segunda-feira, 15 de maio de 2023

O AGNOSTICISMO


   O agnosticismo é um termo proveniente do grego "agnostos" e significa "negação ao conhecimento", no entanto, para os adeptos dessa linha de pensamento, a postura devida de quem o segue não significa estar simplesmente fechado ao conhecimento ou aos referenciais das coisas, mas sim em uma posição dialética de conteúdos definidos. Eles formulam sua opinião com base em observações e convicção filosófica, ética, social e política, tudo sob um ponto de vista racional.

  O agnosticismo é uma crença de que a capacidade humana é incapaz de saber se existem ou não divindades, pois elas são muito além da compreensão humana. Para uma pessoa agnóstica, é impossível saber se existem ou não divindades, pois elas transcendem a realidade e a lógica. Em alguns sentidos, o agnosticismo é o meio entre o ateísmo e o teísmo; nesse sentido, um agnóstico nem desacredita ou acredita em divindades e muito menos afirma que Deus (es) existe ou não.

  A teoria denominada agnosticismo admite seres inacessíveis ou incognoscíveis ao entendimento humano as ideias propostas pela metafísica, entre elas, a da existência divina. A posição assumida por agnósticos, no entanto, pode provocar estranheza, uma vez que a maioria das pessoas possui alguma crença religiosa.

  De modo geral, o agnóstico abstém-se de concluir se Deus existe ou não, alegando falta de evidências e a impossibilidade racional de conhecê-lo. Ele não crê nem descrê. O filósofo francês André Comte-Sponville se referiu a essa postura com certa ironia:

  "Se essa posição é mais correta que outras é o que nenhum saber garante. É preciso crer nela, e é por isso que o agnosticismo também é uma espécie de fé, só que negativa: é crer que não se crê".

Charge ironizando o agnosticismo

  Nesse tópico, é pertinente mencionar Immanuel Kant (1724-1804), autor de grande expressão filosófica do iluminismo alemão. Na obra Crítica da razão pura, ao julgar a capacidade da razão para conhecer, Kant concluiu que todo conhecimento depende em parte dos dados da experiência. Assim, os conceitos metafísicos - como as ideias de alma, mundo e Deus - não são acessíveis à razão por não pertencerem ao âmbito de nossa experiência possível. Kant se absteve, então, de argumentar sobre esses conceitos, porque tanto é possível defender a existência de Deus como negá-la, sem que se chegue a uma conclusão.

  Seria apressado, porém, qualificar a posição kantiana como agnóstica, uma vez que o filósofo apenas criticava a metafísica ao negar a possibilidade de conhecer aquelas verdades pela razão (as ideias de alma, mundo e Deus). Tanto é que, em outra obra, a Crítica da razão prática, os conceitos mencionados são recuperados como postulados, ou seja, como pressupostos que permitem explicar a lei moral e seu exercício.

Principais correntes do agnosticismo

  • Agnosticismo teísta - vertente voltada especificamente para a questão sobre a existência de divindades, engloba tanto o teísmo, quanto o agnosticismo. Um agnóstico teísta acredita na existência de pelo menos uma divindade, mas diz respeito à base desta proposição como "algo desconhecido ou inerente incognoscível".
  • Agnosticismo ateísta - também voltada para a questão da existência de divindades, engloba o ateísmo e o agnosticismo. Ateus agnósticos entendem que o conhecimento sobre a existência de uma divindade ou é incognoscível, ou ainda é desconhecida, porém, manifestam opinião pessoal de não acreditar na existência de divindades.
  • Agnosticismo forte - é o estilo de agnosticismo adequado às dúvidas que não podem ser respondidas, independentemente de quantas provas coletemos, uma vez que a própria ideia de "prova" não pode ser aplicada. A dúvida existe em uma dimensão além de que as provas podem alcançar. Agnósticos fortes quanto à existência de divindades defendem, portanto, a ideia de que a compreensão ou conhecimento sobre deuses ou o sobrenatural se encontra - e sempre se encontrará - completamente fora das possibilidades humanas. Agnósticos permanentes por princípio não manifestam uma opinião pessoal quanto à existência ou não do sobrenatural.
  • Agnosticismo empírico - a ideia de que a compreensão e conhecimento do divino ou sobrenatural não é, até ao momento, possível. Admite a possibilidade do aparecimento de novas evidências e provas sobre o assunto.
  • Agnosticismo apático - a ideia de que, apesar da impossibilidade de provar a existência de deuses ou sobrenatural, a existência destes não teria qualquer influência negativa ou positiva na vida das pessoas, na Terra ou no Universo em geral.
  • Ignosticismo - embora se questione a compatibilidade deste grupo com o agnosticismo ou ateísmo, há quem o considere como um grupo agnóstico. Esse grupo baseia-se no fato de que primeiramente é preciso definir Deus, para apenas posteriormente discutir sua existência. Para cada definição de Deus, pode haver uma discussão diferente e diferentes grupos de ateus, ateístas e agnósticos referentes àquela definição particular.
  • Agnosticismo modelar - ideia de que questões metafísicas e/ou filosóficas não podem ser verificadas nem validadas, mas que um modelo maleável pode ser criado com base no pensamento racional. Esta vertente agnóstica não se dedica à questão da existência ou não de divindades.

Esquema clássico do conhecimento: é possível afirmar, geneticamente falando, a existência de crenças verdadeiras sem necessariamente afirmar que constituam conhecimento; entretanto, nunca se pode afirmar se uma crença específica é verdadeira ou falsa sem que haja justificativa (o que a transformaria em conhecimento).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

COMTE-SPONVILLE, A. Dicionário filosófico. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. Tradução Valério Rohden e Udo Baldur Moosburger. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983.

KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. Col. Pensamento humano. Tradução e notas de Fernando Costa Mattos. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2013.

KANT, Immanuel. Crítica da razão prática. Tradução Valério Rohden. Ed. Bilíngue. São Paulo: Martins Fontes, 2003.


Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bom essa materia

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