segunda-feira, 17 de setembro de 2012

A CONSTRUÇÃO DO TERRITÓRIO E A FORMAÇÃO DO POVO BRASILEIRO

A GRANDEZA DO TERRITÓRIO
  O Brasil é o quinto mais extenso país do mundo. Com uma área de 8.514.876,599 km², o território brasileiro só é menor que o da Rússia, do Canadá, da China e dos Estados Unidos. Essa característica garante ao Brasil a posição de "país continental", visto que sua dimensão territorial é maior, por exemplo, que a dos países do continente europeu, excetuando-se a parte europeia da Rússia.
  No Brasil há uma extensa faixa litorânea, com 7.367 km de extensão, e uma fronteira terrestre ainda maior, que, com 15.719 km, faz limites com dez países sul-americanos.
  É nesse imenso território (que corresponde a cerca de 1,6% das terras emersas do globo e a 48% da área total da América do Sul) que o Estado brasileiro exerce sua soberania, ou seja, a autoridade e o controle irrestrito sobre os elementos naturais e culturais situados em seus limites, não somente sobre as terras emersas, mas também sobre tudo aquilo que existe em sua faixa de mar territorial, em seu espaço aéreo e no subsolo.
A POSIÇÃO GEOGRÁFICA DO BRASIL
  O Brasil está totalmente localizado no hemisfério Ocidental do planeta, ou seja, todas as suas terras encontram-se a oeste do meridiano de Greenwich. Já em relação aos hemisférios Norte e Sul, cerca de 93% do nosso território encontra-se ao sul da Linha do Equador; o restante, apenas 7% localiza-se ao norte desse paralelo.
  A grande extensão do território brasileiro no sentido leste-oeste (4.319 km entre os pontos extremos) faz com que haja três fusos horários diferentes no país, todos atrasados em relação ao horário de Greenwich.
  Essa vasta dimensão territorial do nosso país possibilita a existência de uma imensa diversidade de paisagens naturais e culturais. Em muitas delas encontram-se marcas ou vestígios que remetem à história da ocupação e da formação do território nacional.
A FORMAÇÃO HISTÓRICA DO TERRITÓRIO BRASILEIRO
  A extensão territorial da maioria dos países está relacionada a processos socioeconômicos históricos, à evolução de suas fronteiras e ao estabelecimento oficial de seus limites, apresentando dimensões variadas no decorrer do tempo.
  Pode-se dizer que a formação histórica do território brasileiro iniciou-se no século XVI, com o desembarque de navegadores portugueses no litoral oriental da América do Sul. A princípio, esses exploradores vieram tomar posse das terras partilhadas com os espanhóis por meio do Tratado de Tordesilhas, documento assinado pelas duas potências marítimo-mercantes da época, Portugal e Espanha, no ano de 1494.
  O Tratado de Tordesilhas estabelecia uma linha imaginária a cerca de 370 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde, na África, dividindo as terras a serem exploradas por Portugal (a leste da linha do tratado) e pela Espanha (a oeste). Essa linha imaginária, foi o primeiro limite territorial das terras brasileiras, e ia do sul do atual estado de Santa Catarina até a ilha de Marajó, nas terras que atualmente compõem o estado do Pará.
O PAU-BRASIL E AS FEITORIAS DO LITORAL
  As terras encontradas pelos navegadores portugueses já eram habitadas há milhares de anos por centenas de povos indígenas, com culturas bastante distintas entre si. Muitos desses povos foram subjugados pelos portugueses para o trabalho escravo; os que resistiam à escravização eram mortos ou fugiam para as áreas interioranas. Calcula-se que, na época da ocupação, entre três e cinco milhões de indígenas habitavam as terras hoje correspondentes ao território brasileiro. Desde então, a população indígena sofreu uma redução drástica: atualmente seus descendentes somam 350 mil pessoas em todo o país, número que reflete o amplo processo de dizimação a que foram submetidos esses povos ao longo do tempo.
  Durante o século XVI, a ocupação ocorreu apenas nos pontos em que foram instaladas as feitorias (locais litorâneos onde eram armazenadas as mercadorias extraídas da floresta), em geral estabelecidas em enseadas ou baías de fácil acesso aos navios, de onde os produtos eram embarcados para a metrópole. Em torno das feitorias, os portugueses passaram a explorar especiarias e o pau-brasil. Essa madeira, abundante e de grande valor comercial na época, era extraída da floresta tropical ali existente, a Mata Atlântica. Para a extração desses gêneros naturais, os exploradores utilizaram a mão de obra dos indígenas que viviam próximo à costa.
Pau-brasil - árvore símbolo do nosso país
A CANA-DE-AÇÚCAR E A MÃO DE OBRA AFRICANA
  Um povoamento mais significativo das terras portuguesas na América do Sul ocorreria somente a partir da segunda metade do século XVI, com a introdução das lavouras de cana-de-açúcar, desenvolvida de acordo com o sistema de plantation, e dos engenhos para a fabricação de rapadura. Essa atividade econômica foi inicialmente desenvolvida no litoral paulista e depois, com mais sucesso, na costa nordestina, onde predomina o solo de massapê.
  Nesse período, a necessidade de novas áreas para a expansão canavieira e a demanda dos engenhos por lenha (para ser usada como combustível) deram início ao processo de desflorestamento da Mata Atlântica.
Cultivo da cana-de-açúcar - primeira atividade econômica desenvolvida no Brasil
  Na mesma época, a Coroa Portuguesa, visando à obtenção de maiores vantagens econômicas, substituiu a mão de obra  indígena pela mão de obra escrava africana. Assim, entre o final do século XVI e a primeira metade do século XVII, milhares de africanos foram trazidos para o Brasil à força para trabalhar sobretudo na atividade canavieira.
  Também surgiram nesse período os primeiros núcleos urbanos e fazendas com população fixa. A vila de São Salvador, atualmente capital do estado da Bahia, foi escolhida para ser a sede do governo português na colônia.
A CONQUISTA DOS SERTÕES
  Os séculos XVII e XVIII foram marcados pelo início da exploração das áreas interioranas, os chamados sertões, sobretudo por meio das atividades pecuária e mineradora.
  Expulsas da costa nordestina para dar lugar aos canaviais, as criações de gado deslocaram-se na direção montante dos principais rios da região, como o São Francisco, o Jaguaribe e o Parnaíba. A criação de gado bovino tornou-se uma atividade de grande importância também para a ocupação do extremo sul da colônia.
Pecuária - promoveu o povoamento do interior do Nordeste
  Já a mineração desenvolveu-se a partir das expedições realizadas pelos bandeirantes paulistas, principalmente para as regiões de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. Ao longo dessas expedições foram descobertas jazidas de ouro, diamantes e esmeraldas, entre outros minerais de significativo valor comercial.
  Durante o século XVIII, especificamente, a atividade extrativa mineral ganhou tamanha importância que a sede do governo colonial foi transferida de Salvador para a cidade do Rio de Janeiro, cujo porto estava mais próximo dos núcleos mineradores.
Ouro Preto - MG. Cidade que surgiu graças à exploração do ouro
  Nessa época passaram também a ser exploradas as chamadas drogas do sertão, produtos nativos da floresta Amazônica, como o cacau, a baunilha e o urucum, usados como condimentos. Muitos desses produtos apresentavam propriedades terapêuticas e por isso eram chamados de drogas. Geralmente, a colheita era feita nas margens dos principais rios e igarapés da Amazônia.
  Com o desenvolvimento dessas atividades na colônia, diversos caminhos e estradas foram abertos, permitindo, por exemplo, o escoamento da produção mineral até os portos, de onde era embarcada para a metrópole, e o deslocamento do gado das áreas de criação até os principais núcleos urbanos.

O princípio de uti possidetis
  A penetração em direção aos sertões fez com que as áreas ocupadas pelos portugueses no continente sul-americano transgredissem pelo Tratado de Tordesilhas. Os portugueses passaram então a pleitear a posse definitiva dessas terras à Coroa Espanhola, valendo-se do princípio de uti possidetis, ou seja, as terras deveriam pertencer a quem as estivesse ocupando efetivamente, fosse com atividades econômicas (cultivos, atividades extrativas, mineração etc.), ou com vilas, povoados ou fortificações.
  No ano de 1750 firmou-se o chamado Tratado de Madri, por meio do qual a Espanha reconheceu o direito português sobre uma vasta extensão de terras sul-americanas. A partir desse tratado, os limites do território colonial tornaram-se mais semelhantes aos do atual.
Mapa do Brasil com o Tratado de Madri
  Esse processo de ocupação territorial estava diretamente relacionado ao interesse português de fazer de suas terras da América do Sul uma colônia de exploração, ou seja, uma área em que a metrópole pudesse se apoderar de produtos com alto valor comercial, como madeira, ouro, cana-de-açúcar, algodão e especiarias, enriquecendo ainda mais a classe dominante europeia.
ATIVIDADE AGRÍCOLA E CONSOLIDAÇÃO DAS FRONTEIRAS ATUAIS
  O café ainda é um dos principais produtos exportados pelo Brasil. Introduzido no país no final do século XVIII, foi cultivado inicialmente nas imediações da cidade do Rio de Janeiro, expandindo-se na direção do vale do rio Paraíba do Sul.
  Muito valorizado no mercado europeu, em apenas algumas décadas o café transformou-se em um dos principais produtos agrícolas de exportação do Brasil e, já no final da primeira metade do século XIX, alcançou áreas do interior de São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo.
Plantação de café em São João de Manhuaçu - MG
  Durante esse período, o afluxo de africanos escravizados ainda era grande, embora tivesse começado a diminuir após o processo de independência do país. O Brasil, agora constituído como Estado-nação soberano, proibiu o tráfico de cativos em 1850, decretando, em 1888, a abolição total da escravatura. Estima-se que desde o início do tráfico, no século XVI, até o final, no século XIX, cerca de 4,5 milhões de africanos tenham sido trazidos para as terras brasileiras.
  Como forma de substituir a mão de obra escrava, o Estado estimulou a vinda de trabalhadores imigrantes livres, sobretudo europeus, que a princípio foram encaminhados para as regiões produtoras de café e para as áreas de povoamento criadas no Sul do país. Assim, até a metade do século XX entraram em território brasileiro cerca de quatro milhões de imigrantes.
  Além da produção do café, outras atividades agrícolas destacaram-se durante o século XIX, como o cultivo do algodão nas áreas de Caatinga do interior do Nordeste e a exploração da borracha no interior da Amazônia no final do século.
  O desenvolvimento dessas atividades obrigou o governo brasileiro a ampliar as vias de acesso ao interior, abrindo novos caminhos, estradas de terra e ferrovias, que esboçaram os primeiros eixos de comunicação e de integração do território brasileiro.
  Por intermédio de várias ações diplomáticas conduzidas por José Maria da Silva Paranhos Júnior, o barão do Rio Branco (1845-1912), o governo brasileiro teve assegurada, na primeira década do século XX, a posse de mais de 500 mil km² de terras. Foram resolvidas várias questões fronteiriças com Argentina, Bolívia, Colômbia, Peru e Suriname. Desde então, os limites territoriais brasileiros são os mesmos.
Processo de formação do Brasil
A FORMAÇÃO ÉTNICA DA POPULAÇÃO BRASILEIRA
  Nos primeiros séculos de nossa história, o processo de formação do território brasileiro congregou diferentes grupos humanos, envolvendo principalmente os povos indígenas (Tupi, Jê, Aruaque, Cariri, etc.), que originalmente habitavam as terras brasileiras; os portugueses, que vieram se apropriar das riquezas existentes nas terras indígenas; e os povos africanos (Nagô, Jejê, Haussá, Benguela, Moçambique, etc.), trazidos para trabalhar como mão de obra escrava nas atividades econômicas coloniais.
  Na realidade, o encontro entre os povos indígenas, os europeus (a princípio, portugueses) e os africanos não ocorreu de forma harmoniosa. A interferência da sociedade europeia na cultura indígena dizimou grupos inteiros que haviam se constituído milhares de anos antes. O contato com os povos trazidos à força da África também foi marcado pela violência.
Brasil - várias raças, um só povo
  A partir da segunda metade do século XIX, povos de outras origens passaram a fazer parte da composição da população brasileira. Eram imigrantes, sobretudo europeus (espanhóis, italianos, alemães, eslavos, etc.) e asiáticos (árabes e japoneses), povos que, fugindo de guerras e da pobreza que assolava seus países de origem, aportaram no Brasil em busca de melhores condições de vida.
  Atualmente, é possível afirmar que o povo brasileiro, com seu passado histórico comum e suas manifestações culturais, resulta do encontro e da convivência desses grupos humanos, fato que proporciona a nosso país uma grande diversidade étnica, existente em poucos países do mundo.
A IDENTIDADE SOCIOCULTURAL E O CONCEITO DE NAÇÃO
  Ainda que abstrata, a expressão "Brasil brasileiro" pode revelar a essência da identidade do povo brasileiro, que está baseada sobretudo na cultura.
  A cultura de um povo se refere a seus valores e costumes, à língua escrita e falada, às tradições religiosas, às diferentes manifestações artísticas e ao passado histórico comum, que no Brasil se caracteriza pelo encontro de povos de diferentes etnias.
  Foi em torno das relações entre os vários grupos humanos que se estruturou o Estado-nação brasileiro, uma sociedade politicamente organizada por meio de instituições, com leis e governos próprios, e marcada por elementos culturais que lhe são peculiares.
Capoeira - arte que mistura dança e luta, foi criada pelos descendentes dos povos africanos no Brasil.
  A identidade cultural de um povo também resulta da maneira como as pessoas se relacionam com o espaço que habitam, ou seja, do modo como organizam esse espaço territorial. Uma nação se apropria dos lugares por meio de práticas culturais que envolvem sentimentos e simbolismos atribuídos a determinado local. A comida, o carinho entre as pessoas, as danças, a religião, entre outras, são alguns elementos que simbolizam a identidade cultural de um povo, que está expressa nas paisagens, nas relações interpessoais e nas manifestações culturais.
Festival Folclórico de Parintins - AM. Uma forma de expressar a cultura amazônica
FONTE: Boligian, Levon. Geografia espaço e vivência, volume único / Levon Boligian, Andressa Turcatel Alves Boligian. -- 3. ed. -- São Paulo: Atual, 2011.

sábado, 8 de setembro de 2012

O SUDESTE ASIÁTICO

  O Sudeste da Ásia é composto de 11 países, estendendo-se por uma área com cerca de 4,5 milhões de km². Banhada pelos oceanos Índico e Pacífico, essa região pode ser dividida em duas áreas distintas: a dos países continentais e a dos países insulares. Alguns países insulares, como a Indonésia e as Filipinas, formam imensos arquipélagos.
  O Sudeste Asiático é bastante populoso: reúne, atualmente, mais de 600 milhões de habitantes. Na maioria dos países da região, grande parte da população vive no campo, trabalhando em atividades primárias, sobretudo agrícolas. Destas, a de maior importância é a rizicultura, ou seja,  o cultivo do arroz, produto básico da alimentação da maior parte da população do continente asiático.
Cultivo de arroz no Vietnã
A RIZICULTURA E AS DEMAIS ATIVIDADES AGRÍCOLAS DO SUDESTE DA ÁSIA
  Cerca de 28% da produção mundial de arroz provém do Sudeste da Ásia. A Indonésia é o maior produtor regional desse vegetal. A produção rizicultora desse país perde em quantidade somente para a China e a Índia, os dois maiores produtores mundiais. Na maioria dos países do Sudeste da Ásia, a rizicultura desenvolve-se em pequenas e médias propriedades rurais, por meio de técnicas tradicionais. Nessa atividade, a mão de obra utilizada é familiar e todas as etapas da produção são realizadas manualmente ou com auxílio de animais. Esse tipo de cultivo é denominado de agricultura de jardinagem. Em razão da abundância de mão de obra e da grande densidade populacional, cada hectare de terra é intensamente aproveitado, tanto no cultivo do arroz quanto no de outros produtos, como milho, trigo, soja e hortaliças. Por isso, dizemos que nesses minifúndios desenvolve-se uma agricultura tradicional intensiva, com o uso de mão de obra familiar ou comunal.
Agricultura de jardinagem no Vietnã
RELEVO, CLIMA E AGRICULTURA NO SUDESTE DA ÁSIA
  O relevo e o clima têm grande influência sobre o desenvolvimento das atividades agrícolas no Sudeste da Ásia. As áreas montanhosas, tanto na área continental como na área insular, são recortadas por extensas planícies aluviais, onde fluem rios caudalosos, como o Mekong, o Irrawaddy, e o Chao Phraya, e seus respectivos afluentes. É nessas planícies que se concentra grande parte da população.
Rio Mekong em Laos
  A rizicultura e as outras atividades agrícolas que são desenvolvidas nas áreas de planícies beneficiam-se do regime de cheias e vazantes dos rios. As partes mais baixas das encostas das montanhas também são utilizadas para as lavouras. Nessas áreas íngremes são construídos terraços, isto é, plataformas planas, em degraus, que retêm a água das chuvas e evitam a erosão das encostas, aumentando, assim, a área destinada ao cultivo.
Cultivo de arroz em terraços na Indonésia
  As épocas de pousio e aragem dos solos e de plantio e colheita das lavouras, nessa parte da Ásia, são reguladas por um fenômeno climático regional denominado de monções.
AS MONÇÕES E A AGRICULTURA NA ÁSIA
  Todos os anos, entre os meses de maio e outubro, a pluviosidade no Sudeste da Ásia aumenta sensivelmente, tendo seu ápice nos meses de verão (no hemisfério norte). É a monção úmida. Durante essa estação, chuvas torrenciais fazem os rios transbordarem, enchendo as várzeas das planícies de matéria orgânica e umedecendo os terraços nas áreas montanhosas, o que fertiliza os solos.
  Já entre os meses de novembro a abril, a vazão dos rios diminui, ocorrendo um período de estiagens, originando a monção seca. Durante esse período, o cultivo é garantido em determinadas áreas de planície pelo uso de diques e reservatórios, que guardam a água das chuvas passadas, ou por sistema de irrigação em canais. Esses recursos têm permitido a produção de arroz fora da monção úmida, proporcionando até três colheitas anuais em algumas regiões.
AS MONOCULTURAS DE EXPORTAÇÃO NO SUDESTE DA ÁSIA
  Com exceção do Vietnã (país de regime socialista), do Laos e do Camboja (países em transição para a economia capitalista), na maior parte do espaço agrário do Sudeste da Ásia convivem, lado a lado, áreas com agricultura intensiva familiar e latifúndios monocultores. Introduzidas na região no período de colonização europeia, que durou até a década de 1960, a área ocupada pelas monoculturas e sua produção vêm aumentando, elevando a concentração fundiária nas zonas rurais dos países do Sudeste Asiático.
  Boa parte desses latifúndios são pouco mecanizados, empregando geralmente grande número de trabalhadores em razão da elevada oferta de mão de obra a baixos custos. Nessas propriedades monocultoras são cultivados sobretudo produtos tropicais, como chá, cana-de-açúcar, algodão, fumo, borracha e frutas (abacaxi, coco, banana etc.), destinados quase exclusivamente à exportação.
Cultivo de chá na Malásia
  Nesses países, a produção agrícola voltada para o mercado externo também vem avançando sobre áreas tradicionalmente destinadas às lavouras de arroz, cultivadas por meio da agricultura intensiva familiar. A concentração fundiária é o principal fator da diminuição das áreas destinadas à rizicultura, que passa a ser substituída, na maioria das vezes, por culturas tropicais. Segundo especialistas, esse fato pode estar gerando um quadro de carência alimentar, e até mesmo de fome, em determinados países do Sudeste da Ásia, visto que o arroz é a principal fonte de nutrientes da população regional.
Agricultura tradicional na Indonésia
A ATIVIDADE MADEIREIRA E AS FLORESTAS ASIÁTICAS
  Além das monoculturas de exportação, outra importante fonte de divisas para alguns países do Sudeste da Ásia tem sido a exploração madeireira.
  Essa atividade é realizada por empresas locais que derrubam extensas áreas de florestas, sobretudo na Malásia, na Tailândia, na Indonésia, em Papua-Nova Guiné e no Camboja, e exportam a madeira principalmente para os Estados Unidos e países europeus.
  Atualmente restam menos de 20% da exuberante floresta equatorial que recobria esses países, mas o ritmo de desmatamento ainda continua elevado - tem sido desmatados nos últimos 20 anos, cerca de 30 mil km² ao ano.
Floresta em área montanhosa na Tailândia
  O desmatamento descontrolado das florestas equatoriais em países do Sudeste da Ásia trouxe trágicas consequências ao meio ambiente regional, como a erosão dos solos, e desastres naturais, como inundações e deslizamentos de terra, sobretudo na estação da monção úmida.
  A redução das reservas florestais naquela região tem levado várias madeireiras a atuar em outras partes do mundo, acelerando o desmatamento em países como o Brasil, a Guiana, o Suriname e o Belize.
Área desmatada na Amazônia
  Historicamente, o Sudeste Asiático sofreu uma série de ocupações estrangeiras. Franceses, na península da Indochina, portugueses e holandeses, na Indonésia, espanhóis nas Filipinas e ingleses na Malásia. Durante a Segunda Guerra Mundial, os japoneses ocuparam a região e, após 1945, ocorreu a descolonização.
  Alguns países da região tornaram-se socialistas e aliados da antiga URSS: foi o caso de Laos, Camboja e Vietnã. Na década de 1990, a desintegração do socialismo promoveu uma abertura econômica nesses países, que se integraram à Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean) e à Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico (Apec). Entre os países do Sudeste Asiático apenas Cingapura é considerado desenvolvido; além dela, só Brunei e Malásia têm IDH elevado. Os demais encontram-se em diferentes ritmos de crescimento econômico e desenvolvimento social. A Tailândia, a Indonésia e a Malásia são, atualmente, consideradas "Novos Tigres Asiáticos" devido ao rápido desenvolvimento industrial.
Países integrantes da Asean
VIETNÃ
  O Vietnã, assim como toda a península da Indochina, esteve praticamente um século sob o domínio da França, que se retirou da região em 1954. Nesse ano, o Vietnã foi dividido em dois: Vietnã do Norte (comunista) e Vietnã do Sul (capitalista).
  No norte do Vietnã, desde a década de 1930, já havia sido criado um Partido Comunista que vislumbrava ampliar sua área de atuação. A partir da divisão do país, o maior objetivo do partido passou a ser a sua reunificação. Para isso, os comunistas iniciaram frentes de batalhas no sul do Vietnã. Em 1959, teve início uma guerra civil em que os comunistas, chamados de vietcongues, utilizavam táticas de guerrilha.
Mapa do Vietnã dividido
  Em 1961, os Estados Unidos deram seu apoio ao Vietnã do Sul e entraram na guerra. Interessados em impedir o avanço comunista na região, os EUA enviaram para a guerra por volta de 3,5 milhões de jovens entre 1965 e 1972. Em apoio ao Vietnã do Norte, entre 1965 e 1973 a China enviou cerca de 300 mil soldados.
  Em 1973, os EUA aceitaram um cessar-fogo e, em 1975, se retiraram do Vietnã, assumindo a derrota. Com o fim da guerra ocorreu a reunificação entre o norte e o sul, e o Vietnã tornou-se um país comunista.
  A partir dos anos 1990, o governo vietnamita promoveu várias reformas econômicas, permitindo o ingresso de investimentos multinacionais, principalmente nos setores têxtil e de calçados. Em 2007, sua adesão à OMC fez aumentar as exportações.
OS TIGRES ASIÁTICOS
  Nas últimas três décadas, alguns países do Sudeste da Ásia, antes baseados economicamente em atividades primárias, apresentaram rápido crescimento industrial, tornando-se conhecidos como Tigres Asiáticos.
  O desenvolvimento econômico verificado nesses países é provocado não somente pelo crescimento do setor industrial, mas também do setor comercial, sobretudo de serviços financeiros (implantação de sedes de bancos internacionais, bolsas de valores etc.) e de empresas de importação e exportação.
  No caso da atividade industrial, os Tigres Asiáticos destacam-se, de maneira geral, pela fabricação e pela exportação de bens de consumo duráveis e não duráveis, produzidas por pequenas e médias empresas locais e por multinacionais japonesas, norte-americanas e europeias. Predominam as indústrias eletroeletrônica, automobilística, de brinquedos e de vestuário, além da alimentícia. São importantes, também, as indústrias que empregam tecnologia de ponta, como as de telecomunicações, informática e aeroespacial.
Visão noturna de parte da cidade de Cingapura
  O rápido desenvolvimento industrial e econômico dos Tigres Asiáticos deveu-se a maciços investimentos financeiros realizados nesses países pelos Estados Unidos e pelo Japão, a partir da década de 1970. Esses investimentos tinham como objetivo político e estratégico criar economias capitalistas bem estruturadas nessa parte da Ásia, a fim de inibir revoluções socialistas na região, como as que ocorreram no Vietnã, no Camboja e no Laos, apoiadas pela China e pela Coreia do Norte.
  Além dos investimentos financeiros, outros fatores contribuíram para atrair grande quantidade de multinacionais para os Tigres Asiáticos:
  • A oferta de mão de obra é abundante, barata e com nível razoável de escolaridade. Nesses países, sobretudo nos Novos Tigres, ocorre uma superexploração dos trabalhadores, que cumprem jornadas de mais de 50 horas semanais sem ter seus direitos trabalhistas respeitados. As indústrias beneficiam da disciplina e da obediência dos trabalhadores aos ideais da empresa e da coletividade. Tais comportamentos são mantidos por rígidos princípios morais e religiosos e, também, pelo autoritarismo político existente na maior parte dos Tigres Asiáticos.
  • A intervenção dos Estados, concedendo incentivos fiscais (como isenção de impostos) e facilidades para que as multinacionais remetam seus lucros aos países de origem, além de baixas taxas alfandegárias para a exportação de produtos industrializados.
Trabalhadores na fábrica de motos SYM em Hsinchu - Taiwan
  Esses foram alguns dos principais fatores que garantiram aos Tigres Asiáticos forte competitividade no mercado internacional, ou seja, grande facilidade para atrair investimentos e oferecer produtos com preços bem menores do que os oferecidos por outros países industrializados, como o Brasil. Atualmente, nosso país vem sendo invadido por produtos fabricados nos países asiáticos, como brinquedos, aparelhos eletrônicos e computadores, o que prejudica diretamente a produção industrial nacional.
Com o processo de globalização, cresceu a presença de produtos asiáticos no comércio mundial
  De maneira geral, o vertiginoso crescimento econômico dos Tigres Asiáticos tem provocado melhoria nas condições de vida de seus habitantes. Os níveis de analfabetismo têm caído entre os Novos Tigres, embora ainda apresentem índices elevados. Houve diminuição no desemprego em razão do crescimento da  oferta de postos de trabalho. A média salarial dos operários da indústria está bem acima daquela paga em outros países subdesenvolvidos. No entanto, ainda está bem abaixo da média dos salários de operários europeus, japoneses ou norte-americanos.
  Os padrões de consumo da população dos Tigres Asiáticos são os mais altos entre as populações dos países subdesenvolvidos. Segundo o Banco Mundial, nos últimos anos cerca de 228 milhões de pessoas saíram da situação de pobreza nessa região da Ásia.
  A partir da década de 1980, as taxas de mortalidade e natalidade caíram rapidamente. Isso foi possível porque houve melhoria no padrão alimentar, assim como acesso facilitado à moradia e à assistência médica. Tais condições elevaram a expectativa de vida média da população dos Tigres Asiáticos.
Kuala Lumpur (Malásia) - a modernidade é reflexo do crescimento econômico que o país teve nos últimos anos
COREIA DO SUL: O TIGRE MAIS PRÓSPERO
  Separada da sua porção norte, no início da década de 1950, a Coreia do Sul apresenta-se atualmente como o mais próspero dos Tigres Asiáticos.
  A atividade industrial está na base da sua economia, produzindo automóveis, navios, produtos eletroeletrônicos, vestuário, produtos de informática e de telecomunicações, entre outros. É o país de origem de importantes empresas transnacionais, como a Samsung, a LG (eletrônicos), e a Hyundai (montadora de automóveis e navios). Contudo, grande parte da matéria-prima de que o país necessita para manter sua atividade manufatureira é importada de outros países, assim, como os alimentos necessários para manter sua densa população de quase 49 milhões de habitantes.
Principais empresas da Coreia do Sul, denominadas de Chaebols (conglomerado de empresas em torno de uma empresa-mãe, que são controladas por famílias)
  A pujança da economia sul-coreana decorre da presença de uma mão de obra especializada e relativamente barata e de leis trabalhistas flexíveis, que não proporcionam qualquer estabilidade ou garantia de direito aos trabalhadores.
OS NOVOS TIGRES ASIÁTICOS
  Malásia, Tailândia, Indonésia e, mais recentemente, o Vietnã são apontados como os novos Tigres Asiáticos, pois têm se destacado pelo rápido crescimento industrial desde a década de 1990. Esses países adotaram um modelo de industrialização voltado para as exportações, semelhante ao que já vinha sendo adotado pelos Tigres Asiáticos tradicionais, atraindo elevados investimentos de empresas multinacionais, sobretudo japonesas e estadunidenses.
  As grandes empresas que se instalaram nesses países beneficiaram-se de um conjunto de fatores, tais como os baixos salários e a fragilidade ou ausência de leis trabalhistas que controlem o número de horas de trabalho ou ofereçam garantias previdenciárias aos trabalhadores. Entre os novos Tigres, a Malásia é o país que tem apresentado o maior equilíbrio entre o crescimento econômico e a melhoria das condições de vida da população.
  A Indonésia é o país que apresenta a maior população muçulmana do mundo. Seu expressivo crescimento econômico permitiu que a renda per capita fosse multiplicada por quatro entre 1998 e 2007. No entanto, 45% da população vive com menos de 2 dólares por dia e 60% da população economicamente ativa atua na informalidade.
  Além de ter sido o país mais atingido pelo tsunami (onda marinha gigantesca) de 2004, que provocou um elevado número de mortes e destruição de infraestrutura, a Indonésia apresenta enorme endividamento externo, fatores que prejudicam o desempenho econômico do país.
Consequência do tsunami que atingiu a costa da Indonésia em dezembro de 2004
  No campo político, após um período de trinta anos de severa ditadura, o país mergulhou em crescente instabilidade política e o governo foi alvo de sucessivas denúncias de corrupção. A partir dos anos 2000, a Indonésia tem sofrido atentados terroristas atribuídos à organização muçulmana extremista Jemaah Islamiyah, que é apoiada financeiramente pela Al Qaeda, de Osama Bin Laden, morto em 2011 pelas tropas norte-americanas. Em 2002, ocorreu em Bali um atentado que matou mais de 200 pessoas, a maioria turistas.
Atentado que deixou 202 pessoas mortas em Bali - Indonésia, em 2002
TIMOR LESTE
  O Timor Leste está situado na porção leste da ilha Timor e foi colonizado por portugueses desde o século XVI, que deixaram a ilha somente em 1974.
  A parte ocidental da ilha pertence à Indonésia e, logo após a retirada dos portugueses, o país reivindicou a parte oriental, o que culminaria com a anexação do Timor Leste. Para manter o controle sobre esse território, a Indonésia reprimiu duramente os que se opunham à anexação.
Mapa do Timor Leste
  Em 1999, após grande pressão internacional devido à violência empregada no Timor Leste, a Indonésia foi impelida de realizar um plebiscito, em que quase 80% dos timorenses votantes optaram pela independência do seu território, efetivada em 2002.
  As condições socioeconômicas vividas pela população do Timor Leste são precárias, pois a estabilidade política e econômica do país ainda não foi alcançada.
No Timor Leste a maior parte da população sofre com as péssimas condições de vida
FONTE: Geografia, 3° ano: ensino médio / organizadores Fernando dos Santos Sampaio, Ivone Silveira Sucena. - 1. ed. - São Paulo: Edições SM, 2010. - (Coleção ser protagonista).
Geografia espaço e vivência: o espaço geográfico mundial, 8° ano / Levon Boligian ... [et. al.]. - 3, ed. reform. São Paulo: Atual, 2009. 

terça-feira, 4 de setembro de 2012

ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

  O território que hoje pertence aos Estados Unidos foi colonizado por britânicos, franceses e espanhóis; no entanto, foram os britânicos que se tornaram hegemônicos e mais influenciaram a formação da sociedade norte-americana. A primeira colônia inglesa foi fundada em 1607 na Virgínia, na costa do Oceano Atlântico, e ao longo do século XVII várias outras foram fundadas, totalizando 13 colônias, que constituíram o núcleo inicial do atual território.
As Treze Colônias dos Estados Unidos
  Em 4 de julho de 1776, representantes de todas as colônias promulgaram na Filadélfia a Declaração de Independência dos Estados Unidos da América, documento dirigido por Thomas Jefferson. A separação só foi reconhecida pelos ingleses ao final da Guerra de Independência (1775-1783) com a assinatura do Tratado de Versalhes. Após a independência iniciou-se um processo de expansão para o oeste, marcado por guerras contra as nações indígenas e os mexicanos, e o território norte-americano passou a ter sua configuração atual composto por 50 estados, além do Distrito de Colúmbia, onde se localiza Washington, a capital do país.
Expansão territorial dos Estados Unidos
OS FATORES DA INDUSTRIALIZAÇÃO
  Quando os Estados Unidos ainda pertenciam ao Reino Unido, receberam um grande fluxo de imigrantes britânicos, principalmente nas colônias do Norte. Esses imigrantes, fugindo de perseguições políticas e religiosas ou das más condições de vida vigentes na Europa, foram se fixando na faixa litorânea, num trecho conhecido como Nova Inglaterra. Ali desenvolviam uma agricultura diversificada (policultura), em pequenas propriedades, nas quais predominava o trabalho familiar.
  Cidades como Nova York, Boston e Filadélfia começavam a surgir e crescer num ritmo acelerado e teve início uma atividade manufatureira, pois vários imigrantes que eram artesãos no Reino Unido trouxeram consigo suas habilidades e ferramentas. Gradativamente, foi se estruturando um mercado interno, com o predomínio do trabalho familiar no campo e do trabalho assalariado nas cidades. Isso criou condições para a crescente expansão das manufaturas, das casas de comércio e dos bancos.
Relato do capitão John Smith sobre os colonos ingleses na Virgínia no início da colonização dos Estados Unidos
  Assim, nas colônias do Norte, organizou-se uma colonização de povoamento. Enquanto isso, nas do Sul, imperava a colonização de exploração, estruturada em uma sociedade rigidamente estratificada, assentada na exploração do trabalho escravo. A economia sulista era baseada em plantations, ou seja, em grandes propriedades monocultoras nas quais se cultivava principalmente o algodão, utilizando trabalho escravo de povos negros trazidos à força da África Central. Praticamente toda a produção era exportada para o Reino Unido. A riqueza estava fortemente concentrada nas mãos dos fazendeiros escravagistas e, dessa maneira, o mercado interno prosperava muito lentamente.
  Já nas colônias do Norte os negócios se expandiram com rapidez e os capitais se concentravam nas mãos da burguesia nascente. Com o tempo, os capitalistas e outros setores da sociedade nortista desenvolveram interesses próprios que passaram a se chocar com a dos britânicos. O resultado desse conflito de interesses, levou a uma guerra entre a colônia e a metrópole e à independência política, que fez dos Estados Unidos o primeiro país livre da América.
Thomas Jefferson - autor do documento de Declaração da Independência dos Estados Unidos
  A maioria dos primeiros imigrantes era britânica, seguidores de religiões cristãs protestantes, principalmente puritanos (como eram chamados os calvinistas na Grã-Bretanha), que haviam rompido com a Igreja Católica a partir da Reforma protestante empreendida por João Calvino (1509-1564), entre outros teólogos. Essas religiões favoreciam o desenvolvimento capitalista, uma vez que não condenavam moralmente a riqueza. Ao contrário, pregavam que a riqueza  era bem-vinda porque era fruto do trabalho, de uma vida austera, que afastava o fiel do pecado e o aproximava da salvação divina.
João Calvino - fundador do calvinismo
  Embora o aspecto cultural não seja determinante, pois na Itália católica e no Japão xintoísta/budista o capitalismo também floresceu, é indiscutível que o protestantismo criou condições culturais extremamente favoráveis ao desenvolvimento de um espírito empreendedor e de uma ética do trabalho, importantíssima para a acumulação de capitais. O papel do puritanismo nesse processo foi analisado, entre outros, pelo sociólogo alemão Max Weber (1864-1920), que já o desvenda no próprio título de seu livro: A ética protestante e o espírito do capitalismo.
  Outro fator fundamental, que favoreceu o processo de industrialização, é de ordem natural. O Nordeste dos Estados Unidos, além de estar próximo do oceano - o que facilita os transportes marítimos e o intercâmbio comercial - possui grandes reservas de carvão nas bacias sedimentares próximas aos Apalaches, nos estados da Pensilvânia e de Ohio, e de importantes jazidas da minério de ferro nos escudos próximos ao Lago Superior, nos estados de Minnesota e de Wiscosin. O país dispõe de grandes e diversificadas reservas minerais e energéticas.
  Os Grandes Lagos favoreceram imensamente os transportes e, pouco a pouco, todos foram interligados por canais artificiais e eclusas que o ligaram ao Oceano Atlântico pelo Rio São Lourenço, no Canadá, e pelo Rio Hudson, que alcança o Lago Erie por meio de um canal artificial, e desemboca no Atlântico, onde se localiza o porto de Nova York.
A ARRANCADA INDUSTRIAL
  Após a independência, as diferenças econômicas, sociais e culturais entre a sociedade nortista, nascida das colônias de povoamento, e a sociedade sulista, oriunda das colônias de exploração, afloraram nitidamente e se estenderam até a segunda metade do século XIX, quando acabaram desembocando num conflito armado. Os estados escravagistas do Sul, ou, mais precisamente, suas elites aristocráticas em franca decadência política e econômica, tentando manter o poder e, ao mesmo tempo, a escravidão, criaram os Estados Confederados da América.
  Esses estados, desse modo, declararam sua secessão, ou seja, sua separação da federação americana, dominada pelos capitalistas industriais e financeiros do Norte. Essa atitude provocou a Guerra de Secessão ou Guerra Civil Americana.
Pintura da Batalha de Gettysburg
  A vitória da burguesia nortista trouxe como resultado geopolítico mais importante a manutenção da unidade territorial do país, que já se estendia do Atlântico ao Pacífico. Interessados em garantir a ocupação dos territórios tomados dos povos nativos (à custa de um grande genocídio) e aumentar o mercado consumidor para os bens produzidos por suas indústrias, a elite do Norte passou a estimular a imigração.  Em 1862 foi elaborada a chamada Lei Lincoln (Homestead Act), segunda a qual as famílias que migrassem  para o Oeste receberiam 65 hectares de terra para se fixarem e, caso permanecessem cultivando-os por pelo menos cinco anos, ganhariam sua posse definitiva. Essa lei provocou o aumento da imigração, garantindo a ocupação das terras do Oeste, principalmente nos férteis solos das planícies centrais. Porém, o que mais contribuiu para atrair imigrantes e para ampliar o mercado interno do país foi a aceleração de seu processo de industrialização, sobretudo no final do século XIX e início do século XX: no período de 1890 a 1929 se fixaram no país mais de 22 milhões de imigrantes.
Dodge City (em 1878) foi uma das mais importantes cidades do Velho Oeste. Apresentava todas as características mais marcantes das poeirentas e violentas cidades do florescente oeste norte-americano
  A crise de 1929, a depressão dos anos 1930 decorrente dela e a Segunda Guerra reduziram drasticamente a entrada de pessoas no país nos anos 1930-1940, porém o fluxo imigratório voltou a aumentar no pós-guerra e atingiu seu pico nos anos 1990, década em que entrou quase o mesmo número de imigrantes que nos vinte anos anteriores. Entre 1850 e 2008 os Estados Unidos foram o país que mais receberam imigrantes no mundo, com a fixação de mais de 72 milhões de pessoas em seu território. Observe a tabela abaixo.

IMIGRAÇÃO NOS ESTADOS UNIDOS (1850-2008)
Período*
Pessoas que obtiveram a condição legal de residente permanente
1856-1869
4.895.815
1870-1889
7.990.705
1890-1909
11.896.682
1910-1929
10.642.890
1930-1949
1.555.983
1950-1969
5.713.017
1970-1989
10.492.582
1990-1999
9.775.398
2000-2008
9.168.612
Total
72.131.684
* No período 1850-1989 o intervalo é de 20 anos, a partir de 1990, de dez anos.
Fonte: U.S. Department of Homeland Security. Yearbook off Immigration Statistics: 2008. Disponível em: : 01/09/2012.
  Outra medida que ampliou o mercado interno de consumo foi a decretação, em 1863, do fim da escravidão. A partir de então, foi-se disseminando nos Estados Unidos o trabalho assalariado e, pouco a pouco, foi-se estruturando, pela primeira vez na história, uma ampla sociedade de consumo, que se consolidou após a Primeira Guerra Mundial.
NORDESTE: LOCALIZAÇÃO INDUSTRIAL E DECADÊNCIA RECENTE
  Apesar da descentralização recente, na região Nordeste dos Estados Unidos ainda se encontra a maior concentração industrial do país, e uma das maiores do mundo.
Mapa das áreas industriais dos Estados Unidos
  Pelas razões já mencionadas, a primeira região do país a se industrializar foi o Nordeste, onde, durante muito tempo, determinados ramos industriais se se concentram mais em algumas cidades que em outras que em outras, definindo assim as "capitais".
  As grandes siderúrgicas concentraram-se no estado da Pensilvânia, como a United States Steel, em Pittsburgh, por causa da disponibilidade de carvão, da facilidade de recepção do minério que provém de Minnesota por meio dos Grandes Lagos e da proximidade dos centros consumidores. Apesar do fechamento de fábricas e da transferência de usinas para outros lugares, essa cidade continua sendo conhecida como a "capital do aço".
Pittsburgh - conhecida como a "capital do aço" dos Estados Unidos
  A região metropolitana de Detroit, no estado de Michigan, foi o grande centro da indústria automobilística. Está localizada numa posição central, o que facilitou a recepção de matérias-primas e peças, além do posterior envio dos produtos acabados. Abrigando fábricas das "três grandes" - General Motors (GM), Ford e Chrysler - e diversas de autopeças, ela tornou-se a "capital do automóvel", mas atualmente sofre com a falência de algumas indústrias e saída de outras, que migram para outras regiões em busca de menores custos de produção. Devido à elevação do alto custo da mão de obra, à má gestão praticada pelos seus administradores e à acirrada concorrência de automóveis de outras marcas, especialmente japonesas e coreanas, as outrora todo-poderosas montadoras americanas estão tendo sérios problemas, que foram agravados pela crise financeira de 2008.
Detroit - conhecida como a "capital do automóvel"
  A GM, que por décadas foi a maior automobilística do mundo, pediu concordata em junho de 2009 e, para não falir, foi encampada pelo governo americano, que injetou 50 bilhões de dólares na empresa e passou a controlar 61% de suas ações (o governo do Canadá ficou com 12%, o sindicato United Auto Workers, com 17%, e os credores, com 10%). Entretanto, o plano do governo é se desfazer de suas ações depois de sanear a empresa. No mesmo ano, a Chrysler, para evitar a falência, teve parte de suas ações vendidas ao Grupo Fiat. A Ford, sediada em Dearborn (Michigan), não enfrentou os mesmos problemas das concorrentes.
Sede da Ford em Dearborn - Estados Unidos
  Imagine a quantidade de indústrias complementares imprescindíveis ao funcionamento das montadoras de automóveis: autopeças, plásticos, borrachas, vidros, equipamentos eletrônicos etc. Essas indústrias, por sua vez, necessitam de outros setores: siderúrgicas, petroquímicas etc. Isso evidencia como é grave a crise na indústria automobilística, devido ao seu enorme efeito multiplicador.
  Detroit já não é mais a "capital do automóvel" porque muitas de suas antigas fábricas de carros e autopeças estão fechando as portas. A cidade e sua região metropolitana estão enfrentando o desemprego crescente, o empobrecimento da população e a deterioração urbana. Muitos de seus moradores gostariam de se mudar, mas a profunda desvalorização imobiliária os impede de vender suas casas e comprar uma nova em outro lugar.
Casa abandonada em Detroit - Estados Unidos
  Diversos ramos industriais estão espalhados por inúmeras cidades do Nordeste dos Estados Unidos, a região de maior concentração urbano-industrial do planeta. Ali, a história mostrou ser verdadeira a frase: "Indústria atrai indústria". Surgiu, assim, um grande cinturão industrial, o manufacturing belt, que se estende por várias cidades, como Chicago, Detroit, Cleveland e Buffalo, às margens dos Grandes Lagos; Pittisburgh e Columbus, na região dos Apalaches; Boston, Nova York, Filadélfia e Baltimore, na costa leste. Devido à crise de indústrias com forte presença na região, como a automobilística, e de outras que dependem muito dela, como a siderúrgica, e ao consequente fechamento de inúmeras fábricas, muitos têm afirmado que essa região deveria ser chamada de rust belt (cinturão da ferrugem) devido à decadência industrial.
Cinturão da Ferrugem ou Rust Belt
A DESCONCENTRAÇÃO INDUSTRIAL
  Há algumas décadas, está ocorrendo nos Estados Unidos um processo de desconcentração industrial. O cinturão industrial (manufacturing belt) do Nordeste já chegou a concentrar, no início do século XX, mais de 75% da produção industrial dos Estados Unidos. De lá para cá sua participação vem se reduzindo, e hoje ela é inferior a 50%. Como consequência do grande crescimento de cidades do Nordeste, que se agruparam em gigantescas megalópoles, como a que se estende de Boston a Washington (Boswash), passando por Nova York, tem havido uma tendência de elevação dos custos de produção na região. Novos centros surgiram no Sul e no Oeste do país, e centros mais antigos nessas mesmas regiões se expandiram, acarretando uma dispersão industrial. Algumas das cidades norte-americanas que mais têm crescido estão nessas regiões, como Atlanta, Dallas, Houston, Seattle, São Francisco etc.
Atlanta - uma das cidades que mais crescem nos Estados Unidos
SUL
  As primeiras fábricas do Sul dos Estados Unidos datam de 1880: produziam fios e tecidos e foram instaladas por indústrias da Nova Inglaterra, atraídos pela disponibilidade de matéria-prima, o algodão, cultivado na região. Contudo, a industrialização efetiva da região Sul ganhou grande impulso no início do século XX após a descoberta de enormes lençóis petrolíferos, principalmente no Texas. Após a Segunda Guerra o processo se intensificou, pois a necessidade de defesa e de desenvolvimento do programa espacial estimularam a expansão industrial no Sul. Foi construída uma fábrica de aviões em Marietta (Geórgia), onde hoje se encontra uma das maiores unidades da Lockheed Martin, empresa do setor aeroespacial. Em Huntsville (Alabama), foi construído um dos centros da NASA, a agência espacial dos Estados Unidos, e uma fábrica de aviões militares e mísseis da Boeing, a maior indústria aeronáutica do mundo.
Centro da NASA em Huntsville
  No Texas, localiza-se o importante Centro Espacial de Houston, sede da NASA. Na Flórida, em Cabo Canaveral, encontra-se o Centro Espacial John F. Kennedy, base de lançamento de foguetes. No Texas há também importantes indústrias aeronáuticas, em Fort Worth e San Antonio, e grandes indústrias petrolíferas em Houston, onde se destaca a Exxon Mobil, que em 2008 era a segunda colocada na lista das 500 maiores da revista Fortune, com um faturamento de 443 bilhões de dólares, valor equivalente ao PIB da Bélgica (a maior do mundo era a anglo-holandesa Royal Dutch Shell, com um faturamento de 458 bilhões de dólares).
Centro Espacial Jonh F. Kennedy em Cabo Canaveral - Flórida
OESTE
  A última região dos Estados Unidos a se industrializar foi o Oeste. Entre os fatores que contribuíram para a instalação de indústrias nessa região, destacam-se:
  • disponibilidade de mão de obra, que foi se concentrando desde a época da Corrida do Ouro, em meados do século XIX, quando a exploração desse metal na Serra Nevada (Califórnia) atraiu muita gente;
  • existência de outros minérios, como ferro e cobre, nas Montanhas Rochosas e na Serra Nevada, e de petróleo e gás natural na Bacia da Califórnia;
  • disponibilidade de elevado potencial hidrelétrico, principalmente nos rios Columbia e Colorado.
Represa Grand Coule - localizada no Rio Columbia, no estado de Washington
  Em Seattle (estado de Washington) há uma importante concentração da indústria aeronáutica (divisão de aviões comerciais da Boeing), e em Portland (Oregon) de indústrias ligadas ao alumínio. Mas o estado mais importante do Oeste é a Califórnia, com um parque industrial bastante diversificado, localizado principalmente no eixo São Francisco-Los Angeles-San Diego (a segunda megalópole do país), com indústrias petroquímicas, automobilísticas, aeronáuticas, navais, alimentícias e outras.
  Há, assim, muitos setores tradicionais. No entanto, pelo fato de ser uma industrialização relativamente recente, bastante vinculada à indústria bélica (por isso recebeu fortes incentivos governamentais) e ligadas a importantes universidades e centros de pesquisas, no Oeste se encontram as mais importantes concentrações de indústria de alta tecnologia dos Estados Unidos, principalmente no tecnopolo do Vale do Silício.
VALE DO SILÍCIO
  O Vale do Silício (Silicon Valley), no norte da Califórnia, foi o primeiro tecnopolo implantado no mundo. Ainda é o mais importante e serve de modelo para muitos dos que surgiram depois em diversos países. Abrange as cidades de Palo Alto, Santa Clara, San José e Cupertino, entre outras localizadas em torno da Baía de São Francisco. Essa região é chamada Vale do Silício porque sua formação foi baseada nas indústrias de semicondutores, que produzem microchips (ou microprocessadores), cuja matéria-prima é o silício, e na indústria de informática, tanto de computadores e periféricos (hardware) como de sistemas e programas  (software).
Parque industrial de San José - mais importante cidade do Vale do Silício
  Embora o início de sua industrialização remonte aos anos 1930, a expressão "Vale do Silício" surgiu em 1971 e o impulso para o desenvolvimento da região se deu sobretudo durante a Guerra Fria, devido à corrida armamentista e aeroespacial. Foram as indústrias eletrônicas do Vale do Silício que, por exemplo, forneceram transistores para  mísseis e circuitos integrados para os computadores que guiaram as naves Apollo, cuja série 11 atingiu a Lua. Assim, o governo dos Estados Unidos, além de subsidiar as pesquisas nos laboratórios de universidades e empresas, garantia mercado para a produção regional, comprando parte do que era produzido.
  A criação, em 1951, do Stanford Industrial Park, no campus da universidade do mesmo nome, também teve um importante papel no desenvolvimento desse parque tecnológico, pois atraiu indústrias de alta tecnologia (P & D), principalmente do setor de microeletrônica e informática. Outras universidades da região tiveram  papel crucial na formação de mão de obra qualificada e na produção de pesquisa de ponta, entre as quais a Universidade da Califórnia (campus de Berkeley e de São Francisco) e a Universidade Estadual de San José.
Universidade da Califórnia - Campus de Berkeley
  Graças aos pesquisadores dessas universidades o Vale do Silício tornou-se o principal centro de alta tecnologia do mundo. Também contribuiu para isso a existência de um espírito empreendedor, de capitais de risco e de um ambiente favorável aos investimentos e à gestação de novas empresas.
  Muitas dessas empresas dos setores de microeletrônica e informática, que hoje estão entre as maiores do mundo, foram gestadas na região. Por exemplo, em 1939 dois estudantes da Universidade de Stanford - William Hewlett e David Packard - fundaram uma empresa de computadores e impressoras que leva seus sobrenomes - a HP -, a maior do mundo no setor (32ª posição entre as 500 maiores em 2008).
Sede da HP na Califórnia
  Mas há diversas outras no Vale, entre as quais se destacam: Intel e AMD (semicondutores), Apple (computadores), Oracle e Adobe (programas e sistemas), Cisco System (TI), entre outras menos conhecidas. Grandes empresas do setor de informática que têm sede em outros lugares dos Estados Unidos, como a Microsoft, em Redmond (estado de Washington), e a IBM, em Nova York (estado de Nova York), também têm filiais aí. Mesmo corporações japonesas e europeias mantêm centros de pesquisa na região.
  Apesar da diversificação posterior, sobretudo com a biotecnologia, ainda é predominante a participação desses setores pioneiros. Importantes empresas que se desenvolveram recentemente devido à expansão da Internet, como a Google (fundada em 1998), também têm sede no Vale do Silício.
Empresas de semicondutores e de informática presentes no Vale do Silício
BOSTON
  No leste do país destaca-se outro importante tecnopolo, localizado na região metropolitana de Boston (Massachusetts) e que se desenvolveu a partir dos anos 1960 ao longo da Rota 128, uma autoestrada que contorna as cidades da metrópole. Esse tecnopolo também está vinculado à indústria bélica e passou a abrigar inúmeras empresas do setor eletrônico, como a Digital Equipment (computadores), a Raytheon (setor bélico) e outras. Mais recentemente têm se desenvolvido novos setores de alta tecnologia na região, especialmente em Cambridge, destacando-se os de biotecnologia e de equipamentos médicos.
Boston
  A região de Boston passou por um processo de reconversão industrial. Em torno dessa cidade os prédios inteligentes dos setores ligados à nova economia informacional surgiram, muitas vezes, no lugar de antigas fábricas, como as têxteis ou navais, típicas da Primeira Revolução Industrial. Diferentemente de outras cidades do Nordeste que passaram a fazer parte do Rust Belt, a região de Boston transformou-se num tecnopolo  porque dispõe do ativo mais importante da revolução informacional: conhecimento científico-tecnológico avançado. Isso ocorre graças aos pesquisadores de Harvard e do Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT), duas das mais conceituadas universidades do mundo, da Universidade de Boston e de mais de 50 outras instituições de ensino e pesquisa na região.

Instituto Tecnológico de Massachusetts
  Além desses principais, há vários outros tecnopolos no território dos Estados Unidos.
  Em 2008 os Estados Unidos tinham 140 corporações na lista da Revista Fortune, o que correspondia a 28% das 500 maiores do mundo. Entretanto, em 2001 chegou a ter 197 empresas na lista, 39% do total, um recorde. De lá para cá, empresas de países emergentes, especialmente da China, têm ocupado esse espaço. Isso é mais uma evidência do enfraquecimento relativo dos Estados Unidos e, paralelamente, do crescente fortalecimento das economias emergentes no mundo atual.
FONTE: Sene, Eustáquio de. Geografia geral e do Brasil, volume 2: espaço geográfico e globalização: ensino médio / Eustáquio de Sene, João Carlos Moreira. São Paulo: Scipione, 2010.

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