sexta-feira, 9 de maio de 2014

CONFLITOS NO SUDÃO DO SUL: O MAIS NOVO PAÍS DO MUNDO

BREVE HISTÓRIA DO SUDÃO
  Há séculos, minorias étnicas africanas são obrigadas a conviver dentro das mesmas fronteiras graças ao desenho arbitrário das linhas imperialistas.
  Na primeira metade do século XX, o Sudão pertencia ao consórcio anglo-egípcio, até conseguir sua independência, em 1956. O nome do país deriva da expressão árabe Bilad-as-Sudan, que quer dizer "terra dos negros". No norte do território impera o deserto; o sul é domínio do Sahel. O Sudão é um país sahelino, caracterizado por conflitos decorrentes dos contatos entre etnias e culturas diferentes.
  O Sudão vive em guerra civil há quase meio século, o que causou cerca de dois milhões de mortes. O poder é exercido por muçulmanos de origem árabe, mediante a aplicação da rigorosa lei islâmica - a Sharia. Mas o regime tem enfrentado forte resistência.
  O conflito entre o norte e o sul do Sudão, teve início quando o governo islâmico tentou impor o Xariá ou Sharia (lei religiosa do Islamismo) em todo o país, inclusive no sul, onde a maior parte da população é cristã.
Mapa do Sudão e do Sudão do Sul
  No oeste, em Darfur, a disputa é contra os negros muçulmanos que formam a população local. A guerra, cujo apogeu foi em 2003 e 2004, causou cerca de 300 mil mortes e deixou 2,5 milhões de refugiados. Segundo a ONU, houve um verdadeiro genocídio provocado por milícias islâmicas contra os negros de Darfur, provocando a maior crise humanitária dos últimos tempos. Um acordo de paz foi selado em 2006, mas os campos de refugiados ainda necessitam de ajuda humanitária.
  Darfur (que em português quer dizer "terra dos fur") é uma região no extremo oeste do Sudão com a presença de três principais grupos étnicos: Fur (que empresta o nome à região), Masalit e Zaghawa. O Movimento de Justiça e Igualdade e o Exército de Libertação Sudanesa acusaram o governo de oprimir os não-árabes em favor dos árabes do país.
Em destaque a região de Darfur
  No sul, onde a população é de negros que seguem seitas tradicionais, em 1995 começou a guerrilha separatista contra o domínio muçulmano. Somente em 2002, iniciaram-se os diálogos de paz, mediados pela ONU e pela União Africana.
  Em 9 de janeiro de 2005, foi assinado o Tratado de Naivasha, que estabeleceu a autonomia de seis anos na região sul.
  As primeiras tentativas de separação do sul do Sudão com o norte é datado de 1955, quando ocorreu a Primeira Guerra Civil Sudanesa. Esse conflito teve duração de 17 anos e foi dividida em três fases: a guerra de guerrilhas inicial, o Anyanya e o Movimento para a Libertação do Sudão do Sul. A guerra ocasionou a morte de meio milhão de pessoas e teve fim com o Tratado de Adis Abeba.
Dança da paz em Kapoeta, Sudão do Sul
  Finalmente, em 7 de janeiro de 2011, um referendo permitiu à população sulista optar pela independência da região. No total, 98,81% dos votos foram favoráveis à criação de um Estado independente. Assim, entrou em vigor em 9 de julho de 2011, a criação do novo país africano, o Sudão do Sul, em que foi respeitada a soberania popular, dando ao povo a oportunidade de escolha. Desde então, há dois países: o Sudão, essencialmente islâmico, e o Sudão do Sul, que ficou com 22,3% do antigo território (644.329 km²) e cerca de 25% da população (8.260.490 habitantes), constituído por diversos grupos de estrutura tribal.
  Embora o novo país, cuja capital é Juba, tenha sido oficialmente reconhecido, persistem pendências com o vizinho do norte, sobretudo porque ali estão localizadas grandes reservas de petróleo.
Produção de petróleo no Sudão
  Desde que começou a ser explorado, em 1999, o petróleo se tornou o principal produto de exportação do Sudão, respondendo por cerca de 98% das exportações do país. Mas a maior parte das reservas petrolíferas locais encontram-se no Sudão do Sul, onde a China vem fazendo grandes investimentos, na condição de parceira comercial do novo país.
  Além dos interesses envolvendo a exploração do petróleo, duas outras questões precisam ser resolvidas entre os dois países: a da utilização da água da Bacia do Rio Nilo, vital para o Sudão e principalmente para o Egito, e a forma de repartir a enorme dívida externa do antigo país.
População do Sudão do Sul comemora a independência do país em 2011
 GEOGRAFIA DO SUDÃO DO SUL
  O Sudão do Sul é majoritariamente coberto pela floresta tropical, com muitos pântanos e algumas áreas de pradarias. O Nilo Azul atravessa o país fluindo de sul para norte, banhando a capital, Juba. Cerca de metade da água do Nilo Azul perde-se em pântanos ou é consumida pela vegetação ou pelos animais. O pântano nas regiões de Sudd, Bahr el Ghazal e do rio Sobat formam um importante ecossistema. O ponto mais elevado do país é o monte Kinyeti, com 3.187 metros acima do nível do mar, estando localizado no condado de Ikotos, no estado do Equatória Oriental, bem próximo à fronteira do Sudão do Sul com Uganda.
Monte Kinyeti, no Sudão do Sul
  A parte centro-oriental do país é uma planície fluvial, onde os aluviões são distribuídos à medida que a subsistência afeta o substrato rochoso. Nessa área encontram-se grandes jazidas de petróleo e gás natural.
  A parte sudoeste do país possui afloramentos do substrato, constituído por rochas magmáticas. Na fronteira com a Etiópia há afloramentos de rochas magmáticas e intrusivas.
Nilo Azul e a cidade de Juba, no Sudão do Sul
ECONOMIA DO SUDÃO DO SUL
  Até a segunda metade de 2008, a economia do Sudão obteve um grande crescimento graças ao alto preço do petróleo e ao crescimento da exploração petrolífera, que atraiu um elevado investimento externo, principalmente chinês.
  Desde 1997, o Sudão tem trabalhado com o Fundo Monetário Internacional (FMI) com vistas a implementar reformas macroeconômicas, como a administração de uma taxa de câmbio flutuante. Em 2007, a moeda do país foi substituída, trocando o dinar sudanês pela libra sudanesa, onde a libra passou a ser equivalente a 100 dinares.
  Apesar da produção de petróleo ser a responsável por mais de 97% das exportações do país, o transporte desse produto torna-se difícil devido à falta de vias de transportes para o escoamento, bem como de oleodutos.
  A agropecuária é outro setor de extrema importância para o Sudão do Sul. Predomina uma agricultura de subsistência, e os principais produtos agrícolas são o milho e o algodão.
  No país, homens e crianças partilham a terra com o gado, que usam como base da alimentação e moeda de troca, que é, ao mesmo tempo, fator determinante do estatuto social de cada indivíduo ou família da tribo.
Pecuária bovina no Sudão do Sul
  Recentemente, para tentar alavancar a economia, o país tentar atrair investimentos estrangeiros, principalmente no setor da construção civil. Porém, os recentes conflitos podem prejudicar no crescimento econômico do país.
CONFLITOS RECENTES NO SUDÃO DO SUL
  Recentemente, dois grandes grupos do país voltaram a se enfrentar, provocando massacres na população civil. O conflito começou após o atrito entre o presidente Salva Kiir e seu ex-vice Riek Mashar.
  De acordo com a Missão da ONU no Sudão do Sul (Unmiss), os rebeldes de Mashar atacaram e mataram centenas de civis que se refugiaram numa mesquita, numa igreja e num hospital, na última semana de abril de 2014. Calcula-se que somente na mesquita morreram cerca de 200 pessoas. Muitos deles pertenciam à etnia dinka - a maior do Sudão do Sul e a mesma de Kiir, adversário de Mashar. Este, por sua vez, pertence ao grupo étnico nuer.
  Ao mesmo tempo, jovens membros da etnia dinka atacaram um acampamento da Unmiss onde se encontravam principalmente membros do grupo étnico nuer, levando a morte de cerca de 50 pessoas e deixando outras 100 feridas.
Salva Kiir Mayardit
  De acordo com analistas, o conflito não teria origem na hostilidade entre as etnias, mas na hostilidade entre os líderes políticos. Por trás disso tudo está também o interesse nas grandes reservas de petróleo do norte do país, responsáveis por quase toda a receita do Sudão do Sul. O objetivo dos rebeldes é assumir o controle dessas reservas. Porém, há também ressentimentos entre os dois grupos étnicos: os nuer se sentem desfavorecidos frente aos dinka (que são numericamente superiores) desde a independência do Sudão do Sul, principalmente no que diz respeito a divisão dos cargos políticos e das terras cultiváveis.
  O conflito já provocou o deslocamento de mais de 716 mil pessoas no interior do Sudão do Sul, segundo a ONU.
Pessoas fugindo do conflito no Sudão do Sul
  Perseguições e detenções de trabalhadores das Nações Unidas têm limitado o trabalho da missão de paz no Sudão do Sul.
  A missão de paz da ONU no Sudão do Sul (Unmiss) tenta intermediar o fim do conflito, e informou que no dia 1º de maio de 2014, a Universidade de Linch, no centro do país, foi ocupada por forças de oposição ao governo, lembrando aos opositores que o uso de instituições de educação para objetivos militares é uma violação da lei humanitária internacional.
  A Unmiss também informou que uma situação de "fogo amigo" junto ao complexo em Bor, no estado de Jonglei, fez com que mais pessoas procurassem abrigo nas instalações da ONU. Nessa base, a Unmiss protege mais de 4,8 mil pessoas.
Escola improvisada para alunos do campo de refugiados da UNMISS em Bor - Sudão do Sul
  Alertando para o fato de que a nação mais jovem do mundo está à beira de uma catástrofe, a alta comissária da ONU para os Direitos humanos, Navi Pillay, fez um apelo, no dia 30 de abril, aos líderes do Sudão do Sul, pedindo que abandonassem suas "lutas de poder pessoal" e levem o país, empobrecido pela guerra, para a estabilidade.
  O conflito, que começou em dezembro de 2013, e é marcado por inúmeras violações graves dos direitos humanos, já deixou milhares de mortos e forçou dezenas de pessoas a buscar refúgio nas bases da ONU em todo o país.
Navi Pillay (centro)
  De acordo com o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR), cobertores, colchões, reservatórios de água e outros itens de ajuda humanitária estão sendo transportados de Dubai, nos Emirados Árabes, para Juba, capital do Sudão do Sul, para ajudar as pessoas deslocadas.
  Estes suprimentos de emergência serão distribuídos, principalmente, nos estados de Unity, Alto Nilo e Jonglei. A operação faz parte de um grande esforço da agência para fornecer alívio essencial para os mais de um milhão de pessoas deslocadas pelos combates no Sudão do Sul.
Agentes da ONU distribuem ajuda para deslocados do Sudão do Sul
ALGUNS DADOS SOBRE O SUDÃO DO SUL
NOME: República do Sudão do Sul
CAPITAL: Juba

Ponte de Juba
LÍNGUA OFICIAL: inglês
GOVERNO: República Presidencialista
INDEPENDÊNCIA: do Sudão, 09 de julho de 2011

GENTÍLICO: sul-sudanês
LOCALIZAÇÃO: nordeste da África
ÁREA: 644.329 km² (40º)
POPULAÇÃO (ONU - Estimativa 2013): 8.260.490 habitantes (90º)
DENSIDADE DEMOGRÁFICA: 12,82 hab./km² (181º)
MAIORES CIDADES (Estimativa 2013):

Juba: 352.478 habitantes

Vista aérea de Juba - capital e maior cidade do Sudão do Sul
Malakal: 179.542 habitantes
Malakal - segunda maior cidade do Sudão do sul
Wau: 153.210 habitantes
Base da ONU em Wau - terceira maior cidade do Sudão do Sul
PIB (FMI - 2013): U$ 11,445 bilhões (124º)
IDH (ONU): Não disponível
EXPECTATIVA DE VIDA (ONU):  Não disponível
CRESCIMENTO VEGETATIVO (ONU): Não disponível
MORTALIDADE INFANTIL (
CIA World Factbook): Não disponível

TAXA DE URBANIZAÇÃO (CIA World Factbook): Não disponível
TAXA DE ALFABETIZAÇÃO (Pnud): Não disponível

PIB PER CAPITA (FMI - 2011): U$ 1.000 (150º)
MOEDA: Libra sul-sudanesa
RELIGIÃO: a população do Sudão do Sul segue, majoritariamente, religiões tribais, o cristianismo e o islamismo, sendo 60,2% cristãs (católicos em sua maioria), 32,9% religiões tradicionais, 6,2% de islâmicos e 0,7% de outras religiões.

Missa dominical na diocese de Rumbek, no Sudão do Sul
DIVISÃO: o Sudão do Sul está dividido em dez estados, criados a partir das três regiões históricas do país: Bahr el Ghazal, Equatória e Grande Nilo Superior. Os estados estão subdivididos em 86 condados.

Bahr el Ghazal
  Equatória
  Grande Nilo Superior
  O número abaixo corresponde aos estados:
1. Gharb Bahr al-Ghazal 2. Schamal Bahr al-Ghazal 3. Al-Wahdal 4. A'li an-Nil 5. Warab 6. Junqali 7. Al-Buhairat 8. Gharb al-Istiwa'iyya 9. Al-Istiwã iyya al-Wustã 10. Scharq al-Istiwa'iyya.
 
FONTE: Vesentini, J. William. Projeto Télaris: Geografia / J. William Vesentini, Vânia Vlach. - 1. ed. - São Paulo: Ática, 2012. - (Projeto Télaris:Geografia) 

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