terça-feira, 8 de março de 2022

A DOUTRINA MONROE

   Os Estados Unidos terminaram o século XX e iniciaram o século XXI na condição de maior potência mundial, a única hiperpotência.

  Essa condição, adquirida ao longo do tempo pelos Estados Unidos, está associada à história de sua expansão territorial: das Treze Colônias iniciais, constituídas nos séculos XVII e XVIII, ao quarto maior país do mundo em extensão territorial.

  A Doutrina Monroe, o mais importante conjunto de pensamentos da política isolacionista dos Estados Unidos, foi estabelecida em sua mensagem ao Congresso no dia 2 de dezembro de 1823 pelo presidente James Monroe (1758-1831). É muito clara em seu intuito de afastar qualquer possibilidade de recolonização da América, diante do contexto de reorganização da Europa após o turbulento período da Era Napoleônica. Contudo, também traz uma ideia dúbia em seu lema: "A América para os americanos". Como toda mensagem velada, há uma aparente indefinição da frase: seria a Doutrina um aviso para que se respeitasse a autonomia dos recém-independentes países americanos ou um aviso não explícito das intenções intervencionistas do país em ascensão?

  Um misto das duas intenções, como a história tratou de mostrar, parece explicar melhor esse documento que esboçou a cartilha geopolítica do país.

  É muito comum entre os estudiosos entender a Doutrina Monroe como um marco da construção do poder estadunidense. Outros remetem ao próprio processo de colonização no país e ao isolacionismo que caracterizou sua história até a Primeira Guerra Mundial.

James Monroe - presidente dos Estados Unidos de 1817 a 1825

  A Doutrina Monroe foi por todo o século XIX, e parte do XX, a linha mestra da política externa do país. Foi invocada várias vezes nesse período para rechaçar pretensões britânicas, francesas e alemãs na América. Apesar de distintas na concepção (uma de orientação política, outra religiosa), a Doutrina Monroe e o Destino Manifesto (teoria estadunidense que advoga a supremacia do povo americano anglo-saxão sobre os demais) muitas vezes se fundiram no propósito de assegurar a capacidade expansionista estadunidense. Dessa fusão brotou a ideia de que era destino dos Estados Unidos de sobrepor aos demais países da América, logo, ocupá-los. Muitas aquisições territoriais se fizeram sob a aura da Doutrina: Texas, adquirido junto ao México, em 1845; Oregon, em 1846; Novo México, Arizona e Califórnia, tomados do México, que perdeu metade do seu território, em 1848; e o Alasca, que foi comprado junto ao Império Russo ao preço de US$ 7,2 milhões, em 1867. Somente a Louisiana foi adquirida da França antes da Doutrina, em 1803.

Animação que mostra, em primeiro lugar, a ordem em que as Treze Colônias que ratificaram a Constituição e, em seguida, a ordem em que cada estado foi admitido pela União

  A ideologia da Doutrina estava baseada em três princípios básicos: a impossibilidade de criação de novas colônias ao longo do continente, intolerância à interferência de nações europeias em questões internas e a não participação norte-americana em conflitos envolvendo países europeus.

  A Doutrina se colocava contra o colonialismo em terras do continente americano, isso é tão verdade que os Estados Unidos foram os primeiros a reconhecer a independência dos países anteriormente colonizados pela Espanha.

  O que motivou tal doutrina foi a ameaça por parte da Santa Aliança (composta por países europeus como Áustria, Rússia e França) de voltar a colonizar os países americanos.

  Aparentemente, os Estados Unidos estavam fazendo frente à Europa para defender os países latinos, no entanto, o que estava sendo defendido eram somente os interesses norte-americanos.

Uma bem-humorada alusão aos dizeres da Doutrina Monroe. A charge ilustra o momento da declaração da Doutrina Monroe ao mundo, em 1823, mostrando o Tio Sam, símbolo mundialmente conhecido pela personificação do sentimento nacionalista dos Estados Unidos, como guardião e, também, proprietário do continente americano.

  Inicialmente isolacionista, a Doutrina assumia uma clara posição de defensora da América, invocando o direito de independência das nações latino-americanas perante às Coroas hispânica e portuguesa. Na mensagem oficial enviada ao Congresso, o presidente Monroe deixava claro que não admitiria nenhuma intervenção armada na América por parte dos europeus, pois seria encarada como uma ameaça aos Estados Unidos. Em troca, o país renunciava, igualmente, a qualquer intervenção na Europa.

  Apesar do tom de alerta, os Estados Unidos pouco podiam fazer em relação às práticas intervencionistas europeias que persistiram até o final do século XIX.

  A partir desse momento, quando o país estava fortalecido economicamente, a Doutrina Monroe se tornou mais efetiva. Deste momento em diante, vários países da América passaram a sofrer intervenções não por parte da Europa, mas da potência emergente do Norte.

Charge de um jornal de 1912 destacando a influência dos Estados Unidos sobre os países vizinhos no seu "quintal" no século seguinte, a Doutrina Monroe

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AQUINO, R. S. L. et al. História das sociedades americanas. Rio de Janeiro: Livraria Eu e Você, 1981.

KARNAL, L. (org.). História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. São Paulo: Contexto, 2007.

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