terça-feira, 21 de julho de 2020

A EVOLUÇÃO DO ESPAÇO RURAL BRASILEIRO E AS FRONTEIRAS AGRÍCOLAS

  Nos últimos 40 anos, o Brasil saiu da condição de importador de alimentos para se tornar um grande provedor para o mundo. Foram conquistados aumentos significativos na produção e na produtividade agropecuárias. O preço da cesta básica, no Brasil, reduziu-se consideravelmente e o país se tornou um dos principais players do agronegócio mundial. Hoje, se produz mais em cada hectare de terra, aspecto importantíssimo para a preservação dos recursos naturais.
  A agricultura se modernizou, mas ainda existem desafios. Há grande concentração de riqueza em pequena parcela de propriedades rurais, existem milhares de hectares de solos e pastagens degradados, há grande ineficiência no uso de água na irrigação, e o uso inadequado de agroquímicos oferece riscos à saúde e ao meio ambiente, entre outro problemas.
A imagem apresenta a concentração de terras no Brasil
  Nos anos 1960, época de fortes mudanças econômicas e sociais no país, o projeto de industrialização com base na substituição de importações se esgota. Isso se deveu, por um lado, pela incapacidade estrutural da própria indústria nacional em atender a sua crescente demanda interna por bens de capital e matérias-primas e, por outro lado, pela incapacidade da agricultura em financiar e abastecer as necessidades de um setor urbano e um parque industrial em expansão.
  Esse projeto, que tinha a intenção de modernizar a agricultura, aumentando e diversificando a sua produção, pela introdução e disseminação de tecnologias de ponta, apresentava dois grandes eixos para a sua concretização: primeiro expandir e ocupar os espaços ainda não integrados ao mercado nacional, por meio da criação de incentivos fiscais em favor do grande empreendimento agropecuário capitalista nacional ou estrangeiro; e segundo ampliar a concessão de créditos subsidiados, direcionados para a grande monocultura de alto valor comercial destinado à exportação.
  Graças a essas políticas, o desempenho da agricultura nos anos 1960 foi superior ao verificado na década de 1950. Isso se traduz pelo aumento superior a 170%  no número de tratores utilizados no setor, naquele decênio, onde foram empregados principalmente nas áreas de lavouras da região Sul e do estado de São Paulo.
Agricultor utilizando um trator em Vitória (ES), em 1952
  Foi nesse espaço contínuo que a agricultura moderna mais se desenvolveu nos anos 1960, no contexto nacional. Além das tradicionais monoculturas de exportação do algodão e do café, nele se intensificaram e se expandiram as lavouras do milho e da soja, em caráter empresarial.
  A expansão do grande empreendimento agropecuário moderno afetou muitas áreas de pequena produção agrícola, estando estas em áreas já colonizadas ou em áreas de expansão da fronteira. Isso porque o modelo de modernização conservador, ao direcionar sua política de crédito subsidiado para a mecanização, a utilização de insumos e os implementos industriais, fez com que o desenvolvimento da agricultura dependesse cada vez mais de investimentos de capital. Nesse sentido, o alto custo da utilização de insumos modernos inviabilizava os pequenos agricultores, uma vez que a eles foram impostas condições de produção semelhantes à dos grandes proprietários.
Casa de farinha rústica em João Pessoa - PB, em 1957
  Até mesmo espaços rurais de pequena produção, distantes da principal área de agricultura moderna formada pela região Sul e o estado de São Paulo, sofreram modificações em seu processo de produção tradicional. Este é o caso do Maranhão, onde, nos anos 1960, projetos governamentais favoreciam a apropriação da terra por grandes empreendimentos pecuários. Com a pecuarização e a privatização das terras, extensas áreas de mata e capoeira foram transformadas em pastagens, destruindo, desse modo, o sistema agroextrativo prevalecente nesta área, ao qual estavam ligados os pequenos agricultores estabelecidos há décadas nos vales dos rios Grajaú e Pindaré.
Ordenha manual em uma propriedade de São Paulo, em 1958
  A fronteira agrícola é um termo criado para definir a região do país que sofre com o avanço das práticas agrícolas devido às devastações das florestas. A fronteira agrícola representa uma área que é mais ou menos definida de expansão das atividades agropecuárias sobre o meio natural. Geralmente, é nessa zona que são registrados muitos casos de desmatamento ilegal e de conflitos que envolvem a posse e o uso das terras que são chamadas de terras devolutas, que são aqueles espaços naturais pertencentes à União e que são delimitadas por propriedades legais. Estas, servem de moradia para índios e comunidades tradicionais e familiares.
  A fronteira agrícola está diretamente ligada com a necessidade de uma maior produção de alimentos, criação de animais sob a demanda internacional de importação destes produtos. Está ligada também à ausência de políticas públicas eficientes, pois muitas terras são compradas ilegalmente e sem controle algum das fiscalizações.
Colheitadeira em uma plantação de algodão
  Essa fronteira já esteve presente em várias regiões do nosso país. Ao longo da história, essa localização vem se expandindo e modificando de acordo com mudanças políticas e econômicas de cada período. Durante o período colonial, a fronteira agrícola se localizava na zona litorânea, principalmente na Mata Atlântica, onde havia uma grande exploração do pau-brasil. Depois, essa área passou a ser utilizada para o plantio de cana-de-açúcar. A mineração e o surgimento de novos cultivos expandiram a fronteira agrícola do Brasil.
  Na segunda metade do século XX, a fronteira agrícola do Brasil chegou à região central do país, em áreas de Cerrado. Em poucos anos, essa vegetação foi quase toda devastada, restando menos de 20% de sua área original. Os principais cultivos desenvolvidos na área de cerrado são os de soja, milho, algodão e cana-de-açúcar.
Cultivo de soja em área de Cerrado no estado do Piauí
  Nos últimos anos, a fronteira agrícola vem avançando em direção à Floresta Amazônica, especificamente nos estados do Pará, Mato Grosso, Tocantins e Maranhão. Nesses estados são registrados vários conflitos. Esses conflitos envolvem garimpeiros, indígenas, posseiros e grandes fazendeiros, (muitos deles chamados de grileiros - que falsificam o título de uma propriedade da União para torná-la definitiva como sua propriedade).
  Além dos cultivos de soja, milho e algodão, a pecuária extensiva contribui também para o avanço da fronteira agrícola na Região Norte.
Devastação da Floresta Amazônica no Mato Grosso

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