sábado, 20 de junho de 2020

O PLANISFÉRIO DE CANTINO

Mapa de Cantino
  Nos primeiros séculos de ocupação europeia na América foram produzidos muitos mapas, que eram importantes fontes de informação para a exploração do território. Eles indicavam a posição e o nome de serras, rios e localidades. Além disso, muitos desses mapas representavam a visão dos europeus sobre os povos originários que viviam no Novo Mundo.
  Em 1502 foi elaborado um mapa do mundo que representava pela primeira vez as terras que viriam a ser o território brasileiro: o mapa de Cantino. Recebeu esse nome de Alberto Cantino, um representante e espião do Ducado de Ferrara que, a serviço em Lisboa, Portugal, conseguiu obter e remeter clandestinamente a seu empregador na Itália, um detalhado mapa dos descobrimentos portugueses até a época. Nele estão representadas a costa brasileira e a linha do Tratado de Tordesilhas, além da costa das Guianas, da Venezuela e de parte oriental da América do Norte.
  O mapa de Cantino é um dos mais antigos mapas da era dos descobrimentos. Foi desenhado por um cartógrafo português e demonstra o elevado grau científico com que os portugueses trabalhavam durante os descobrimentos.
Planisfério de Cantino de 1502, mostrando pela primeira vez o continente americano
  Foi a primeira vez que as linhas do Equador e do Tratado de Tordesilhas apareceram num mapa, bem como a costa do Brasil e da América do Norte com a Flórida, Groenlândia e Terra Nova, além de apresentar a Índia, Madagascar, Malásia e o Golfo da Tailândia. A África aparece bem desenhada nesse mapa, que encontra-se na Biblioteca Estense, em Modena, Itália.
  As informações geográficas disponibilizadas pelo Planisfério de Cantino serviu como referência para a elaboração do Planisfério de Waldseemüller, de 1507, em que nele, pela primeira vez apareceu o termo "América".
Planisfério de Waldseemüller, de 1507
  Em sua forma original, o Planisfério de Cantino apresenta os continentes e as grandes ilhas representados de verde, enquanto que as pequenas ilhas apresentam-se na cor vermelho ou azul. O mapa apresenta ainda as bandeiras das nações as quais os territórios pertenciam. A Linha do Equador está representado por uma espessa linha dourada, e a linha que representa o Tratado de Tordesilhas por uma espessa linha azul. Os trópicos e o Círculo Polar Ártico (nessa época a Antártida ainda não tinha sido descoberta) são assinalados por finas linhas vermelhas. O mapa apresenta, também, várias rosas dos ventos.
  A América do Norte aparece representada em várias partes: o sul da Groenlândia, o leste da Terra Nova e a Flórida, além de uma possível passagem para a China. As Antilhas figuram com a menção "has antilhas del Rey de castella", e é a mais antiga referência do nome Antilhas em uma carta geográfica. Ao sudeste da África, encontra-se Madagascar e o arquipélago de Mascarenhas.
Costa do Brasil apresentado no Planisfério de Cantino

quinta-feira, 18 de junho de 2020

A INDÚSTRIA DA MODA: A SEGUNDA MAIS POLUENTE DO PLANETA


  É fácil citar a indústria do petróleo como principal vilã da poluição. Mas poucos talvez saibam que o segundo lugar nesse ranking pertence à indústria da moda. Calças e malhas de poliéster são feitas de fibra sintética, que requer, todos os anos, cerca de 70 milhões de barris de petróleo. As fibras sintéticas, como a poliamida, demoram aproximadamente 30 anos para se decompor. Já o poliéster demorar mais de 100 anos. A viscose, outra fibra artificial, mas feita de celulose, exige a derrubada de 70 milhões de árvores todos os anos. E, apesar de natural, o algodão é uma fibra cujo cultivo é o que mais demanda o uso de substâncias tóxicas em seu cultivo no mundo - 24% de todos os inseticidas e 11% de todos os pesticidas, com óbvios impactos na terra e na água. Nem mesmo o algodão orgânico escapa: uma simples camiseta necessitou de mais de 2.700 litros de água para ser confeccionada.
  Mas talvez o maior dano causado pela indústria da moda seja a tendência da "moda rápida", marcada especialmente pelos preços baixos. O consumo multiplica os problemas ambientais. 
  O chamado "segredo sujo" da moda deu origem à iniciativas que buscam uma maior responsabilidade ambiental.
Entre 17% e 20% da poluição das águas em todo o mundo vêm da indústria da moda
 
    A indústria da moda inclui uma grande diversidade de atividades econômicas, indo desde a criação de modelos de roupa (design de moda) mais ou menos personalizados até a produção de vestuário em série. Nas modernas sociedades consumistas, esta indústria constitui um fenômeno complexo e de grande importância, tanto a nível da psicologia social como a nível econômico.
  A moda, em certo sentido, dura para sempre. Afinal, mais de 60% da fibra usada globalmente na produção de roupas é sintética. Essas peças vão demorar décadas ou séculos para se decompor, mesmo se forem jogadas fora (não importa quantas pessoas a usem e reusem, por meio de doações e vendas de segunda mão). Parte das fibras são incineradas, contribuindo para a poluição do ar, e outra parte vai para os depósitos de lixo, dos oceanos e dos lagos. O problema se agrava com a ascensão das marcas de fast fashion, que incentivam ciclos de consumo mais rápidos.
A demora na decomposição das roupas é outro problema ambiental
  Outro problema da indústria da moda, refere-se aos trabalhadores. Geralmente, as grandes marcas da moda não empregam oficialmente os trabalhadores nem são proprietárias das fábricas onde seus bens são produzidos. A grande maioria dessas fábricas estão localizadas nos países subdesenvolvidos, onde a mão de obra é barata e as leis trabalhistas e ambientais são menos rigorosas. Livres de responsabilidade pelas condições de trabalho precárias a que estas pessoas estão sujeitas todos os dias, os custos de produção são baixos e é acumulado o maior lucro possível. Se as fábricas se recusam  a manter as suas margens baixas, sujeitam-se a perder o cliente; mas a economia destes países tornou-se tão dependente desta exploração da mão de obra, que os governos mantêm propositadamente os salários baixos, evitando constantemente a regulação de leis locais por medo da transferência da produção para outros países que ofereçam mais vantagens. O fim de contrato em caso de gravidez, o emprego de crianças refugiadas e os salários bem baixos, levam os trabalhadores a aumentar sua carga horária de trabalho para conseguirem sobreviver.
As precárias condições de trabalho é outro problema que marca a indústria da moda

  A grande maioria das fábricas têxteis se concentram na Ásia, continente dependente de carvão mineral e gás natural para gerar eletricidade e calor, o que impulsiona a emissão de gases do efeito estufa nas três etapas mais poluentes: produção de fibra (15%), preparação de fibra (28%) e tingimento e acabamento (36%). Com relação ao calçado, as áreas de maior impacto variam conforme o material usado - com matérias sintéticas e têxteis a fase de fabricação é a mais poluente (43%), mas para a parte superior do calçado (cabedal), 50% do impacto ambiental  vem da extração do material e do seu processamento. Isso contribui, não só para a poluição da atmosfera, mas também da água, devido principalmente a grande utilização de produtos químicos tóxicos usados no tingimento têxtil, que são prejudiciais tanto à saúde dos seres vivos, quanto ao meio ambiente.
A maioria das fábricas jogam os dejetos do tingimento têxtil sem nenhum tratamento, contribuindo para poluir rios, lagos e oceanos
  Além de poluir o meio ambiente, a indústria têxtil também consome muita água. A quantidade de água utilizada na produção do algodão varia de acordo com a região onde ele é cultivado, mas no geral, é em torno de 10.000 litros por quilograma. O impacto é maior principalmente nas localidades à volta dos campos de cultivo: a extração excessiva de água dos rios Amur Darya e Syr Daria para a irrigação das plantações de algodão é, em parte, responsável pelo desaparecimento do Mar de Aral.
  O plantio de grande parte do algodão utilizado atualmente para abastecer as indústrias têxteis se dá através de sementes geneticamente modificadas, com grande utilização de agrotóxicos, contribuindo para a contaminação do solo, dos lençóis freáticos e dos rios e lagos. Sem contar também que grande parte da produção de algodão é feita de forma mecanizada em latifúndios, o que contribui para o desemprego no campo.
Grande parte do algodão consumido pelas indústrias têxteis vêm de latifúndios monocultores
  Tentando diminuir o impacto no meio ambiente, muitas empresas do ramo da moda estão utilizando uma produção mais sustentável. Essas empresas, para diminuir a dependência de combustíveis fósseis, buscam fontes renováveis de energia, além de seleção de fibras com impactos ambientais mais reduzidos e o uso de materiais emergentes que requerem menos energia na fase de processamento. A reciclagem também está contribuindo para reduzir o impacto ambiental provocado por essa indústria.
  A gigante da moda H&M, uma rede de lojas sueca, apostou na logística de fabricação de peças a partir da reciclagem. O resultado foi um aumento considerável nos seus lucros. No Brasil, um grupo de empreendedores criou o Retalhar, que oferece soluções de reciclagem de tecidos para seus clientes e também transforma retalhos de confecções de roupas em novos produtos.
A reciclagem é uma das formas de diminuir o impacto ambiental na indústria da moda

segunda-feira, 11 de maio de 2020

AS CIDADES INTELIGENTES

  Atualmente, muitas cidades se voltam para o crescimento econômico sustentável e para a prosperidade de seus habitantes, tornando-se cada vez mais conectadas e automatizadas. São as smart city, ou as chamadas cidades inteligentes.
  Santander, na Espanha, é um modelo de cidade inteligente. A instalação de sensores em diversos pontos desse centro urbano possibilita o recolhimento de informações sobre a qualidade do ar, coleta de lixo, situação do trânsito e iluminação pública. Os sensores enviam dados que permitem saber, por exemplo, onde há acidentes de trânsito, congestionamentos, ou lixo para recolher; em que locais é necessário aumentar ou diminuir a intensidade de luz; itinerários e horários de ônibus etc. Informações sobre trânsito, pontos turísticos e zonas de poluição são disponibilizados em tempo real para os cidadãos por meio de um aplicativo.
Cidade de Santander, na Espanha - um exemplo de uma cidade inteligente
  A criação de cidades inteligentes é um assunto que desperta cada vez mais o interesse do governo e da população. É evidente, principalmente nas grandes metrópoles, que algo deve ser feito para a melhoria da qualidade de vida, dos serviços públicos e da sustentabilidade.
  Além do planejamento urbano, é necessário investir em soluções tecnológicas que possam ser aceitas e utilizadas pelos moradores de cada smart city.
  O crescimento populacional exige que as autoridades pensem na estruturação das cidades para oferecer qualidade de vida e evitar problemas sociais e econômicos.
  Nove variáveis podem indicar o nível de inteligência de uma cidade: capital humano, coesão social, economia, meio ambiente, governança, planejamento urbano, alcance internacional, tecnologia e mobilidade e transporte.
  As cidades inteligentes são criadas de duas formas: a primeira é investir em cidades planejadas e incluir em seu planejamento prévio tecnologias e ações sustentáveis. A segunda, é reavaliar os processos das cidades já existentes e identificar as melhorias que podem ser realizadas de acordo com as necessidades dos moradores e do local.

Vídeo sobre uma cidade inteligente
  Algumas das cidades inteligentes no mundo, são:
Songdo - Coreia do Sul
  Songdo é uma das maiores referências no quesito cidade inteligente. Ela foi planejada pensando totalmente na tecnologia e sustentabilidade. Seus edifícios são conectados a sistemas que possibilitam o monitoramento da energia e alarmes de incêndio, reduzindo o custo com manutenção e otimizando o uso.
  Outro exemplo de inovação da smart city é o pneumático, um sistema localizado em todos os apartamentos. Os resíduos jogados ali vão direto para a central de coleta de lixo. Dessa forma, caminhões não precisam circular pelas ruas. Além disso, os detritos são utilizados para abastecer incineradores que geram energia para a smart city.
Songdo, Coreia do Sul - uma das maiores referências em cidades inteligentes
Barcelona (Espanha)
  Assim como Songdo, a cidade espanhola de Barcelona investe na gestão de resíduos. Escotilhas foram espalhadas pela smart city e recolhem o lixo de hora em hora durante os 7 dias da semana. Esse material viaja até 70 km/hora em uma tubulação que fica a 5 metros da superfície. Ao chegar no centro de coleta, o lixo é separado entre material reciclável e orgânico. Esse último é transformado em combustível para gerar eletricidade para a smart city.
Barcelona - Espanha
Copenhague
  A cidade de Copenhague, capital da Dinamarca, tem uma das políticas urbanas mais avançadas do mundo, com destaque para a sustentabilidade. A smart city tem 400 quilômetros de ciclovia, a mais movimentada tem cerca de 40 mil passagens de ciclistas por dia. Um dado muito interessante é que, na zona central, há mais bicicleta do que habitantes.
  Além disso, estima-se que 63% do parlamento dinamarquês pedale todos os dias para o trabalho. Essa preocupação com a emissão de poluentes existe porque a smart city tem uma meta ousada: até 2025, Copenhague quer ser a primeira capital do mundo neutra em emissão de carbono.
Copenhague - Dinamarca
As cidades inteligentes no Brasil
  No Brasil, as cidades inteligentes estão avançando aos poucos. No ranking das 165 principais smart cities do mundo, divulgado pelo IESE Business School, seis cidades brasileiras apareceram na lista: São Paulo (116º), Rio de Janeiro (126º), Curitiba (135º), Brasília (138º), Salvador (147º) e Belo Horizonte (151º).
  São Paulo se destaca pelos movimentos em mobilidade urbana, com a criação de mais ciclofaixas e corredores de ônibus.
  Curitiba inovou com a criação do Ecoelétrico, uma frota de carros elétricos que prestam serviços públicos. Desde a sua implantação, em 2014, a cidade poupou a emissão de 12.264 quilogramas de gás carbônico na atmosfera.
Curitiba - Paraná
  Salvador, a única cidade do Nordeste no ranking, investe na tecnologia para melhorar a mobilidade urbana e a produção de energia. Além da criação de um aplicativo para os passageiros de ônibus, o governo local investe na inteligência das coisas para monitorar a iluminação de locais públicos. Dessa forma, existe uma redução no consumo de energia e mais rapidez na manutenção de equipamentos.
  Além das localidades que estão no ranking, outras cidades inteligentes no Brasil se destacam pelo uso da tecnologia para a resolução de problemas.
Croatá Laguna EcoPark: a cidade inteligente do Ceará voltada para a habitação social
  A primeira cidade inteligente voltada para a habitação social no mundo, está sendo construída em Croatá, São Gonçalo do Amarante, Ceará. Trata-se de um projeto do grupo italiano Planet Idea criado para moradores de baixa renda, que poderão contar com uma infraestrutura tecnológica avançada na smart city.
  Essa smart city se baseia em quatro pilares: arquitetura, meio ambiente, tecnologia e inclusão social. A smart city também terá sistemas de reaproveitamento da água, irrigação automatizada de acordo com o clima, fiação elétrica subterrânea e locais que produzem energia cinética - gerada por movimentos do corpo.
  Em relação ao transporte, serão implementados sistemas de bike sharing e compartilhamento de carros.
Croatá Laguna EcoPark, em São Gonçalo do Amarante - CE

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