domingo, 17 de fevereiro de 2019

SLIDES DO PROFESSOR MARCIANO DANTAS: PAÍSES DESENVOLVIDOS X PAÍSES SUBDESENVOLVIDOS


AS CONVENÇÕES CARTOGRÁFICAS

  As convenções cartográficas são uma série de símbolos aceitos internacionalmente e criados pela necessidade de reproduzir um objetivo em um mapa, como, por exemplo, elementos naturais. Sendo assim, são símbolos utilizados para representar e localizar diversos lugares, bem como construções, ouro, prata, cobre, entre outros.
  A representação da realidade num mapa é feita por símbolos denominados convenções cartográficas, que representam rios, florestas, montanhas, cidades, fronteiras entre os países etc. Essa simbologia é reunida em diversos grupos: edificações, hidrografia, vegetação, cultivos agrícolas, relevo, limites administrativos. O azul, por exemplo, geralmente é utilizado para representar a água; o ponto preto, para identificar as sedes dos municípios, e a linha vermelha para representar as estradas.
  As convenções cartográficas envolvem uma série de símbolos, desenhos, cores e códigos utilizados internacionalmente em cartografia para estabelecer uma padronização para a confecção de mapas. Isso serve para que um mapa possa ser lido e compreendido em qualquer lugar do mundo. As convenções envolvem não somente o uso de símbolos, figuras, cores ou linhas, mas também o uso de outros elementos cartográficos como o título do mapa, a escala e a rosa dos ventos.

  • Título - tem a função de apresentar o tema ou a informação principal que será tratada pelo mapa. Geralmente, aparece em destaque, centralizado e no alto do mapa ou então junto da legenda.

O título é fundamental para facilitar a compreensão de um mapa

  • Legenda - geralmente presente ao lado dos mapas, a legenda tem como finalidade principal apresentar o significado das cores e dos símbolos neles utilizados.


Legenda com exemplo de símbolos e cores que podem aparecer em um mapa com seus respectivos significados

  • Orientação - serve para indicar a direção dos pontos cardeais na representação cartográfica. Na maioria das vezes é indicada somente a direção norte, já que esta informação basta para que se possa descobrir os demais pontos cardeais (sul, leste e oeste) e os pontos colaterais (nordeste, sudeste, sudoeste e noroeste).

A Rosa dos Ventos é o símbolo usado para indicar a direção dos pontos cardeais

  • Escala - é utilizada nos mapas para informar a proporcionalidade das distâncias medidas no mapa e as distâncias reais. Caso não seja indicada, fica impossível fazer os cálculos de distâncias entre dois pontos com base somente no mapa. Ela pode ser:

1. Numérica: é a escala que é apresentada na forma de uma fração, sem definição prévia de uma unidade de medida. Ex: 1:1.000.000 ou 1/1.000.000. Essa escala quer dizer que o mapa é 1.000.000 de vezes menor que a realidade, ou seja, se 1 cm for medido no mapa, isso equivalerá a 1.000.000 de centímetros no espaço real.
Escala Gráfica
2. Gráfica: é apresentada utilizando-se uma reta, geralmente graduada em centímetros, com as reais distâncias (em km) indicadas a cada centímetro medido no mapa. No exemplo abaixo, cada centímetro medido no mapa será equivalente a 10 quilômetros na realidade.
Escala Numérica
REFERÊNCIA: CALDINI, Vera; ISOLA, Leda. Atlas geográfico. Saraiva: São Paulo, 2013. p. 78

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

O KEYNESIANISMO E O INTERVENCIONISMO ESTATAL

  A depressão que se seguiu após 1929 pôs em xeque a lógica liberal. Atribuíam-se à competição desenfreada e à superprodução as causas da convulsão. Na década da crise, surgiriam os trabalhos daquele que viria a ser o mais importante economista do século XX: John Maynard Keynes (1883-1946) e sua obra principal, Teoria geral do emprego, do juro e da moeda, escrita em 1936 e que consiste numa organização político-econômica, oposta às concepções liberais, fundamentada na afirmação do Estado como agente indispensável de controle da economia, com o objetivo de conduzir a um sistema de pleno emprego. Tais teorias tiveram uma enorme influência na renovação das teorias clássicas e na reformulação da política de livre-mercado.
John Maynard Keynes - autor da teoria do keynesianismo
  A escola keynesiana se fundamenta no princípio de que o ciclo econômico não é auto-regulado como defendem os neoclássicos, uma vez que é determinado por um suposto "espírito animal" (animal spirit, no original inglês) dos empresários.
  A teoria keynesiana parte do pressuposto de que o mercado não pode nem deve ficar desregrado; faz-se necessária uma forte intervenção do Estado na economia, exatamente o oposto do que preconizava seu antecessor, Adam Smith, cujas ideias nortearam o liberalismo clássico, principal vertente do capitalismo até então. Agora o liberalismo estava em baixa, e eram as ideias de Keynes que iriam se sobrepor. Entre elas, estava a garantia do pleno emprego como forma de manter aquecido o mercado, já que o trabalhador empregado é um consumidor em potencial - e era o Estado que deveria oferecer essa garantia. Outra pregação keynesiana é a forte intervenção do Estado em prol de uma política de redução de juros, a fim de desestimular o investimento no setor financeiro e o redirecionamento para o setor produtivo. O Estado deveria patrocinar vultosos investimentos públicos como forma de manter a economia em pleno funcionamento.
Fila de desempregados nas ruas de Nova York após a Grande Depressão de 1929
  O keynesianismo ascendia à condição de principal corrente do pensamento econômico no momento da maior crise da história do capitalismo. Suas ideias influenciaram os principais governantes da época que buscavam saídas para a crise. A influência mais notável foi no New Deal, o plano de recuperação econômica para a Grande Depressão, do presidente estadunidense  Franklin D. Roosevelt, que governou os Estados Unidos de 1933 a 1945.
  A teoria de Keynes é baseada no princípio de que os consumidores aplicam as proporções de seus gastos de bens e poupança, em função da renda. Quanto maior a renda, maior porcentagem desta é poupada. Assim, se a renda agregada aumenta em função do aumento do emprego, a taxa de poupança aumenta simultaneamente; e como a taxa de acumulação de capital aumenta, a produtividade marginal do capital reduz-se e o investimento é reduzido, já que o lucro é proporcional à produtividade marginal do capital. Então ocorre um excesso de poupança em relação ao investimento, o que faz com que a demanda (procura) efetiva fique abaixo da oferta e, assim, o emprego se reduza para um ponto de equilíbrio em que a poupança e o investimento fiquem iguais. Como esse equilíbrio pode significar a ocorrência de desemprego involuntário em economias avançadas (onde a quantidade de capital acumulado seja grande e sua produtividade pequena), Keynes defendeu a tese de que o Estado deveria intervir na fase recessiva dos ciclos econômicos com sua capacidade de imprimir moeda para aumentar a procura efetiva através de déficits do orçamento do Estado e assim manter o pleno emprego.
Teoria proposta por Keynes
  O ciclo de negócios, segundo Keynes, ocorre porque os empresários têm "impulsos animais" psicológicos que os impedem de investir a poupança dos consumidores, o que gera desemprego e reduz a demanda efetiva novamente e, por sua vez, causa uma crise econômica. A crise, para terminar, deve ter uma intervenção estatal que aumente a demanda efetiva através do aumento dos gastos públicos.
  Keynes, porém, nunca defendeu a estatização da economia, nos moldes em que foi feita na União Soviética. O que ele defendia na década de 1930 e que os novos desenvolvimentistas defendem atualmente é uma participação ativa de um Estado enérgico nos segmentos da economia que, embora necessários para o bom desenvolvimento de um país, não interessam ou não podem ser atendidos pela iniciativa privada.
  Após a Segunda Guerra Mundial, o keynesianismo consolidou-se como modelo econômico e foi hegemônico na Europa e nos Estados Unidos até meados dos anos 1970, quando passou a ser questionado pelos chamados monetaristas, críticos da política de limitação ao investimento financeiro.
Charge ironizando o setor privado na economia com base na teoria keynesiana
REFERÊNCIA: Silva, Edilson Adão Cândido da
Geografia em rede, 1º ano / Edilson Adão Cândido da Silva, Laércio Furquim Júnior. - 2. ed. - São Paulo: FTD, 2016. - (Coleção geografia em rede).

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

GEOPOLÍTICA E ECOLOGIA DOS MARES FECHADOS

  Os mares são corpos de água salgada que possuem ligação com águas oceânicas. Podem ser: continentais, abertos e fechados.
Mares Continentais - são aqueles que possuem ligações estreitas (geralmente através de estreitos) com as águas oceânicas. Ex: Mar Mediterrâneo (suas águas estabelecem ligação com o Oceano Atlântico através do Estreito de Gibraltar) e Mar Vermelho (suas águas estão ligadas ao oceano Índico através do Estreito de Bab-el-Mandeb).
Imagem de satélite do Estreito de Gibraltar
Mares Abertos - a ligação entre os mares abertos e as águas oceânicas ocorre através de grandes aberturas. Ex: mares do Norte (suas águas possuem ligação com o Oceano Atlântico através do Canal da Mancha - Estreito de Dover), Báltico (localizado na região norte do continente europeu, suas águas estão ligadas ao Oceano Atlântico através dos estreitos de Öresund - entre a Dinamarca e a Suécia -, Grand Belt - entre as ilhas dinamarquesas de Zelândia e Fulen -, e Pequeno Belt - entre a Península da Jutlândia e a Ilha Fulen) e o  Mar do Caribe (localizado a leste da América Central e a norte da América do Sul, está conectado com o Oceano Atlântico através das passagens de Anegada e dos Ventos).
Imagem de satélite do Mar do Norte
Mares fechados - embora ganhem o nome de mares, estes corpos de água salgada são, na verdade, imensos lagos, pois não possuem conexão com as águas oceânicas. Os mares fechados são superfícies líquidas que não possuem ligações com um outro mar ou oceano. Por tradição ou por sua dimensão, não são identificados como lagos. Situados no interior dos continentes, são "regulados" por rios que neles deságuam e, em alguns casos, por águas de degelo que descem das vertentes circundantes. Os mares Morto, Cáspio e de Aral são exemplos típicos de mares fechados.
Mapa com alguns dos principais mares da Europa e da Ásia
Mar Morto
  O Mar Morto possui uma superfície de aproximadamente 650 km², um comprimento máximo aproximado de 50 km e uma largura máxima de 18 km. Em 1930, quando o Mar Morto começou a ser monitorado continuamente, sua  superfície era de aproximadamente 1.050 km², com um comprimento máximo de 80 km e uma largura máxima de 18 km.
  Situado entre Israel, a Cisjordânia e a Jordânia, o Mar Morto é famoso por estar localizado na maior depressão continental do mundo e por seu alto índice de salinidade. No último século, perdeu cerca de 300 km² de superfície e seu nível continua baixando, devido ao uso da água dos rios que nele deságuam (especialmente o Jordão) e à elevada evaporação.
Fotografia de satélite mostrando a localização do Mar Morto
  O Mar Morto recebe esse nome devido à grande quantidade de sal nele contida, dez vezes superior à dos demais oceanos, e em suas águas há a escassez de vida, havendo apenas alguns tipos de arqueobactérias e algas. Qualquer peixe que seja transportado pelo Rio Jordão morre imediatamente assim que deságua neste lago de água salgada. A sua água é composta por vários tipos de sais, alguns dos quais só podem ser encontrados nesta região do mundo. Em termos de concentração, e em comparação com a concentração média dos restantes dos oceanos em que o teor de sal, por 100 ml de água não passa de 3 gramas, no Mar Morto essa taxa é de 30 a 35 gramas de sal por 100 ml de água.

Mar Morto visto do espaço com áreas de extração de sal ao sul
  O Mar Morto perdeu 35% da sua superfície entre 1954 e 2014, em grande parte por causa do aumento na captação das águas de seu principal afluente, o Rio Jordão, por parte das autoridades de Israel e Jordânia, única fonte de água doce da região, além da natural evaporação de suas águas.
  Outro fator importante para essa perda, além da captação de água do Rio Jordão, tem sido a extração descontrolada principalmente de potássio por indústrias mineradoras e químicas, como a Israel Chemicals Ltd., Dead Sea Works e Arab Potash Company, que se instalaram nas décadas de 1940 e 1950. Entre 1930 e 1997, o nível das águas do Mar Morto diminuiu 21 metros.
Tanques de evaporação de potássio no Mar Morto, em 1944
  A contínua perda das águas do Mar Morto causa uma redução em sua área e profundidade, relativamente ao nível médio das águas do Mar Mediterrâneo, o que faz com que seja o maior desnível negativo do mundo, em relação ao nível do mar. Entre 1992 e 2014, a média de aumento deste desnível foi quase  1 metro por ano. Em 1992, o desnível era de 407 metros. Em 2004 era de 417 metros e em 2010 era de 423 metros. Em 2014, o desnível aumentou para 427 metros.
Mar Morto
  A chuva na região do Mar Morto não passa dos 100 mm por ano na parte norte e mal atinge os 50 mm na parte sul. A aridez da zona do Mar Morto é devido ao efeito rainshadow (sombra de chuva) das colinas da Judeia. O planalto leste do Mar Morto recebe mais chuva do que o Mar Morto em si.
  Para evitar que o mar desapareça, as partes interessadas - Autoridade Palestina, Israel e Jordânia - assinaram um acordo, em dezembro de 2013, para "salvar" o mar. A ideia é desviar água do mar Vermelho para o mar Morto por um canal de 80 quilômetros.
A alta salinidade do Mar Morto permite a flutuação das pessoas
Mar Cáspio
  O Mar Cáspio localiza-se na Ásia Central e é dividido em três partes. Na parte norte, assenta-se sobre uma depressão absoluta com altitude média de 28 metros negativos. As porções central e sul apresentam profundidades bem maiores. Por conta do menor volume e profundidade, e por estar junto a áreas continentais baixas, a porção norte é a mais vulnerável às variações de nível. É lá que deságua o Rio Volga, o mais importante afluente. Tudo o que acontece ao longo dessa bacia, onde estão as maiores concentrações urbano-industriais da Rússia, repercute sobre o mar.
  Este mar possui uma superfície de 386.400 km², área um pouco maior que a do estado do Mato Grosso do Sul e possui um volume de 78.200 km³, constituindo uma bacia endorreica (área na qual a água não tem saída superficialmente, por rio, até ao mar). O comprimento do Mar Cáspio é de 1.030 km e sua largura varia de 435 km a um mínimo de 196 km, e sua profundidade máxima é de 1.025 metros. Seu nível de superfície é em torno de -26,5 metros abaixo do nível do mar.
Bacia do Mar Cáspio e antigo Mar de Aral
  O Mar Cáspio é limitado a noroeste pela Rússia, a oeste pelo Azerbaijão, a sul pelo Irã, a sudeste pelo Turcomenistão, e a nordeste pelo Cazaquistão. Pode ser dividido em três partes: norte, centro e sul.
  Cerca de 130 rios pequenos e grandes convergem ao Cáspio, quase todos desaguando nos litorais norte ou oeste. O maior deles é o Rio Volga (maior rio europeu em extensão), que corre por uma área de 1.400.000 km² e deságua no norte do Mar Cáspio. Mais de 90% da água doce que o mar recebe é fornecida pelos cinco maiores rios: o Volga com 241 km³, o Kura com 13 km³, o Terek com 8,5 km³, o Ural com 8,1 km³ e o Sulak com 4 km³. Os rios iranianos menores da costa ocidental fornecem o resto, já que não há fluxos permanentes no lado oriental.
Imagem de satélite do Mar Cáspio
  A história registra que o Mar Cáspio é chamado de mar desde a época dos romanos, que o acharam salgado, especialmente na sua parte sul. Sua área hoje constitui um grande trunfo econômico, com enormes reservas de petróleo e gás natural, que só agora estão começando a ser extraídas plenamente. As reservas de petróleo para toda a região do Mar Cáspio são comparáveis às dos Estados Unidos e do Mar do Norte. As reservas de gás natural são ainda maiores, sendo quase dois terços das reservas de hidrocarbonetos. Além disso, grandes quantidades do peixe esturjão vivem nas suas águas, e o caviar produzido a partir de seus ovos é bem valioso.
  Ao longo do século XX, a soberania sobre o Mar Cáspio foi compartilhada entre a União Soviética e o Irã. Com a desintegração da União Soviética, em 1991, o mar passou a banhar, além do litoral do Irã, terras da Rússia, do Cazaquistão, do Turcomenistão e do Azerbaijão. A descoberta de petróleo e gás na área do Cáspio tornou mais complexo o quadro geopolítico.
  Hoje, há interesses conflitantes entre os cinco países no que se refere à definição jurídica a ser aplicada, especialmente em relação à exploração dos recursos da rica plataforma continental.
Mar Cáspio em Turkmenbasy - Turcomenistão
Mar de Aral
  As tensões que cercam o Cáspio pouco significam se comparada à crise que ameaça a própria existência do Mar de Aral. Situado no coração da Ásia Central, o Aral se estende sobre as terras áridas das antigas repúblicas soviéticas do Cazaquistão e do Uzbequistão. O Mar de Aral foi vítima do planejamento ecologicamente irresponsável conduzido por Moscou.
  No período Terciário (68 a 1,8 milhão de anos atrás), provavelmente a depressão onde se encontra o Mar de Aral estava conectada ao Mar Cáspio, ao Mar Negro e a outros lagos próximos de mesma origem geológica e também de formação endorreica. Durante o Pleistoceno (1,8 milhão até 20 mil anos atrás) certamente ocorreu a separação e o isolamento final do Mar de Aral, porém, ele continuou a ser alimentado simultaneamente com as águas dos rios  Amu Darya e Sir Darya, tornando-o um verdadeiro oásis no deserto da Ásia Central. Com o tempo, a água do lago passou a concentrar todo o sal trazido pelos rios, uma vez que a água acumulada continuou o seu ciclo, evaporando por milhares de anos.
Mapa do Mar de Aral em 1853
  As nascentes dos dois rios afluentes do Mar de Aral (Sir Darya e Amu Darya) ficam nas altas montanhas do sistema do Himalaia e distanciam cerca de dois mil quilômetros da foz. Durante toda esta extensão, os rios cortam quatro países (Afeganistão, Tadjiquistão, Turcomenistão e Uzbequistão), sendo uma preciosa fonte de recursos naturais, com grande variedade biológica, em meio ao clima desértico. A indústria pesqueira era a principal atividade econômica da região. No século XX, os dois rios passaram a receber lixo, esgoto e poluentes com o desenvolvimento das comunidades próximas, e foram alvos de sucessivas drenagens pelo governo soviético das repúblicas da Ásia Central. A partir de 1920, o fluxo dos rios diminuiu consideravelmente.
O Mar de Aral visto do espaço, em 1985
  A presença militar russa no Mar de Aral começou em 1847, com a fundação de Raimsk, que logo foi rebatizado de Aralsk, perto da foz do Sir Darya. Logo, a Marinha Imperial Russa começou a implantar os seus navios no mar. Devido à bacia do Mar de Aral não estar ligada a outros corpos de água, os navios tiveram que ser desmontados em Orenburg, no rio Ural, enviados por via terrestre para Aralsk (presumivelmente por uma caravana de camelos), e então remontados. Os dois primeiros navios, montados em 1847, eram as escunas de dois mastros chamado Nikolai e Mikhail. O primeiro foi um navio de guerra, enquanto o último um mercante que servia para o estabelecimento da pesca no lago grande. Em 1848, estes dois navios pesquisaram a parte norte do mar. No mesmo ano, um grande navio de guerra, Constantino, foi também montado. Comandado pelo tenente Alexey Butakov, o Constantino concluiu o levantamento de todo o Mar de Aral em dois anos. Para a navegação, em 1851, dois navios recém-construídos chegaram da Suécia, novamente de caravanas até Orenburg.
Embarcação abandonada perto do antigo Porto de Aral, Cazaquistão
  O governo soviético começou a desviar parte das águas dos rios que alimentavam o Mar de Aral, o Amu Darya (ao sul) e o Sir Darya (ao nordeste) em 1918. Com o fim da Primeira Guerra Mundial havia a necessidade de aumentar a produção de alimentos, tais como arroz, cereais e melões. Havia também planos de se produzir algodão no deserto próximo ao lago. O algodão, sempre valorizado, era chamado de "ouro branco".
  Nos anos 1940, acelerou-se a construção dos canais de irrigação que captavam água dos afluentes do Mar de Aral. O conhecimento rudimentar da técnica de engenharia produziu canais ineficientes, e havia perda de até 75% de toda a água captada em vazamentos e evaporação.
Mar de Aral em 1989 e 2008
  No início, a irrigação das plantações consumia aproximadamente 20 km³ de água a cada ano, em ritmo crescente. Já na década de 1960, a maior parte do abastecimento de água do lago tinha sido desviado e o Mar de Aral começou a perder tamanho. De 1961 a 1970 o lago baixou 20 cm por ano, e essa taxa cresceu até 1990. Em 1987, a redução contínua do nível da água levou ao aparecimento de grandes bancos de areia, causando uma separação em duas massas de água, formando o Aral do Norte (ou Pequeno Aral) e o Aral do Sul (ou Grande Aral).
  A quantidade de água retirada dos rios que abasteciam o Mar de Aral duplicou entre 1960 e 2000, assim como a produção de algodão. No mesmo período, o Uzbequistão tornou-se o terceiro maior exportador de algodão do mundo. Como consequência da redução do volume de água, a salinidade quase quintuplicou e matou a maior parte de sua fauna e flora naturais. A próspera indústria pesqueira faliu, assim como as cidades ao longo das margens. Houve desemprego e dificuldades econômicas.
Animação do estado do Mar de Aral
  As poucas águas do Mar de Aral também ficaram fortemente poluídas, em grande parte como resultado de testes com armamentos e projetos industriais, além do uso maciço de pesticidas e fertilizantes. As pessoas passaram a sofrer com a falta de água doce e os cultivos na região estão sendo destruídos pelo sal depositado sobre a terra. Nos últimos anos, o vento tem soprado sal a partir do solo seco e poluído, causando danos à saúde pública. Há também relatos de alterações climáticas na região, com verões cada vez mais quentes e secos e invernos mais frios. A situação do Mar de Aral e sua região é descrita como a maior catástrofe ambiental da história.
  O Mar de Aral abrigou uma indústria pesqueira considerável que, no seu auge, empregava cerca de 40 mil pessoas e produzia 1/6 de todo o pescado da União Soviética. Ainda é possível encontrar os restos dessa época de farta produção. O leito do lago, sem água, transformou-se num cemitério para as grandes embarcações que operavam na pesca. Além do pescado, a região deixou de produzir 500.000 peles de rato-almiscarado por ano, uma vez que a caça predatória e a escassez de água contribuíram para o desaparecimento do animal dos deltas do Amu Darya e do Sir Darya.
O lago deu lugar ao Aralkum, um deserto de sal e poluentes sólidos
  A superfície do Mar de Aral já reduziu em 60% do seu tamanho e em cerca de 80% do seu volume. Em 1960, o Mar de Aral era o quarto maior lago do mundo, com uma área aproximada de 68.000 km² e um volume de 1.100 km³. Em 1998, caiu para 28.667 km², tornando-se o oitavo maior lago do mundo. Durante o mesmo período, a salinidade do mar aumentou cerca de 10 gr/l para 45 gr/l.
  Há duas vertentes que pretendem explicar o processo de desertificação:
1. Fenômeno Natural - o Mar de Aral estaria morrendo naturalmente devido à fatores climáticos e geológicos (vertente defendida oficialmente pelo governo soviético no início do fenômeno);
2. Fenômeno Antropogênico - o desvio das águas dos rios que desembocam no Mar de Aral estaria causando o problema (vertente consensual defendida atualmente).
Antigo porto, atualmente abandonado
  O futuro do Mar de Aral é incerto. Não se sabe se é possível, viável e necessário recuperá-lo. Há diversas sugestões no sentido de ajudar em sua recuperação, tais como:

  • melhorar a eficiência dos canais de irrigação;
  • instalar estações de dessalinização de água;
  • instruir os agricultores a usar menos as águas dos rios;
  • plantar cultivares de algodão que necessitem de menos água;
  • usar menos produtos químicos nas plantações;
  • reduzir o número de fazendas de algodão próximas ao lago e afluentes;
  • construir barragens para encher o Mar de Aral;
  • desvio de água dos glaciares da Sibéria para repor a água perdida do Aral;
  • redirecionar a água dos rios Volga, Ob e Irtich. Assim se levaria de 20 a 30 anos para restaurar sua antiga dimensão;
  • diluir a água do Aral com a água do oceano e do Mar Cáspio através de bombas e gasodutos.
Momento em que a ilha Vozrozhdeniya, originalmente no centro do Aral, se converte em uma península (fim de 2000 e começo de 2001)
REFERÊNCIA: Baldraia, André
Ser protagonista: geografia, 3º ano: ensino médio / André Baldraia, Fernando dos Santos Sampaio, Ivone Silveira Sucena. Organizadora: Edições SM. Obra coletiva concedida, desenvolvida e produzida por Edições SM editor responsável Flávio Manzatto de Souza. - 3. ed. - São Paulo: Edições SM, 2016. (Coleção ser protagonista)

domingo, 27 de janeiro de 2019

A OTAN E O PACTO DE VARSÓVIA

  Durante a Guerra Fria, os Estados Unidos e a União Soviética procuraram formar, isoladamente, algumas alianças militares para fortalecer os laços com seus aliados e se proteger de ameaças.
  A Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), criada em 1949, liderada pelos Estados Unidos, contava com diversos países europeus e com o Canadá.
  Em 1955, como resposta à Otan, foi assinado o Tratado de Assistência Mútua da Europa Oriental, conhecido como Pacto de Varsóvia, liderado pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
Símbolos da Otan e do Pacto de Varsóvia
A OTAN
  O bloco liderado pelos Estados Unidos era a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Criada em 1949, em Washington D.C. (Estados Unidos), a Otan tinha como objetivo principal estabelecer uma aliança de defesa contra o avanço socialista. Por causa da presença de tropas soviéticas na Europa ao longo da Segunda Guerra Mundial e do desejo explícito de aumentar a influência do país naquela parte do mundo, os países europeus entenderam que era preciso se organizar para evitar a dominação socialista. O acordo que criou a Otan estabeleceu que os países-membros trabalhariam para a manutenção da paz e teriam o compromisso de reagir em conjunto em caso de ataque a uma das partes.
  A organização constitui um sistema de defesa coletiva através do qual seus Estados-membros concordam com a defesa mútua em resposta a um ataque por qualquer entidade externa à organização.
O então presidente dos Estados Unidos, Harry Truman, junto com outros líderes, na assinatura da criação da Otan, em 4 de abril de 1949
  A sede da Otan localiza-se em Bruxelas, na Bélgica, um dos 29 países que fazem parte da organização.
  A Otan era pouco mais que uma associação política, até a Guerra da Coreia consolidar os Estados-membros da organização e uma estrutura militar integrada ser constituída sob a direção de dois comandantes dos Estados Unidos. A Guerra Fria levou a uma rivalidade com os países do Pacto de Varsóvia. As dúvidas sobre a força da relação entre os países europeus e os Estados Unidos eram constantes, junto com questionamentos sobre a credibilidade das defesas da Otan contra uma potencial invasão da União Soviética, o que levou ao desenvolvimento da dissuasão nuclear francesa independente e a retirada da França da estrutura militar da organização em 1966 por 30 anos.
  Após a queda do Muro de Berlim, em 1989, a organização foi levada a intervir na dissolução da Iugoslávia e conduziu suas primeiras intervenções militares na Bósnia-Herzegovina, em 1992-95, e, posteriormente, na Iugoslávia em 1999. Politicamente, a organização procurou melhorar as relações com países do antigo Pacto de Varsóvia, muitos dos quais passaram a fazer parte da organização entre 1999 e 2004.
Sede da Otan, em Bruxelas - Bélgica
  A Otan nasceu do artigo 5º do Tratado do Atlântico Norte e requer que os Estados-membros auxiliem qualquer membro que esteja sujeito a um ataque armado, compromisso que foi convocado pela primeira e única vez após os ataques de 11 de setembro de 2001 contra os Estados Unidos, quando tropas foram mobilizadas para o Afeganistão, sob a Força Internacional de Assistência para Segurança (ISAF), liderada pela Otan. A organização tem operado uma série de funções adicionais desde então, incluindo o envio de instrutores ao Iraque, auxílio em operações contra pirataria e a imposição de uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia, de acordo com a resolução 1973, do Conselho de Segurança da ONU em 2011.
  O artigo 4º do tratado é menos potente, visto que apenas invoca a consulta entre os membros da Otan. Este artigo foi convocado cinco vezes: pela Turquia, em 2003, por conta da Guerra do Iraque; novamente pelos turcos, em junho de 2012, por conta da Guerra Civil Síria, após a derrubada de um caça turco F-4 de reconhecimento desarmado; de novo pela Turquia em outubro de 2012, quando um morteiro foi disparado contra o território turco a partir da Síria; pela Polônia, em 2014, após a intervenção militar russa na Crimeia; e novamente pela Turquia em janeiro de 2017, depois de vários ataques terroristas no seu território pelo Estado Islâmico do Iraque e do Levante.
Cúpula da Otan em 2014
  A base para a Otan foi estabelecida em 1948, quando Bélgica, Países Baixos, Luxemburgo, França e Reino Unido assinaram o Tratado de Bruxelas, criando uma aliança de defesa europeia. O tratado e o Bloqueio de Berlim pelos soviéticos levou à criação da Organização de Defesa e União da Europa Ocidental, em setembro de 1948. No entanto, a participação dos Estados Unidos foi considerada necessária, tanto para contrapor o poderio militar da União Soviética quanto para evitar o ressurgimento do militarismo nacionalista. Então as negociações para uma nova aliança militar começaram imediatamente, resultando no Tratado do Atlântico Norte, assinado em Washington D.C. em 4 de abril de 1949. Ele incluiu os membros do Tratado de Bruxelas, além de Estados Unidos, Canadá, Portugal, Itália, Noruega, Dinamarca e Islândia.
  O primeiro Secretário Geral da Otan, o indiano-britânico Lord Ismay, afirmou em 1949 que o objetivo da organização era "manter os russos fora, os americanos dentro e os alemães embaixo". O apoio popular ao tratado não foi unânime e alguns islandeses participaram de protestos pró-neutralidade e antiadesão em março de 1949.
Um E-3A da Otan voando com caças F-16 da Força Aérea dos Estados Unidos durante um exercício militar
  A criação da Otan pode ser visto como a consequência institucional primária de uma escola de pensamento chamada atlantismo, que salientava a importância da cooperação trans-atlântica.
  Os membros concordaram que um ataque armado contra qualquer um deles na Europa ou na América do Norte seria considerado um ataque contra todos eles. Consequentemente, eles concordaram que, se um ataque armado ocorresse, cada um deles, no exercício do direito de legítima defesa individual ou coletiva, poderia ajudar o membro atacado, tomando as medidas que julgasse necessário, incluindo o uso da força armada, para restaurar e manter a área de segurança do Atlântico Norte. O tratado não requer, necessariamente, que os membros respondam com uma ação militar contra um agressor.
  Embora tenham a obrigação de responder de alguma maneira, eles mantêm a liberdade de escolher o método pelo qual fazem isso. Este ponto difere do artigo IV do Tratado de Bruxelas, que afirma claramente que a resposta será de natureza militar. No entanto, é assumido que os membros da Otan ajudarão ao membro atacado militarmente.
Ministros de Defesa e das Relações Exteriores da Otan reunidos na sede da organização em Bruxelas, em 2015
O Pacto de Varsóvia
  Do lado socialista, em 1955, foi criado o Pacto de Varsóvia, uma aliança militar firmada na capital da Polônia. Para muitos autores o objetivo maior do Pacto era defender os países socialistas europeus e equilibrar a relação com a Otan. Participaram do Pacto os seguintes países: Albânia (que saiu em 1968), Bulgária, Tchecoslováquia (que na época reunia a República Tcheca e Eslováquia), Hungria, Polônia, República Democrática da Alemanha (antiga Alemanha Oriental), Romênia e União Soviética. O acordo foi proposto pelo então primeiro-secretário do Partido Comunista da União Soviética, Nikita Khrushchev.
  Um episódio marcou a criação do Pacto: o questionamento da hegemonia soviética pela Iugoslávia, governada pelo Marechal Tito, também socialista, que não aceitou ingressar no Pacto. O argumento de Tito era o de que os interesses soviéticos eram diferentes dos de seu país.
Assembleia que criou o Tratado de Amizade, Cooperação e Assistência Mútua, ou o Pacto de Varsóvia, em 14 de maio de 1955
  Os objetivos do Pacto de Varsóvia eram muito semelhantes aos da Otan. A ideia era criar um sistema de defesa mútuo, que protegesse os membros contra agressões externas. Mas havia uma cláusula que restringia a liberdade dos países e que praticamente os obrigava a permanecer no Pacto. As reuniões de seus membros eram anuais.
  Porém, as principais ações do Pacto foram dentro dos países-membros para a repressão de revoltas internas. Em 1956, tropas reprimiram manifestações populares na Hungria e na Polônia, e em 1968, na Tchecoslováquia, na chamada Primavera de Praga, que pediam a descentralização parcial da economia e a democratização.
Tanques russos em Praga (capital da então Tchecoslováquia, atualmente República Tcheca) durante a Primavera de Praga, em 1968
  Os Estados do bloco do Leste Europeu mantinham, antes da assinatura do Tratado, uma estreita relação militar com a União Soviética, cujo Exército havia permitido sua libertação durante a Segunda Guerra Mundial, assim como as forças britânicas e dos Estados Unidos tinham feito na Alemanha Ocidental, a oeste da Áustria, Bélgica, Itália, França e Grécia, no quadro acordado na Conferência de Yalta. A profunda influência exercida pela União Soviética no bloco, tinha sido percebida como um desafio às outras potências aliadas, que consideraram a expansão do comunismo como uma ameaça imediata para o domínio político e econômico na Europa pelos Estados Unidos e governos capitalistas europeus.
  A polarização entre a órbita dos Estados Unidos, que com a criação da Otan quebrou a longa tradição de isolamento, e os militares soviéticos seria o caráter determinante dos 45 anos da Guerra Fria.
Emblema do Pacto de Varsóvia
  Os membros do Pacto de Varsóvia concordaram, em termos muito semelhantes aos utilizados pela Otan, a cooperação na manutenção da paz, a organização imediata em caso de ataque previsível (art. 3), a defesa mútua se um membro for atacado (art. 4), e o estabelecimento de uma pauta conjunta para coordenar os esforços nacionais (art. 5). Composta por 11 artigos no total, o Pacto não se referiu diretamente ao sistema de membros do governo, foi aberta a "todos os Estados", com uma única exigência da humanidade dos outros signatários na sua admissão (art. 9). Foi assinado em quatro exemplares, russo, alemão, tcheco e polonês.
  A comissão política, composto por chefes de governo dos países membros, reuniam-se anualmente para estabelecer políticas e objetivos anuais. A maioria das negociações também contaram com a presença dos ministros da Defesa, os chefes das forças armadas e membros dos Estados-Maiores de cada um deles. Além da comissão política, o Pacto de Varsóvia tinham uma comissão militar consultiva, técnico e pesquisa. Ivan Stepanovich Koniev foi seu primeiro comandante-em-chefe.
Em vermelho, os países que faziam parte do Pacto de Varsóvia
  O Pacto de Varsóvia foi uma das muitas ferramentas desenvolvidas pelas superpotências em conflito como parte da distribuição das forças. A União Soviética repassou aos seus aliados do Pacto tecnologia e armamento que fossem capazes de competir com os Estados Unidos e seus aliados, em caso de uma Terceira Guerra Mundial na Europa. Possuía tanques T-72 e T-80, que rivalizavam com os M60 Patton e M1 Abram, respectivamente, helicópteros de ataque Mi-24 Hind contra os AH-1 Cobra e AH-64 Apache, aviões caça-tanques Sukhoi Su-25 Frogfoot contra os A-10 Thunderbolt II Warthog, caças MIG-29 e Sukhoi Su 27 contra os F-15 e F-16, rifles de assalto da família Kalashnikov contra os da família Colt, RPGs contra M-72 LAW, mísseis nucleares Foguete SS-18 Satan, SS-N-1 e SS-25 contra os LGM-30 Minuteman, LGM-118 Peacekeeper, Trident II, os mísseis de cruzeiro Scud contra os BGM-109 Tomahawk, sistema antimísseis SA-15 Gauntlet contra o Patriot, submarinos nucleares Typhoon contra os da classe Ohio. O Pacto não tinha porta-aviões para competir com os Estados Unidos, sendo o Almirante Kuznetsov terminado apenas depois do fim da URSS e do próprio Pacto de Varsóvia.
T-72 com Blindagem reativa
  Embora a Otan e o Pacto de Varsóvia não se tenham enfrentado em qualquer conflito armado direto, a Guerra Fria permaneceu ativa durante mais de 35 anos. Em dezembro de 1988, Mikhail Gorbachev, líder da União Soviética na época, anunciou a chamada Doutrina Sinatra, declarando que a Doutrina Brejnev seria abandonada e que os países da Europa Oriental poderiam fazer o que entendessem adequado, ou seja, poderiam fazer as reformas que bem entendessem e não teriam os países invadidos pelas tropas do Pacto, caso quisessem escolher o sistema capitalista e aderir à Otan.
  A validade da Doutrina Sinatra contribuiu para a aceleração das mudanças que varreram a Europa Oriental em 1989. Os novos governos do Leste Europeu eram menos propensos do que os anteriores para a manutenção do Pacto de Varsóvia e, em janeiro de 1991, a Tchecoslováquia, Hungria e Polônia anunciaram que iriam se retirar do Pacto em 1 de julho daquele ano. A Bulgária se retirou em fevereiro, e o Pacto foi dissolvido para todos os efeitos práticos. A solução oficial aceita pela União Soviética foi formalizada na Reunião de Praga, em 1 de julho de 1991.
Submarino classe Thyfoon Akula
  Durante os anos seguintes todos os soldados soviéticos estacionados em bases militares cedidas pelos governos da Alemanha Oriental, Polônia, Hungria e Tchecoslováquia tiveram que se retirar e voltar para a Rússia, e alguns deles acabaram ficando desempregados. Os políticos russos conseguiram, entretanto, compensações financeiras pela perda das bases militares. Os tratados que deram esse fim na presença militar soviética fora de suas fronteiras foram realizadas por Gorbachev e pagos com dinheiro da Alemanha Ocidental.
Varsóvia - capital da Polônia e onde se deu a criação do Tratado de Amizade, Cooperação e Assistência Mútua (Pacto de Varsóvia)
O novo papel da Otan e o fim do Pacto de Varsóvia
  Após a crise dos países socialistas do Leste Europeu, no fim da década de 1980, o Pacto de Varsóvia esvaziou-se e acabou sendo dissolvido em 1991.
  Com o fim da Guerra Fria, a Otan vem passando por uma reestruturação e iniciou um processo de expansão para áreas do antigo bloco soviético na Europa.
  Em 12 de março de 1999, a República Tcheca, a Hungria e a Polônia ingressaram na organização. Em 2004, foi a vez de Bulgária, Romênia, Eslovênia, Eslováquia, Letônia, Lituânia e Estônia.
  A Otan constitui atualmente uma organização militar que oferece apoio e cooperação em matéria de segurança para a ONU, defesa contra o terrorismo e combate ao tráfico de drogas.
Países europeus integrantes da Otan até 2004
  Estrategicamente, a manutenção de uma organização militar que envolva a Europa e os Estados Unidos reduz a possibilidade de criação de uma organização dessa natureza representando a União Europeia.
  Assim, ampliar a atuação da Otan nos principais conflitos mundiais e processos de ocupação significativa ampliar a participação financeira da Europa nesses processos. A Otan, dessa forma, vem se colocando em posição de equilíbrio entre Estados Unidos e União Europeia, apesar dos desentendimentos entre ambos, como no caso da ocupação do Iraque, em 2003.
  Atualmente, fazem parte da Otan 29 países: Albânia, Alemanha, Bélgica, Bulgária, Canadá, Croácia, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estados Unidos, Estônia, França, Grécia, Hungria,  Islândia, Itália, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Montenegro, Noruega, Países Baixos (Holanda), Polônia, Portugal, Reino Unido, República Tcheca, Romênia e Turquia.
  Em maio de 2002, a Rússia e a Otan selaram um acordo de cooperação com a criação do Conselho Otan-Rússia. A partir de então, o país passou a participar das decisões dos países-membros em assuntos de interesses mútuo, como a definição de estratégias político-militares a serem aplicados no controle da proliferação de armas nucleares e no combate ao terrorismo.
Mapa da Otan com os respectivos anos de entrada dos países
REFERÊNCIA: Lucci, Elian Aliabi
Geografia: homem & espaço, 9º ano / Elian Alabi Lucci, Anselmo Lázaro Branco. -- 27 ed. -- São Paulo: Saraiva, 2015.

domingo, 13 de janeiro de 2019

SAIBA UM POUCO MAIS SOBRE O CHILE: PAÍS COM O MELHOR IDH DA AMÉRICA LATINA

  O Chile, país com o maior IDH da América Latina, tem um dos territórios mais estreitos do mundo. Apresenta diversas paisagens, como o Deserto do Atacama, ao norte, a Patagônia, no extremo sul, e a ilha tropical de Páscoa, no Oceano Pacífico. Faz fronteira ao norte com o Peru, a nordeste com a Bolívia, a leste com a Argentina e a Passagem de Drake, a ponta mais meridional do país. É um dos dois únicos países da América do Sul que não faz fronteira com o Brasil, além do Equador. O Pacífico forma toda a fronteira oeste do país, com um litoral que se estende por 6.435 quilômetros.
  O território chileno inclui algumas porções ultramarinas, como o Arquipélago de Juan Fernández, as Ilhas Desventuradas, a ilha Sala y Gómez e a ilha de Páscoa, as duas últimas localizadas na Polinésia. O Chile reclama ainda a soberania de 1.250.000 km² de território na Antártida.
Mapa de localização do território chileno
GEOGRAFIA
  A Cordilheira dos Andes domina a paisagem do Chile, país que é banhado pelo Oceano Pacífico. Por estar localizado em área geologicamente instável - de contato entre placas tectônicas -, são frequentes os tremores de terra. O país está situado entre a Cordilheira dos Andes e o Oceano Pacífico, apresentando uma extensão norte-sul de 4,3 mil quilômetros e uma extensão leste-oeste máxima de 200 quilômetros.
  O país está localizado no Círculo de Fogo do Pacífico, região no entorno da placa de Nazca que concentra 90% da sismicidade e vulcanismo do planeta.
  O Chile controla a Ilha de Páscoa e a Ilha Sala y Gómez, localizadas no leste da Polinésica, que incorporou ao seu território em 1888, além da Ilha Robinson Crusoé, a mais de 600 quilômetros do continente, no Arquipélago Juan Fernández.
Baía de Cumberland, com a povoação de San Juan Bautista, na Ilha de Robinson Crusoé
Clima
  Devido a uma série de fatores - como a ação da corrente fria de Humboldt, da latitude e da altitude - o território chileno apresenta grande diversidade de climas e, consequentemente, de tipos de vegetação.
  O clima do Chile compreende uma ampla gama de condições climáticas através de uma larga escala geográfica, estendendo-se através de 38 graus de latitude. Segundo o sistema de Köppen-Geiger, o Chile, dentro de suas fronteiras, hospeda pelo menos sete dos principais subtipos climáticos, variando de deserto no norte, a tundra alpina e geleiras no leste e no sudeste, subtropical úmido na Ilha de Páscoa, oceânico no sul e mediterrâneo no centro. Há quatro estações na maior parte do país: verão (dezembro a fevereiro), outono (março a maio), inverno (junho a agosto) e primavera (setembro a novembro).
Praia de Anakena - Ilha de Páscoa
  Os fatores mais importantes que controlam o clima chileno são o Anticiclone do Pacífico, a área circumpolar sul, a corrente fria de Humboldt, a escala do litoral chileno e a Cordilheira dos Andes.
Relevo
  O relevo chileno é bastante acidentado, porém, de estrutura simples e bem ordenada em três grandes faixas latitudinais: duas cadeias montanhosas e uma depressão central que as separa. Essas três unidades morfológicas datam do período Terciário, quando o dobramento alpino elevou a cadeia dos Andes.
  Na parte oriental encontra-se a primeira faixa longitudinal do relevo. Esse setor, formado pela Cordilheira dos Andes (cuja parte setentrional é denominada Domeyko), apresenta uma topografia maciça e imponente. Desde sua formação, essa região montanhosa é atingida por um vulcanismo quase permanente e por frequentes movimentos sísmicos.
Mapa geológico do Chile
  No centro e no norte dos Andes chilenos, em atividade ou extintos (alguns cobertos por geleiras), estão as maiores altitudes da cordilheira andina, como o pico Ojos del Salado - que possui uma altitude de 6.893 metros e é o ponto mais elevado do território chileno - e o monte Llullaillaco - que possui uma altitude de 6.723 metros.
Ojos del Salado - ponto mais elevado do Chile
  Em direção ao sul, a altura diminui até dois mil metros na Terra do Fogo. A cordilheira se divide em inúmeras ilhas, estreitas e largas onde, devido à latitude, a ação glacial é muito acentuada.
  O relevo contínuo da cordilheira dificulta o acesso; no norte, as passagens naturais se localizam a altitudes próximas ou superiores a quatro mil metros, e ao sul de Santiago, alguns vales transversais de origem glacial facilitam o acesso à Patagônia argentina.
Vulcão Villarica, na região de Pucón
  A segunda faixa longitudinal também se estende de norte a sul aos pés da cordilheira andina. Trata-se de uma depressão parcialmente preenchida com aluviões e depósitos de vários detritos que formam planícies estreitas e descontínuas, sobretudo nos pampas desérticos do norte e no grande vale central que se estende entre Santiago e Puerto Montt, e que inclui as bacias dos rios Maule e Bío-Bío.
  Paralelamente às duas faixas longitudinais anteriores, estende-se a cordilheira da Costa, de altitudes mais moderadas que os Andes. Sua altura também diminui de norte para sul, passando de três mil metros da zona do Atacama a dois mil metros na região de Santiago.
Mapa topográfico do Chile
Hidrografia
  A hidrografia do Chile é composta por muitos rios, todos eles de pequena dimensão e com poucos afluentes, que correm paralelamente uns aos outros. Os rios do norte são pouco caudalosos e de regime muito irregular devido à aridez do clima. O mais importante desses rios é o Loa, o único que consegue desembocar no oceano.
Rio Loa
  Em direção ao sul, aumento o número de cursos fluviais, bem como o volume de suas águas, alimentado pela fusão das neves e pelas chuvas cada vez mais abundantes. No centro e no sul destacam-se os rios Copiapó, Huasco, Limari, Maipo, Bío-Bío, Valdívia e Maullín.

Rio Bío-Bío
  A grande extensão do território chileno no sentido latitudinal (norte-sul) e a influência climática possibilitam identificar três regiões distintas: Norte, Centro e Sul.
Fauna e Flora  No norte desértico, a umidade das névoas costeiras permite o desenvolvimento de florestas de alfarrobeiras, cactáceas e arbustos espinhosos. O clima mediterrâneo do Chile central propicia a formação de uma estepe de acácias e palmeiras chilenas mais densas que a correspondente aos climas mediterrâneos da Europa; no vale central cresce o copihue, arbusto trepador cuja flor é típica do Chile.
  Em direção ao sul, num ambiente muito mais úmido, erguem-se as densas florestas, erguem-se as densas florestas de araucárias, carvalhos e faias. No extremo sul ocorre uma mistura de florestas e estepes.
Parque Nacional de Conguillo
  A lhama, a alpaca, a vicunha, o puma, a chinchila e o huemul (um tipo de veado) são alguns dos mamíferos mais característicos do Chile, principalmente das regiões centrais e setentrionais. No extremo sul destaca-se o guanaco, do qual se obtém uma lã de excelente qualidade. O condor vive nos picos andinos, enquanto que nas costas meridionais encontram-se focas, pinguins e baleias.
Lhamas no Vale do Arco Íris - Deserto do Atacama
  O Chile conta com uma série de reservas e parques nacionais que têm a função de preservar ambientes naturais e proteger a biodiversidade do país. Nos parques, é possível apreciar incríveis paisagens, nas quais habitam milhares de espécies de animais e plantas.

Parque Nacional Torres del Paine
Regiões geográficas do Chile
1. Norte
  Possui climas árido e semiárido. Nessa área encontra-se o Deserto do Atacama, onde estão as grandes jazidas de cobre que dão ao Chile a posição de maior produtor desse recurso mineral, com 38% das reservas mundiais. Existem também jazidas de prata, zinco,  manganês, ferro e ouro. Esse deserto ocupa uma área de aproximadamente 105 mil quilômetros quadrados e é considerado o deserto mais elevado e seco do mundo. O motivo que levam o Atacama a ser seco são as correntes marinhas do Oceano Pacífico que não conseguem passar pelo deserto por causa de sua altitude. Assim, quando se evaporam, as nuvens úmidas descarregam seu conteúdo antes de chegar ao deserto.
Vale da Lua - deserto do Atacama, Chile
  No Norte do país também se desenvolveu uma importante atividade pesqueira, favorecida pela corrente marítima fria de Humboldt (também conhecida como corrente do Peru), vinda do sul, que contribui para a ocorrência de cardumes próximo à costa chilena.
  As temperaturas no Atacama variam de 0ºC à noite a 40ºC durante o dia. Em função destas condições existem poucas cidades e vilarejos no deserto. Uma delas é San Pedro de Atacama, que tem pouco mais de 3 mil habitantes e está a 2.400 metros de altitude. Por ser bem isolada é considerada um oásis no meio do deserto e o principal ponto de encontro de viajantes no mundo.
San Pedro de Atacama - Chile. Segundo estimativas para 2019, sua população é de 2.015 habitantes
2. Centro
  Beneficiada pela disponibilidade de água e pelo clima temperado, essa região concentra as principais cidades do país - Santiago e Valparaíso -, a maior parte da população e as atividades econômicas de mais importância.
  O clima temperado favorece a agricultura, com destaque para a produção de cereais, a horticultura e o cultivo de frutas, estas últimas amplamente exportadas para os mercados europeus. A produção de uvas para a fabricação de vinhos destaca-se e coloca o Chile como um dos maiores produtores mundiais desse produto.
Reserva Nacional de Malalcahuello
3. Sul
  Apresenta clima frio e úmido por causa das altas latitudes e das massas de ar úmidas provenientes do Oceano Pacífico. Marcada pela presença de lagos, ilhas e fiordes, e por uma baixíssima densidade demográfica, essa região tem em Puerto Montt, uma de suas importantes cidades. As principais atividades são a pecuária intensiva de ovinos e a exploração de madeira, graças à existência da floresta de coníferas.
  A existência de recursos minerais de acentuado valor econômico, como manganês, ferro e carvão, possibilitou o desenvolvimento de indústrias siderúrgicas na região. Outras atividades importantes na região são a pesca e o turismo.
Saltos Petruhué e Vulcão Osorno, no Sul do Chile
HISTÓRIA
  A história do Chile divide-se comumente em doze períodos históricos que cobrem o intervalo de tempo compreendido entre o começo do povoamento humano no atual território até a atualidade.
  Historicamente, o Chile envolveu-se em conflitos territoriais com alguns países vizinhos e, desde a sua independência, em 1818, o território sofreu alterações. Alguns exemplos são a incorporação da porção norte do território, onde se localiza o Deserto do Atacama, após disputa com o Peru e a Bolívia; a anexação da Ilha de Páscoa; e a delimitação de fronteiras com a Argentina na região da Patagônia.
Chile pré-hispânico
  O território atual do Chile, o menos povoado de todo o continente americano, foi habitado por diversos grupos indígenas antes da chegada espanhola. No início, os indígenas estavam organizados em grupos tribais nômades, evoluindo logo após sua chegada para sociedades aldeãs sedentárias.
  Os restos arqueológicos mais antigos do país foram encontrados no Monte Verde, próximo à Puerto Montt e datam de aproximadamente 14.800 anos a.C.. Alguns restos encontrados na cova Fell, um sítio arqueológico na Terra do Fogo (região mais austral do país), indicam que a presença humana remonta a cerca de 7 mil anos a.C..
Cova Fell - Terra do Fogo
  As mudanças climáticas do sexto milênio antes de Cristo, alteraram drasticamente os costumes dos paleoindígenas chilenos, que tiveram que se adaptar a um novo contratempo: a formação do deserto do Atacama, ocasionando o desaparecimento de muitas espécies, e o oceano Pacífico delimitando as atuais costas marítimas. Estes indígenas tiveram que se adaptar a um clima muito mais quente do que estavam acostumados, motivos pelo qual muitos se deslocaram do norte para o litoral e o vale central. Assim, se formaram os principais grupos indígenas chilenos: atacamenhos e aimarás na porção mais ao norte; diaguitas um pouco mais ao sul; os changos na costa setentrional; a grande família dos mapuches no vale central até o seno de Reloncaví; e os tehuelches, chonos, alacalufes, onas e yámanas na Patagônia.
Pucará do Quitor - assentamento defensivo atacamenho
  De alguns milhares de paleolíndios existentes no século VII a.C., a população aumentou para mais de 1,2 milhão no século XV. Durante esse século, a cultura dos povos indígenas foi influenciada pela expansão do Império Inca sobre o norte do atual território chileno, iniciando com o Sapa (Imperador) Inca Pachacútec, e foi culminada sob a direção dos Sapas Incas Túpac Yupanqui e Huayna Capac. Estes últimos avançaram até o sul, subjugando a povos aimaras, atacamenses, diaguitas e picunches. Não conseguindo derrotar as tribos mapuches, estabeleceram finalmente a fronteira meridional do Império Inca, ao norte do rio Maule.
  Entretanto, na Ilha de Páscoa foi desenvolvida uma cultura com características polinésias muito avançadas, apesar do seu isolamento. O antigo povo Rapa Nui desenvolveu-se e construiu enormes esculturas conhecidas como Moais. No entanto, aproximadamente entre os séculos XVI e XVIII, ocorreu uma crise que levou a uma guerra civil, acabando com a maioria dos vestígios dessa civilização.
Moai em Rano Raraku, na Ilha de Páscoa
Descobrimento
  A partir de 1492, a exploração europeia nas Américas começou. Fernão de Magalhães e sua expedição foram os primeiros europeus a chegar no Chile, vindo pelo sul, através do Estreito de Magalhães (que em sua homenagem levou o nome desse navegador), em 1520. Em seguida, Diego de Almagro comandou uma expedição ao Vale do Aconcágua e ao norte do território chileno, em 1536. De 1536 a 1598 ocorreu a Guerra de Arauco, durante o qual os espanhóis ficaram prestes a ser exterminados pelos Mapuches. 
  Almagro organizou o reconhecimento de sua governança denominada Nova Toledo (como havia sido chamado o território cedido ao conquistador por parte do Rei da Espanha), sem encontrar as riquezas que tanto buscava, ou seja, o ouro. Um enfrentamento em Reinohuelén entre os indígenas e uma das patrulhas de Almagro é considerado a primeira batalha da Guerra de Arauco. Decepcionado e cansado da desastrosa viagem, Almagro decide voltar ao Peru, tomando a rota de Arequipa até Cuzco, onde se rebela contra seu ex-companheiro de exploração e que tinha dominado o território do Peru, Francisco Pizarro, onde se rebela contra ele.
Diego de Almagro (1475-1538) - pioneiro na exploração espanhola do território chileno
Dominação espanhola
  Em 1540, Pedro de Valdívia levou a cabo uma segunda expedição, com a qual se iniciou o período da conquista. Ao contrário de Diego de Almagro, Valdívia tomou a rota do Deserto do Atacama.
  Ao chegar ao vale do Copiapó, Valdívia torna solene possessão do território, em nome do rei da Espanha e a nomeia Nova Extremadura, e homenagem à sua terra natal. Renova a marcha até o vale do Aconcágua, onde o cacique Michimalongo tentou o deter sem êxito. Em poucos meses, Valdívia foi proclamado pelo cabildo Governador e Capitão Geral da Nova Extremadura. Inicialmente rechaçou a ideia, porém, aceita em 11 de junho de 1541.
  Nesta primeira etapa lutou contra os indígenas do norte do país, tentando consolidar a dominação espanhola naqueles territórios. Quando dispôs de mais tropas iniciou a ocupação dos territórios situados mais ao sul. Também iniciou a fundação de outras cidades: La Serena (1544), Concepción (1550), La Imperial (1552), Villarrica e Los Confines (1553).
Pedro de Valdívia (1497-1553)
  Em 1553, o país parecia definitivamente pacificado, mas os mapuches, dirigidos por Lautaro e Caupolicán, iniciaram uma insurreição, e Valdívia foi morto em um dos combates. O novo governador, García Hurtado de Mendoza y Manríquez (1557), posterior vice-rei do Peru (1589-1596), reconstruiu as cidades destruídas, mas não teve sucesso em vencer a resistência dos indígenas.
  Em 1557, desembarcou no território chileno, junto com o novo governador, seu amigo de infância, o poeta-soldado Alonso de Ercilla y Zúniga que, inspirado em toda essa sangrenta epopeia, viria a ser o autor da primeira grande poesia épica americana: "La Araucana", onde retrata o heroísmo e tenacidade dos mapuches (araucanos) na defesa de suas terras, e "apresenta" o próprio Chile ao mundo, em verso heroico.
  "La Araucana" viria a ser reconhecida por Miguel de Cervantes, no imortal "Dom Quixote", como uma das maiores obras escritas em verso heroico castelhano.
Alonso de Ercilla y Zúniga (1533-1594)
  No governo de Rodrigo de Quiroga, em 16 de dezembro de 1575, um terremoto acompanhado de um tsunami assolou a região sul, destruindo as cidades de La Imperial, Villarrica, Valdívia e Castro. Estudos recentes calculam, a partir de descrições do fenômeno e danos produzidos, uma grande magnitude perto de 8,5 graus na escala Richter.
  Em 1598, os mapuches se revoltam novamente e se produz o "Desastre de Curalaba", que quase acaba com a tentativa de colonização do Chile. As cidades ao sul do rio Bío-Bío são destruídas, exceto Castro. Após sucessivos combates da Guerra do Arauco, se estabelece uma fronteira tácita entre a colônia espanhola e as terras da dominação mapuche no rio Bío-Bío, de onde se originaram depois perigosas revoltas.
La Serena - com uma população de 317.128 habitantes (estimativa para 2019) é a quarta maior cidade do Chile
  Finalizada a etapa de Conquista, inicia-se um período que durará mais de dois séculos, durante os quais se ampliaria e consolidaria a dominação espanhola no território, apenas resistida pelos mapuches.
  O Reino do Chile constituía administrativamente uma capitania-geral com capital em Santiago. O controle efetivo do território embarcado por esta, se reduzia ao Vale Central até o rio Bío-Bío. À frente da capitania se encontrava o governador e o capitão geral, assessorado pela Real Audiência, presidida pelo mesmo governador. A Audiência, além de servir de órgão de consulta do governador, tinha também as funções de tribunal de apelações do reino.
  Como toda capitania-geral, o Chile era uma região especial de administração, mas com base no sistema de controle recíproco de autoridades, o rei Felipe II sujeitou ao governador a vigilância do vice-rei do Peru, ao expressar em uma cédula real de 1589 que deveria "guardar, cumprir e executar suas ordens, e o avisar de tudo que ali se oferecesse de consideração". A partir de tal norma, os vice-reis entenderam que a relação entre ambos era de efetiva dependência; além de, em alguns casos, a relação do governador ser direta com o rei e em outras passar pelo vice-rei entre a capitania e o vice-reinado. Mediante cédulas reais, só se autorizou a vice-reis intervirem no Chile em caso de "alvoroço e tumulto"; facultou-se aos vice-reis colocar em prática táticas militares na Guerra de Arauco (defensiva) e, depois, ordenou-se diretamente ao governador do Chile implantá-las (ofensiva). Também se autorizou aos vice-reis remover o governador e, posteriormente, se negou a eles tal atribuição.
Antofagasta - com uma população de 296.750 habitantes (estimativa para 2019) é a quinta maior cidade do Chile
  Em respeito a recursos militares de abastecimento comercial, a capitania dependeu do vice-reinado. A administração de justiça da capitania era autônoma do vice-reinado, exceto a Inquisição, que correspondia a um delegado de Lima e os juízos de comércio, que dependeram do consulado de Lima até 1795.
  A Guerra de Arauco tenderia, ao longo do período da Colônia, diversas etapas de alta beligerância e outras mais pacíficas: guerra ofensiva, guerra defensiva e parlamentos. Além disso, os governadores espanhóis tiveram que enfrentar, durante a segunda metade do século XVII, a repetida incursões de corsários ingleses. Para a sustentação do exército, se estabeleceu, em 1600, o Real Situado, uma subvenção da Coroa paga com cargo ao tesouro do vice-reinado do Peru.
  A situação geográfica do Chile, apertado entre as principais rotas terrestres e marítimas, foi um dos inconvenientes maiores com o qual lidou a colonização do país. Isto, somado ao constante estado de guerra em que se encontrava a capitania, converteram o Chile em uma das regiões mais pobres do império espanhol na América. Os intercâmbios com o Peru foram a base da atividade comercial da capitania, posteriormente, ainda que legalmente proibido, se estabeleceu um comércio regular com Buenos Aires.
A Cordilheira dos Andes foi um empecilho na colonização do Chile
  O século XVII foi caracterizado economicamente como o século do sebo, pois este artigo, junto ao couro e o charque, se converteu no principal produto de exportação para o Peru, o que permitia a obtenção de importantes dividendos a uma economia precária, de escassa capacidade de produção em diversas áreas ao gado.
  O século XVIII foi chamado de século do trigo, já que neste século se formou uma nova estrutura social agrária, que permitiu um amplo desenvolvimento da agricultura e uma importante quantidade de exportações deste cereal ao vice-reinado. Em 1687, o Chile se converteu no "celeiro do Peru", pois neste ano o país foi assolado por uma praga que afetou grande parte dos vales cultiváveis. Também se desenvolveu a mineração, com exploração de ouro, prata e cobre.
Temuco - com uma população de 271.391 habitantes (estimativa para 2019) é a sexta maior cidade do Chile
A Independência do Chile
  No ano de 1808, o Império Espanhol vivia um crescente estado de agitação. Chegaram ao Chile as notícias da invasão napoleônica na Espanha e o cativeiro de Fernando VII, na época em que havia assumido García Carrasco como governador do Chile. Depois de um tumultuado caso de contrabando, García renunciou em 1810. O militar mais antigo do Chile nesta época era Mateo de Toro y Zambrano, que assumiu interinamente o mandato. Ao mesmo tempo, havia se propagado fortemente entre os criollos o movimento juntista - trocar o governo espanhol por uma junta de notáveis que conservaria o governo enquanto durasse o cativeiro do Rei.
  O governador Mateo de Toro y Zambrano aceita a convocatória em um cabildo para decidir o estabelecimento de uma junta de governo. Assim, em 18 de setembro de 1810, se forma a Primeira Junta Nacional de Governo, ficando Mateo como presidente e dando início ao período denominado Pátria Velha. Em pouco tempo se convocam e se elegem os membros do Primeiro Congresso Nacional - tendo uma ampla maioria o movimento dos moderados, que propunham uma maior autonomia, sem chegar à completa separação do Império Espanhol, enquanto os exaltados, que pregavam a independência absoluta e instantânea, ficaram com a minoria.
Mateo de Toro y Zambrano (1727-1811)
  Com a ascensão ao poder de José Miguel Carrera, são editados os primeiros textos constitucionais e leis próprias, além da criação de novas instituições, como o Instituto Nacional do Chile, a Biblioteca Nacional e o primeiro jornal chileno, a Aurora de Chile. Por sua vez, inicia-se a Guerra da Independência contra as tropas reais.
  As tropas enviadas pelo vice-rei do Peru, José Fernando de Abascal y Sousa, junto aos apoiadores da Coroa que habitavam o território chileno, derrotaram as tropas patriotas na Batalha de Rancagua, em 2 de outubro de 1814, dando início à Reconquista Espanhola. Neste momento, se restauram as instituições coloniais, com os governos de Mariano Osório e Casimiro Marcó del Pont.
  Com o Desastre de Rancagua, a maioria dos líderes independentistas teve que fugir para Mendoza, na Argentina. Ali foi formado o Exército dos Andes, a cargo do general argentino José de San Martín, do qual participava Bernardo O'Higgins, líder das milícias chilenas. Este Exército Libertador, que inicialmente contava com 4 mil homens e 1.200 militantes da tropa de auxílio para condução de mantimentos e munições, cruzou a Cordilheira dos Andes e, em 12 de fevereiro de 1817 derrota as tropas reais na Batalha de Chacabuco, dando início à Pátria Nova.
Os chamados "fundadores" da República (da esquerda para direita): José Miguel Carrera, Bernardo O'Higgins, José de San Martín e Diego Portales, em pintura de 1854, de Otto Grashof
  O'Higgins foi nomeado Diretor Supremo e, em 12 de fevereiro de 1818, primeiro aniversário da Batalha de Chacabuco, declara formalmente a independência do Chile, que se confirmaria com a vitória do exército chileno na Batalha de Maipú, em 5 de abril do mesmo ano.
Batalha de Maipú, por Rugendas
  Sob seu governo, realizaram-se diversas obras de infraestrutura, organizou-se a Esquadra Libertadora que se dirige até o Peru, realizou-se a captura da cidade de Valdívia, que ainda se encontrava sob o poder dos espanhóis por parte do almirante Thomas Cochrane, e se promulgam duas cartas fundamentais: a Constituição de 1818 e a Constituição de 1822. O'Higgins, porém, ganha a antipatia do povo devido ao seu autoritarismo, suas tentativas de se manter no poder indefinidamente e a ordem de morte, por influência da Logia Lautarina, a Carrera e a Manuel Rodríguez. Para evitar uma guerra civil, O'Higgins renuncia em 28 de janeiro de 1823 e, em julho do mesmo ano, se refugia no Peru.
Bernardo O'Higgins (1778-1842)
Organização da República
  Com a renúncia de Bernardo O'Higgins, o país entrou em um longo período de instabilidade política, que durou uma década. O general Ramón Freire, que se assume como Diretor Supremo sendo assessorado por Mariano Egaña, dedica-se a acabar com o último foco de resistência colonial em Chiloé, mas a constante desordem política em que se encontra o país é um grave obstáculo ao seu governo. Como forma de solucionar o problema, é redigida a Constituição de 1823, porém, sua complexidade gera um grande rechaço na população que, somado à crise econômica imperante, provoca a queda do governo Freire.
Cena patriótica, por Rugendas
  Manuel Blanco Encalada é eleito o primeiro presidente do Chile. Seu curto governo esteve marcado pelo domínio do grupo federalista e a promulgação de Leis Federais de 1828. Mas novamente essa legislação é rechaçada e provoca o caos no país. Blanco Encalada renuncia e se estabelece uma sucessão de presidentes de curto período de governo.
  Em 1828, Francisco Antonio Pinto consegue aprovar a constituição de 1828, de linha liberal. Nas eleições, Pinto é reeleito, mas o acusam de fraude eleitoral. Além disso, o Congresso Nacional designa como vice-presidente Francisco Ramón Vicuña, cargo que deveria ser efetivado por eleição popular. Isto provocou o levante do exército, no comando de José Joaquín Prieto, que controla rapidamente o sul do Chile, dando início à Revolução de 1829.
Francisco Antonio Pinto (1785-1858)
  Pinto e Vicuña renunciam aos cargos para evitar uma guerra civil, mais já é demasiado tarde. A união entre conservadores, produtores de tabaco e partidários de O'Higgins, com a Batalha de Ochagavía, produz a queda do regime liberal e se instaura um governo revolucionário sob o comando de José Tomás Ovalle. Finalmente, a Batalha de Lircay outorga a vitória definitiva dos revolucionários e o fim do regime liberal.
República Conservadora
  Após a vitória na Revolução de 1829, José Joaquín Prieto assumiu como Presidente da República em 1831. Com ele, o poder de Diego Portales aumentou, se transformando no homem mais importante do país.
Diego Portales (1793-1837)
  Seguindo a ideologia de Portales, de caráter autoritário - "governo obedecido, forte, centralizador, respeitado e respeitável, impessoal, superior aos partidos e aos prestígios pessoais" -, é promulgada a Constituição Chilena de 1833, que entrega fortes poderes ao Presidente da República, eleito por sufrágio censitário por um período de 5 anos e reelegível por outros 5. Isso permite que o país acabe com o período de anarquia dos últimos anos, estabelecendo um período de estabilidade (só acabando momentaneamente pelas revoluções posteriores de 1851 e 1861), enraizado nas bases institucionais em que se desenvolveram os regimes posteriores, e começando a se recuperar da crise econômica.
José Joaquín Prieto (1786-1854)
  O descobrimento de cobre em Chañarcillo e a venda de trigo para mercados externos começaram a outorgar riqueza ao país. Além disso, a rivalidade dos portos de Valparaíso e de Callao no Peru pelo domínio do Pacífico, se agravou com a criação da Confederação Peru-Boliviana, de Andrés de Santa Cruz. Portales, um dos mais ferrenhos inimigos desta confederação, foi um dos promotores da guerra contra a união de Peru e Bolívia. Em sua posição de Ministro da Guerra, conseguiu que o Congresso chileno declarasse guerra contra a confederação em 28 de setembro de 1836. Grande parte do povo e do exército não estava convencida da ida à guerra; porém, o assassinato de Portales, em 6 de junho de 1837, foi o alicerce necessário para a participação da população na guerra e a vitória na batalha de Yungay, a mando do general Manuel Bulnes, em 20 de janeiro de 1839.
Batalha de Yungay
  Em 1841, Bulnes é eleito como sucessor de Prieto. Durante o seu governo, a economia do Chile segue em crescimento. Inaugura-se a Universidade do Chile e começa uma ascensão da cultura com a Sociedade Literária de 1842, de José Victorino Lararria e Francisco Bilbao, entre outros. Também se deu início a um período conhecido como Época de Expansão, com o estabelecimento de uma colônia no Estreito de Magalhães. Ao fim de seu mandato, uma tentativa revolucionária para evitar a ascensão de Manuel Montt foi aplacada pela Batalha de Loncomilla, em 8 de dezembro de 1851.
Campus Central da Universidade do Chile
  Junto ao seu ministro, Antonio Varas, Montt seguiu a linha de seu predecessor: construção de estradas de ferro, pontes e estradas; elaborou-se o Código Civil de Andrés Bello e inicia-se a colonização do sul do Chile, através da imigração alemã nas regiões de Valdívia e Llanquihue, coroada pela fundação de Puerto Montt.
  Porém, a estabilidade do regime conservador começou a ruir. A Questão do Sacristão deu origem a um conflito entre a Igreja Católica e o Estado, deixando Montt em uma encruzilhada. Diante desta situação, muitos conservadores se afastam do Presidente e se unem aos opositores do governo, dando origem à Fusão Liberal-Conservadora. Antonio Varas, representando o Partido Nacional, é derrotado pela Fusão, em 1851.
Puerto Montt, em 1862
República Liberal
  José Joaquín Pérez assume como presidente em 1861, como candidato da unidade, acabando com o período chamado Época dos Decênios - devido à duração dos mandatos dos presidentes Prieto, Bulnes, Montt e Pérez.
  Uma das primeiras situações conflitantes no seu governo foi a Guerra contra a Espanha. O reino europeu havia ocupado as Ilhas Chinca, sob jurisdição do Peru como forma de pagamento por antigas dívidas contraídas durante a Guerra de Independência, logo após a Batalha de Ayacucho (1824) e reconhecida na capitulação que se acordou após a batalha. Anos depois, os detentores dos bônus, tanto peruanos quanto espanhóis, pressionaram para que a dívida fosse efetivada, o que motivou a presença na costa ocidental da América do Sul da Expedição Científica - denominação utilizada para uma forte esquadra de guerra espanhola.
  O pretexto de tomar as ilhas foi um incidente na fazenda Malambo, que teve como resultado um espanhol morto e o Tratado Vivanco-Pareja, repudiado pelo povo peruano e que foi considerado como uma afronta à independência americana. O Chile se alia com o Peru, e finalmente no combate naval de Abtao os espanhóis são derrotados pela esquadra aliada, não sem antes bombardear o porto de Valparaíso, em 21 de março de 1866 e se livrarem do combate de Dois de Maio, no dia 2 de maio de 1866, em El Callao.
Valdívia - segundo estimativas para 2019, sua população é de 161.790 habitantes, sendo a 12ª maior cidade do Chile
  O período de expansão iniciado durante o governo de Montt foi continuado. No norte do Chile começa a inversão e exploração de minerais (salitre e cobre) na região de Antofagasta, sob administração boliviana. Ao mesmo tempo, o francês Orélie Antoine de Tounens declarou a independência do reino da Araucania e Patagônia. Ainda que este estado nunca tenha se instalado de fato, gera-se no país uma ideia de controlar finalmente a região de dominação indígena. Em 1865, uma lei interpretativa da Constituição estabelece a liberdade de cultos e, em 1867, entra em vigor o Código de Comércio.
  Em 1871, assume como presidente Federico Errázuriz Zañartu. Durante seu governo acaba a fusão Liberal-Conservadora e se cria a Aliança Liberal, ao se unirem liberais com o Partido Radical. Durante o regime liberal, realizam-se diversas modificações na Constituição de 1833: reduz-se o quórum das sessões das câmaras do Congresso, limitam-se as faculdades presidenciais e se flexibiliza a acusação aos ministros por parte do Congresso, que começa a ter mais atribuições. Além disso, começam a se tratar as "questões teológicas" ou relacionadas com a Igreja. O Código Penal é aprovado em 1874 e a Lei de Organização e Atribuições dos Tribunais (1875), que suprime o foro eclesiástico e os recursos de força.
Federico Errázuriz Zañartu (1825-1877)
  Em 1879, os atritos diplomáticos entre Chile e Bolívia pela administração da fronteira norte do país e dos interesses chilenos nas minas de salitre, provocam o desembarque militar em Antofagasta em 14 de fevereiro, dando início à Guerra do Pacífico.
  Após a conquista do território de Antofagasta, o Chile rapidamente se enfrenta no mar com o Peru, aliado da Bolívia, e acaba com a conquista dos territórios de Tarapacá, Arica e Tacna, em meados de 1880. A Bolívia se retira da guerra em maio deste ano, e o Chile consegue entrar em Lima na Batalha de Miraflores, em 15 de janeiro de 1881. A guerra acaba com a Batalha de Huamachuco, em 10 de julho de 1883, com a firmação do Tratado de Ancón, em 20 de outubro de 1883.
  A vitória chilena sobre os países aliados permite a expansão do território nacional, anexando Tarapacá, Arica e Tacna pelo Tratado de Ancón e Antofagasta. Paralelamente, a zona de Araucania havia sofrido um processo de lenta incorporação através da construção de fortes, instalação de colonizadores, tropas militares e a realização de parlamentos, resultando na Pacificação de Araucania em 1881. Em 1888 é também incorporada a Ilha de Páscoa. Por outro lado, o Chile renuncia ao território da Patagônia Oriental e da Puna de Atacama e os cede à Argentina.
Fronteiras do Chile, Bolívia e Peru antes e depois da Guerra do Pacífico
  Os novos territórios incorporados provocaram um explosivo auge econômico no país, derivado principalmente da mineração do salitre, recuperando-se assim da crise econômica dos anos 1870. Diversas empresas europeias, principalmente britânicas, instalaram-se no extremo-norte do país explorando nitratos. A riqueza produzida pelo "ouro branco" sustentava cerca de 75% dos ingressos fiscais e a totalidade da economia nacional.
  Entre 1883 e 1884, aprovaram-se diversas leis que apontavam para a laicização do Estado: lei de cemitérios laicos, lei do matrimônio civil, lei do registro civil.
  José Manuel Balmaceda foi eleito presidente em 1886. Aproveitando-se dos diversos dividendos da exploração do salitre, o governo de Balmacena caracterizou-se pela modernização completa do sistema econômico, educacional e sanitário, e a construção de grandes obras civis, como estradas de ferro ao longo de todo o país e o viaduto do Malleco. Durante seu governo, tratou de unificar liberais em torno de sua figura, mas a divisão se aprofundou, impossibilitando o desenvolvimento normal de sua gestão.
Viaduto Ferroviário Malleco
  A forte oposição a Balmaceda se concretizou quando o Congresso não aprovou a Lei de Proposições de 1891. Balmaceda declarou, em 1 de janeiro, que esta lei entraria em vigência e que o Congresso não se reuniria até o mês de março daquele ano. No mesmo dia, o Congresso considerou legítima a atitude do Presidente e declarou a sua destituição. A Marinha chilena se uniu aos parlamentares, enquanto o Exército declarou sua lealdade ao primeiro mandatário, dando início à Guerra Civil de 1891.
  Em 12 de abril, foi declarado um governo paralelo em Iquique, liderado por Ramón Luco e pelo almirante Jorge Montt. Rapidamente, as tropas congressistas derrotaram os balmacedistas no norte do país. Com as batalhas de Concón (20 de agosto) e Placilla (28 de agosto), as tropas revolucionárias conseguiram entrar em Santiago. Balmaceda, refugiado na Embaixada da Argentina, suicida-se em 19 de setembro (no dia anterior finalizava-se o seu mandato), acabando com a Guerra Civil, que produziu mais de 10 mil mortes.
José Manuel Balmaceda (1840-1891)
República Parlamentarista
  A vitória das tropas congressistas na Guerra Civil, permitiu o estabelecimento de um sistema político conhecido como República Parlamentar, dominado principalmente pela oligarquia composta pelos grandes latifundiários, a burguesia mineradora e bancária e a aristocracia chilena.
  Ainda que não tenha se estabelecido um sistema parlamentar propriamente dito, o Congresso Nacional dominou a política nacional e o Presidente se converteu em uma figura praticamente decorativa, sem autoridade e subalterno à decisão das maiorias parlamentares, o que o tornava incapaz de aprovar as reformas que o país precisava. Os gabinetes ministeriais eram constantemente censurados pelo Congresso e deveriam apresentar a sua renúncia imediatamente, produzindo-se uma rotativa ministerial que impossibilitava um governo adequado.
  Durante estes anos, o progresso do país continuou devido à riqueza produzida pela mineração do salitre, o que permitiu a construção de algumas obras como a Estrada de Ferro Transandina e o Museu Nacional de Belas Artes, em comemoração ao centenário da Independência chilena. Além disso, a economia do país teve que se sobrepor ao destruidor terremoto que assolou o porto de Valparaíso, em 16 de agosto de 1906.
Valparaíso em 1906, após histórico terremoto
  Internacionalmente, mediante arbitragem britânica, resolveram-se os problemas limítrofes que o país mantinha com a Argentina na zona meridional dos Andes - devido à aplicação dos critérios do divortium aquarum (divisão de águas), defendido pelo Chile, e dos mais altos cumes, sustentado pela Argentina, que não incidiam na região. Ao mesmo tempo, ambos países, junto ao Brasil, firmam o denominado Pacto ABC para estabelecer mecanismos de cooperação e de mediação entre os estados e, de certa forma, frenar a crescente influência estadunidense na região. À época também se iniciou a Primeira Guerra Mundial, conflito no qual a posição do país foi neutra.
  Ao longo das primeiras décadas do século XX começou a se manifestar o descontentamento dos cidadãos pela situação em que se encontrava o país. A forte migração de camponeses para as cidades, fez com que estes se submetessem às péssimas condições de vida, moradia e problemas sanitários. A mortalidade infantil chegou a 31% em 1895; em 1909, mais de 30 mil pessoas morreram de varíola e 18 mil de tifo, ao passo que o analfabetismo superava os 68% da população. Além disso, as condições de trabalho, tanto nas cidades quanto nas empresas de salitre eram vergonhosas. Cerca de mil pessoas morriam em acidentes de trabalho a cada ano, mas toda essa situação era minimizada e desconhecida pelos dirigentes.
Produção de salitre em Tarapacá - Chile, em 1903
  Como forma de melhorar a situação, a partir de 1900 começou a se fazer presente a Questão Social, com as primeiras greves de trabalhadores, no qual exigiam melhores condições de trabalho. Em 1907 foi implantado o descanso aos domingos. Muitos desses protestos foram reprimidos militarmente, sendo o mais conhecido a Matança de Santa Maria de Iquique.
  A fundação de sindicatos e do Partido Trabalhador Socialista, em 1912, permitiu o desenvolvimento do movimento operário nacionalmente. Os protestos começaram a se tornar cada vez maiores e mais violentos, demonstrando a incapacidade da classe dirigente para enfrentar os problemas que a nova sociedade industrial demandava.
Santa Maria de Iquique após a Matança de Santa Maria de Iquique
  Em 1920, a união das forças populares e da classe média deu poder à oligarquia, e Arturo Alessandri assumiu como presidente. Alessandri propôs ao Congresso a adoção de leis bastante avançadas no âmbito social, mais tais projetos encontraram forte oposição no Senado. O descontentamento pela recusa das reformas se manifestou no chamado "ruído de sabres", em 1924, realizado pela jovem oficialidade do Exército, que, em uma sessão do Congresso em que se debatia a remuneração parlamentar, fizeram soar suas cornetas como forma de demonstrar sua reprovação, o que foi interpretado como uma ameaça de golpe de Estado. O Congresso aprovou rapidamente as leis sociais, acreditando que os militares iriam voltar a trabalho. Porém, isso não aconteceu.
  Diante de tal situação, Alessandri apresentou sua renúncia ao Congresso, asilando-se na embaixada dos Estados Unidos. O Congresso não aceitou sua renúncia, dando-lhe uma autorização para se ausentar do país por seis meses.
Arturo Alessandri (1868-1950)
  O poder ficou a cargo dos militares, que constituíram uma Junta de Governo, que não conseguiu controlar a situação. Em 12 de setembro de 1924, as Forças Armadas dissolveram o Congresso após 93 anos de funcionamento ininterrupto. Em 23 de janeiro de 1925, se formou uma nova junta. Em poucos meses, solicitou-se o retorno de Alessandri. Ao voltar, em 20 de março, Alessandri deparou-se com o surgimento de um novo caudilho militar, Carlos Ibañez del Campo, o seu Ministro da Guerra.
  Alessandri decidiu, então, realizar mudanças profundas na política nacional: criou o Banco Central de Chile e conseguiu que se aprovasse, em um plebiscito, uma nova Constituição, que foi promulgada em 18 de setembro de 1925. Com essa constituição, o poder voltou a ser exercido efetivamente pelo Presidente da República, dando fim ao governo parlamentar e estabelecendo um regime presidencial.
Rancágua - com uma população de 245.887 habitantes (estimativa para 2019) é a sétima maior cidade do Chile
República Presidencial
  Com a vitória do Presidencialismo, Alessandri e Ibañez se enfrentaram em uma disputa pela liderança. O primeiro desejava estabelecer um candidato único à Presidência, cargo que Ibañez ambicionava. Este foi apoiado por um manifesto de vários políticos promovendo sua candidatura que parecia oficial, apesar da negativa manifestada por Alessandri, produzindo a renúncia generalizada do gabinete. Diante dessa situação, Ibañez publicou uma carta aberta ao Presidente  o recordando que só poderia governar emitindo decretos com a sua assinatura, já que era o único ministro do gabinete. Desta forma, o governo de Alessandri estava submetido às decisões de Ibañez, algo que Alessandri não aguentaria: designou Luís Barros Borgoño como Ministro do Interior e apresentou sua renúncia irrevogável, em 2 de outubro de 1925.
Carlos Ibañez del Campo (1877-1960)
  Barros Borgoño foi substituído por Emiliano Figueroa, que havia sido eleito como candidato do consenso entre os partidos políticos para enfrentar a crise política em que o país se encontrava. Contudo, Ibañez manteve-se como Ministro do Interior. Figueroa não pôde controlar Ibañez e renunciou em 7 de abril de 1927 - fato este que permitiu a Ibañez assumir a presidência.
  Durante o governo Ibañez criaram diversos organismos, como a Linha Aérea Nacional, a Controladoria Geral da República, Carabineros do Chile e a Força Aérea do Chile. Além disso, promulgou-se o Código do Trabalho e firmou-se o Tratado de Lima, em 3 de julho de 1929, que acabou com os problemas de fronteira com o Peru.
  No início, Ibañez teve o apoio da população, mas, com o passar do tempo, suas atitudes extremamente autoritárias, fez com que ele perdesse esse apoio. Centenas de políticos, incluindo Alessandri, partiram para o exílio, estabeleceram-se restrições à imprensa e o Congresso foi designado por Ibañez com acordo dos partidos políticos, recebendo o apelativo de Congresso Termal, por conta do local da negociação (as Termas de Chillán).
Termas de Chillán
  A quebra da Bolsa de Nova York, em 1929, e a imensa dívida externa chilena, provocou um colapso na mineração de salitre e uma crise sem precedentes no Chile. Em 1931, Ibañez apresentou a renúncia, deixando o governo nas mãos de  Juan Esteban Montero, presidente do Senado. Nas eleições que foram convocadas para outubro, Montero derrotou, com folga, Alessandri, que tinha voltado do exílio.
  Montero, ao reassumir a presidência, enfrentou imediatamente diversas tentativas revolucionárias. A sublevação da Esquadraem Coquimbo foi a primeira tentativa de golpe de uma série que se seguiu de novembro de 1931 até junho de 1932.
  Os líderes do golpe de Estado, Marmaduke Grove, Carlos Dávila e Eugênio Matte, declararam a República Socialista do Chile. Porém, esse governo durou apenas doze dias, até que um contra-golpe acabou com essa tentativa, o que permitiria que Dávila como presidente e outros membros da junta fossem desterrados na Ilha de Páscoa. Dávila esteve só 100 dias como presidente e, após vários mandatos interinos, Alessandri foi eleito como presidente.
Carlos Dávila (1887-1955)
  O segundo mandato de Arturo Alessandri caracterizou-se principalmente pela recuperação do país, tanto da economia quanto da política. Governando com um gabinete pluralista, os radicais que apoiaram Alessandri retiraram-se do governo em abril de 1934. A divisão entre o governo da direita com a esquerda e os radicais aprofundou a violência no país. O Massacre de Ranquil, em 6 de julho de 1934, foi só uma amostra da tensão que começou a reinar no campo e na cidade. Alessandri declarou estado de sítio em fevereiro de 1936 e fechou o Congresso, enquanto os operários se declaravam em guerra à sombra da recém fundada Confederação de Trabalhadores do Chile.
  Apesar das agitações que ocorriam no país, Alessandri, junto ao ministro Gustavo Ross Santa María, estava conseguindo recuperar a derrotada economia. A mineração de salitre já estava dando seus últimos frutos e começava a ser substituída pelo cobre, enquanto a agricultura estava se recuperando rapidamente. A dívida externa foi reduzida em 31% com a compra de bônus depreciados e a indústria nacional respondia por 70% das necessidades do país. Essa melhora permitiu a construção de obras, como o Estádio Nacional e o Bairro Cívico.
Estádio Nacional Julio Martinez Prádanos - uma das obras construídas no segundo mandato de Arturo Alessandri
  Com a aproximação da eleição presidencial, os radicais começaram a se aliar aos comunistas e socialistas, formando a Frente Popular, o qual levantou a candidatura do radical Pedro Aguirre Cerda. A Coalizão elegeu Gustavo Ross como candidato presidencial, sendo reprovado pela oposição, que o denominava Ministro da Fome. Porém, a surpresa foi a candidatura de Ibañez, apoiado pela Aliança Popular Libertadora e o Partido Nacional-Nacionalista.
  Ross era o franco favorito devido à divisão dos eleitores opositores entre Aguirre Cerda e Ibañez. Porém, membros das juventudes nazistas tomaram a Casa Central da Universidade do Chile, em 5 de setembro de 1938. Atrincheirados no edifício, uma tropa de artilharia atacou a entrada principal, o que ocasionou a rendição dos 71 protestantes. Estes foram transferidos ao Edifício do Seguro Operário, localizado em frente ao Palácio de La Moneda, e ali foram fuzilados por carabineros. A Matança do Seguro Operário foi atribuída à oposição como ordem de Alessandri, o que provocou a renúncia de Ibañez de sua candidatura e seu apoio a Aguirre Cerda, que obteve 50,2% dos votos contra 49,3% de Ross.
Pedro Aguirre Cerda (1879-1941)
Os governos radicais
  Pedro Aguirre Cerda assumiu o cargo de Presidente e levou à cabo uma política de esquerda moderada, promovendo a industrialização e diminuindo o poder da oligarquia. Diante do devastador terremoto que devastou Chillán e grande parte do sul do país em 1939, é criada a Cooperação de Fomento da Produção. Através do "Projeto de Substituição de Importações", Cerda buscou a independência econômica do país. Para isso, cria a Empresa Nacional de Eletricidade, a fundação de plantas hidrelétricas, a ENAP (Empresa Nacional del Petróleo) - que ficou a cargo da primeira descoberta de petróleo em Magalhães -, a Companhia de Aços do Pacífico e indústrias estatais de exploração silvoagropecuária e manufatureira. Com esse impulso, a indústria chegou a um crescimento anual de 7,5% entre 1940 e 1943.
Talca - com uma população de 198.856 habitantes (estimativa para 2019) é a nona maior cidade do Chile
  Os bons resultados econômicos começaram a produzir mudanças na sociedade chilena e dar novos brios às cidades. Santiago teve um grande crescimento populacional, alcançando 1 milhão de habitantes. Aguirre Cerda inicia também a extensão da educação pública a grande parte do país, acreditando que esse setor é a única forma de superar a pobreza.
  Durante estes anos as relações internacionais do país tiveram que enfrentar importantes fatos bélicos que assolavam grande parte do mundo: a Guerra Civil Espanhola, que produziu um massivo êxodo de espanhóis, e chegaram ao país graças às ações realizadas pelo embaixador na França, Pablo Neruda - principalmente a bordo do navio Winnipeg. Anos mais tarde, produziu-se o início da Segunda Guerra Mundial, onde o Chile, assim como na Primeira Guerra Mundial, declarou-se neutro, apesar de grande parte da população apoiar os Aliados. Por outro lado, em 1940 e por ordem de Aguirre Cerda, oficializa-se a reclamação do país sobre a Antártida e declaram-se os limites do Território Chileno Antártico.
Mapa do Território Chileno Antártico
  O governo de Aguirre Cerda teve um fim abrupto devido à tuberculose, que o afetou, falecendo ao fim de 1941 sem terminar o mandato. Em 1942, o radical Juan Antonio Ríos é eleito como sucessor de Aguirre Cerda, finalizando a maioria dos projetos dele.
  Durante seu governo, as pressões para tomar parte oficialmente na Segunda Guerra Mundial, tanto pelos Estados Unidos quanto pelos simpatizantes do Eixo, termina com a declaração de guerra à Alemanha e Japão, em 20 de janeiro de 1943. Um feito transcendente para a história da literatura chilena foi a premiação da poetisa Gabriela Mistral com o Prêmio Nobel, em 10 de dezembro de 1946.
Gabriela Mistral (1889-1957) - Prêmio Nobel de Literatura de 1945
  A estabilidade originada nos governos radicais, com a soma das distintas forças políticas, começou a ruir seriamente durante o governo de Ríos. A crise entre a presidência e os socialistas, os comunistas, a direita e seus companheiros de partido levou Ríos a exigir a saída de todos os radicais de seu gabinete. Porém, como seu antecessor, a saúde impediu que continuasse no cargo de Presidente, falecendo em 1946.
Juan Antonio Ríos (1888-1946)
  Gabriel González Videla foi eleito presidente como líder da Aliança Democrática, composta pelo Partido Radical e pelo Partido Comunista (PC), liderado por Neruda. Em 1947, as eleições municipais promoveram a ascensão do PC em pleno cenário da Guerra Fria. Diante desta situação e sob a influência da disputa entre o Socialismo X Capitalismo e do macartismo norte-americano, González Videla expulsou o PC de seu governo e se converteu em um forte opositor a esse sistema.
  Os sindicatos mineiros de Lota e Chuquicamata, dominados por comunistas, declararam-se em greve e foi instalado o estado de sítio em Santiago. Nesse contexto, o Congresso aprova a Lei de Defesa da Democracia, denominada como "Lei Maldita" por seus opositores, que proscreve ao Partido Comunista e envia seus militantes a um campo de detenção em Pisagua.
  Além disso, durante o governo González Videla elabora-se o "Plano Serena", visando o desenvolvimento da província de Coquimbo e remodelação de La Serena, além da conquista do voto feminino. Instalam-se as primeiras bases antárticas e funda-se a Universidade Técnica do Estado.
Gabriel González Videla (1898-1980)
  Para a eleição presidencial de 1952, enfrentam-se Pedro Enrique Alfonso (representando o radicalismo), o centrista Arturo Matte, o socialista Salvador Allende e Carlos Ibañez del Campo como candidato independente. O general Ibañez aparece como a solução dos problemas da política tradicional e, com seus lemas de "O General da Esperança", "Pão para Todos" e seu símbolo da vassoura para varrer a corrupção, consegue a vitória com mais de 47% dos votos.
  O populismo com que assume Ibañez permite ao seu governo grande adesão da população, aproximando-se da esquerda. Nos seus primeiros anos apoia a fundação Central Única de Trabalhadores, liderada por Clotario Blest e derruba a "Lei Maldita" no fim do seu mandato. Porém, em 1955, a substituição de importações fracassa e a economia entra em recessão. Seu governo começa a enfraquecer devido ao pouco apoio de partidos.
Base Científica do Chile na Antártica
  Como forma de buscar uma solução ao problema econômico, a Missão Klein-Saks, uma firma estadunidense, apresenta ao presidente uma forma de solucionar os problemas: medidas liberais, como reformas no comércio exterior, supressão de subsídios, eliminação de reajustes automáticos de salários no setor público e parte do privado, modificação do estatuto do Banco Central do Chile e a criação do Banco do Estado do Chile. Estas medidas tornam-se impopulares e geram descontentamento na população. Greves ameaçam novamente a estabilidade do Governo e é proclamado o estado de sítio por Ibañez, sendo rechaçado pelo Congresso. Em 1957, o presidente enfrenta duramente a Federação de Estudantes da Universidade do Chile, pela alta nas passagens do transporte público, tendo os protestos deixado um saldo de mais de 20 mortos e graves danos materiais no centro de Santiago.
Arica - com uma população de 182.511 habitantes (estimativa para 2019) é a décima maior cidade do Chile
Os Três Terços
  Apesar das tentativas do Bloqueiro de Saneamento Democrático, a forte decepção que produziu o populismo de Ibañez na população permitiu a vitória do independente de direita Jorge Alessandri, filho de Arturo Alessandri, nas eleições presidenciais de 1958. Alessandri obteve cerca de 31,6% dos votos; Salvador Allende, como candidato da Frente de Ação Popular (FRAP) - aliança de esquerda - obteve 28,9%; e o democrata cristão Eduardo Frei Montalva conseguiu 20,7%. Nesta eleição, o Partido Radical (cujo candidato Luís Bossay só obteve 15%) começa a perder protagonismo ante a conformação de um sistema político conhecido como "Os Três Terços" (a direita, a democracia cristã e a esquerda), e que perdurará por quinze anos. Devido ao fato de nenhum candidato ter alcançado a maioria absoluta, o Congresso teve que eleger o presidente, dando ao candidato de direita o cargo.
  O engenheiro Alessandri decide pôr em prática um plano de estabilização econômica, centrado fundamentalmente na luta contra a inflação. Devido a seu caráter sóbrio e técnico, muitas de suas medidas são impopulares. A ideia de Alessandri era criar um Estado que tenha a infraestrutura para incentivar o investimento privado, deixando a ideia do "Estado Paternalista". Para tanto, deixa-se assessorar por muitos especialistas na área, muitos dos quais independentes, o que provoca certos atritos com os partidos que o apoiavam.
Jorge Alessandri (1896-1986)
  Durante o seu governo, Alessandri teve que enfrentar os efeitos dos catastróficos terremotos e maremotos dos dias 21 e 22 de maio de 1960, que teve como epicentro Valdivia, mas que arrasou todos os povoados situados entre Chillán e Chiloé, sendo o movimento sísmico de maior intensidade registrado na história da humanidade, com 9,5 graus de magnitude na escala Richter.
  Em sua gestão foram criadas as empresas estatais Entel Chile, Enami e Ladeco, e Alessandri buscou ajuda econômica estadunidense através da Aliança para o Progresso. Alessandri começou a implementar a reforma agrária, pois a via como uma forma de otimizar a exploração da terra. A reforma foi feita mediante a redistribuição das terras do Estado, sem interferência nas propriedades dos grandes latifundiários.
Rua no centro de Valdivia após o terremoto de 1960
  Ao se aproximarem as eleições de 1964, a Guerra Fria estava no auge e o crescimento do socialismo de Allende parecia inevitável. Para tentar derrotar Allende, fortalece a figura de Eduardo Frei Montalva. Com seu lema "Revolução em Liberdade", Frei consegue somar aliados a seu projeto de reformas profundas no país, sem submetê-lo à influência soviética, como supostamente faria Allende. Em dois anos, o Partido Democrata Cristão do Chile converte-se na principal referência política dos anos 1960.
  A luta entre Allende, Frei e o candidato da Frente Democrática, Júlio Durán, foi voto a voto. Porém, um fato conhecido como "Naranjazo" mudaria completamente o destino da eleição. A morte do deputado socialista por Curicó, Oscar Naranjo, permitiu a realização de uma eleição complementar, prévia da presidencial, e que foi utilizada por todos os partidos como uma prévia da eleição de 4 de setembro. Nesta eleição, o filho do falecido, também socialista, obteve 39,2% dos votos, frente a 32,5% da Frente Democrática e 27,7% do Partido Democrático Cristão.
  Atemorizados com uma possível vitória de Allende, os partidários da direita começaram a apoiar massivamente Frei, que recebeu também o apoio dos Estados Unidos. A Marcha da Pátria Jovem, organizada para apoiar a candidatura de Frei, converte-se em um êxito com a assistência de milhares de pessoas ao Parque Cousiño, o que seria uma prévia do resultado final da eleição. Frei obteve 56% dos votos (uma das mais altas da história eleitoral chilena), enquanto Allende obteve 40%.
Eduardo Frei Montalva (1911-1982)
  Eduardo Frei leva adiante uma política de reformismo moderado, em que se destaca a construção de milhares de moradias, modernização do aparato estatal, a reforma educacional (obrigatoriedade de oito anos), fortalecimento das organizações de base e a ampliação da Reforma Agrária. Esta última se converteu em um dos temas mais delicados, pois incluía expropriações das grandes fazendas, levando animosidade com os políticos de direita que entenderam o ato como uma traição ao seu apoio à eleição presidencial.
  Por outro lado, o governo inicia o processo de "Chilenização" do cobre, adquirindo a mina El Teniente e grande parte das ações de Andina e La Exótica. Além disso, foi construído o túnel Lo Prado e o Aeroporto de Pudahuel e a fundação da Televisão Nacional do Chile, além de iniciar as escavações do Metrô de Santiago.
Mina El Teniente
  Em 1967, houve um racha na Democracia Cristã. Em 1968, se propagam as greves no país, enquanto as reformas das estruturas políticas dos alunos da Universidade do Chile e da Universidade Católica do Chile produzem sérios conflitos entre os estudantes e o governo.
  Em 1969, a crise do governo Frei se acentua, incluindo-se rumores de Golpe de Estado, o que se concretiza em 29 de outubro com o chamado "Tacnazo", liderado pelo general Roberto Viaux, que leva o Regimento Tacna às ruas de Santiago. Este episódio contribuiu para fortalecer a imagem de Salvador Allende.
  No mesmo ano surgiu o Movimento de Ação Popular Unitária (MAPU), como facção mais esquerdista da Democracia Cristã e se une à Unidade Popular, a nova aliança formada por socialistas, comunistas, radicais, sociais-democratas e outros grupos, tendo como propósito levar Allende ao Palácio La Moneda. Radomiro Tomic, o candidato oficial, não é considerado apto para derrotar Allende, motivo pelo qual a direita declara Jorge Alessandri candidato.
  A eleição foi realizada em 4 de setembro e Allende obteve 36,3% dos votos, contra 34,9% de Alessandri e 27,9% de Tomic. Como nenhum candidato havia alcançado a maioria absoluta, o Congresso teria que decidir o vencedor. Desde 1946, o Congresso havia eleito nesses casos aquele que conseguisse a maioria relativa, mas muitas pessoas começaram a pressionar para que Allende fosse eleito.
Salvador Allende (1908-1973)
  O presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, opõe-se fortemente a uma vitória do marxismo na América Latina, motivo pelo qual idealiza à CIA (Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos) dois planos para evitar que o Congresso elegesse Allende: o primeiro consistia em tentar convencer a Democracia Cristã para que votasse em favor de Alessandri, o qual renunciaria e chamaria novas eleições de onde seria eleito Frei; o segundo era provocar um clima de instabilidade política em que o Exército seria obrigado a atuar. Porém, o chamado Track One viu-se eliminado quando Radomiro Tomic anunciou que havia chegado a um acordo com Allende para que este assumisse, respeitando um estatuto de garantias constitucionais. Isso provoca a execução do Track Two, que consistia no sequestro do Comandante do Exército René Schneider, de maneira tal a involucrar o Exército, para que impedisse o Congresso de eleger Allende. Tal ação foi executada em 22 de outubro de 1970, quando Schneider tenta se defender do atentado e, nessas circunstâncias, é ferido gravemente, falecendo dias depois. Apesar do episódio, o Congresso Pleno decide em 24 de outubro designar Allende como novo presidente do Chile.
Radomiro Tomic (1914-1992)
Governo da Unidade Popular
  Salvador Allende assumiu em 3 de novembro de 1970 e tentou construir uma sociedade baseada no socialismo através da democracia, uma experiência até então única no mundo. Entre suas primeiras medidas, continua o processo de reforma agrária e inicia-se a estatização de empresas consideradas chave para a economia chilena.
  Estas medidas foram rechaçadas pela direita, o que não sucedeu com o projeto chave do Governo e que foi apoiado por todos os setores políticos do país: a nacionalização do cobre. Em 15 de julho de 1971, foi aprovado este projeto por votação unânime nas duas Câmaras. O Estado (através da Codelco Chile) tornaria-se proprietário de todas as empresas extratoras de cobre - sendo que estas receberiam indenização, restando-lhes as "utilidades excessivas" que haviam tidas nos últimos anos, produtos dos baixos ou nulos impostos que pagavam. Assim, Anaconda e Kennecott, uma das principais empresas mineradoras, não receberam indenizações pelas minas de Chuquimata e El Teniente, respectivamente, o que dá início a um boicote  ao governo Allende, liderado por Henry Kissinger (negando empréstimos internacionais) e apoiado por algumas empresas multinacionais como a ITT, a Ford, a Pepsi-Cola e outras. Por outro lado, o aumento drástico do salário dos trabalhadores e o congelamento dos preços funciona, e alcança-se um crescimento de 8% do Produto Nacional Bruto (PNB), com baixa inflação. Neste ambiente, a Unidade Popular chega ao seu auge, com 49,73% das preferências nas eleições municipais e com um de seus referentes, Pablo Neruda, recebendo o Prêmio Nobel de Literatura.
Pablo Neruda (1904-1973)
  Porém, a partir do segundo ano, as reformas de Allende começam a ser paralisadas devido à violência que começa a surgir, ao boicote econômico e sabotagens orientados pela administração Nixon, e à crise mundial do petróleo, cujos efeitos nessa época tornaram-se notórios. A tomada de terrenos, aproveitando os resquícios da reforma agrária, termina com alguns agricultores mortos ao tentar defender seus terrenos. A sociedade começa a se polarizar e os enfrentamentos entre partidários e opositores de Allende tornam-se mais frequentes, nascendo os panelaços.
  Com tal clima, a visita de Fidel Castro incita os membros da esquerda a iniciar uma revolução popular com base na luta de classes, algo oposto ao que o presidente se propunha. Economicamente, a magia do primeiro ano começa a se desfazer, surgindo os primeiros sintomas do desabastecimento.
  O assassinato de Edmundo Pérez Zujovic por um obscuro grupúsculo terrorista sem vínculo com a Unidade Popular, foi o estopim para a Democracia Cristã, que decide associar-se ao Partido Nacional para se opor ao governo. Uma acusação constitucional consegue derrubar o Ministro da Defesa. Em 19 de fevereiro de 1972, a oposição tenta aprovar no Congresso Pleno uma reforma constitucional que buscava regularizar os planos estatizadores da União Popular, iniciativa dos senadores Juan Hamilton e Renán Fuentealba. Em 21 de fevereiro, Allende anuncia formulárias observações, através de vetos supressivos ou substitutivos, que chegaram por ofício em 6 de abril.
Chillán - com uma população de 172.197 habitantes (estimativa para 2019) é a 11ª maior cidade do Chile
  Nos partidos do governo mais ligados à ultra-esquerda, aumenta o desejo de radicalizar as reformas, principalmente pelo líder do Partido Socialista, Carlos Altamiro. O Movimento de Esquerda Revolucionária intensifica seus ataques, respondendo ou sendo respondido pelos atentados do movimento de ultra-direita Pátria e Liberdade.
  No âmbito econômico, o país entra em recessão e o PNB cai em torno de 25%, aumentando também a dívida externa, que chegou a 253 milhões de dólares em 1972. O desabastecimento, fortalecido por sabotagens (ocultamente de mercadorias) e greves de transportes financiadas pela CIA, permite a configuração do mercado negro e o governo instala as Juntas de Abastecimento e Preços (coordenadas nacionalmente pelo general Bachelet) para administrar o repasse de bens para a população. Os meios de comunicação entram em enfrentamentos verbais segundo sua tendência política.
Puerto Varas - segundo estimativas para 2019, sua população é de 41.600 habitantes
  Em 1973, as eleições parlamentares dão à Unidade Popular 43% dos votos e à Confederação pela Democracia (CODE), 55%. Allende não consegue a maioria para aprovar suas reformas nem a Confederação pela Democracia consegue os dois terços do Congresso para poder destituir o Presidente.
  O povo começa a ver as Forças Armadas como a única salvação para a crise que vive o país. Porém, as ideias de René Schneider ("enquanto houver regime legal as Forças Armadas não são uma alternativa de poder") e a do general Carlos Prats ("enquanto subsistir o Estado de Direito a força pública deve respeitar a Constituição") estavam contra um pronunciamento militar para deter grande parte das tropas que se levantaram.
  Em 22 de agosto, a Câmara aprova o "Acordo da Câmara de Deputados sobre o grave quebramento da ordem constitucional e legal da República", causada pela negativa do exército em promulgar integralmente a reforma constitucional das três áreas da economia, aprovada pelo Congresso.
  Em 27 de junho, Carlos Prats é insultado nas ruas e, temeroso de um ataque como o de Schneider, dispara contra o agressor, atingindo uma mulher inocente. Prats apresenta sua renúncia, que é rechaçada por Allende. No dia 29, Prats teve que enfrentar um dos momentos mais tensos, quando o coronel Roberto Souper levanta o Regimento Blindado nº 2 e se dirige ao Palácio La Moneda. Prats, dirigindo as guarnições de Santiago, consegue deter essa tentativa de golpe conhecida como Tanquezaço, enquanto os instigadores se refugiam e pedem asilo na embaixada do Equador, deixando um saldo de vinte mortos, principalmente civis.
  Allende reconhece a crise em seu governo e decide convocar um plebiscito para evitar um golpe de Estado. As facções mais radicais do governo da Unidade Popular repudiam a sua decisão. O MIR deixa de o chamar de "companheiro" e o chama de "senhor". Allende conta apenas com o apoio do Movimento de Ação Popular Unitária, do Partido Radical e do Partido Comunista, que compartilham a "via pacífica". Diante dessa situação, Allende convocou seu ministro da Defesa, Orlando Letelier, para que convença o Partido Socialista, o que consegue na noite de 10 de dezembro de 1973.
Palácio de La Moneda, em Santiago
O Golpe de 1973
  Desde agosto de 1973, setores da Marinha e da Força Aérea preparavam um golpe de Estado contra o governo Allende, lideradas pelo vice-almirante José Toríbio Merino e o general Gustavo Leigh. Em 21 de agosto, Carlos Prats decidiu renunciar ao posto de Comandante-Chefe após manifestações das esposas dos generais. Em seu lugar, assumiu Augusto Pinichet no dia 23, considerando um general leal e apolítico. Em 22 de agosto, a Câmara de Deputados havia aprovado um acordo em que se convocava os ministros militares a solucionar "o grave quebramento da ordem constitucional" (o "Acordo da Câmara de Deputados sobre o grave quebramento da ordem constitucional e legal da República").
  Altamirano é advertido de um possível golpe de Estado por parte da Marinha e este lança um discurso incendiário, dizendo que o Chile se converterá em um "segundo Vietnã heroico", enquanto se inicia um processo de desaforo contra Altamirano. Em 7 de setembro, Pinochet é convencido por Leigh e Merino e se une aos golpistas, enquanto entre os Carabineros, apenas César Mendoza, um general de baixa antiguidade, estava a favor.
Copiapó - de acordo com estimativas para 2019, sua população é de 134.254 habitantes
  No dia 10 de setembro, a marinha zarpou como estava previsto para participar dos exercícios UNITAS. O Exército é aquartelado para evitar possíveis distúrbios no dia do processo de Altamirano. Porém, a armada regressou a Valparaíso na manhã de 11 de setembro e tomou a cidade rapidamente. Allende foi alertado logo cedo e se dirigiu ao La Moneda, tratando de localizar Leigh e Pinochet, o que foi impossível e o fez pensar que Pinochet estivesse preso. O general Sepúlveda, diretor dos Carabineros, assinalou que se manteriam fieis, mas Mendoza assumiu como Diretor Geral. Por outro lado, Pinochet chegou ao Comando de Comunicações do Exército e começou a participar ativamente do golpe. Às 8:42, as rádios Mineria e Agricultura transmitiram a primeira mensagem da Junta Militar dirigida por Pinochet, Leig, Mendoza e Merino, solicitando a Allende a entrega de seu cargo e a evacuação imediata do La Moneda, caso contrário, seria atacado por tropas no ar e na terra. Nesse momento, as tropas de Carabineros que estavam cercando o Palácio se retiraram.
  Allende decide continuar no Palácio, enquanto às 9:55 chegam os primeiros tanques ao Bairro Cívico, enfrentando-se com franco atiradores leais ao governo. A CUT chama à resistência nos bairros industriais, enquanto o Presidente decide dar uma última locução: "Colocado em uma transição histórica, pagarei com minha vida a lealdade do povo. E lhes digo que tenho a certeza de que a semente que entregaremos à consciência de milhares e milhares de chilenos não poderá ser cegada definitivamente. Trabalhadores da minha Pátria! Tenho fé no Chile e em seu destino. Superarão outros homens nesse momento cinza e amargo onde a traição pretende se impor. Sigam vocês sabendo que, muito mais cedo que tarde, abrirão-se de novo as grandes alamedas por onde passe o homem livre, para construir uma sociedade melhor". Salvador Allende, 11 de setembro de 1973.
  O fogo entre os tanques e os membros do GAP se inicia e, às 11:52, aviões da Força Aérea Chilena bombardeiam o Palácio La Moneda e a residência de Allende, na Avenida Tomás Moro, Las Condes. O Palácio começa a se incendiar, mas Allende e seus partidários se negam a render-se. Às 2 horas da tarde, as portas são derrubadas e o Palácio é tomado pelo Exército. Allende ordena a evacuação, mas se mantém no Palácio. Segundo o testemunho de seu médico pessoal, Allende disparou com uma metralhadora contra seu queixo, cometendo suicídio.
  Às 18 horas, os líderes do golpe se reúnem na Escola Militar, assumindo como membros da Junta Militar que governará o país, e decretam o "estado de guerra", incluindo o estado de sítio.
Bombardeio ao Palácio de La Moneda, durante o Golpe Militar de 1973
Primeiros anos da Junta Militar
  Após derrubar o governo democrático de Allende, os membros da Junta de Governo começaram um processo de estabelecimento de seu sistema de governo.
  De acordo com o Decreto Lei Nº 1, de 11 de setembro de 1973, Augusto Pinochet assumia a presidência da Junta de Governo, em sua qualidade de comandante em chefe do ramo mais antigo das Forças Armadas. Este cargo, que originalmente seria rotativo, finalmente se tornou permanente. Em 27 de junho de 1974, Pinochet assume como "Chefe Supremo da Nação", em virtude do Decreto Lei Nº 527, cargo que seria substituído pelo de Presidente da República, em 17 de dezembro de 1974, pelo Decreto Lei Nº 806. Entretanto, a Junta assume as funções constituinte e legislativa em lugar do Congresso Nacional, que foi fechado em 21 de setembro.
Sessão de Junta uma semana após o golpe de 1973
  Diante de tal situação, milhares de pessoas começaram a sofrer a repressão exercida pelo novo governo. A maioria dos líderes do governo da Unidade Popular e outros líderes da esquerda foram presos e transferidos para centros de reclusão. Cuatro Álamos, Villa Grimaldi, o Estádio Chile e o Estádio Nacional de Santiago foram utilizados como campos de detenção e tortura, assim como a Oficina Salitrera Chacabuco, a Ilha Dawson, na Patagônia, o porto de Pisagua, o Buque Escola Esmeralda e outros locais ao longo do país. Cerca de 3 mil pessoas teriam sido assassinadas por membros da Direção de Inteligência Nacional (DINA) e de outros organismos das Forças Armadas, dentre eles o general Bachelet, o cantor e compositor Víctor Jara e o advogado e ministro José Tohá. Muitas dessas pessoas permanecem como desaparecidas até os dias de hoje. Além disso, 35 mil pessoas foram torturadas sistematicamente, mais de 300 mil foram detidas por organismos do governo e outras tiveram que se exilar em diversos países do mundo, algumas das quais foram brutalmente assassinadas em atentados explosivos no exterior, como o general Carlos Prats na Argentina e o diplomata e ex-ministro Orlando Letelier em pleno bairro diplomático de Washington (EUA).
  As sistemáticas violações aos direitos humanos cometidas pela ditadura de Pinochet provocaram o repúdio de diversos estados e da Organização das Nações Unidas (ONU). Também se agrega os evidentes enriquecimentos ilícitos de Pinochet, familiares, colaboradores mais próximos e dos setores que lucraram com a ditadura.
Augusto Pinochet (1915-2006)
  A liberdade de imprensa do Chile acabou, salvo para os jornais golpistas, como "El Mercurio", similares e correlatos. Diversos jornais de esquerda ou até independentes foram expropriados e, às vezes, tiveram seus locais e maquinários saqueados, destruídos e incendiados.
  No âmbito econômico, o Regime Militar tenta uma "política de choque" para corrigir a crise em que havia sido assumida pelo governo, com inflação superior a 300%. Para tanto, solicita-se a ajuda de um grupo de jovens economistas egressos da Universidade de Chicago, que implantam o modelo de liberalismo de Milton Friedman. Os "Chicago Boys" aproveitam as ideias nascidas em El Ladrillo e, seguindo as ideias de Friedman, sob a proteção e apoio da ditadura, começaram um tratamento de choque monetarista para a economia chilena: o gasto público foi reduzido em 20%, foram demitidos 30% dos empregados públicos, o Imposto de Valor Agregado (IVA) foi aumentado e os sistemas de empréstimos e financiamento de moradia foram eliminados.
  Como previsto, a economia depois destas medidas despencou, algo que Friedman considerava necessário para fazê-la "ressurgir". O Produto Geográfico Bruto (PGB) e as exportações caíram em 12% e 40%, respectivamente, e o desemprego aumentou para 16%. Porém, as medidas aplicadas durante esse período favorecidas pelo aumento internacional do preço do cobre, começaram a surtir efeito em 1977, quando a economia começou a se levantar e se deu início ao que foi o "Boom" ou o "Milagre Chileno". Nestes anos, finalizaram-se os trabalhos do Metrô de Santiago e começaram os da Carretera Austral.
Carretera Austral ou Ruta CH-7, nas proximidades de Caleta Gonzalo
  Aproveitando a conjuntura da América Latina, liderada por múltiplos ditadores militares, o Chile se integrou junto a outros estados na Operação Condor, um plano de inteligência destinado à prática do terrorismo de estado no Cone Sul, apoiado pela CIA, visando, entre outros, o assassinato de ex-presidentes. Um dos ideólogos deste plano foi o chefe do DINA, Manuel Contreras, um dos homens com maior poder no país durante estes anos. A proximidade que tinha com líderes de outros países permitiu que, por exemplo, o Chile acertasse posições com a Bolívia, liderada pelo general Hugo Banzer. Isso permitiu a formação do Acordo de Charaña, uma tentativa de solucionar o problema da mediterraniedade da Bolívia e em que se restabeleciam as relações diplomáticas.
O Estádio Nacional de Chile utilizado como campo de concentração durante a ditadura Pinochet, em 1973
A Troca de Década
  O ano de 1978, marca um dos anos mais críticos do governo Pinochet. Os Estados Unidos, que o haviam apoiado no princípio do regime, tornam-se um dos seus principais detratores, devido principalmente ao atentado terrorista contra Orlando Letelier, exilado em Washington. Jimmy Carter, que assumiu o governo no ano anterior, realiza uma forte campanha junto a diversos organismos internacionais exigindo maiores liberdades civis no Chile e criticam a censura contra a imprensa e a repressão à oposição.
  As violações aos direitos humanos continuaram, apesar da pressão internacional. Enquanto Pinochet promulga o Decreto Lei Nº 2.191, que concedeu anistia a todos os que haviam cometido feitos delituosos desde a data do golpe, em qualidade de autores, cúmplices ou encobridores, a imprensa começa o destino dos primeiros detidos desaparecidos na zona de Lonquén. A DINA é substituída pela CNI, enquanto o cardeal Raúl Silva Henríquez cria o Vicaria da Solidariedade.
Queima de livros durante os tempos da ditadura Pinochet
  Neste ambiente, Gustavo Leigh manifesta suas diferenças de opinião com  Pinochet. Leigh, o gestor do golpe, opõe-se ao excessivo personalismo de Pinochet e ao modelo econômico imposto. Também esperava apurar os prazos para o retorno da democracia e estava contra as práticas terroristas que estava exercendo o Estado. Diante das declarações do Comandante da Força Aérea ao periódico italiano Corriere della Sera e sua recusa em se retratar, Leigh é destituído pela Junta Militar e é substituído por Fernando Matthei.
  A proximidade da comemoração do centenário da Guerra do Pacífico produziu efervescência no Peru e na Bolívia. As tentativas de outorgar uma saída ao mar pela Bolívia, viram-se acabadas pelo veto do Peru ao Acordo de Charaña, veto este que poderia exercer de acordo com o estabelecido no Protocolo Adicional do Tratado de Ancón, chegando o ditador do Peru, o General EP Juan Velasco Alvarado a mobilizar a 18ª Divisão Blindada do Exército do Peru ao sul, próximo à fronteira do Chile. Dias depois, o general EP Francisco Morales Bermúdez Cerruti derrota o general Velasco, desmobiliza a 18ª Divisão Blindada, cujos tanques retornam aos seus quartéis e a normalidade volta à fronteira, mantendo o veto ao Acordo de Charaña. Ao mesmo tempo, Hugo Banzer, presidente da Bolívia, rompe relações diplomáticas com o Chile.
Gustavo Leigh (1920-1999)
  Ao mesmo tempo, surge com a Argentina o Conflito de Beagle. A Rainha Elizabeth II do Reino Unido abdica das ilhas Picton, Lexxon e Nueva ao Chile, aos quais estavam em disputa com o país vizinho. Ambos países haviam se comprometido a aceitar o laudo britânico de 1967, porém, Jorge Rafael Videla declara o ocorrido como "insanealmente nulo" e a possibilidade de guerra com a Argentina é iminente, a que se somava a possibilidade de um "quadrilhaço" (guerra com a Argentina, Peru e Bolívia).
  O Chile tenta solucionar as diferenças através de uma mediação papal com o Paulo VI, mas sua morte e de seu sucessor, o Papa João Paulo I, agravam a situação. As tropas chilenas estão recrutadas em Punta Arenas e a esquadra chilena zarpa para enfrentar a Argentina em 22 de dezembro de 1978. Uma tempestade nas águas patagônicas evita o primeiro enfrentamento, enquanto o Papa João Paulo II apela a uma mediação entre ambos países, a qual é aceita pela Argentina. O conflito seria aceito com o "Tratado de Paz e Amizade", firmado em 29 de novembro de 1984.
Mapa das ilhas em questão no Conflito de Beagle
  Em outubro de 1978, o Conselho de Estado (um organismo assessor à Junta, presidido por Jorge Alessandri) recebeu um anteprojeto de Constituição redigido pela Comissão Ortúzar. Em 8 de julho de 1980, Alessandri entrega um dictamen e informe elaborado pelo Conselho, contendo várias correções ao anteprojeto. A fim de analisar o projeto apresentado pelo Conselho, a Junta de Governo nomeia um grupo de trabalho que praticou suas funções durante um mês, realizando diversas modificações no texto. No dia 10 de agosto, Pinochet informa que a Junta aprovou a nova Constituição e que a submeterá a um plebiscito. Os registros eleitorais não foram abertos, motivo pelo qual várias irregularidades teriam sido cometidas. A oposição só pôde se manifestar em um ato político liderado por Eduardo Frei Montalva no Teatro Caupolicán. Em 11 de setembro de 1980, realizou-se o referendo que obteve um respaldo de 68,95% dos votos. Assim, a nova Constituição Política da República do Chile entrou em vigor em 11 de março de 1981.
Punta Arenas - de acordo com estimativas para 2019, sua população é de 156.859 habitantes
  Em 1981, os primeiros sintomas de uma nova crise econômica começam a ser sentidos no país. Pinochet impõe o liberalismo econômico. As sucessivas tentativas e erros de dosagem nas medidas recomendadas pelo modelo liberal custaram ao Chile uma queda de 30% do seu PIB, a balança de pagamentos alcançou um déficit de 20% nesse ano e os preços do cobre caíram drasticamente. Os investidores estrangeiros deixaram de investir, enquanto o governo dizia que tudo isso era parte da recessão mundial. Os investidores nacionais e as empresas chilenas haviam aproveitado durante esse período para pedir diversos empréstimos, com base na promessa de um câmbio fixo de 1 dólar a 39 pesos chilenos.
  Em junho de 1982, o peso foi desvalorizado e a política de câmbio fixo se encerrou. Os empréstimos alcançaram taxas exorbitantes e muitos bancos e empresas quebraram. O desemprego chegou a 25% e o governo não encontrava fórmula capaz de amenizar a situação. A inflação chegou a 20% e o PIB caiu 15%. Começaram, então, a aparecer os primeiros protestos de caráter pacífico, que foram violentamente reprimidos pelos carabineros e pelo exército. Implanta-se o estado de sítio e diversas organização terroristas, como a Frente Patriótica Manuel Rodriguez (FPMR), decidiram iniciar a "Operação Retorno" e pôr fim ao Regime por meio da luta armada.
Coihaique - de acordo com estimativas para 2019, sua população é de 52.042 habitantes
  Em 27 de dezembro de 1986, os comandos do FPMR tentam assassinar o general Pinochet no caminho ao Cajón de Maipo. Diante do fracasso dos comandos esquerdistas, Pinochet ordena uma forte onde repressiva que termina com a morte de diversos frentistas (Operação Albânia). No mesmo período, tornou-se público o assassinato de cinco professores comunistas que foram encontrados degolados, delito cometido por corpo de carabineros, o que obrigou à renúncia do diretor geral Cézar Mendoza, que foi substituído por Rodolfo Stange.
  Com a renúncia de Sérgio Fernández ao Ministério do Interior, Sérgio Onofre Jarpa, seu sucessor, permite a aproximação à Aliança Democrática (composta por democratas cristãos e socialistas moderados). Graças à participação do Cardeal Francisco Fresno, partidários do governo e parte da oposição formularam, em agosto de 1985, um "Acordo Nacional para a Transição à Plena Democracia". Tal acordo foi recebido com ceticismo por setores da extrema esquerda e sérias discrepâncias ao interior da Junta de Governo.
  No âmbito econômico, Hernán Büchi, Ministro de Finanças, conseguiu produzir o "Segundo Milagre" devido a um profundo processo de privatizações de empresas públicas (LAN Chile, Entel, CTC, CAP) e a reimplantação do modelo liberal (substituído pelo keynesianismo nos anos mais cruéis da crise). Apesar do aumento do PIB nos anos seguintes, a redução do gasto social foi acompanhado pelo aumento da desigualdade social, fazendo do Chile um dos países com a maior desigualdade de renda da América. Além disso, a zona do Chile Central foi sacudida por um terremoto em 3 de março de 1985, provocando graves danos nos edifícios de Santiago, Valparaíso e San Antonio.
San Antonio - de acordo com estimativas para 2019, sua população é de 90.693 habitantes
Últimos anos
  Em 1987, o governo promulgou a Lei Orgânica Constitucional dos Partidos Políticos (que permitiu a criação de partidos políticos) e a Lei Orgânica Constitucional sobre Sistema de Inscrições Eleitorais e Serviço Eleitoral (que permitiu se abrir os registros eleitorais). Com estas disposições legais, abriria-se brecha para se cumprir o estabelecido pela Constituição de 1980. Segundo ela, devia-se convocar os cidadãos a um plebiscito onde se ratificaria um candidato proposto pelos Comandantes em Chefe das Forças Armadas e o General Diretor dos Carabineros para ocupar o cargo de presidente da República no período seguinte de oito anos.
  No caso de o resultado ser adverso, o período presidencial de Augusto Pinochet se prorrogaria por mais um ano, como as funções da Junta de Governo, devendo se convocar a eleição de Presidente e de Parlamentares.
  No início de 1987, o país presenciaria a visita do Papa João Paulo II, que percorreu as cidades de Santiago, Viña del Mar, Valparaíso, Temuco, Punta Arenas, Puerto Montt e Antofagasta. O Sumo Pontífice seria testemunha presente da repressão durante alguns protestos na cerimônia de beatificação de Teresa dos Andes, no Parque O'Higgins, em 3 de abril de 1987. Durante sua visita, João Paulo II manteve uma longa reunião com Pinochet em que trataram do tema do retorno à democracia. Nesta reunião, o Pontífice havia instigado Pinochet a fazer modificações no regime e inclusive haveria solicitado sua renúncia. No ano seguinte, convocou-se a realização do plebiscito, fixado em 5 de outubro.
Melipilla - segundo estimativas para 2019, sua população é de 98.321 habitantes
  Em 30 de agosto de 1988, o Comandante em Chefe das Forças Armadas e o General Diretor dos Carabineros, de conformidade com as normas transitórias da Constituição em vigor, propuseram como seu candidato Augusto Pinochet. Os partidários do "Sim" estariam integrados por membros do governo e os partidos Renovação Nacional, a União Democrata Independente e outros partidos menores. Por outro lado, a oposição criou a Concertação de Partidos pelo "Não", que agrupava 16 organizações políticas opositoras ao regime, entre as quais se destacavam a Democracia Cristã, o Partido pela Democracia e algumas facções do Partido Socialista.
  Em 5 de setembro de 1988, foi permitida a propaganda política após 15 anos de ditadura. A propaganda seria um elemento chave para a campanha do "Não", ao mostrar um futuro colorido e otimista, contrapondo a campanha oficial, notoriamente deficiente de qualidade técnica e que anunciava o retorno do governo da Unidade Popular em caso de uma derrota de Pinochet. O resultado da eleição foi: o "Sim" obteve 44,01% dos votos e o "Não" obteve 55,99%.
  Pinochet reconhece a vitória do "Não" e afirma que continuará o processo traçado pela constituição de 1980, marcando as eleições para presidência e parlamento para o dia 14 de dezembro de 1989. Nessa eleição, Patricio Aylwin, candidato da Concertação, obteve 55,17% dos votos, contra 29,4% de Büchi e 15,43 de Francisco Javier Errázuriz, candidato independente de centro.
San Fernando - de acordo com estimativas para 2019, sua população é de 66.281 habitantes
Governo de Patricio Aylwin
  Patricio Aylwin recebeu o mandato das mãos de Pinochet, em 11 de março de 1990 no novo Congresso Nacional do Chile, localizado na cidade de Valparaíso, dando início ao processo de transição à democracia.
  No início do seu governo, Patricio Aylwin teve que trabalhar em um sistema que mantinha inacessíveis muitos vestígios do Regime Militar. Ainda que a Concertação tivesse obtido a maioria dos votos nas eleições parlamentares, devido ao sistema binomial e a existência de senadores designados, não se poderia fazer as esperadas reformas à Constituição e a administração local das comunas ainda estava nas mãos de pessoas designadas pelo governo militar, que foram substituídas nas eleições de junho de 1992.
  Aylwin governou cautelosamente, cuidando das relações com o exército, onde Pinochet ainda se mantinha como Comandante em Chefe. O exército, ainda que houvesse deixado de participar do governo, seguia sendo um importante ator político e manifestou seu rechaço a certas medidas do governo concertacionista através de movimentos táticos como o "Exército em Enlace" e o "Boinazo", em 1991 e 1992, respectivamente.
Patrício Aylwin (1918-2016)
  Aylwin constituiu a Comissão Nacional de Verdade e Reconciliação, destinada a investigar e esclarecer as situações de violações dos direitos humanos durante os anos do Regime Militar. Propôs também criar modificações nas normas tributárias para aumentar o gasto de imposto e melhorar a distribuição de renda, no momento em que a economia chilena seguia prosperando devido ao aumento das exportações de cobre e dos produtos agrícolas. A pobreza reduziu-se de 38,75% para 27,5%. Foi promulgada a Lei Indígena, que reconheceu pela primeira vez aos povos indígenas e que cria a Corporação Nacional de Desenvolvimento Indígena, organismo da promoção de políticas que fomentem o desenvolvimento integral desses povos.
  Aylwin criou o Fundo de Solidariedade e Inversão Social, para fomentar as políticas sociais, e com a promulgação da Lei sobre Bases Gerais do Meio Ambiente, que buscava estruturar um marco para a ordenação ambiental, além de criar a Comissão Nacional do Meio Ambiente, para promover o desenvolvimento sustentável e coordenar as ações derivadas das políticas e estratégias ambientais do governo.
  Em 1993, foram realizadas novas eleições presidenciais e renovou-se a Câmara dos Deputados e metade do Senado. Eduardo Frei Ruiz-Tagle, filho do ex-presidente Eduardo Frei e do mesmo partido de Aylwin (Democracia Cristã), obteve 58,01% dos votos, a maior votação em eleições livres da história republicana. O segundo, Arturo Alessandri Besa, candidato da União pelo Progresso (RN e UDI), obteve 24,3% dos votos.
Posse de Eduardo Frei Ruiz-Tagle, em 11 de março de 1994
Governo Eduardo Frei Ruiz-Tagle
  Frei reiniciou as relações do país com o exterior, após certo isolamento em que esteve durante o Regime Militar. A economia se expandiu ainda mais e o crescimento médio foi de 8% ao ano durante os três primeiros anos de governo, o que permitiu o início das negociações com o Canadá, Estados Unidos e México para a integração ao Nafta e o ingresso como membro associado do Mercosul. O Chile também ingressou no Grupo do Rio e no decorrer da década conseguiu resolver os últimos litígios fronteiriços com a Argentina (Laguna del Desierto e Campos de Hielo Sur).
  Iniciou-se também as primeiras gestões para um tratado de livre comércio e de associação com a União Europeia. Em 1997, o Chile se converte em membro da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC), abrindo sua economia até a costa da Ásia, principalmente Japão e China. A pobreza continua em queda, chegando a 21,7% em 1998.
Lago do Deserto e Monte Fitz Roy - área que por muitos anos foi disputada entre Chile e Argentina
  Na metade de seu mandato, tem a crise asiática, que afetou grande parte da economia chilena. Durante estes mesmos anos, o país enfrentou importantes crises ambientais: a alta contaminação atmosférica em Santiago, o terremoto Blanco de 1995 que assolou o sul do Chile, as fortes secas de 1996 que impediram a geração de hidroeletricidade e o corte do abastecimento às principais cidades, as enchentes de 1997 na zona centro-sul, e o terremoto Punitaqui no mesmo ano.
  O crescimento econômico do país estancou (o PIB  diminuiu em 1%) e o desemprego começou a aumentar, superando os 12% (em 1997, mantinha-se próximo de 5%). As decisões errôneas do ministro Eduardo Aninat e do Banco Central expandiram o efeito e a recessão se estabeleceu nos últimos anos do governo Eduardo Frei.
Illapel - de acordo com estimativas para 2019, sua população é de 31.577 habitantes
  Uma crise política inicia-se no país devido à detenção, em Londres, de Augusto Pinochet, que em 1998 havia assumido como senador vitalício após abandonar o Comando do Exército, devido a uma ordem de captura internacional emanada pelo juiz espanhol Baltasar Garzón pelo assassinato e tortura de cidadãos de nacionalidade espanhola durante o seu governo. A detenção de Pinochet supôs uma humilhação ao Chile, visto que em seu país não havia sequer sido processado por causa alguma. A postura oficial do governo foi que Pinochet deveria voltar ao país para ser julgado pelos tribunais nacionais e não na Espanha ou Suíça, países que solicitaram sua extradição ao Reino Unido. Os partidos de direita apoiaram fortemente Pinochet, realizando manifestações contra sua detenção, e os simpatizantes da Concertação apoiaram a reclusão do ditador.
  A Câmara de Lordes revoca, em novembro de 1999, uma resolução de um tribunal que aceitava a imunidade diplomática de Pinochet como senador e ex-Presidente. A ex-Primeira-Ministra do Reino Unido, Margaret Thatcher , visitou Pinochet, que começa a sofrer graves problemas de saúde, e confessa que o Chile havia apoiado o Reino Unido na Guerra das Malvinas, em 1982, conflito em que o Chile era neutro, o que provocou reações de protestos por parte do governo argentino.
  Os exames neurológicos verificaram a gravidade do estado de saúde de Pinochet. Para evitar que o general morresse na Grã-Bretanha, Jack Straw, ministro das Relações Exteriores britânico, decide liberar Pinochet em 2 de março de 2000 por "razões humanitárias". Pinochet retorna a Santiago no dia 3 e se levanta de sua cadeira de rodas, levantando sua bengala de forma vitoriosa, caminhando alguns metros na pista do Aeroporto, irritando os políticos que estavam contra o seu traslado.
Momento da prisão de Pinochet, em 16 de outubro de 1998, numa clínica de Londres
  Durante estes anos, a direita aumentou seu apoio nas mãos de Joaquín Lavín, prefeito de Las Condes e figura relativamente nova no âmbito político e que consegue se aproximar do eleitorado popular. Aproveitando as deficiências dos governos da Concertação no período da crise, Lavín consegue colocar em xeque o candidato oficial Ricardo Lagos, um dos principais líderes da esquerda concertacionista durante a época do plebiscito, pré-candidato presidencial nas duas oportunidades anteriores e ministro de Obras Públicas durante o governo Frei. Diante da forte luta para ser o candidato da Concertação frente ao democrata-cristão Andrés Zaldivar, em que Lagos havia obtido 71% em eleições primárias, grande parte do eleitorado de centro havia votado em Lavín temerosos da chegada do socialista ao governo, repetindo a experiência de Salvador Allende. Da mesma forma, muitos comunistas e a esquerda extraparlamentar temem a vitória do candidato gremialista no primeiro turno, e decidem votar em Lagos, deixando de lado a candidata Democrata-Cristã Gladys Marín.
  Nas eleições de 12 de dezembro de 1999, Ricardo Lagos obtém 47,96% dos votos, 30.000 há mais do que Lavín. Marín obteve apenas 3,92%. O segundo turno ocorreu em 16 de janeiro de 2000 e Lagos foi eleito com 51,3% dos votos contra 46,7% do candidato da UDI.
Los Vilos - de acordo com estimativas para 2019, sua população é de 22.023 habitantes
Governo Ricardo Lagos
  Ricardo Lagos assume o governo em 11 de março de 2000 e teve que lidar com as consequências da crise asiática, da qual o país não se recuperou, e do caso Pinochet. Entre suas prioridades estavam pôr em prática a Reforma Processual Penal e a redução dos níveis de desemprego. A economia chilena não decola e as tentativas de reforma do governo Lagos não são aprovadas no Congresso ou não têm resultados favoráveis, como a reforma da saúde.
  Durante o ano de 2001, revela-se um caso de corrupção relacionado à venda de revisões técnicas em Rancagua, em que é envolvido um subsecretário do governo e alguns parlamentares da Concertação. Inicia-se, então, uma série de acusações de corrupção ao governo Ricardo Lagos relacionadas ao Ministério de Obras Públicas (Caso MOP-GATE, principalmente) e a administração Lagos começa a enfraquecer, especialmente após as eleições parlamentares deste ano, que dão como resultado quase um empate técnico entre a Concertação e a Aliança pelo Chile.
Ricardo Lagos no dia de sua posse, em 11/03/2000
  O governo passa por sua pior crise durante o ano de 2002 e começo de 2003, quando enfrenta inúmeras críticas pela administração. O Chile ingressa como membro do Conselho de Segurança das Nações Unidas, tendo que tomar uma decisão ante os planos de Washington de invadir o Iraque. O Chile votou contra a proposição, sendo apoiado por grande parte da população.
  O país consegue fechar os acordos iniciados no governo anterior, firmando o tratado de livre comércio com a União Europeia, que entrou em vigência em 1 de janeiro de 2003. Posteriormente, são firmados os tratados com a Coreia do Sul e Estados Unidos, graças às gestões de Soledad Alvear, ministra de Relações Exteriores do governo Lagos. Há um grande aumento das exportações e o Chile volta ao crescimento do governo Frei, desfazendo-se as dúvidas que inicialmente tinha o empresariado. Porém, o desemprego continua alto, beirando os 8%, e a desigualdade de renda não varia substancialmente.
  Em 2004, Lagos teve que enfrentar publicamente o Presidente da Bolívia, Carlos Mesa, que exigia uma saída ao mar para seu país, considerando a precária situação econômica e política que vivia o país. Posteriormente, enfrenta Hugo Chávez da Venezuela, e Néstor Kirchner, da Argentina. A dura posição frente ao Presidente da Bolívia e a atitude utilizada com os outros mandatários foram reconhecidas por toda a opinião pública, nacional e internacional, e a avaliação positiva de Ricardo Lagos começou a aumentar, conseguindo uma aprovação de 65%.  A crise que parecia pressagiar se dissipa e a Concertação começa a ressurgir. Os prognósticos, que davam Joaquín Lavín como vencedor das próximas eleições presidenciais começam a variar substancialmente com a arremetida de duas ministras do governo Ricardo Lagos, Soledad Alvear e Michelle Bachelet.
Ricardo Lagos comandando desfile militar, em 19 de setembro de 2003
  Sob o mandato do general Juan Emilio Cheyre, o exército reconhece as violações dos Direitos Humanos e o Governo entrega os resultados da Comissão Valech sobre tortura durante o Regime Militar. Pinochet é processado por diversos casos de violações dos Direitos Humanos, mas se isenta devido a uma "demência senil". Durante 2004, investigações nos Estados Unidos demonstrariam que Pinochet guardou milhões de dólares no Banco Riggs, e, em 2005, seria detido por evasão de tributos e falsificação de material público.
  O governo de Lagos caracterizou-se por um amplo desenvolvimento de obras viárias, criando-se as primeiras estradas urbanas do país. Na política, diminuiu-se o apoio à Aliança, aparentemente pelo Caso Spiniak (descoberta de rede de crimes sexuais contra menores no país, que envolvia políticos da direita), o que permite uma recuperação do oficialismo, demonstrado nos resultados das eleições municipais de 31 de outubro de 2004.
  Nas eleições presidenciais de 11 de dezembro, Michelle Bachelet obtém 46% da preferência do eleitorado chileno, porém, como não conseguiu obter mais de 50% dos votos, e teve que disputar o segundo turno com Sebatián Piñera, eleição esta que ocorreu no dia 15 de janeiro de 2006, e Bachelet obteve 53,49% dos votos, tornando-se a primeira mulher a ocupar o cargo de Presidente do Chile.
Curicó - de acordo com estimativas para 2019, sua população é de 124.368 habitantes
Governo de Michelle Bachelet
  Michelle Bachelet pautou inicialmente seu governo pelo princípio da igualdade: na distribuição dos cargos públicos, a Presidente procurou dividir os cargos para homens e mulheres de maneira igualitária.
  Em maio de 2006, sua popularidade caiu cerca de 8% em relação ao mês anterior, devido aos maiores protestos já realizados no Chile desde o fim do governo Pinochet, em 1990, organizados por estudantes secundaristas e universitários a cerca de benefícios aos mesmos e participação no estudo da nova legislação do ensino chilena. Com isso, a quase totalidade de instituições secundárias de ensino no país entram em greve por mais de duas semanas. Próximo ao Palácio La Moneda, ocorreram vários conflitos  entre forças policiais e estudantes. A mobilização, ocorrida entre abril e junho de 2006, e setembro e outubro do mesmo ano, foi conhecida informalmente como Revolução dos Pinguins devido ao tradicional uniforme utilizado pelos estudantes. A greve nacional de estudantes, convocada para 30 de maio, contou com uma adesão de mais de 600 mil estudantes, tornando-se o maior protesto de estudantes da história do Chile, superando as ocorridas em 1972 durante o governo de Salvador Allende e seu projeto de Escola Nacional Unificada, e durante os anos 1980 contra as políticas do Regime Militar.
Marcha de estudantes pelo centro de Santiago, em maio de 2006
  Durante os primeiros meses do governo Bachelet, a economia manteve-se em bom estado, seguindo o ritmo herdado do governo Ricardo Lagos. No entanto, um fator-chave tem sido o explosivo crescimento do valor do cobre, o principal produto de exportação do país. Em maio de 2006, o valor da libra do produto superou os 3,5 dólares na Bolsa de Metais de Londres, garantindo ao país mais de 6 bilhões de dólares em superávit fiscal. Apesar dos altos recursos que o governo obteve com o crescimento do metal, este decidiu economizá-lo, o que provocou críticas dentro da aliança que formava seu governo.
  Outro problema do governo Bachelet era, até 2007, o tema energético e o aumento constante dos preços de petróleo. A oposição e parte da opinião pública protestou energicamente contra a manutenção do imposto específico aos combustíveis. Mesmo diante da pressão, o governo não aceitou as requisições. Com a alta nas despesas de transporte, a inflação acumulada do país no ano subiu acima das expectativas, ocasionando o aumento das taxas de juros locais, além da revisão das previsões de crescimento para baixo do país por duas vezes em 2006.
  Em 7 de novembro 2007, Bachelet foi agraciada com as honras portuguesas de Grande-Colar da Ordem do Infante D. Henrique, por ocasião da visita oficial do Presidente de Portugal Aníbal Cavaco Silva ao Chile, e de Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo, em 1 de dezembro de 2009, por ocasião da visita de Estado que realizou à Portugal.
Michelle Bachelet, no dia da posse como primeira mulher a ocupar o cargo de Presidente do Chile, em 11 de março de 2006
  Em 30 de junho de 2013, Bachelet tornou a candidata da Nova Maioria, após a obtenção de meio milhão de votos nas primárias de sua aliança, ou seja, mais de 70% das preferenciais. Assim, assumiu o apoio do Partido Democrata Cristão (PDC) e o Partido Democrata Radical (PRSD). Ela também recebeu o apoio do Partido Força do Norte, que não é parte da Nova Maioria.
  Em 7 de outubro deste mesmo ano,  Bachelet apresentou um documento com 50 medidas que deveria ser implementadas nos primeiros cem dias de seu eventual segundo governo. Em 27 do mesmo mês, o plano de governo apresentou a sua candidatura, que incluía como eixos, fornecer educação gratuita em todos os níveis dentro de 6 anos, e acabar com a especulação na educação, mudar o sistema eleitoral binominal, a implementação de uma reforma fiscal e da elaboração de uma nova Constituição, entre outras propostas.
  Embora durante a campanha, a candidatura de Bachelet apelou para conseguir uma vitória no primeiro turno da eleição de 17 de novembro, a candidata da Maioria Nova obteve 46,67% dos votos, tendo que disputar o segundo turno com a líder da Aliança, Evelyn Matthei, em uma eleição realizada em 15 de dezembro. Nessa eleição, Bachelet conquistou 62,16% dos votos, tornando-se também o primeiro presidente da história do Chile a conquistar um segundo mandato pelo voto popular.
Puerto Montt - de acordo com estimativas 2019, sua população é de 245.213 habitantes, sendo a oitava cidade mais populosa do Chile
Governo Sebastián Piñera
  Sebastián Peñera venceu as eleições presidenciais chilenas derrotando o ex-presidente Eduardo Frei no segundo turno, quando obteve 51,8% dos votos contra 48,1% de Frei. No seu primeiro mandato, o PIB cresceu em média 5,3% ao ano, o desemprego caiu de 11% para 6%, foi aprovado o voto facultativo e a desigualdade social reduziu, com o Coeficiente Gini indo de 0,49 para 0,473.
  Em 27 de fevereiro de 2010, o Chile sofreu um grande desastre devido a ocorrência de um terremoto de 8,8 graus seguido de um tsunami, no que ficou conhecido como o Grande Sismo de 2010, destruindo 1,5 milhão de casas e milhares de prédios de grande porte, cerca de 800 mortos e dezenas de desaparecidos. O terremoto ocorreu poucos dias antes da posse de Sebastián Peñera (11 de março de 2010), que assumiu com o desafio de reconstruir o país.
Consequência do sismo de 2010, em Concepción
  Apesar do plano de construção de mais de 30 mil casas com apoio do governo, Piñera foi criticado pela oposição e pelos apoiadores da ex-Presidente Bachelet, pois mais de 1 milhão de casas haviam sido destruídas pelo terremoto. Outro motivo de críticas foi a convocação de militares para atuar por tempo indeterminado na manutenção da ordem pública nos locais atingidos pelo terremoto, ao invés do uso da defesa civil, o que foi criticado pela oposição chilena que defende que qualquer desvio das funções normais das forças armadas deve ser por tempo determinado, algo especialmente polêmico em um país ainda muito marcado pela longa ditadura militar de Pinochet.
  Posteriormente, Piñera voltou a ser criticado pela assinatura de acordos nucleares com a França e com os Estados Unidos, que preveem a instalação de usinas nucleares no Chile. Como o país está em uma região de convergência de placas tectônicas, sujeito a terremotos de mais de 8 graus ao menos uma vez por década, o que gerou protestos no país e críticas da oposição e da população chilena. Isto porque cerca de 86% da população é contra a instalação de usinas nucleares no Chile.
  Em 17 de dezembro de 2017, Piñera foi eleito presidente do Chile para um segundo mandato, assumindo o comandono dia 11 de março de 2018.
Sebastián Piñera - atual presidente do Chile
ECONOMIA
  O Chile classifica-se como o país de maior desenvolvimento econômico e social da América Andina. Depois de atravessar sucessivas crises entre as décadas de 1970 e 1980, a economia chilena apresentou elevadas taxas de crescimento na década de 1990, tornando-se uma das mais dinâmicas da região.
  O expressivo crescimento econômico dos últimos anos resultou da aplicação de um conjunto de reformas, tais como: redução de impostos, incentivos à produção e à exportação, privatização de empresas estatais e maior abertura da economia  aos investimentos estrangeiros.
Vídeo sobre imagens do Chile
  Economicamente, o extrativismo mineral ocupa posição de destaque, com a exploração de cobre, prata, ferro manganês, zinco, carvão e ouro.
  O Chile é bastante rico em recursos minerais, principalmente em cobre: abriga grande parte das reservas mundiais e é o primeiro produtor mundial desse minério. O cobre é muito utilizado como liga na produção de metais, como o bronze (cobre e estanho) e o latão (cobre e zinco). Além disso, com o cobre são fabricados fios condutores de eletricidade. Porém, como esse minério tem sido substituído pela fibra óptica, o Chile tem procurado diversificar sua economia.
Lago General Carrera
  A agricultura se destaca com a exportação de cereais, frutas e legumes. A vinicultura é uma atividade econômica bastante desenvolvida e apreciada mundialmente.
  As principais áreas agrícolas do Chile estão localizadas na sua porção central, onde predomina o clima mediterrâneo. Esse tipo de clima permite que sejam realizados cultivos, como os de uvas e de azeitonas, que abastecem as indústrias de vinho e de azeite do país. Além dessas produções, outras merecem destaque, pois são muito procuradas pelo mercado europeu, como a de frutas.
Vinhedo na comuna de Puente Alto
  A indústria chilena está concentrada em Santiago. Os ramos que mais se destacam são o alimentício, o têxtil e o de beneficiamento de minérios.
  Outra atividade muito importante no Chile é o turismo, atualmente uma das mais importantes fontes de divisas para o país. Entre os centros turísticos mais visitados por estrangeiros, segundo a Organização Mundial do Turismo, o Chile é o maior receptor de turistas da América Andina e o terceiro da América do Sul, atrás do Brasil e da Argentina.
Chuquicamata - a maior mina a céu aberto do mundo
  Com a adoção de reformas profundas para modernizar a economia, o Chile é o país latino-americano que mais se desenvolveu economicamente nas últimas décadas. Fatores como privatizações, abertura econômica (que permitiu a entrada de capital estrangeiro), controle de gastos públicos e inflacionário e grande impulso no setor de exportação foram responsáveis por esse crescimento.
Valle Nevado - nos Andes chilenos

POPULAÇÃO
  De acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas), a estimativa da população chilena em 2108, é de pouco mais de 18,5 milhões de habitantes, sendo formada, em sua grande maioria, pela miscigenação do branco com o indígena, e é predominantemente urbana. A maior concentração populacional ocorre em Santiago, capital do país, e seus arredores.
  Cerca de 95% da população chilena é composta de mestiços de ameríndios com brancos de origem espanhola e 5% de indígenas - com destaque para o grupo Mapuche.
  O Chile apresenta o melhor índice de desenvolvimento humano (IDH) da América Latina, com expectativa de vida elevada (superior a 81 anos) e baixo índice de analfabetismo (inferior a 6%). Porém, há também problemas sociais e econômicos muito graves, como pobreza, desemprego e grande concentração de renda.
Victória - de acordo com estimativas para 2019, sua população é de 40.445 habitantes
Os Mapuches
  O povo Mapuche (mapu = terra, che = gente; "gente da terra") corresponde aos indígenas que vivem no centro-sul do Chile e no sudoeste da Argentina, no sul do continente americano. São conhecidos também como araucanos.
  Os grupos localizados entre os rios Biobío e Toltén (atual Chile) conseguiram resistir com êxito aos conquistadores espanhóis na chamada Guerra de Arauco, uma série de batalhas que durou 300 anos, com longos períodos de trégua.
  Esses povos, como tantos outros que habitavam o continente americano antes da chegada dos colonizadores europeus, eram soberanos em suas terras, estabeleciam ali sua territorialidade que garantia seu sustento. Até o século XIX, o povo Mapuche conseguiu resistir à invasão espanhola.
  A Coroa da Espanha reconheceu a autonomia dos territórios ocupados pelo povo Mapuche em 1641, por meio do Tratado de Quilín.
  Durante o século XIX, a história começou a mudar. Os povos Mapuche, que habitam o centro-sul do Chile, por meio de leis criadas em 1870, perderam suas terras para o Estado chileno (constituído como um país independente da Espanha desde 1818). O governo pôde fazer sua expansão territorial ocupando as terras Mapuche, e os habitantes nativos foram convertidos em simples ocupantes do território. A partir daí começou a redução da territorialidade dos indígenas e o empobrecimento desse povo, pois a pouca terra a que eles ficaram confinados, foi insuficiente para suprir as necessidades básicas desse povo.
Mapa de localização da área ocupada pelo povo Mapuche

  Atualmente, os Mapuche vivem sob a ameaça da dissolução do seu território. Os maiores inimigos das terras indígenas são os projetos de investimentos privados, como os de plantações florestais, que afetam diretamente as comunidades.  O movimento Mapuche luta pela recuperação do seu território ancestral, por mudanças constitucionais em prol dos direitos indígenas e reconhecimento por parte dos Estados de suas especificidades culturais, além da independência em relação ao Chile e à Argentina.
  O povo Mapuche ainda preserva suas línguas tradicionais, sua religião e estrutura sócio-política, apesar de muitos deles viverem nas periferias das grandes cidades, como Buenos Aires e Santiago, em situação de extrema pobreza.
  Os Mapuches falam a língua Mapudungun (em português, som da terra). A terra caracteriza e dá sentido existencial aos Mapuches, fazendo parte desde seu etnônimo (gente da terra) até a espécie de seus sobrenomes, geralmente toponímias do lugar em que historicamente vivem as diferentes linhagens de parentesco.
Mapuches do Chile
  O universo cosmogômico Mapuche possuiria duas dimensões: uma vertical e outra horizontal A primeira faz referência a uma série de plataformas que estariam superpostas no espaço, possuindo certa hierarquia, sendo as superiores relacionadas ao bem e as inferiores ao mal. A mapu, estaria em um grau intermediário, espaço de intersecção, lugar onde o bem e o mal permeiam sincronicamente.
  Na dimensão horizontal,  as plataformas seriam todas quadradas e de igual tamanho. Geograficamente, esta plataforma, que é a mapu, está orientada segundo os quatro pontos cardeais, tomando como referência o leste, materializado pela Cordilheira dos Andes, direção sagrada e positiva de onde nasce o sol, matriz da presente concepção espacial.
Povos Mapuche
ALGUNS DADOS SOBRE O CHILE
NOME: República do Chile
INDEPENDÊNCIA: da Espanha
Iniciada: 18 de setembro de 1810
Formalmente declarada: 12 de fevereiro de 1818
CAPITAL: Santiago
Cordilheira Emoldura, em Santiago - capital do Chile
GENTÍLICO: chileno (a)
LÍNGUA OFICIAL: espanhol
GOVERNO: Governo Provisório
LOCALIZAÇÃO: América do Sul
ÁREA: 756.945 km² - incluindo a Ilha de Páscoa e Ilha de Sala y Gómez (37º)
POPULAÇÃO (ONU - Estimativa para 2019): 18.732.064 habitantes (62°)
DENSIDADE DEMOGRÁFICA: 24,74 hab./km² (158°). Obs: a densidade demográfica, densidade populacional ou população relativa é a medida expressa pela relação entre a população total e a superfície de um determinado território.
CRESCIMENTO POPULACIONAL (ONU - Estimativa 2018): 1,0% (128°). Obs: o crescimento vegetativo, crescimento populacional ou crescimento natural é a diferença entre a taxa de natalidade e a taxa de mortalidade de uma  determinada população.
CIDADES MAIS POPULOSAS (Estimativa para 2019):
Santiago: 5.787.339 habitantes
Santiago - capital e maior cidade do Chile
Concepción: 882.197 habitantes
Concepción - segunda maior cidade do Chile
Valparaíso: 857.213 habitantes
Valparaíso - terceira maior cidade do Chile
PIB (FMI - 2018): US$ 240,222 bilhões (41º). Obs: o PIB (Produto Interno Bruto), representa a soma (em valores monetários) de todos os bens e serviços finais produzidos numa determinada região (quer sejam países, estados ou cidades), durante um período determinado (mês, trimestre, ano).
PIB PER CAPITA (FMI 2018): US$ 13.341 (53°). Obs: o PIB per capita ou renda per capita é o Produto Interno Bruto (PIB) de um determinado lugar dividido por sua população. É o valor que cada habitante receberia se toda a renda fosse distribuída igualmente entre toda a população. 
IDH (ONU - 2018): 0,843 (44°). Obs: o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) é uma medida comparativa usada para classificar os países pelo seu grau de desenvolvimento econômico e a qualidade de vida oferecida à população. Este índice é calculado com base em dados econômicos e sociais, variando de 0 (nenhum desenvolvimento humano) a 1 (desenvolvimento humano total). Quanto mais próximo de 1, mais desenvolvido é o país. No cálculo do IDH são computados os seguintes fatores: educação (anos médios de estudos), longevidade (expectativa de vida da população) e PIB per capita. A classificação é feita dividindo os países em quatro grandes grupos: baixo (de 0,0 a 0,500), médio (de 0,501 a 0,800), elevado (de 0,801 a 0,900) e muito elevado (de 0,901 a 1,0).
  Muito alto
  Alto
  Médio
  Baixo
  Sem dados
Mapa do IDH
EXPECTATIVA DE VIDA (OMS - 2018): 81,2 anos (22º). Obs: a expectativa de vida refere-se ao número médio de anos para ser vivido por um grupo de pessoas nascidas no mesmo ano, se a mortalidade em cada idade se mantém constante no futuro, e é contada da maior para a menor.
TAXA DE NATALIDADE (ONU - 2018): 15,03/mil (133º). Obs: a taxa de natalidade é a porcentagem de nascimentos ocorridos em uma população em um determinado período de tempo para cada grupo de mil pessoas, e é classificada do maior para o menor.
TAXA DE MORTALIDADE (CIA World Factbook 2018): 5,81/mil (154º). Obs: a taxa de mortalidade ou coeficiente de mortalidade é um índice demográfico que reflete o número de mortes registradas, em média por mil habitantes, em uma determinada região por um período de tempo e é classificada do maior para o menor.
TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL (CIA World Factbook - 2018): 7,36/mil (61°). Obs: a taxa de mortalidade infantil refere-se ao número de crianças que morrem no primeiro ano de vida entre mil nascidas vivas em um determinado período, e é classificada do menor para o maior.
Mapa da taxa de mortalidade infantil no mundo
TAXA DE FECUNDIDADE (Population Reference Bureal - PRB - 2018): 1,79 filhos/mulher (148º). Obs: a taxa de fecundidade refere-se ao número médio de filhos que a mulher teria do início ao fim do seu período reprodutivo (15 a 49 anos), e é classificada do maior para o menor.
Mapa da taxa de fecundidade no mundo
TAXA DE ALFABETIZAÇÃO (CIA World Factbook - 2018): 94,2% (101º). Obs: essa taxa refere-se a todas as pessoas com 15 anos ou mais que sabem ler e escrever.
Mapa da taxa de alfabetização no mundo
TAXA DE URBANIZAÇÃO (CIA World Factbook - 2018): 98,6% (55°). Obs: essa taxa refere-se a porcentagem da população que mora nas cidades em relação à população total.
Mapa da taxa de urbanização no mundo
MOEDA: Peso Chileno
RELIGIÃO: católicos romanos (66,65%), protestantes (16,44%), sem religião (11,45%), outras religiões (5,46%).
Catedral Metropolitana de Santiago
DIVISÃO: o Chile está dividido em 16 regiões, 57 províncias e 346 comunas (os números em romanos correspondem as regiões no mapa e entre parênteses suas respectivas capitais): I. Tarapacá (Iquique); II. Antofagasta (Antofagasta); III. Atacama (Copiapó); IV. Coquimbo (La Serena); V. Valparaíso (Valparaíso); VI. O'Higgins (Rancágua); VII. Maule (Talca); VIII. Biobío (Concepción); IX. Araucanía (Temuco); X. Los Lagos (Puerto Montt); XI. Aisén (Coihaique); XII. Magallanes (Punta Arenas) RM. Santiago (Santiago); XIV. Los Ríos (Valdivia); XV. Arica e Parinacota (Arica);  XVI. Ñuble (Chillán).
Mapa das regiões administrativas do Chile
Geografia nos dias de hoje, 8º ano / Cláudio Giardino ... [et al.]. - 2. ed. - São Paulo: Leya, 2015. - (Coleção geografia nos dias de hoje.

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