domingo, 20 de abril de 2014

AS LUTAS ANTICOLONIAIS NA ÁSIA

  Para estruturar as colônias europeias no mundo foram necessários mais de quatro séculos, contando a partir do período das feitorias até a segunda metade do século XX.
  Desde antes da Segunda Guerra Mundial, sete países europeus mantinham colônias na Ásia e na África: Inglaterra, França, Holanda, Itália, Bélgica, Espanha e Portugal. Essas antigas colônias vivenciaram profundas transformações no pós-guerra, onde muitas delas iniciaram um processo de independência. De maneira geral, os movimentos de independência ocorreram por várias razões: arruinados após as guerras, os países europeus mal podiam preservar as colônias; em novo estágio, o capitalismo não exigia mais a posse de impérios coloniais; a política de relações internacionais agora proclamava a autodeterminação dos povos; e a eclosão de movimentos de luta pela independência.
  O processo de descolonização asiático contou com o apoio norte-americano e soviético. Isso se deu pelo fato de que naquele momento o mundo vivia o período da História denominado de Guerra Fria. Ambos desejavam expandir suas áreas de influência do capitalismo e do socialismo nos países que iriam emergir com a independência.
  Ao gerar movimentos nacionalistas em favor da libertação, a resistência anticolonial alcançou papel de destaque no processo de independência. Grande parte desses movimentos foi liderada por uma elite ilustrada bilíngue, educada nas metrópoles. Durante o processo de organização dos impérios coloniais, essa elite local havia sido preparada pela metrópole para colaborar e administrar as possessões  coloniais ao lado dos estrangeiros. Com o tempo, composta de advogados, médicos, jornalistas, administradores, etc., e formada nas melhores universidades europeias, essa elite começou a articular em favor da autonomia, desenvolvendo sentimentos anticoloniais e nacionalistas. Nesse contexto, começaram a ser valorizados aspectos das culturas locais em oposição aos imperialistas, como a negritude, o islamismo, o pan-africanismo, o hinduísmo etc. Muitas vezes, os movimentos de libertação foram apoiados pelas grandes potências, que tinham em vista atrair as novas nações para as respectivas áreas de influência.
Colônias europeias na África
  Esses movimentos ocorreram de forma e em momentos diferentes. Alguns aconteceram simultaneamente com a Segunda Guerra Mundial (Índia, Paquistão, Sri Lanka, Filipinas, Indonésia, Vietnã e Laos, por exemplo) e outros se estenderam até meados da década de 1970 (nos países da África Central). A China promoveu a Revolução de Mao Tsé-Tung ou Revolução Socialista, pondo fim à dominação inglesa, alemã e japonesa em seu território. Em 1945, a Coreia deixou de se submeter aos domínios japoneses. Essa ex-colônia japonesa se dividiu em 1948, formando dois países: Coreia do Norte e Coreia do Sul. O Camboja tornou-se independente da França em 1953. A Malásia e Cingapura conseguiram se libertar da colonização inglesa entre os anos de 1957 e 1965, respectivamente.
  Em razão de muitos anos de intensa exploração por parte das metrópoles europeias, as colônias se tornaram independentes, no entanto herdaram muitos problemas de caráter socioeconômico, os quais são percebidos até os dias de hoje.
As antigas colônias da África e da Ásia registram grande número de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza
  As colônias onde hoje se encontra o Oriente Médio se submeteram aos domínios europeus por muito tempo. Países como Líbano e Síria tiveram suas independências oficializadas em 1943 e 1946, respectivamente. O restante dos países que integram o Oriente Médio obteve a independência somente após a Segunda Guerra Mundial. Com exceção do Irã, que teoricamente nunca foi colônia de nenhuma metrópole europeia.
Domínios coloniais no Oriente Médio
A CONFERÊNCIA DE BANDUNG
  Na década de 1950, os movimentos de independência ou nacionalista alcançaram maior força. Em 1955, declarando apoio às lutas anticoloniais, reuniram-se 29 países africanos e asiáticos para discutir as questões do Terceiro Mundo na Conferência de Bandung, na Indonésia. Nesse encontro, buscou-se ainda sugerir uma alternativa à bipolarização capitalistas x socialistas.
  Essa conferência ocorreu entre os dias 18 e 24 de abril de 1955, objetivando mapear o futuro de uma nova força política global (Terceiro Mundo), visando a promoção da cooperação econômica e cultural afro-asiática, como forma de oposição ao que era considerado colonialismo ou neocolonialismo.
  O patrocínio da reunião coube à Indonésia, Índia, Birmânia (atual Mianmar), Ceilão (atual Sri Lanka) e Paquistão, que haviam preparado a conferência em uma reunião anterior em Colombo, Sri Lanka.
Países que participaram da Conferência de Bandung
  A grande preocupação da Conferência de Bandung era criar uma política própria dos países pobres, independentemente dos interesses políticos das superpotências. Na disputa bipolarizada entre elas, esses países deveriam se manter neutros, realizando uma política de não-alinhamento. Consagrou-se a partir daí a expressão países do Terceiro Mundo (embora o termo já fosse utilizado desde 1952), ou seja, aqueles que adotavam uma política de neutralidade em relação aos países do Primeiro Mundo (capitalistas, liderados pelos Estados Unidos) e do Segundo Mundo (socialistas liderados pela União Soviética). Definições como a defesa do desarmamento mundial e a reafirmação da igualdade entre as raças também fizeram parte das resoluções tomadas nessa conferência.
  A única realização concreta dos delegados à conferência foi uma declaração de dez pontos sobre "a promoção da paz e cooperação mundiais", baseada na Carta das Nações Unidas e nos princípios morais do premiê indiano Jawaharlal Nehru, um dos estadistas mais antigos presentes ao encontro.
  1.  Respeito aos direitos fundamentais;
  2. Respeito à soberania e integridade territorial de todas as nações;
  3. Reconhecimento da igualdade de todas as raças e nações, grandes e pequenas;
  4. Não-intervenção e não-ingerência nos assuntos internos de outro país (autodeterminação dos povos);
  5. Respeito pelo direito de cada nação defender-se, individual e coletivamente;
  6. Recusa na participação dos preparativos da defesa coletiva destinada para servir aos interesses particulares das superpotências;
  7. Abstenção de todo ato ou ameaça de agressão, ou do emprego da força, contra a integridade territorial ou a independência política de outro país;
  8. Solução de todos os conflitos internacionais por meios pacíficos (negociações e conciliações arbitradas por tribunais internacionais);
  9. Estímulo aos interesses mútuos de cooperação;
  10. Respeito pela justiça e obrigações internacionais.
Conferência de Bandung, em 1955
  Outros encontros de países terceiro-mundistas foram realizados, incorporando países da América Latina; entretanto, os resultados mostravam-se pouco eficientes no quadro político internacional. No início dos anos 1960, em Belgrado (capital da Sérvia, na época era a capital da Iugoslávia), uma nova conferência reforçou o tom da neutralidade internacional, criando condições para o desenvolvimento do Movimento dos Não-Alinhados. Os resultados concretos da Conferência de Belgrado foram os movimentos de independência que proliferaram na África na década de 1960.
  Na Conferência de Belgrado estiveram presente 24 nações, que apresentavam diferenças políticas e econômicas entre si. Nessa conferência tornaram-se óbvios os conflitos entre os delegados. A Índia foi criticada por ter abandonado o princípio de neutralidade e votado a favor da União Soviética na ONU, em 1956, após a invasão da Hungria por tropas soviéticas.
  Devido a um conflito de fronteira com a China, a Índia buscou o apoio dos países ocidentais, forçando os chineses a se retirarem do território indiano. Também a Iugoslávia buscara um caminho próprio. Tito negociava preferencialmente com os países que não se envolviam no conflito Leste-Oeste. Na época, seus parceiros prediletos eram o Egito e a Índia. Cuba, por sua vez, destacava-se entre os não-alinhados pelo enorme engajamento contra os países ocidentais.
Em azul escuro, os países membros do Movimento dos Não-Alinhados, em azul claro os países observadores.
  O movimento dos países do Terceiro Mundo teve grande impacto também no universo intelectual. Alguns teóricos tentaram conceituar e caracterizar os países terceiro-mundistas, chegando aos seguintes aspectos: economia agrícola; industrialização incipiente; dependência do capital e da tecnologia dos países centrais (Primeiro Mundo); elevado crescimento demográfico, com predomínio das populações rurais; proliferação da pobreza; altas taxas de analfabetismo, subnutrição e mortalidade infantil; pouca tradição democrática.
Para alguns analistas, a subnutrição era uma das características dos países terceiro-mundistas
  Atualmente, o conceito de Terceiro Mundo é bastante questionado, sobretudo porque abrange realidades muito distintas e fortalece a ideia da hierarquia entre os países. Além disso, o fim da bipolarização em razão do desmoronamento da União Soviética, extinguiu o Segundo Mundo.
OS MOVIMENTOS DE LIBERTAÇÃO
  Os impérios coloniais europeus na Ásia foram estabelecidos desde o final do século XIX e basicamente estavam concentrados em três áreas: Índia (colônia inglesa), Indonésia (holandesa) e Indochina (francesa). Consequentemente, foi nessas regiões que ocorreram os maiores movimentos de libertação asiáticos. O primeiro deles se manifestou na Índia, influenciando as demais colônias nesse continente.
Colonialismo na Ásia
  A descolonização se processou de três formas: a pacífica, a violenta e a tardia.
1. Descolonização pacífica
  Resultado de acordos e de negociações entre as colônias e as metrópoles. a independência é concedida pela metrópole em troca da manutenção de vínculos econômicos e/ou políticos que lhe asseguravam uma ascendência sobre a antiga colônia. A colônia tornava-se formalmente independente, mas, na prática, a metrópole inaugurava uma nova forma de dominação. São exemplos desse tipo de descolonização a maior parte das colônias britânicas na Ásia: Índia, Ceilão, Birmânia e Malásia.
Sri Lanka (antigo Ceilão) - um exemplo de descolonização pacífica
2. Descolonização pela violência
  Esse tipo de descolonização ocorreu quando esse processo foi marcado por guerras de independência ou por guerra civil. Na Ásia são exemplos desse tipo de descolonização o Vietnã e as Coreias.
3. Descolonização tardia
  Esse tipo de descolonização ocorreu mais recentemente, principalmente depois da década de 1970. Um exemplo desse tipo de descolonização ocorreu no Timor Leste, que se tornou independente de Portugal.
Timor Leste - exemplo de descolonização tardia
A INDEPENDÊNCIA DA ÍNDIA
  Logo que terminou a Primeira Guerra Mundial, desenvolveu-se na Índia um forte movimento nacionalista contra a Inglaterra. O Partido do Congresso, liderado por Mahatma Gandhi e Jawaharlal Nehru, comandou um movimento que se tornou famoso no mundo inteiro.
  Conduzida por Gandhi no período entreguerras, a luta contra o imperialismo inglês baseava-se na ideia da não-cooperação e não-violência. O objetivo do Movimento de Resistência Pacífica, na qual ficou denominado, era resistir à dominação da Inglaterra, deixando de cooperar com os ingleses e com as instituições coloniais e não reagindo à violência por meio de uma série de práticas - jejum, não-consumo de produtos ingleses, o não pagamento de impostos etc. Como exemplo da desobediência civil, Gandhi jejuava, não cumpria as leis coloniais e fazia marchas pacíficas pela Índia.
Gandhi produzindo a sua própria roupa
  Após muita repressão, lutas e concessões por parte da Inglaterra, a independência foi reconhecida em agosto de 1947. Entretanto, as disputas religiosas entre hindus, siques e muçulmanos dividiram o país, com a criação do Paquistão, de maioria muçulmana, e a Índia, de maioria hindu. Para que a Inglaterra concedesse a independência, os dois países deveriam permanecer integrados aos domínios ingleses por meio da Commonwealth (Comunidade Britânica de Nações). Em 1972, o Paquistão seria subdividido, dando origem ao Bangladesh.
  Embora os custos e as dificuldades com a organização do Estado independente fossem enormes, Gandhi insistia em evitar a divisão do país. Além disso, os conflitos religiosos eram antigos e se radicalizaram ainda mais com as disputas internas. Nesse contexto de radicalização político-religiosa, Gandhi foi assassinado, em 1948, por um fundamentalista hindu.
Descolonização inglesa no Subcontinente Indiano
  Amigo e seguidor de Gandhi, Jawaharlal Nehru foi o primeiro chefe político da Índia independente, governando o país até 1964. Ele procurou desenvolver o Estado de forma independente e dar a ele estabilidade política, alcançando com sucesso. Atuou com destaque no cenário internacional, defendendo a política de neutralidade e a necessidade de construir uma terceira via de desenvolvimento, como alternativa ao socialismo e ao capitalismo. A partir da década de 1960, a Índia se aproximou da União Soviética, buscando proteção política e militar, pois em 1962, a China invadiu a Caxemira, gerando uma situação de guerra.
Nehru e Gandhi em 1942
COLÔNIAS SEGUEM O EXEMPLO DA ÍNDIA
  A independência da Índia contribuiu para que outras colônias inglesas lutassem pela independência. A Birmânia (atual Mianmar) e o Ceilão (que em 1972 passaria a se chamar Sri Lanka) alcançaram a independência em 1948. O processo na Malásia foi mais difícil e demorado, em razão da heterogeneidade religiosa e étnica - pois era habitada por chineses, indianos e malaios -, mas, em 1957 foi instituída a Unidade Malaia.
  Outro processo demorado foi o da autonomia de Hong Kong. Vitoriosos na Primeira Guerra do Ópio, em 1842, os britânicos garantiram, entre outros privilégios, a posse dessa região. Em 1997, ela voltou ao domínio chinês, com o status de Região Administrativa Especial, aumentando o poderio econômico da China, visto que Hong Kong é um dos maiores mercados do mundo, além de possuir um porto com grande movimento. Pelo acordo feito entre China e o Reino Unido, até 2047 Hong Kong deverá manter seu sistema econômico e sua autonomia administrativa.
Visão noturna da cidade de Hong Kong
A DIVISÃO DA COREIA
  Desde o início do século XX, a Coreia foi dominada por outras nações, principalmente por causa da sua localização estratégica no Extremo Oriente, entre a China e o Japão. Ela foi ocupada pelo Japão em 1905 e anexada formalmente a ele em 1910. Em 1945, após o final da Segunda Guerra Mundial, com a derrota japonesa no Oriente, a área foi ocupada pelos Estados Unidos e pela União Soviética.
  Em razão dos interesses soviéticos e norte-americanos na região, em 1948 dividiu-se a Coreia entre as duas superpotências, tendo como limite o paralelo 38. Os Estados Unidos dominaram o sul com o regime capitalista, onde se estabeleceu a Coreia do Sul; os soviéticos influenciaram o norte com o sistema socialista, criando a República Democrática Popular da Coreia do Norte.
Coreia do Norte (vermelho) e Coreia do Sul (verde)
  Em 1950, a Coreia do Norte invadiu a Coreia do Sul, iniciando um conflito que durou até 1953. A Guerra da Coreia colocou em campos opostos os Estados Unidos e a União Soviética, que apoiaram "indiretamente" as tropas do sul e do norte, respectivamente, pondo em risco a política da Guerra Fria e inaugurando um tipo de estratégia que se tornaria comum ao longo das décadas seguintes: o conflito indireto das duas superpotências em um terceiro país.
Ofensivas durante a Guerra da Coreia
INDONÉSIA
  A região era domínio holandês desde o século XVII, tendo recebido o nome de Índias Orientais. No século XV, a Indonésia foi islamizada por indianos. Em 1942, durante a Segunda Guerra Mundial, o Japão invadiu as ilhas que compõem o país, que apoiou os movimentos nacionalistas. Uma frente política nacionalista chegou a proclamar a República, sob o comando de Ahmed Sukarno. A Holanda tentou recuperar sua possessão, mas não alcançou sucesso, reconhecendo a independência da Indonésia em 1949, que se aproximou da política de não-alinhamento, adotando uma política externa de independência no quadro da Guerra Fria, no qual o país foi um dos fundadores do Movimento dos Países Não-Alinhados, sendo o anfitrião dessa reunião, em 1955 na cidade de Bandung. Nesse mesmo ano, as Forças Armadas sufocam uma tentativa de golpe promovido pelo Partido Comunista Indonésio.
Em marrom as ilhas da Indonésia
  Em 1965, um golpe militar comandado pelo general Suharto, de posições pró-ocidentais, derrubou o governo Sukarno, dando início a um regime sangrento que permaneceria até a década de 1990.
INDOCHINA
  A península da Indochina, composta por Vietnã, Camboja e Laos, foi uma colônia francesa até 1954, quando os franceses foram derrotados na batalha de Diem Bien Phu. Também foi ocupado por tropas japonesas durante a Segunda Guerra Mundial.
  Em 1946, um movimento de independência contra a ocupação japonesa, liderado por Ho Chi Minh, libertou o norte do Vietnã, instaurando um governo comunista sediado na cidade de Hanói. A região sul foi devolvida à França, que não conseguiu deter as manifestações nacionalistas. Em 1946, iniciou-se uma guerra civil que terminou somente em 1954.
Península da Indochina
  Nos anos 1950, o conflito alcançou dimensões internacionais, com o apoio dos países que bipolarizavam o cenário internacional (EUA x URSS). Após o término dos conflitos internos, em 1954, o Acordo de Genebra estabeleceu uma saída: a divisão do Vietnã no paralelo 17. Ao sul desse paralelo, formou-se a República do Vietnã do Sul, cuja capital era Saigon e aliada ao bloco Ocidental; e ao norte, formou-se a República Democrática do Vietnã, ou Vietnã do Norte, cuja capital era Hanói, aliada ao bloco Oriental. Com essa divisão do Vietnã, a França também reconheceu a independência de Laos e de Camboja.
  Essa solução não foi suficiente para resolver os problemas da Indochina. A política das superpotências na região era a de não perder posições e não permitir o avanço do inimigo. De acordo com essa estratégia, a oficialização no poder de um comunista no Vietnã do Norte - Ho Chi Minh - representava para os Estados Unidos um grande desequilíbrio.
Vietnã dividido
A GUERRA DO VIETNÃ
  A Guerra do Vietnã começou em 1959, opondo militares do Vietnã do Sul à guerrilha apoiada pelo Vietnã do Norte. Em 1960, procurando reverter suas posições no Extremo Oriente, apesar do desgaste na Guerra da Coreia, os Estados Unidos resolveram apoiar militarmente o Vietnã do Sul, dando início a novos conflitos na região. O então presidente norte-americano Jonh Kennedy não poupou ajuda financeira e militar aos sul-vietnamitas, e seu sucessor, Lyndon Johnson aumentou a escalada militar no Vietnã. No apogeu do conflito, a intervenção norte-americana envolveu cerca de meio milhão de militares. Nessa época surgiu a política dos falcões - em oposição aos pombos - símbolo da paz -, militares que defendiam a ideia de que os Estados Unidos não poderiam permitir que o Vietnã do Sul se tornasse comunista.
Aviões norte-americanos bombardeando o Vietnã do Norte
  A guerra atingiu também o Camboja e o Laos, ocupados pelos norte-americanos e por guerrilhas nacionalistas e de esquerda. A força bélica e tecnológica norte-americana foi superada pela guerrilha vietcongue (resistência comunista do Vietnã do Sul) e do apoio da população do Vietnã do Sul aos guerrilheiros.
  As implicações materiais e sociais da guerra causaram enorme trauma na sociedade norte-americana. As reações internas à guerra surgiram em meados da década de 1960, aumentando os problemas no país.
  Em 1973, os Estados Unidos aceitaram um cessar-fogo, retirando-se dois anos depois da região. A paz foi negociada nesse mesmo ano no Acordo de Paris, mas os conflitos se prolongaram no Laos e no Camboja até 1975, quando os vietcongues tomaram Saigon, capital do Vietnã do Sul, obrigando os norte-americanos a uma retirada desastrosa. No ano seguinte, o país foi unificado e os comunistas assumiram o poder, instituindo um governo pró-soviético. Saigon passou a ser a capital do Vietnã, mas o nome foi mudado para Ho Chi Minh.
Ho Chi Minh - líder do movimento de independência do Vietnã
  No final dessa década, o Vietnã envolveu-se em conflitos no Laos e no Camboja, países aliados da China, sofrendo represália dos chineses e sendo bombardeada por essa potência asiática em 1979, levando o país a sofrer uma grave crise econômica na década de 1980.
TIMOR LESTE
  Timor Leste é um dos mais novos países do mundo. Foi colonizado por Portugal até 1975 e, a partir desse ano, com a retirada de Portugal, foi anexado de forma violenta pela Indonésia. A intransigência da Indonésia chegou ao ponto de proibir a população da ilha de falar o português, além de perseguir, torturar e prender aqueles que defendiam a independência da ilha.
  Inconformada com a situação, a ONU organizou, em 1999, um plebiscito, aceito pela Indonésia, por meio do qual os timorenses teriam a oportunidade de escolher seu futuro, como um povo soberano, ou, se assim quisessem, continuar atrelados ao governo indonésio.
Mapa do Timor Leste
  O resultado foi que 80% da população optou pela independência. Mas os piores dias foram os que se seguiram ao plebiscito. Inconformado com a derrota nas urnas, o governo da Indonésia armou milícias na própria ilha, espalhando o terror entre a população, e muitos timorenses foram assassinados.
  A ONU organizou Forças de Paz e teve papel essencial na expulsão das tropas da Indonésia e na manutenção da ordem e reconstrução do país. Nesse processo, o Brasil enviou soldados ao Timor Leste com o intuito de ajudar na sua reconstrução. Hoje, o Timor Leste é um dos oito países de língua portuguesa no mundo.
  Dois timorenses ganharam o Prêmio Nobel da Paz em 1996: Carlos Ximenes Belo e José Ramos Horta, porque lutaram por uma solução pacífica para o conflito em Timor Leste, ocupado pela Indonésia em 1975 e libertado em 1999. José Ramos Horta foi eleito presidente do Timor Leste no ano de 2007.
Ruas da capital do Timor Leste, Dili, destruída pelos bombardeios indonésios em 1999
FONTE: Moraes, José Geraldo Vinci de, 1960 - História: geral e do Brasil: volume único / José Geraldo Vinci de Moraes. - 2. ed. - São Paulo: Atual, 2005. - (Coleção Ensino Médio Atual)

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