chade que estavam tentando escapar da violência rebelde, enchendo os campos de concentração dos refugiados, contribuindo para provocar a Segunda Guerra Civil do Chade, que teve início em dezembro de 2005. O conflito envolveu as forças governamentais e vários grupos rebeldes chadianos, como a Frente Unida pela Mudança Democrática (FUC), a União das Forças para a Democracia e Desenvolvimento (UFDD), a Reunião de Forças pela Mudança (RFC) e a Concórdia Nacional do Chade (CNT). Ao lado dos rebeldes, está a milícia árabe Janjaweed, abertamente apoiada pelo Sudão. A Líbia tentou intermediar o conflito, assim como diplomatas de outros países.
De acordo com o governo do Chade, em janeiro de 2006, cerca de 614 cidadãos chadianos foram mortos nas batalhas fronteiriças. Em 8 de fevereiro de 2006, foi assinado o Acordo de Trípoli, que cessou a guerra por aproximadamente dois meses.
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Milicianos de Darfur |
Em fevereiro de 2008, três grupos rebeldes se uniram e lançaram um ataque contra a capital chadiana, N'Djamena. Depois de lançar um ataque que não conseguiu tomar o palácio presidencial, o ataque foi repelido decisivamente. A França enviou tropas para fortalecer o governo. Muitos dos rebeldes eram antigos aliados do presidente Idriss Déby. Acusaram-no de corrupção contra membros de sua própria tribo.
Em março de 2008, foi assinado o Acordo de Dacar, feito pelos presidentes do Chade e Sudão, Idriss Déby e Omar al-Bashir, respectivamente. Os dois líderes se comprometiam a pôr em prática pactos de não-agressão firmados nos fracassados tratados anteriores. A assinatura do novo acordo foi feita durante uma cúpula da Organização da Conferência Islâmica, em Dacar, Senegal, contando com a ajuda do secretário-geral da ONU Ban Ki-moon e com a mediação do presidente senegalês Abdoulaye Wade.
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Idriss Déby |
Em 12 de junho de 2008, tropas da União Europeia no leste do Chade reforçaram as patrulhas em torno dos campos de refugiados e de ajuda internacional, após os rebeldes anunciarem uma nova ofensiva. O governo do Chade e os rebeldes davam versões conflitantes sobre as movimentações militares na região Dar Sila, perto da fronteira do Sudão, onde soldados irlandeses da UE faziam a proteção dos campos de refugiados das Nações Unidas para chadianos e sudaneses.
Enquanto porta-vozes dos rebeldes chadianos disseram que os insurgentes avançavam com força no oeste e tinham abatido um helicóptero do governo, fontes governamentais diziam que o helicóptero caiu por causa de problemas técnicos.
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Principais locais de conflito |
Em janeiro de 2009, o governo do Chade pediu a retirada dos soldados da ONU do leste do país, alegando a lenta implantação da missão de paz, as melhorias da situação de segurança, entre outras razões para justificar a saída dos soldados da ONU. Em maio desse mesmo ano, a ONU revisou o mandato da missão e autorizou a retirada gradual dos "capacetes azuis" e o encerramento até o final do ano dessa missão de paz, passando toda a responsabilidade de proteção dos civis e das populações deslocadas e refugiados de Darfur para as mãos das forças de segurança do Chade.
Um acordo para a restauração da harmonia entre o Chade e o Sudão, foi assinado em janeiro de 2010, marcando o fim de uma guerra de cinco anos. A correção nas relações levaram os rebeldes chadianos do Sudão a retornarem ao país, a abertura da fronteira entre os dois países, bem como a implantação de uma força conjunta para proteger a fronteira.
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Campo no Chade para refugiados vindos de Darfur |
A guerra civil no Chade é uma guerra regional, que tem profundas ligações com os conflitos no Sudão e na República Centro-Africana.