O continente asiático abriga cerca de 60% da população mundial e milhares de etnias. Nas duas últimas décadas do século XX, alguns conflitos étnico-nacionalistas destacaram-se pelo grande número de pessoas envolvidas e a violência empregada.
A região da Caxemira, situada entre o norte da Índia, o nordeste do Paquistão e o sudoeste da China ocupa um extenso vale fértil, habitado principalmente pela população muçulmana. Além da localização estratégica, junto à fronteira da China, o controle da Caxemira significa dispor das águas do curso médio do rio Indo.
A maior parte da região está sob domínio da Índia, mas os paquistaneses e a guerrilha muçulmana separatista querem anexá-la integralmente ao Paquistão. Desde 1947, quando esses dois países conquistaram a independência da Inglaterra, já ocorreram algumas guerras envolvendo a disputa pela Caxemira. Essa disputa territorial tem preocupado o mundo, pois tanto o Paquistão quanto a Índia possuem armas nucleares.
Os urdus (povo de origem indiana), em especial, têm protestado contra a discriminação de que são vítimas em relação a empregos, vagas nas universidades, cargos políticos etc. Desde a década de 1970, violentos choques entre urdus e muçulmanos vêm ocorrendo no Paquistão.
Um importante movimento guerrilheiro de origem tâmil vem lutando, desde 1983, contra o exército do Sri Lanka, obtendo significativas vitórias na parte norte da ilha. Esse fato - juntamente com a atuação da Índia, favorável ao separatismo tâmil - vem provocando no governo do Sri Lanka uma disposição de negociar e conceder a autonomia a esse povo, criando assim a pátria tâmil.
A herança da Guerra Fria é outro importante fator da instabilidade e de intensificação dos conflitos. Durante esse período, os Estados Unidos e a URSS armaram exércitos e grupos de oposição, fortalecendo ditaduras e grupos terroristas. Atualmente, parcela significativa das vendas de armamentos dos Estados Unidos destina-se a países do Oriente Médio.
No entanto, depois da Primeira Guerra Mundial, quando os britânicos, que passaram a controlar a região, cogitaram a criação de um Estado judaico (Declaração de Balfour), essa migração tornou-se bastante conflituosa. O secretário das relações exteriores britânico, Arthur Balfour, encorajava a colonização Palestina por judeus e apoiava o estabelecimento de um "lar nacional judaico na Palestina", o qual teria proteção britânica.
A formação de um Estado judaico no Oriente Médio provocou a reação contrária dos países árabes. Ainda em 1948, Egito, Jordânia, Líbano e Síria invadiram Israel, dando início à Primeira Guerra Árabe-Israelense (1948-1949).
Em 1967, a Síria tentou desviar o fluxo de água do rio Jordão mediante a construção de uma grande represa, nas colinas de Golã. Com o apoio da Jordânia e do Egito, a Síria bloqueou o golfo de Ácaba - utilizado pelos navios israelenses para chegar ao mar Vermelho. O crescimento das tensões colocou em alerta as tropas de todos os países envolvidos.
Entre 5 e 10 de junho daquele ano, os israelenses iniciaram um fulminante ataque ao Egito, à Jordânia e à Síria, que imobilizaram totalmente as tropas árabes numa das guerras mais curtas da história, denominada Guerra dos Seis Dias ou Terceira Guerra Árabe-Israelense. Nesse terceiro conflito, os israelenses anexaram a península do Sinai e a faixa de Gaza, pertencentes aos egípcios; as colinas de Golã, que pertencia à Síria; e a Cisjordânia, que fazia parte da Jordânia.
Em 1973, na tentativa de reaver os territórios ocupados, Egito e Síria atacaram Israel de surpresa, dando início à Quarta Guerra Árabe-Israelense - Guerra do Yom Kippur (Dia do Perdão). A princípio, conquistaram algumas posições, mas foram obrigados a recuar com forte reação do exército israelense, que conseguiu mobilizar e organizar suas tropas rapidamente. A guerra durou três semanas, e Israel manteve sob seu domínio as conquistas da Guerra dos Seis Dias. Em 1979, Israel concordou em devolver o Egito a península do Sinai, mediante o Acordo de Camp David, intermediado pelos Estados Unidos.
As guerras envolvendo árabes e israelenses expulsaram milhares de palestinos de suas terras, que se refugiaram em acampamentos no Líbano, na Síria, no Egito e na Jordânia. Desorganizados, espalhados por diversos países e enfraquecidos militarmente, os palestinos criaram várias organizações terroristas para lutar contra o Estado de Israel, entre elas a Al Fatah, em 1959, e a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), em 1964.
No final da década de 1960, a OLP foi reconhecida pela ONU como única e legítima organização representante dos interesses do povo palestino. Em 1969, Yasser Arafat, palestino nascido no Egito, assumiu a presidência da organização. Até 1987, Arafat utilizava métodos extremistas - atos de terrorismo - para alcançar seus objetivos. Em 14 de dezembro de 1988, o líder da OLP apresentou um plano de paz na Assembleia Geral da ONU, no qual reconhecia o Estado de Israel.
Por esse acordo, a faixa de Gaza e parte da Cisjordânia - incorporadas por Israel, em 1967, na Guerra dos Seis Dias - foram devolvidas aos palestinos e se tornaram regiões autônomas. Foi criada, também, a Autoridade Nacional Palestina (ANP), entidade liderada por Arafat, com sede em Ramallah, na Cisjordânia. A ANP passou a ser a representação legal dos palestinos e responsável pela administração dos seus territórios. Em setembro de 1995, um novo acordo estendeu a autonomia a outras 456 cidades da Cisjordânia.
A partir desse acontecimento, instaurou-se uma espiral de violência: de um lado, atentados suicidas fomentados por grupos radicais palestinos contra israelenses; de outro, retaliações a essas agressões, com ações militares promovidas pelo exército israelense. Israel colocou o exército dentro da ANP e passou a retaliar todos os suspeitos de integrar grupos terroristas, promovendo, ao mesmo tempo, ataques à população civil palestina.
O acordo previa, entre outras medidas, a constituição de um Estado palestino em 2005, cujas fronteiras seriam aquelas existentes até a Guerra dos Seis Dias. Segundo a proposta original, várias etapas deveriam ser cumpridas por judeus e palestinos até 2005, entre elas, na sequência:
Com a morte de Arafat em 2004, a ANP passou a ser presidida por Mahmoud Abbas, conhecido por Abbu Mazen, eleito num processo livre e democrático, no início de 2005. As ações de Abbas foram pautadas pelas negociações com o governo de Israel e com os grupos radicais palestinos com o objetivo de retomar e avançar as questões traçadas pelo Mapa do Caminho. Essas negociações levaram à retirada dos assentamentos judaicos da faixa de Gaza e de uma pequena parte da Cisjordânia.
Em 2009, o governo de Binyamin Netanyahu entravou as negociações com a ANP ao permitir a ampliação dos assentamentos judaicos na Cisjordânia, o que inviabiliza a formação de um território palestino contínuo. Israel passou a admitir a existência de um Estado Palestino desmilitarizado, sem a possibilidade de controle de suas fronteiras, de seu espaço aéreo e sem capacidade de defesa. O governo de Barack Obama posicionou-se contrário às ações de Netahyahu e, pela primeira vez, os Estados Unidos endossaram a posição palestina nas negociações, no que diz respeito à interrupção dos assentamentos judaicos.
Os curdos têm raízes muito remotas no Oriente Médio, na antiga Mesopotâmia. Apesar de serem um povo islâmico, mantêm suas próprias tradições e costumes e habitam o Curdistão há mais de 2.600 anos. O movimento separatista curdo sofreu e sofre repressão no Iraque e na Turquia.
O ex-ditador iraquiano Saddam Hussein (1937-2006) ordenou a matança de milhares de curdos e autorizou, nesse massacre, o uso de armas químicas, após a Guerra do Golfo de 1991. Na guerra dos Estados Unidos contra o Iraque, os curdos colaboraram com a coalizão na luta contra as tropas iraquianas e conquistaram relativa autonomia nas terras que ocupam, situadas ao norte do Iraque.
Na Turquia, o ensaio da língua curda nas escolas é proibido, assim como a comemoração de suas datas nacionais. A luta pela formação de um Curdistão independente sempre foi duramente reprimida pelos sucessivos governos turcos. Por outro lado, grupos guerrilheiros ligado ao Partido dos Trabalhadores Curdos (PKK) promoveram uma série de atentados com o objetivo de desestabilizar o governo e conquistar a independência.
No ano posterior à Revolução Socialista de 1949, o Tibete foi novamente anexado pela China Popular. Antes institucionalizado como Estado teocrático, o Tibete, sob o domínio chinês, passou por grandes transformações, como a supressão do poder da aristocracia religiosa e civil, a abolição da servidão rural e da escravidão doméstica e a redistribuição de terras. Além disso, o planalto tibetano e a cidade de Lhasa, capital dessa província autônoma, receberam um grande contingente de migrantes chineses de origem han.
Em 2008, novas manifestações levaram monges e jovens separatistas às ruas em Lhasa, Drepung, Sera, Gansu e Gamden, locais onde se situam importantes monastérios. Apesar da recomendação do Dalai Lama para que empregassem uma estratégia de luta apoiada na não violência e centrassem suas reivindicações na autonomia, os rebeldes tibetanos insistiram em sinalizar sua luta pela independência com ataques a cidadãos civis de origem chinesa e autoridades alinhadas com o governo de Pequim. Mais uma vez, o Estado chinês reprimiu os manifestantes com violência. Na ocasião, a atenção mundial estava focada na China, em função da Olimpíada ali realizada, fato que ampliou negativamente a repercussão dos acontecimentos e da repressão ocorridos nessa região autônoma.
ÍNDIA
A tensão entre hindus (82% da população da Índia) e muçulmanos (12%) iniciou-se com a chegada dos árabes à região, no século VII, responsáveis pela difusão do islamismo no país. Essa religião conquistou muitos adeptos nas camadas mais pobres da sociedade indiana, que viam nela um caminho para se desvencilhar do sistema de castas da religião hindu (hinduísmo), que estrutura a sociedade indiana.A região da Caxemira, situada entre o norte da Índia, o nordeste do Paquistão e o sudoeste da China ocupa um extenso vale fértil, habitado principalmente pela população muçulmana. Além da localização estratégica, junto à fronteira da China, o controle da Caxemira significa dispor das águas do curso médio do rio Indo.
A maior parte da região está sob domínio da Índia, mas os paquistaneses e a guerrilha muçulmana separatista querem anexá-la integralmente ao Paquistão. Desde 1947, quando esses dois países conquistaram a independência da Inglaterra, já ocorreram algumas guerras envolvendo a disputa pela Caxemira. Essa disputa territorial tem preocupado o mundo, pois tanto o Paquistão quanto a Índia possuem armas nucleares.
Mísseis a serviço da Índia
Na região de Punjab, norte da Índia, conflitos étnico-religiosos têm marcado a história do país nas últimas décadas. O conflito opõe os sikhs, minoria étnica, seguidora de uma seita própria que difunde elementos do islamismo e hinduísmo, aos hindus. Os sikhs lutam pela independência e a formação do Estado do Kalistan, idealizado pelos separatistas. A perseguição aos sikhs intensificou-se em 1984, após a morte da primeira-ministra indiana Indira Gandhi, assassinada por membros de sua guarda pessoal e adeptos da seita sikh. Um mês antes, Indira Gandhi havia ordenado a invasão do Templo Dourado de Amritsar - local sagrado para os sikhs, onde se reunia a cúpula do movimento separatista.
Região de Punjab, em vermelho
Além da repressão aos sikhs, grupos nacionalistas ligados ao Partido Bharatiya Janata (BJP), que defendem a supremacia hindu, têm promovido massacres de muçulmanos e cristãos em outras regiões do país. Vários missionários cristãos foram alvos de atentados, principalmente em Goa (cidade colonizada pelos portugueses).
Templo Dourado em Amritsar - templo sagrado para os Sikhs
PAQUISTÃO
As minorias étnico-religiosas que vivem no Paquistão são objeto de discriminação por parte dos muçulmanos - a imensa maioria da população.Os urdus (povo de origem indiana), em especial, têm protestado contra a discriminação de que são vítimas em relação a empregos, vagas nas universidades, cargos políticos etc. Desde a década de 1970, violentos choques entre urdus e muçulmanos vêm ocorrendo no Paquistão.
Grupos étnicos do Paquistão
SRI LANKA
No Sri Lanka há um forte movimento separatista representado pela minoria tâmil. Os tâmeis concentram-se principalmente na península de Jafna, norte do país.Um importante movimento guerrilheiro de origem tâmil vem lutando, desde 1983, contra o exército do Sri Lanka, obtendo significativas vitórias na parte norte da ilha. Esse fato - juntamente com a atuação da Índia, favorável ao separatismo tâmil - vem provocando no governo do Sri Lanka uma disposição de negociar e conceder a autonomia a esse povo, criando assim a pátria tâmil.
Mapa do Sri Lanka mostrando o território reclamado pelos Tigres Tâmeis como o TâmilEelam (verde) e o território controlado pelos guerrilheiros (amarelo)
ORIENTE MÉDIO
O domínio que o Império Turco-Otomano exercia sobre boa parte do Oriente Médio, o qual prevaleceu até a Primeira Guerra Mundial, foi praticamente substituído pela ocupação inglesa e francesa, que se prolongou até a década de 1940. Durante esse último período, ocorreu um processo de grande fragmentação territorial dessa região. Após essa década, os ingleses e franceses foram afastados do Oriente Médio, consolidando o processo de independência de vários países e favorecendo a criação do Estado de Israel, em 1948.
Mapa do domínio territorial europeu no Oriente Médio e na África do Norte
A independência desses países não significou o fim dos conflitos na região. Ao contrário, após a Segunda Guerra Mundial, o Oriente Médio transformou-se no principal foco de tensão mundial em função da criação do Estado de Israel; dos interesses econômicos e estratégicos das grande potências pelo controle das jazidas de petróleo; das disputas internas pelo poder numa região marcada por regimes autoritários; dos conflitos religiosos; e das más condições de vida da maioria da população.A herança da Guerra Fria é outro importante fator da instabilidade e de intensificação dos conflitos. Durante esse período, os Estados Unidos e a URSS armaram exércitos e grupos de oposição, fortalecendo ditaduras e grupos terroristas. Atualmente, parcela significativa das vendas de armamentos dos Estados Unidos destina-se a países do Oriente Médio.
Mapa do Oriente Médio
GUERRAS ENTRE ISRAEL E OS PAÍSES ÁRABES
A região da Palestina é o território histórico de dois povos: judeus e palestinos. Os judeus ocuparam a região há mais de 4 mil anos, mas se espalharam pelo mundo devido à repressão sofrida durante o Império Romano. Os palestinos são formados por uma mistura de povos, como filisteus (que ocupavam a Faixa de Gaza), cananeus (que habitavam a Cisjordânia) e árabes, os quais impuseram sua cultura, tradição e a religião islâmica. Os palestinos habitaram a região por um período contínuo de cerca de dois mil anos.
Palestina no tempo de Jesus
A partir do final do século XIX, com a criação da Organização Sionista Mundial (1897), cuja sede fica na Suíça, o movimento sionista começou a organizar a migração de judeus à Palestina, visando a formação de uma pátria judaica. Na primeira metade do século XX, o aumento da população judaica na região, estimulado pela compra de terras e pelo estabelecimento de diversas colônias, foi contínuo e relativamente pacífico.No entanto, depois da Primeira Guerra Mundial, quando os britânicos, que passaram a controlar a região, cogitaram a criação de um Estado judaico (Declaração de Balfour), essa migração tornou-se bastante conflituosa. O secretário das relações exteriores britânico, Arthur Balfour, encorajava a colonização Palestina por judeus e apoiava o estabelecimento de um "lar nacional judaico na Palestina", o qual teria proteção britânica.
Arthur James Balfour
A perseguição e o massacre imposto aos judeus pelos nazistas, na Segunda Guerra Mundial, foi fundamental para o apoio internacional à formação do Estado de Israel, em 1948. A divisão do território da Palestina entre judeus e palestinos, já fazia parte de acordos firmados entre Estados Unidos, Reino Unido e URSS. Em 1947, a ONU aprovou o plano de partilha da Palestina e a criação do Estado de Israel, que ocupava 57% daquele território.A formação de um Estado judaico no Oriente Médio provocou a reação contrária dos países árabes. Ainda em 1948, Egito, Jordânia, Líbano e Síria invadiram Israel, dando início à Primeira Guerra Árabe-Israelense (1948-1949).
Proposta da divisão da Palestina
Em 1949, foi estabelecido um armistício, que retirou totalmente dos palestinos as decisões sobre os seus tradicionais territórios, inclusive dos que tinham sido delimitados pela ONU, em 1947. O acordo de paz estabeleceu que o Estado Árabe da Palestina seria dividido entre Israel (que conquistara a Galileia e o deserto de Neguev); Transjordânia, que incorporaria a Cisjordânia (a oeste do rio Jordão); e Egito, que ocuparia a Faixa de Gaza. Após o armistício, os conflitos não cessaram. Diversas questões opuseram árabes e israelenses. Os palestinos reagiram à ocupação de suas terras organizando atos terroristas contra os judeus.Em 1967, a Síria tentou desviar o fluxo de água do rio Jordão mediante a construção de uma grande represa, nas colinas de Golã. Com o apoio da Jordânia e do Egito, a Síria bloqueou o golfo de Ácaba - utilizado pelos navios israelenses para chegar ao mar Vermelho. O crescimento das tensões colocou em alerta as tropas de todos os países envolvidos.
Entre 5 e 10 de junho daquele ano, os israelenses iniciaram um fulminante ataque ao Egito, à Jordânia e à Síria, que imobilizaram totalmente as tropas árabes numa das guerras mais curtas da história, denominada Guerra dos Seis Dias ou Terceira Guerra Árabe-Israelense. Nesse terceiro conflito, os israelenses anexaram a península do Sinai e a faixa de Gaza, pertencentes aos egípcios; as colinas de Golã, que pertencia à Síria; e a Cisjordânia, que fazia parte da Jordânia.
Em 1973, na tentativa de reaver os territórios ocupados, Egito e Síria atacaram Israel de surpresa, dando início à Quarta Guerra Árabe-Israelense - Guerra do Yom Kippur (Dia do Perdão). A princípio, conquistaram algumas posições, mas foram obrigados a recuar com forte reação do exército israelense, que conseguiu mobilizar e organizar suas tropas rapidamente. A guerra durou três semanas, e Israel manteve sob seu domínio as conquistas da Guerra dos Seis Dias. Em 1979, Israel concordou em devolver o Egito a península do Sinai, mediante o Acordo de Camp David, intermediado pelos Estados Unidos.
Presidentes Anwar Al Sadat (Egito)
e Jimmy Cartter (EUA) com o Primeiro-Ministro de Israel Menachem
Begin durante a assinatura do Acordo de Camp David
A QUESTÃO PALESTINA
Nos conflitos ocorridos após a criação do Estado de Israel, os palestinos foram bastante prejudicados. Na partilha estabelecida pela ONU, eles ficaram com 43% das terras da região. Após a Primeira Guerra Árabe-Israelense, transformaram-se em uma nação sem território.As guerras envolvendo árabes e israelenses expulsaram milhares de palestinos de suas terras, que se refugiaram em acampamentos no Líbano, na Síria, no Egito e na Jordânia. Desorganizados, espalhados por diversos países e enfraquecidos militarmente, os palestinos criaram várias organizações terroristas para lutar contra o Estado de Israel, entre elas a Al Fatah, em 1959, e a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), em 1964.
No final da década de 1960, a OLP foi reconhecida pela ONU como única e legítima organização representante dos interesses do povo palestino. Em 1969, Yasser Arafat, palestino nascido no Egito, assumiu a presidência da organização. Até 1987, Arafat utilizava métodos extremistas - atos de terrorismo - para alcançar seus objetivos. Em 14 de dezembro de 1988, o líder da OLP apresentou um plano de paz na Assembleia Geral da ONU, no qual reconhecia o Estado de Israel.
Yasser Arafat
Esse acontecimento marcou o início de uma nova fase para a OLP, que conquistou mais espaço no campo diplomático, passando a negociar com os Estados Unidos e, posteriormente, com Israel. No dia 13 de setembro de 1993, após dois meses de negociações secretas mediadas pelo governo da Noruega, Arafat e o primeiro-ministro de Israel, Yitzak Rabin, assinaram um acordo de paz na Casa Branca, Estados Unidos, que ficou conhecido como Acordo de Oslo.Por esse acordo, a faixa de Gaza e parte da Cisjordânia - incorporadas por Israel, em 1967, na Guerra dos Seis Dias - foram devolvidas aos palestinos e se tornaram regiões autônomas. Foi criada, também, a Autoridade Nacional Palestina (ANP), entidade liderada por Arafat, com sede em Ramallah, na Cisjordânia. A ANP passou a ser a representação legal dos palestinos e responsável pela administração dos seus territórios. Em setembro de 1995, um novo acordo estendeu a autonomia a outras 456 cidades da Cisjordânia.
A Palestina pelo Acordo de Oslo
RETOMADA E INTENSIFICAÇÃO DOS CONFLITOS
No final da década de 1990, as negociações entre Israel e a ANP tornaram-se extremamente difíceis. Em 2000, Ariel Sharon, que no ano seguinte seria escolhido primeiro-ministro de Israel, visitou a Esplanada das Mesquitas (local mais sagrado para os muçulmanos em Jerusalém), provocando a segunda Intifada.A partir desse acontecimento, instaurou-se uma espiral de violência: de um lado, atentados suicidas fomentados por grupos radicais palestinos contra israelenses; de outro, retaliações a essas agressões, com ações militares promovidas pelo exército israelense. Israel colocou o exército dentro da ANP e passou a retaliar todos os suspeitos de integrar grupos terroristas, promovendo, ao mesmo tempo, ataques à população civil palestina.
Esplanada das Mesquitas em Jerusalém
QUARTETO DE MADRI E MAPA DO CAMINHO
Em 2003, contando com o apoio da ONU, da União Europeia, dos Estados Unidos e da Rússia (Quarteto de Madri), líderes palestinos e judeus reuniram-se na capital espanhola para estabelecer os primeiros passos na consolidação de um acordo de paz proposto pelos Estados Unidos. Chamado de Mapa do Caminho, objetivava amenizar o sentimento antiamericano e demonstrar o interesse do governo Bush em buscar uma solução negociada para a crise no Oriente Médio.O acordo previa, entre outras medidas, a constituição de um Estado palestino em 2005, cujas fronteiras seriam aquelas existentes até a Guerra dos Seis Dias. Segundo a proposta original, várias etapas deveriam ser cumpridas por judeus e palestinos até 2005, entre elas, na sequência:
- fim das ações terroristas de organizações palestinas, retirada das tropas israelenses e remoção dos assentamentos judaicos dos territórios palestinos;
- convocação de eleições e elaboração de uma Constituição democrática para o novo Estado palestino, bem como a delimitação de suas fronteiras;
- fortalecimento político e econômico do novo Estado, apoiado por toda a comunidade internacional.
O Quarteto reunido no prédio da ONU em Nova York, em setembro de 2011
As metas previstas pelo Mapa do Caminho não tiveram o encaminhamento esperado devido à forte oposição de grupos radicais (judeus e palestinos) e dos obstáculos impostos pelos Estados Unidos e pelo governo israelense, que alegavam que Yasser Arafat era um interlocutor pouco confiável e pouco empenhado em controlar as ações de grupos terroristas.Com a morte de Arafat em 2004, a ANP passou a ser presidida por Mahmoud Abbas, conhecido por Abbu Mazen, eleito num processo livre e democrático, no início de 2005. As ações de Abbas foram pautadas pelas negociações com o governo de Israel e com os grupos radicais palestinos com o objetivo de retomar e avançar as questões traçadas pelo Mapa do Caminho. Essas negociações levaram à retirada dos assentamentos judaicos da faixa de Gaza e de uma pequena parte da Cisjordânia.
Mahmoud Abbas
Apesar disso, o governo de Israel insistiu em dar continuidade à construção de um muro que separa Israel da parte da Cisjordânia controlada pelos palestinos. Iniciada em 2002, a imensa muralha tem postos de vigilância de entrada e de saída. Uma extensa região (dentro e fora do muro) controlada pelo exército israelense, chamada zona tampão, isola a comunidade palestina em seu próprio território. Além disso, o muro incorpora terras palestinas (negociadas pelo Acordo de Oslo) ao território israelense.
Mapa do Muro da Palestina ou Muro de Israel
O muro inviabiliza a demarcação das fronteiras acertadas pelo Mapa do Caminho confisca cerca de 50% das terras situadas na Cisjordânia e anexa a Israel os assentamentos judaicos construídos nos territórios ocupados. Além disso, Israel incorpora todo o vale do rio Jordão, a única fonte de abastecimento de água da região (situado na zona tampão, junto à fronteira com a Jordânia e controlada por Israel).
Muro de Israel no lado palestino
LIMITES ÀS NEGOCIAÇÕES DE PAZ
Existem ainda outros impasses para se atingir um acordo de paz definitivo entre israelenses e palestinos. Um deles é a cidade de Jerusalém. Israel a declara como capital indivisível do país; já os palestinos não abrem mão de incorporá-la a um futuro Estado da Palestina. O extremismo de grupos judeus e palestinos, contrários a qualquer processo de negociação, constituem outro obstáculo à paz na região.
Parte antiga de Jerusalém
Em 2006, o Hamas conquistou legitimamente o poder e manteve a posição de não reconhecimento do Estado de Israel e a oposição a qualquer negociação de paz. Essas circunstâncias isolaram internacionalmente a ANP e determinaram o corte da ajuda financeira proveniente da União Europeia e dos Estados Unidos, quantia correspondente, na época, a cerca de metade de toda a receita da ANP. Além disso, essa situação colocou em confronto direto os dois principais grupos palestinos da atualidade: o Hamas (que controla a faixa de Gaza) e o Fatah, de Mahmoud Abbas (que controla as terras palestinas da Cisjordânia).Em 2009, o governo de Binyamin Netanyahu entravou as negociações com a ANP ao permitir a ampliação dos assentamentos judaicos na Cisjordânia, o que inviabiliza a formação de um território palestino contínuo. Israel passou a admitir a existência de um Estado Palestino desmilitarizado, sem a possibilidade de controle de suas fronteiras, de seu espaço aéreo e sem capacidade de defesa. O governo de Barack Obama posicionou-se contrário às ações de Netahyahu e, pela primeira vez, os Estados Unidos endossaram a posição palestina nas negociações, no que diz respeito à interrupção dos assentamentos judaicos.
Binyamin Netanyahu
A QUESTÃO CURDA
Outro conflito étnico-nacionalista no continente asiático é bastante peculiar, pois envolve uma nação cuja população se encontra distribuída por seis países: Iraque, Armênia, Azerbaijão, Turquia, Síria e Irã. Trata-se dos curdos, que constituem a maior nação sem Estado do mundo, somando mais de 23 milhões de pessoas, das quais 14 milhões vivem na Turquia.Os curdos têm raízes muito remotas no Oriente Médio, na antiga Mesopotâmia. Apesar de serem um povo islâmico, mantêm suas próprias tradições e costumes e habitam o Curdistão há mais de 2.600 anos. O movimento separatista curdo sofreu e sofre repressão no Iraque e na Turquia.
O ex-ditador iraquiano Saddam Hussein (1937-2006) ordenou a matança de milhares de curdos e autorizou, nesse massacre, o uso de armas químicas, após a Guerra do Golfo de 1991. Na guerra dos Estados Unidos contra o Iraque, os curdos colaboraram com a coalizão na luta contra as tropas iraquianas e conquistaram relativa autonomia nas terras que ocupam, situadas ao norte do Iraque.
Na Turquia, o ensaio da língua curda nas escolas é proibido, assim como a comemoração de suas datas nacionais. A luta pela formação de um Curdistão independente sempre foi duramente reprimida pelos sucessivos governos turcos. Por outro lado, grupos guerrilheiros ligado ao Partido dos Trabalhadores Curdos (PKK) promoveram uma série de atentados com o objetivo de desestabilizar o governo e conquistar a independência.
Curdos protestando contra o governo da Turquia
CHINA
Dos cerca de 1 bilhão e 300 milhões de habitantes da China, mais de 90% pertencem à etnia han. No entanto, outras 55 etnias que representam menos de 10% da população total do país ocupam mais da metade do território, especialmente em regiões que atingem grandes dimensões nas áreas desérticas e montanhosas do oeste e norte do país. Em algumas províncias dessa região, a população original e majoritária considera o povo chinês um ocupante ilegítimo e luta por sua independência e autonomia.
TIBETE
O Tibete é uma vasta região situada a sudoeste do território da China. Apesar de ter constituído um Estado independente entre 1911 e 1950, a China alega que o Tibete faz parte do seu território desde o século XIII. Os tibetanos afirmam que o domínio chinês na região não foi constante nem contínuo.No ano posterior à Revolução Socialista de 1949, o Tibete foi novamente anexado pela China Popular. Antes institucionalizado como Estado teocrático, o Tibete, sob o domínio chinês, passou por grandes transformações, como a supressão do poder da aristocracia religiosa e civil, a abolição da servidão rural e da escravidão doméstica e a redistribuição de terras. Além disso, o planalto tibetano e a cidade de Lhasa, capital dessa província autônoma, receberam um grande contingente de migrantes chineses de origem han.
Província do Tibete
A reação diante da anexação, durante a década de 1950, colocou em confronto as forças de ocupação e parte da população tibetana separatista, organizada no Exército de Defesa da Religião, que atacou a todos que apoiavam a incorporação do Tibete à China Popular. No entanto, essa reação foi esmagada pelo exército vermelho de Mao Tsé-Tung. O líder espiritual do Tibete, o Dalai Lama, exilou-se em 1959, na cidade indiana de Dharamsala, onde vive até hoje.
Tenzin Gyatso - 14° Dalai Lama
Em 1989, uma onda de movimentos pela democratização do regime chinês foi acompanhada por uma nova revolta de monges budistas e de civis. O governo chinês, além de impor a lei marcial, restringiu a relativa autonomia religiosa e cultural ainda presente no Tibete.Em 2008, novas manifestações levaram monges e jovens separatistas às ruas em Lhasa, Drepung, Sera, Gansu e Gamden, locais onde se situam importantes monastérios. Apesar da recomendação do Dalai Lama para que empregassem uma estratégia de luta apoiada na não violência e centrassem suas reivindicações na autonomia, os rebeldes tibetanos insistiram em sinalizar sua luta pela independência com ataques a cidadãos civis de origem chinesa e autoridades alinhadas com o governo de Pequim. Mais uma vez, o Estado chinês reprimiu os manifestantes com violência. Na ocasião, a atenção mundial estava focada na China, em função da Olimpíada ali realizada, fato que ampliou negativamente a repercussão dos acontecimentos e da repressão ocorridos nessa região autônoma.
Monge tibetano enfrentando a polícia na cidade de Lhasa - Tibete, em 2008
XINJIANG
A provícia autônoma de Xinjiang está situada ao norte do Tibete e a noroeste do território chinês. Ocupada originalmente por muçulmanos da etnia uigure, anexada pela China no século XIX, e hoje corresponde a 15% do seu território. A terra dos uigures passou a ter importância econômica estratégica com a descoberta de grandes reservas de petróleo, correspondendo à terça parte das reservas existentes em toda a China.
Província de Xinjiang - China
O partido comunista utilizou em Xinjiang a mesma política de ocupação empregada no Tibete: estimulou a migração de colonos chineses para que estes suplantassem numericamente os uigures. Em 1949, a etnia han representava apenas 6% do total dos tibetanos. Em 2009, os chineses dessa etnia representavam 40% da população, proporcionalmente pouco menos da metade da população uigure. Em Urumqi, capital da província, a população majoritária é han.
Urumqi - capital da província de Xinjiang
O objetivo dessa política migratória foi assegurar o controle do território e inibir qualquer tentativa separatista, pois os uigures são mais ligados cultural e etniciamente à Ásia Central do que à China. No entanto, o movimento separatista ganhou força após a independência das ex-repúblicas soviéticas em 1990, situadas em sua fronteira: o Casaquistão, o Tajiquistão e o Quirguistão. Na última década, o movimento separatista promoveu uma série de ataques às tropas de ocupação chinesas, aos serviços públicos e à população civil han.
Pastores da etnia uigure
As ações do governo chinês em relação à população uigure são responsáveis pelo recrudescimento dos conflitos étnicos locais e pelo crescimento dos adeptos do separatismo. Dentre as mais desaprovadas estão a discriminação contra os habitantes originais, os privilégios dos hans nos empregos públicos e o boicote às práticas culturais e religiosas da população uigure.
FONTE: Lucci, Elian Alabi. Território e sociedade no mundo globalizado: geografia: ensino médio, volume 3 / Elian Alabi Lucci, Anselmo Lázaro Branco, Cláudio Mendonça. - 1. ed. - São Paulo: Saraiva, 2010.
Foi muito util para o meu trabalho de geografia. Obrigada! :D
ResponderExcluirPro meu também hahahahahaah
ResponderExcluirMuito obrigada professor Marciano.
ResponderExcluirExcelente texto,muito claro e informativo.Obrigada Pr. Marciano.
ResponderExcluirLegal!
ResponderExcluirMaterial excelente para preparar slide para dar aula sobre a Asia.Bom trabalho professor.
ResponderExcluirVeleu Lidiney, obrigado por acessar o meu blog
ResponderExcluirmuito obrigago prf
ResponderExcluirMarciano, muito obrigada pelo excelente material de estudo! Mais do que contribuir enormemente para a minha pesquisa, me ensinou, verdadeiramente, sobre todos esses conflitos. :-)
ResponderExcluirProfessor Marciano, parabéns pelo conteúdo de seu blog! Mais do que contribuir para a minha pesquisa escolar, me ensinou verdadeiramente à respeito desses conflitos. :-)
ResponderExcluirObrigado Lucy
ResponderExcluirvalew fera :D !!!
ResponderExcluirApresentei seu blog para uma amiga minha que é professora de história e ela amou tudo que viu. Parabéns.
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