quarta-feira, 30 de novembro de 2022

A ECONOMIA AÇUCAREIRA NO BRASIL COLÔNIA

  O início efetivo da colonização do Brasil está relacionado ao plantio da cana-de-açúcar, espécie originária da Índia, trazida pelos portugueses a partir da década de 1530. A lavoura canavieira demandava mais investimentos do que a extração do pau-brasil. Além disso, para produzir açúcar era necessário trabalho constante. Por isso, colonos portugueses começaram a se fixar na América.

  A cana-de-açúcar foi amplamente explorada, sobretudo no território correspondente ao da atual Região Nordeste. A produção açucareira se organizou principalmente nas proximidades de Recife e Olinda, em Pernambuco, e em Salvador e Recôncavo Baiano, na Bahia, causando impactos significativos na vegetação nativa, especialmente  na Mata Atlântica.

  A lavoura açucareira ocupou grande parte da terra agricultável na faixa litorânea, forçando os indígenas que lá viviam a migrar para o interior e o norte do território. A abertura de campos de cultivo era feita com a derrubada e a queima da mata nativa.

  Parte da madeira derrubada era utilizada para a construção das instalações de engenhos. Faziam parte dessas instalações, além da plantação, as estruturas necessárias à moagem da cana e à produção do açúcar, a residência do senhor de engenho (conhecida como casa grande), o alojamento dos trabalhadores, a maioria escravizados, e, muitas vezes, uma capela.

Representação de indígenas carregando o pau-brasil

  Outra parte da madeira era usada para alimentar as fornalhas, nas quais o caldo de cana era cozido e convertido em melaço, que era transformado em açúcar. O consumo de lenha nunca parava, pois ela também era utilizada para cozinhar os alimentos consumidos cotidianamente no engenho.

  Além da lenha, outro recurso natural era importante na produção de açúcar: a água. Nas propriedades maiores e mais ricas, chamadas engenhos reais, usava-se a força da água para movimentar as moendas, nas quais a cana era processada. Nos engenhos menores, conhecidos como engenhocas ou trapiches, eram usadas juntas de bois para fazer esse trabalho.

  A vida nos engenhos também demandava a produção de alimentos e a criação de animais, sobretudo gado bovino. Para realizar essas atividades, usava-se a água para a irrigação e para o consumo (humano e animal). Além disso, o solo acabava desgastado devido a métodos de cultivo inadequados e às pastagens.

Engenho de açúcar em Pernambuco colonial, pelo pintor holandês Frans Post (século XVII)

O ciclo do açúcar

  O ciclo do açúcar, também referido como ciclo da cana-de-açúcar, foi um período da história do Brasil Colônia compreendido entre meados do século XVI e meados do século XVIII. O açúcar representou a primeira grande riqueza agrícola e industrial do Brasil e, durante muito tempo foi a base da economia colonial.

  O ciclo do açúcar teve início em 1516, quando a cana-de-açúcar foi introduzida na ilha de Itamaracá, litoral de Pernambuco, pelo administrador colonial Pero Capico. Com a criação das capitanias hereditárias, Pernambuco e São Vicente despontaram na produção açucareira, sendo esta última sobrepujada pela Bahia após a implantação do governo-geral.

  As plantações ocorriam no sistema plantation, ou seja, cultivo de um só produto agrícola em latifúndios. Sua produção era destinada ao comércio externo, e tinha como principal destino o mercado europeu.

  O Nordeste brasileiro foi a região que mais se desenvolveu o cultivo da cana-de-açúcar devido a vários fatores, como: proximidade com a Europa, clima quente e úmido, e o solo de massapê.

Olinda foi o local mais rico do Brasil Colônia devido ao cultivo da cana-de-açúcar

A sociedade açucareira

  Os engenhos eram bem mais do que os locais onde se produzia o açúcar para exportação. Eram espaços onde as relações sociais se desenvolviam e onde acontecia a maioria das celebrações e das festividades da colônia. Neles conviviam o senhor de engenho, sua família e agregados, além de trabalhadores livres e escravizados.

  Os senhores de engenho, no geral, faziam parte da pequena nobreza lusitana ou integravam a administração metropolitana e formavam a aristocracia da colônia. Isso, porém, não significava que eles levassem uma vida luxuosa. Na maioria dos engenhos, as condições de vida eram muito simples. Na residência da maioria dos senhores de engenho, o chão era de terra batida e havia poucos móveis e utensílios - as roupas e os demais produtos manufaturados eram caros, pois eram importados da Europa.

Antigo Solar de Megaípe, casa grande do Engenho Megaípe, em Jaboatão dos Guararapes (PE)

  Na sociedade açucareira, haviam alguns trabalhadores livres que exerciam atividades especializadas nos engenhos em troca de salário, como o mestre de açúcar, responsável pela qualidade do produto, e o purgador, que administrava o processo de clareamento do açúcar. Além disso, haviam muitos lavradores que não possuíam engenho. Parte deles cultivava a cana em suas terras e negociava com os senhores as condições para moê-la nos engenhos. Outra parte arrendava as terras de um senhor e era obrigada a moer a cana naquele engenho e a entregar ao senhor uma parcela de sua produção.

  Nos primeiros engenhos montados, era utilizada apenas a mão de obra indígena. No entanto, com a ampliação das atividades, os portugueses passaram a explorar principalmente o trabalho de africanos escravizados, que, desde então, foram trazidos em grande escala para a colônia. Os escravizados trabalhavam em todas as fases do processo de produção dos engenhos, do plantio e do corte da cana ao transporte do açúcar. Os locais em que viviam, chamados senzalas, eram precários e pouco ventilados. Eles eram obrigados a trabalhar por longas horas, recebiam pouca alimentação e estavam sujeitos à violência, incluindo castigos físicos.

  Nessa sociedade, marcada pela grande propriedade agroexportadora e pela escravidão, os recursos naturais disponíveis eram considerados abundantes e foram intensamente utilizados, sem preocupação em conservá-los. Com o esgotamento de uma área, ocupavam-se outras, ampliando a devastação.

Casa Grande, Senzalas e Armazéns

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ANDRADE, Manuel Correia de. Espaço e tempo na agroindústria canavieira de Pernambuco. São Paulo: Estudos Avançados, n. 15, v. 43, 2001.

FREYRE, Gilberto. Casa-Grande & Senzala. Rio de Janeiro: Editora Record, 1998.

GOMES, G. Engenho & arquitetura: tipologia dos antigos engenhos de açúcar de Pernambuco. Recife: Fundação Gilberto Freyre, 1997.

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