sexta-feira, 16 de agosto de 2013

A AGROPECUÁRIA NA ÁFRICA


  Apesar de predominar as atividades agrícolas de subsistência e o pastoreio nômade do gado, praticados por diferentes grupos étnicos ao longo do paralelo do Equador, destaca-se na economia africana a produção monocultora, sobretudo, de produtos tropicais, como cacau, tabaco, algodão e cana-de-açúcar, bem como as atividades de extração vegetal (sisal, látex, óleo de palma, entre outros) e mineral (petróleo, ouro, diamantes, minério de ferro, entre outros).
  A agricultura do continente africano apresenta-se sob duas formas: a de subsistência e a comercial. A primeira é rudimentar, itinerante e extensiva - planta-se em grandes extensões de terra, que são cultivadas anos seguidos, até ocorrer o esgotamento do solo. Em seguida, busca-se outra área, em que se repete o mesmo processo. Trata-se de um sistema pouco produtivo, cujas colheitas abastecem, em geral, apenas os próprios agricultores. Como principais produtos de cultivo estão inhame, mandioca, milho, sorgo, batata e arroz.
Cultivo de milho na forma de subsistência na África
  A forma comercial está representada pela plantation, sistema introduzido pelos europeus durante o período colonial e que persiste até os dias de hoje. Esse tipo de cultivo baseia-se na monocultura de gêneros tropicais em grandes extensões de terra, cuja produção é voltada para atender quase que exclusivamente o mercado externo. Muitas vezes as propriedades encontram-se sob o comando de grandes empresas agroindustriais, que encaminham os produtos agrícolas para o processamento industrial.
Grupo de agricultores de Burkina Fasso
ÁFRICA ISLÂMICA
  Na África Islâmica, a agricultura está adaptada às condições do clima e dos solos da região. Além disso, a aplicação recente de recursos tecnológicos, por parte dos grandes fazendeiros, tem possibilitado aumentar a rentabilidade por meio da mecanização das lavouras, do uso de sementes selecionadas e de melhoramentos genéticos aplicados em rebanhos.
  Há importantes cultivos agrícolas e pecuária extensiva na costa da Tunísia, da Argélia e do Marrocos. No norte desses países o inverno é frio e o verão é quente, com baixos índices pluviométricos, característicos do clima mediterrâneo. Esses fatores possibilitam o desenvolvimento da agricultura mediterrânea, como o cultivo do trigo, das oliveiras, das videiras e das frutas cítricas.
  Já no Egito, na Líbia e no restante da Argélia, em meio ao Saara, a agropecuária é praticada nos solos férteis do vale do rio Nilo, e também nos oásis, formados quando as águas subterrâneas afloram à superfície, tornando a terra úmida e adequada à prática agrícola dos povos do deserto.
Agricultura no Marrocos
Os oásis do deserto africano
  Há muitos povos que se mantêm por meio dos produtos cultivados nos oásis. Foi por meio desses oásis que pequenas cidades habitadas por povos tradicionais se desenvolveram.
  Há diferentes tipos de aproveitamento dos oásis. Ghadames, na Líbia, é uma cidade de 7 mil habitantes, declarada pela Unesco como patrimônio da humanidade. Jaghbub, também na Líbia, é uma importante cidade desértica, sendo habitada por diferentes povos. Awjila, no deserto líbio, é habitada por uma comunidade berbere. Il Salah é uma tradicional cidade tuaregue desenvolvida em função do oásis no centro da Argélia. Farafra, no Egito, produz melões, tâmaras e arroz que sustentam sua população e seu excedente é vendido para outras partes do país.
Ghadames - Líbia
  Recentemente, muitos oásis passaram a ser explorados para fins turísticos. Um deles é Chibika, na Tunísia, e de Ubari, na Líbia, que, apesar de possuírem um pequeno contingente populacional, a atividade turística é muito importante para a vida dos povos do deserto.
  A maior fonte de divisas da África Islâmica é a atividade extrativa do petróleo, sobretudo na Líbia, e a do gás, na Argélia. Outros importantes recursos minerais são extraídos, como o fosfato, na Tunísia e no Marrocos, onde há também uma importante extração do cobre, e de urânio na Argélia.
  As maiores companhias mineradoras que exploram o subsolo da África são de origem europeia, mas há também empresas americanas e japonesas. Apesar de gerar divisas para os países explorados, o lucro que as companhias obtêm com a exploração do petróleo não é revertido em melhorias nas condições de vida da população local, pois o capital é enviado aos países de origem das empresas.
Oásis de Ubari - Líbia
ÁFRICA SUBSAARIANA
  Essa região apresenta extensas áreas férteis e abriga grandes lavouras monocultoras.  Os principais produtos cultivados são: cana-de-açúcar, amendoim, abacaxi, banana e cacau.
Cacau: principal produto agrícola africano
  Os maiores produtores e os melhores grãos de cacau do mundo estão na África. A produção é totalmente voltada à exportação para os países desenvolvidos e a população local não consome o chocolate produzido com o cacau africano.
  Os maiores produtores de cacau do continente africano são: Costa do Marfim (que também é o maior produtor mundial, com cerca de 40% da produção global), Gana, Nigéria e Camarões.
  Apesar de se tratar de uma monocultura voltada para a exportação, alguns países, como a Nigéria, têm feito tentativas de associar a cultura do cacau a outras atividades econômicas, a fim de poder aumentar a renda da agricultura familiar.
  Um dos projetos que se tem desenvolvido é a associação entre a plantação de cacau e a apicultura. Os produtos advindos da apicultura têm valor comercial e vem contribuindo para o aumento da renda das famílias que se dedicam à produção do cacau.
Cultivo de cacau na Costa do Marfim - o maior produtor mundial
  O cultivo de produtos agrícolas destinados à exportação na África Subsaariana baseia-se no sistema da agricultura de plantation (cultivo agrícola baseado na monocultura e cuja produção é quase toda voltada para a exportação, além de empregar uma numerosa mão de obra). A mão de obra utilizada nesse cultivo prepara o solo, planta as sementes, aplica os recursos fertilizantes e agrotóxicos, além de realizarem a colheita.
  A produção agrícola do continente africano conta com poucos recursos tecnológicos e, por isso, os trabalhadores são submetidos  a grande esforço físico, além de serem mal remunerados, o que impede o desenvolvimento econômico e social do continente.
  A falta de modernização da produção agrícola africana não estimula a qualificação técnica dos profissionais, e por isso existem poucas escolas profissionalizantes, o que contribui para a dependência econômica da África em relação aos países ricos.
Mulheres cultivando a terra na Tanzânia
  A baixa qualificação profissional africana (cuja grande maioria das pessoas são analfabetas) torna a mão de obra no continente muito barata, favorecendo os custos baixos da produção primária e maiores lucros por parte dos grandes proprietários de terras e dos produtores rurais.
  Outro fator que contribui para aumentar o quadro de miséria no continente africano refere-se ao fato de que as melhores terras são usadas pelas grandes propriedades monocultoras, restando aos africanos que desenvolvem a agricultura de subsistência as áreas menos férteis.
  A produção de muitos gêneros tradicionais, como a mandioca, o inhame e o sorgo, é prejudicada por esse processo de organização da economia agrícola, e se torna insuficiente para atender às necessidades alimentares por parte da população africana, obrigando a importação de alimentos.
  Em países como República Democrática do Congo, Gabão e Camarões são praticadas atividades extrativistas vegetais, das quais se obtêm muitos produtos, como a borracha e o óleo da palmeira. Já no litoral da Costa do Marfim, Gana, Togo, na República do Congo, em Camarões, no Quênia e em Uganda, cultivam-se diferentes monoculturas.
Cultivo de arroz no Senegal
  No sul do continente, na Namíbia, Zimbábue e África do Sul, há importante criação pecuária, intensiva e extensiva, principalmente de ovinos e bovinos. A África do Sul é também uma importante produtora de uva e de oliva, além de trigo, centeio, milho, cana-de-açúcar, café e amendoim.
  De modo geral, a pecuária da África Subsaariana se caracteriza pela subsistência. Contudo, a África do Sul, além de apresentar diversificada produção agrícola, destaca-se pela ovinocultura, direcionada à produção de lã. O segundo maior criador de gado da África é Etiópia, onde predomina o gado bovino.
Agropecuária no Lesoto
FONTE: Geografia nos dias de hoje, 8º ano / Cláudio Giardino ... [et al.]. – 1. ed. – São Paulo: Leya, 2012. – (Coleção nos dias de hoje).

terça-feira, 13 de agosto de 2013

O ARQUIPÉLAGO DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO

  O Arquipélago de São Pedro e São Paulo (ASPSP) é um conjunto de pequenas ilhas rochosas e pedregosas pertencente ao estado de Pernambuco. Situa-se na parte central do oceano Atlântico equatorial. É formado por cinco ilhotas maiores e várias outras de menor tamanho. Suas coordenadas geográficas são: 00º56'N e 29º22'W, distando 330 milhas náuticas do Arquipélago de Fernando de Noronha e 510 milhas náuticas do Cabo Calcanhar, no Rio Grande do Norte, o ponto mais próximo da costa brasileira.
  Do ponto de vista científico, sua posição geográfica, localizado entre os Hemisférios Norte e Sul e os continentes africano e americano, atribui ao Arquipélago de São Pedro e São Paulo uma condição única para a realização de pesquisas em diversos ramos da ciência. A construção da Estação Científica no Arquipélago de São Pedro e São Paulo transformou-o em um Navio Oceanográfico permanentemente fundeado no meio do Oceano Atlântico, à disposição da comunidade científica brasileira. Essa estação, foi inaugurada em 1998 e situa-se na Ilha Belmonte, dando início ao Programa Arquipélago de São Pedro e São Paulo (Proarquipélago) sob a administração da Secretaria de Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (SECIRM).
Ilhas do Arquipélago de São Pedro e São Paulo
  O sistema de previsão do clima na região ocidental do oceano Atlântico Tropical, baseado apenas em dados obtidos por satélites, mostra-se insuficiente para entender a variabilidade do clima. Assim, estudos desenvolvidos a partir da instalação de uma estação meteorológica no Arquipélago de São Pedro e São Paulo, além de contribuírem para o conhecimento da climatologia do Oceano Atlântico como um todo, permitem a formulação de modelos mais eficientes de previsão climática, possibilitando, assim, a avaliação dos impactos sobre as anomalias do clima, como a seca no Nordeste do Brasil e a formação de tempestades tropicais.
  Na área de Geologia e Geofísica Marinha, o Arquipélago de São Pedro e São Paulo representa uma oportunidade única para melhor conhecer a estrutura do manto superior, já que o mesmo constitui-se de uma formação geológica que decorre do fato de o Arquipélago constituir um afloramento do manto suboceânico resultante de uma falha transformante da Dorsal Meso-Atlântica. Esse afloramento se eleva de profundidades abissais - em torno de quatro mil metros - até a poucos metros acima da superfície. Devido estar situado em uma falha transformante, o Arquipélago de São Pedro e São Paulo é um dos pontos do território brasileiro com maior atividade sísmica, aspecto de particular relevância para o desenvolvimento de estudos de sismologia.
Mapa da localização e posicionamento geotectônico do Arquipélago de São Pedro e São Paulo
  Em relação à Oceanografia Física, o Arquipélago de São Pedro e São Paulo, em função de sua proximidade da Linha do Equador, representa um local altamente privilegiado para o desenvolvimento de estudos acerca do Sistema Equatorial de Correntes, no qual encontra-se inserido, sofrendo a influência direta da Corrente Sul-Equatorial e da Corrente Equatorial Submersa. Essa última é uma das mais rápidas, variáveis e menos conhecidas entre todas as correntes oceânicas do Atlântico, chegando a atingir velocidades superiores a 100 cm/s. Do ponto de vista hidrológico, o desenvolvimento de pesquisas no entorno do ASPSP contribui para melhor entendimento dos fenômenos de enriquecimento, resultantes da interação entre as correntes oceânicas e o relevo submarino, a exemplo de ressurgência orográfica - afloramento de águas profundas ricas em nutrientes, ao encontrarem a porção de rocha submersa da ilha.
Base Científica mantida pela Marinha do Brasil no ASPSP
  Em decorrência de sua localização, o ASPSP é, também, uma área de enorme importância biológica, pois exerce papel relevante no ciclo de vida de várias espécies que têm, no arquipélago, etapa importante de suas rotas migratórias, quer como área de reprodução - como o peixe-voador - quer como zona de alimentação, como é o caso da albacora-laje e de crustáceos (lagostim), aves (atobá), quelônios (tartaruga-de-pente), e mamíferos aquáticos (golfinho nariz-de-garrafa). Estudos genéticos para identificação das populações presentes no ASPSP, poderão esclarecer questões ainda pendentes em relação à estrutura populacional de espécies de grande valor comercial, como o espadarte. A posição estratégica do ASPSP torna-o local ideal para o desenvolvimento de um trabalho dessa natureza.
  Além de pesquisas genéticas, trabalhos de marcação e telemetria realizados com as espécies presentes no ASPSP em muito poderão contribuir para elucidar seus movimentos migratórios, tanto em pequena escala (movimentos diários, no entorno do Arquipélago), como em larga escala (migrações sazonais transoceânicas).
Golfinhos nariz-de-garrafa - espécie que procura as águas do ASPSP para se alimentar
  Em função de seu posicionamento remoto, o ASPSP apresenta também elevado grau de endemismo, ocorrência de espécies somente encontradas na região, constituindo-se a presença da Estação Científica em importante ação para o conhecimento e conservação da biodiversidade e do patrimônio genético nacional. Algumas espécies bastante raras, como o tubarão-baleia, são encontradas com relativa frequência nas proximidades do Arquipélago, que oferece, assim, excelente oportunidade para estudos de comportamento.
  Além de sua importância ecológica, do ponto de vista econômico, o ASPSP constitui também uma das mais importantes áreas de pesca do Nordeste brasileiro, sendo bastante visitada por embarcações baseadas em portos nordestinos, principalmente em Natal-RN e Recife-PE. Desde 1988, a frota atuneira sediada em Natal, mantém pesca regular nas adjacências do Arquipélago, objetivando a captura de espécies pelágicas migratórias, como o peixe-rei, a albacora-laje e o peixe-voador.
Tubarão-baleia - espécie comum nas águas do ASPSP
  Além da importância do Arquipélago de São Pedro e São Paulo nos aspectos científico, econômico e social, soma-se, ainda, seu significado estratégico para o País, no cenário político internacional. A convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM), assinada pelo Brasil em 1982 e ratificada em dezembro de 1988, mudou a ordem jurídica internacional relativa aos espaços marítimos, instituindo o direito de os Estados costeiros explorarem e aproveitarem os recursos naturais da coluna d'água, do solo e do subsolo dos oceanos, presentes na sua Zona Econômica Exclusiva. No entanto, em relação ao Regime de Ilhas, o artigo 121 da Convenção, em seu parágrafo 3°, afirma que: "os rochedos por si próprios não se prestam à habitação humana ou à vida econômica não devem ter Zona Econômica Exclusiva nem Plataforma Continental". O desenvolvimento do Programa Arquipélago, a partir da garantia da presença humana permanente, além da geração contínua de informações científicas, contribui, de forma decisiva, para o efetivo estabelecimento da Zona Econômica Exclusiva brasileira no entorno do ASPSP, como diz a CNUDM.
O Brasil e sua Zona Econômica Exclusiva
  Outro aspecto político de grande significação estratégica reside no fato de o ASPSP situar-se no Atlântico Norte, fator de importância crucial na definição de cotas de capturas dos recursos de atuns e afins do Atlântico.
  Além de constituir um ecossistema único para o desenvolvimento de pesquisas científicas nas áreas de meteorologia, geologia e oceanografia, incluindo seus componentes físico, químico e biológico, o Arquipélago de São Pedro e São Paulo possui grande importância ecológica, econômica, social e política para o Brasil.
MORFOLOGIA MARINHA
  O Arquipélago de São Pedro e São Paulo situa-se na zona de expansão entre a Placa Sul-Americana e a Placa Africana. O sistema da falha transformante de São Paulo (Saint Paul Transform Fault System) é uma das maiores falhas transformantes do Oceano Atlântico, ocorrendo em cerca de 630 quilômetros de descontinuidade dos segmentos da cadeia mesooceânica. Esta é uma das regiões mais profundas do Oceano Atlântico e algumas localidades têm mais de 5.000 metros de profundidade. A morfologia abissal apresenta que o Arquipélago situa-se no topo de uma elevação morfológica submarina, com comprimento de 100 quilômetros, largura de 20 quilômetros e altura aproximada de 3.800 metros a partir do fundo do oceano, denominada Cadeia Peridotítica de São Pedro e São Paulo. Sendo de diferentes vulcões submarinos, esta saliência é constituída por duas elevações tabulares orientadas segundo o sentido leste-oeste, apresentando uma forma similar a  Brachiosaurus cuja cabeça é direcionada à leste. Nos flancos do Arquipélago, a partir do nível do mar até 1.000 metros de profundidade, ocorre taludes de alto ângulo, em torno de 50° de inclinação. Ao sul do Arquipélago existe uma escarpa vertical com altura maior que 2.000 metros. Essas morfologias submarinas instáveis sugerem que o soerguimento do Arquipélago foi originado de um tectonismo recente, que está em continuação até o presente.
Morfologia submarina em torno do Arquipélago de São Pedro e São Paulo
ROCHA ULTRAMÁFICA SERPENTINIZADA
  A rocha constituinte do Arquipélago de São Pedro e São Paulo é o peridotito serpentinizado, uma rocha ultramáfica. O ASPSP corresponde à única localidade do Oceano Atlântico em que o manto abissal está exposto acima do nível do mar.
  Os artigos científicos revelam que as rochas ultramáficas do manto abissal expostas no Arquipélago são, provavelmente, originado de megamullion. Este fato é devido ao soerguimento tectônico ativo que ocorreu após sua exposição no fundo do oceano, há aproximadamente 7 milhões de anos. Esse soerguimento está em aceleração e continuará por até mais 7 milhões de anos.
Duas plataformas de abrasão marinha encontradas na Ilha Belmonte
FONTE: Geografia: ensino fundamental e ensino médio: o mar no espaço geográfico brasileiro / coordenação Carlos Frederico Simões Serafim, organização Paulo de Tarso Chaves. - Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2005. 304 p. (Coleção explorando o ensino, v. 8)

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

A ECONOMIA PRIMÁRIA DO RIO GRANDE DO NORTE

  O Rio Grande do Norte é um dos estados que mais cresceu economicamente nas últimas décadas. Foram vários fatores que contribuíram para esse crescimento. Os incentivos fiscais, aliados a mão de obra barata, são os principais fatores que têm contribuído para esse crescimento.
CANA-DE-AÇÚCAR
  A cana-de-açúcar é uma espécie originária do Sudeste Asiático e cultivada em diversas regiões do globo, especialmente nas áreas de clima quente e úmido.
  A cana-de-açúcar foi a primeira atividade econômica do Rio Grande do Norte. Essa atividade começou a ser desenvolvida no início do século XVII, quando familiares de Jerônimo de Albuquerque Maranhão fundaram o Engenho Cunhaú, no atual município de Canguaretama. Na segunda década desse século há a fundação de um segundo engenho, o Engenho Ferreiro Torto, localizado no atual município de Macaíba.
Capela do Engenho Cunhaú
  A cana-de-açúcar dirige o povoamento para a Zona da Mata, produzindo uma geografia localizada nas várzeas terminais dos rios Curimataú e Potengi-Jundiaí, caracterizada pelas áreas de cultivo da cana, pelo engenho, pela casa grande, a senzala e os espaços de escoamento da produção - o porto, espaço que vai se diferenciar daquele usado pelas populações nativas, que vivendo através da caça, pesca e de outras coletas de alimentos, não modificavam o meio geográfico.
  Dentre os fatores que contribuíram para o desenvolvimento do cultivo da cana-de-açúcar, não só no Rio Grande do Norte, mas em todo o litoral leste da região Nordeste, estão o solo de massapê (rico em matéria orgânica), o clima tropical (quente e bastante úmido) e a proximidade da Europa.
Casa grande do Engenho Ferreiro Torto em Macaíba - segunda unidade de produção de cana-de-açúcar do Rio Grande do Norte
  As atividades vinculadas à produção de açúcar geraram relações de trabalho aparentemente contraditórias à expansão do capitalismo mercantil, pois permitiam o trabalho forçado (trabalho escravo), que criava condições para uma acumulação primitiva por parte dos senhores de engenho e uma acumulação mercantil na metrópole e nos países europeus com influência sobre a economia portuguesa. Porém, a cana-de-açúcar não possibilitava a criação de um mercado interno, pois os trabalhadores não eram assalariados. Assentada no latifúndio, a empresa agrícola criou uma cultura política com desdobramentos que se reproduzem até hoje e que são apontados como causa de pobreza: a concentração de terras.
Usina Estivas, localizada no município de Arês - RN
  A cana-de-açúcar é uma cultura tradicional da economia norte-rio-grandense, sendo responsável por uma razoável absorção de mão de obra no período da colheita. Beneficiada em anos anteriores com políticas de incentivo praticadas pelo Governo Federal, a atividade canavieira tem apresentado oscilações em decorrência de condições climáticas nem sempre favoráveis por um lado e de preços dos produtos derivados dessa cultura (açúcar e álcool) por outro.
  Os principais produtores de cana-de-açúcar do Rio Grande do Norte são: Baía Formosa, Canguaretama, Ceará-Mirim, Goianinha, São José de Mipibu, Taipu, Arês, Brejinho, São Gonçalo do Amarante e Pedro Velho.
Engenho no município de Ceará-Mirim
FRUTICULTURA IRRIGADA
  A fruticultura do Rio Grande do Norte, antes de sua modernização, apresentava-se dispersa por várias regiões do Estado, sua produção destinava-se ao mercado local/regional e sua característica maior era a ausência de tecnologia. Este quadro começa a modificar-se na década de 1970, quando projetos pioneiros de fruticultura irrigada são criados, primeiro na região de Mossoró, com a Mossoró Agroindustrial S.A - MAISA - e depois no Vale do Açu, com a AgroKnool e a Frunorte.
  Esses projetos, que vão produzir melão irrigado para o mercado interno e internacional, se caracterizam por intensa adoção de tecnologias e pelo uso da água em grandes quantidades. Na região de Mossoró, fazendas como a MAISA, São João e Santa Júlia vão retirar dos poços profundos a água para irrigar o melão. No Vale do Açu o suprimento d'água usado pelas fazendas é retirado do rio Piranhas-Açu, depois de sua perenização no seu baixo-curso, através da Barragem Armando Ribeiro Gonçalves, que começa a armazenar água a partir de 1982.
Fazenda MAISA em Mossoró - RN
  A fruticultura irrigada, que tem no melão o seu principal produto, cresce desde o início da atividade aqui no Estado, mas o seu período de maior crescimento, principalmente em termos de exportação, ocorre entre os anos de 1995 e 1998.
  O ano de 1998 é marcado também pelo crescimento do cultivo de outras frutas, que passam a ser produzidas no Estado e a fazer parte da pauta de exportações, como castanha de caju, banana, manga, melancia, abacaxi e mamão.
  Dois fatos novos marcaram essa economia nos últimos anos: a falência das duas maiores empresas fruticultoras do Estado - a MAISA e a FRUNORTE, a primeira na região de Mossoró e a segunda no Vale do Açu. O outro fato está relacionado ao surgimento de pequenos e médios produtores, que terminaram ocupando o espaço deixado por essas empresas e garantindo a continuidade das exportações, quer seja para o mercado interno, quer seja para o mercado externo.
Mossoró - principal centro fruticultor do RN
  Essa mudança no perfil do empresariado que lida com esse agronegócio fez de Baraúna o município que mais produz melão no Estado e fez surgir também o cultivo de mamão do tipo "papaya" para exportação. Outro fato importante é a incorporação de outros territórios do Estado na produção de frutas tropicais. É o caso dos municípios de Touros, São José de Mipibu, Ielmo Marinho e Ipanguaçu que, juntamente com Baraúna, Mossoró, Carnaubais e Alto do Rodrigues, formam os polos de fruticultura irrigada do Rio Grande do Norte.
Alguns dos produtos da fruticultura do Rio Grande do Norte
  Os principais produtos da fruticultura no rio Grande do Norte são:
1. MELÃO
  O melão é uma fruta nativa do Oriente Médio. Existem inúmeras variedades que são cultivadas em regiões semiáridas de várias partes do mundo.
  A produção de melão no Rio Grande do Norte se concentra no Agropolo de Mossoró-Açu. O melão é a cultura de maior expressão do setor agrícola do Estado. O Rio Grande do Norte é o maior produtor nacional desse fruto, sendo que essa produção é quase toda destinada ao mercado externo. Dentre os fatores que contribuem para a elevada produção de melão no Estado estão a elevada insolação, as terras férteis e a água abundante. O clima árido reduz as possibilidades de pragas, porém, a mosca branca é a principal ameaça ao cultivo do melão.
  Os estados que mais produzem melão no Brasil, em ordem, são o Rio Grande do Norte, Ceará e Bahia.
  Apesar do sucesso desta atividade, a comercialização do fruto ressente-se de uma melhor organização, especialmente no que se refere aos pequenos e médios produtores, que normalmente vendem sua produção para empresas âncoras que intermediam a exportação. Essas empresas requerem uma padronização das técnicas de produção, para que satisfaçam as exigências dos importadores. Os principais compradores de melão do Rio Grande do Norte são a Inglaterra e os Países Baixos (Holanda), na Europa, e Japão e China, na Ásia.
Produção de melão em Mossoró
  Dentre as principais empresas que controlam a produção e exportação do melão, estão a Nolem, a Agrosol e a Soagri.
  Os municípios que mais produzem melão no Rio Grande do Norte são Baraúna, Mossoró, Açu, Carnaubais, Ipanguaçu, Alto do Rodrigues, Afonso Bezerra, Pendências, Serra do Mel e Itajá.
2. BANANA
  Originária do Sudeste Asiático, a banana é cultivada em praticamente todas as regiões tropicais do planeta e é uma das frutas mais consumidas do mundo.
  A banana é o segundo produto de exportação da fruticultura do Rio Grande do Norte. Nos últimos anos, a banana tem sido o produto agrícola de maior crescimento em termos de exportação, superando até mesmo o melão.
  Os maiores produtores de banana no Rio Grande do Norte são Ipanguaçu, Alto do Rodrigues, Baraúna, Touros, Rio do Fogo, Extremoz, Maxaranguape, Açu, Carnaubais e Pureza. Entre os estados brasileiros, o Rio Grande do Norte lidera a produção, seguido de Santa Catarina e Ceará.
  A Del Monte Fresh, localizada no município de Ipanguaçu, é responsável por mais de um terço da produção de banana no Rio Grande do Norte, cerca de 60 mil toneladas. Sem concorrente, ela é responsável por toda a exportação da fruta, gerando uma receita anual de mais de U$ 25 milhões. Beneficiada com isenção de impostos, o retorno ao Estado vem através da geração de emprego, onde são mais de 1.500 empregos.
  A Del Monte é líder no mundo em produção de frutas. Além do Brasil, a empresa mantém produção própria em mais 10 países e operações de comercialização, venda e compra em outros 50 países.
Cultivo de bananas em Ipanguaçu - RN
3. CASTANHA DE CAJU
  O caju é um pseudofruto originário do Nordeste brasileiro. Muito antes da chegada dos portugueses, o caju já era o alimento básico das populações autóctones. Os colonizadores portugueses foram os responsáveis por introduzir essa planta em outras regiões, como a Ásia e África. O fruto do cajueiro, e principal produto econômico, é a castanha de caju, uma amêndoa rica em aminoácidos e vitaminas
  De todos as culturas tradicionais do Estado, o cultivo do cajueiro é o mais representativo para a economia agrícola potiguar. Teve um grande impulso há três décadas, quando a expansão do mercado de castanha de caju provocou a plantação do cajueiro em extensas áreas. O aquecimento do mercado externo e interno, fez surgir agroindústrias de beneficiamento de castanha espalhadas por diversas regiões do Estado.
  O Rio Grande do Norte é o terceiro maior produtor nacional de castanha de caju, perdendo apenas para o Ceará e o Piauí.
  No Rio Grande do Norte a safra de castanha de caju vai de novembro a fevereiro. Os municípios que mais produzem castanha de caju são Serra do Mel, Mossoró, Cerro Corá, Pureza, Macaíba, Touros,  João Câmara e Apodi.
Serra do Mel - município maior produtor de caju do Rio Grande do Norte
4. MAMÃO
  O mamoeiro é considerado uma planta tropical e tem como provável centro de origem a região compreendida entre o Norte da Bacia Amazônica Superior e a América Central. Como planta tropical apresenta melhor desenvolvimento em regiões de clima quente e úmido. Atualmente, graças aos trabalhos de melhoramento genético seu cultivo tem-se estendido para regiões subtropicais e atualmente está presente em mais de sessenta países.
  No Rio Grande do Norte, o cultivo do mamoeiro intensificou-se nas últimas décadas, tornando o Estado o terceiro maior produtor nacional, perdendo apenas para a Bahia e o Espírito Santo.
  O crescimento do cultivo de mamão teve a participação de empresas agrícolas que se instalaram e desenvolveram atividades de produção, visando principalmente a comercialização com os mercados internacionais, especialmente o europeu e o norte-americano. A principal empresa responsável pela produção de mamão no Estado é a Caliman Agrícola.
  Os principais produtores de mamão no Rio Grande do Norte são os municípios de São José de Mipibu, Baraúna, Pureza e Ceará-Mirim.
Cultivo de mamão em São José de Mipibu - RN
5. ABACAXI
  O ananás ou abacaxi é uma planta originária da América tropical, e já era bastante cultivada pelos indígenas antes da chegada dos europeus.
  No Rio Grande do Norte o abacaxi é cultivado tradicionalmente na região Agreste. Nos últimos anos, graças à demanda por produtos orgânicos nos mercados nacional e internacional, entre os quais inclui esse fruto, verifica-se uma expansão da área cultiva em direção ao Litoral Norte, fazendo uso de sistemas de irrigação como forma de enfrentar os períodos de estiagem.
  No Rio Grande do Norte, os principais produtores são Touros, Ielmo Marinho e Pureza.
Abacaxi - produto que teve um grande incremento nas últimas décadas
6. MANGA
  A manga é uma fruta nativa do Sul e do Sudeste Asiático e um dos principais produtos da pauta de exportações do Rio Grande do Norte. O produto é cultivado em todo Estado. Existem diversos tipos desse fruto, porém o principal tipo de manga que é exportada pelo RN é a Tommy Atkins.
  A Finobrasa, localizada no Vale do Açu, é a maior produtora e exportadora de manga do Rio Grande do Norte.
  As exportações de manga destinam-se principalmente a dois mercados: Holanda e Estados Unidos.
  Os municípios que mais produzem a manga são Ipanguaçu, Açu e Carnaubais.
Cultivo de manga em Ipanguaçu - RN

FONTE: Felipe, José Lacerda Alves. Atlas, Rio Grande do Norte: espaço geo-histórico e cultural: José Lacerda Alves Felipe, Edilson Alves de Carvalho, Aristotelina Pereira Barreto Rocha. João Pessoa, PB: Editora Grafset, 2010.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

AS REDES DA ILEGALIDADE

  O crime organizado, também denominado de organização criminosa, é toda organização cujas atividades são destinadas a obter poder e lucro, transgredindo a lei das autoridades locais, como o tráfico de drogas, os jogos de azar, a corrupção, entre outros. Em cada país, as facções do crime organizado costumam a receber um nome próprio.
  Atuando em escala global, o crime organizado mantém em funcionamento o tráfico de mercadorias ilícitas, como os produtos contrabandeados e as drogas. As rotas da ilegalidade são constituídas também por um negócio igualmente lucrativo e perverso: o comércio ilegal de seres humanos, no qual pessoas são sequestradas ou aliciadas em seus países de origem para ser vendidas e exploradas fora do seu país. As mulheres e as meninas, que são a maioria das vítimas, são forçadas à servidão doméstica, e muitas vezes, à prostituição. Os homens são utilizados, principalmente, nas minas e nos campos agrícolas. Crianças de ambos os sexos são utilizadas no trabalho fabril, sobretudo no setor têxtil.
  O tráfico de pessoas intercontinental é originado principalmente na Ásia Oriental, na região do Pacífico e na África, de acordo com o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODOC).
Mapa da rota do tráfico mundial de humanos
O CRIME ORGANIZADO
  Em 1919, uma emenda à Constituição dos Estados Unidos, conhecida como Lei Seca, proibiu a produção e comercialização de bebidas alcoólicas em todo o país. Os políticos conservadores e as organizações religiosas esperavam que essa medida radical resolvesse o problema do alcoolismo, já que era, naquela época, a maior ameaça ao bem-estar da sociedade norte-americana. Porém, a estratégia não surtiu efeito. As bebidas continuaram a ser controladas e disputada por criminosos rivais. Dessa forma, uma nova ameaça ganhou força com a proibição: o crime organizado.
  O personagem mais conhecido desse período é Al Capone, imigrante italiano que chegou aos Estados Unidos e começou a participar de organizações criminosas, até deter o controle dos pontos de venda de bebidas alcoólicas, da prostituição e do jogo ilegal na cidade de Chicago na década de 1920.
Alphonsus Gabriel Capone, mais conhecido como Al Capone, um dos mais famosos líderes do crime organizado no mundo na década de 1920
  Depois de anos agindo ilegalmente na cidade, assassinando adversários, participando de corrupção com policiais e juízes e expandindo seus "negócios", Al Capone foi preso em 1931. Apesar da justiça não apresentar provas concretas do seu envolvimento com o contrabando e assassinatos, ele acabou sendo preso por não pagar impostos ao governo dos Estados Unidos.
  Mesmo tendo se tornado uma figura quase mítica do mundo do crime, o italiano exercia o poder apenas em algumas cidades. Isso ocorria porque, com a Lei Seca favorecendo o contrabando de bebidas, cada cidade possuía sua própria "família" mafiosa comandando as atividades criminosas locais. Essas famílias poucas vezes ultrapassavam as fronteiras regionais.
Agentes do governo norte-americano confiscando e descartando bebidas clandestinas em Chicago - 1921
  O sul da Itália foi o berço histórico de várias organizações criminosas. Sua origem remonta à Idade Média, quando famílias se uniam para manter, com o uso da violência, o controle sobre a economia de determinadas regiões.
  As máfias italianas mais importantes são a Cosa Nostra, com sede na ilha da Sicília; a Camorra, localizada na cidade de Nápoles; e a Ndranghetta, da região da Calábria. A relação entre essas facções criminosas sempre foi marcada pelo respeito mútuo, apesar de ocorrerem episódios de violência entre seus membros.
  As "famílias" mafiosas italianas mantêm rituais de iniciação e rígidos códigos de conduta. O apadrinhamento garante laços que se igualam ao de parentesco. A lealdade deve ser total, e qualquer traição é punida com violência. Além disso, há um pacto de silêncio, conhecido como omertá, que dificulta muito a captura dos grandes chefes.
Regiões controladas pela máfia italiana
  Organizações criminosas semelhantes à máfia não se desenvolvem apenas na Europa e nos Estados Unidos. As máfias orientais são também muito antigas.
  A Yakuza, famosa máfia japonesa, possui rígidas normas de conduta originadas da distorção dos códigos de comportamento dos samurais (os guerreiros do Japão feudal). Seus membros passam por diversos rituais de iniciação e têm o corpo coberto por tatuagens que simbolizam a força e a lealdade do grupo. Quando falham em alguma missão, perdem a falange do dedo mindinho; falhando novamente, perdem a vida.
Integrantes do Yakuza participando de um festival local no Japão
  As máfias também se desenvolveram na China, oriundas de antigas sociedades secretas. São as chamadas tríades chinesas, que, além de extorquir pessoas e explorar a prostituição, obtiveram poder e dinheiro com o controle da venda de drogas como o ópio e a heroína.
  Nos séculos XIX e XX, as máfias tradicionais ampliaram muito seus negócios devido aos fluxos migratórios. Os mafiosos italianos se estabeleceram em várias cidades dos Estados Unidos, principalmente em Nova York, Chicago e São Francisco. Já os chineses e os japoneses passaram a controlar atividades criminosas por todo o Sudeste Asiático e também em bairros orientais das cidades mais importantes da América do Norte, como o Chinatown de São Francisco.
  Há outros bairros denominados "Chinatown" também nas cidades estadunidenses de Nova York, Portland, Boston, Los Angeles, Chicago, Detroit, Houston e Honolulu (no Havaí), e nas cidades canadenses de Toronto, Montreal, Vancouver e Edmonton.
Chinatown de Montreal - Canadá
A GLOBALIZAÇÃO DO CRIME
  Muita coisa mudou desde o tempo da Lei Seca estadunidense e das primeiras máfias europeias e asiáticas. Os meios de comunicação sofreram uma verdadeira modificação, que repercutiu nas relações econômicas e sociais. Os mercados tornaram-se mundiais e as bolsas de valores passaram a atuar on line, tornando-se possível a ampliação dos fluxos internacionais de comércio, capitais e bens culturais.
  Acompanhando a tendência da globalização econômica e da mundialização dos capitais, o crime organizado não possui mais fronteiras: está presente em todo o mundo com uma notoriedade que nunca teve antes. Jamais em toda a história da humanidade, constatou-se tamanha ampliação da criminalidade. O crime global não apenas se expandiu, mas também, graças à sua capacidade de acumular riquezas, transformou-se em uma poderosa força política.
  A tecnologia diminuiu significativamente os custos de transporte e possibilitou que produtos ilegais, antes inviáveis de ser transportados - como órgãos humanos e grandes quantidades de outras mercadorias ilegais - passassem a ser comercializados. Possibilitou, também, uma enorme quantidade de produtos até então inexistentes, como softwares piratas, produtos falsificados e até geneticamente modificados.
A comercialização de CDs e DVDs piratas faz parte da pirataria moderna
A DIVERSIFICAÇÃO DA ILEGALIDADE
  As organizações criminosas atuais não se limitaram a apenas um ramo de atividade. Além de atuar em todos os ramos já dominados pelo crime - como tráfico de drogas, tráfico de pessoas, sequestros e cobrança de taxas de proteção -, investem em negócios "limpos", especulando no mercado financeiro, construindo hotéis e centros de lazer, realizando empreendimentos no mundo da moda e da alta costura, abrindo empresas de construção civil e até mesmo financiando campanhas políticas em vários países.
  O combate ao crime tornou-se ainda mais difícil, pois o dinheiro obtido de forma ilegal passa muito rápido de um país para outro, e a rede de produção e consumo de mercadorias ilícitas abrange praticamente o mundo todo.
  Aliado a isso tudo, existe ainda um imenso mercado de tecnologias militares, armas e equipamentos, setor que antes era controlado pelos Estados e hoje está nas mãos de empresas privadas. Apesar dessas empresas serem importantes para as operações legais, grande parte do comércio de armas é realizada de maneira ilícita, à margem das regulamentações internacionais. É o comércio ilegal de armas o responsável, em grande parte, por conflitos civis no mundo inteiro, especialmente na África e nas favelas brasileiras.
Na África, grande parte das armas que abastecem os grupos rebeldes entram de forma ilegal, sendo trocadas principalmente por pedras preciosas
O NARCOTRÁFICO
  Atualmente, a maior fonte de renda do crime organizado é o tráfico de drogas, o chamado narcotráfico. A maconha é a droga ilícita mais consumida, mas o tráfico de cocaína e heroína é o que representa o maior negócio, movimentando bilhões de dólares em todo o mundo.
  A Cannabis (maconha) é cultivada em praticamente todos os países do mundo, sendo considerada a droga mais amplamente produzida. O Marrocos lidera a produção mundial desse produto, seguido pelo Afeganistão.
Mapa do consumo de maconha no mundo
  Os maiores produtores da folha de coca são a Colômbia, o Peru e a Bolívia.
  Tradicionalmente, os países andinos mascam a folha de coca para inibir a fome, regular a temperatura e atenuar os efeitos da altitude sobre o organismo.
  A cocaína, por sua vez, é obtida por meio de um processo químico de refino da folha da coca, feito em laboratórios e instalações clandestinas. A droga é então enviada para uma extensa rede de traficantes para o mundo inteiro, especialmente para os Estados Unidos e para a Europa Ocidental - principais mercados consumidores. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), em 2012 existiam entre 20 e 25 milhões de usuários de cocaína no mundo.
Mapa dos principais produtores e consumidores de cocaína
  A heroína é produzida a partir da pasta de ópio, extraída da papoula. O ópio é cultivado há vários séculos na Ásia e consumido na Europa desde o século XIX.
  No início do século XX, a China viveu uma verdadeira "epidemia" do ópio, com o aumento exponencial do número de usuários. Em 1909, foi formada em Xangai a Primeira Comissão Internacional do Ópio, primeiro organismo internacional antidrogas.
  A produção mundial de ópio diminuiu em cerca de 70% desde o início do século XX. O número de usuários decresceu de 90 milhões em 1909 para cerca de 20 milhões na última década. Apesar disso, o ópio ainda é um dos grandes problemas de saúde pública em diversos países asiáticos, em razão dos enormes custos do tratamento da dependência química provocada pelo uso dessa substância.
  O Afeganistão é o líder mundial na produção de ópio, seguido por Myanmar e Laos.
  Na América, a papoula é cultivada para a produção de heroína na Colômbia e no México. Enquanto as medidas tomadas para a redução do cultivo de ópio no Afeganistão começam a surtir efeitos, a produção no México está em escala ascendente, transformando o país em um dos maiores produtores de derivados do ópio.
Mapa do fluxo mundial de heroína
AS DROGAS E A VIOLÊNCIA
  Além da maconha, da cocaína e da heroína, uma série de outras drogas sintéticas - drogas produzidas a partir de substâncias químicas em laboratórios -, como as anfetaminas, contribui para um faturamento estimado em centenas de bilhões de dólares em todo o mundo.
  As consequências do tráfico e do consumo de drogas não afetam apenas seus dependentes e suas famílias, mas toda a sociedade, de diferentes formas.
  As drogas são um dos maiores problemas de saúde pública. Milhares de usuários precisam ser atendidos pelos sistemas médicos dos países que sofrem com o tráfico e o tratamento para a dependência química é complicado, caro e demorado. Além disso, o índice de jovens mortos pelo consumo de drogas aumentam muito a cada ano.
Mapa dos principais problemas com drogas refletido em procura por tratamento
  Outro problema está diretamente relacionado com o poder das máfias e do crime organizado. As fortunas conseguidas com o narcotráfico acabam financiando outros tipos de atividades ilegais, como corrupção de autoridades públicas, extorsões, roubos a bancos e compras de armamento cada vez mais potentes. Além disso, milhares de jovens e crianças são utilizados pelas organizações como mão de obra para o próprio tráfico e para outras atividades ilegais.
O tráfico de drogas contribui cada vez mais para a entrada de jovens no mundo do crime
AS MÁQUINAS DE LAVAR DINHEIRO
  Movimentando uma fortuna superior ao PIB de muitos países, o crime organizado camufla a origem ilegal e a movimentação do dinheiro. Ocorre um processo conhecido como "lavagem de dinheiro", por tornar legal, ou seja, "limpo", o dinheiro "sujo" obtido pelo narcotráfico e pelo crime.
  Uma grande soma obtida ilicitamente é dividida em montantes menores e depositada em centenas de contas "fantasmas" (abertas com documentos falsos em nome de pessoas inexistentes) ou de "laranjas" (pessoas que voluntária ou involuntariamente têm suas contas utilizadas para a transferência de dinheiro sujo). Esse dinheiro é então transferido de diversas formas (saques, ordens de pagamento, cheques de viagem, cartões de crédito) para outras contas, até que fique impossível rastrear sua origem ilegal.
  Preocupados com a falta de controle sobre a movimentação de dinheiro sujo, vários países tentam adotar medidas para dificultar a lavagem, como quebra do sigilo bancário, identificação dos clientes dos bancos e maior vigilância sobre as instituições financeiras.
Esquema da lavagem de dinheiro
OS PARAÍSOS FISCAIS
  A globalização possibilitou que negócios ilícitos estabelecessem suas redes e facilitou a transferência de dinheiro entre sistemas financeiros de diversos países. Atualmente, é possível transferir fortunas de um banco para outro simplesmente apertando a tecla de um computador. Em minutos, o dinheiro pode passar por vários bancos em diversos países, até atingir um destino "seguro".
  O erro cometido por Al Capone alertou outros criminosos, que hoje procuram evitar a possibilidade de condenação por fraudes no imposto de renda. Hoje em dia, o dinheiro, já devidamente lavado, é depositado em paraísos fiscais.
  Os paraísos fiscais são países ou regiões que garantem o total sigilo das operações bancárias e também a quase completa isenção de impostos, criando condições perfeitas para o investimento do dinheiro conseguido ilegalmente.
  No final de todo esse processo, o dinheiro fica disponível para investimentos em negócios legais. No passado, as máfias concentravam suas fortunas principalmente na compra de restaurantes, hotéis e imóveis. Com as facilidades em lavar o dinheiro e com um faturamento centenas de vezes maior, seus "negócios" concentram-se agora em investimentos especulativos, como a compra de ações de empresas em bolsas de valores do mundo inteiro, o jogo com a flutuação cambial e a participação em processos de privatizações de empresas.
Principais paraísos fiscais no mundo
A BIOPIRATARIA
  Outro tipo de comércio ilegal é a biopirataria. A biopirataria é a exploração, manipulação, exportação e/ou comercialização internacional de recursos biológicos que contrariam as normas da Convenção sobre Biodiversidade Biológica.
  A biopirataria não é apenas o contrabando de diversas formas de vida da flora e da fauna, mas, principalmente, a apropriação e monopolização dos conhecimentos das populações tradicionais no que se refere ao uso dos recursos naturais. Atualmente, essas populações estão perdendo o controle sobre os recursos naturais. Este conhecimento é coletivo, e não simplesmente uma mercadoria que se pode comercializar sobre qualquer objeto no mercado.
  O conceito de biopirataria surgiu em 1992 durante a Convenção sobre a Diversidade Biológica apresentada na Eco-92. Desde então a biopirataria vem sendo tema de infindáveis discussões sobre a apropriação indébita por parte de grandes laboratórios farmacêuticos internacionais dos conhecimentos adquiridos por povos indígenas, quilombolas e outros, acerca das propriedades terapêuticas ou comerciais de produtos da fauna e da flora de diversos países, ou de seus princípios ativos utilizados para a confecção de medicamentos.
Os conhecimentos indígenas são os mais cobiçados pelas empresas farmacêuticas
  A biopirataria acontece em qualquer país do mundo que possua recursos naturais com potencial de comercialização e poucos investimentos em pesquisa e regulamentação, principalmente relacionada a medicamentos. O Brasil é o país com a maior biodiversidade do planeta. Isso contribui para o aumento da biopirataria, principalmente relacionada com o tráfico de animais, a retirada dos produtos da flora e os conhecimentos das comunidades tradicionais. A extração ilegal de madeira figura também como biopirataria.
  Dentre os produtos que estão na lista da biopirataria no Brasil está o açaí, que chegou a ser patenteada pela empresa japonesa K. K. Eyela Corporation, mas que devido à pressão de diversas ONGs e da mídia, teve sua patente caçada pelo governo japonês. Outro caso foi o do veneno da jararaca, que teve o princípio ativo descoberto por um brasileiro, mas o registro acabou sendo feito por uma empresa norte-americana (Squibb), que usou o trabalho e patenteou a produção de um medicamento contra a hipertensão (o Captopril), nos anos 1970.
Os produtos da Amazônia são os mais cobiçados no mundo da biopirataria
  A maior parte dos recursos biopirateados vai para as grandes e multimilionárias empresas, sendo que a grande maioria delas encontram-se nos países desenvolvidos. Os produtos biopirateados são comercializados no comércio mundial como se fossem originários dos países onde se encontram a sede dessas empresas.
FONTE: Araújo Regina. Observatório de geografia / Regina Araújo, Ângela Corrêa da Silva, Raul Borges Guimarães. - 1. ed. São Paulo: Moderna, 2009.

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