segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

GEOPOLÍTICA DO PETRÓLEO

O NASCIMENTO DA INDÚSTRIA PETROLÍFERA
  Atualmente, mais de 90% da energia utilizada no mundo vem do consumo de combustíveis fósseis. Os três principais combustíveis fósseis são o petróleo, o carvão e o gás natural. Eles constituem as fontes de energia mais usadas, tanto nos países industrializados como naqueles em vias de industrialização.
  Após a Segunda Guerra Mundial, o petróleo tornou-se a fonte de energia dominante, predomínio que se aprofundou a partir da década de 1960. Dada a sua facilidade de transporte e uso, ele substituiu o carvão, tornando-se um insumo-chave do desenvolvimento no século XX.
O PETRÓLEO NO SÉCULO XIX
  O primeiro poço de petróleo a ser explorado comercialmente foi aberto em 1859, na Pensilvânia (EUA). Sua principal utilidade era como combustível para iluminação. A indústria petrolífera só deixaria de ser estadunidense para se tornar uma indústria global com a descoberta de áreas de produção no Oriente Médio e com o aumento do consumo em outras áreas geográficas.
No dia 27 de Agosto de 1859, o empresário norte-americano Edwin Laurentine Drake, perfurou o primeiro poço de petróleo, com apenas 21 metros de profundidade, no estado da Pensilvânia
  Nos primórdios da exploração petrolífera, a competição era predatória: quando se anunciava uma nova descoberta, havia uma corrida para aquisição das terras vizinhas ao poço, com o objetivo de explorá-las exaustivamente. O aumento da produção reduzia substancialmente os preços, até que o esgotamento dos poços provocasse nova alta. As dificuldades de estocagem faziam com que toda a produção fosse imediatamente ofertada ao mercado.
Com a descoberta de um poço, havia a valorização das terras vizinhas
  Em 1870, surgiu nos EUA a empresa Standard Oil, criada por John Rockefeller. Seu pioneirismo consistiu na atuação verticalizada da indústria, ou seja, ela passou a organizar sua atuação estratégica por toda a cadeia produtiva, dos sistemas de refino à distribuição e ao transporte. Assim, Rockefeller conseguiu diminuir os riscos da atividade e a flutuação dos preços do produto, garantindo alta lucratividade para suas companhias.
John Rockefeller (1839-1937) - fundador da primeira empresa de refino de petróleo
  Pouco depois de fundar sua empresa, já controlava 10% do segmento de refino. Nos anos 1880-1890, controlava 90% do transporte ferroviário e oleodutos. Além disso, expandiu sua atuação para a Europa, Ásia, África do Sul e Austrália: em 1890, 70% de suas atividades eram desenvolvidas fora dos EUA. Ainda nesse ano, a Standar Oil possuía 39 refinarias de petróleo nos EUA, 100 mil empregados, 6.500 km de oleodutos e 20 mil poços de petróleo espalhados pelo globo - isso representava cerca de 90% da capacidade mundial de perfuração, refino e distribuição, constituindo um verdadeiro monopólio.
Posto de gasolina da Standard Oil nos Estados Unidos
O PETRÓLEO NO SÉCULO XX
  No início do século XX, o desenvolvimento do motor a explosão deu um grande impulso ao consumo de petróleo (formado em grande parte por hidrocarbonetos). Ele passou a assegurar a propulsão dos grandes navios transatlânticos e trens. Mais tarde, com a popularização do automóvel, o mercado de hidrocarbonetos conheceu uma formidável expansão.
  A produção de petróleo aumentou e expandiu-se pelo mundo, mas permaneceu controlada por um pequeno grupo de empresas. Durante a maior parte do século XX, elas controlaram o sistema internacional do petróleo, dominando a tecnologia de exploração e refino, a regulação da produção e a distribuição do produto. Expandiram seu domínio por toda a parte, extraindo óleo cru (bruto, sem refino), produzindo combustíveis, montando refinarias, oleodutos, bancos e financeiras internacionais.
AS SETE IRMÃS DO PETRÓLEO
  A atuação monopolista da Standard Oil foi questionada por seus concorrentes, durante mais de vinte anos, na Justiça dos Estados Unidos. Até que, em 1911, o Supremo Tribunal dos Estados Unidos ordenou a divisão da companhia em 34 novas empresas independentes. Entre elas, destacavam-se a Standard Oil of New Jersey, a Standard Oil of New York e a Standard Oil of California. Mais tarde, elas compuseram, com outras duas grandes empresas dos Estados Unidos e mais duas europeias, o cartel chamado de as Sete Irmãs, criado para disputar o mercado internacional.
As Sete Irmãs
  O início do século XX é marcado por acirradas disputas pelas reservas mundiais de petróleo, em especial no Oriente Médio e pela busca de petróleo em novas regiões, como Sudeste Asiático, Venezuela, Egito, Rússia e México.
  As Sete Irmãs perceberam que o controle do suprimento de petróleo era importante para não ocorrer superprodução e guerra de preços. Por isso, começaram a atuar de maneira integrada, com o objetivo de eliminar a concorrência e controlar o mercado mundial. Como a oferta de petróleo estava descentralizada em um número crescente de países, essas companhias passaram a adotar concessões, sobretudo no Oriente Médio. No regime de concessão, uma das Sete Irmãs "arrendava" a reserva e pagava uma pequena parte para o país onde se situava. As sete empresas operavam como um cartel internacional, coordenando suas ações para evitar a concorrência. Assim, controlavam as reservas e os canais de distribuição. Os contratos de concessão introduziram a estratégia do controle geográfico. Eles eram assinados por cem anos ou mais, cobrindo grandes áreas territoriais e determinando preços baixos para os países produtores e exportadores de petróleo fora do consórcio.
  Os governos dos países desenvolvidos proporcionaram um ambiente político militar favorável para essas ações e apoiaram ativamente as companhias petrolíferas.
A ORGANIZAÇÃO DA OPEP E OS CHOQUES DO PETRÓLEO
  O domínio das Sete Irmãs recuou por força de intervenção política. No início dos anos de 1950, o Irã quebrou um acordo com uma empresa do Reino Unido e nacionalizou as ações da empresa no país. Outros países produtores tomaram medidas idênticas, colocando fim ao domínio absoluto do cartel.
  Os países produtores de petróleo passaram a reivindicar melhores condições  de remuneração. Alguns deles, como Argentina, México e Irã, criaram empresas para cuidar da produção ou editaram leis de nacionalização do petróleo. Na Venezuela, houve uma renegociação dos contratos com valores bem menores. Na década de 1950, o governo brasileiro criou a estatal Petrobras.
  Em virtude desse processo, países produtores do Oriente Médio conseguiram melhorar condições contratuais, diminuindo os prazos de concessão e a área geográfica e aumentando a tributação sobre os lucros das companhias petrolíferas.
  Paralelamente, empresas petrolíferas menores passaram a conseguir espaço em mercados internacionais, reduzindo gradativamente o poderio econômico das Sete Irmãs.
  Em 1960, alguns dos maiores exportadores mundiais de petróleo - Irã, Iraque, Kuwait, Arábia Saudita e Venezuela - reuniram-se para criar a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), com o objetivo de coordenar a política petrolífera dos países-membros, aumentando a renda obtida com o petróleo. Esses países não estavam satisfeitos com os baixos preços, pois reduziram significativamente suas receitas públicas.
Sede da OPEP, em Viena - Áustria
  Em 1962, a Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu o direito de todo Estado soberano poder dispor livremente de suas riquezas e recursos naturais, levando em consideração suas estratégias de desenvolvimento. Essa resolução fortaleceu países produtores de petróleo, sobretudo os da OPEP.
  Para os Estados do Oriente Médio, em particular, a situação de soberania sobre os recursos naturais e de fortalecimento da OPEP correspondia a sua própria independência.
Países que fazem parte da OPEP em laranja
  A OPEP teve o importante papel político de enfraquecer o cartel das Sete Irmãs. Sua formação significou uma restrição das estratégias de controle total das reservas pelas grandes empresas. Com o primeiro choque do petróleo (forte aumento dos preços), em 1973, o papel de regulação do mercado foi transferido das Sete Irmãs para a OPEP. O choque de 1973 representou uma séria dificuldade para as economias capitalistas, que dependiam da importação do petróleo. A partir de então, o Oriente Médio, onde se localizam as maiores reservas mundiais, passou a ser visto como área prioritária das estratégias geopolíticas mundiais.
O PRIMEIRO CHOQUE DO PETRÓLEO
  Em 1973, um fato político levou ao primeiro choque do petróleo. A guerra do Yom Kippur, entre Israel e as nações árabes, envolveu vários países ocidentais, inclusive os EUA, Países Baixos (Holanda) e Portugal. Amsterdã constituía um importante ponto estratégico, pois era o principal redistribuidor europeu de combustível. Em Portugal localiza-se a base das Lajes, o principal ponto de abastecimento estadunidense para o fornecimento de armas para Israel.
Guerra do Yom Kippur - principal motivo da primeira crise do petróleo
  Com o objetivo de pressionar os EUA e a Europa, que apoiaram Israel nos conflitos, os árabes uniram-se, reduzindo a produção de petróleo, elevando os preços do barril em mais de 70% e dando origem à maior crise do petróleo, que afetou toda a economia mundial.
  Essa situação causou pânico e confusão nos países desenvolvidos. A Europa e o Japão foram obrigados a racionar energia. Os EUA travaram o consumo e investiram em suas reservas. Os países emergentes, como o Brasil, foram muito afetados, pois o encarecimento dessa fonte de energia gerou um desequilíbrio em suas frágeis economias.
A primeira crise do petróleo foi o principal responsável pela criação do Proálcool (Programa Nacional do Álcool), criado pelo governo brasileiro para tornar o álcool gerado a partir da cana-de-açúcar como uma fonte de energia substituta do petróleo.
  Desde então, os países produtores de petróleo tornaram-se controladores do mercado, pois as companhias petrolíferas perderam espaço diante das nações produtoras.
O SEGUNDO CHOQUE DO PETRÓLEO
  Em janeiro de 1979, um evento político - a queda do xá (rei) Reza Pahlevi, no Irã, seguida da instalação de uma república islâmica, liderada pelo aiatolá (chefe religioso) Khomeini - levou o mundo a um segundo choque do petróleo, com a paralisação da produção iraniana. A guerra entre Irã e Iraque, iniciada em 1980, agravou a situação, elevando o preço médio do barril em mais de 80 dólares atuais. Tropas do Iraque, que contavam com o apoio dos EUA e da URSS, invadiram o vizinho Irã e não conseguiram derrubar o governo islâmico. A guerra estendeu-se por dez anos.
Iranianos comemoram a Revolução Islâmica, em janeiro de 1979
CONSEQUÊNCIAS DOS CHOQUES DO PETRÓLEO
  A nacionalização dos principais mercados produtores de petróleo provocou a horizontalização das empresas petrolíferas mundiais, ou seja, elas passaram a se especializar em poucas etapas da cadeia produtiva (produção, distribuição, transporte, refino etc.). As Sete Irmãs tiveram de abandonar as práticas de "preços internos" e estabelecer contratos com as estatais dos países hospedeiros (produtores e exportadores de óleo cru) para obter a matéria-prima de sua indústria.
  Uma das principais consequências dos choques do petróleo foi o surgimento de novas áreas produtoras, não pertencentes ao cartel. Além disso, a crise suscitou projetos de substituição energética - dos combustíveis fósseis por fontes alternativas - e de conservação de energia.
Energia eólica - uma das fontes alternativas de energia
  No entanto, com o passar do tempo, os limites impostos pela OPEP foram sendo desrespeitados por alguns países, o que enfraqueceu a organização, que em 2010 era formada por 12 países: Arábia Saudita, Argélia, Angola, Catar, Emirados Árabes Unidos, Equador, Irã, Iraque, Kuwait, Líbia, Nigéria e Venezuela.
OCUPAÇÕES MILITARES MOTIVADAS  PELO INTERESSE POR PETRÓLEO
  O petróleo tornou-se um elemento central para o interesses geopolítico das potências industriais.
  Os choques do petróleo, foram ocasionados principalmente pela ação dos cartéis e pelo uso político de seu poder de produção. Um novo choque do petróleo, ocorrido a partir de 1999, foi resultado do aumento do consumo mundial, inclusive por causa do desenvolvimento dos países emergentes, como o intenso crescimento chinês. Assim, o preço do barril de petróleo chegou a um pico em julho de 2008, passando a valer 147 dólares, e caiu para 28 dólares em dezembro do mesmo ano.
Variação do preço do petróleo entre 1995 e 2005
  Na história recente, houve dois conflitos armados relacionados à posse do petróleo e ao controle geopolítico: a Primeira Guerra do Golfo (1990) e a invasão do Iraque, também chamada de Segunda Guerra do Golfo (2003).
A PRIMEIRA GUERRA DO GOLFO
  Com o fim da Guerra Irã-Iraque (1980-1989), o Iraque viu-se endividado e necessitando fortemente realizar uma recuperação econômica. Boa parte de suas dívidas tinham como credor o Kuwait, país ao sul do seu território e também possuidor de grandes reservas petrolíferas.
Poços de petróleo em chamas durante a Guerra do Golfo em 1991
  No início dos anos 1990, o Iraque pressionava a OPEP a diminuir a produção de petróleo como forma de aumentar o preço, o que lhe daria mais recursos para sua reconstrução. Mas o Kuwait aumentou sua produção, não seguindo as cotas da OPEP, e ainda retirando petróleo dos campos iraquianos. Além disso, o Kuwait tinha uma infraestrutura portuária muito melhor que a do Iraque, que fora em grande parte destruída durante a guerra nos anos 1980.
  Assim, com o intuito de aumentar seu poder regional e obter uma saída maior para o Golfo Pérsico, o presidente do Iraque, Saddam Hussein, iniciou a guerra, anexando o Kuwait ao território iraquiano, em agosto de 1990.
Saddam Hussein - ex-presidente do Iraque
  A resposta dos países árabes e dos EUA foi rápida, exigindo sanções da ONU, entre elas um embargo comercial e a autorização para o envio de tropas. No início de 1991, forças militares invadiram o Kuwait para retaliar dali as tropas iraquianas. A invasão do Kuwait por uma coalizão liderada pelos EUA ficou conhecida como Operação Tempestade no Deserto e pôs fim à ocupação iraquiana. Vários países da região abrigaram tropas estadunidenses em seu território, principalmente o Kuwait, que permaneceu controlado pelos EUA durante um bom tempo.
Soldados norte-americanos caminham no deserto iraquiano durantea Operação Tempestade no Deserto na Guerra do Golfo em 1991
  O cessar-fogo ficou condicionado ao abandono, pelo Iraque, de suas armas de destruição em massa e das instalações capazes de produzi-las.
  Durante a guerra, houve uma alta significativa do preço do petróleo. Logo após seu fim, deu-se uma queda, até meados dos anos 1990, quando os preços voltaram a oscilar. O controle da região pelas tropas estadunidenses garantiu certa estabilidade na produção e na ação da OPEP. O Iraque ficou proibido de comercializar seu petróleo sem autorização direta da ONU, que apenas permitia a troca de petróleo por alimentos e remédios.
A SEGUNDA GUERRA DO GOLFO
Mapa do Iraque ocupado
  A chegada de Hugo Chávez ao poder na Venezuela (1999), grande produtor mundial de petróleo, provocou uma nova escalada do preço do barril. Em seguida, com a recessão estadunidense e os atentados de 11 de setembro de 2001, o presidente dos Estados Unidos George W. Bush mostrou-se determinado a invadir militarmente o Iraque. As justificativas eram o apoio de Saddam Hussein ao terrorismo internacional, a defesa da democracia e a existência de armas de destruição em massa no território iraquiano, mesmo após várias inspeções da ONU, que não encontraram tais armas. Em março de 2003, tropas estadunidenses e inglesas invadiram o Iraque. Os Estados Unidos passaram a controlar as imensas reservas de petróleo iraquianas.
Prédio do governo iraquiano em chamas após ser bombardeado pelas tropas estadunidenses em 2003
  A guerra durou cerca de seis semanas e não teve o apoio da ONU. Vários países se posicionaram contra a guerra, como França, China e Rússia.
  Em abril daquele ano, forças da coalizão lideradas pelos Estados Unidos tomaram a capital iraquiana, Bagdá, destituindo Saddam Hussein. Preso em 2004, foi executado pelo governo iraquiano em 2006.
Saddam Hussein momentos antes de ser morto por enforcamento em 2006
  Segundo dados de 2008, o número de iraquianos mortos após a invasão ultrapassou 1 milhão de pessoas, entre civis e militares. As acusações de tortura e desrespeito aos direitos humanos e a morte de jovens soldados fizeram com que a ocupação ganhasse pouco apoio popular.
A ATUAÇÃO GEOPOLÍTICA NO CÁUCASO E NA AMÉRICA LATINA
  A região do Cáucaso também tem sido palco de conflitos envolvendo o petróleo. Área de grandes reservas e de produção petrolífera, é uma das principais fornecedoras para a Europa e os EUA, e para a Ásia (China, Japão e Coreia do Sul).
Mapa do Cáucaso com suas rotas petrolíferas
  O controle de oleodutos e gasodutos da região tem despertado grande interesse geopolítico; assim, alguns conflitos locais têm sido apoiados pelas grandes potências, como a Rússia e os Estados Unidos.
  Os principais produtores de petróleo na América Latina são Venezuela, México e Brasil, mas há reservas significativas no Equador e na Bolívia. Esta tem destacada importância na produção de gás. Na última década, um novo panorama nacionalista tem modificado a geopolítica dos recursos naturais da América Latina.
  Políticas de integração regional baseadas em parcerias para a exploração de petróleo e gás têm sido adotadas por meio da atuação das grandes empresas petrolíferas desses países.
  Algumas parcerias na construção de refinarias (em Pernambuco, por exemplo) e gasodutos (Brasil-Bolívia) marcam uma nova fase nos anos 2000, buscando reverter a perda de controle das reservas naturais características dos anos 1990, quando a adoção das políticas neoliberais levou à privatização de empresas petrolíferas (caso da Argentina) e de reservas de gás (caso boliviano).
FONTE: Geografia, 3º ano: ensino médio / organizadores: Fernando dos Santos Sampaio, Ivone Silveira Sucena. -- 1ª ed. -- São Paulo: Edições SM, 2010. (Coleção ser protagonista).

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